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Graduado em História pela PUC-RIO, mestre em História Moderna e Contemporânea pelo ISCTE-IUL
de Lisboa e doutorando em Ciência Política pelo IUPERJ. Email: rafabetenko@gmail.com
MARX 2014| Seminário Nacional de Teoria Marxista – Uberlândia, 12 a 15 de maio de 2014
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APRA( Aliança Popular Revolucionária Americana), seu discurso nacionalista e anti-imperialista tinha
como principal ícone Haya de La Torre. Mariátegui rompeu com o APRA em 1928 para fundar o partido
comunista peruano.
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Conceito trabalhado pelo historiador peruano Alberto Flores Galindo, ele afirma que todo discurso
indigenista, nacionalista que ascendeu no início do século XX tinha como raíz uma utopia andina. Tal
utopia permeava o caráter revolucionário indígena desde as revoltas contra a colonização espanhola.
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Para o pensador peruano, o socialismo seria o único caminho para dar vida ao
“peruanidade” da nação, o “comunismo inca” não seria símbolo de um passadismo mas
sim estaria vivo no presente, nas tradições coletivistas campesinas sobreviventes à
colonização. A criatividade de seu marxismo o faz romper com as premissas
revolucionárias dos soviéticos e com o anti-imperialismo nacionalista dos apristas4,
estabelecendo um novo paradigma teórico e prático para a revolução socialista no
continente. A universalidade do socialismo e a particularidade das tradições indígenas
se fundem na possibilidade da revolução latino americana. Para Mariátegui o marxismo
não expressa um conjunto fechado de diretrizes a serem seguidas, seu caráter
revolucionário e crítico estaria na sua capacidade criativa e na sua maleabilidade
histórica. Em seu texto “ Aniversário e balanço”, se torna latente a idéia dessa
conjunção entre socialismo e tradições campesinas:
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Os apristas eram discordavam do uso do marxismo como instrumento de transformação da realidade
peruana, acusavam a atuação de Mariátegui como sendo eurocentrista.
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MARIÁTEGUI, J. “Aniversário e balanço”. In LOWY, M. Por um socialismo indo-americano. 2005. P
24.
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Galindo Flores, seriam a raiz de todo futuro debate político daquela país no século XX.
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A Derrota para o Chile na Guerra do Pacífico no final do século XIX impulsionou a
crise de um Estado criolo oligárquico que fracassou em elaborar um projeto nacional
que unisse uma parte modernizada simbolizada na capital Lima e outra andina,
colonizada e oprimida, simbolizada na cidade de Cuzco. A cisão entre serra e costa
marca o desenvolivmento desse Estado oligárquico no pós independência. Neste
momento o país assistia a efervecência de revoltas populares tanto nas cidades quanto
no campo, trazendo o questionamento do gamonalismo7 para o principal foco deste
embate. A estrutura de poder oligárquica se concentrava nas relações de poder criada
pelos latinfúndios, a questão indígena era sobretudo uma questão de terra.
This opened new possibilities for Mariategui, who saw that the old could became the new.
Almost intuitively, he discovered a different meaning for tradition. If for oligarchic
intellectuals such as Garcia Calderon brothers, tradition was synonymous with the
colonial era, for Rumi Maqui the only past worth preserving in Peru was the pre-
Hispanic world that Lima either ignored or deemed forever lost. The Incas unexpectedly
became flesh and blood. Mariategui, (…), began to discover a hidden and neglected
aspect of Peru: an Andean world not destroyed by European invasion and that still
weighed heavily on the present.(GALINDO, 2010)
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Conflito ocorrido de 1879 a 1883 entre Chile de um lado contra as forças conjuntas de Bolívia e Peru. A
razão para a guerra seria um desentendimento entre Chile e Bolívia a respeito de um pedaço de terra rico
em recursos minerais no deserto de Atacama.
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Nome dado às relações feudais no campo, faz referência a um parasita que atua em plantas chamado
gamonal.
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Em 1926 Mariategui cria a revista Amauta , era por meio desta pubicação que
ele pretendia canalizar as expressões políticas e artísticas desse novo movimento
indigenista que surgia. O projeto ideológico de Mariategui é de carater estético e
político, abarca um sentido de vanguarda a um indigenismo revolucionário. Sua
reformulação do indigenismo que surgia se justifica na instrumentalização do
socialismo marxista. O Amauta nasce de sua convicção de que o índio representava a
nacionalidade, quebrando com as concepções vigentes de que o nacional se iniciava
com a experiência colonial. Para Biegel o indigenismo :
na sua ciência , está na sua fé, na sua paixão, na sua vontade. É uma força religiosa,
mística, espiritual.É a força do mito. A emoção revolucionária … é uma emoção
religiosa. Os motivos religiosos se deslocaram do céu para a terra. Não são divinos ; são
humanos, são sociáveis. (MARIÁTEGUI, 2005: 57)
Pois a principal característica desse modo de classificar grupos humanos é que – apesar
da alegação, daqueles que pertencem a uma nação, de que ela é, em alguns sentidos,
fundamental e básica para a existência social de seus membros e mesmo para a sua
identificação individual – nenhum critério satisfatório pode ser achado para decidir quais
das muitas coletividades humanas deveriam ser rotuladas desse modo. (HOBSBAWN,
2002:14)
Uns afirmando que a ideia de nação nas Americas foi desde o inicio utilizada como um
conceito político, moderno, surgido no século XVIII… Para estes a nação é pensada
como um fenomeno politico construído, como uma associação contratual e
voluntária…Outros defendem o caráter “natural” da nação, acreditando na existencia
prévia de atributos biológicos e culturais.(SÁ, 2012:15)
Sabemos que nas Américas, na passagem da ordem colonial para uma nova ordem
política independente, estavam se constituindo, ao mesmo tempo, Estados, corpos
políticos autonômos e diferentes idéias e projetos de nação. Em alguns momentos desse
processo , a ênfase dos autores estudados e de seus projetos políticos estará na tarefa da
construção e consolidação desses Estados. Suas ações políticas e textos estarão centrados,
por exemplo, em torno da discussão do melhor tipo de governo ou da mais apropriada
forma de organização política e adminsitrativa… Em outros momentos, a ênfase estará na
formulação de concepções de nação mais centradas no seu caráter cultural e étnico, na
existência prévia ou na criação de atributos culturais comuns e historicamente
determinados, como língua, religião, costumes, território histórico e outros…(SÁ, 2012:
20)
Con esta lectura selectiva de la historia, la tradición nacional peruana surgía como un
conjunto de elementos heterogéneos que era necesario aglutinar y el Perú aparecía como
un “concepto por crear”. El “NuevoPerú” surgiría así, de una alianza entre el “nuevo
espíritu” y las tradiciones revolucionarias, que saldrían a la luz como producto de la
revalorización de todo aquello que había sido aniquilado por la Conquista y que todavía
seguía corroyéndo se en la acción de las supervivências colonialistas de la sociedad
peruana. (BIEGEL, 2001: 46)
A disputa por uma nova peruanidade nos revela que o ato de se pensar a nação
em Mariategui caminha para além de qualquer categorização plenamente objectiva. O
autor Otto Bauer já afirmava sobre a importância da existência de uma consciência
nacional para se conceber uma nacionalidade, tal consciência é fruto subjetivo de
experiências sociais históricas e resultado também de expectativias e anseios de uma
classe ou de um movimento. A nacionalidade então é construída socialmente .Bennedict
Anderson diria que ela é imaginada de acordo com as relações culturais e com os
sentimentos e ressentimentos colectivos de uma determinada sociedade8. A limitação de
tal imaginação encontra a fronteira da rivalidade de projectos nacionais distintos. No
caso do socialismo indo-americano , o índio se torna peça chave dessa consciência
nacional, para Mariategui e alguns indigenistas só existiria nação se pensada a partir da
cultura indígena inca. A tensão criada com um modelo de nação oligárquico nos revela
que o consentimento de classes não está em questão, a revolução precisa superar o
modelo da oligarquia criolla de sociedade. Mariategui dá ao ato revolucionário um
carater espiritual, religioso, a cultura indígena se expressaria com a alma de uma nova
nação, dessa forma o projeto do pensador peruano diáloga com a idéia de nação de
alguns estudiosos contemporâneos, principalmente na definição de Ernest Renan:
A nação é uma alma, um príncipio espiritual. Constituem essa alma, esse principio
espiritual duas coisas que para dizer a verdade, são uma só. Uma delas é a posse em
comum de um rico legado de lembranças, a outra, o consentimento actual, o desejo de
viver junto, a vontade de continuar a fazer valer a herança que recebemos
indivisa.(RENAN, 1997: 39)
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ANDERSON, B. “Comunidades Imaginadas.” Companhia das Letras, 2008.
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BAUER,O. A Nação . in “Um Mapa da Questão Nacional”. Contraponto, 2008. P. 55.
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Cuando se supone a la juventud seducida por mirajes extranjeros y por doctrinas exóticas,
se parte, seguramente, de una interpretación superficial de las relaciones entre el
nacionalismo y socialismo. El socialismo no es, en ningún país del mundo, un
movimiento anti-nacional (MARIÁTEGUI, 1988)
Bibliografia:
ARICÓ, José Comp. Mariátegui y los orígenes del marxismo latinoamericano. In:
Cuadernos de Pasado y Presente, n. 60, México: Siglo XXI, 1980.
BIEGEL, Fernanda. Mariátegui y las antinomias del indigenismo. In: Utopía y Praxis
Latino Americana. N. 13, 2001.
HOBSBAWN, Eric J. Nações e Nacionalismo desde 1780. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2004.
LEIBNER, Gerardo. El mito del socialismo indígena de Mariátegui. Lima: PUC Fondo
Editorial, 1999.
_________. Ideologia y politica, Obras Completas, Vol. 13, 18 edicion, Lima: Empresa
Editora Amauta, 1987.
__________. Peruanicemos al Perú. Obras Completas, vol. 11, Lima: Empresa Editora
Amauta, 1988.
RENAN, Ernest. O que e uma nação? In: ROUANET, Maria Helena (org)
Nacionalidade em questão. Rio de Janeiro: UERJ, 1997.( série Cadernos da Pós/Letras)
RÉNIQUE, José Luis. A revolução Peruana. São Paulo, Editora UNESP, 2009. (Série
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SÁ, Maria Elisa N. de. Civilização e Barbárie: A construção da ideia de nação: Brasil
e Argentina. Rio de Janeiro: Garamond, 2012.
SMITH, Anthony. The nation in History: historiographical debates about ethnicity and
nationalism. Hanover: University Press of New England, 2000.