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Cap. II: Formulação integral das equações fundamentais em mecânica dos fluidos A.

Rouboa

CAPÍTULO II

Formulação integral das equações


fundamentais em mecânica dos
fluidos

I – Introdução 46
II – Volumes de controlo e teorema de transporte de Reynolds 49
III – Formulação integral das equações de conservação
III-1 Equação de conservação de massa. 54
III-2 Equação de conservação da quantidade de movimento. 55
III-3 Equação de conservação de energia. 59
IV – Noção de perda de carga
IV- 1 Equação de Bernoulli com perda de carga 62
IV-2 Perda de carga em singularidades 65
V – Equação de Bernoulli. Factor de forma 67
VI- Exemplos
VI-1 Escoamento numa conduta de secção variável 70
VI-2 Reservatório de água com orifício. 72
VI-3 Perda de carga e factor de correcção da energia cinética 74
VI-4 Esforço provocado por um jacto de água numa placa 76
VI-5 Momento provocado por um escoamento num apoio de tubagem 79
Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

I- Introdução

A mecânica dos fluidos divide-se em duas partes: a hidrostática, que estuda o


equilíbrio dos fluidos, e a hidrodinâmica, que estuda seu movimento. A primeira
nasceu com Arquimedes - de cuja obra Daniel Bernoulli é considerado um
continuador -, mas recebeu um estudo sistemático somente no final do século XVII,
com Stevin e Pascal. Já os fundamentos da dinâmica dos líquidos surgem apenas no
século XVIII, principalmente graças a Euler. A dinâmica dos gases apresenta impulso
maior na actualidade, pela sua aplicação ao vôo de aparelhos mais pesados que o ar.
Daniel Bernouili inspirou-se em Demócrito e Arquimedes para desenvolver as ideias
centrais da sua mecânica dos fluidos. Do primeiro ele retirou a concepção de que a
matéria é composta de átomos que se movem rapidamente em todas as direções. Mas
foi a partir dos conceitos de hidrostática e mecânica desenvolvidos por Arquimedes,
que o matemático suíço estruturou sua hidrodinâmica.
O grande sábio de Siracusa foi o primeiro a assinalar, ainda no século II a.C., que os
fluidos não guardam espaços vazios entre si, apresentando-se, portanto,
macroscopicamente contínuos e uniformes.
O norueguês Stevin, contemporâneo de Galileu, estudou a distribuição das pressões
nos líquidos em equilíbrio, complementando e sistematizando o estudo do princípio
de Arquimedes. Não se sabe se Blaise Pascal (1623-1662) tinha conhecimento do
trabalho de Stevin, mas ele completou e confirmou seus resultados, assinalando como
a transmissão das pressões a todos os pontos de um líquido em equilíbrio podia ser
aproveitada na prensa hidráulica.
Foi Torricelli quem se preocupou primeiro com o problemas suscitados pelo
movimento dos fluidos. Talvez o conjunto de estudos que realizou sobre o
escoamento de um líquido por um orifício seja uma de suas mais importantes obras,
apesar de relativamente pouco conhecida. A chave da interpretação das peculiaridades
do movimento dos fluidos ideais, porém, foi dada no Tratado de Hidrodinâmica, que
Daniel Bernoulii publicou em Estrasburgo, em 1738.
O tratado principia com uma breve história da Hidráulica, seguida de pequena
apresentação da Hidrostática. Mas, nos treze capítulos, é aos fluidos elásticos - os
gases - que Bernoulli dedica a parte mais importante da obra, esboçando uma teoria
cinética dos gases. Para ele, esses fluidos são compostos "de minúsculas partículas
que se deslocam de cá para lá, numa movimentação rápida". A ideia básica da sua

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Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

teoria cinética é a de que a pressão de um fluido sobre a parede do recipiente que o


contém é devida aos inúmeros choques (contra a parede) das pequenas partículas
(moléculas) que compõem o fluido. A parede fica sujeita a uma multiplicidade de
forças que, em média, correspondem a uma força constante distribuída por toda a
superfície em contato com o fluido.

Na mesma obra, o cientista deduz o teorema que leva seu nome - e que exprime, no
fundo, a conservação da energia mecânica nos fluidos ideais, afirmando que, em
qualquer ponto do fluido, há uma relação constante entre três grandezas: velocidade,
pressão e energia potencial do fluido. É um dos princípios fundamentais da mecânica
dos fluidos, uma vez que, com algumas correções (considerando-se a
compressibilidade e a viscosidade dos fluidos reais), pode, ser aplicado ao movimento
de qualquer tipo de fluido. Acima de tudo, ele permite calcular a velocidade de um
fluido medindo-se as variações de pressão (a diminuição de velocidade provoca o
aumento de pressão e vice versa).
Partindo da ideia da conservação da energia mecânica - característica encontrada
mesmo num líquido isento de forças viscosas - Bernoulli mostrou que, em igualdade
de nível, há uma diferença de pressões devida à diferente velocidade de escoamento
nos vários pontos de um fluido. Por exemplo, num dado ponto do fluido, no qual este
último esteja em repouso, a pressão aí será maior, pois está associada a uma forma de
energia potencial, ao passo que num outro ponto onde o fluido se move rapidamente a
pressão é menor, pois nessa posição à velocidade do fluido corresponde uma dose de
energia cinética. Dado que a energia total é a mesma em todos os pontos do filete
líquido, nos pontos de maior energia cinética a pressão é menor e vice-versa.

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Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

A própria força de sustentação dos aviões se deve à existência da diferença de


pressões, que Bernoulli tão bem assinalou. De fato, como o trajeto que os filetes de ar
devem percorrer na parte superior do perfil da asa é bem maior que na parte inferior,
estabelece-se uma diferença de velocidade nos filetes, de forma que, onde a
velocidade é maior, a pressão é menor. Essa diferença resulta numa força ascensional.
Além do vôo do mais pesado que o ar, foram os conhecimentos de Hidrodinâmica que
possibilitaram muitos dos confortos da vida actual (desde o cálculo de uma rede de
adução e distribuição de água até o projecto dos submarinos, aviões supersónicos,
foguetes e mesmo automóveis e outros veículos modernos). Também nas turbinas a
gás, instalações frigoríficas, indústrias químicas, motores térmicos, nos quais, ao lado
da Termodinâmica, a teoria do escoamento dos fluidos fornece a base teórica
indispensável à sua construção.
Ao publicar sua obra, Daniel teve que suportar as críticas do próprio pai, que o acusou
de partir de "um princípio indireto, o qual é perfeitamente verdadeiro, mas que ainda
não é acolhido por todos os filósofos". Johann pretendia estudar o movimento das
águas unicamente à luz dos princípios da Dinâmica, pelo que foi felicitado pelo
próprio Euler (amigo íntimo de Daniel, com quem mantinha correspondência desde a
partida deste último de São Petersburgo). Em 1742, Johann publica sua Hidráulica,
com a pré-data de 1732, pretendendo, desta forma, a prioridade de algumas
descobertas de seu filho.
Os meios científicos, entretanto, consagraram o livro de Daniel. Este continuou a
leccionar em Basiléia, obtendo, em 1743, a cadeira de Fisiologia, mais próxima de
seus verdadeiros interesses. Finalmente, em 1750, ele obtém a cadeira de Física, que
ocuparia até 1776. Seis anos depois vem a falecer, sendo sepultado em Peterskirche,
perto do lugar onde residia.

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II – Volumes de controlo e teorema de transporte de Reynolds

As leis fundamentais referidas são normalmente introduzidas sob forma aplicável a


“sistemas”, no sentido habitualmente empregue em Termodinâmica, isto é, porções
bem identificadas de matéria, separadas do “exterior” por “fronteiras”. Esta
nomenclatura adapta-se bem a corpos sólidos ou fluidos encerrados em recipientes.

Num fluido em movimento, a tentativa de descrever a sua solução no tempo em


termos de sistema conduziria, naturalmente, a uma formulação lagrangeana.
Pretendendo manter uma descrição euleriana, pelas razões apontadas no capítulo 1, o
conceito de sistemas deve dar lugar ao conceito de “volume de controlo”. Designamos
assim uma porção fixa do espaço (por simplicidade, não consideraremos volumes de
controlo móveis, embora a sua introdução se torne por vezes desejável), em que o
movimento do fluido acarreta a renovação contínua de matéria. À periferia do volume
de controlo chamaremos superfície de controlo.

Volume de
controle em
t e t+Δt

Figura II.1 Volume de controlo ao t e t+Δt

As leis de conservação de massa, quantidade de movimento e energia envolvem


derivadas em ordem ao tempo:

Conservação de massa:
dm
=0 (II.1)
dt
Em que representa a massa do fluido.

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Conservação de quantidade de movimento (linear):


r
dP r
=F (II.2)
dt

Conservação de quantidade de movimento angular:


r
dL r
=M (II.3)
dt

Conservação de energia:
dE & &
= Q+W (II.4)
dt

r r
Em (II.2) P e F representam a quantidade de movimento e a resultante das forças que
actuam sobre o fluido.
r r
Em (II.3) L e M representam a quantidade de movimento angular (momento
cinético) e o momento das forças que actuam sobre o fluido, referidos ao centro de
massa.
& eW
Em (II.4) E, Q & representam a energia (interna + cinética + potencial) e as

potências calorífica e mecânica cedidas pelo exterior ao fluido.

Ao pretender adaptar estas leis a um volume de controlo, temos de substituir as


derivadas temporais que nelas figuram por expressões adequadas. De facto, quando
dm
em (II.1) escrevemos , pretendemos definir o limite, quando Δ t → 0, de Δm Δt ,
dt
em que Δ m representa a variação de massa de um sistema entre t e t + Δ t. Do ponto
de vista “volume de controlo”, esta derivada não é directamente acessível, mas sim:

m v.c. (t + Δt) − m v.c. (t)


Lim
Δt → 0 Δt

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Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

Ou seja, a derivada temporal “medida” no volume de controlo passamos a representar


dm v.c.
por . As duas derivadas temporais são geralmente distintas e é necessário saber
dt
relacioná-las.

Com maior generalidade, designemos por Φ uma grandeza qualquer, cujo valor, no
volume de controlo, é Φv.c. e seja ϕ o seu valor específico, isto é,

Φv.c.= ∫ v.c.
ρϕdϑ (II.5)

em princípio,
ϕ = ϕ (x, y, z, t) e Φv.c. = Φv.c. (t).

Está-se a supor que Φ é uma grandeza extensiva, como acontece com as grandezas
que intervêm em (II.1) a (II.4). Uma vez que o volume de controlo não varia com o
tempo:
d d ∂
dt
(Φv.c.) =
dt ∫ v.c.
ρϕdϑ = ∫ ∂t (ρϕ)dϑ
v.c.
(II.6)

A B

Superfície de controlo

Figura II.2 Superfície de controlo


d
Do ponto de vista “sistema”, calculamos a derivada em ordem ao tempo, ( Φsist. ),
dt
como segue:

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d Φ (t + Δt ) − Φsist. (t )
( Φsist. ) = lim sist.
dt Δt → 0 Δt

e Φsist. (t + Δt ) pode obter-se se adicionarmos a Φ v.c. (t + Δt ) a quantidade de Φ


contida em B, na figura, e subtraindo a quantidade de Φ contida em A,
respectivamente Φ B e Φ A :

d Φ v.c. (t + Δt ) + Φ B − Φ A − Φ sist. (t )
(Φsist. ) = Δlim
dt t →0 Δt
ou ainda, notando que Φ sist . (t ) ≡ Φ v.c. (t ) :

d ΦB − ΦA
(Φ sis. ) = d (Φ v.c. ) + Δlim
dt dt t → 0 Δt
Por outro lado, à medida que Δt → 0 a última parcela que acabamos de escrever
confunde-se com a quantidade de Φ que atravessou a superfície de controlo entre t e
t + Δt , dividida por Δt :

r
r VΔt
n
r
V

Figura II.3
ΦB -ΦA 1 r r rr
ρϕ.(v Δt) n ds= ∫ ρϕ v n ds
Δt∫s.c.

Δt s.c.

e substituindo este resultado na equação anterior:


d
(Φsist. ) = d (Φ v.c. ) + ∫s.c. ρϕvr nds
r
(II.7)
dt dt
ou ainda, introduzindo (II.6):
d
(Φsist. ) = ∫ ∂ (ρϕ )dν + ∫s.c. ρϕvr nds
r
(II.8)
dt v.c. ∂t

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Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

d
(II.7) ou (II.8) exprimem a relação pretendida entre (Φsist. ) , a derivada temporal
dt
d
com o sentido empregue em (II.1) a (II.4), e (Φ v.c. ) , a derivada temporal calculável
dt
directamente no volume de controlo. Essa relação constitui o chamado teorema de
transporte de Reynolds, que nos parágrafos seguintes será aplicado a cada uma das
leis de conservação.

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Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

III – Formulação integral das equações de conservação

III-1 Equação de conservação da massa

A introdução da equação (II.8) em (II.1), com Φ ≡ m e ϕ ≡ 1 , conduz à expressão da


lei de conservação de massa para volumes de controlo:
∂ρ rr
∫ dϑ + ∫ ρvnds = 0 (II.9)
v.c. ∂t s.c.

que essencialmente afirma serem iguais e opostas a variação de massa no volume de


controlo e a quantidade de massa que atravessa, para fora, a superfície de controlo.


O primeiro termo de (II.9) anula-se se o escoamento for estacionário ( ≡ 0) no
∂t
volume de controlo, e o segundo termo assume forma particularmente simples para
escoamentos estacionários unidimensionais caracterizados por uma coordenada
longitudinal: V. ρ etc., só dependem de ξ (ver figura II.4).

A2, ρ2, V2, ϕ2

A1, ρ1, V1, ϕ1

Figura II.4

Formamos uma superfície de controlo com um tubo de corrente e duas secções


normais 1 e 2, de áreas A1 e A2, velocidades v1 e v2 (uniformes) etc.

A aplicação de (II.9) a este caso conduz a:

rr ⎛ → ⎞ ⎛ → ⎞
∫s.c.
 ρvnds = 0 => ∑i ⎜⎝ i i i ⎟⎠saída ∑i ⎜⎝ ρi Vi Ai ⎟⎠ = 0
ρ V A − (II.10)
entrada

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Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

como existe apenas uma entrada e uma saída temos que:

ρ 1 V1 .A1 − ρ 2 V2 .A2 = 0
& = ρΑV. Com maior generalidade,
ou seja, há conservação do caudal mássico m
designando ϕ 2 e ϕ 2 os valores específicos de Φ nas secções 1 e 2, a particularização
de (II.8) a este caso estacionário unidimensional assume a forma:
d
(Φ sist. ) = m& (ϕ2 − ϕ1 ) (II.11)
dt
que será utilizada mais tarde. Trata-se de uma simplificação rudimentar, mas que
encontra aplicação frequente em situações concretas, por exemplo, um tubo de
corrente que é materializado pela parede de uma conduta.

Outro caso ideal particularmente importante é o de escoamento “incompressível”. A


designação de escoamento incompressível aplica-se aos escoamentos em que as
variações da massa ρ são suficientemente pequenas, de modo que a sua influência
pode ser desprezada nas equações de conservação. Esta noção será estudada de forma
mais aprofundada, mas note-se desde já que a maioria dos escoamentos correntes de
gases são ainda, neste sentido, “incompressíveis”. A hipótese de incompressibilidade
( ρ uniforme e independente do tempo) permite-nos escrever, em lugar de (II.9):
r
∫ v .n dS = 0 (II.12)
s.c.

e (II.10) dá lugar à conservação de caudal volúmico, ν& = Av :


ou seja:
V2 A2 – V1 A1 = 0
V1 A 2
= (II.13)
V2 A1

III.2 – Equação de conservação de quantidade de movimento

O primeiro membro de (II.2) é decomposto também pelo teorema de transporte de


r
Reynolds (II.8), tomando neste caso ϕ ≡ v :

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Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

∂ r r rr r
∫ ( ρv )dV + ∫ ρ v (v .n )dS = F (II.14)
v.c. ∂t s.c.
r
No segundo membro, F representa a resultante das forças que actuam sobre o fluido
contido no volume de controlo.

Os casos particulares considerados em (II.4) são também retomados aqui. Para


escoamentos estacionários o 1º integral em (II.14) anula-se,

r r rr
∑ F = ∫ V ρ (V .n) ds
sc

r r r r r
∑ F = ∑ ⎡⎣( ρ VA)V ⎤⎦
i
saída
i
⎣ (
− ∑ ⎡ ρ VA V ⎤ )
⎦ entrada

r r r
∑ F = ∑ ⎡⎣mV
i
& ⎤⎦
saída
− ∑ ⎡⎣ mV
i
& ⎤⎦
entrada
(II.15)

em particular, na hipótese unidimensional considerada anteriormente, em que o


volume de controlo envolve uma linha de corrente, (II.15) passa a escrever-se:

r r r
(
& V2 − V1 = F
m ) (II.16)

É importante observar que as equações (II.14) a (II.16) são vectoriais. Assim, por
r r r
exemplo, na situação descrita por (II.16) a resultante F só se anula se V1 e V2 forem
idênticos em grandeza, direcção e sentido.

r
F engloba a acção de forças mássicas (nomeadamente o peso) e tensões transmitidas
pelo fluido circundante através da superfície de controlo, nomeadamente forças de
pressão e forças devidas à viscosidade. O cálculo da resultante das forças de pressão,
r
Fp , foi já tratado no capítulo anterior para o caso estático; com generalidade podemos

escrever:
r r
Fp = − ∫ pn dS (II.17)
s.c.

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Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

Por vezes torna-se conveniente decompor p em duas parcelas, po+p’ , com po


uniforme sobre toda a superfície de controlo, ficando

r r r
Fp = −p0 ∫ n dS− ∫ p' n dS
s.c s.c.

p0
Sc
Vc

p’

Figura II.5

O primeiro destes integrais é nulo. A justificação é análoga à que apresentámos no


capítulo anterior para obter (I.20). Fica portanto,

r
F p = −∫
s .c .
( p − p0 ) nr dS (II.18)

Este artifício permite simplificar muitas aplicações de (II.14) e (II.15), quando parte
da superfície de controlo tem pressão uniforme. Um exemplo de utilização frequente
desse tipo de simplificação diz respeito a superfícies de controlo parcialmente
expostas à pressão atmosférica, em que p’ = p-po representa simplesmente a pressão
efectiva.

A título ilustrativo, analisemos o que se passa numa conduta de secção uniforme e


eixo com a forma de um quarto de circunferência (curva a 90º). Supondo que esta
curva está intercalada em troços rectilíneos de conduta, assentes num plano
horizontal, e admitindo que em cada secção pressões, velocidades, etc., são
uniformes.

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Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

V2
n2

P2,A2

n1
P1, A1

V1

Figura II.6

De acordo com (II.16), a resultante das forças que actuam sobre o fluido contido na
r r
( )
conduta entre as secções 1 e 2 é igual a m& V2 − V1 e situa-se, portanto, na linha de
simetria da figura. Nesta resultante estão compreendidas, para além do peso do fluido,
as forças de pressão em 1 e 2 e a resultante das forças (de pressão e devidas à
r
viscosidade) transmitidas pela própria conduta ao fluido. Designamos por − R esta
r
última, passando R a representar a resultante das forças transmitidas pelo fluido à
parede da conduta. Ignoramos no que se rege o peso do fluido, cujo efeito é apenas
r
fazer incluir em R uma componente vertical igual a ele próprio. Podemos então
escrever

r r r r
( ) r r
F = m& V2 − V1 = A ( p1 n1 − p 2 n 2 ) − R

e portanto
r r r
r r
(
R = A ( p1 n1 − p 2 n 2 ) − m& V 2 − V1 ) (II.19)

r r
Em particular, se p 1 = p 2 = p , tomando V = V1 = V2 :
r r r
R = ( Ap + m& V ) (n1 − n 2 )

r
A resultante R situa-se no plano de simetria da curva, dirigida para fora.

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Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

III.3 – Equação de conservação de energia

Resta-nos analisar o princípio de conservação de energia, expresso por (II.4). Mais


uma vez recorremos ao teorema de transporte de Reynolds, agora com Φ ≡ E , soma
das energias interna, cinética e potencial, e ϕ ≡ e , o respectivo valor por unidade de
massa. Designando por U a energia interna específica, temos:
1 2
e =U + v + gz
2
com o eixo O z ainda dirigido verticalmente de baixo para cima) e podemos escrever:

∂ ⎡ ⎛ 1 2 ⎞⎤ ⎛ 1 2 ⎞rr
∫v.c. ∂t ⎢ρ ⎜U + 2 v + g z ⎟⎥ d v + ∫s.c. ρ ⎜U + 2 v + g z ⎟ v .n dS = Q +Wm
⎣ ⎝ ⎠⎦ ⎝ ⎠
& & (II.20)

O termo W& em (II.20) engloba todas as formas de trabalho trocadas entre o fluido
contido no volume de controlo e o fluido exterior, com excepção do trabalho realizado
pelas forças gravíticas, já contabilizado pelo termo de energia potencial gz .
Consideraremos as seguintes contribuições:
& - trabalho mecânico recolhido num meio (ou cedido), resultante do
Wm

movimento de um corpo sólido no interior do volume de controlo.

-p.n

Wm

Figura II.7

Este tipo de análise é conveniente quando se trata de relacionar a potência de


máquinas motrizes ou bombas com o estado do fluido nas condições de entrada e
saída.

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Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

& - trabalho (por unidade de tempo) realizado sobre o fluido pelas forças de
Wp

pressão que actuam na superfície de controlo:

rr rr
W& p = ∫ − pn .v dS = ∫ pv .n dS
s .c . s .c .

Podemos dar a este termo uma forma apropriada para a sua inclusão no 1º membro de
(II.20):

⎛ p⎞ r r
W& p = − ∫s.c. ρ ⎜⎜ ⎟⎟ v .n dS (II.21)
⎝ρ⎠

& - trabalho (por unidade de tempo) realizado sobre o fluido pelas forças
Wv

devidas à viscosidade que actuam na superfície de controle. Esta contribuição é, raras


vezes, importante nas aplicações que nos interessam, ou porque a velocidade é nula na
superfície de controlo (caso de uma superfície sólida fixa), ou porque as forças
devidas à viscosidade são muito pequenas quando projectadas sobre a direcção da
velocidade. Em todo o caso, podemos escrever com generalidade, fazendo uso de
(II.21) para adicionar − W& p ao 1º membro de (II.20) e notando que h = u + p / ρ é a
entalpia específica do fluido:

⎡ ⎛ 1 2 ⎞⎤
∂∫ ⎢ ρ ⎜ U + 2 v + g z ⎟ ⎥ dϑ
v .c .
⎣ ⎝ ⎠⎦ ⎛ 1 ⎞rr
+ ∫ ρ ⎜ h + v 2 + g z ⎟ v .n dS = Q& + W& m + W& v (II.22)
∂t s .c .
⎝ 2 ⎠

Esta equação exprime a 1ª Lei da Termodinâmica (conservação de energia) para um


volume de controlo. Como sabemos, o integral de volume anula-se em escoamentos
estacionários.
⎛ 1 2 ⎞rr
∫ s .c .
ρ ⎜h+
⎝ 2
v + g z ⎟ v .n dS =

(II.23)
⎡ ⎛ 1 2 ⎞⎤ ⎡ ⎛ 1 2 ⎞⎤
∑i
⎢ m& i ⎜ hi + 2 vi + g zi ⎟ ⎥
⎣ ⎝
−∑
⎠ ⎦ saída i
⎢ m& i ⎜ hi + 2 vi + g zi ⎟ ⎥
⎣ ⎝ ⎠ ⎦ entrada

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Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

Seguindo o que foi apresentado para os princípios da conservação de massa e de


quantidade de movimento, vamos novamente referir o caso de um volume de controlo
situado ao longo de um tubo de corrente, entre duas secções 1 e 2, onde o escoamento
é supostamente unidimensional. Para este caso, (II.11) permite-nos escrever:

⎡⎛ 1 ⎞ ⎛ 1 ⎞⎤
m& ⎢⎜ h2 + v22 + g z2 ⎟ − ⎜ h1 + v12 + g z1 ⎟ ⎥ = Q& + W&m + W&v (II.24)
⎣⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠⎦

Podemos dar a (II.24) outra forma equivalente, introduzindo os valores específicos


(por unidade de massa) associados às quantidades de calor e trabalho trocadas,
q = Q& / m& , Wm = W& m / m& , Wv = W& v / m& :

⎛ 1 2 ⎞ ⎛ 1 2 ⎞
⎜ h2 + v 2 + g z 2 ⎟ − ⎜ h1 + v1 + g z 1 ⎟ = q + Wm + Wv (II.25)
⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠

Nesta forma, a equação da energia relaciona, em regime estacionário, os valores


específicos de energia ao longo de um tubo de corrente com as quantidades de calor e
trabalho trocadas, referidas à unidade de massa de fluido. A restrição de escoamento
unidimensional, subjacente, torna-se desnecessária se as secções 1 e 2 forem
suficientemente pequenas para que, em qualquer caso, os valores de h, v e z variem
pouco sobre elas. No limite, podemos dizer que (II.25) se aplica a pontos de uma
mesma linha de corrente, quer o escoamento seja unidimensional ou não. Este ponto
será retomado no parágrafo seguinte.

Finalmente, podemos dar a (II.25) um aspecto diferente se dividirmos todos os seus


termos por g, conferindo-lhes a dimensão de um comprimento. É usual reservar para
os termos no segundo membro divididos por g o símbolo h afectado de índices
apropriados, e com o fim de evitar confusão com a entalpia, voltamos a introduzir
u +p/ρ:

⎛U2 p 2 V22 ⎞ ⎛U1 p1 V12 ⎞


⎜ + + + z ⎟ − ⎜ + + + Z ⎟ = h p + hm + hv (II.26)
⎜ g ρ g 2 g
2 ⎟ ⎜ g ρ g 2 g
1 ⎟
⎝ 2 ⎠ ⎝ 1 ⎠

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Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

As equações (II.25) e (II.26) são frequentemente utilizadas nas aplicações do


princípio de conservação de energia a fluidos em movimento. No parágrafo seguinte
surge-nos uma das suas formas mais simples, em uso desde o século XVIII.

IV – Noção de perda de carga

IV- 1 Equação de Bernoulli. Noção de perda de carga

Retomemos a ideia de um tubo de corrente de secção arbitrariamente pequena,


contendo essencialmente uma linha de corrente no seu interior. A este volume de
controlo é aplicável a equação (II.24). Admitamos agora desprezáveis as quantidades
de calor e trabalho trocadas (esta última não faria aliás sentido, num volume de secção
arbitrariamente pequena), bem como o efeito da viscosidade, introduzindo através de
hv em (II.24). Recordemos também novamente que (II.24) foi já objecto da hipótese
de escoamento estacionário. Nessas condições podemos escrever:

P1 V12 p 2 V22 ⎛U U ⎞
+ + Z1 = + + Z 2 + ⎜⎜ 2 − 1 ⎟⎟ (II.27)
ρ1 g 2g ρ 2 g 2g ⎝ g g ⎠

V2,p2,z2,ρ2,U2

dA1 dA2

V1,p1,z1,ρ1,U1

Figura II.8

O último termo, associado à variação da energia interna entre 1 e 2 contém


contribuições devidas à compressão/expansão do fluido, essencialmente reversível, e
à dissipação por acção da viscosidade, irreversível. Vamos desprezar, no seguimento
das hipóteses adoptadas, esta contribuição dissipativa, que será retomada adiante.
Quanto à contribuição devida à compressão/expansão do fluido, podemos também
ignorá-la desde que limitemos a análise em curso a escoamentos incompressíveis.

62
Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

Com os pressupostos enunciados (escoamento estacionário, não viscoso,


incompressível, sem transferência de calor nem trabalho mecânico), (II.27) assume a
forma de uma equação de conservação de p / ρg + V 2 / 2 g + z , habitualmente
designada equação de Bernoulli:

p1 V12 P V2
+ + Z1 = 2 + 2 + Z 2 (II.28)
ρ g 2g ρ g 2g

Antes de analisarmos com mais detalhe o significado e as potenciais aplicações desta


equação, é importante sublinhar que as hipóteses subjacentes correspondem a uma
situação ideal e, portanto, todos os escoamentos reais se afastam mais ou menos das
condições de validade de (II.28). A causa de erro mais corrente decorre de termos
desprezado a contribuição devida à viscosidade para o último termo de (II.27), que
aliás desempenha papel essencial na análise de situações tão simples como a que nos
serviu para introduzir a noção de viscosidade:

Figura II.9

Para manter a placa superior em movimento é necessário aplicar-lhe uma força


permanente e o trabalho realizado por essa força é integralmente dissipado no seio do
fluido pelas tensões viscosas internas. Esta dissipação é sempre positiva, e com mais
realismo poderíamos ter escrito:

p1 V12 p V2
+ + Z1 > 2 + 2 + Z 2 (II.29)
ρ g 2g ρ g 2g

Como é óbvio, uma desigualdade é muito menos interessante do ponto de vista das
aplicações, e podemos dizer que as aplicações da equação de Bernoulli são aquelas
em que (II.29) de facto se aproxima de (II.28) em termos quantitativos.

63
Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

Outra limitação que é importante ter presente, resulta de as secções elementares 1 e 2


no volume de controlo considerado pertencerem a um mesmo tubo de corrente. Por
outras palavras, a quantidade escalar

p V2
+ +Z
ρ g 2g

é uma invariante para cada linha de corrente, e (II.28) não é, em princípio, aplicável a
pontos colocados sobre linhas de corrente distintas. Veremos mais tarde em que
condições esta limitação pode ser eliminada. Não devemos, contudo, reter a ideia de
que para aplicar a equação de Bernoulli é necessário conhecer previamente com
detalhe a distribuição de linhas de corrente. O que é importante é que seja plausível
unir os dois pontos considerados por uma hipotética linha de corrente e que ao longo
dessa linha sejam aproximadamente verificadas as condições de aplicação da equação
de Bernoulli:

Figura II.10

Um elemento de fluido colocado em 1 acabará, eventualmente, por atravessar a


secção de saída 2 e é razoável aplicar aos pontos 1 e 2 a equação de Bernoulli.

Uma vez que nem sempre é evidente o grau de aproximação com que a equação de
Bernoulli representa o que se passa em cada escoamento real, é oportuno deter a
atenção em alguns exemplos de aplicação, uns melhor sucedidos do que outros.

64
Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

IV.1 – Perda de carga em singularidades

A perda de carga que ocorre em tubagens (determinada por fórmulas empíricas ou


pelo diagrama de Moody) é conhecida como “perda de carga distribuída” ou “perda
de carga contínua” porque ocorre ao longo da tubagem.

Quando o escoamento numa tubagem passa pelas chamadas singularidades, existe


uma perda adicional de energia (irreversível) devido à geometria das singularidades
e/ou às mudanças de trajectória a que o fluido foi submetido. A perda de carga devido
às singularidades é conhecida como “perda de carga localizada”.

A perda de carga por atrito em tubagens rectas é calculada pela equação de Darcy-
Weisbach:
L V2
hv = f (II.30)
D 2g

f é o factor de atrito, função da rugosidade relativa da tubulação, e/D, e do número de


Reynolds (Re),
ρ ⋅V ⋅ D V ⋅ D
Re = = ,
μ ν

L é o comprimento do trecho rectilíneo da tubulação,


D é o diâmetro (nas tubagens circulares, é o próprio diâmetro da tubagem); em
tubagens não circulares, D = Dh = 4A/P, onde A é a área da secção transversal e P é o
perímetro molhado);
V é a velocidade média do escoamento;
μ é a viscosidade dinâmica, e
ν é a viscosidade cinemática.

O coeficiente de atrito f é obtido do diagrama de Moody, ou pode ser calculado com a


recorrendo à equação de Colebroock-White:
−2
⎡ ⎤
⎛D⎞ 9, 3
f = 1,14 + 2 log ⎜ ⎟ − 2 log ⎢1 + ⎥ (II.31)
⎝e⎠ ⎢ Re e
⎣ D( ) f ⎥

65
Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

Lembrar também que se Re<2300 o escoamento é laminar e o coeficiente de atrito é


depende da rugosidade, sendo f=64/Re.

A perda de carga em singularidades (curvas, contracções, expansões, válvulas,


serpentinas, trocadores de calor, etc) geralmente é calculada através com equações do
tipo:
V2
hv = k ⋅ (II.32)
2g
onde o coeficiente de proporcionalidade k é determinado experimentalmente.
A perda de carga por atrito de um trecho de um sistema de ventilação de diâmetro
constante é então escrita:
L V2 V2
hv = f ⋅ + (∑ k ) (II.33)
Dh 2 g 2g
A perda de carga total, se há trechos de diâmetros diferentes, deve contemplar estes
vários trechos rectos de mesmo diâmetro, evidentemente.
Uma atenção especial deve ser dedicada ao cálculo da perda de carga em
singularidades, pois elas, geralmente, são superiores às perdas de carga distribuídas.
Considere, por exemplo, o caso das curvas de 90o. A figura seguinte mostra uma
representação esquemática de uma curva de 90o, de secção transversal rectangular, de
lados a e b.

Re

Ri

Figura II.11

66
Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

No gráfico qualitativo fornece-se o valor do coeficiente k, em função da razão dos


raios das curvaturas interna e externa, tendo a razão a/b como parâmetro. Observe que
o valor de k é tanto menor quanto maior é a razão largura/altura (a/b) da curva.

1,4
a/b = 1/4

0,7

a/b = 4

R i i /R i Ri / R
Figura II.12

V – Equação de Bernoulli. Factor de correcção

São vários os casos práticos onde o escoamento que atravessa uma secção não é
estritamente unidimensional. Nestes casos, a velocidade pode variar sobre a secção
transversal. Consequentemente, o termo de energia cinética deve ser afectado por um
factor de correcção adimensional α, tal que a integral seja proporcional ao quadrado
da velocidade média (Vm) da secção
rr
(
∫ 21
V 2
) ρ V ( )
.n dA = α ( 12 Vm2 ) m&
s .c

Sendo u a velocidade normal à secção, a integral da equação anterior torna-se, para


um escoamento incompressível,

1
2 ρ ∫ u 3dA = 12 ρ α Vm3 A
3
1 ⎛ u ⎞ (II.34)
ou α = ∫ ⎜ ⎟ dA
A ⎝ Vm ⎠

O termo α representa o factor de correcção da energia cinética (também designado


por coeficiente de Coriolis), assumindo o valor 2.0 para escoamento laminar

67
Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

totalmente desenvolvido em tubagens e valores entre 1.04 e 1.11 para escoamento


turbulento em tubagens, embora seja, normalmente, assumido o valor α =1.0 neste
último caso.

A equação da energia completa para um escoamento permanente e incompressível é


dada por

⎛ pi αVi 2 ⎞ ⎛ pi αVi 2 ⎞
∑i ⎜ ρ g + 2 g + Zi ⎟ − ∑i ⎜ ρ g + 2 g + Zi ⎟ = hp + hm + hv (II.35)
⎝ ⎠entrada ⎝ ⎠ saída

onde todos os termos têm dimensão de comprimento [m].

Para o cálculo de valores numéricos de α podem-se usar as seguintes aproximações:

Escoamento laminar
⎡ ⎛ r ⎞2 ⎤
u = U max ⎢1 − ⎜ ⎟ ⎥
⎢⎣ ⎝ R ⎠ ⎥⎦

Onde Vm = 0.5U max

e α=2.0

Escoamento turbulento
m
⎡ r⎤ 1
u = U max ⎢1 − ⎥ com m ≈
⎣ R⎦ 7

2U max
Onde Vm =
(1 + m)(2 + m)

(1 + m)3 (2 + m)3
Substituindo na equação (II.30) α=
4(1 + 3m)(2 + 3m)

se for substituído o valor de m em α verifica-se que este difere muito pouco da


unidade pelo que é muitas vezes negligenciado em problemas de escoamento

68
Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

turbulento. No entanto, deverá sempre ser considerado em análises de escoamentos


laminares.

69
Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

VI – Exemplos

VI.1 – Escoamento numa conduta de secção variável

Considere um tubo de 1m de comprimento e de secção variável (Figura II-11).


A água entra pela secção 1 com uma velocidade de 10 m/s. A secção 1 é
circular de diâmetro 12 cm. A secção 2 é também circular de diâmetro 20 cm.
a- Considere que o tubo é horizontal (α=0). Determine a velocidade de saída
(na secção 2).
b- Considere agora que o tubo é inclinado segundo um ângulo de 45º e a
velocidade de entrada é incógnita. A pressão de entrada e de saída são
iguais a 1 atm. Calcule a nova velocidade de saída.
c- Qual será a secção da saída se a velocidade desejada é 7 m/s.

V1
α

V2

Figura II.13

Resp.
a- O tubo é considerado horizontal:

V2

V1

70
Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

r
A equação de conservação de massa é: ∫ v .n dS = 0 (II.12)
s.c.

ou seja:
V1 A 2
V2 A2 – V1 A1 = 0 Æ =
V2 A1
Então a velocidade, na secção 2, é calculada em função da secção 1 e 2 e da
velocidade V1.
A2
V2 = V1
A1
0.12 2
π .(
)
Aplicação numérica: V2 = 10 2 = 3.6 m / s
0.20 2
π .( )
2

b- Considerando o tubo inclinado (figura II-11), a equação da conservação de


massa e a equação de Bernoulli entre a secção 1 e a secção 2 são descritas:

V1 A 2 A
Conservação da massa: = Æ V2 = V1 2
V2 A1 A1

Equação de Bernoulli entre a secção 1 e a secção 2 :


1 1
p2 + ρV22 + ρg z2 = p1 + ρV12 + ρg z1
2 2
Pois que p1 =p2, então:
2
1 1 ⎛A ⎞
ρ (V12 − V22 ) = ρg ( z2 − z1 ) Æ ρV12 (1 − ⎜⎜ 1 ⎟⎟ ) = ρg ( z2 − z1 )
2 2 ⎝ A2 ⎠

Logo, a velocidade V1 é calculada por :

2 g ( z2 − z1 )
V1 = 2
o valor z2 − z1 = 1.sen(45º )
⎛A ⎞
(1 − ⎜⎜ 1 ⎟⎟ )
⎝ A2 ⎠

Aplicação numérica: V 1 = 14.67 m/s e V2= 8.8 m/s

c- Cálculo da secção de saída para uma velocidade de 7m/s. Descrevendo a


relação entre a velocidade de saída e os dados:

71
Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

2
1 1 ⎛A ⎞
ρ (V12 − V22 ) = ρg ( z2 − z1 ) Æ ρV22 (⎜⎜ 1 ⎟⎟ − 1) = ρg ( z2 − z1 )
2 2 ⎝ A2 ⎠

A1 2 g ( z2 − z1 ) A1
ou = +1 então A2 =
A2 V22 2 g ( z2 − z1 )
+1
V22

Aplicação numérica:

0.12 2
π
d 22 4 1
π = => d 2 = 0,167 m
4 2.10.sen(45)
+1
72

VI.2 – Reservatório de agua com orifício.

Considere um tubo reservatório de água de forma cilíndrica de diâmetro 50 cm e de


altura 1.20 m (Figura II-12). A altura de água é de 1m. Este reservatório tem um
orifício na base de 1 cm de diâmetro. O objectivo é calcular o tempo necessário para
esvaziar o reservatório.
a- Calcule a velocidade de saída da água pelo orifício.
b- Calcule o tempo de esvaziamento do reservatório considerando que o
orifício se situa no meio.

1.2 m
1m

Figura II-14

72
Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

a- Consideramos que o fluido é incompressível. Aplicamos a equação de


conservação de massa entre os pontos A e B:
VA AB
VA AA – VB AB = 0 Æ =
VB AA
Calculamos a velocidade em B em função da velocidade em A :

AB
V A = VB
AA

Aplicamos a equação de Bernoulli entre os pontos A e B :

1 1
pA + ρVA2 + ρg z A = pB + ρVB2 + ρg z B
2 2

Sabendo que as pressões em A e B são iguais à pressão atmosférica, obtemos:

2
1 1 ⎛A ⎞
ρ (VA21 − VB2 ) = ρg ( z B − z A ) Æ ρVB2 (⎜⎜ B ⎟⎟ − 1) = ρg ( z B − z A )
2 2 ⎝ AA ⎠

2g ( z A − z B )
VB = 2
⎛ d B2 ⎞
(1 − ⎜⎜ 2 ⎟⎟ )
⎝ dA ⎠

b- Calcule o tempo de esvaziamento:


O tempo que demora A para chegar a B com uma velocidade VA. Temos:

Δz
VA = , com Δz = 1m e Δt = ? o tempo para calcular.
Δt
Admitamos que inicialmente o ponto A coloca-se em z=1 m.

Então, o tempo para esvaziar o reservatório é igual a:

73
Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

Δz
Δt =
VA

AB 2g(z A − zB ) d B
V A = VB = .
AA 2 2
Temos : ⎛ d ⎞ dA
(1 − ⎜⎜ B2 ⎟⎟ )
⎝ dA ⎠
Então, o tempo em função dos diâmetros e das alturas respectivas de A e de B, é :

(z A − zB )
Δt =
2g(z A − zB ) d B
.
2 2
⎛ dB ⎞ d A
(1 − ⎜⎜ 2 ⎟⎟ )
⎝ dA ⎠

VI.3 – Perda de carga e factor de correcção da energia cinética

Uma central hidroeléctrica recebe água através da turbina e a descarrega para a


atmosfera com VB=2 m/s. A perda de carga na turbina e nas tubagens é de hp=20m.
Calcule a energia retirada pela turbina ao escoamento considerando:
a) escoamento laminar.
b) escoamento turbulento com factor de correcção de energia cinética α médio

ZA=100

Água

ZB =0
V=2m/s

Turbina

Figura II.15

74
Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

Considerando a secção A coincidente com a superfície do reservatório, onde V≈ 0,


P= Patm ,a aplicação da equação de Bernoulli completa entre os pontos A e B resulta:

p A αVA2 p αV 2
+ + Z A = B + B + Z B + ht + hp
ρ g 2g ρ g 2g

como PA= PB = Patm, temos que:

α
ht =
2g
(V 2
A − VB2 ) + ( Z A − Z B ) − hp

Aplicação numérica

a) Como o escoamento é laminar α=2.0, logo:

2.0
ht =
2 × 9.8
( 0 − 22 ) + (100 − 0 ) − 20 =79.6 m

o que significa que a turbina extrai 79.6% dos 100 m de altura disponível da
barragem.

b) Como o escoamento é turbulento, e considerando α=1.075, logo:

1.075
ht =
2 × 9.8
( 0 − 22 ) + (100 − 0 ) − 20 =79.8 m

o que significa que a turbina extrai 79.8% dos 100 m de altura disponível da
barragem.

Conclui-se que a turbina consegue obter mais energia do escoamento se este for
turbulento.

75
Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

VI.4 – Esforço provocado por um jacto de água numa placa

O jacto de água (ρ = 103 kg.m-3) à velocidade de 25 m/s e diâmetro 6 cm incide


perpendicularmente sobre uma placa contendo um orifício de 4 cm de diâmetro como
mostra a figura II.16. Uma parcela do jacto atravessa o orifício e a restante é
deflectida para as saídas 3 e 4.

Desprezando o peso do jacto e da placa, admitindo que o escoamento é permanente e


que o jacto se divide em dois jactos iguais, calcule a força necessária para manter a
placa fixa.

Placa

D1 = 6 cm
D2 = 4 cm
25 m s-1 25 m s-1

1 2

y
x

Figura II.16

Definição do volume de controlo sobre o qual se aplicarão as leis de conservação.

VC
3
Placa

D1 = 6 cm
D2 = 4 cm
25 m s-1 25 m s-1

1 2

y
x

Aplicando a equação da conservação da massa, temos que:

76
Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

∂ rr

∂ t vc
ρ dv + ∫ ρ (V .n ) ds = 0
sc

como por hipótese o escoamento é permanente:

rr
∫ ρ (V .n) ds = 0 ⇔ ∑ ( ρiVi Ai )saída − ∑ ( ρiVi Ai )entrada = 0 ⇔ m& saída = m& entrada
sc i i

e o fluido é incompressível (ρ = constante )

m& saída = m& entrada => Qsaída = Qentrada

Aplicando, agora, a equação da conservação da quantidade de movimento linear,

d r r rr r
∫ V ρ dv + ∫ V ρ (V .n ) ds = ∑ F
dt vc sc

como o escoamento é permanente e o fluido incompressível, temos que:

r r rr
∑ F = ∫ V ρ (V .n ) ds ⇔
sc
r r r r r
( ) ( )
∑ F = ∑i ⎡⎣ ρVA V ⎤⎦ saída − ∑i ⎡⎣ ρVA V ⎤⎦ entrada ⇔
r r r
∑ F = ∑ ⎡⎣mV& ⎤⎦
i
saída
− ∑ ⎡⎣ mV
& ⎤⎦
entrada
i

sabe-se, ainda, que o escoamento é bidimensional, pelo que:

∑F x = m& 2V2 x − mV
& 1 1x

∑F y = m& 3V3 y + m& 4V4 y

77
Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

Aplicação numérica:

π
A1 = × 0.062 = 0.00283 m2
4
Q1 = V1 × A1 = 25 × 0.00283 = 0.07m3 .s −1
m& 1 = ρ × Q1 = 103 × 0.07 = 70 kg.s −1

π
A2 = × 0.042 = 0.00126 m2
4
Q2 = V1 × A1 = 25 × 0.00126 = 0.03m3 .s −1
m& 2 = ρ × Q1 = 103 × 0.03 = 30 kg.s −1

pela equação da conservação de massa obtém-se:

Q2 + Q3 + Q4 = Q1

sabendo que o jacto se divide em dois jactos iguais m& 3 = m& 4 , visto que a massa

volúmica é constante, Q3 = Q4 e também, V3 = V4 .

As forças necessárias para manter a placa fixa são obtidas através da equação da
conservação do momento linear,

V1x = V1 = 25 m.s −1
V2 x = V2 = 25 m.s −1
V3 y = −V4 y

Fx = 30 × 25 − 70 × 25 = −1000 N

Fy = m& 3V3 y + m& 4V4 y = 0

Logo a força necessária a aplicar à placa é de 1 kN e sentido da direita para a


esquerda.

78
Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

VI.5 – Momento provocado por um escoamento num apoio de tubagem

Como se mostra na figura II.17, a curva da tubagem é apoiada no ponto A e conectada


a um sistema de escoamento através de acoplamentos flexíveis nas secções 1 e 2. O
fluido é incompressível e a pressão ambiente é nula (relativa).

a) Encontre uma expressão para o momento T que deve ser suportado pelo apoio
P, em termos das propriedades do escoamento nas secções 1 e 2 e das
distâncias h1 e h2.
b) Calcule esse momento para D1=D2=75 mm, p1=690 kPa, p2=551.6kPa, V1=12
m/s, h1= 50 mm, h2=250 mm e ρ = 1000 kg/m3.

h1
h2

Figura II.17

Definição do volume de controlo sobre o qual se aplicarão as leis de conservação:

VC

P1,A1,V1

P2,A2,V2

Aplicando a equação da conservação da massa, temos que:

∂ rr

∂ t vc
ρ dv + ∫ ρ (V .n ) ds = 0
sc

79
Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

como por hipótese o escoamento é permanente:

rr
∫ ρ (V .n) ds = 0 ⇔ ∑ ( ρ V A )
sc i
i i i saída − ∑ ( ρiVi Ai )entrada = 0 ⇔ m& saída = m& entrada
i

e o fluido é incompressível (ρ = constante )

m& saída = m& entrada ⇔ Qsaída = Qentrada (1)

Aplicando a equação da conservação do momento angular, tem-se que

d r r r r rr r

dt vc
( ) ( ) ( )
r × V ρ dv + ∫ r × V ρ V .n ds = ∑ M
sc

em regime permanente, tem-se que:

r r rr r
∫ ( r × V ) ρ (V .n ) ds = ∑ M
sc (2)
⎛ r r ⎞ ⎛ r r ⎞ r
⎜ ∑ (r × V ) m& ⎟ − ⎜ ∑ (r × V ) m& ⎟ = ∑M
⎝ i ⎠ saída ⎝ i ⎠entrada

r
os termos de quantidade de movimento angular (rr × V ) , devem ser calculados
considerando rr desde o ponto A até às secções 1 e 2 conforme representado.

r P
r1
r
r2

80
Cap. II: Leis fundamentais simplificadas em Dinâmica dos fluidos A. I. Rouboa

r r r r r r
∑M = M P + r1 × (− p1 A1 n1 ) + r2 × (− p2 A2 n2 ) (3)

substituindo (3) em (2) e tendo em atenção a expressão (1), em que:

M P + p1 A1h1 − p2 A2 h2 = m& (h2V2 − hV 1 1)

M P = h2 ( p2 A2 + mV
& 2 ) − h1 ( p1 A1 + mV
& 1)
Verifica-se que o resultado é independente da forma da curva e varia apenas com as
propriedades nas secções 1 e 2.

b) De (1) sabe-se que m& saída = m& entrada = ρ AV = 53.04 kg / s , pelo que:

Mp=584.32 N.m

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