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Efeitos das Variações de Poro-Pressão sobre a Estabilidade de

Encostas em Solos Residuais


The lnjluence of Pizometric Levei Variations on the Stability of
Residual Soil Slopes

W.A. Lacerda
COPPE, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
O.F. Santos Jr.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil
M. Ehrlich
COPPE, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil

RESUMO: Apresentam-se e discutem-se os efeitos da ação da água sobre a estabilidade de taludes


formados por solos residuais. São feitas considerações a respeito da influência das águas
provenientes de precipitações pluviométricas e da água subterrânea. São apresentados ainda
resultados de ensaios triaxiais especiais que simulam o caminho de tensões a que elementos de solo
no interior dos taludes são submetidos quando da elevação do rúvel piezométrico. Os ensaios foram
executados no solo residual da encosta do Soberbo, Rio de Janeiro. A partir dos estudos realizados
foi possível concluir que: ocorrem deformações volumétricas de expansão durante a elevação do
nível de água no talude e que a ruptura pode ser provocada ainda pelas variações· cíclicas sazonais
do rúvel piezométrico.

ABSTRACT: The influence of water on the stability of residual soil slopes is discussed on thís
paper. Both raio and ground water influences are taken into consideration. Through triaxial tests the
soil stress path due to the variation of the pore water pressure which results from the cyclic
increase/decrease of the piezometric levei are simulated. Residual soil samples from Soberbo slope,
located on Rio de Janeiro city, were used in these tests. The studies have shown that soil volumetric
expansion and slope failure may occur dueto the cyclic variations ofthe water table.

1. INTRODUÇÃO encostas que não tenham sofrido modificações


recentes na sua geometria, a ocorrência de
As causas de instabilizações de taludes são movimentos deve estar relacionada a algum
divididas em dois tipos, externas e internas mecanismo de perda de resistência, ou seja, a
(Terzaghi, 1950). A causa é externa, quando a alguma causa interna.
instabilização é provocada pelo aumento nas A análise de comportamento e o projeto de
tensões cisalhantes que atuam na superficie taludes só podem ser feitos de forma adequada
potencial de ruptura; e interna, quando a a partir do conhecimento dos mecanismos
ruptura ocorre em virtude da perda de capazes de provocar a sua instabilização. Nesse
resistência do material que compõe o talude. sentido, várias pesquisas no meio geotécnico
Dentre as causas externas pode-se citar o têm sido realizadas objetivando a compreensão
efeito de sobrecargas na parte superior do desses mecanismos.
talude, a escavação no pé do talude e o efeito Um aspecto em que parece haver consenso
de vibrações. Com relação às causas internas, nos estudos realizados até o presente é que um
tem-se as seguintes comumente citadas na dos principais agentes deflagradores dos
literatura: a perda de resistência por ação do processos de instabilização de taludes consiste
intemperismo e a elevação das poro-pressões nas precipitações pluviométricas de alta
na superficie potencial de ruptur~. intensidade. Essas , alteram o regime
Terzaghi (1950) sugere que no caso de hidrogeológico do talude, elevando. o rúvel de

381
agua, que por sua vez provoca o aumento das
poro-pressões na superficie potencial de
ruptura.
Em regiões tropicais onde é comum a
ocorrência de chuvas de grande intensidade,
associadas a um profundo manto de
intemperismo, as condições para a
instabilização de encostas são otimizadas.
Muitos trabalhos têm sido publicados
enfocando os efeitos da água sobre a Figura 1: Sistema simplificado de fluxo de água
estabilidade de taludes. No caso específico de regional em materiais isotrópicos e
taludes em regiões tropicais pode-se citar, uniformemente permeáveis, Patton e Hendron
dentre vários, os trabalhos de Deere e Patton (1974).
(1971), Patton e Hendron (1974), Brand
(1981), Wolle (1985), Lacerda (1989) e
Lacerda (1997).
Os objetivos desse trabalho consistem em
apresentar e discutir a influênciá da água sobre
a estabilidade de encostas em regiões tropicais.

2. EFEITO DA ÁGUA SOBRE A


ESTABILIDADE DE TALUDES

Patton e Hendron (1974), baseados em vários


estudos realizados na área de hidrogeologia,
principalmente os desenvolvidos por Hubbert Al ANTES 00 DESLIZAMENTO
em l 940, propuseram que o sistema de
percolação de água subterrânea, a nível
regional e em materiais uníformemente
permeáveis, seguisse o modelo apresentado na
Figura 1.
Linha
Segundo esse modelo hipotético, a água escoa Equipotm:ial
a partir de regiões mais elevadas do relevo em
direção às áreas mais baixas adjacentes, devido
à diferença de energia potencial. Geralmente, o
fluxo é descendente nas áreas elevadas, ou
áreas de recarga, e ascendente nas áreas baixas,
ou áreas de descarga. Dessa forma, verifica-se
a existência de uma distribuição de poro-
pressões não hidrostática nas vizinhanças das
encostas, mesmo sem a presença de camadas
8) COM MANTO DE DETRITOS DE DESLIZAMENTO
confinantes. A presença de camadas com
permeabilidade mais baixa na superficie do Figura 2: bte1tos aos deposuos ae encostas
talude acentua a diferença entre a distribuição sobre a rede de fluxo de taludes, PATTON e
real das poro-pressões e a condição HENDRON (1974).
hidrostática.
Outros aspeétos que podem condicionar O modelo proposto por Patton e Hendron
fortemente o sistema de fluxo regional são (1974) explica algumas observações feitas por
alguns fatores geológicos, tais como a presença vários pesquisadores a respeito dos depósitos
de intrusões magmáticas, o sistema de coluviais, os quais se apresentam,
estratificação das rochas sedimentares, os frequentemente, úmidos e com estabilidade
dobramentos e foliações das rochas precária. A Figura 2 ilustra a maneira pela qual
metamórficas, as descontinuidades estruturais os detritos de deslizamentos podem bloquear a
(falhas, fraturas, etc.) e a presença de unídades área de descarga do talude, prejudicando as
anísotrópicas no maciço.

382
condições de estabilidade do depósito de no máximo atingindo o solo saprolitico (co= :
colúvio. O efeito desse depósito sobre a a4m).
estabilidade do talude é no sentido de aumentar O terceiro mecanismo foi proposto por
o nível piezométrico na área de descarga. Costa Nunes (1969), segundo o qual a ruptura
Os movimentos de massas que ocorrem se deve a uma intensa erosão, resultante do
frequentemente na Serra do Mar, no Estado de grande escoamento superficial causado por
São Paulo, na região sudeste do Brasil, foram chuvas de excepcional intensidade, que
relatados e discutidos por Wolle (1985) .. Nessa provocam a liquefação dos horizontes
região foram identificados três tipos principais superficiais.
de movimentos. Os mais frequentes consistem Com relação aos deslizamentos rotacionais
em deslizamentos translacionais que ocorrem profundos que ocorrem na parte superior das
na parte intermediária das encostas, seguidos encostas, Wolle (1985) menciona que esses não
de movimentos de depósitos coluviais próximos podem ser explicados apenas pela redução da
ao pé das encostas e com menor frequência, sucção devido à saturação ou pela ação erosiva
porém de consequências catastróficas, de agentes externos. Necessita-se admitir o
deslizamentos rotacionais profundos na parte estabelecimento de redes de fluxo que gerem
superior. poro-pressões bastante elevadas.
Woµe (1985) associa os tipos de No caso dos deslizamentos dos depósitos de
movimentos observados nas encostas da Serra tálus - colúvio que ocorrem próximos ao pé do
do Mar a alguns mecanismos que dependem talude, resultam da obstrução das linhas de
das condições de como se dá o fluxo de água drenagem por detritos de deslizamentos
no talude. Os deslizamentos translacionais que anteriores. Isso impõe a esses depósitos
ocorrem na parte intermediária das encostas condições de estabilidade bastante precárias,
devem-se a três possíveis mecanismos. verificando-se algumas vezes a ocorrência de
O primeiro consiste na formação de uma artesianismo.
rede de fluxo paralela à superficie do talude,
como proposto inicialmente por Vargas e
Pichler (1957), o que só é possível se existir 3. MECANISMO DE RUPTURA DE
uma camada de base com permeabilidade bem TALUDES SUBMETIDOS À ELEVAÇÃO
mais baixa que a dos horizontes superiores DONÍVELPIEZOMÉTRICO
envolvidos no deslizamento. O autor cita como
exemplo desse tipo de ruptura o deslizamento Quando um talude de solo residual é submetido
da Cantareira, em 1956, na Cidade de Santos à infiltração de água oriunda de precipitações
(SP). Nesse caso, o manto de material pluviométricas, estando o solo parcialmente
intemperizado deslizou com uma espessura de saturado, ocorrerá uma redução na tensão de
7 m, aproximadamente constante, sobre a sucção. Isso resulta na diminuição nas tensões
superficie da rocha gnáissica, a qual efetivas atuantes na superficie potencial de
apresentava um baixo grau de fraturamento ruptura e, consequentemente, na resistência ao
nesse local. cisalhamento do solo, podendo levar o talude à
O segundo mecanismo refere-se aos casos ruptura.
em que a rocha subjacente é intensamente Em se tratando de solo saturado, a
fraturada, de forma que a permeabilidade do infiltração da água provoca a elevação do nível
material mais profundo não pennite a formação de água do talude, provocando, da mesma
de uma rede de fluxo paralela à superficie do forma que no caso do solo não saturado, uma
talude. Wolle (1985) relata que a análise de diminuição das tensões efetivas e na resistência
dados de instrumentação durante um período ao cisalhamento na superficie de deslizamento.
de cinco anos de observação pennitiu concluir Brand (1981) propôs uma forma de estudo
que o fluxo nesses casos é essencialmente desse mecanismo através da simulação em
vertical. Dessa forma, não podem ocorrer poro- laboratório do caminho de tensões seguido por
pressões devido à percolação. Assim a ruptura um elemento de solo localizado na superficie
desses taludes é provocada pela saturação dos potencial de ruptura. Conforme mostrado por
horizontes superficiais que leva a perda da Brand (1981 ), a ruptura -se dá sob condições de
"coesão aparente" do solo. O autor destaca que tensões totais praticamente constantes. Ocorre,
esses deslizamentos são bastante rasos, entretanto, o aumento das poro-pressões à
envolvendo apenas o horizonte de solo medida que o nível piezométrico se eleva. A
superficial (em tomo de lm de espessura) ou Figura 3 apresenta o caminho de tensões

383
o Estado de tensão inicial colúvio. Os resultados mostram que o
comportamento compressivo só foi observado
• Ruptura Envoltório
de resistência para o caso das areias preparadas num estado
extremamente fôfo. As amostras de colúvio,
mesmo estando num estado bem acima da linha
I dos estados críticos, não apresentaram
/ '' comportamento compressivo. Ensaios de
,/
,/ '' compressão triaxial não drenado em amostras
/ '' desse mesmo solo mostraram tendência de
,, /
/
'' compressão. De acordo com os autores isso
' mostra que o conhecimento da trajetória de
tensões é fundamental na previsão do potencial
de colapso e, portanto, do potencial de
Figura 3: Caminho de tensões que representa as liquefação de solos fofos saturados.
condições de campo na ruptura de um talude Resultados de ensaios triaxiais com aumento
induzida por aumento de poro-pressão, Brand de poro-pressão realizados no solo residual da
(1981). encosta do Soberbo (Figuras 7 e 8), Santos Jr.
et ai (1996), mostraram o mesmo padrão de
seguido no campo desde o estado de tensão com(Jortamento exibido pelo colúvio nos
inicial (ponto 1) até a ruptura no ponto F. ensaios realizados por Anderson e Riemer
Brenner et ai (1985) realizaram ensaios de (1995).
laboratório que representam o caminho de
tensões de campo, seguindo a técnica proposta
por Brand (1981). Foram realizados ensaios ,/
,,
sobre amostras compactadas de um solo o
residual de Hong-Kong, nas condições saturada > /_ Envoltório de
e não saturada. Esses ensaios mostraram-se "'
Q} / resistência
'O
úteis na identificação da forma de ruptura o ,
,/
(dilatante ou compressiva). •~ 2~/---a
Ensaios desse mesmo tipo foram realizados e I'
~ 3 / 1
por Santos Jr. e Ehrlich (1992), dessa feita / 1
utilizando-se amostras indeformadas de um ,' 1
/ 1 (à.)
solo residual da encosta do Soberbo, no Rio de
Janeiro. P' P'
f
Anderson e Riemer (I 995) realizaram

- - - -. _r:
ensaios triaxiais com trajetória de tensão
Estados críticos
horizontal, da forma como proposta por Brand o"'
(1981), Figura 4 (a), no sentido de investigar o N
o
potencial de colapso de solos em taludes >
quando submetidos à elevação das poro- Q}
'O
_L
pressões. A Figura 4 (b) mostra as várias
~~
Q,)
u
possibilidades de trajetórias no espaço e:p'. Um 'O

-~~
comportamento· do tipo A indica um alto ,E.
potencial de colapso, que no caso de taludes
provavelmente levaria à aceleração dos ( bl
movimentos, geração de excesso de poro- log(p')
pressão (se a drenagem fosse impedida) e a
perda de resistência. Os comportamentos dos Figura 4: (a) Caminho de tensões efetivas
tipos B e C envolvem diferentes graus de seguida nos ensaios; (b) trajetórias
dilatação. esquemáticas no espaço e : log p', Anderson e
A Figura 5 mostra os resultados obtidos nos Riemer (1995).
ensaios realizados em uma areia com amostras
preparadas em laboratório. A Figura 6 O comportamento é dilatante em todos os
apresenta os resultados obtidos em ensaios ensaios, independentemente do fato de que em
realizados em amostras indeformadas de alguns ensaios triaxiais convencionais, o solo
apresentava comportamento compressivo.

384
0,86 - - - - - - - - - - - - - -

0.84
;:S1
·-... ~ ~ : , S4 ~

-.! •
(.)

• e
...,
0.82
Estado inicial
.ó. 'i, ltj"4
o Estado critico 2
0.80
100 p1 ( kPaJ 1000 1.2
o(

CI u
1.0 ~ \..: APP-2OO•01
0.1 :
o.é
0.7
- APP•IOO·OI

O.&
º·ª'---~-----~----'
0.7 1.0 p'/pf 1.11

Figura 7: Resultados de ensaios realizados no


Figura 5: Resultados de ensaios realizados em solo residual: a) deformação axial observada
areia: a) deformação volumétrica; b) variação nos ensaios; b) deformação volumétrica.
do índice de vazios, Anderson e Riemer (1995).
Uma diferença de comportamento entre o
solo residual e o colúvio fica evidenciada após
( a)
o estado de tensão atingir o valor de Pr'. As
deformações crescem mais rapidamente no solo
residual do que no colúvio. Assim, a ruptura de
um talude por elevação do nível de água no
,.., .,. solo residual deve ser abrupta.
0.88
•0.84 "-r-== 1
~
C4

o.ao C!S
C3 2.3
0.76 '' Cfl

0.80 1.00 p'/pf 1.2'0 1.40 2.2

2.1
(e)
• 2.0
0.90 ------~---
°'------.;2 ~

c, -li 1.9
CI)
---
---~C4 • ,.a
o.ao
" E1tado inicial
~~? C3 ·- 1.7 1n (e io do aumento de poro,prellllo
º ,Estado critico Ruptura
OjOL__.,__...._......__.__.__.........u•'--'----'--'--'-........,.,__..., 1.6
1 10 100 Condição final do 1n1alo
1.15 ....__ _ _ _ _ _.___ _ _ _ ___,
P'
10 100 ~ 1 U:XX> .,z,
1 ':!, ~-.. ...)
Figura 6: Resultados de ensaios realizados no
colúvio: a) deformação axial observada nos Figura 8: Resultados de ensaios realizados no
ensaios; b) deformação volumétrica; c) variação solo residual: caminhos de tensões no espaço
do índice de vazios. Anderson e Riemer (1995). v:p'. Santos Jr et ai (1996).

385
..:. \~CA"-1S~fO
.. DE PERDA DE momento em que o estado de tensão chega ao
~SISTÊ~CIA DEVIDO À CICLAGEM ponto B, situado na envoltória de resistência
::)E PORO-PRESSÃO residual, o elemento de solo passa a sofrer
deformações por creep. A taxa de deformação
Segundo Lacerda (1989), algumas.. vezes será tanto maior, quanto mais próximo o estado
ocorrem rupturas com valores de poro-pressões de tensão estiver da envoltória de resistência. A
inferiores ao valor necessário para que a ciclagem das poro-pressões entre uo e l.lmá.".
trajetória de tensões atinja a envoltória de deve levar o elemento à ruptura por acúmulo
resistência. De acordo com Lacerda (1989), de deformações. Dessa forma, a envoltória
isso pode ser atribuído à perda de resistência residual deve condicionar a estabilidade do
devido a variações cíclicas de poro-pressão que talude a longo prazo.
levam o solo a uma espécie de fadiga. Lacerda (1989) sugere ainda que as
condições de campo vigentes em regiões
tropicais são bastante propícias a esse
mecanismo. A Figura 1O mostra um perfil típico
EJwoltóriQ de _
de solo residual originado de rochas graníticas
resi~tincio - - - Resistincio e gnáissicas. O grau. de intemperismo é maior
q ),,-- ~esidual
na superficie, dimim,1indo com a profundidade.
,,-' A granulometria do mateiial é cada vez mais
grossa à medida que se aproxima da rocha sã.
No que diz respeito a permeabilidade, em geral,
também aumenta com a profundidade.
Entretanto, um aspecto marcante num perfil
típico bem desenvolvido é a existência de um
horizonte intermediário com alto teor de argila,
Figura 9: Definição dos domínios de variação derivado da precipitação dos coloides lixiviados
das poro-pressões, Lacerda (1989). dos horizontes superiores.
Dessa forma, em alguns casos estabelece-se
A elevação das poro-pressões move o uma situação de fluxo confinado permanente no
estado de tensão efetiva do solo para as interior das camadas situadas abaixo desse
proximidades da ruptura. Esse fato implica em horizonte menos permeável, desde que o
altas taxas de deformação por creep. A redução aquífero possa ser suprido em áreas de recarga
da poro-pressão afasta o estado de tensão da distantes do local da encosta, ou através de
ruptura e, consequentemente, provoca a fraturas ou veios permeáveis da rocha.
diminuição da taxa de deformação por creep. Conforme indica o piezômetro localizado na
Entretanto, durante a fase de elevadas poro- camada inferior do perfil, Figura 1O, pode
pressões, ocorre acúmulo de deformações que ocorrer artesianismo. A variação das poro-
provocam a quebra das ligações entre as pressões ao longo dos anos é cíclica, dentro
partículas, responsáveis pela coesão do dos limites mostrados esquematicamente na
material. Figura 10.
Lacerda (1989) sugere que o limite inferior a Para a verificação experimental desse
partir do qual o estado de tensões efetivas leva mecanismo, Lacerda (1989) propôs a
a deformações por creep e, portanto, ao realização de uma série de ensaios drenados
acúmulo de deformações, é a envoltória de com variação cíclica de poro-pressão. A poro-
resistência residual, Figura 9. pressão ur leva a amostra a um estado de tensão
Considerando-se o ponto A na Figura 9 efetiva até a envoltória de resistência
como sendo representativo do estado de tensão previamente determinada, correspondente a
inicial de um elemento de solo em um talude, 100 % do parâmetro u. definido como
tem-se que, com a elevação do nível
piezométrico, o estado de tensão caminha ao Uc= ((Umá."-Uo) / (ur-uo)). 100 (%) (1)
longo do segmento AD. Se a elevação das
poro-pressões for suficiente para que se atinja a Ensaios desse tipo com vários valores de u.
envoltória, ocorrerá a ruptura, conforme prevê foram realizados por Santos Jr. (1996) no solo
o mecanismo proposto por Brand (1981). residual da Encosta ·do Soberbo, no Rio de
De acordo com Lacerda (1989), a partir do Janeiro. O procedimento experimental dos

386
ensaios com ciclagem de poro-pressão (ensaios é similar ao sugerido na hipótese formulada por
CPP) foi descrito por Santos Jr. et ai (1997). Lacerda (1989).
Os resultados desses ensaios mostraram que
quando a ciclagem se processa na parte interna
da superficie de escoamento plástico definida a 5. CONCLUSÕES
partir de ensaios triaxiais convencionais, ocorre
a quebra das ligações entre as particulas, que Foram apresentados e discutidos o efeito da
resulta na ruptura durante a ciclagem água· sobre a estabilidade de encostas em
(Figura 11 ). A superficie de escoamento regiões tropicais. Ensaios triaxiais especiais que
plástico, no caso de solos residuais, pode ser simulam a elevação do nível de água em
atribuída a efeitos estruturais herdados da rocha encostas realizados sobre amostras
de origem. indeformadas do solo residual da encosta do
Soberbo, no Rio de Janeiro, mostraram que a
,- hp alto
ruptura ocorre com pequenas deformações e é
Variação cnial essencialmente dilatante.
do n(val
Plezom,1rl 300-------------:-----,

200
-,11
Ensaio
fRacha '--- CPP-100
fraturada - ~ ce .
~~ Ensa10
·.,;. CPP-
100

Figura 1O: Situação típica em rochas graníticas


e gnáissicas, segundo LACERDA (1989).

Para rúveis de tensão onde a ciclagem está


acima da superficie de escoamento plástico, a
ciclagem não leva à ruptura. Isso pode ser Figura 11 : Superficie de escoamento plástico e
verificado nos ensaios de ciclagem com crc' = caminhos de tensões nos ensaios CPP, Santos
100 kPa (Figura 11 ). Durante a primeira fase Jr. (1996).
do cisalhamento, onde há o acréscimo de crd,
antes de iniciar-se a ciclagem, o estado de
tensão atinge a . superficie de escoamento.
Nesse ponto ocorre a quebra das ligações entre
as partículas e o solo passa a um estado :J
80+--~--+-----+-------1
desestruturado. Assim, durante a ciclagem de CPP-IO•OI
poro-pressão o solo passa a se comportar como
uma areia, acumulando deformações cisalhantes 60---------.. . . .- - - -
com o aumento da poro-pressão, porém sem
apresentar ruptura, uma vez que as 40•+--.-....,....,~....+-......- .........+----.....i
1 10 100 1000
deformações cessam quando da diminuição da Ndmero a cloloa
poro-pressão. Os ensaios com ciclagem acima
da superficie de escoamento só apresentaram
ruptura quando u. = 100 %. Figura 12: Variação do número de ciclos para a
A Figura 12 mostra os resultados dos obtenção da ruptura em função do parâmetro
ensaios de ciclagem de poro-pressão que foram u. nos ensaios CPP, Santos Jr. (1996).
executados com crc' = 50 kPa e as variações de
poro-pressão abaixo da superficie de Ensaios com variação cíclica de poro-
escoamento plástico. O comportamento obtido pressão realizados no mesmo solo evidenciaram
que é possível a ruptura por ciclagem de poro-

387
~:-essão. Isso se verifica quando a ciclagem se Solos Residuais e Coluvionares da Encosta
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388

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