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Resumo
Este trabalho traz o relato de uma atividade realizada numa escola pública de ensino
fundamental da periferia urbana do Estado do Rio de Janeiro com foco nas discussões sobre a
qualidade da escola tão desejada, buscada e constantemente passível de aferição por
instrumentos avaliativos em confronto com a real qualidade na escola, observável por seus
atores, vivida concretamente no cotidiano, por meio de transações, de acordo com os estudos
de Bondioli. A atividade faz parte de uma investigação de cunho qualitativo com uma
metodologia que considera o cotidiano escolar como contexto que imprime aspectos de
contradição, de acomodação, de resistência, de reinvenção e ressignificação dos fazeres da
escola. A partir desta experiência, por meio da interpretação das pistas, dos sinais, no caminho
do paradigma indiciário proposto por Ginzburg, foi possível perceber os sentidos de qualidade
que professores e equipe pedagógica atribuem à escola, mormente, desprezados na concepção
que vem se criando de uma escola de qualidade. Traz a contribuições de autores que têm
realizado estudos no sentido de compreender a qualidade da educação com base em uma
perspectiva polissêmica, onde a concepção de mundo, sociedade e de educação evidencia e
define os elementos que seriam avaliados em sua natureza, atributos e finalidades, tudo dentro
de um processo mais amplo de qualidade social, do qual o processo educativo é apenas parte.
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Especialista em Gestão de Escola Pública/UFRJ. Professora Especialista da Educação Básica na Rede
Municipal de Duque de Caxias/RJ. Aluna do PPG em Educação, Cultura e Comunicação da Faculdade de
Educação da Baixada Fluminense/UERJ. Email: c_lino@terra.com.br.
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Especialista em Organização Curricular e Prática Docente na Educação Básica/UERJ. Professora da Educação
Básica na Rede Municipal e na Rede Estadual do Rio de Janeiro. Aluna do PPG em Educação, Cultura e
Comunicação da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense/UERJ. Email: lucipelagio@yahoo.com.br.
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Especialista em Educação com Aplicação da Informática/UERJ. Professora da Educação Básica na Rede
Municipal de Mesquita/RJ e na Rede Municipal do Rio de Janeiro. Aluna do PPG em Educação, Cultura e
Comunicação da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense/UERJ. Email: rachelbarros@yahoo.com.br.
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Professora da Educação Básica na Rede Municipal de Nova Iguaçu/RJ e na Rede Estadual do Rio de Janeiro.
Aluna do PPG em Educação, Cultura e Comunicação da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense/UERJ.
Email: nairafois@hotmail.com.
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Movimento Todos pela Educação: movimento da sociedade civil brasileira, que congrega representantes de
diversos setores da sociedade comprometidos com uma Educação de qualidade. Suas ações são objetivadas
organizações mantenedoras e parceiras, como: Grupo Santander, Fundação Itaú Social, Gerdau, Instituto
Camargo Correa, Rede Globo, Instituto Ayrton Senna, Fundação Victor Civita, Microsoft, Fundação Santillana,
entre outras.
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www.todospelaeducação.org.br
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Ainda nesta direção, os autores apontam a necessidade de uma análise das políticas
internacionais, no sentido de que são estas que têm configurado as políticas públicas nacionais
e como estas ações e programas se refletem, ou seja, se materializam no cotidiano escolar.
Desta forma, falar de uma escola de qualidade implica em falar de uma escola que atende às
finalidades específicas da educação.
Fazendo menção às necessidades específicas da educação, Paro (2011), adotando uma
concepção de qualidade, faz menção à necessidade deste conceito estar intimamente ligado ao
conceito de educação escolar para além do senso comum, implícito nas políticas públicas em
geral: a educação escolar se presta apenas a transmitir conhecimentos e informações. Ele diz:
Concordamos com esta consideração, que nos alerta sobre um sério risco neste
raciocínio que vem permeando o senso comum, por ele prescindir do tipo de qualidade a que
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processos de autoavaliação, de forma que a qualidade da escola seja percebida por indicadores
construídos no coletivo. Concordamos com Esteban (2010, p.69), quando afirma:
O cotidiano das escolas públicas que recebem crianças das classes populares exige
diálogo constante com as margens, com os sujeitos insignificantes que emergindo
delas transitam na escola, com as práticas negadas, com os resultados não
celebrados. A ambivalência dos projetos formulados e dos processos vividos
fortalece o desafio de se enfrentar a complexidade cotidiana em que se produz o
fracasso, olhando o seu avesso para fazer emergir os fios que tecem o êxito como
uma possibilidade articulada à dinâmica social de ruptura com as relações de
subalternização.
Este texto teve por objetivo trazer à discussão o fato da qualidade estar sendo
constantemente mensurada por metas, em sua maior parte, aferida por indicadores
educacionais externos. Preocupa-nos enxergar que a concepção de qualidade que vem sendo
utilizada pra subsidiar as políticas públicas na educação da atualidade esteja vinculada a
princípios normativos e excludentes, que contemplam um modelo hegemônico de educação,
não pautado no cotidiano escolar. Tais políticas, que intensificam a cultura dos exames, que
buscam unificar os percursos, tempos e espaços escolares, que buscam padrões mínimos de
desempenho, pautados em critérios de excelência, não contemplam a diversidade dos sujeitos,
bem como os processos e as práticas educacionais cotidianas que privilegiam a construção de
uma cultura escolar.
Sobre o advento da cultura do exame como sendo este o principal aferidor da
qualidade educacional, afirmamos a existência de movimentos contrarreguladores,
questionando a eficácia desta ferramenta da avaliação:
No que tange à qualidade, parece-nos que a avaliação tem sido utilizada como a
redentora dos males da educação, transformando-se em um fim em si mesma. Há
uma ilusão social de que avaliar os sistemas garante qualidade. Entende-se que
aumentar a proficiência dos estudantes nos exames é o mesmo que elevar a
qualidade, sendo esta medida somente por meio de indicadores e dados. Conceito
polissêmico tanto do ponto de vista pedagógico, quanto social e político, a qualidade
da educação não pode ser compreendida de forma descolada da historicidade do
termo, favorecendo uma maneira superficial de entendimento e uso do mesmo.
(CARTA DE CAMPINAS7, in FREITAS, 2011, 3º item)
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A Carta de Campinas foi redigida por um grupo de profissionais da educação a partir das discussões realizadas
no Seminário de Avaliação e Políticas Públicas Educacionais, ocorrido entre os dias 16 e 18 de agosto de 2011,
na Universidade Estadual de Campinas. Estes vêm a público trazer suas preocupações com o presente momento
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Uma escola democrática precisa definir e trabalhar por sua qualidade, pois
entendemos, ainda, de acordo com os estudos de Bondioli (2004) ter a qualidade uma
natureza transacional, participativa, autorreflexiva, contextual, processual, formadora e
transformadora. Uma escola não é um serviço público, antes, é um bem público, que não pode
funcionar como uma máquina, com simples ajustes nas engrenagens, manutenção das peças e
injeção de combustível. Escola é lugar de gente, pessoas que ali estão construindo sua história
e, o ato educativo, em sua finalidade política, social e, sobretudo, humana.
Nesta visão, foi possível vislumbrar na fala dos profissionais da escola em que se
realizou a atividade descrita que há indícios de movimentos e concepções contrarreguladoras
que podem desencadear processos avaliativos internos, com olhares voltados para a
construção de uma escola de qualidade pautada num paradigma inclusivo, dialógico e
formativo.
Nosso desejo é de que o presente estudo revele a cada sujeito que integra o cotidiano
das escolas públicas um horizonte de possibilidades,
com uma visão de qualidade que conduza a apropriações de valores sociais que não
podem ser medidos nos testes padronizados, mas que nem por isso podem ser
esquecidos; com um privilegiamento de modelos de regulação da qualidade da
escola que considerem a titularidade dos atores locais como ponto de partida para
processos de avaliação mais consistentes e abrangentes, que levem em conta
inclusive as condições objetivas para a produção da qualidade.(CARTA DE
CAMPINAS in FREITAS, 2011, 15°item)
REFERÊNCIAS
FREITAS, L.C. Carta de Campinas. In: Movimento contra testes de alto impacto em
educação. Campinas, 2011. Disponível em:
<https://sites.google.com/site/movimentocontratestes/home/pagina-dos-professores>
Acesso em 27 abr. 2013.
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PARO, V.H. Progressão Continuada, supervisão escolar e avaliação externa: implicações para
a qualidade do ensino. Revista Brasileira de Educação: v.16, n° 48, 2011. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-4782011000300009&script=sci_arttext>.
Acesso em 05 nov. 2012.
ROMÃO, José Eustáquio. Avaliação dialógica: desafios e perspectivas. São Paulo: Cortez
Editora, 2002.