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Consultor em Engenharia Ferroviária e Tecnologia Ambiental, fcharlier@uol.com.br.
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Curso de Engenharia Química / Mestrado Profissionalizante em Tecnologia Ambiental da Universidade de
Ribeirão Preto – UNAERP, cqjunior@yahoo.com.br.
ENGEVISTA, v. 6, n. 3, p. 25-35, dezembro 2004 25
1. INTRODUÇÃO técnicas de seu traçado – uma ferrovia de
bitola larga e linha singela exige uma
Em 1835, o Regente Feijó
plataforma de 8 metros de largura,
sancionou a Lei Geral nº 101 que concedia
enquanto que a plataforma de uma rodovia
carta de privilégios a várias Companhias
pavimentada deve ter, pelo menos, 14
para a construção de estradas de ferro
metros – e um relacionamento íntimo com
ligando o Rio de Janeiro a diversas
as comunidades lindeiras.
províncias.
Ainda que seja o transporte
No Estado de São Paulo, decreto
ferroviário reconhecido como o meio de
imperial de 1868 autorizou a implantação
transporte terrestre que, intrinsecamente,
da Companhia Paulista de Estradas de
gera o menor impacto ambiental, pois uma
Ferro, de Jundiaí a Campinas, em extensão
tonelada de carga em rodovias planas de
à já operante São Paulo Railway Company
pavimentação lisa requer quatro vezes
que ligava Santos a Jundiaí desde 1867.
mais energia não renovável do que é
Em rápida seqüência foram criadas novas
exigido nas estradas de ferro (FERROVIA
companhias ferroviárias: Companhia
CENTRO-ATLÂNTICA SA, 2002), sendo
Ituana (1870), Companhia Sorocabana
bastante conhecida a relação 1:3:10 que
(1870), Companhia Mogiana (1872). Com
explicita o consumo energético
o tempo, as ferrovias firmaram-se como o
comparativo hidrovia:ferrovia:rodovia,
meio de transporte mais eficaz para a
após a privatização das ferrovias
época, conciliando rapidez e redução de
brasileiras, até por exigência dos Contratos
custos, e, aliadas à cultura cafeeira,
de Concessão, a questão ambiental passou
impulsionaram o Estado de São Paulo
a ser abordada de forma enfática.
rumo ao desenvolvimento. A partir da
A política ambiental do Ministério
década de 30, com o advento da
dos Transportes estabelece Princípios
industrialização, em detrimento da
como:
economia agrário-exportadora, as ferrovias
¾ Viabilidade ambiental dos sistemas
de São Paulo passaram a viver um
de transportes;
abandono quase total. (MASSARANI,
¾ Respeito às necessidades de
1992).
preservação do meio ambiente;
Na década de 60, iniciou-se a
¾ Sustentabilidade ambiental dos
discussão sobre a estatização e unificação
transportes.
do sistema ferroviário do estado,
A par disso, as Diretrizes para a
culminando com a formação, em 1971, da
gestão ambiental das ferrovias,
FEPASA - Ferrovia Paulista S.A. Os
incorporadas aos Contratos de Concessão,
investimentos estatais aportados à malha
levaram as empresas ferroviárias a buscar
ferroviária paulista sob operação da
uma convivência mais harmoniosa com o
FEPASA, nas décadas de 1970 e 1980,
meio, atendendo às exigências dos Órgãos
possibilitaram um aumento expressivo na
Públicos com a maior agilidade possível.
tonelagem transportada. A partir de então
Para isso elas buscam a institucionalização
reiniciou-se o ciclo de abandono. Em
de seus Planos de Gestão Ambiental, com
meados da década de 1990, já era
a criação de áreas departamentais com
consensual a incapacidade do Estado em
atuação voltada especificamente para as
manter o volume necessário de
questões do inter-relacionamento com o
investimentos. Inserida no Plano Nacional
Meio Ambiente.
de Desestatização, a Malha Paulista foi
A gestão ambiental pressupõe uma
privatizada em novembro de 1998,
ação planejadora que – segundo Dror
criando-se então a FERROBAN –
(1971), citado por Souza (2000, p.28) –
Ferrovias Bandeirantes S.A., que assumiu
trata-se de um conjunto de métodos
o controle das operações em janeiro de
destinados a captar e sistematizar
1999.
informações e que tem como objetivo
Em que pese todos os seus
racionalizar processos decisórios indutores
problemas, a ferrovia sempre apresentou,
de modificações na dinâmica de
reconhecidamente, uma inserção amigável
funcionamento de sistemas ambientais.
ao meio ambiente, até pelas especificações
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Um Plano de Gestão Ambiental Para Ab’Saber (1994) – conforme
define o processo gerencial a ser adotado citado por Souza (2000, p.30) – a etapa da
para a boa execução de um conjunto de caracterização ambiental é de grande
ações destinadas, basicamente, a evitar ou interesse para a previsão de impactos, pois,
a mitigar as conseqüências dos impactos além de fornecer dados sobre o sítio de
provocados por obras de implantação e de implantação, fornece informações sobre
conservação da ferrovia, incluindo os uma determinada região, delineando a área
provocados por acampamentos, instalações de influência a ser afetada direta ou
de áreas industriais, bem como por outras indiretamente pelas atividades. Sendo
instalações de apoio às obras, assim como assim, é indispensável o conhecimento da
aqueles gerados por acidentes decorrentes estrutura, da composição e da dinâmica
da própria operação ferroviária, buscando dos fatos que caracterizam o espaço total
soluções para os processos de degradação da região escolhida.
ambiental que possam ser deflagrados. Como observa Souza (2000, p.30),
O planejamento insere-se, pois, no a caracterização ambiental proporciona
Sistema de Gestão, uma vez que estrutura uma visão pró-ativa dos projetos. Afinal,
as diretrizes a serem seguidas pelos planos tendo em mãos o conhecimento do meio
de ação e pela própria gestão ambiental. ambiente e da atividade a ser implantada, é
Ora, sabe-se que a ferrovia com possível uma análise ambiental preventiva
maior extensão de linhas no Estado de São – observando a viabilidade ambiental – e
Paulo, a FERROBAN – Ferrovias não apenas uma que busque medidas
Bandeirantes S.A., agrega a sua matriz de corretivas.
transporte, entre outros, produtos como A etapa da caracterização
álcool, adubos, derivados de petróleo e ambiental é, portanto, fundamental para a
enxofre (GEIPOT, 2002), classificados determinação das suscetibilidades naturais
como produtos perigosos no Regulamento dos fatores ambientais.
do Transporte Ferroviário de Produtos
Perigosos do Ministério dos Transportes. 2. A CARACTERIZAÇÃO DO
Sendo assim, a gestão da questão AMBIENTE
ambiental na empresa requer que se Como se vê, para uma Gestão
caracterize: consistente dos meios, é prioritária a
1) A atividade de transporte em suas caracterização ambiental das áreas mais
condições potencialmente impactantes ao frágeis e de proteção legal, ou seja, das
meio, abrangendo o transporte áreas interferentes mais sensíveis a
ferroviário de mercadorias (Produtos situações impactantes: (a) Áreas de
considerados perigosos ou poluentes mananciais (Áreas de Proteção
transportados regularmente; Rotas desses Permanente, APP) que devem ser objeto de
produtos na malha da empresa; Evolução cadastramento de campo, uma vez que
dos transportes) e a incidência de incluem pequenos cursos d’água ou
acidentes nas operações afetas a esse vertentes que nem sequer estão mapeadas;
transporte (Data; Tipo; Local; Veículos (b) Demais áreas legalmente protegidas.
envolvidos; Produto transportado; Para os objetivos do presente
Ocorrência de vazamentos; Danos trabalho, foram eleitas as Áreas de
relatados ao meio ambiente). Os dados Proteção Ambiental (APA’s), exibidas na
necessários a este fim estão disponíveis Figura 2.1 (SÃO PAULO, SECRETARIA
nos relatórios operacionais das empresas DO MEIO AMBIENTE, 2002), devido à
ferroviárias. sua precisa definição legal e delimitação
2) O meio ambiente em que se desenvolve territorial.
a atividade. Em geral os dados relativos A par de assegurar o bem-estar das
ao meio envolvente não estão populações humanas, a proteção, a
disponíveis na própria empresa, devendo recuperação e a conservação dos recursos
ser levantados junto aos órgãos naturais, as APA’s são também
ambientais. É sobre essa etapa que se consideradas como espaços de
desenvolve o trabalho. planejamento e gestão ambiental de
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extensas áreas que possuem ecossistemas Reservas de Fauna, onde são permitidas a
de importância regional, englobando um ocupação e exploração dos recursos
ou mais atributos ambientais. naturais, conforme normas específicas que
Além disso, as APA’s são assegurem a proteção da unidade,
classificadas na categoria de uso direto dos procurando harmonizar a conservação e a
recursos naturais, assim como as Florestas recuperação ambiental e as necessidades
Nacionais, Reservas Extrativistas e as humanas.