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A fachada verde da exploração madeireira


Os mitos da certificação madeireira e da ‘vocação florestal’ na Amazônia
Nicole Freris and Klemens Laschefski1 

A certificação de madeira e o manejo florestal estão sendo promovidos pela indústria madeireira, pelos
governos e pelas organizações ambientalistas como um dos principais meios para proteger as florestas
tropicais. Segundo Klemens Laschefski e Nicole Freris, essa estratégia é sustentada por mitos.

”Você não precisa ser uma estrela de cinema para nicas para problemas específicos, em colaboração
ser um herói de ação. Ajude a preservar as florestas com governantes e o setor industrial. Esta nova ten-
do mundo. Procure e compre os produtos com o selo dência tem sido celebrada por todos como um
do FSC,” declara Pierce Brosman, ator que inter- ambientalismo de resultados3 . Aos poucos, a busca
preta James Bond, o agente 007. Esta propaganda pela conciliação entre os diversos pontos de vista no
do Forest Stewardship Council - FSC (Conselho âmbito da economia neoliberal tornou-se o desafio
de Manejo Florestal), amplamente veiculada na Eu- principal.
ropa, afirma ainda que ”O FSC conta com o apoio
Desta maneira, a certificação florestal, como um ins-
ativo do WWF, Amigos da Terra, Greenpeace e o
trumento voluntário de mercado, é cada vez mais
Woodland Trust”.
considerada uma ferramenta poderosa no contexto
Alguns leitores podem estar confusos. Durante anos, da globalização econômica. Ela serve para estimular
as organizações ambientalistas fizeram campanhas os produtores florestais a adotarem práticas de ma-
contra a indústria de madeira tropical, considerada nejo ”socialmente apropriadas, ambientalmente sau-
responsável pela devastação dos remanescentes de dáveis e economicamente viáveis”.
florestas nativas do planeta. Os produtos de madeira
Assim, a idéia da certificação florestal vem ganhan-
tropical eram considerados um luxo desnecessário
do relevância em estratégias políticas para
e, ao final dos anos 80, as ONGs lançaram uma cam-
implementar o chamado ”desenvolvimento susten-
panha de boicote na Europa e nos Estados Unidos.
tável” entre as várias instituições nacionais e inter-
A partir daí, a consciência dos consumidores come-
nacionais, como o Banco Mundial, por exemplo.
çou a falar mais alto, o que chegou a ocasionar per-
Consequentemente, o ”manejo florestal” e a certi-
das significativas para os importadores e vendedores
ficação têm tido um papel crescente no planejamento
de madeira tropical.2 
regional, ou seja, no zoneamento econômico-ecoló-
Mais recentemente, contudo, observa-se uma vira- gico da Amazônia, particularmente na criação de
da profunda nesta tendência: o consumo, e não mais FLONAS - Florestas Nacionais. As conseqüências
o boicote, transformou-se numa ferramenta central dessa política serão discutidos a seguir.
para o combate aos problemas ambien-
tais. Aqueles que desejam contribuir
para a preservação das florestas tropi-
cais são incentivados a comprar madei-
ra tropical, porém, com a restrição de
que o produto carregue o carimbo do
FSC. Este novo foco das campanhas
ambientais pode ser considerado como
um sintoma de uma mudança signi-
ficativa na metodologia, senão na ide-
ologia, do movimento ambientalista - do
‘radicalismo’ ao ‘pragmatismo’. O su-
cesso das campanhas anteriores resul-
tou no convite para que ambientalistas
participassem em mesas redondas com
representantes dos grandes interesses
econômicos e políticos. Gradativamen-
te, uma crítica ao alicerce ideológico
da atual crise sócio-ambiental foi sen- A derruba „ecológicamente correta“ de árvores na Amazônia
do trocada pela busca de soluções téc- Foto: Laschefski, 2000.
2

O Forest Stewardship Council Entretanto, essa aparente história de sucesso não


As tentativas de conciliação dos interesses sociais, aconteceu sem seus percalços, especialmente com
ambientais e econômicos no setor madeireiro resul- respeito à exploração de madeira nas florestas pri-
taram na criação do FSC, em 1993. A tarefa do FSC márias dos países tropicais. Recentemente, a
é definir uma série de princípios e critérios globais Rainforest Foundation lançou um relatório com
para florestas ‘bem manejadas’. Baseados nesses estudos de casos sobre problemas com empresas
padrões, certificadores ”independentes” executam certificadas em países como a Indonésia, a Tailândia,
a certificação da exploração florestal. a Malásia, o Canada, a Irlanda e o Brasil.4 
Para garantir o sucesso econômico da nova inicia- Este artigo baseia-se em uma das contribuições des-
tiva, o WWF (Fundo Mundial para a Natureza) esta- ta publicação5 . Tendo em vista o foco em florestas
beleceu Grupos de Compradores (Buyer‘s Groups) nativas, cabe lembrar que o WRM - World
em vários países. Eles foram organizados numa rede Rainforest Movement - publicou um relatório criti-
global de comércio de madeira certificada chamada co sobre duas empresas de plantações de eucalipto
”Global Forest and Trade Network”. Hoje, alguns em Minas Gerais, que possuem cerca de 20% do
dos maiores compradores e distribuidores de madei- total de áreas certificadas no Brasil. Nele, destacam-
ra, que anteriormente eram alvos de campanhas de se impactos ecológicos promovidos pela expansão
boicote, são membros deste grupo. A criação deste de monoculturas no Cerrado, o uso de agrotóxicos e
grupo é um fator importante na recente expansão de conflitos com a população local, dentre outros6 . Em
florestas certificadas pelo FSC. geral, todos os relatórios apontam negligências na

Área de manejo florestal da PWA


Fonte: Laschefski, 2002, original do imagem de satélite: INPE 1999, Landsat-TM 5 WRS:
230/062+00 99-11-27 UTM
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certificação e falta de transparência, resul-


tando numa aplicação frouxa dos princípios
e critérios do FSC, estes últimos consi-
derados os mais rigorosos do mundo. Além
disso, a maioria dos casos investigados re-
vela falhas naquilo que é tido como o mai-
or diferencial do FSC: a participação de
todos os interessados nas florestas, ou seja,
o chamado ”Stakeholder Process”. A
principal causa dos problemas é a estraté-
gia de crescimento rápido do FSC, resul-
tado da pressão do mercado e da compe-
tição entre vários outros esquemas de
certificação.
Práticas silviculturais: anelamento da casca de árvores
Apesar disso, a certificação continua a ser
Fotos: Laschefski, 2000.
promovida com entusiasmo por entidades
ambientalistas de peso, ocupando até mesmo o co- Mito 1: A exploração madeireira, dentro dos
ração da campanha do Greenpeace na Amazônia. critérios de certificação, tem um impacto
Enquanto o grupo denuncia a exploração ilegal na mínimo nos ecossistemas da floresta.
região, tem procurado também alternativas aceitá-
veis para a indústria madeireira. Esta foi encontrada O sistema de exploração utilizado pela PWA exige
através da Precious Woods Amazon (PWA), em- um inventário de 100% das árvores e uma infra-es-
presa que recebeu a certificação do FSC em 1997. trutura de transporte cuidadosamente planejada, ba-
seada em imagens de satélite. Dentro de uma área
Procedente da Suíça, a PWA foi fundada em 1994
de manejo de 50.000 hectares, 2.700 ha (5,4 %) são
com a finalidade de demonstrar que a exploração
desmatados para as estradas, trilhas de arraste e
madeireira das florestas tropicais pode ser tanto sus-
áreas de estocagem. A floresta ‘manejada’ é frag-
tentável como economicamente viável. O projeto é
mentada por aproximadamente 400 km de estradas
reconhecido como um dos melhores exemplos de
permanentes e mais 5.000 km de estradas secundá-
manejo das florestas tropicais. Seguindo esse exem-
rias, mantidas em condições melhores do que a mai-
plo, a GETHAL, a maior madeireira estrangeira no
oria das estradas públicas8 . Essas estradas permi-
estado do Amazonas, foi certificada em 2000. Após
tem a entrada de caçadores ilegais, que já são difí-
o sucesso com a GETHAL, o Greenpeace entrou
ceis de controlar pela empresa. Se, por algum moti-
em negociação com a WTK 7 , uma empresa da
vo, a PWA decidisse abandonar suas atividades na
Malásia que igualmente possui uma história assusta-
área, as estradas ficariam abertas como um convite
dora de abusos ambientais e sociais. Essa ‘conver-
para colonos, fazendeiros e outras madeireiras execu-
são’ de madeireiras predatórias vem sendo celebra-
tarem uma segunda fase de exploração predatória.
da com fervor quase evangélico pelos seguidores do
FSC. Contudo, com o investimento maciço na explo- Além das áreas desmatadas para a infra-estrutura,
ração madeireira sob certificação e sua conseqüen- o próprio manejo florestal, ou seja, o corte seletivo
te expansão para as áreas de florestas nativas, é de árvores e as práticas da ”silvicultura”, resultam
chegado o momento de refletir: se a certificação de na abertura de aproximadamente 20% do dossel.9 
florestas ameaçadas é a resposta, talvez tenhamos A silvicultura abrange medidas para estimular e con-
esquecido a pergunta inicial. trolar o crescimento das espécies de valor comerci-
al. Isso significa que as árvores sem valor perto de
Que tipo de desenvolvimento para a Amazônia está
espécies comerciais, atrapalhando o crescimento
sendo promovido pela certificação? Quem são os
dessas últimas, são aneladas (um anel de casca é
beneficiários desse modelo de desenvolvimento? Qual
tirado de seu tronco) para que morram em pé. As
é o verdadeiro impacto desse tipo de manejo nas flo-
folhas e ramos caindo das árvores mortas aumen-
restas nativas? Será que a compra de madeira tropi-
tam a disponibilidade de nutrientes no solo e da luz
cal certificada realmente contribui para salvar o que
entrando pelo dossel, beneficiando, assim, as árvo-
resta das florestas tropicais do planeta? Tendo como
res de interesse pela empresa.
referência as experiências da Precious Woods
Amazon e da GETHAL, tais indagações serão ana- Contudo, a acumulação de matéria orgânica morta e
lisadas através dos mitos freqüentemente surgidos seca pela entrada de mais luz na mata aumenta
na defesa da certificação das florestas tropicais. significativamente o perigo de incêndios. Além dis-
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so, este tipo de manejo alterará profun-


damente a composição das espécies e,
no longo prazo, transformará um ecos-
sistema antigo numa floresta artificial de
espécies comerciais com uma idade de-
terminada pelos ciclos de exploração de
25 a 30 anos. As árvores aneladas não
entram no plano de manejo e não são in-
cluídas nos cálculos, ou seja, metros cú-
bicos de madeira explorados por hecta-
re, e supervisados pelo IBAMA
Os ambientalistas que participam do FSC
mantém a pressão para tornar os critéri-
os cada vez mais rigorosos, principal-
mente através da redução do volume de Estradada de ecploração madeireira no Projeto Democracia da GETHAL
madeira extraída por hectare. Entretan-
Foto: Scharpf, 2003.
to, para as empresas certificadas fica-
rem economicamente viáveis, cotas de produção pre- e desenvolvimento das florestas nativas. Por mais
cisam ser mantidas. Por isso, quando não podem de uma década, esta instituição manteve uma postu-
extrair o volume máximo da madeira, as madeireiras ra clara de não incentivar, direta ou indiretamente, a
aumentam as áreas de exploração para obter a quan- exploração madeireira nas florestas nativas. Contu-
tidade de matéria prima que a indústria demanda. do, com a consultoria do WWF essa política foi
Assim, uma certificação mais rígida, mesmo trazen- recentemente revertida. O Banco retomou suas
do alguns benefícios ecológicos, resulta no avanço ações em apoio à exploração florestal com base no
de uma nova fronteira de exploração madeireira, esquema de certificação. Assim, transforma a in-
abrindo áreas de floresta cada vez mais remotas atra- dústria madeireira, antes considerada uma grande
vés da infra-estrutura instalada. inimiga das florestas nativas, em sua salvadora.
Surpreendentemente, o Banco Mundial não justifi-
Mito 2: Com a crescente demanda global por cou tal decisão com base numa análise cuidadosa
madeira, a ”vocação florestal” da Amazô- das causas da destruição das florestas, mas sim como
nia é algo inevitável. uma meta política anunciada em conjunto com o
WWF, qual seja: atingir o alvo de 200 milhões de
A exploração industrial madeireira tem sido definida
hectares de florestas certificadas até o ano de 200510 .
como inevitável pelos beneficiários políticos, econô-
Como reconhecem porém, tal meta não pode ser
micos, técnicos e acadêmicos do setor madeireiro.
alcançada somente através das forças de mercado
A engenharia florestal é considerada uma ciência
e, então, o Banco se propõe a financiar as empresas
que justifica a interferência nos ecossistemas flores-
madeireiras. A instituição ainda utiliza a pobreza so-
tais, representando agora a base da política florestal
frida pelos povos da floresta como argumento para
de institutos de pesquisa, ONGs ambientais e agên-
justificar essa nova política, quando na realidade são
cias de financiamento internacionais. Contudo,
exatamente essas populações que sofrem os impac-
engenheiros florestais são treinados principalmente
tos negativos da concentração de terra, poder e
para a produção madeireira, o que significa, na prá-
degradação ambiental causadas pelas empresas
tica, a derruba de árvores. Assim, acabam sendo a
madeireiras, certificadas ou não.
justificativa técnica e científica para as atividades da
indústria madeireira. A ótica da ”vocação florestal” O Banco Mundial destaca que o desmatamento não
reduz os ecossistemas florestais complexos, dinâmi- diminuiu durante o período em que não financiou
cos, diversos, interdependentes e multifuncionais a madeireiras. No entanto, uma questão permanece:
uma única mercadoria: a madeira. Essa distorção tem como o novo engajamento ”pro-ativo” do Banco, na
seu forte reflexo na linguagem: falar hoje de ‘Ma- forma de financiamento da exploração florestal, po-
nejo Florestal’ é dizer da exploração de madeira e derá contribuir para a diminuição do desmatamento?
não do manejo praticado por um povo indígena, ri- A leitura das novas diretrizes revela que o argumen-
beirinho, permaculturista ou seringalista. to da instituição insere-se no contexto das ilusões
discutidas e detalhadas no Mito 3.
Um preocupante exemplo desse reducionismo é a
nova política do Banco Mundial para a preservação
5

Além disso, a nova política do Banco Mundial pro- povos amazônicos, tais como seringueiros, castan-
põe a demarcação de ”zonas de uso sustentável” heiros, ribeirinhos, comunidades indígenas, quebra-
onde somente as empresas candidatas a certificação deiras de coco, pescadores artesanais e pequenos
recebem concessões11 . Neste sentido o IMAZON agricultores. Tendo em vista a visão de Chico Men-
apresentou, já em 2000, uma proposta concreta para des, o GTA aborda o desafio da preservação ambien-
a criação das chamadas ‘Florestas Nacionais’ ou tal através da justiça social. Era membro do FSC-
”FLONAS’. Esta ”forte intervenção do Estado” Brasil, mas se retirou formalmente, porque não con-
demonstra outra vez a fraqueza da idéia de que a corda como o foco do FSC na exploração madeirei-
valorização da floresta através da comercialização ra em escala industrial.
de madeira é ferramenta contra o desmatamento.
Um exemplo para uma outra estratégia de desenvol-
As FLONAS deverão incorporar de 700.000 à 1,15
vimento econômico mais adequada às necessidades
milhões de km2, ou seja, de 14% a 23% da floresta
dos povos da floresta é o programa de apoio do gover-
amazônica brasileira. Somente serão permitidas nes-
no do Acre para os seringueiros. Em 2002 já foram
sas áreas as atividades em concordância com prin-
vendidas 2 mil toneladas de borracha beneficiando 6
cípios ”internacionalmente reconhecidos”, como os
mil familias14. Para assegurar uma demanda con-
do FSC12. Dentro deste quadro, não surpreende que
tínua, está prevista ainda para este ano a construção
os parâmetros para a demarcação das FLONAS
de uma usina para produzir camisinhas com borra-
correspondam às necessidades do “manejo flores-
cha natural, fechando assim um circulo saudável entre
tal” industrial descritas no Mito 1, enquanto os siste-
produção, proteção e mercado.
mas da produção dos ribeirinhos e dos povos indíge-
nas são negligenciados. Embora a população local utilize madeira na con-
strução das casas, canoas, etc., a exploração madei-
Em contraste ao conceito ideológico atual da ”voca-
reira geralmente não representa uma opção econômi-
ção florestal”, os sistemas de uso da terra pelos po-
ca para as comunidades. Contudo, estão surgindo
vos indígenas, ribeirinhos e povos tradicionais em
iniciativas para estimular a exploração de madeira
geral, valorizam uma floresta intacta, que precisa ser
comunitária, tornando-a uma fonte de renda principal.
preservada para continuar a render uma diversidade
A ITTO (sigla en inglês da Organização Mundial para
enorme de produtos e serviços. Representam uma
o Comércio de Madeira Tropical) por exemplo, in-
eficiência e uma sustentabilidade que a indústria
vestiu mais de US$3.000.000,00 num projeto para
madeireira nunca conseguirá alcançar. O ‘desenvol-
estimular o ‘uso sustentável’ na floresta estadual do
vimento sustentável’ não requer a transformação de
Antimari, beneficiando 88 famílias, metade da popu-
povos tradicionais em trabalhadores florestais, mas
lação total da área. A base da economia das familias
requer que pessoas com a intenção de criar econo-
era a seringa e castanha, produtos sendo explorados
mias sustentáveis para a região, aprendam a partir
sem impactos à floresta natural em pé. Estima-se
do vasto conhecimento dos povos da floresta e co-
que ainda há um potencial de produção anual de 200
mecem a entender suas necessidades. Existe uma
toneladas de borracha natural e 44 toneladas de Cas-
diversidade enorme de produtos não madeireiros que
tanha do Pará na área15. Embora o projeto Antimari
podem formar parte de economias justas e sustentá-
pretende de promovar o uso múltiplo da floresta, o
veis, incluindo castanhas, óleos essenciais, guaraná,
alvo principal visa a exploração madeireira, pois a
plantas medicinais, babaçu, mel, artesanato, frutas e
ITTO é dominada pelos interesses do comércio in-
legumes com mercados já estabelecidos. A diversi-
ternacional de madeira. As comunidades são somente
dade dessas alternativas cria menos dependência de
interessantes enquanto fornecedoras de madeira após
monopólios econômicos e as vicissitudes dos merca-
a aprendizagem do ‘manejo florestal’. Neste con-
dos globais. Essas economias locais são de uma es-
texto, a próxima etapa é a certificação de 66.168
cala que facilmente supera o retorno econômico da
hectares pelo FSC16.
indústria madeireira13. Se os investimentos dedica-
dos ao ‘manejo sustendado’ de madeira fossem Desta forma, ao apoiar projetos comunitários certi-
direcionados, por exemplo, à apicultura, o mel logo ficados, introduzindo a cultura da exploração madei-
viraria a ‘vocação’ da região. Na verdade, não exis- reira, a ITTO encontrou um caminho para abastecer
tem inevitabilidades para uma certa atividade na os mercados com madeira tropical, sem ser criticada
Amazônia. pelos ambientalistas.
Neste sentido, o Grupo de Trabalho Amazônico – A ITTO justifica a exploração madeireira como
GTA, uma rede de 513 organizações não-governa- desestímulo ao desmatamento, se baseiando em pres-
mentais (ONGs) e movimentos sociais, propõe uma supostos discutidos a seguir, no Mito 3. Contudo, se
economia da floresta baseada em experiências dos o problema é a agricultura não apropriada ao
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ecossistema amazonico, basicamente o corte e a dedores florestais, já que aqueles são os primeiros
queima, seria mais eficiente abordar esta questão beneficiados pelos grandes programas para a expan-
diretamente, através de reflorestamento e a introdu- são da infra-estrutura na Amazônia. O mercado de
ção de técnicas de agricultura verdadeiramente sus- madeira sempre será um negócio secundário na di-
tentável, como a permacultura ou sistemas agroflo- nâmica de transformação das florestas, gerando um
restais. Se a questão é a falta de alternativas econô- lucro adicional através das árvores derrubadas e
micas, seria mais óbvio investir esses recursos para vendidas.
apoiar atividades econômicas que já estão no domí-
Entretanto, para entender melhor os processos de
nio da comunidade e são menos impactantes do que
desmatamento, há que se analisar separadamente a
a exploração madeireira.
agricultura no nível industrial, como a dos produtores
de soja e outros grãos, e a economia ‘boom bust’
Mito 3: A certificação pelo FSC incrementa dos colonos atraídos por novos acessos às florestas,
o valor econômico das florestas ”bem tais como estradas e hidrovias. Os primeiros se con-
manejadas”, desestimulando o desmata- centram no ”arco do desmatamento”, que é loca-
mento, como no caso do corte raso para a lizado na zona da transição entre o Cerrado e as flo-
agricultura e a pecuáia. restas abertas nas bordas, ao leste e ao sul da Bacia
O manejo florestal é considerado como alternativa Amazônica. Segundo o IMAZON, as condições cli-
ao desmatamento para fins agropecuários em áreas máticas na Amazônia central para a agricultura me-
de Terra Firme, como por exemplo, em Paragominas. canizada, como no caso do cultivo da soja, são des-
Tendo em vista esta idéia, o instituto IMAZON mos- favoráveis por causa da alta umidade durante o ano
trou que a exploração madeireira planejada tem uma todo e a falta de um período de seca para a safra19 .
taxa interna de retorno de 33% por área manejada, Por isso, a ameaça principal nesta região apresenta-
em comparação com a criação de gado que apre- se como o segundo grupo, o dos colonos, cuja eco-
senta uma taxa de apenas 8-14%17 . Contudo, a ver- nomia ‘boom-bust’ é baseada, de forma caótica, na
dadeira dinâmica que determina a utilização da terra exploração de madeira e na pecuária.
faz com que o desmatamento para a agropecuária e A tendência é de que as madeireiras certificadas
o ‘manejo’ florestal funcionem como opções indepen- tentem se estabelecer em áreas geograficamente
dentes e raramente ‘concorrentes’ enquanto alterna- distantes de ambas situações. São necessários enor-
tivas. mes investimentos para a implementação de um sis-
Os fazendeiros, os proprietários e os latifundiários tema de manejo florestal como o da PWA, par-
simplesmente não sentem a necessidade de incluir a ticularmente para o planejamento computadorizado,
‘percentagem de retorno’ em relação à ‘produtivi- as máquinas e a infra-estrutura. Para garantir um
dade da terra’ nos seus cálculos. A expansão da fron- retorno rápido do capital investido, empresas visan-
teira agrícola é impulsionada pelo acesso à terra ba- do a certificação procuram áreas com árvores de
rata. Além disso, os incentivos oferecidos pelo go- alto valor comercial em florestas intactas. Na fron-
verno através do regulamento de
impostos18  cria lucro no curto pra-
zo quando transforma floresta em
pastagem, em vez de investir em
outras formas de utilização. O po-
der político, que considera floresta
como terra ‘não produtiva’, garan-
te que os incentivos para a indús-
tria agropecuária continuem a pre-
valecer. Tal predisposição é refor-
çada ainda mais pela concentração
extrema de poder e riqueza. Para
a elite, que detém o capital, não
existe escassez de terra. Assim, a
produtividade é um fator pouco
relevante. Neste contexto, o FSC
não apresenta incentivos para
transformar os criadores de gado Treinamento de engenheiros florestais
e os barões de soja em empreen- Foto: Laschefski, 2000.
7

teira do desmatamento e em áreas onde o processo gigantesco na beira do Rio Amazonas. Embora os
da colonização já começou, este tipo de manejo flo- estudos ambientais para a BR 163 não estejam con-
restal seria ameaçado por exploração ilegal e incên- cluídos, a especulação com as terras já começou,
dios acidentais20 . Além disso, nestas zonas há espe- com resultados trágicos. Em julho de 2002 o sin-
culação de terra descontrolada, resultando em pre- dicalista e produtor Bartolomeu Morais da Silva foi
ços altos. Tais fatores tornam pouco viável a aquisi- brutalmente torturado e assassinado. Ele morreu por
ção de florestas nestas áreas de risco. defender os diretos dos pequenos produtores que
moram ao longo da então estrada de terra, contra os
Longe das frentes de desmatamento, o manejo cer-
interesses dos grandes fazendeiros e madeireiros,
tificado está alterando profundamente a forma de
recentemente atraidos com notícias do asfaltamento.
ocupação e uso da floresta nativa, estabelecendo um
Além das questões sociais, estima-se que essa obra
novo estímulo para enfraquecer a proteção das flo-
resulte na devastação de 8 milhões de hectares de
restas mais remotas e marginalizar as populações
floresta.
regionais. No caso da madeireira GETHAL, pode-
se verificar que, na verdade, sua matéria-prima não Surpreendentemente, ao invés de questionar a lógi-
vinha de áreas desmatadas para fins da agropecuária ca de projetos como a BR 163, os promotores do
na Terra Firme. Antes da certificação, a GETHAL FSC percebem nela uma oportunidade de promover
era abastecida por terceiros, sobretudo ribeirinhos. o ”manejo florestal sustentado”. Essa atividade de-
No sistema ribeirinho, as árvores eram derrubadas veria ser conduzida nas FLONAS (ver Mito 2),
com práticas de baixo impacto nas várzeas. Como o demarcadas na beira da estrada. A idéia é fundamen-
arraste e o transporte das toras era feito na água, tada na esperança de que o manejo sustentado fun-
não era necessário construir uma rede de estradas cione como uma ‘barreira’ eficaz contra a ocupação
florestais. Embora, após anos de exploração, algu- desordenada da Amazônia, ao lado dos ”eixos de
mas espécies comercializadas estejam ameaçadas desenvolvimento”, assim garantindo a proteção da
de extinção, este sistema não tem nada a ver com o floresta.
desmatamento para outros usos da terra21 . Agora a
Estes planos para a ‘adequação’ da natureza aos
GETHAL esta adquirindo cada vez mais floresta na
planos de ‘desenvolvimento’ não levam em con-
Terra Firme para implementar sua própria produção
sideração dois processos. Primeiro, é simplesmente
de madeira, tornando-se, assim, um dos maiores lati-
esquecida a destruição dos ecossistemas nas zonas
fundiários do estado.
marginais da bacia Amazônica, no ‘arco do desma-
Ironicamente, a infra-estrutura de transporte perma- tamento’, sendo ocupadas pela agroindústria de gran-
nente implantada pela empresa para extrair as árvo- de escala. Segundo, não apresenta solução para os
res faz com que a floresta fique aberta e vulnerável colonos que aproveitam naturalmente estradas as-
à entrada de colonos, ainda mais se a estrada de faltadas interligando os centros urbanos, na busca
Manicoré a Manaus, que corta a área de manejo da de uma vida melhor. Esses serão marginalizados por
GETHAL, for asfaltada. Isto seria conveniente para um sistema industrial de exploração florestal meca-
a empresa transportar as toras até Manaus, mas nizada, que oferece pouco emprego e necessita ca-
configura-se como um desastre para a floresta. Vale pital para os investimentos necessários ao plane-
ressaltar também que as próprias madeireiras como jamento e à tecnologia. Assim, a maioria dos colo-
‘pólos de desenvolvimento industrial’ estimulam a nos continuará com práticas predatórias por falta de
migração de colonos. Assim, as atividades das madei- opção, mesmo nas FLONAS. Além disso, como já
reiras transformam-se no seu próprio risco econômico foi dito, as próprias estradas florestais na área de
caso suas terras ou suas concessões não estejam manejo facilitam a entrada não controlada dos
protegidas. migrantes. Cabe lembrar que o lado fraco das políti-
cas públicas no Brasil sempre foi o controle e a fis-
Neste contexto, são preocupantes as propostas para
calização, tanto dos colonos quanto das próprias
o ‘desenvolvimento regional’ no âmbito do progra-
madeireiras. Todas essas alterações aumentam sig-
ma ”Avança Brasil”, que visa a construção de infra-
nificativamente o risco de fogo nas florestas frag-
estrutura nos chamados ”eixos de desenvolvimen-
mentadas e enfraquecidas.
to” da Amazônia. Um dos projetos deste plano é o
asfaltamento de 784 quilômetros da BR 163, que liga Fearnside e Lawrence (2002) opinam sobre esse tipo
Cuiabá (MT) à Santarém (PA). A estrada corta um de ambientalismo: ”Iniciativas que se oponham a
dos maiores centros da produção de soja no ‘arco de destruição da floresta sempre são bem-vindas, como
desmatamento’ e o coração da floresta amazônica. planos para a criação e proteção das reservas. En-
Em Santarém, a multinacional Cargill, atuando em tretanto a maioria dos índices aponta em outro senti-
vários setores do agribusiness, já concluiu um porto do; o de que a construção de novas vias de acesso
8

servirá como impulso para processos destrutivos, reira, chegou na década de 90, durante uma fase em
muitos deles fora do controle do governo.” O preço que a indústria madeireira estava em baixa. Desta
de mais 8 milhões de floresta é grande demais para forma, não foi difícil encontrar trabalhadores desem-
comprovar mais um pressuposto errado na defesa pregados já morando na cidade. A criação de 300
da certificação. Vale lembrar que nenhum desses empregos pela empresa certamente foi bem-vinda,
projetos é inevitável. Assim, o casamento entre o mas não mudou significativamente a crise de des-
fatalismo e o pragmatismo está se tornando uma das emprego. Contudo, sua presença ajudou a manter a
principais ameaças para a Amazônia. dependência da economia local em relação ao capi-
tal estrangeiro e mercados globais instáveis. Essa
Dessa forma, o discurso sobre a agropecuária e o
economia precária também se manifesta na própria
manejo florestal como alternativas econômicas opos-
empresa, cuja área de manejo em Itacoatiara não
tas revela-se ilusório. Na verdade, o conceito de
garante o retorno requerido para demonstrar viabili-
zonas de desenvolvimento sustentável ou das
dade econômica. Procurando uma área maior de
FLONAS, em combinação com a ideologia da ”vo-
floresta nativa intacta, com uma concentração mai-
cação florestal” e a certificação, representa uma
or de espécies de árvores de alto valor, a Precious
”fachada verde” para o avanço da fronteira de ex-
Woods adquiriu uma área de 179.000 hectares de
ploração industrial madeireira nas últimas florestas
floresta no estado vizinho do Pará. Caso a empresa
pristinas do planeta.
transferisse as suas atividades para o Pará, ela dei-
Mito 4: A exploração madeireira por em- xaria a economia de Itacoatiara num estado tão pre-
presas certificadas estimula a economia re- cário quanto da época de sua instalação no municí-
gional, oferece oportunidades de emprego pio.
e representa uma alternativa ao desma- Sem dúvida, em comparação a outras empresas ma-
tamento pelo uso tradicional da terra. deireiras, a PWA oferece melhores condições de em-
A indústria madeireira exacerba uma economia prego, salário, segurança e encoraja a organização
imprevisível e não sustentável. Nas épocas de ex- dos trabalhadores em sindicatos, criando pressão para
pansão intensificam a migração urbana, atraindo pes- que as outras madeireiras sigam esse exemplo. Con-
soas do meio rural para as cidades na procura de tudo, o salário de um trabalhador da empresa ainda
emprego nas serrarias. Crises econômicas e de pro- era somente 20 reais acima do salário mínimo de
dução são comuns, em conseqüência das mudanças 151 Real em índices de 200022, insuficiente para sus-
nas demandas, multas, controle pelas agências go- tentar uma família. Considerando seu poder de com-
vernamentais, boicotes e problemas de fornecimen- pra quando o salário mínimo foi introduzido há 60
to de madeira por causa de escassez e dificuldades anos atrás, este deveria ser em torno de R$ 48923 .
de transporte. Além de estimular o crescimento da O impacto ambiental indireto da PWA pode ser ava-
população urbana, as crises aumentam o desempre- liado comparando seu papel como empregador em
go. O fato de que a infra-estrutura de produção, os relação ao uso da terra pela população local. Segun-
recursos políticos, acadêmicos e a mão de obra se- do a tabela abaixo, a exploração madeireira oferece
jam desenvolvidos de forma a estritamente servir a pouco emprego na área em comparação com outros
indústria madeireira, dificulta a diversificação da pro- usos da terra.
dução na criação de economias mais robustas e sus-
Os números para a exploração intensiva na tabela
tentáveis.
referem-se às madeireiras pouco mecanizadas. Nos
A PWA está estabelecida em Itacoatiara, o pólo ma- casos da GETHAL e da PWA, que usam tecnologia
deireiro principal do estado do Amazonas, a 200 km moderna, os números chegam a 541 e 641 hectares/
de Manaus. A empresa, então chamada Mil Madei- emprego diretamente envolvidos no setor da explo-

Emprego em relação a área (hectares/pessoa empregada) de atividades econômicas


extensivas e intensivas (estudo de caso de Paragominas, Pará)
E X P LO RAÇÃO M ADE I RE I RA* PE CU ÁRI A AG RI C ULTURA FAM I LI AR

E x te ns i v o I nte ns i v o E x te ns i vo I nte ns i v o E x te ns i v o I nte ns i v o


Ci c l o de c or te Ci c l o de c or te P a s to não P a s to C or te e Cul tur a s
de 9 0 a nos 3 0 a nos r e for m a do r e for m a do que i m a pe r e ne s
ha / e m pr . 540 154 29 29 16 1,4
* Exploração madeireira analisada sem investimento em terras e sem processamento da madeira em serrarias.
Fonte: ALMEIDA O. E C. UHL (1995), cit. IPAM/ISA 2000, pág. 20
9

ração madeireira24 . Em comparação a esses núme- nos compartimentos sendo explorados tem dificulta-
ros, os ribeirinhos na região de Itacoatiara utilizam do o acesso às castanheiras, além de criar dificulda-
somente em média 50 hectares/família para o des para a caça. Consequentemente, enquanto a
extrativismo. Desmatem menos de 5 hectares para empresa criou somente 90 novos empregos na re-
plantar os alimentos básicos em rotação25 . Porém, a gião, os 1.500 ribeirinhos que viviam da colheita de
PWA transforma 2.700 hectares dentro da área produtos da floresta estão enfrentando um futuro in-
manejada em infra-estrutura de transporte, equiva- certo. O mais provável é que, migrando para as ci-
lente a uma área requerida para subsistência de 540 dades próximas, eles farão parte da população cres-
famílias tradicionais. Visto de um outro ângulo, a PWA cente de desempregados urbanos.
emprega 300 pessoas em uma área de 61.000 ha26 .
Ao invés de estabelecer uma nova relação com as
Assim, para resolver o problema de aproximada-
populações regionais que dependem da floresta ofe-
mente 10.000 trabalhadores sem emprego em
recendo preços adequados e treinamento para evi-
Itacoatiara, 2.030.000 hectares de floresta primária
tar danos ambientais e atividades ilegais, o novo re-
precisariam ser transformados para a exploração
gime da certificação GETHAL simplesmente deixa
madeireira. Podemos imaginar a área necessária para
de comprar madeira dos ribeirinhos, acabando com
resolver o problema do desemprego em Manaus!
essa pequena fonte de renda. Nos anos de 1992/93,
Mal sobrevivendo com o salário pago, muitas famí- na região de Lábrea, no rio Purus, foram 2.052
lias de trabalhadores ainda têm sítios para plantar, ribeirinhos envolvidos na retirada de madeira29 , que
aumentando efetivamente a terra consumida pelas viraram uma fonte de renda adicional depois da que-
atividades industriais da PWA. Além disso, a cada da dos preços para as castanhas do Pará e da borra-
dia, 300 trabalhadores se alimentam na cantina da cha, entre outros. Uma pesquisa no Amapá30  mos-
empresa, fornecida pelas fazendas da região. O im- trou que a renda das famílias rurais, anteriormente
pacto desse tipo de consumo urbano se manifesta na envolvidas na exploração madeireira nas várzeas,
faixa crescente de desmatamento às margens da poderia ser muito maior do que a de um empregado
estrada entre Itacoatiara e Manaus, algo claramente salarial nas madeireiras certificadas quando a pro-
demonstrado na imagem de satélite. dução de madeira é integrada de forma complemen-
tar ao uso múltiplo tradicional das florestas secundá-
O exemplo da madeireira GETHAL comprova como
rias. Contudo, a exploração de madeira é considera-
mesmo empresas certificadas pelo FSC acabam des-
da pelos ribeirinhos como uma atividade suja e peri-
truindo a utilização tradicional dos recursos da flo-
gosa, somente praticada quando absolutamente ne-
resta pelas populações regionais. Dentro da área de
cessária. Mas a ”vocação florestal” baseada num
40.000 ha de manejo da GETHAL na região do Rio
manejo florestal mecanizado tende a marginalizar a
Madeira moram mais de 1.500 ribeirinhos distribuí-
população tradicional tanto pelas restrições ao uso
dos em sete comunidades. Muitas dessas famílias
das terras quanto pela interrupção dos seus vínculos
estão há décadas nesta terra e continuam a viver da
comerciais, em vez de melhorar suas condições de
agricultura, da pesca e do extrativismo de castanha
vida.
e borracha, sem causar danos significativos à flores-
ta. A alta sustentabilidade ambiental dos sistemas de Com respeito à certificação, o caso da GETHAL
uso da terra se reflete no fato de que a floresta, mostra que a participação da população local no cha-
mesmo sendo explorada pelos moradores, ainda tem mado ”Stakeholder Process”, obrigatório para ob-
um alto valor econômico do ponto de vista florestal. ter o certificado, não foi realizado apropriadamente.
Mas em contraste ao GETHAL, a maioria desses A empresa comprou as terras sem avisar a popula-
moradores, não tem titulo as suas terras. ção. Além disso, entrou em disputa com a FUNAI
para explorar uma área de um povo indígena, os Mura,
Após a chegada da GETHAL, como um ”novo pa-
alegando que ”... o manejo florestal é tido como posi-
trão”, a população foi proibida de praticar as
tivo para o ecossistema. Acreditam que a legislação
atividades de subsistência27 sem a permissão da em-
possa permitir o manejo em Terras Indígenas”31 .
presa, sobretudo a colheita de castanhas. A comuni-
dade, com o apoio da igreja local, tem denunciado Assim, a certificação no ano de 2000 aconteceu num
essa injustiça28 . Recentemente chegaram a um acor- clima de conflitos sociais. Somente recentemente
do com a empresa: as comunidades podem colher a foram conduzidas tentativas de melhorar as relações
castanha, mas somente se venderem toda sua coleta com a população local, com a ajuda da ONG Pró-
à própria GETHAL, o que representa um aumento Natura, financiada pelo Banco Mundial, porque a
de dependência e controle por parte da empresa. empresa não tinha condições para esse investimen-
Além disso, há queixas de que a construção das es- to exigido pelo certificador. Enquanto a GETHAL e
tradas florestais e a proibição temporária de entrar a PWA, ambas com sedes nos EUA e na Europa,
10

receberam apoio financeiro através do Banco Mun- aquariquara nos municípios vizinhos a Precious
dial e demais instituições de ”desenvolvimento” para Woods. Em um caso, a autorização para realizar um
obter a certificação e divulgar o conceito do ”mane- pequeno lote de desmatamento numa área protegida
jo florestal”32 , faltam recursos para fortalecer a eco- pelo Código Florestal, Artigo 2, foi abusada para
nomia da população local. A maioria dos ribeirinhos retirada de centenas de toras de aquariquara com
sempre foi ligada aos mercados mundiais, como na equipamento e mão de obra da PWA, a então Mil
época do ciclo da borracha. Hoje, é necessário apoi- Madeireira35 . Em um outro episódio, o prefeito do
ar estas economias para que os ribeirinhos se liber- município de Silves, onde é localizada uma grande
tem da semi-escravidão, oprimidos pelos seus pa- parte das terras da PWA, denunciou, durante uma
trões, entre eles, as madeireiras. Além disso, preci- reunião promovida pelo próprio FSC, a retirada ile-
sam assistência técnica no processamento, no con- gal de Aquariquara36. Conquanto o envolvimento
trole de qualidade e na comercialização dos seus pro- direto das empresas na exploração ilegal não pode
dutos florestais não-madeireiros33 . Certamente, nesse ser comprovado, a simples notícia de novos merca-
campo, a certificação faria mais sentido do que o dos para Aquariquara foi suficiente para estimular e
benefício para uma elite de empresas multinacionais. acelerar a exploração informal dessa espécie na re-
gião37. Isso mostra claramente como é difícil limitar
Mito 5: As empresas certificadas são com- o incentivo econômico para a exploração de uma nova
prometidas com a transparência total e por espécie no mercado internacional numa área de pla-
isso evitam a exploração ilegal. no de manejo de empresas certificadas.
A investigação dessas ocorrências não foi implemen-
No contexto do caos e da ilegalidade da indústria tada pela iniciativa do FSC. Assim como em outros
madeireira no Brasil, a intenção da certificação é casos de certificados contestados, a denúncia e a
oferecer os incentivos e as penalidades necessárias investigação foram deixadas a cargo de pequenas
para as madeireiras se comportarem de forma cor- organizações ambientalistas e indivíduos preocu-
reta. Por certo, as empresas certificadas não dese- pados, sem apoio ou financiamento. Tal fato é um
jam correr o risco de perder os novos
mercados ”verdes” por uma associação
às atividades ilegais. Contudo, quando
a questão é o lucro no curto prazo, pou-
cos empresários conseguem resistir. O
caso da exportação de Acuariquara pela
PWA é um bom exemplo disso. Acuari-
quara é uma espécie de madeira durá-
vel, mas sem mercados de escala na
região. Uma demanda internacional por
essa espécie foi criada quando o muni-
cípio de Rostock, na Alemanha, decidiu
utilizar a aquariquara certificada para a
construção no litoral alemão. O contra-
to foi celebrado como uma parceria
transatlântica em defesa das florestas
tropicais. Contudo, a PWA não tinha
bastante acuariquara em sua área de
manejo para responder a essa nova
demanda. Para completar os pedidos,
foi comprada madeira de terceiros,
oriundas de áreas sem plano de manejo,
através de uma empresa austríaca, MW
Florestal. Tal fato criou confusão, pois
não havia meios de identificar a acuari-
quara certificada da não-certificada
chegando a Rostock34.
Na mesma época surgiu uma série de Ecploração ilegal de Aquqriquara
incidências de exploração ilegal de Fotos: Ana Claudia Jathay, 2000.
11

reflexo da constelação obscura de in-


teresses representados dentro do FSC,
onde entidades responsáveis por
monitorar as empresas apresentam um
grande investimento no sucesso e conti-
nuação desse modelo. O certificador,
por seu lado, é pago pela empresa ma-
deireira para exercer seu trabalho. Para
as grandes entidades ambientalistas,
como WWF, Greenpeace e Amigos da
Terra, a certificação é a principal ferra-
menta para negociar com as empresas
do setor, e ocupa o coração de suas
campanhas de preservação florestal.
Assim, com o forte e crescente investi-
Produção de carvão de resíduos da PWA
mento de todas as partes envolvidas
Foto: Laschefski 2000.
nesse modelo de desenvolvimento,
questionamentos e críticas não são bem-vindos. carbono permanentemente. Aproximadamente 70%
Alem de tudo, a certificação voluntária visa estimu- das toras que chegam às serrarias viram resíduos,
lar o melhoramento do planejamento da exploração enquanto somente 30% da madeira é utilizada na
madeireira com a expectativa de acesso facilitado produção de pranchas serradas. Na produção de
aos mercados na Europa e nos EUA, considerados laminados e compensados o desperdício pode ser
ambientalmente mais exigentes. Contudo, enquanto ainda maior. Os resíduos são queimados ou utiliza-
não se constituir como uma obrigação legal, ela dos para a produção de carvão e, assim, imedia-
funcionará somente na medida que garanta o lucro tamente o carbono fixado na madeira é liberado na
máximo para a madeireira. Caso a madeira certifi- atmosfera. A transformação das pranchas, laminados
cada perca sua vantagem comercial, é bem prová- e compensados em portas, paredes, pisos, móveis e
vel que a empresa não aceitará mais os altos custos outros produtos é acompanhada de novo desperdí-
para manter o certificado e voltará a utilizar práticas cio, resultando adicionalmente na emissão de gás
predatórias38  senão ilegais. carbônico. Não há dados disponíveis sobre a
longevidade desses produtos, mas é difícil que du-
rem séculos ou até décadas como as árvores, das
Mito 6: A exploração seletiva de madeira
quais foram produzidos. Assim, a maior parte da
aumenta a capacidade florestal para fixar
madeira, queimada como lixo, será transformada em
carbono, reduzindo o efeito estufa.
CO2, com exceção dos raros itens de arte ou outras
peças guardadas em museus. Na balança também
Na exploração seletiva de madeira, árvores são re-
devem ser consideradas as fontes indiretas de CO2,
movidas estimulando o crescimento de outros indiví-
resultando da própria atividade de exploração madei-
duos. Como resultado, a floresta fica em um estado
reira industrial, oriunda do consumo de energia na
permanente de renovação e, assim, o carbono oriun-
produção e uso das máquinas e demais equipamen-
do de gases atmosféricos poluidores são fixados
tos florestais, do sistema de transporte, entre outros.
pelas árvores em crescimento. Com base nessa di-
nâmica, o manejo florestal em florestas nativas é Para que a teoria funcionasse na prática, toda essa
considerado no combate ao efeito estufa responsá- produção deveria ser compensada pela recuperação
vel pelo aquecimento do planeta. Conforme esse ar- de florestas manejadas, que precisariam ficar intac-
gumento, florestas nativas intocadas têm menos po- tas para sempre. Contudo, como está descrito no Mito
tencial de fixar carbono e são menos eficientes no 1, o corte seletivo aumenta a vulnerabilidade das flo-
controle do clima que as florestas ”manejadas’39. restas ao fogo - uma das maiores fontes de produ-
Contudo, esses efeitos dependem de duas condições: ção de CO2 no Brasil. Além disso, a infra-estrutura
o tempo em que o carbono ficará fixado na madeira de transporte, estabelecida nas florestas manejadas,
extraída, assim como a perenidade do manejo das aumenta os riscos da colonização e do desmatamento
florestas. para agropecuária, tornando a sobrevivência das flo-
restas pouco provável.
Uma rápida olhada no processo e utilização da ma-
deira tropical demonstra que a maioria dos produtos
finais tem uma vida útil limitada e raramente fixam
12

Mito 7: Muitos consumidores na Europa e A madeira tropical certificada, vendida a uma elite
nos Estados Unidos pagariam mais caro da classe média-alta com consciência ecológica, prin-
pelos produtos com um selo verde. Assim, cipalmente do primeiro mundo, exerce pouca influ-
a certificação é uma ferramenta essencial ência na dinâmica global da indústria madeireira. No
para garantir a preservação ambiental. Brasil, cerca de 86% da madeira vinda da Amazônia
legal é consumida nos mercados internos42. São es-
O sucesso da rede de Grupos de Compradores do
ses mercados que ajudam a sustentar a exploração
WWF, em que participam importantes comerciantes
ilegal na região, estimada em 80%. Uma pesquisa
de madeira em nível global, criaram a impressão da
sobre os produtos ”verdes” mostrou que embora a
existência de um grande mercado ecologicamente
aceitação pelos consumidores da classe média bra-
sensível. Essa miragem tem sido conveniente para
sileira seja similar aos níveis encontrados na Ale-
os governantes e empresários, preocupados em en-
manha, somente menos de 3% lembraram de ter
contrar soluções ecológicas sem questionar um dos
comprado um produto com selo verde. Brasileiros
alicerces mais importantes da atual crise ambiental -
de baixa renda não têm o luxo de escolher produtos
o consumismo ilimitado. A causa dos problemas so-
certificados. Consequentemente, comentaram duran-
ciais e ambientais agora virou a cura – vamos salvar
te as entrevistas que a responsabilidade de garantir
o mundo fazendo compras!
que produtos nos mercados sejam ecológica e soci-
A questão da certificação foi discutida em um grupo almente justos deve ser do governo e não do consu-
de trabalho da Comissão de Desenvolvimento Sus- midor43.
tentável das Nações Unidos, em 199640. Como boi-
cotes são considerados incompatíveis com as regras O que fazer?
da Organização Mundial do Comércio, a certificação Muitas pessoas apoiaram o FSC na esperança de
foi aceita com três condicionantes: primeiramente, que atribuindo valor econômico a madeira tropical
deve existir um mercado livre para todos os esque- ajudariam a preservar as florestas nativas. Muitos
mas de certificação, o próprio mercado definindo qual pensaram que o FSC fortaleceria as populações lo-
é a melhor iniciativa. Em segundo lugar, não deve cais, através de pequenas iniciativas comunitárias,
existir nenhuma ação política para diminuir o comér- oferecendo uma alternativa ao desmatamento. Na
cio de produtos não certificados. Em terceiro, a ori- realidade, o FSC apoia maioritariamente a explora-
gem do produto não deve ser incluída no seu rótulo, ção industrial dos remanescentes das florestas nati-
para evitar a discriminação contra regiões especifi- vas e, além disso, a expansão das monoculturas no
cas. mundo. De um total de 1.180.651 milhões hectares
Em conseqüência, essas condições garantem que os de áreas certificadas no Brasil atualmente, 70%
mercados fiquem abertos para produtos vindos de abrangem plantações industriais e 30% das madei-
uma exploração ilegal e predatória. Assim, a res- reiras nas florestas nativas, (incluído 2% na Mata
ponsabilidade de combater o crime social e ambiental Atlântica). Somente 0,42% são dedicadas aos pro-
é transferida dos governos para os consumidores, dutos não madeireiros (palmito e açaí) e menos de
agora enfrentando centenas de produtos com dife- 0,09% ao manejo comunitário nas Reservas
rentes selos verdes, a maioria sendo simplesmente Extrativistas Chico Mendes e Porto Dias, ambas
um resultado de propagandas enganosas. Entidades certificadas recentemente e celebradas como ”pro-
ambientalistas agora se engajam na defesa do FSC va” de que o FSC está cumprindo as suas promes-
como o único selo confiável. Isso tem desviado a sas44. Não surpreende, contudo, que o certificado
atenção, a energia e os recursos de ações políticas para as duas comunidades tenha sido conferido a
direcionadas às causas reais da destruição das flo- produção de madeira, após um processo de treina-
restas. mento e aprendizagem, ao invés de contemplar o
sistema tradicional de uso múltiplo da floresta adap-
Enquanto isso, pesquisas indicam que mercados para
tado ao ecossistema.
‘produtos verdes’ são bem limitados. Metade dos
consumidores alemães presta atenção aos selos Podemos concluir que a certificação tem um impac-
verdes, mas somente um terço pagará 5% a mais to insignificante no combate à exploração predatória
para compra-los41. Porém, o comportamento dos nas florestas tropicais. Enquanto isso, o FSC está
consumidores é notoriamente inconstante, por isso reabrindo mercados para madeira tropical na Euro-
as estatísticas não refletem situações reais de vida, pa e nos Estados Unidos que se fecharam nas
quando consumidores, mesmo sendo ecologicamen- campanhas de boicote da década de 90, criando
te conscientes, mas economicamente limitados, op- confusão entre os consumidores esclarecidos e difi-
tam por produtos mais baratos e não certificados. cultando qualquer campanha de conscientização. A
13

certificação oferece uma al-


ternativa de sobrevivência
para as grandes madeireiras e
atrai novos investimentos inter-
nacionais para a exploração
das florestas tropicais. É evi-
dente que mesmo o manejo flo-
restal certificado causa impac-
tos profundos nos ecossiste-
mas tropicais. Estabelecendo
a infra-estrutura de transporte
em regiões cada vez mais re-
motas, empresas certificadas
representam uma nova frontei-
ra de exploração das florestas.
Não há nenhuma indicação de
que a valorização de florestas
Manejo florestal: o futuro para os povos amzonicos?
nativas através do manejo flo-
restal contribui para a desace- Foto: Scharpf, 2003.
leração do desmatamento para fins da agropecuá- cional para beneficiar principalmente o comércio de
ria. Ao contrário, empresas certificadas, por razões madeira internacional.
econômicas, procuram florestas em áreas distantes
Neste contexto, os consumidores que compram ma-
de zonas de fronteira, para evitar o risco de incêndio,
deira certificada pelo FSC, continuam a apoiar gran-
invasões ilegais e outros problemas. Os benefícios
des multinacionais. Ao invés de comprar os mitos,
sociais oferecidos pelas empresas certificadas são
pessoas e organizações que desejem contribuir para
mínimos e os problemas com respeito à participação
a preservação das florestas no mundo, podem me-
da população local não são resolvidos. Nessas cir-
lhor adotar as seguintes ações:
cunstâncias, o consumo de madeira certificada sim-
plesmente representa mais uma pressão adicional às ü Exigir o fim de todos os esquemas de certificação
florestas nativas e às populações tradicionais. para a exploração de madeira em florestas nati-
vas.
Sem dúvida, a certificação melhora o planejamento
e controle da exploração madeireira. Os investimen- ü Apoiar uma moratória na exploração industrial das
tos no FSC e a propaganda para a certificação de remanecentes de florestas nativas e comprar
madeireiras está resultando no surgimento de uma madeira oriunda de florestas secundárias ou de
nova cultura econômica, técnica e ambiental. Este reflorestamento natural bem manejadas.
pensamento é enquadrado num conceito ideológico
da ”vocação florestal” que continua a seguir a lógi- ü Exigir a melhoria da fiscalização e a formulação
ca da produção linear, reduzindo o complexo ecos- de políticas públicas para os interesses da popu-
sistema florestal a um produto único, a madeira. lação local, e não para empresas multinacionais.
Recursos financeiros e humanos estão sendo investi- ü Investir no manejo e reflorestamento com espé-
dos em grande estilo na certificação de madeireiras cies nativas nas áreas já exploradas e degrada-
- recursos que podem ser utilizados em formas mais das no ”arco de desmatamento”.
eficientes para melhorar as condições econômicas e
sociais de populações tradicionais, que já estão pre- ü Apoiar projetos comunitários locais, da agricul-
servando e usando as florestas de forma sustentável tura permanente (permacultura) e sistemas agro-
há séculos. Porém, agora são planejadas no interior florestais com base das experiências das popula-
da Bacia Amazônica, bem distante do arco de ções locais.
desmatamento, as zonas de ”uso sustentável”. No ü Apoiar iniciativas de comércio justo de produtos
pensamento da nova cultura madeireira, o ”uso sus- florestais não madeireiros, com uma ligação direta
tentável” torna-se equivalente a ”manejo florestal” às comunidades locais.
no nível industrial. Isso mostra que o Banco Mundial
e demais instituições governamentais, assim como ü Participar de campanhas contra as verdadeiras
as organizações não-governamentais, estão imple- causas do desmatamento, principalmente os pro-
mentando políticas públicas e uma estrutura institu- jetos de infra-estrutura na Amazônia.
14

Notas
1
Versão completamente revisada e atualizada do artigo: 17
VERISSIMO et al., 2000
”Saving the wood from the trees”, publicado no jornal ”The 18
Um exemplo é o Imposto Territorial Rural (ITR), que foi
Ecologist” Vol. 31, No 6, July/August 2001. reduzido quando proprietários de terra na Amazônia au-
Klemens Laschefski, Doutor em Geografia pela Universi- mentaram a produtividade agrícola. Até 1999 todos usos
dade de Heidelberg, Alemanha, elaborou a sua tese de douto- diferentes de florestas em pé não foram beneficiados por
ramento sobre o ”manejo florestal certificado” na Ama- este. Ver GAZETA MERCANTIL, 17/03/99. 
zônia (ver referências bibliográficas). 19
ver SCHNEIDER et al. 2000, pág. 5-17.
Nicole Freris trabalha com o desenvolvimento de alternati- 20
IPAM/ISA, 2000, pág. 10
vas econômicas para as populações indígenas na Amazônia. 21
Com respeito aos impactos de vários sistemas da explora-
  2 BROCKMANN et al., 1996. ção nas várzeas e na Terra Firme ver STONE 2000 e
 3
Para uma extensão desta crítica ver ZHOURI, A., 1998. LASCHEFSKI 2002, pág. 235.
  4 COUNSELL, S./ LORAAS, K. T. (Eds.), 2002. 22
Entrevista com o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria
  5 O relatório inclue mais um estudo sobre empresas certifi- Madeireira, Itacoatiara, Julho de 2000.
cadas na Amazônia, destacando a proliferação de mosqui- 23
SANTA CRUZ, 2000
tos e doenças como a Malária, além de problemas sociais 24
ver LASCHEFSKI, 2002, pág. 246. Os empregos na indús-
(FANZERES 2002). tria madeireira não são incluídos, porque devem ser compa-
  6 WRM 2002 rados com os empregos no processamento dos produtos
  7 Greenpeace, circular interno, Novembro 2000 oriundos do produção dos ribeirinhos (casas de farinha, pro-
dução de doces, sucos, entre outros).
  8 ver calculo com base de números do Plano do Manejo da
Empresa (ver PRECIOUS WOODS 1996, e LASCHEFSKI,
25
Entrevista com B. Ribeiro dos Santos ASPAC (Associação
2002, pag. 224 - 227). de Silves pela Preservação Ambiental e Cultural), em Sil-
ves, e oficiais do IBAMA, em Itacoatiara, Julho de 2000.
  9 ITTO et al., 2000.
26
O plano de manejo abrange a área de exploração madeireira
10
ver WORLDBANK, 2002, pág. 43 -44. Cabe destacar que
de 50 000 hectares e áreas não exploradas de cerca de 11 000
o Banco Mundial conta com um mercado livre entre várias
hectares.
iniciativas para a certificação, que se enquadram nos reque-
rimentos mínimos estabelecidos pela instituição, enquanto
27
IPAAM, 2000.
o WWF e outros ONGs tentam apoiar o FSC para alcançar 28
Informação da Comissão Pastoral da Terra, Amazonas,
a soberania no mercado como a única iniciativa reconhecida Manaus.
pelas ONGs. Nesse sentido, o Greenpeace recentemente 29
HIGUCHI et al., 1994.
mandou uma carta para a nova Ministra do Meio Ambiente 30
PINEDO-VASQUEZ et al. 2001.
do Brasil, Marina Silva, sugerindo que a certificação pelo
FSC tem maior credibilidade do que a iniciativa do governo
31
CALVACANTE, 2000, S. 153.
brasileiro, o programa CERFLOR. 32
a GETHAL recebeu USD 382 000 e a PWA USD 238 000
11
O conceito de concessões é bem recebido pelo Ministério através do PROMANEJO, um subprograma do Programa
do Meio Ambiente brasileiro para enfrentar o processo da Piloto para as florestas tropicais no Brasil (PPG 7), coorde-
grilagem e a concentração das terras nas mãos de madeirei- nado pelo Banco Mundial.
ros na Amazônia, surgindo nos últimos anos. Contudo, este 33
SMITH et al., 1998 analisaram esse assunto com respeito
desenvolvimento foi acelerado justamente com a introdução aos sistemas agroflorestais na Amazônia.
do chamado “plano de manejo sustentado” na legislação nos 34
publicado no jornal alemão: OSTSEE-ZEITUNG, 11/08/
anos 90, depois da chegada de Precious Woods/Mil Madei- 1998.
reira. O requerimento legal de apresentar planos de manejo
permanente com um sistema rotativo de exploração, basea-
35
PREFEITURA MUNICIPAL DE PRESIDENTE
do no modelo da empresa, esta obrigando as madeireiras a FIGUEIRIDO, 1998.
comprar terras próprias (ver o caso da GETHAL no mito
36
A CRITICA, 15/03/98.
2). Com o sistema das concessões, os órgãos públicos terão 37
oficiais do IBAMA confirmaram em Julho de 2000 a explo-
teoricamente a possibilidade de manter o controle sobre as ração de aquariquara entre Itacoatiara e Silves (Estrada de
florestas, mas na prática, como as empresas receberão o Várzea)
direito da exploração para 30 anos, não mudará muito no 38
GAZETA MERCANTIL, 05-07/03/99.
contexto local, particularmente com respeito as relações com
as populações tradicionais (ver mito 4).
39
ver HIGUCHI et al., 1997, pág. 6.
12
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