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O audiovisual jornalístico no YouTube:

um estudo exploratório do canal Nexo Jornal

Gabriel Rizzo Hoewell1


Ana Gruszynski2

Resumo: O artigo analisa o canal do jornal nativo digital Nexo no YouTube a fim de identificar
elementos que permitam investigar articulações entre os modos de agregação, apresentação e
acesso a produtos audiovisuais singulares produzidos pelo jornal. De caráter exploratório, o
trabalho problematiza o canal do YouTube a partir da noção de dispositivo (MOUILLAUD,
1997), constituindo eixos e categorias que possibilitem avaliar as diversas relações que o texto
audiovisual estabelece com os dispositivos que o conformam e, em rede, produzem sentidos.
Observam-se quatro áreas do canal para a identificação de seis eixos de análise: seções e
playlists; canais relacionados; miniaturas; títulos; metadados; dados gerados pela plataforma.
Estabelecem-se categorias para a investigação desses eixos, delineando-se um roteiro para
análise do canal de audiovisual jornalístico no YouTube.

Palavras-chave: Nexo; jornal; YouTube; audiovisual; vídeo.

1. Introdução
Os vídeos para web são um fenômeno crescente e muitas instituições
jornalísticas vêm se dedicando à sua produção. Pesquisa do Reuters Institute3 com 130
editores e CEOs verificou que 79% deles pretendiam investir mais em vídeos
jornalísticos em 2016 que em 2015. A tendência é identificada também em Relatório da

1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da Universidade Federal do
Rio Grandedo Sul (UFRGS) e membro do Laboratório de Edição, Cultura e Design (LEAD).
2
Doutora em Comunicação. Professora do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Informação da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGCOM-UFRGS). Pesquisadora do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Coordenadora do grupo de pesquisa Laboratório de
Edição, Cultura e Design (LEAD).
3
Disponível em: <goo.gl/cqGEgf> Acesso em 17 mai. 2017.
1
Ericsson4 de 2017 onde estima-se que o tráfego de vídeos nos dispositivos móveis deve
crescer e chegar a 75% da totalidade dos dados em circulação em 2022. Entretanto,
somente cerca de 2,5% do tempo despendido nos sites de veículos é consumido vídeos.
A discrepância se explica porque é nas plataformas de redes sociais que os vídeos são
cada vez mais assistidos, afirmam Kalogeropoulos, et. al. (2016). De acordo com os
autores, a ascensão dos vídeos noticiosos online parece mais ser conduzida pela
tecnologia, pelas plataformas como o Facebook, e pelos publicadores que por uma
demanda dos consumidores.
De fato, o Facebook tem apostado nesta modalidade, programando seu algoritmo
para priorizar a divulgação de vídeos (BELL; OWEN, 2017) e fazendo com que o seu
consumo na plataforma se aproxime dos números do YouTube (KALOGEROPOULOS
et. al., 2016). Ainda assim, dada a baixa rentabilidade oferecida pelo Facebook
(NEWMAN, 2017), algumas organizações preferem apostar no YouTube, buscando
maiores receitas e uma plataforma melhor adaptada para a modalidade – com usuários
dispostos a assistir a vídeos mais longos e com o som ligado.
A produção audiovisual vive importante fase desde o surgimento do YouTube,
em 2005. Noam (2009) explica que a TV digital introduz o narrowcasting, com
conteúdos de nicho (anos 1990) e, a seguir, a TV individualizada, que se manifesta na
TV pela Internet e pelo mobile, potencializa a transmissão individual de conteúdos,
fazendo proliferar canais e permitindo uma ubiquidade do acesso (individual casting).
Quanto à produção jornalística, Becker e Teixeira (2009) destacam que sua presença
simultânea na TV e na Internet passa por influências mútuas. Da incipiência inicial de
uma gramática própria de vídeos para web em portais de notícia (BECKER; LIMA,
2007) – o que levou à repetição de conteúdos e formatos – tem-se a gradual qualificação
dos profissionais e da infraestrutura tecnológica, alterando a quantidade e a qualidade de
produção e de acesso aos produtos audiovisuais.
Para Grusin (2009), o YouTube funciona como uma remediação da televisão no
século 21. Em um contexto de convergência (JENKINS, 2009), o YouTube é espaço
onde velhas e novas mídias colidem, mídia corporativa e alternativa se cruzam e
produtor e consumidor interagem. No âmbito do jornalismo, tem-se um processo

4
Disponível em: <ericsson.com/en/mobility-report>. Acesso em 29 jul. 2017.
2
multidimensional que perpassa as esferas tecnológica, empresarial, profissional e
editorial (SALAVERRÍA et. al., 2010). Assim, novas práticas se estabelecem no campo,
que precisa integrar ferramentas, espaços, métodos de trabalho e linguagens, pensando
no consumo multiplataforma e nas características de cada dispositivo.
Este artigo propõe pensar o vídeo jornalístico para web a partir da noção de
dispositivo (MOUILLAUD, 1997). Toma-se como objeto empírico o canal do veículo
nativo digital Nexo no YouTube5 em uma aproximação de caráter exploratório, que tem
como objetivo identificar elementos que permitam, futuramente, analisar as articulações
entre os modos de agregação, apresentação e acesso a produtos audiovisuais singulares
produzidos pelo jornal. A proposta, portanto, é constituir eixos e categorias que
possibilitem avaliar as relações que estabelece o texto audiovisual e os dispositivos que
o conformam e, em rede, ajudam a produzir sentidos.
Surgido em 2015, o Nexo6 se define como “um jornal digital para quem busca
explicações precisas e interpretações equilibradas sobre os principais fatos do Brasil e
do mundo” (NEXO, online). Aproxima-se, assim, de um jornalismo explicativo,
interpretativo ou de contexto, elemento que será levado em conta para a avaliação aqui
proposta. O jornalismo explicativo busca “uma explicação e interpretação de eventos
complexos e fenômenos localizados em um contexto social, político e cultural”
(FORDE, 2007, p. 227). Para Fink e Schudson (2014) há diferentes maneiras de
oferecer contexto, mas o que toda matéria contextual tem em comum é ir além do
“quem, o quê, quando, onde” de um evento recente. Norris (2015, n.p.) resume:
se o conteúdo da notícia se concentra no “Quem, O Que, Quando e
Onde”, o jornalismo explicativo parece informar o leitor do “Como e
Por que”. Ele tenta ficar atrás das notícias para dar informações de
fundo do leitor sobre uma história para garantir que eles sejam
capazes de entender adequadamente os eventos à medida que se
desenrolam.

Prática presente no jornalismo desde a década de 1930 (FORDE, 2007), o


jornalismo explicativo ganha força com a maior facilidade de produção e difusão de
vídeos.

5
goo.gl/nGA9AC
6
nexojornal.com.br
3
2. O YouTube como dispositivo
A informação não existe em si, para Charaudeau (2009). Ela é enunciação,
dependente do campo de conhecimentos que a circunscreve, da situação em que se
insere e do dispositivo em que é posta em funcionamento. Assim, o sentido só pode ser
perceptível através das formas. O discurso de um jornal está envolto em um dispositivo,
não está solto no espaço, afirma Mouillaud (1997). São, portanto, os dispositivos que
preparam o sentido, sendo matrizes em que se inscrevem os textos, comandando a
duração e a extensão destes. Texto e dispositivo são dialeticamente um gerador do outro
(MOUILLAUD, 1997).
A dimensão material do dispositivo compreende o suporte físico da mensagem
(CHARAUDEAU, 2009), que não é vetor indiferente ao que veicula mas sim
formatador da mensagem, lhe conferindo sentido. Para além da materialidade do
suporte, o dispositivo pode ser um lugar imaterial, o que permite pensar os aspectos da
materialidade ligados em rede, articulados com outras esferas – mesmo que imateriais –
que contribuam para a produção do sentido (GRUSZYNSKI, 2016).
Para avaliação do canal do YouTube a partir dessa noção é preciso entender
como a plataforma, como dispositivo, configura o conteúdo jornalístico apresentado. A
transição do dispositivo TV para a TV individualizada (NOAM, 2009) implica em
transformações significativas associadas a parâmetros que orientavam tomadas, técnicas
de edição, uso limitado do som ambiente, regras de enquadramento etc., que têm sido
postos em xeque pelas novas tecnologias, tendo o YouTube um papel central nisso,
afirmam Peer e Ksiazek (2011).
Para os autores, o YouTube aponta para novas práticas que, se julgadas bem
sucedidas em termos de audiência, serão adotadas pelos produtores de conteúdo
noticioso para a TV. A difusão de vídeos pelas plataformas de redes sociais
descentralizou a produção e a disseminação de notícias, tornando-as mais acessíveis a
pessoas de interesses diversos. Sobre esse ponto, é preciso salientar que a curadoria
algorítmica existente no Facebook e no YouTube, por exemplo, pode fazer com que
essa diversidade não se manifeste de fato. Ainda assim, a maior difusão é visível e
proporciona alterações no cenário, com mais atores envolvidos e reconfiguração das
práticas tradicionais.
4
Quando se fala do dispositivo material que envolve o conteúdo jornalístico
publicado no YouTube, remete-se às características dessa TV individualizada. Fala-se
da definição do vídeo, das suas dimensões, da sua extensão, das possibilidades que
oferece ao usuário. Trata-se também das peculiaridades que determinado canal pode
possuir – a organização em playlists e seções, por exemplo. Há, contudo, que se tomar
esse dispositivo também encaixado em diversos outros elementos imateriais que
compõem uma rede. Isto é, quando se trata de um vídeo jornalístico, ele precisa ser
entendido a partir da relação que estabelece com o jornal e suas diversas manifestações.
Ao se pensar a inter-relação entre esses diversos elementos é possível entender, por
exemplo, como determinadas práticas conformadas pelo Facebook evidenciam-se em
textos inscritos em outros dispositivos, como o site de um jornal ou o próprio vídeo do
YouTube. Isso ajuda a explicar também o fenômeno que Peer e Ksiazek (2011)
identificam ao relatar que o sucesso do YouTube força sites ligados ao broadcasting
tradicional a rever suas práticas narrativas, redefinindo o que é convencional no
jornalismo e o que é reconhecido como notícia.
Os dados internacionais do relatório do Reuters Institute de 20177 apontam para
a necessidade de se pensar os vídeos de acordo com a plataforma – aqui entendida como
dispositivo – que os conformam. Naquelas próprias para o vídeo, como o YouTube,
30% dos entrevistados consomem vídeos de notícias curtas, enquanto 12% assistem aos
mais longos. Há ainda 15% que assistem a transmissões noticiosas ao vivo. Entre os
entrevistados, 46% haviam consumido notícia em plataformas de vídeo na última
semana. O mesmo relatório aponta, contudo, que 71% dos pesquisados preferem
notícias em formato de texto, enquanto 14% gostam tanto de texto quanto de vídeo e
9% preferem vídeos. Constata-se que os consumidores querem os dois: se o texto
oferece velocidade no acesso à informação, o vídeo traz mais drama, contexto e
veracidade (NEWMAN, 2017).
No Brasil, o YouTube é o segundo site mais acessado e 95% dos brasileiros
online usam a plataforma pelo menos uma vez por mês. Entre as pessoas de 18 a 49
anos, este tem mais audiência no Brasil que a TV a cabo. Com 98 milhões de usuários
mensais no país, o número de brasileiros conectados pelo site aumentou 54% em dois

7
Disponível em: <goo.gl/D5qfvk>. Acesso em 17 mai. 2017.
5
anos. Segundo o relatório de 2017 do Reuters Institute, trata-se da terceira plataforma de
rede social mais acessada para notícias pelos brasileiros, com 36% dos pesquisados
usando-a para este fim. Já o relatório YouTube Insights 2017 aponta que 31% dos
brasileiros consideram a plataforma uma fonte de aprendizado e 47% entendem que
consumir informação é buscar por novidade (37%) e cultura (20%).

3. Elementos para identificação do canal Nexo Jornal como


dispositivo
O audiovisual para web pode ter diferentes utilidades. Entre elas, transmitir ao
vivo, legitimar a informação escrita, oferecer uma experiência de narrativa imersiva ou
ser recurso explicativo. A revista The Atlantic, por exemplo, aposta em vídeos
explicativos e animações para abordar semanalmente conteúdos mais complexos, como
ciência e política. A estratégia foi aplicada pelo site jornalístico Vox, que triplicou o
número de assinantes de seu canal no YouTube de 2016 para 2017, alcançando quase
meio bilhão de visualizações em seus vídeos explicativos (PATEL, 2017). Os conteúdos
trazem animações, gráficos e filmagens. Mesmo longos para a internet – com quase 10
minutos –, retêm a atenção de grande parte dos espectadores por pelo menos quatro
minutos (PATEL, 2017).
Como vimos, muitos veículos jornalísticos foram se adaptando ao dispositivo, o
que resultou em notícias curtas, texto escrito e um início chamativo. Segundo
Kalogeropoulos et. al. (2016), as soft news tendem a ter melhor recepção, havendo
resistência para conteúdos de hard news. Para os autores, jornais nativos digitais não
estão presos aos legados de outros meios e têm uma propensão maior a arriscar para
ingressar no mercado, razão pela qual se destacam. Porém, para os autores (2016, p.6,
tradução nossa) “ainda que provavelmente vejamos inovações consideráveis no formato
e na produção nos próximos anos, é difícil ver os vídeos substituindo o texto em termos
de variedades de histórias e profundidade de comentário e análise”.
Interessa aqui identificar a presença das produções audiovisuais do Nexo no
canal do YouTube cientes de que elementos singulares assumem significação de modo
articulado com o conjunto. Esta noção é considerada em relação ao conceito de
dispositivo: (1) enquanto forma que estrutura o tempo e o espaço, o que pode ser
6
avaliado nas produções visuais singulares – o que não é o proposto – e na dimensão de
configuração do canal em seus recursos de organização e oferta de experiência aos
usuários; (2) por sua capacidade de se encaixar em outros dispositivos, quando avalia-se
como os elementos próprios da plataforma YouTube acoplam-se à oferta editorial do
jornal.
A linha editorial pressupõe um contrato de comunicação (CHARAUDEAU,
2013) que, no cenário de convergência (JENKINS, 2009), se estabelece e se mantém
pelo gerenciamento de diferentes modalidades de acesso às informações produzidas
pelo veículo. Nesse sentido, o Nexo é um nativo digital que se constitui não apenas com
base no seu site, principal produto, mas pela sua presença em outros recursos como as
plataformas de redes sociais e sua newsletter (Fig. 1). Importa ressaltar que
modalidades de acesso supõe o conteúdo propriamente editorial que é conformado a
partir de dimensões de software – sistema, plataformas, aplicativos etc. – e de hardware
– computador de mesa, computador portátil, tablet, smartphone etc. (GRUSZYNSKI,
2016).8

8
Para este estudo, utilizou-se computadores portáteis PC e Mac com sistemas Windows Vista e OSx, navegador
Chrome.
7
É na articulação entre as diversas manifestações multiplataforma que se
estabelece o contrato de comunicação (CHARAUDEAU, 2009). Esse resulta de
características próprias à situação de troca (dados externos) e características discursivas,
que remetem ao como dizer (dados internos). A partir desses elementos, o emissor
recorta o mundo e transpõe em linguagem os fatos selecionados em função de um alvo e
de um efeito escolhidos, integrando-os a um sistema de pensamento (CHARAUDEAU,
2009). Através do conceito de dispositivo, entende-se que esta integração não se dá
apenas pela composição do texto audiovisual enquanto produto, como também dos
modos como este está vinculado ao site Nexo e, em especial, ao canal no YouTube.
Por meio de uma observação flutuante do canal, estabeleceram-se quatro áreas
para a coleta de dados: as abas “Início”, “Playlists” e “Vídeos” e as páginas dos vídeos.

8
É nelas que serão identificados os eixos analíticos. O canal contava, ao final de julho,
com 205 vídeos, que somam mais de 620 mil visualizações, e cerca de 11.500 usuários
inscritos, conforme os dados gerados pela plataforma (Fig. 2). A partir das páginas
“Início” e “Playlists” percebem-se informações sobre a conformação editorial. O canal
se divide em seis seções: Pessoas que você precisa conhecer (12 vídeos), Entenda o
Brasil (10), Olhe além da fronteira (7), O Brasil não é para amadores (18), Desacelere
(21) e Quer saber mais? (5 playlists de vídeos). Além disso, há 26 playlists criadas pelo
Nexo, sendo as mais destacadas pela quantidade de vídeos: Extratos da semana (57
vídeos), Nexo explica (43) e Desacelere (21). Há ainda uma área no canal dedicada a
Canais relacionados – sugestões geradas automaticamente pelo YouTube, com base
em um algoritmo. Ali aparecem três canais jornalísticos (Vox, TV Folha e Justificando),
o humorístico Porta dos Fundos e dois outros dedicados a debates sobre ciências
humanas (Casa do Saber e Leitura ObrigaHISTÓRIA).

9
Pensando-se o canal como dispositivo, tem-se, portanto, elementos importantes
de sua conformação editorial. Cada uma das seções e playlists estabelecem pré-acordos,
induzem a uma interpretação sobre os conteúdos que ali estão (MOUILLAUD, 1997) e
ordenam o espaço (TRAQUINA, 2016), recortando a universalidade da informação
jornalística. Assim, os títulos de cada seção estabelecem compromissos com o leitor
sobre o que será apresentado nos vídeos: debates sobre o Brasil em Entenda o Brasil,
recortes biográficos em Pessoas que você precisa conhecer, vídeos explicativos em
Nexo explica, materiais com temas leves em Desacelere. Cabe ressaltar a articulação do
canal Nexo Jornal com outros dispositivos já que seções como Olhe além da fronteira e
Desacelere remetem a seções presentes também na newsletter a_nexo, enviada pelo
10
Nexo (HOEWELL, 2017). Por fim, a lista de canais relacionados encaixa o dispositivo
Nexo Jornal em outros, que se imbricam em uma rede que constrói significados para o
leitor. Identificam-se, assim, três eixos para a análise: o agrupamento por seções e
playlists, os canais relacionados e os dados gerados pela plataforma, que serão
discutidos na sequência.
Para a avaliação exploratória, optou-se por averiguar os mais populares (Fig. 3),
a partir dessa categorização proposta pelo YouTube. Tomou-se a tela que reúne 30
vídeos e, a partir da imagem da miniatura9 que representa os vídeos, chegou-se a 7
categorias (Fig. 4): Ilustração [geral], abarcou aquelas produzidas com animação e que
remetem a elementos representativos do tema tratado; Fotografia [geral], traz imagens
de caráter indicial (objeto pré-existente) e que evocam elementos representativos do
tema tratado; Fotografia [particular], traz imagens de caráter documental/retrato que
representam indivíduos particulares; Fotografia [geral] + texto [título], traz imagens
fotográficas de caráter ilustrativo do tema junto de texto que informa do que se trata;
Fotografia [particular] + texto [identificação-sujeito] traz imagens de caráter
documental/retrato que representam indivíduos particulares aliadas a texto que
identifica quem são; Fotografia [particular] + texto [tema] agrega imagens de caráter
documental/retrato que representam indivíduos particulares aliadas a texto que
identifica o tema tratado e; Fotografia [particular] + texto [identificação-
sujeito+seção] corresponde a imagens de caráter documental/retrato que representam
indivíduos particulares aliadas a texto que identifica quem são e a seção temática. Tem-
se, portanto, estratégias de uso de imagens icônicas, indiciais e de caráter geral ou
particular, que podem estar (ou não) aliadas a textos que identificam temas, seções e/ou
indivíduos. É fundamental ressaltar também que o tempo do vídeo aparece incorporado
às miniaturas, o que demonstra a importância deste elemento no que se refere ao
consumo de audiovisual na web. A miniatura é, deste modo, o terceiro eixo para análise.

9
Esta pode ser um frame do próprio vídeo ou pode-se fazer o upload de imagem especialmente produzida.
11
Ao ser o primeiro elemento de identificação dos vídeos, a miniatura, quando traz
imagens acompanhadas de texto, possibilita a rápida percepção do que se trata. O
segundo movimento é recorrer aos títulos dos vídeos, que seguem na legenda da
plataforma. Vê-se aqui alternativas de articulação de dispositivos: recorre-se aos
recursos próprios do YouTube – possibilidade de colocar legenda/título do vídeo e
inserção de imagem representativa do vídeo – de dois modos: um complementar,
quando a leitura da imagem é orientada pelo texto inserido na plataforma, outro com
algum nível de redundância, quando a imagem selecionada já orienta também
12
textualmente a identificação do conteúdo. Avaliando o conjunto, observa-se que não
existe uma identidade visual consistente que vincule os vídeos a seções e/ou categorias,
tampouco ao próprio jornal a partir de informações contidas na miniatura. Pensando que
é um veículo que se propõe como explicativo, a carência de elementos de identificação
pode apontar uma dificuldade de apropriação de recursos da plataforma pelo veículo.
Vê-se que 19 miniaturas não trazem texto e que a maioria delas traz imagens
resultantes de animação (10), outras são de caráter fotográfico que ilustram temas
tratados (4) e outras ainda trazem retratos (5). Sobre estes dois últimos casos, pode-se
considerar que há certa sobreposição entre as de característica fotográfica que trazem
pessoas, mas será a posição e a postura dos sujeitos representados que permite supor seu
caráter particular, no sentido de serem indivíduos que estão dando depoimentos ou
participando de debate. Disso depreende-se a importância do texto para conduzir a
leitura das imagens, principalmente se o acesso se dá por uma tela em que não há a
organização por seções.
Relevantes em sua articulação com a miniatura, os títulos também são eixo para
análise. De fato, como Estarque (2017) aponta, a postura editorial do Nexo de ir além do
factual e pensar o contexto se reflete nos títulos: “muitas são perguntas com elementos
do lide jornalístico: quem, como, por que” (ESTARQUE, 2017, n.p.). Assim, a
avaliação dos títulos dos 30 vídeos selecionados pode permitir inferências para
compreender os materiais explicativos, tendo em vista que estes são elementos do pré-
acordo estabelecido com o leitor (MOUILLAUD, 1997).
Sua classificação leva em consideração a construção e a composição. Com
relação à construção, observa-se a existência de título e subtítulo ou de apenas título.
Toma-se como indicadores a existência de dois-pontos, da barra (|) e, em um caso, da
vírgula. Com relação à composição, identifica-se a existência de: pronomes
interrogativos (o que, como, por que etc.), verbos de elocução e atividade mental
(explicar, debater, entender etc.), expressões indicativas de seção/tema/gênero
jornalístico (debate, entrevista), enunciado interrogativo, ausência de verbo e
enunciado afirmativo.
Tem-se, assim, a seguinte categorização: Título – Ausência de verbo, como “As
raízes da violência no Brasil” e “A história por trás da ordem das letras nos teclados de

13
computador”; Título – Pronome interrogativo, como “O que é a dívida pública” e
“Como a pirâmide etária do Brasil mudou ao longo das gerações”; Título – Verbos de
elocução e atividade mental, como “Pedro Monteiro discute a atualidade de 'Raízes do
Brasil'” e “Entenda o que são as pedaladas fiscais”; Título – Enunciado interrogativo,
como “Modelo social da Constituição de 88 ainda é sustentável?”; Título – Enunciado
afirmativo, como “Maioria dos árabes é muçulmana. Mas maioria dos muçulmanos não
é árabe” e “Os leões não ronronam”; Título e subtítulo – Ausência de verbo, como
“Barba: uma milenar história de amor e ódio” e “Cidade caminhável: as características
do design urbano amigável”; Título e subtítulo – Expressão indicativas de
seção/tema/gênero, como “‘Carandiru’ a ‘Prisioneiras’: entrevista com Drauzio
Varella”; Título e subtítulo – Pronome interrogativo, como “Identidade nacional: o que
é ‘ser brasileiro’”; e Título e subtítulo – Verbos de elocução e atividade mental +
Expressão indicativa do formato de seção/tema/gênero, como “A violência no Brasil
explicada por Sergio Adorno | Entrevista Completa” e “Debate: entenda a crise
econômica”.
Como se vê, o uso do subtítulo tem, normalmente, função de explicar, após os
dois-pontos, o título. A complementação entre título e subtítulo ajuda a indicar o caráter
explicativo do vídeo. Apresenta-se o tópico sobre o qual o vídeo discorrerá e, após os
dois-pontos, introduz-se a abordagem proposta. Com relação aos títulos sem verbo, o
que se percebe é um distanciamento da composição de um título noticioso, hard news,
que tradicionalmente traz um verbo. Além disso, o uso de expressões como “história”,
“contexto” e “raízes” evidenciam a proposta de contextualização e explicação do jornal.
Como dito, o uso de pronomes interrogativos pode ser indicativo de um vídeo
explicativo, contudo percebem-se outras titulações que aparecem com frequência. É o
caso das que optam por verbos de elocução ou atividade mental. Tratam-se de vídeos
que indicam, pelo verbo no título, parte de sua finalidade discursiva: explicar, fazer
entender, discutir. Alguns desses podem se enquadrar no gênero informativo, caso das
entrevistas e debates. Assim, no Nexo, a ideia de explicação pode ser complementada
com a apresentação de pontos de vista que promovem o debate, abrindo possibilidades
de entendimento. Nesse sentido, outros padrões de títulos são os que identificam seções,
como as entrevistas, e os que interrogam, também indicando o objetivo de discutir

14
temas. Verificam-se ainda títulos que, em vez de interrogar, afirmam, em estratégia que
tenta, possivelmente, intrigar o leitor, que buscaria, então, a explicação para a
afirmação.
É nas páginas dos vídeos que se observa com maior clareza a presença dos
metadados, outro eixo de análise. Estes são dados que identificam recursos de
diferentes ordens presentes na Internet permitindo que os conteúdos sejam localizados.
São, assim, fundamentais para a integração e troca de informações entre sites e
diferentes plataformas digitais, atuando para a integração da rede e constituição dos
dispositivos. Há um conjunto de técnicas que visam a otimização de diferentes tipos de
sites para a obtenção de rankings orgânicos que gerem tráfego e autoridade baseados
também nos metadados. No âmbito da Web 3.0, ambiciona-se que conteúdos
disponíveis estejam organizados de forma semântica, o que possibilita a personalização
para diferentes usuários, com sites e aplicativos orientados por comportamentos de
navegação. O YouTube recomenda práticas para uso de metadados 10: não inserir
metadados enganosos para aumentar visualizações; observar cuidadosamente utilização
e locais de inclusão de tags; considerar o fornecimento de contexto.
Entre os recursos oferecidos pela plataforma estão uma descrição do vídeo, a
categorização por temas (como Pessoas e blogs, que reúne quase todos os vídeos
analisados, indicando pouca preocupação do site com essa categorização, ou Notícias e
política), que remete, via hiperlink, a vídeos afins, e a licença (padrão do YouTube11 ou
Creative Commons). Quem posta o vídeo é responsável por sua inserção.
Na Figura 5, pode-se observar o acesso para um vídeo exemplar. Ao ser inserido
no canal, passa a ser mediado pelos recursos nele disponíveis – play, pause, tela cheia,
modo teatro etc. –, fazendo com que a estruturação do tempo e do espaço constituídos
no produto audiovisual em si esteja articulada com aquela proporcionada pela
plataforma. Na avaliação dos metadados inseridos para a descrição dos 30 vídeos mais
populares, constatou-se que não existe coerência e coesão nos textos, aspecto crítico
para um veículo que se apresenta como explicativo. Ora tem-se o nome da seção, ora
crédito para narração, ora errata, por exemplo. O que é em parte regular são os links

10
Disponível em: <http:/goo.gl/YcoFg8>. Acesso em 31 jul. 2017.
11
Item 6 dos termos de utilização do site. Disponível em: <youtube.com/t/terms>. Acesso em 31 jul. 2017.
15
para o site e para página do Facebook (Fig. 5), ainda que alguns termos se alterem.
Pensando na integração entre dispositivos, a remissão à matéria no jornal – que ocorre
em apenas dois casos – forneceria ao usuário a possibilidade de continuar a navegação a
partir de área de interesse, uma vez que no site tem-se o link para o tema (Fig. 6).
Ressalta-se que a inserção dos metadados realizada pela equipe do jornal, assim como
das miniaturas e títulos é representativa da dificuldade de integração entre o jornal (site)
e o canal (YouTube) enquanto dispositivos.

16
Há também a possibilidade de se identificar outras informações relevantes para
análise a partir de dados gerados pela plataforma. O artigo não se aprofundará neles,
mas se reconhece sua relevância para investigação de estratégias editoriais e comerciais
17
do jornal e integração entre os dispositivos. Um dado oferecido na página dos vídeos,
por exemplo, são os comentários dos usuários. O Nexo, porém, não os permite,
tampouco abre a contribuição para inserção de legendas em outros idiomas. Destaca-se,
ainda, com fins de qualificação deste roteiro, a análise dos vídeos relacionados, via
algoritmo, pelo YouTube. Estes são apresentados na lateral desta página e indicam
possibilidades de acesso e agregação de conteúdos singulares. Por fim, há as
estatísticas12, que são atualizadas diariamente e indicam contagem de visualizações
diárias, tempo de visualização, número de inscritos habilitados (usuários que se
inscrevem no canal após ver o vídeo) e quantidade de compartilhamentos.
Na Figura 7, identificam-se estatísticas referentes ao vídeo em questão, tomado
como exemplo. Nos quatro gráficos é possível perceber um comportamento semelhante,
com um pico de visualizações em abril de 201613. Trata-se de uma exceção. A maior
parte dos vídeos analisados tem um pico inicial, no dia de sua publicação, e depois se
estabiliza, com um crescimento lento. Tais dados são influenciados pela rede
estabelecida entre o dispositivo canal do YouTube e outros, como Facebook e o site do
jornal. Isto é, o compartilhamento do vídeo em outras plataformas tende a impulsionar
suas estatísticas, o que explica picos. As estatísticas exibidas na Figura 6 são de dados
acumulados, ou seja, mostram totais gerais dia-a-dia. Há a opção de exibi-las
diariamente, visualizando-se os subtotais de cada dia, individualmente. Assim, os dados
estatísticos podem servir à análise como indicador da eficiência das estratégias
editoriais adotadas pelo canal.

4. Considerações finais
O trajeto percorrido nesta pesquisa de caráter exploratório permite delinear um
roteiro (Fig. 8) para uma futura análise do canal do Nexo no YouTube. Partindo-se da
discussão proposta por Mouillaud (1997) e Gruszynski (2016) e refletindo-se sobre a
prática jornalística em um cenário de convergência, identifica-se o canal Nexo Jornal

12
O proprietário do canal tem a opção de esconder as estatísticas do público.
13
No caso do vídeo “Entenda o que são pedaladas fiscais”, o crescimento coincide com a votação do processo de
impeachment da então presidenta Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, em 17 de abril. É justamente a
necessidade dos leitores de compreender os motivos do julgamento que pode explicar o aumento no número de
visualizações. Evidencia-se, assim, a relevância do vídeo explicativo para o jornalismo.
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como um dispositivo que conforma o conteúdo audiovisual e se encaixa em outros
dispositivos, construindo sentidos para a leitura.
Constatou-se quatro áreas para a coleta de dados, as quais foram analisadas a
partir de seis eixos, que apontaram para categorias. Nas abas “Ínicio” e “Playlist”,
identificaram-se o agrupamento por seções e playlists e os canais relacionados. Seções e
playlists são elementos que estabelecem pré-acordos com o leitor e unificam produtos
singulares, preparando o sentido. Já canais relacionados encaixam outros dispositivos
(canais) em rede, redefinindo, também, os sentidos da leitura. Na aba “Vídeos”,
averiguaram-se aqueles mais populares a partir das miniaturas que, por sua vez, se
articulam com os títulos. Por fim, nas páginas dos vídeos, observaram-se metadados que
permitam considerar relações estabelecidas entre os dispositivos YouTube, Facebook e
o site do jornal, e também dados gerados pela própria plataforma, como as estatísticas.

Figura 8 - Roteiro de avaliação proposto

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O roteiro de análise que se propõe para a sequência da investigação passa,
portanto, por identificar nas diversas áreas, através dos indicadores aqui expostos, as
categorias em que se encaixam os vídeos. Estas são pensadas em seis eixos: (1) seções e
playlists; (2) canais relacionados; (3) miniaturas; (4) títulos; (5) metadados; (6) dados
gerados pela plataforma.
Entende-se que são esses eixos que permitem identificar os modos de agregação,
apresentação e acesso aos produtos audiovisuais singulares produzidos pelo Nexo e
conformados pelo seu canal, como dispositivo. Mesmo que as categorias tenham
particularidades próprias do canal Nexo Jornal, compreende-se que os eixos e áreas são
elementos úteis para a análise de outros canais do YouTube, propondo-se, assim, um
roteiro para operacionalização de pesquisas de outros jornais que se utilizem desse
dispositivo.

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