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Revista Adusp

Simpósio da FFLCH Maio 2013

Dilemas das esquerdas


na América Latina,
em contexto de crise
Hugo Fanton
Jornalista

A crise econômica parece bater às portas da América Latina, ao mesmo


tempo em que avançam os diferentes projetos nacionais de construção
da soberania, em seus variados matizes de esquerda. Que estratégias
o campo democrático e popular deve abraçar, e quais os caminhos a
trilhar, foram os objetos de um concorrido (e aceso) debate no Simpósio
Internacional da FFLCH entre Valter Pomar (PT e Foro de São Paulo),
Plínio de Arruda Sampaio Junior (Unicamp), Jorge Altamira (Partido
Obrero, Argentina), e Ricardo Canese (Frente Guasú, Paraguai)

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Estamos diante de uma crise “uma transição do centro dinâmico de ofensiva do capital, assistimos ao
brutal do capitalismo, que nos leva do mundo”, desde o terreno anglo- momento em que ele é particular-
a um período duradouro de instabi- saxão até o Oriente, mais especifi- mente ofensivo e devastador”.
lidade mundial, com possibilidades camente a China.
variadas de desfecho e relacionadas Também para Jorge Altamira,
à dimensão política da crise — ou dirigente do Partido Obrero da Ar-
seja, às composições e correlações gentina, já é possível prognosticar Na América Latina,
de força e de projetos políticos — que uma das saídas postas à crise
bem como às diferenças de análise é o “deslocamento do eixo econô-
diz Pomar, vive-se “um
da realidade e suas consequências mico dos EUA ao Pacífico, pois as momento em que se esgotou
em termos de opções estratégicas inversões do mundo econômico se
e táticas. Tais elementos da atual concentram cada vez mais na Chi-
o período de mudanças, com
conjuntura histórica compuseram na”. No entanto, ressalta que essa ameaça de haver contra-
os distanciamentos e proximidades transição será das mais conflituosas
mudança”. Uma expressão
das distintas exposições presentes já vistas, tanto no plano da geo-
na mesa “América Latina, a Crise política internacional quando no objetiva dessa realidade é
Mundial e a Esquerda”. interior dos Estados-Nação. “Com
a conjuntura do Paraguai:
O debate teve início pela exposi- a União Europeia, vemos o reforço
ção do secretário-executivo do Foro das capacidades repressivas dos Es- Canese caracterizou a
de São Paulo e membro do Diretó- tados nacionais sobre os seus pró- destituição de Fernando
rio Nacional do Partido dos Traba- prios povos, bem como a decadên-
lhadores (PT), Valter Pomar, que cia da democracia burguesa em ca- Lugo como “golpe contra o
caracterizou a atual crise econô- da um desses Estados. Na Espanha, processo de integração da
mica como “do capitalismo, na sua governa-se por decretos; na Itália,
forma neoliberal”, mundial, com o governo é composto por técnicos; América Latina”
epicentro nos Estados Unidos, mas ou seja, países em que se acreditava
expressando-se de forma mais agu- haver democracia parlamentar são
da neste momento na Europa: “É governados por comitês”, afirma
uma crise clássica e profunda de Altamira. O período de instabilidade mun-
acumulação desse capitalismo im- Essa dimensão política da crise dial decorrente das crises combina-
perialista. E ninguém escapa”. Ou- ganha expressão, nas palavras de das de acumulação e de hegemonia,
tro elemento que a compõe, explica Plínio de Arruda Sampaio Júnior, em uma transição geopolítica pro-
Pomar, é o declínio da hegemonia professor de economia da Uni- funda, deve se prolongar por mui-
dos EUA no mundo, ainda que per- camp, na perda da capacidade do tos anos. Os variados componen-
maneça como potência militar, mi- capital de dar “respostas relativa- tes da crise geram, nas palavras de
diática e ideológica. Tal declínio da mente civilizadas para os problemas Pomar, revoltas sociais e guerras:
condição de potência hegemônica da sociedade”. No contexto de crise “Muitas situações lembram o perí-
ganha novos contornos em contexto estrutural do modo de produção odo pré-primeira Guerra Mundial,
de crise, pois nenhum país se apre- capitalista, há uma política global como as do Oriente Médio, que vi-
senta globalmente em condições “que combina poder do monopólio ve uma escalada de conflitos”. Uma
de reorganizar a economia “à sua com o poder dos Estados imperiais expressão objetiva dessa realidade
imagem e semelhança”. Desse mo- para atacar os direitos dos trabalha- é a conjuntura do Paraguai, depois
do, a crise econômica expressa sua dores, as políticas públicas e a sobe- da cassação do presidente Fernan-
dimensão política, com a eclosão rania dos Estados nacionais”, expli- do Lugo, caracterizada por Ricardo
de conflitos interimperialistas e de ca Sampaio Jr. “Nessa conjuntura Canese, da Frente Guasú, como

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Foto: Daniel Garcia

“um golpe contra o processo de in- projeto econômico-social que di- ressalta que a esquerda latino-ame-
tegração da América Latina”. “Há ferentes grupos reivindicam como ricana escolheu caminhos de acú-
uma vontade de autonomia e inde- ideal. “Dentre os muitos problemas mulo de forças que privilegiaram
pendência da região, de se ter uma que disso decorrem, há setores que a ocupação de espaços eleitorais e
agenda diferente, própria e com consideram a esquerda o inimigo institucionais, de modo que todos
muitas limitações, mas que, ainda principal. No Paraguai, por exem- os governos ditos de esquerda são
assim, gera tensões fortes com o plo, dias antes do golpe de Estado, de “aliança de classe, com presença
imperialismo”. Para Canese, o Pa- partes da esquerda paraguaia esta- de setores da burguesia, de forças
raguai é onde o imperialismo “pôde vam discutindo romper com gover- de centro e, às vezes, de direita”.
fazer o golpe”, após as tentativas no Lugo, e foram surpreendidas”, Tais fatores levam a profundas
frustradas na Venezuela, Bolívia e exemplifica Pomar. dificuldades de realização de mu-
Equador. “Éramos o elo mais débil Para ele, a América Latina se danças estruturais na região, pros-
da cadeia, justamente porque a es- consolida como “lugar especial” no segue o secretário-executivo do Fo-
querda do Paraguai é débil”. contexto de crise, pois nesta região ro de São Paulo: “Vivemos agora
A referência de Canese remon- as esquerdas são muito fortes. “São um momento em que se esgotou o
ta a duas situações combinadas na variadas, algumas no governo, ou- período de mudanças, com ame-
América Latina e que perpassam tras na oposição a esses governos. aça de haver contramudança”. A
o contexto de instabilidade política Aqui a esquerda está muito mais Venezuela, explica Pomar, ainda
na região: os conflitos com o impe- poderosa do que em outros mo- que seja governada por dirigentes
rialismo; e os conflitos internos a mentos; e relativamente mais po- declaradamente favoráveis a trans-
cada país. O enfrentamento com o derosa do que em outras regiões do formar o país em direção ao socia-
imperialismo exige, nas palavras de mundo”. Na Europa, o declínio da lismo, continua com sua economia,
Pomar, “a integração latino-ame- social-democracia e o avanço do ne- do ponto de vista estrutural, depen-
ricana”. Mas para além disso, cada oliberalismo expressam a condução dente do petróleo: “Desenvolveu-
país vivencia internamente confli- dos processos políticos e econômi- se, além disso, uma nova burguesia
tos que remontam à natureza do cos pela direita. No entanto, Pomar associada às mudanças e que tam-

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bém impõe limites, permanecendo Brasil seria, na acepção de Sampaio dida em que o presidente Chávez
o grande desafio de se promover as Júnior, mais um traço da lógica de promoveu a estatização dos sindica-
mudanças na estrutura econômica e administração da crise pelas gran- tos e o governo Lula manteve uma
social”. des potências. “Os EUA continuam “descomunal taxa de financiamento
Desafio que ganha diferentes absolutamente imperiais, com ca- da dívida” e aliou-se a partidos da
contornos na análise de Sampaio pacidade de impor sua solução”. Os direita, por exemplo.
Júnior, para quem a crise deve processos de socialização dos preju- Canese, no entanto, problema-
aprofundar e acelerar processos em ízos são particularmente graves, na tizou tais colocações ao recuperar
curso há algumas décadas na Amé- medida em que combinam especu- o significado histórico do gover-
rica Latina. “Caberá à região ali- lação com “programas draconianos no Lugo no Paraguai, considerado,
viar o estresse ambiental da ordem de ajuste estrutural”. como os demais da região, “extre-
global, pela preservação do verde e mamente conservador, com poucas
atração da indústria suja, e aprofun- ou nenhuma reforma estrutural”.
dar a especialização do continente Ainda assim, o crescimento da par-
na produção de matérias-primas. Na opinião de Altamira, ticipação social e a efetivação de
Somos reserva de alimento, de mi- alguns direitos já foram suficientes
nerais e de petróleo da economia os diferentes governos da para “deixar nervosa” a direita na-
mundial”. Outra funcionalidade da América Latina sequer cional. “Houve vinte e três tenta-
América Latina à ordem global é tivas de golpe. A vigésima-quarta
franquear as economias nacionais
podem ser chamados de foi exitosa. Foi um golpe do impe-
às operações do capital internacio- esquerda, pois Chávez rialismo ianque”. Canese acredita
nal, transformando todos os espa- que se trata de uma intervenção im-
promoveu a estatização dos
ços e possibilidades de lucro em perialista contrária ao processo de
negócios do capital internacional. sindicatos e Lula manteve integração “autonômica” da Amé-
“Cabe a nós também coibir movi- rica Latina: “Temos informações
uma “descomunal taxa de
mentos populacionais que possam referentes à participação ativa da
desestabilizar as economias cen- financiamento da dívida” e embaixada dos EUA no golpe, para
trais. A crise vai aprofundar e ace- desestabilizar a região. Mesmo um
aliou-se a partidos da direita
lerar essas tendências”. processo moderado de transforma-
O economista entende que a cri- ções traz inconveniências ao impé-
se na América Latina deve acelerar rio, pela possibilidade de adotarmos
o processo de reversão neocolo- Para Jorge Altamira, uma das uma política de defesa comum”.
nial e de corrosão da capacidade expressões do imperialismo em con- As contradições entre autono-
dos Estados de construir políticas texto de crise é a combinação entre mia e neocolonialismo estão postas
públicas norteadas pela defesa do entrada de dólares e financiamento também, a seu ver, na atual con-
interesse nacional e da economia da saída de capital da América La- juntura política dos países árabes,
popular. “Teremos muito Estado tina. “Os dólares que recebemos em “estado de guerra já aberto”.
para defender o capital, e pouco em troca de minerais, soja e trigo No Paraguai, imediatamente após o
Estado para elaboração de políti- inflam a bolsa e promovem a saída golpe de Estado, houve legalização
cas públicas e defesa dos interes- de capital. Assim, a indústria bra- de transgênicos e abertura comer-
ses estratégicos dos países. No caso sileira está cada vez pior, em situa- cial para atuação de transnacionais
do Brasil, esse processo em cur- ção de pior competitividade”. Ele ligadas ao setor energético. “O gol-
so é evidente, na medida em que entende que os diferentes governos pismo do império favorece os inte-
a indústria recua e o agronegócio latino-americanos sequer podem resses do agronegócio e das gran-
avança”. A desindustrialização do ser chamados de esquerda, na me- des indústrias de alumínio. E as di-

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Daniel Garcia

Sampaio Júnior afirma que


não há resposta de esquerda
dentro da ordem burguesa:
“O raio de manobra para
administrar esta crise
a partir da periferia do
sistema é mínimo”. A
solução, diz ele, “passa por
resgatar todos os elementos
Jorge Altamira e Valter Pomar
da revolução brasileira”
reitas brasileira e uruguaia apoiam tos próprios da conjuntura, quan-
os golpistas, devido aos interesses to no âmbito da análise da reali-
comuns. As oligarquias regionais se dade. Para Canese, é fundamental
unem para barrar um projeto auto- ao Paraguai e à América Latina a Canese entende que uma das
nômico e progressista”. união enquanto “frente democráti- formas de fortalecer os processos
Tal projeto político de autono- ca”, contra a ditadura e o imperia- de articulação política é justamen-
mia da região ganha expressão no lismo. “A autonomia e os direitos te enfatizar a contradição com o
marco de integração dos povos da para os povos devem se constituir imperialismo. “Devemos articular
América Latina: “Nos governos Lu- como grande objetivo. Somos so- uma frente que inclua todos os se-
la e Lugo, pudemos avançar com cialistas por estatuto, e a maioria tores democráticos do país e da
um tratamento melhor do tema de da frente é de caráter socialista. América Latina contra o golpe.
Itaipu, por exemplo. A questão da Mas temos de avançar em processo Se acharmos que a luta é entre
energia é candente em nossa região, de integração autonômico. Esse é imperialismo e a esquerda, vamos
e esse é um dos motivos do golpe no o nosso momento, de recuperação perder esse conflito. Deve ser um
Paraguai”. Canese confia, nesse sen- da democracia. E a aliança deve ser projeto de integração autonômica
tido, na solidariedade dos povos e suficientemente ampla para tan- e progressista, democrático, que
no trabalho conjunto para construir to”. Alcançar tal objetivo requer não provoque a contradição entre
uma América Latina unida e sem o fortalecimento dos movimentos esquerda e direita”.
preponderância de centros hegemô- sociais e da articulação política in- Já Altamira propõe outro ca-
nicos. “A interação deve se dar entre terna aos países e na região como minho político, por entender que
os povos, não entre as burguesias. um todo. “No Paraguai, faltou jo- a eclosão das contradições acumu-
Nosso processo não é fácil. Temos gar mais com a mobilização social, ladas entre o desenvolvimento das
desafio enorme de manter coerência que começou a crescer no último forças produtivas e as relações de
como força democrática e progres- mês. Houve desmobilização. Essa produção capitalistas abre “um pe-
sista. Temos de saber lutar com ho- autocrítica deve ser feita”. Outra ríodo novo de revolução socialista”,
nestidade e transparência”. questão é o personalismo. “O pre- de modo que o problema posto pela
Nesse sentido, o contexto de cri- sidente Lugo lidou com pessoas, conjuntura é o caráter da transição.
se ganha ênfase pela sua dimensão de forma desinstitucionalizada. São “Esse é o significado da crise. É uma
política, tanto pelos tensionamen- problemas que devemos superar”. questão estratégica, pois a esquerda

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tem compromisso histórico de con- viverá momentos de grande instabi- dar uma melhorada no capitalismo
duzir a revolução até a vitória”. Para lidade social, abrindo brechas para brasileiro, por pequenas reformas”.
o dirigente do Partido Obrero, a cri- que se possa reorganizar a esquerda Tal concepção levaria “a uma prática
se atual é a negação do capitalismo e recolocar na agenda do Brasil o política equivocada, uma cooptação
sob o avanço do próprio capitalismo. problema da revolução”. O econo- e neutralização total da capacidade
“As crises do capitalismo não são mista exemplifica com a existência de luta da classe operária”. Nesse
repetitivas, são todas únicas, porque de enormes “bolhas” especulativas. sentido, ele considera que o governo
têm lugar em uma etapa histórica “O governo diz que não há mais brasileiro “deu fôlego, por um lon-
concreta do capitalismo. E esta é dívida externa, mas o passivo exter- go tempo”, ao processo perverso de
uma crise em uma época de deca- no brasileiro explodiu. Se o Brasil acumulação. “Mas a crise vai varrer
dência do capitalismo”. sofrer ataque especulativo, não terá do mapa essa farsa e abrir espaço
Assim, a tarefa política primor- instrumentos para se defender, está para que forças de esquerda pos-
dial que se coloca para os grupos completamente exposto aos movi- sam dialogar de maneira mais franca
de esquerda, no entender de Alta- mentos da crise”. com a classe operária”. Até lá, have-
mira, é “atualizar o programa histó- O professor da Unicamp afir- rá muito tempo para se pensar nas
rico do socialismo”, à luz da nossa ma que não há resposta de esquer- conse­quên­cias práticas da teoria. “O
experiência: “O programa tem de da dentro da ordem burguesa: “O crescimento é, e sempre foi, ideo-
explicar que a tentativa de restaura- raio de manobra para administrar logia do subdesenvolvimento, e en-
ção capitalista vai conduzir a novas esta crise a partir da periferia do quanto existir, a classe operária vai
revoluções sociais”. Por isso, Al- sistema é mínimo. Por uma razão apostar na classificação social. Mas
tamira considera verdadeiramente simples: não se pode desafiar a or- quando ela perceber que não há es-
de esquerda os grupos de caráter dem global”. Isto se expressaria, se caminho, então vai para a luta. Aí
operário que, na América Latina, no Brasil, pela incapacidade do go- sim será a hora da esquerda”.
se opõem ao que ele chama de “bo- verno de fazer política econômica
narpartismo” de Hugo Chávez, de anticíclica: “No máximo, empurra
Rafael Correa e de Néstor e Cris- as famílias para um endividamen-
tina Kirchner. “Na Argentina, for- to temerário, com taxas de juros A América Latina vive
mamos uma frente realmente de maiores que taxas de ganhos reais”.
situação melhor que
esquerda, recorremos politicamen- De acordo com Sampaio Júnior,
te à crise mundial no diálogo com a alternativa de esquerda contra a outras partes do mundo,
a juventude operária e estudantil”. ordem é enfrentar o problema “da mas o momento é difícil,
Nessa luta contra o bonapartismo, reversão neocolonial”, com trans-
compuseram recentemente com a formações profundas da sociedade diz Pomar, na medida em
direita argentina numa “enorme in- brasileira, que estão vetadas pela que “todos os governos
vasão das ruas de Buenos Aires”. ordem global. “A solução passa por
Sampaio Júnior caminha em di- resgatar todos os elementos da re- esgotaram seu arsenal
reção parecida na sua análise da volução brasileira”. de mudanças fracas, e
realidade brasileira, ao afirmar que Assim, é também na política “que
“qualquer resposta de esquerda aos as coisas se definem”, de modo que agora vivemos uma crise
problemas do Brasil passa por se a diferença posta entre o que ele de caráter contraditório:
colocar em questão o caráter da considera esquerda e o PT está “na
revolução brasileira”. Para ele, o teoria por trás do Programa Demo-
se não se avançar, haverá
mito de que “o crescimento resolve crático Popular”. Este é caracteri- retrocesso enorme”
os problemas do Brasil vai se des- zado por Sampaio Júnior como a
fazer no ar, e a sociedade brasileira teoria de que “existem bases para

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Pomar se contrapõe a esse dis- burguês, e quem o controla é a bur- A questão de fundo que se co-
curso teleológico ao afirmar que o guesia: “Para fazer política, é muito loca é, portanto, “ganhar a maioria
desfecho da crise não está dado, po- importante distinguir Estado burguês da classe trabalhadora para nossas
dendo inclusive ser “o aprofunda- de governo”. A hegemonia burguesa posições”, argumenta Pomar. “Hoje,
mento da barbárie, a destruição da tem expressão, exemplifica Pomar, a maioria tem uma posição diferente
humanidade”. A América Latina vi- nos meios de comunicação, financia- da que gostaríamos. E precisa ser or-
ve situação melhor que outras partes dos em grande parte pelos governos. ganizada, formada, cabendo ao go-
do mundo, mas o momento também “Se não enfrentarmos isso, não se verno cumprir um papel forte nisso”.
é difícil na medida em que “todos os avança na correlação de forças”. Nesse sentido, acrescenta, o governo
governos esgotaram seu arsenal de No seu entender, é igualmente “não sufoca o processo revolucioná-
mudanças fracas, e agora vivemos importante entender que o futuro da rio, porque infelizmente não existe
uma crise de caráter contraditório: região vincula-se ao futuro do Brasil. processo revolucionário no Brasil”.
se não se avançar, haverá retrocesso “Pela força do seu capitalismo, é o Há uma confusão entre luta social
enorme”. O problema do raciocínio país que vai determinar a radicalida- e processo revolucionário. “Acusar
de que os governos latino-ameri- de histórica do processo. Se no Bra- o governo de sufocá-lo é fazer uma
canos não são de fato de esquerda, sil prevalecer um curso recuado, o leitura irreal da correlação de for-
argumenta o petista, é que isso “nos destino do conjunto da América La- ças”, reforça ele. O caminho que
leva a afirmar que tudo é possível”, tina será puxado para trás”. Assim, se coloca para tornar tal correlação
e quando a direita avança, leva con- ganha centralidade a importância de mais favorável é, no seu entender,
sigo toda possibilidade de transfor- o governo brasileiro ser um “instru- justamente a integração regional e
mação progressista. mento que empurre a correlação de a defesa frente ao imperialismo e
Nesse sentido, Pomar afirma que forças para a esquerda”. O que não a direita. “Esse tema é chave e vai
nos países da América Latina cita- vem ocorrendo: “Não tem sido efe- decidir se seremos ou não capazes
dos há governos de esquerda, mas tivamente, há disputa fortíssima em de aproveitar a situação aberta para
também em todos eles o Estado é relação a isso”. fazer mudanças profundas”.

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