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Aula 5 O art.1.228, p.

2º afirma que são defesos os atos que não tragam ao proprietário benefícios e ainda
prejudique outrem. Tal norma trata do abuso de direito de propriedade e, por meio de interpretação literal,
adota a teoria dos atos emulativos, que demanda intenção de prejudicar outrem. Nos termos expressos do
FATO E ATO JURÍDICO CC, o abuso do direito do art.187 não segue a teoria dos atos emulativos, com exceção do abuso de direito
de propriedade (art.1.228, p.2º), segundo a interpretação literal do dispositivo.
No entanto, é firme o entendimento no sentido de se superar a letra fria do art.1.228, p.2º, de forma a
Fato jurídico lato sensu não se exigir a teoria dos atos emulativos nem no abuso de direito de propriedade. Todos os instrumentos
do Estatuto da Cidade visam a coibir os atos ilícitos e o abuso de direito de propriedade, logo, seria
inimaginável que a incidência de tais institutos se subordinasse à demonstração de que o sujeito quer
Todo acontecimento natural ou decorrente da vontade que gera efeitos jurídicos. prejudicar outrem. Logo, a própria função social da sociedade faz com que a teoria dos atos emulativos não
De acordo com TEPEDINO, o fato jurídico lato sensu gera situações jurídicas. Para ele, situação seja acolhida para fins de abuso de direito de propriedade, embora os termos expressos do art.1.228, p.2º
jurídica é um gênero que comporta 4 espécies: possa assim indicar.

- Direito subjetivo: que pressupõe a existência de um correspondente dever jurídico; Exemplo mais contemporâneo de abuso do direito: teoria do adimplemento substancial, segundo
a qual aquele que recebe a quase-totalidade da prestação não pode exigir a resolução do contrato, mas
- Direito potestativo: ao qual corresponde um mero estado de sujeição; apenas o cumprimento dos valores remanescentes, sob pena de abuso de direito. Tal teoria é mencionada
- Poder jurídico: exercido no interesse de outrem. Ex: poder familiar; tutela no E.361/CJF.

- Ônus: a inobservância do ônus não acarreta qualquer ilicitude, e sim uma posição de desvantagem. Ex: E.361/CJF – Arts. 421, 422 e 475: O adimplemento substancial decorre dos princípios
ônus de um comprador do imóvel averbar a escritura no RGI; ônus de recorrer e contestar no processo gerais contratuais, de modo a fazer preponderar a função social do contrato e o princípio da
boa-fé objetiva, balizando a aplicação do art. 475.
A natureza jurídica do contratante de escolher entre a resolução do contrato ou a exigência do
cumprimento da prestação, no caso de inadimplemento da outra parte contratante, é de direito potestativo.
Logo, a princípio, o outro contratante inadimplente deveria se sujeitar à escolha. Portanto, o adimplemento
Fato jurídico stricto sensu substancial evidencia que mesmo os direitos potestativos estão sujeitos a controles valorativos, devendo ser
exercidos em conformidade com a lógica principiológica e os valores do sistema. Portanto, é possível a
existência de abuso do direito de direito potestativo.
Todo acontecimento natural que gera efeitos jurídicos. Pode ser ordinário (ex: morte, nascimento e o Existe uma regra do CC/02 que evidencia a teoria do adimplemento substancial – a evicção parcial do
mero transcurso do tempo) ou extraordinário (ex: tempestades, maremotos). art.455. O evicto poderá optar entre a rescisão ou a restituição de parte do preço caso perca parte
considerável do bem. Por interpretação analógica, entende-se que, caso perdesse parte de menor
expressão do bem, não poderia pleitear a rescisão do contrato, mas tão somente o abatimento do preço à
Ato ilícito lato sensu luz da teoria do adimplemento substancial. Logo, é uma aplicação do adimplemento substancial em sede de
evicção.
Outra diferença essencial entre o ato ilícito strictu sensu e o abuso do direito é quanto à
São atos humanos contrários do Direito que se subdividem em 2: responsabilidade civil: o art.186 evoca responsabilidade subjetiva, enquanto o abuso do direito é caso de
Ato ilícito strictu sensu: é o ato ilícito do art.186, tradicional: conduta, dano, dolo ou culpa e nexo responsabilidade civil objetiva.
causal. OBS: O CC/16 não tratava do tema do abuso do direito, e não deveria ter, visto que possuía a pretensão de
Ato antijurídico: seria o previsto no art.187: abuso do direito. É incontroverso que abuso de direito é completude. Logo, a partir da idéia de que o ordenamento jurídico é completo, ou a lei proíbe e o ato é
ato ilícito. ilícito, ou então a lei não proíbe e o ato é lícito. O abuso do direito parte da premissa de que o Direito
objetivo não resolve todas as questões, pressuponde a ascensão dos princípios.
Qual seria a diferença do ato antijurídico do 187 do ato ilícito do 186? No ato jurídico strictu
sensu ocorre a violação dos limites formais impostos pelo legislador (o sujeito viola frontalmente o Direito O ato ilícito seria jurídico? A 1ª corrente diz que não, por entender que o que é jurídico deve ser
positivo), ao passo que no abuso do direito ocorre a violação dos limites axiológico-normativos impostos lícito. A 2ª corrente entende que o ato ilícito é jurídico por gerar conseqüências jurídicas. Com o CC atual, a
pelo ordenamento jurídico; o sujeito exerce seu direito em desarmonia com os valores e princípios do controvérsia continua: por um lado, temos um Título destinado aos negócios jurídicos e outro Títulos
sistema, ainda que não se tenha intenção de prejudicar outrem (violação de limites valorativos, específico para os atos jurídicos lícitos e, em seguida, o Capítulo dos atos ilícitos. Logo, há quem diga que
principiológicos). Ex: pelo fato de o legislador utilizar tais nomenclaturas, os atos ilícitos não seriam jurídicos.

O art.187 não adota a teoria dos atos emulativos.


Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, Ato lícito / ato jurídico lato sensu
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-
fé ou pelos bons costumes.
Se o fato humano é desenvolvido em harmonia com o ordenamento, há o ato lícito, ou ato jurídico
lato sensu.
Negócios jurídicos
Dentro desta categoria, surge uma primeira dicotomia importante: ato jurídico strictu sensu X
negócio jurídico:
Semelhanças entre ato jurídico em sentido estrito e negócio jurídico: ambos resultam da vontade Possuem elementos essenciais, naturais e acidentais.
humana. 1 - Elementos essenciais: de existência e de validade.
Diferenças: a diferença está nos efeitos, pois os efeitos do ato jurídico em sentido estrito são ex 1.1 - Elementos essenciais de existência:
legem, ou seja, resultam da lei (ex: reconhecimento de paternidade; aceitação e renúncia à herança); os
efeitos do negócio jurídico, por sua vez, são ex voluntatis, decorrem da vontade (ex: contratos, testamento, 1.1.1 - Sujeito
promessa de recompensa). 1.1.2 - Manifestação de vontade
Nos atos jurídicos, há liberdade de iniciativa, ao passo que nos negócios jurídicos há Objeto materialmente existente: exceções – art.460 (contrato aleatório); art.483 (compra e venda sobre
liberdade de iniciativa e de regulamentação. coisa futura)
Dentro dessa dicotomia, o CC/02 adota o chamado sistema dualista: o CC trata dos institutos em **1.1.3 - Idoneidade do objeto (GONÇALVES; AMARAL): uma hipoteca sobre bem móvel, ressalvadas
Títulos separados, reconhecendo a existência da dicotomia. Os negócios jurídicos são tratados nos art.104 as exceções legais, não seria existente, pela inidoneidade do objeto. Tal elemento não é aceito por toda
– 184, e os atos jurídicos em sentido estrito são tratados nos art.185. a doutrina, visto que há quem o considere requisito de validade.
Art.185 – a sistemática dos negócios jurídicos se aplica, no que couber, aos atos jurídicos em sentido
estrito. Ex: termo, condição ou encargo (art.121 – 137) não podem ser aplicados aos atos jurídicos.
1.2 – Elementos essenciais de validade: podem ser gerais ou específicos.
1.2.1 - Elementos essenciais gerais de validade:
Ato-fato jurídico
1.2.1.1 - Agente capaz, objeto lícito e forma prescrita ou não proibida.
Em relação à capacidade, não esquecer da teoria do ato-fato, que a mitiga, e também prestar
No ato-fato, o ordenamento jurídico não leva em conta a vontade dirigida à prática do ato, e sim as atenção no art.105, o qual deve ser interpretado junto com o 177: a outra parte do negócio não pode invocar
conseqüências que ele produz. O ato-fato poderia resultar de 2 fatores: a incapacidade relativa da outra parte em benefício próprio.

- fatos socialmente aceitos, que sejam de pouca expressão econômica, que venham a atender aos
interesses imediatos e cotidianos do incapaz e que sejam usualmente praticados com recursos destinados Quanto ao objeto, o artigo trata do objeto material (coisa) ou do objeto jurídico (conteúdo
pelo próprio representante ou assistente (ex: criança pegar ônibus para a escola e comprar merenda) resultante da vontade)? ZENO VELOSO e ORLANDO GOMES entendem se tratar de objeto material,
- disposição legal. Ex: art.1.263 – ocupação, aquisição de bem móvel sem dono (ex: criança que pega logo, o objeto inválido do negócio jurídico seriam as armas, os entorpecentes, etc.
concha na praia), a qual tem natureza de ato-fato, não sendo determinante a vontade dirigida ao ato, não se No entanto, a doutrina majoritária entende que o dispositivo trata do objeto jurídico, pois a análise do
aplicando o regime das incapacidades; art.1.264 – 1.266 – tesouro; especificação – art.1.269. objeto material seria insuficiente para que fosse verificada a invalidade do negócio jurídico. Ex: se há
PONTES DE MIRANDA classifica o ato-fato com 3 subespécies: celebração, por parte do Poder Público, de contrato de transporte de maconha para análise em laboratório –
o objeto material é ilícito, mas o objeto jurídico é lícito.
Atos-fatos reais ou materiais: circunstâncias fáticas, fatos socialmente aceitos, ocupação, etc.
O objeto ilícito é sinônimo de objeto juridicamente impossível? CAIO MARIO defende que sim,
Atos-fatos indenizativos: são atos não contrários ao direito, porém geradores do dever de indenizar. Ex: mas a tendência é no sentido de não serem expressões sinônimas, pois o objeto ilícito gera conseqüências
estado de necessidade (art.188, II c/c art.929 e 930) achádegos. atreladas à ilicitude (responsabilidades penal e cível, por exemplo); o objeto juridicamente impossível, por
Atos-fatos caducificantes: possuem o condão de extinguir direitos. Ex: prescrição e decadência sua vez, não produz qualquer efeito por força de vedação legal (ex: contrato envolvendo herança de pessoa
viva – art.426).
Ato-fato jurídico e ato jurídico strictu sensu são sinônimos? Há quem diga que ato-fato jurídico
seria a mesma coisa que ato jurídico em sentido estrito, o que não é correto. Neste existe liberdade de O art.883 realça a diferença entre os termos “ilícito” e “juridicamente impossível”, pois afirma que “não
iniciativa, havendo importância da vontade humana, que será determinante na interpretação do ato jurídico tem direito a repetição quem deu algo para obter fim ilícito, imoral ou proibido por lei” (logo, ilícito não se
em sentido estrito. Tanto é verdade que cabe vício de consentimento no ato jurídico em sentido estrito. confundiria com o que é proibido por lei, que entraria na ótica do juridicamente impossível). Ademais, o
art.123, I e II, trata respectivamente da condição juridicamente impossível e condição ilícita, ressaltando a
No ato-fato jurídico, por sua vez, a vontade humana é irrelevante, tanto que o regime da incapacidade
distinção entre “ilícito” e “juridicamente impossível”.
não é aplicável. Ademais, o ato-fato não se confunde com fato jurídico strictu sensu, o qual resulta da
natureza, enquanto aquele decorre da vontade humana, embora esta seja desprezada pelo ordenamento.
OBS: Inf.470/STJ – impenhorabilidade do bem de família legal. A impenhorabilidade do bem de família Quanto à forma, trata-se do meio pelo qual se exterioriza a vontade. É pacífico o entendimento de
afasta o seqüestro do bem protegido; STJ disse que o fato de o bem ser arrematado em outro processo, o que a forma é presumidamente livre no direito civil (art.104, III c/c 107).
saldo eventualmente remanescente continua protegido pelo bem de família.
A forma, segundo classificação, pode ser ad probationem tantum (a forma é apenas instrumento de O que são negócios bifrontes? São negócios que podem ser gratuitos ou onerosos. Ex: mandato,
comprovação do ato. ex: art.227) ou ad solenimi tatem (??). Neste 2º caso, a forma é elemento essencial à mútuo e depósito
validade do ato (ex: compra de imóvel). A importância da distinção é que apenas forma ad probationem
GONÇALVES e TARTUCE seguem uma 4ª espécie (além dos onerosos, gratuitos e bifrontes), dos
tantum pode ser suprida em caso de confissão, revelia e ausência de impugnação e pode ser suprida por
chamados negócios jurídicos neutros: aqueles desprovidos de atribuição patrimonial, tratando
instrumento posterior. Ademais, a 2ª classificação, se não observada, leva à nulidade absoluta do negócio
especificamente da destinação dos bens. Ex: a inserção de cláusula de inalienabilidade, de
jurídico.
incomunicabilidade e impenhorabilidade; a instituição do bem de família voluntário.
1.2.1.2 - Ausência de defeitos do negócio jurídico;
O professor não concorda, pois entende que tais casos são casos de atos jurídicos strictu sensu: sua
1.2.1.3 - Ausência de impedimento aplicação depende da vontade, mas seus efeitos estão previstos em lei.
OBS – ponderações sobre a cláusula de inalienabilidade: Inf.508/STJ - a cláusula de inalienabilidade se
desconstitui automaticamente com a morte do “beneficiado”, devido ao seu caráter personalíssimo;
1.2.2 – Elementos essenciais específicos de validade:
ademais, ressalta-se que a cláusula de inalienabilidade pode ser mitigada por razão de conveniência
Ex: coisa, preço e consenso (art.482) – compra e venda econômica (art.1.911, parágrafo único), o que decorre da natureza protetiva da cláusula. Também, com
ainda mais razão, se justificaria a mitigação da cláusula em prol da dignidade da pessoa humana, por
razões existenciais (JÁ VISTO!).
2 – Elementos naturais: decorrem naturalmente da celebração do negócio, independentemente de
previsão contratual. Ex: vícios redibitórios e evicção. O CC/02 exige a justa causa para inserção da cláusula da inalienabilidade no art.1.848. O que
justifica a exigência da justa causa é a função social da propriedade, visto que a cláusula inibe a
As partes, porém, podem afastar a incidência dos elementos naturais, como no caso do art.448. Tal transmissão de bem e a circulação de riquezas.
artigo é de duvidosa aplicação em contratos de adesão por conta do art.424.

Art.108 – Exigência de forma para negócios envolvendo bens imóveis.


3 – Elementos acidentais: eventualmente se fazem presentes. A presença ou não de tais elementos
resulta da vontade. Condição, termo ou encargo. Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à
validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou
A causa é elemento essencial de validade do negócio jurídico? Não, mas é importante na renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário
qualificação negocial. Motivo representa as razoes subjetivas que levam a pessoa a celebrar negócio mínimo vigente no País.
jurídico; a causa representa os efeitos mínimos e indispensáveis à caracterização de determinado tipo
negocial, logo, a qualificação do negócio ocorre por conta da causa do negócio. Tal regra comporta exceções:

Negócio fiduciário X Negócio indireto X Simulação: no negócio fiduciário as partes se utilizam - Art.61, p.5º lei 4.380/64 – Sistema financeiro da habitação;
de um tipo mais amplo do que aquele usualmente adotado para atingir determinado fim. Ex: empresário - Art.38 lei 9.514/97 – Sistema de financiamento imobiliário
viaja e precisa outorgar mandatos para que seus subordinados pratiquem atos de gestão. No entanto,
- Art.89 lei 6.404/76 – Incorporação de imóvel para capital social de S/A
percebe que eles são insubordinados e não seriam capazes. Logo, celebra contrato de propriedade
resolúvel com um administrador de sua confiança para que este proceda à tarefa. Ex2: alienação fiduciária
em garantia – quero comprar um bem, mas não tenho dinheiro; celebro um contrato de mútuo e transfiro a
Art.109 – a forma pode ser essencial à validade do contrato caso as partes assim decidam; princípio
propriedade para garantir o cumprimento do contrato de mútuo – logo, há transferência de propriedade com
da autonomia privada.
o mero escopo de firmar garantia. No negócio fiduciário, o meio excede o fim (RIZARDO).
Art. 109. No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem
O oposto acontece no negócio indireto, no qual as partes se utilizam de um tipo negocial de efeitos
instrumento público, este é da substância do ato.
menores do que o tipo usualmente adotado para o atingimento de determinado fim. Ex: quero vender imóvel
para X, mas não poderei estar presente para formalizar tudo no cartório, etc. Logo, outorgo mandato para X
com poderes para fazer tudo em meu nome. Portanto, há utilização de mandato não para transferir poderes, Art.106 – A impossibilidade do objeto, para ensejar a invalidade do negócio deve ser originária, pois
e sim para transferir propriedade – mandato em causa própria (art.685). se esta for superveniente, não será causa da invalidade, e sim causa de aplicação da teoria dos riscos, da
Na simulação há um conluio entre o declarante e o declaratário com o objetivo de enganar terceiro, onerosidade excessiva, etc.
criando uma situação de aparência negocial. No negócio fiduciário e no negócio indireto, por sua vez, o que Art. 106. A impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for
as partes declaram corresponde à realidade, não havendo mera aparência negocial. O que ocorre nestes é relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinado.
que as partes se utilizam de um determinado tipo negocial para produzir efeitos que não lhe são próprios, o
que é justificável pelo princípio da autonomia privada. Ademais, tal impossibilidade não invalida o negócio caso seja relativa, apenas a impossibilidade
absoluta pode gerar invalidade; impossibilidade relativa é subjetiva, ou seja, referente apenas à pessoa (ex:
Os negócios jurídicos podem ser onerosos ou gratuitos. Há discussão se a doação com encargos deficiente físico que não pode dirigir). Ainda, diz o CC/02 que não há invalidade se esta impossibilidade
é gratuita ou onerosa: majoritariamente, entende-se que é gratuita, pois o encargo é elemento acidental do cessa antes do implemento da condição. Tal artigo, na parte final, deve ser interpretado com o art.125, parte
negócio jurídico, e não contraprestação. O CC/02 parece ter adotado a corrente oposta: os art.441, final (não há direito até o implemento da condição suspensiva).
parágrafo único e 562 falam em doação onerosa explicitamente. Logo, o simples fato de haver encargos
faria com que a doação tornasse onerosa.
Interpretação dos negócios jurídicos Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a
reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha
conhecimento.
Tal tema tem relevância prática quando nos deparamos com a divergência entre a vontade declarada Sinônimo de “reticência”. O sujeito declara algo com a reserva mental de não querer aquilo que
e a vontade interna, pois com as técnicas de interpretação busca-se apurar qual das vontades deve manifestou; o sujeito é reticente em relação àquilo que declara. Há divergência entre a vontade declarada e
prevalecer: a vontade declarada ou a interna. a vontade interna. ex: mútuo ao amigo suicida.
- Teoria da vontade: há a prevalência da vontade interna, que corresponde à vontade real. Na época em Qual das vontades prevalece, neste caso, a declarada ou a interna? Se o declaratário não sabe da
que a autonomia privada era um valor absoluto tal teoria fazia sentido, pois a função primordial do Estado reserva mental, prevalece a vontade declarada. Tal vontade só não prevalecerá se o declaratário souber da
nas relações privadas era resguardar a vontade real. reserva mental.
- Teoria da declaração: devido à insegurança gerada pela teoria da vontade, surgiu a teoria da declaração, Neste caso, se ele souber da reserva mental do declarante, a declaração de vontade não subsiste.
segundo a qual prevalece a vontade declarada, em nome da segurança jurídica. Logo, qual será a natureza jurídica do negócio jurídico exteriorizado pelas partes? A posição predominante
- Teoria da responsabilidade: num meio termo entre as 2 teorias, surgiu a chamada teoria da é no sentido da inexistência do negócio, partindo de uma interpretação literal do art.110: se o declaratário
responsabilidade, a qual preconiza a prevalência da vontade interna, salvo se o declarante é o responsável sabia, a manifestação de vontade não subsiste, o que levaria à inexistência (se não há vontade, o negócio é
(culpado) pela divergência. Tal teoria norteou o instituto do erro no CC/16, cujo elemento essencial era se o inexistente) – GONÇALVES; ROSENVALD.
erro era escusável ou não para ensejar a invalidade do negócio jurídico. Em sentido diverso, TEPEDINO (minoritário) ilustra seu posicionamento com um exemplo: 3 pessoas
- Teoria da confiança: modernamente, surge uma 4ª teoria: a teoria da confiança. Segundo tal teoria, são sócios de uma PJ sobre a qual recaem dívidas fiscais expressivas. Para se esquivar de tais dívidas,
fundada no princípio da confiança, deve prevalecer a vontade declarada, desde que a mesma venha a eles transferem suas quotas a um terceiro, mas permanecem na qualidade de procuradores do adquirente,
conduzir outrem a uma legítima expectativa. Difere da teoria da responsabilidade, que se concentrava na continuando na PJ, embora não sejam mais sócios. Posteriormente, as dívidas fiscais são anistiadas, e os 3
culpa ou não do declarante, enquanto a preocupação da teoria da confiança recai sobre a legítima sócios que queriam se esquivar alegam reserva mental para destituir a compra e venda das quotas. Neste
expectativa do declaratário. caso, se o adquirente não sabia da reserva mental, ele terá sua legítima expectativa protegida e a compra e
venda permanece intacta; se ele, por outro lado, sabia da reserva mental, terá ocorrido simulação, que
O princípio da confiança é contemplado no E.363/CJF. acarreta na nulidade do negócio jurídico.
E.363/CJF – Art. 422: Os princípios da probidade e da confiança são de ordem Portanto, TEPEDINO alega que a diferença entre a reserva mental e a simulação é que, naquela, o
pública, sendo obrigação da parte lesada apenas demonstrar a existência da violação. declaratário é enganado pelo declarante, enquanto na simulação o declaratário sabe da reserva mental,
levando à nulidade absoluta.
Ainda, tal princípio é conseqüência direta do art.113, que prevê uma das funções da boa-fé objetiva: a
função de interpretação dos negócios jurídicos. Reserva mental X Erro: em ambos há divergência entre a vontade declarada e a vontade expressa.
Na reserva mental, a divergência é intencional, o declarante sabe da divergência, enquanto no erro isto não
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os
ocorre.
usos do lugar de sua celebração.
OBS: NERY diz que há uma exceção à regra do art.110 e ao princípio da confiança na hipótese do
art.1.899, que teria adotado a teoria da vontade em sede de testamento.
Por outro lado, o art.112 deve ser interpretado com cautela – numa leitura apressada, aparentemente
Existe uma classificação da reserva mental presente apenas em um Manual: a reserva mental pode
o dispositivo adota a teoria da vontade. No entanto, a expressão “nelas” enfoca nas declarações. Portanto,
ser:
o art.112 não adota a teoria da vontade, e sim a teoria da declaração.
Absoluta: o sujeito declara a intenção de celebrar determinado negócio quando não pretende celebrar
Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas
negócio algum, como no caso do mútuo ao amigo suicida;
consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.
Relativa: o sujeito declara a intenção de celebrar determinado negócio quando pretende praticar outro
tipo negocial;
Há regras específicas de interpretação: art.423 (contratos de adesão); 843 (transação); 819 (fiança);
Restrição mental: o sujeito exterioriza a vontade com mais de 1 sentido, esperando que o declaratário a
1.899 (testamento); 47 CDC; 114 (negócios jurídicos benéficos e renúncia).
entenda de modo diverso da vontade real.
OBS: interpretação estritiva não se confunde com restritiva, na qual o intérprete restringe, corta parte da
norma. Ex: quando a CR/46 dizia que o casamento era indissolúvel, merecia interpretação restritiva, pois
era sabido que a morte extinguia o casamento. Quando o CC/02 menciona interpretação estritiva, quer dizer
interpretação literal.

Aula 6
Reserva mental (art.110)

Art.111 – o silêncio importa em anuência em determinadas situações.


Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o
autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa.
Logo, nem sempre quem cala consente. A parte final do dispositivo evidencia que o silêncio nunca
Art.125 – Condição suspensiva:
pode importar em anuência em negócios solenes, que exigem declaração expressa de vontade.
Art. 125. Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva,
Ademais, por tal artigo percebe-se que na assunção de dívida, o silêncio não é anuência, com
enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa.
exceção do art.303: como há garantia real, o legislador dispensa o consentimento expresso do devedor
para assunção de dívida. Inclusive, há Enunciado que menciona que a recusa deve ser justificada, sob pena Enquanto não houver o implemento do evento futuro e incerto, o negócio jurídico não produz efeitos.
de abuso de direito. Logo, no período de pendência não há aquisição de direitos. Há um aparente conflito entre o art.125 e o
art.6, p.2º da LINDB, segundo o qual são adquiridos os direitos na pendência da condição.
Silêncio não é a mesma coisa que declaração tácita de vontade: silencio importa em abstenção total;
na declaração tácita de vontade, esta se extrai da conduta do agente, que evidencia sua vontade. Ex: O conflito é apenas aparente, pois é preciso diferenciar o direito expectativo do direito visado: o
art.1.805 – aceitação tácita da herança; art.659 – aceitação do mandato pode ser tácita, quando o art.125 trata do direito visado (o qual a parte pretende adquirir se houver o implemento da condição),
mandatário não aceita, mas começa a atuar em nome do mandante. enquanto o art.6, p.2º LINDB trata do direito expectativo (direito adquirido à aquisição do direito visado se
houver o implemento da condição), que já é adquirido no período da pendência.
Artigos que tratam de efeitos jurídicos atinentes ao silêncio: 53, 512, 1.640, 529, 1.807, 327, 331,
1.738, 299, parágrafo único c/c 303, 432. Efeito prático da distinção: imagine que no período de pendência advém mudança legislativa que
considera o negócio jurídico ilícito. Esta nova lei NÃO pode afetar o direito expectativo, que é verdadeiro
direito adquirido.
Retornaremos ao estudo dos elementos acidentais...
OBS: “direito expectativo” é o termo mais privilegiado, mas o CC, no art.130 trata do instituto como “direito
eventual”, o que é criticado.
3.1 Condição (art.121): deriva da vontade das partes e subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro
e incerto. Logo, seus elementos são: voluntariedade e evento futuro e incerto.
Art.126 – conseqüência da titularidade do direito expectativo

Art. 121. Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da Art. 126. Se alguém dispuser de uma coisa sob condição suspensiva, e, pendente
vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto. esta, fizer quanto àquela novas disposições, estas não terão valor, realizada a condição,
se com ela forem incompatíveis.
O casamento é condição suspensiva em relação ao pacto antenupcial? Não, pois falta
Há controvérsias quanto ao dispositivo:
voluntariedade. O pacto antenupcial não deixa de produzir efeitos por conta da vontade, ele não produz
efeitos antes do casamento porque a LEI NÃO PERMITE. - a 1ª corrente defende que o art.126 contempla a retroatividade das condições suspensivas (RIZARDO).
Haveria retroatividade, pois todos os atos posteriores à condição que se realizam no período de pendência
Se o negócio jurídico for “dar-te-ei o imóvel se sorteado na loteria ontem” e as partes
e que forem contrários à condição, são desconstituídos caso esta venha a ser implementada. Ex: X dá o
efetivamente não souberem o resultado do sorteio, trata-se de condição suspensiva? Não, pois falta o
imóvel para Y caso este passe no vestibular. X, no período de pendência, vende o imóvel para Z e Y passa
elemento futuridade. Logo, se o evento é passado ou presente, mas desconhecido pelas partes, trata-
no vestibular logo depois. Por tal corrente, Y pode desconstituir a compra e venda, pois esta é incompatível
se de condição imprópria.
com o implemento do evento futuro e incerto.
Nem todos os atos admitem condição, sendo chamados de atos puros. Ex: atos jurídicos strictu
Ressalta-se que a aplicação do art.126 em relação a imóveis depende da averbação do negócio
sensu, nos quais há liberdade de iniciativa, mas não de regulamentação, pois todos os efeitos deles
jurídico que contenha a condição suspensiva no RGI. Em relação a bens móveis não sujeitos a registro, o
derivam da lei. Outra manifestação dos atos puros se dá nos direitos da personalidade, pois a tutela
art.126 não se aplica em detrimento de terceiros de boa-fé.
diferenciada da dignidade da pessoa humana não comportaria condição.
OBS: em uma situação em que fosse celebrada uma compra e venda de bem móvel não sujeito a registro
Por fim, AMARAL diz que também são atos puros determinados atos unilaterais de eficácia imediata,
com condição suspensiva e, no período da pendência, o proprietário celebrasse compra e venda com
pois a condição acabaria dilargando a eficácia imediata de tais atos. Ex: endosso, concentração (quando se
terceiro de boa-fé, o instituto que socorre o 1º comprador é a evicção, pois a C/V com o 3º de boa-fé é uma
escolhe um bem nas obrigações alternativas e de dar coisa incerta), gestão de negócios.
circunstância anterior à aquisição do direito visado.
Art.121 – a condição deriva exclusivamente da vontade DAS PARTES. Apesar de tal redação, é firme
Ademais, o art.126 não se aplica em relação a bens fungíveis.
o entendimento de que é cabível a condição em negócio jurídico unilateral, como no testamento, por
exemplo. A 1ª corrente, já vista, não é absoluta, pois, para que pudéssemos dizer que as condições
suspensivas são retroativas, teríamos que observar efeitos ex tunc em relação a outros aspectos que não
O instituto da condição pode ser um instrumento para que as próprias partes dêem repercussão
apenas os atos de disposição, pois o dispositivo prevê apenas efeitos ex tunc em relação os atos de
jurídica ao motivo, o qual, conforme visto, não possui relevância jurídica, a princípio.
disposição que fossem incompatíveis com a condição acordada. Imagine-se que houve seqüestro e arresto
A classificação mais tradicional divide a condição em suspensiva ou resolutiva. do bem sob compra e venda com condição suspensiva. Neste caso, os efeitos ex tunc não se aplicam aos
atos de Administração praticados sobre o bem no período de pendência. Ex: frutos percebidos no período
de pendência – se afirmássemos que a condição suspensiva produz efeitos ex tunc em caráter gera, todos
os frutos percebidos no período de pendência deveriam ser entregues ao novo titular do direito, quando o
entendimento é quase unânime de que os mesmos ficam com o proprietário à época, até porque o art.1.232 O art.128 parte final prevê uma exceção que diz respeito aos negócios de execução continuada ou
prevê que os frutos e mais produtos da coisa pertencem ao proprietário, ainda que separados. Logo, a periódica: os atos já praticados em tais negócios não seriam atingidos pela condição resolutiva.
condição suspensiva não produz efeitos retroativos em relação aos frutos percebidos.
Art. 128. Sobrevindo a condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o
Portanto, o que se afirma é que o art.126 é uma decorrência da titularidade do direito direito a que ela se opõe; mas, se aposta a um negócio de execução continuada ou
expectativo, e não consagra em caráter de generalidade efeitos retroativos à condição suspensiva. periódica, a sua realização, salvo disposição em contrário, não tem eficácia quanto aos
Logo, os autores estabelecem que não é possível afirmar qual seria a regra em relação às condições, se atos já praticados, desde que compatíveis com a natureza da condição pendente e
estas seriam retroativas ou não. Portanto, a retroatividade das condições deveriam ser analisadas no caso conforme aos ditames de boa-fé.
concreto.
Ex: o proprietário resolúvel aluga imóvel a 3º e recebe os alugueis. Com o implemento da condição
Em havendo negócio jurídico sujeito a condição suspensiva, é conveniente que as partes resolutiva, o proprietário resolúvel não teria que restituir os alugueis ao novo proprietário.
estabeleçam um limite temporal para o implemento desta, evitando a incerteza e insegurança. Apesar do
Existe uma dificuldade lógica e prática de se aplicar efeitos retroativos em negócios de execução
silêncio do CC/02, na ausência de acordo entre as partes quanto ao limite temporal, é possível que uma das
continuada ou de trato sucessivo. Ex: contrato de trabalho – os efeitos ex tunc da nulidade do contrato de
partes vá ao Judiciário para que este seja fixado.
trabalho são muito mitigados; se a nulidade implicasse na devolução dos valores percebidos pelo
Benfeitorias realizadas no período de pendência: quanto às benfeitorias necessárias, as mesmas são empregado, haveria enriquecimento sem causa do empregador.
passiveis de indenização. Por outro lado, quanto às benfeitorias úteis, há 2 caminhos: aplicação analógica
do art.1.219 (indenização em favor do possuidor de boa-fé) ou aplicação analógica do art.505, que trata da
retrovenda. Este dispositivo fala que as benfeitorias úteis só serão indenizadas ao proprietário resolúvel se Art.129 – hipótese em que o implemento ou não da condição é manipulado por uma das partes.
autorizadas pelo vendedor. Art. 129. Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo
O 1.219 trata do possuidor de boa-fé, que supõe que a coisa lhe pertence. Na retrovenda, o sujeito implemento for maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer, considerando-
sabe que o bem lhe pertence, mas que há condição resolutiva, a qual lhe proporciona tratamento menos se, ao contrário, não verificada a condição maliciosamente levada a efeito por aquele a
privilegiado, visto que ele sabe que pode vir a perder a propriedade. quem aproveita o seu implemento.
Ex: contrato seja: pago valor X pelas ações se elas obtiverem valor Y. O investidor vai e manipula o
valor das ações para poder vendê-las conforme o avençado.
Art.127 – Condição resolutiva:
Quando o art.129 afirma “maliciosamente”, exige a presença de dolo. Discordando, TEPEDINO afirma
Art. 127. Se for resolutiva a condição, enquanto esta se não realizar, vigorará o
que a exigência de dolo é um resquício do CC/16; a boa-fé objetiva impõe dever anexo de cooperação.
negócio jurídico, podendo exercer-se desde a conclusão deste o direito por ele
Logo, ainda que a parte não tenha agido dolosamente, se propiciar a antecipação ou postergação da
estabelecido.
condição, terá violado o dever anexo de cooperação e de cuidado.
O negócio produz seus efeitos até que haja o implemento da condição resolutiva, que extingue a
Ademais, se a manipulação do implemento da condição decorre de terceiro, a conseqüência é a
eficácia do negócio.
responsabilidade civil deste perante o prejudicado pelo implemento ou não-implemento da condição,
O aspecto que chama mais atenção é a 1ª parte do art.128: caem todas as situações jurídicas protegendo a legítima expectativa do contratante.
incompatíveis com a condição que tenha sido acordada. Ex: doação com cláusula de reversão (art.547) –
doador transfere o bem ao donatário, que deverá ser devolvido ao doador em caso de morte do donatário.
Neste caso, o donatário pode vender ou doar o bem a terceiros? SIM. Neste caso, o art.1.359 é Art.122, 2ª parte: as condições podem ser perplexas/contraditórias.
conseqüência do art.128, 1ª parte: quem tem propriedade resolúvel, transfere propriedade resolúvel. Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem
Logo, quem transfere coisa sob condição resolutiva pode dispor da mesma, ainda que de forma pública ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem
contrária ao negócio jurídico sob condição resolutiva. No entanto, neste caso da doação com cláusula de de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes.
reversão, se o donatário dá o bem para terceiro, mas vem a falecer antes do doador, a doação feita para Em geral, tais condições resultam de uma contradição em seus próprios termos. Ex: dou essa casa a
terceiro cai, fica sem efeito e o bem retorna ao doador, pois a transferência foi incompatível com a condição Y, se, antes, vender a X. Há bom exemplo de ROSENVALD: dou esse imóvel a X, se X não usar, gozar ou
resolutiva. dispor do imóvel – não há contradição, mas esvaziamento do instituto da propriedade.
Para alguns, isto seria atribuição de efeitos ex tunc à condição resolutiva, a qual teria o condão de Ainda, as condições podem ser casuais, potestativas ou mistas.
apagar todas as situações jurídicas incompatíveis com a sua ocorrência. Vale lembrar que a condição
resolutiva deve estar registrada para ser oponível erga omnes. Em caso de bens moveis não sujeitos a Condições casuais: aquelas cujo implemento depende do acaso ou de terceiro.
registro, o art.1.359 não se aplica em detrimento de terceiros de boa-fé. Condições potestativas: o implemento depende da vontade uma das partes. Subdividem-se em
Assim como no caso da condição suspensiva, a afirmativa de que o art.128 consagra em caráter simplesmente potestativas/potestativas simples/não arbitrárias (a condição depende da vontade de uma das
geral retroavidade às condições resolutivas não é imune às críticas; o art.128 trata apenas de uma faceta partes e também de outros fatores); e meramente potestativas/puramente potestativas/arbitrárias (o
retroativa das condições resolutivas. implemento depende do arbítrio de uma das partes).
A condição meramente potestativa é vedada pelo art.122, parte final. Ex: art.489 – nulo é o contrato
de C/V quando o preço é fixado unilateralmente depois de cumprido o contrato.
STJ: a cláusula que protege o bloqueio do cartão de crédito no caso de inadimplemento não é meramente Tal diferenciação gera um reflexo no direito obrigacional: a mora pressupõe a utilidade da prestação,
potestativo, pois não depende apenas do arbítrio, e sim do inadimplemento; enquanto o inadimplemento absoluto aniquila a utilidade da prestação. Logo, o descumprimento do termo
essencial gera inadimplemento absoluto, enquanto o descumprimento do termo não essencial gera, a
Condição mista: o implemento depende da vontade de uma das partes e também da vontade de
princípio, mora.
terceiro. Ex: “se constituíres sociedade com Fulano”.
A última classificação é que o termo pode ser potestativo (o declarante se reserva à faculdade de
As condições, ainda, podem ser ilícitas ou juridicamente impossíveis: ambas são incompatíveis
cumprir a obrigação quando quiser ou quando puder) ou não potestativo.
com o ordenamento jurídico. A diferença está no grau de violação: as condições ilícitas atingem valores
fundamentais do sistema e atentam contra liberdades fundamentais em caráter absoluto (ex: “se mudares Art.135 – as disposições das condições se aplicam ao termo, no que couber.
de religião”; “se não exerceres profissão”); as condições juridicamente impossíveis não atingem valores
Art. 135. Ao termo inicial e final aplicam-se, no que couber, as disposições
fundamentais, mas encontram algum tipo de obstáculo normativo (ex: “se se emancipares aos 12 anos de
relativas à condição suspensiva e resolutiva.
idade”; pacta corvina).
Ex: 31 de fevereiro é termo impossível. Logo, é invalidante ou inexistente? Para responder, deve-se
Os efeitos práticos da distinção entre condições ilícitas e juridicamente impossíveis são os seguintes:
recorrer à sistemática das condições: se for termo inicial, será invalidante, se for termo final, será
as condições ilícitas são sempre invalidantes (art.123, II), enquanto as condições juridicamente impossíveis
inexistente.
só são invalidantes se suspensivas (art.123, I), pois são inexistentes se forem resolutivas (art.124).
Tal classificação, que não era prevista no CC/16, separa as condições em invalidantes (art.123) e
inexistentes (art.124). Na condição invalidante, a invalidade da condição contamina o negócio jurídico. Na 3.3 – Modo ou encargo: representam um ônus que se estabelece a um ato de liberalidade. Por isso, se
condição inexistente, a condição é tida como não escrita, subsistindo o negócio jurídico, que produz efeitos aplicam, necessariamente, a negócios jurídicos gratuitos, pois se estivermos diante de negócios jurídicos
como se a condição jamais tivesse sido acordada. oneroso, não serão encargos, e sim contraprestações.
Se o beneficiário falecer antes de cumprir o encargo, é preciso diferenciar 2 situações:

Art.124 – são também inexistentes as condições de não fazer impossíveis, nas quais faltam a - se o encargo é personalíssimo, resolve-se o negócio jurídico. Ex: sujeito doa um imóvel para um artista
condição de incerteza. com encargo de que o artista pinte um quadro.

Art. 124. Têm-se por inexistentes as condições impossíveis, quando resolutivas, - se o encargo não é personalíssimo, o objeto da liberalidade e a obrigação de cumprir o encargo se
e as de não fazer coisa impossível. transmitem aos sucessores do beneficiário.

As condições meramente potestativas, a rigor, não estão previstas nem no art.123 e nem no 124. Existem 2 diferenças essenciais entre encargo e condição: o encargo é não suspensivo (o negócio
Elas são consideradas invalidantes ou inexistentes? O professor entende que é invalidante, pois tais produz efeitos em que pese o encargo existente) e coercitivo (aquele que pratica a liberalidade tem o direito
condições atentam contra a autonomia privada. de exigir o cumprimento do encargo). Inclusive, existem regras específicas do contrato de doação sobre a
exigibilidade dos encargos, como o art.553, parágrafo único - se o encargo for de interesse geral, o MP
OBS: há posição de CAIO MARIO e ORLANDO GOMES no sentido de que toda esta sistemática que vimos
pode exigir o cumprimento do encargo depois da morte do doador, mas não pode exigir a revogação da
é mitigada em sede de testamento; o art.1.899, segundo tais autores, traz a idéia de que as condições
doação, faculdade exclusiva do doador.
devem ser consideradas não escritas quando forem ilícitas ou impossíveis, visto que o artigo impulsiona o
interprete à preservação da vontade do testador (se as condições fossem tidas como invalidantes, por No tema da revogação da doação, há dúvida se o art.559 (prazo de 1 ano para revogar) se aplica
exemplo, todo o testamento cairia por terra). apenas à ingratidão ou também à inexecução do encargo. O STJ já se manifestou no sentido de que tal
prazo é especifico para a revogação da doação pela ingratidão do donatário, enquanto o prazo para revogar
por inexecução do encargo é o prescricional, de 10 anos.
3.2 – Termo: os elementos característicos do termo são a voluntariedade e o evento futuro e certo.
Há, ainda, uma diferença entre o encargo e a condição resolutiva: com o implemento desta, resolve-
Diferentemente do que ocorre com a condição suspensiva, o termo inicial suspende o exercício, mas se automaticamente o negócio jurídico, enquanto o descumprimento do encargo não extingue
não a aquisição do direito (art.131). automaticamente o negócio jurídico: a parte vai poder exigir o cumprimento do encargo ou pleitear a
resolução do negócio jurídico.
Art. 131. O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito.
Há uma classificação que divide o termo em certo ou incerto. Tal classificação é atrelada à questão
temporal: no termo certo, se sabe quando o evento irá ocorrer, enquanto no termo incerto, não há tal Art.137 – o encargo ilícito ou impossível, em regra, é inexistente.
conhecimento da data do termo (ex: morte).
Art. 137. Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se
Outra classificação divide o termo em inicial (se aproxima da condição suspensiva; tempo a partir do constituir o motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio
qual o negócio vai surtir efeitos) ou final (a partir do qual o termo deixa de produzir efeitos). jurídico.
Outra classificação: termo essencial (ex: se compromete a entregar o vestido de noiva na data do Como o encargo é não suspensivo, faz sentido que, se for ilícito ou impossível, seja inexistente.
casamento) e termo não essencial: termo essencial é aquele cujo descumprimento afasta a utilidade da Agora, quando a ilicitude for motivo determinante da liberalidade, o encargo passa a ser invalidante. Ex:
prestação para o credor, ao passo que o termo não essencial é aquele cuja inobservância não afasta a deixo uma bolada para um amigo construir uma casa de prostituição.
utilidade da prestação. Caiu tal distinção no MPE.
É unanime na doutrina o entendimento de que o encargo pode gerar custos para o destinatário da
liberalidade, e usualmente isso ocorre. ZENO VELOSO afirma que o destinatário da liberalidade responde
pelo cumprimento do encargo dentro dos limites do objeto da liberalidade. Ex: se alguém doa um imóvel a No CC/16, quando havia exigência de que o erro fosse escusável, independentemente da
outrem com o encargo de o donatário saldar uma dívida hipotecária de outro imóvel no valor X, se o possibilidade de verificação do mesmo pelo declaratário, havia a proteção apenas do declarante; agora,
donatário saldar tal dívida, já terá cumprido o encargo. como o erro também deve ser identificável pelo declaratário para que ocorra a anulação, há proteção de
seus interesses.
Por fim, a 2ª corrente finaliza afirmando que basta que o erro seja verificável pelo outro contratante
para que possa ser anulado o negócio jurídico, não precisando ser escusável (E.12/CJF I – na sistemática
DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO do art.138, é irrelevante ser ou não escusável o erro, por força do princípio da confiança). O legislador
exige, portanto, que o erro seja perceptível ao outro contratante, e não que o mesmo de fato soubesse.
E.12/CJF – Art. 138: Na sistemática do art. 138, é irrelevante ser ou não escusável o
Se subdividem em vício de consentimento e vício social e geram a anulabilidade do negócio jurídico
(art.171, II). erro, porque o dispositivo adota o princípio da confiança.

No vício de consentimento, há divergência entre a vontade declarada e a vontade interna. São - a 3ª corrente (TEPEDINO; VELOSO) defende que o E.12, ao exigir que o erro seja perceptível ao outro
vícios de consentimento: o erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão. contratante, privilegia o princípio da confiança. No entanto, segundo a 3ª corrente, pelo fato de se ter
adotado o princípio da confiança, isso não afasta a exigibilidade de escusabilidade do erro ao declaratário.
No vício social há divergência entre a vontade declarada e o ordenamento jurídico. Fraude contra
credores. A simulação não é vício, e sim causa de nulidade. O E.12 vem na lógica de que o princípio da confiança vem desvinculado da noção da escusabilidade
do erro e TEPEDINO discorda disso, segundo o qual o erro deve ser escusável E perceptível ao
declaratário. O E.12 vem na lógica de que o princípio da confiança é incompatível com a noção da
escusabilidade porque esta está atrelada à teoria da responsabilidade, à idéia de censurabilidade da
conduta. TEPEDINO reinterpreta a exigência da escusabilidade à luz da boa-fé objetiva: afirma que quando
Erro / ignorância (art.138/144) o CC se contenta com a mera perceptibilidade do erro, não exigindo que este seja conhecido pelo outro
contratante, acaba por impor a este contratante (declaratário) o dever de cuidado. Por outro lado, quando se
exige a escusabilidade do erro, estar-se-ia exigindo o dever de cuidado do declarante. Cairia, portanto, a
Na ignorância, o desconhecimento é total, enquanto no erro é parcial. Seus efeitos práticos, contudo, idéia de punição da teoria da responsabilidade e viria à tona o dever anexo de cuidado, que vincularia o
são os mesmos. declarante E o declaratário. Logo, segundo TEPEDINO, o princípio da confiança não afastaria a exigência
A definição clássica de erro é a falsa percepção da realidade. Neste ponto, surge uma 1ª de escusabilidade, ao contrário, um complementaria o outro: a perceptibilidade impõe dever de cuidado ao
classificação, segundo a qual o erro pode ser substancial/essencial ou acidental/não essencial. declaratário e a escusabilidade imporia dever de cuidado ao declarante.

O erro essencial incide sobre elementos decisivos da celebração do negócio, ao passo que o erro Erro de direito (PGE): erro de direito significa desconhecimento da norma ou a sua equivocada
acidental recai sobre elementos desimportantes. Só há vício de consentimento, portanto, se o erro for interpretação. Havia dúvida no CC/16, que é enfrentada pelo CC/02: o erro de direito gera anulabilidade?
essencial/substancial. Por isso o art.138 afirma que os são anuláveis os negócios jurídicos com erro BEVILAQUA sempre afirmou que não, por conta do art.3 da LINDB: ninguém se escusa de cumprir a norma
substancial. alegando seu desconhecimento.

Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade No art.139, III, o CC/02 adota a tese oposta, de CAIO MARIO, afirmando que o erro de direito pode
emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência ser substancial é provocar a anulabilidade do negócio jurídico.
normal, em face das circunstâncias do negócio.
Art. 139. O erro é substancial quando:
A espontaneidade é característica típica do erro, visto que este parte do próprio declarante (se
houver induzimento ao erro, trata-se de dolo). Surge aqui a seguinte questão: à época do CC/16, a doutrina I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma
era unânime no sentido de que bastaria que o erro fosse escusável (desculpável) para gerar a das qualidades a ele essenciais;
anulabilidade. No CC atual, art.138 parte final, surgem 3 correntes:
II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a
- o art.138, parte final passa a exigir explicitamente a escusabilidade do erro do declarante (GONÇALVES).
declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante;
Logo, o que antes era apenas doutrinário, sob à égide do CC/16, passou a ser entendimento presente em
lei (posição minoritária)! III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único
Tal corrente é minoritária porque o erro escusável é desculpável. Se a intenção do legislador fosse ou principal do negócio jurídico.
contemplar a escusabilidade, teria dito o oposto: o art.138 afirma que é anulável o negócio que tenha erro
perceptível por pessoa normal! A PGE perguntou se o art.139,III do CC/02 é exceção em relação à norma do art.3 da LINDB. A
resposta é NÃO. As regras estão em sintonia, pois o que a LINDB proíbe é a alegação do desconhecimento
- a 2ª corrente (majoritária), neste sentido, aponta que o art.138 exige que o erro do declarante seja da norma para descumprir esta, enquanto o art.139, III permite a alegação de erro de direito para anular o
perceptível ao declaratário: a pessoa de diligência normal seria o declaratário, e não o declarante. Logo, negócio jurídico, o que é bem diferente. Ex: X celebra compra e venda importando mercadoria,
quando o CC/02 exige que o erro seja perceptível ao outro contratante para anular o negócio jurídico, a lei desconhecendo norma que proibia importação da mesma. Neste caso, X pode alegar erro de direito para
privilegia a legítima contratante do mesmo. pleitear a anulabilidade do negócio, e não para importar o bem.
Ademais, a própria redação do art.139, III indica a sintonia com o art.3 da LINDB, pois fala: erro é A grande maioria da doutrina afirma que tal declaração expressa do motivo como razão determinante
substancial quando for de direito e não implicando recusa à aplicação da lei... não precisa ser escrita, ainda que o contrato seja escrito (GONÇALVES, TEPEDINO). Quem diverge,
isoladamente, é CARVALHO SANTOS, que entende que a declaração deve ser escrita.
Em SP houve caso concreto interessante em que X alienou fundo de empresa a Y alegando ter
Aula 7
clientela quando, na verdade, não havia clientela nenhuma. Y conseguiu anular a compra e venda.

Art.139 – Modalidades de erro substancial/essencial: ressalta-se que apenas o erro substancial pode
Art.141 – aplicação do erro no caso de transmissão errônea de vontade por meios interpostos.
gerar a anulabilidade do negócio jurídico.
Art. 141. A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável nos
- Erro in negotio (inciso I, 1ª parte): erro que incide sobre a própria natureza do negócio. Ex: celebra
mesmos casos em que o é a declaração direta.
doação, quando supõe estar celebrando uma C/V.
A premissa de tal norma é de que declarante e declaratário não estejam frente a frente e o meio
- Error in corpore (inciso I, 2ª parte): erro que incide sobre o objeto, de difícil aplicação prática. Ex: sujeito
interposto pode se dar de 2 formas distintas: por meio de pessoa interposta (mensageiro) ou por meio de
que compra casa em rua X achando que era rua do Leblon, quando era rua do Grajaú; erro que incide sobre
meios de comunicação (fax, internet).
quadro, que é falso.
O CC diz que se o mensageiro transmite equivocadamente a vontade que lhe foi confiada, o negócio
- Error in substancia/qualitatis (inciso I, 2ª parte): erro que incide sobre a qualidade do objeto. Ex: compra
é anulável. SILVIO RODRIGUES entende que se alguém elege mensageiro flagrantemente incompetente, a
uma estátua de osso achando ser de marfim.
culpa in eligendo exclui a aplicação do art.141. TEPEDINO, seguindo CARVALHO SANTOS, diz que o
Qual a diferença entre error in substancia para vício redibitório? Error in substancia trata-se de art.141 não se aplica se a divergência for intencional por parte do mensageiro, quando se faz presente a
defeito subjetivo, ao passo que no vício redibitório há defeito oculto objetivo. A sistemática de tais vícios culpa in eligendo, neste caso caberia responsabilidade civil do mensageiro.
está nos art.441 – 446. Outra diferença é que o error é vício de consentimento, enquanto vício redibitório é
Não se pode confundir a figura do mensageiro com o representante: o núncio ou mensageiro é
elemento natural do negócio jurídico, que decorrem independentemente da vontade. Por fim, quanto aos
apenas um meio interposto para declaração de vontade, enquanto o representante emite sua própria
efeitos, o error gera anulabilidade, enquanto o vício redibitório autoriza a propositura das ações edilícias
vontade em nome e em favor do representado, havendo dose de discricionariedade em seu favor.
(abatimento ou redibição do contrato).
Ademais, em se tratando de representação, não se aplica o art.141, pois há regras específicas do
Portanto, se alguém adquire um relógio que funciona perfeitamente mas não é de ouro como
mandato: se o representante atua além dos poderes, o representado não se vincula. Situação distinta é
supunha o adquirente, a hipótese é de error in substancia, diferentemente da hipótese de um relógio que
aquela em que o representante atua dentro de seus poderes, mas inobservando as instruções conferidas
não funciona bem.
pelo representado: neste caso, o representado se vincula perante a outra parte e terá pretensão
O STJ trouxe uma concretude prática para tal distinção: o sujeito era proprietário de um automóvel ressarcitória perante o representante.
modelo 1995. Gostou tanto que comprou o mesmo automóvel modelo 2001, mas depois percebeu que não
Erro-motivo X erro-obstativo/erro-obstáculo/erro impróprio: o erro-motivo incide na formação da
tinha comprado o top de linha. Invocou o art.26, afirmando que a garantia contratual se soma à garantia
vontade, ao passo que o erro obstativo incide na declaração de vontade.
legal, mas o STJ entendeu se tratar de erro in substancia, cujo prazo começa a contar independentemente
do prazo de garantia legal, No direito comparado, o erro-motivo gera anulabilidade, pois a anulabilidade resulta do vício de
consentimento, que é o vício na formação da vontade. No erro obstativo, porém, as legislações se dividem.
- Error in persona (inciso II): erro sobre a pessoa. Na realidade, tal erro acaba exercendo papel fundamental
Na Alemanha, tal erro gera nulidade absoluta, e na França, gera inexistência do negócio jurídico.
em certas situações específicas, como nos contratos gratuitos ou personalíssimos.
No direito brasileiro, tal classificação não tem efeito prático, pois o erro gera sempre anulabilidade,
Tal erro pode ser determinante nas estipulação em favor de terceiro, podendo haver tal erro em
segundo o art.139. Haveria o erro-obstativo nos casos do error in negotio e no erro in corpore, pois nestas 2
relação a figura do beneficiário.
hipóteses o erro incide na exteriorização da vontade.
- Erro de direito (inciso III): já analisado na aula passada.
Art.142 – 144: tais dispositivos são inspirados no princípio da conservação dos atos e negócios
jurídicos.
Art.140 – exceção à regra de que o motivo não tem relevância jurídica, por dizer respeito às razões
de ordem objetiva. Art. 142. O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração
de vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se
Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como puder identificar a coisa ou pessoa cogitada.
razão determinante.
Art. 143. O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade.
Tal artigo afirma que se o motivo for expresso como razão determinante, a sua falsidade pode viciar a
declaração de vontade. Faz sentido, pois neste caso o motivo deixa de ser elemento puramente subjetivo.
Art. 144. O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a
Ex: doador que transfere bem ao donatário por conta deste ter salvado a vida do doador e, posteriormente, quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade
o doador percebe que quem salvou foi outra pessoa. Neste caso, a doação poderia ser anulada por conta da vontade real do manifestante.
do falso motivo.
Dolo (art.145/150)
Logo, é possível se sustentar que não há solidariedade por ausência de previsão legal. Por outro
lado, é possível se sustentar a solidariedade passiva com base no art.942 – cláusula geral de solidariedade
O dolo é a provocação intencional do erro.
passiva em sede de responsabilidade civil – sempre que houver mais de um autor do ato ilícito, ambos
O dolo pode ser principal/essencial/determinante (incide sobre elementos essenciais à celebração respondem solidariamente.
do negócio, gerando anulabilidade por haver vício de consentimento) ou acidental (incide sobre elementos
Outra pegadinha: na 1ª parte o legislador diz que o negócio é anulável quando o B sabe ou deveria
não decisivos à celebração do negócio, portanto o negócio seria praticado ainda que não houvesse o dolo
saber do dolo do terceiro. No entanto, se o dolo do terceiro for acidental, ainda que B sabe ou devesse
acidental, não havendo vício de consentimento e nem anulabilidade).
saber, não é possível haver anulabilidade, apenas perdas e danos, tanto de B quanto do terceiro. Por
Portanto, o dolo acidental não gera anulabilidade, gera apenas perdas e danos. outro lado, toda esta sistemática do art.148 pressupõe que o negócio jurídico seja bilateral, pois busca
O dolo, ainda, pode ser dolus malus ou dolus bônus: o 1º é a regra, que causa prejuízos a terceiros prestigiar a legítima expectativa do outro contratante. Portanto, o art.148 não se aplica aos negócios
e gera anulabilidade. unilaterais.

O dolus bônus é geralmente atrelado aos exageros usuais do comércio. Há quem diga que tal figura
teria sido banida pelo art.37 CDC, que proíbe a publicidade enganosa. A tendência hoje é no sentido de se Art.149 – Dolo do representante (MPF): nosso CC tratou diferentemente a representação legal da
afirmar que não se admite apenas o dolus bônus que possa enganar o consumidor, é preciso avaliar o caso convencional. Quando o dolo é do representante, não é dolo de terceiro, pois o representante atua em
concreto. nome da pessoa que celebra o negócio jurídico.
TARTUCE trata de outra modalidade de dolus bônus : quando uma pessoa engana outra para
beneficiá-la. Art. 149. O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o
representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém,
o dolo for do representante convencional, o representado responderá solidariamente
com ele por perdas e danos.
Art.147 – dolo por omissão: o dolo pode ser, portanto, comissivo ou omissivo.
Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das Parece evidente que as responsabilidades do representado devem ser maiores na representação
partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão convencional, visto que o representante foi por ele escolhido: o representado responde solidariamente com
dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado. o representante pelas perdas e danos por conta da culpa in eligendo. Por outro lado, na representação
legal, o representado só deve responder até o limite do proveito que teve, sendo vedado o enriquecimento
Surge questão importante: quem incorre no dolo por omissão viola o dever anexo de
sem causa.
informação? Sim, mas a recíproca nem sempre é verdadeira. TEPEDINO traz a seguinte ponderação: dolo
por omissão gera anulabilidade, enquanto a violação do dever anexo de informação é inadimplemento
contratual. Quando há erro por omissão e quando há violação do dever de informação? O dolo por omissão Art.150 – Dolo recíproco/dolo compensado/dolo enantiomórfico: tradicionalmente se afirma que tal
gera anulabilidade porque gera vício de consentimento, que é o vício na formação da vontade, a qual se artigo se inspira no brocado segundo o qual ninguém pode se beneficiar da própria torpeza. Numa releitura
forma na fase pré-contratual. Então, se há silencio intencional na fase pré-contratual, a hipótese é de dolo do CC, se afirma também que o art.150 é uma manifestação típica da tu quoque.
por omissão; se o dolo por omissão se dá no curso de um contrato já em andamento, a hipótese é de
inadimplemento contratual por violação do dever anexo de informação. Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para
anular o negócio, ou reclamar indenização.
OBS: as 2 espécies clássicas de inadimplemento são a mora e o inadimplemento absoluto. Veremos que, à
luz da boa-fé objetiva, surgiu uma 3ª espécie: a violação positiva do contrato, que, dentre algumas formas, Tal artigo se aplica ainda que seja dolo acidental contra dolo essencial.
indica a violação dos deveres anexos. À época do CC/16 havia regra idêntica, só que a respeito da simulação. Nosso CC atual é omisso.
Será que diante de tal omissão é possível apontar a mesma solução para a simulação em
homenagem à tu quoque? NÃO. O silêncio foi eloqüente, pois a simulação era causa de anulabilidade,
Art.148 – dolo de terceiro: contrato firmado por A e B e C induz alguém em erro. passando a ser causa de nulidade absoluta. Logo, no contexto atual, há o interesse público no
reconhecimento da simulação. Logo, de acordo com o E.294/CJF uma das partes que simula pode, sim,
Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a apontar a simulação contra a outra, embora uma não possa causar perdas e danos da outra, visto que o
parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário,
interesse público se restringe ao reconhecimento da nulidade.
ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e
danos da parte a quem ludibriou.

Ex: corretor. Se o B, que se beneficia, não sabe e nem deveria saber do dolo de C, o negócio jurídico Coação (art.151/155)
é válido, e C responde por perdas e danos; caso B saiba ou deveria saber do dolo de terceiro, o negócio
será anulável, sem prejuízo de perdas e danos.
Lembra ameaça, constrangimento, que gera o vício de consentimento. Quando estamos diante de
Há 2 detalhes que podem ser indagados: a 1ª parte trata da hipótese em que B sabe ou deveria saber
situações subjetivas, geralmente se adota a figura do homem-médio. No entanto, para fins de coação, o
do dolo do terceiro: nesta hipótese ambos respondem por perdas e danos, mas o legislador não previu a
art.152 repudiou a figura do homem médio, devendo-se levar em conta as características próprias da vítima.
solidariedade, enquanto o art.154 aplica a solidariedade na coação por terceiro. Não é possível aplicar a
solidariedade por analogia, pois esta não se presume.
Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a Segue a mesma lógica do dolo de terceiro. No art.154, a parte sabe ou deveria saber, enquanto no
saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir 155, a outra parte não teria como saber, havendo apenas perdas e danos.
na gravidade dela.
A coação geralmente trata de um mal dirigido ao coagido ou a um terceiro. Excepcionalmente,
RODRIGUES trata de um caso em que o mal se dirige ao próprio coator. Ex: o filho que ameaça suicídio ou
seguir profissão perigosa para obter dinheiro do pai.
Tal ameaça deve ser séria, por isso o caput do art.151. E se a ameaça se dirigir a um terceiro?

Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta
ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, Estado de perigo (art.156)
ou aos seus bens.
Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade
Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte,
o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação. assume obrigação excessivamente onerosa.

O art.151, parágrafo único permite ao juiz decidir por equidade. De acordo com a maioria da doutrina, Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o
o elemento decisivo seria o grau de proximidade entre o coagido e o terceiro. No entanto, a natureza do juiz decidirá segundo as circunstâncias.
bem jurídico ameaçado também deve ser levada em consideração, à luz do princípio constitucional da
solidariedade. Ex: a vítima é um vizinho distante, mas o bem jurídico ameaçado é sua vida. Ocorre quando alguém assume obrigação excessivamente onerosa para salvar-se ou alguém de sua
família e a outra parte está a par da situação. Ex: promessa exorbitante de recompensa; cheques-caução
A coação é dividida em física e moral. A coação física gera inexistência, pois não há manifestação
em hospitais; vender imóvel de 2 milhões por 500 mil para obter dinheiro para resgate de filho sequestrado.
de vontade. Ex: segura a mão do analfabeto e bota seu polegar no instrumento.
A obrigação deve ser excessivamente onerosa, independentemente da condição financeira do
A coação moral, por sua vez, gera anulabilidade, pois há uma manifestação viciada de vontade. agente, pois o que está em jogo é a justiça nos negócios jurídicos, e não a justiça distributiva.
Haveria uma 3ª espécie de coação, segundo autores mais atuais: a coação acidental: coação que
Ademais, é premissa do estado de perigo o dolo de aproveitamento (“grave dano conhecido pela
não foi decisiva na celebração do negócio (GONÇALVES, HTJ, TEPEDINO). É de difícil aplicação prática.
outra parte”).
Ex: quando o sujeito exterioriza sua vontade, celebrando o negócio, e a outra parte, sem ter ouvido,
ameaça a parte a celebrar o negócio. Tal coação não gera vício de consentimento, não gerando GONÇALVES afirma que se não há dolo de aproveitamento, não há estado de perigo e nem
anulabilidade. Logo, o efeito da coação acidental é a indenização por perdas e danos. anulabilidade, mas nada impediria a revisão judicial do negócio jurídico, por força do princípio do equilíbrio
econômico e a vedação ao enriquecimento sem causa.
O perigo putativo afasta a configuração do instituto? O sujeito SUPÕE que o filho é sequestrado.
Art.153 – o exercício normal de um direito não gera coação, mas o abuso do direito pode gerá-la.
O estado de perigo é vício de consentimento, que gera anulabilidade. Neste caso, o vício de consentimento
Art. 153. Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, é tão intenso quanto no perigo real, logo, o perigo putativo não afasta a incidência do instituto.
nem o simples temor reverencial. E a coação putativa? Não há previsão doutrinária. É possível que um sujeito suponha estar sendo
Ex: o credor venha a constranger a devedora a manter relações sexuais sob pena de ele executá-la. coagido, havendo vício de consentimento. Neste caso, por outro lado, não há ilicitude da outra parte. Logo,
Ademais, o temor reverencial ocorre quando há relação especial de respeito entre 2 pessoas, havendo a outra parte possui legítima expectativa, de força que não deveria haver a anulação do negócio jurídico.
impulso em não desagradar. Sua simples verificação não gera coação. Ex: empregador e empregado;
E no caso de a outra parte ter tido despesas, a que ela tem direito? Voltando ao exemplo, o
sacerdote e fiéis.
sujeito oferece 2 milhões de recompensa pelo filho sequestrado, e X acha o filho. Quando cobra a
recompensa, o pai alega estado de perigo. Pela letra fria do art.156, neste há caso há tão somente a
anulação do negócio jurídico. Mas em algumas situações a invalidade por si só levaria a um enriquecimento
sem causa, como no caso. O Código Italiano prevê que a anulação por estado de perigo não afasta a
eventual fixação de remuneração por serviços prestados.
Na ausência de previsão específica no Brasil, tal fixação de remuneração se justificaria à luz da
vedação do enriquecimento sem causa (art.886), à luz do art.594 (deve haver remuneração por todo serviço
Art.154 e 155 – coação por terceiro.
ou trabalho) e pela aplicação analógica do art.157, p.2º, que trata da lesão – prestigiando a revisão judicial
do negócio em detrimento da mera invalidação. (E.148/CJF)
Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse
ou devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente
com aquele por perdas e danos.
Julgado do STJ sofre estado de perigo: contrato de seguro de saúde e o mesmo não contemplava
Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a a cobertura de colocação de “pinos”. A seguradora convenceu os familiares do segurado que seria operado
parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação a assinarem aditivo pelo qual a mesma assumiria obrigações complementares e a colocação dos pinos. O
responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto. STJ entendeu como estado de perigo, alegando que os pinos já estavam contemplados. Logo, ficou nítido
que cabe estado de perigo em contrato aleatório.
jurídico e não à sua anulação, sendo dever do magistrado incitar os contratantes a seguir as
regras do art. 157, § 2º, do Código Civil de 2002.
Lesão (art.157; 6,V; 39,V; 51; IV)
E.291/CJF – Art. 157: Nas hipóteses de lesão previstas no art. 157 do Código Civil,
Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por pode o lesionado optar por não pleitear a anulação do negócio jurídico, deduzindo, desde logo,
inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da pretensão com vista à revisão judicial do negócio por meio da redução do proveito do
prestação oposta.
lesionador ou do complemento do preço.
o
§ 1 Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao Ressalta-se que a lesão não exige o dolo de aproveitamento. Logo, é possível que o contratante
tempo em que foi celebrado o negócio jurídico. beneficiado com a lesão esteja de boa-fé. Portanto, o art.157, p.2º, segundo HTJ, pode ser interpretado
como forma de o beneficiado de boa-fé propor a revisão do negócio para proteger sua legítima expectativa
o
§ 2 Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento e preservar o negócio.
suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito.
Lesão X Estado de perigo:
Se inspira no princípio do equilíbrio econômico dos contratos, o qual traz uma série de manifestações, - a lesão independe do dolo de aproveitamento, ao contrário do estado de perigo (E.150/CJF);
entre elas a lesão e a onerosidade excessiva. Na lesão, o desequilíbrio econômico é congênito à celebração
do contrato (art.175, p.1º) e na onerosidade excessiva, o desequilíbrio é superveniente (art.478-480). - a lesão se aplica exclusivamente a contratos sinalagmáticos/bilaterais; o estado de perigo se aplica aos
negócios jurídicos em geral;
O elemento objetivo da lesão é a desproporção manifesta, de caráter casuístico. No direito remoto
havia a lesão enorme (a divergência era igual ou superior a 50%), que gerava anulabilidade, e a lesão - no estado de perigo, está em jogo vida ou integridade física (“salvar-se ou pessoa da família”); a lesão
enormíssima (a divergência era igual ou superior a 2/3 e gerava nulidade absoluta). tutela o dano patrimonial ou contratual

O elemento subjetivo da lesão é a premente necessidade ou inexperiência. A premente necessidade Julgado do STJ sobre lesão (Inf.464/STJ): contrato de honorários advocatícios em 50%. O STJ
não é sinônimo de necessidade econômica; trata-se da premente necessidade contratual. Mais uma vez, aplicou a lesão.
está em jogo a justiça contratual, e não a justiça distributiva. Diferenças entre a lesão do CDC e a lesão do CC/02:
GONÇALVES ressalta que inexperiência não pode ser confundida com leviandade e nem com falta - no CDC, o legislador não exige premente necessidade ou inexperiência, que se atrelam à ideia de
de cultura. hipossuficiência, a qual é presumida em se tratando de consumidor.
Cabe lesão em contrato aleatório? A 1ª posição, predominante, é no sentido da inaplicabilidade, - a lesão no CDC acarreta nulidade, visto que as normas do CDC são de ordem pública;
porque a possibilidade de desequilíbrio entre as prestações é inerente ao risco que envolve os contratos
- apesar de no CDC a lesão gerar nulidade, o CDC autoriza o consumidor a exigir a revisão judicial (art.6, V
aleatórios (CAIO MARIO, GONÇALVES).
c/c 51, p.1º, III e p.2º)
Divergindo, TEPEDINO. O autor não desmente a afirmativa segundo a qual quem quer equilíbrio
O E.290/CJF afirma que a premente necessidade ou inexperiência não se presumem.
contratual não deve celebrar contrato aleatório. Logo, afirma que a mera desproporção não autoriza a
aplicação da lesão. Mas cabe lesão se houver desproporção manifesta entre os riscos assumidos pelas E.290/CJF – Art. 157: A lesão acarretará a anulação do negócio jurídico quando
partes. Ex: contrato de safra. X paga 500 pela safra futura e espera receber algo em torno de 50kg. Por verificada, na formação deste, a desproporção manifesta entre as prestações assumidas pelas
razões climáticas excepcionais, naquele ano X só colheu 5 kg. Neste caso, não há que se falar em lesão, a partes, não se presumindo a premente necessidade ou a inexperiência do lesado.
desproporção resultou de um fato excepcional. Diferente seria o caso de X pagar 500 e colher 5kg, e ficar
constatado que em vinte anos sempre se colheu tal quantidade. Neste caso, não há mero desequilíbrio TARTUCE, de forma minoritária, defende a inaplicabilidade do enunciado no caso de contratos de
econômico, é possível verificar que as partes assumiram riscos desiguais desde a celebração. Há quem adesão, afirmando haver a presunção da premente necessidade do aderente, ainda que o contrato seja
entenda se tratar de dolo por omissão, embora este pressuponha alegar o dolo de aproveitamento, o que regido pelo CC/02, por conta de haver a presunção de hipossuficiência.
não precisa na lesão.
Art.157, p.2º - a interpretação fria parece sugerir que a parte prejudicada pela lesão deve pedir a
Fraude contra credores (art.158/165)
anulação do negócio, podendo o beneficiado vir a afastar a anulação por meio do reequilíbrio do mesmo.
O CDC, por sua vez, autoriza o consumidor a exigir a revisão judicial. No entanto, mesmo fora das
relações de consumo, há entendimento consolidado de que a vítima pode exigir a revisão judicial do Ocorre ato de disposição patrimonial que conduz o devedor à insolvência ou agrava eventual
negócio. Argumentos para tanto: princípio da boa-fé objetiva; princípio do equilíbrio econômico dos insolvência preexistente.
contratos; princípio da conservação dos contratos e aplicação analógica do art.480 e do art.51, p.2º CDC.
Em regra, os elementos necessários para configurar a fraude contra credores são:
E.149 e 291/CJF – a vítima da lesão pode exigir a revisão judicial mesmo em relação não
- Eventus damnis: prejuízo aos credores. Se sustenta que não há fraude contra credores no caso de
consumerista.
alienação de bens impenhoráveis, visto que estes jamais constituíram garantia dos credores, não havendo
E.149/CJF – Art. 157: Em atenção ao princípio da conservação dos contratos, a prejuízo para estes;
verificação da lesão deverá conduzir, sempre que possível, à revisão judicial do negócio
OBS: o STJ decidiu que a renúncia ao usufruto não gera fraude à execução por conta do art.1.393, que fiador, que paga e ganha direito de regresso. Neste caso, o fiador pode alegar a fraude contra credores,
prevê a inalienabilidade do usufruto. Logo, o usufruto seria impenhorável. Julgado discutível, pois os frutos pois ele efetuou o pagamento a título de terceiro interessado, havendo sub-rogação, sucessão no polo ativo.
são penhoráveis! O art.349 diz que a sub-rogação transfere tudo para o sucessor; a relação permanece a mesma, mudando
apenas o polo ativo. É como se o fiador fosse credor desde a origem, podendo alegar fraude contra
credores. A mesma lógica aplica-se no caso de cessão de crédito.
- Concilium fraudis: conluio entre o devedor alienante e o 3º adquirente. No entanto, o legislador não exige
Ainda em relação à anterioridade do crédito: e no caso do credor com condição suspensiva, em que o
conluio, segundo o art.159, bastando que a insolvência seja notória ou facilmente perceptível. Logo, tal
devedor se conduz à insolvência ao alienar seu patrimônio no período de pendência da condição. Neste
elemento não é tão subjetivo assim, havendo maior sintonia com a boa-fé objetiva.
caso, o credor com condição suspensiva pendente pode ajuizar ação pauliana? Forçando uma barra,
Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor pode-se sustentar que sim pela aplicação do art.130 – medida conservativa do direito eventual de crédito.
insolvente, quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do
No entanto, a doutrina tende a entender que se aplica o art.126 à hipótese: no período de pendência,
outro contratante.
o credor condicional não pode propor ação pauliana, a menos que satisfaça a condição, no caso em que a
O concilium fraudis apresenta uma ponderação entre os interesses do 3º adquirente e dos credores mesma operaria efeitos retroativos!
do devedor. Logo, por tal instituto se protege os interesses dos credores, desde que a insolvência seja
perceptível.
Aula 8

Por sua vez, nos atos de disposição gratuita, tal elemento não é exigido, em clara proteção aos
interesses dos credores (art.158). A via adequada para suscitar a fraude contra credores é a ação pauliana/ação revocatória, tratada
pelo art.161.
Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se
Art. 161. A ação, nos casos dos arts. 158 e 159, poderá ser intentada contra o
os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o
ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus devedor insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada
direitos. fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé.

o
A redação do dispositivo parece sugerir que o litisconsórcio passivo é facultativo, o que não
§ 1 Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente. corresponde à realidade. Na verdade, o reconhecimento da fraude contra credores gera a anulabilidade
o para a maioria da doutrina, atingindo os interesses dos terceiros adquirentes. Logo, em homenagem aos
§ 2 Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a
limites subjetivos da coisa julgada, trata-se de litisconsórcio passivo necessário, apesar da redação. Fazer
anulação deles.
remissão para os art.47 (litisconsórcio necessário) e 472 CPC (limites da coisa julgada).
Cuidado, pois aqui pode parecer que tais atos necessariamente envolvem transmissão de A própria redação do art.161 afasta a legitimidade dos terceiros subadquirentes de boa-fé, com fulcro
propriedade, o que não é verdade! Ex: X tem um único imóvel penhorável, que possui valor idêntico ao de no princípio da confiança e proteção da legítima expectativa. Neste caso, o devedor e os adquirentes
suas dívidas. X, ciente disso, concede gratuitamente servidão de passagem ao vizinho, que gera anteriores de má-fé serão condenados a restituir ao patrimônio do devedor insolvente o equivalente ao valor
esvaziamento econômico do valor do imóvel. Logo, poderia ser aplicado o art.158 para afastar a servidão, do objeto da alienação, não havendo regresso ao status quo ante.
ainda que não tenha sido transferida a propriedade (tal raciocínio poderia ser aplicado no caso do
O art.159, relembrando, dispensa o conluio, a má-fé do adquirente imediato, desde que a insolvência
julgamento criticável do STJ, em que houve renúncia ao usufruto).
do devedor fosse sabida ou facilmente perceptível.
Art.158 – os credores quirografários podem alegar fraude contra credores. O credor com garantia
No art.161, por sua vez, em relação a terceiros adquirentes, o legislador tratou da legitimidade
real não pode alegar? Não, pois não tem interesse, visto que possui garantia.
apenas dos terceiros adquirentes de má-fé. Esta diferença de tratamento se justifica, pois em relação ao
O p.1º confirma a regra, demonstrando que o credor que perca a garantia (ou se torne insuficiente), adquirente imediato seria possível conhecer a insolvência do devedor alienante, enquanto dos terceiros
tornando-se, portanto, quirografário, pode alegar fraude contra credores. O E.151/CJF prevê que o subadquirentes não se poderia exigir o conhecimento acerca da situação patrimonial do alienante primitivo
ajuizamento da ação pauliana pelo credor com garantia real prescinde do prévio reconhecimento judicial da (devedor insolvente).
insuficiência da garantia – no caso do p.1º, a insuficiência da garantia pode ser demonstrada
A exigência da propositura da ação pauliana para o reconhecimento de fraude contra credores
incidentalmente, no curso da ação pauliana.
comporta 2 exceções:
Art.158, p.2º - exige a chamada anterioridade do crédito: a pessoa tem que ser credora ao tempo
- devedor insolvente que renuncia à herança. Neste caso, os credores podem aceitá-la mediante simples
da disposição dos bens pelo devedor. O E.292/CJF afirma que tal anterioridade do crédito pressupõe que a
autorização do juiz no próprio processo (art.1.813). Ressalta-se que tal caso também dispensa concilium
origem do crédito seja anterior ao ato de disposição, ainda que o reconhecimento judicial do crédito seja
fraudis.
posterior. Ex: X atropela Y culposamente hoje. Hoje nasce direito de crédito para Y. No dia seguinte, X
aliena bens, resultando na sua insolvência. Daqui a 3 anos, é reconhecido direito de crédito de Y em juízo. - TEPEDINO: doação universal por parte do devedor quando este não reserva para si meios suficientes à
Logo, Y possui legitimidade para suscitar fraude contra credores. sua subsistência (art.548). Se a doação privar o doador de sua subsistência, haverá nulidade. Neste caso,
obviamente tal doação também prejudica sua solvência e, por ser nula, não é necessária a ação pauliana.
OBS: Fiador pode alegar fraude contra credores contra o afiançado? O devedor principal X pratica atos
que o levam à insolvência. A rigor, o credor poderia propor ação pauliana, mas neste caso o fiador Natureza jurídica da fraude contra credores e seus efeitos: o 1º entendimento, predominante, é
renunciou o benefício de ordem, assumindo a solidariedade passiva. O credor ingressa cobrança contra no sentido de que a mesma gera anulabilidade. O art.171, II explicitamente entende dessa forma.
Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio - a fraude à execução é tratada pelo direito processual, enquanto a fraude contra credores é instituto de
jurídico: direito material;

I - por incapacidade relativa do agente; - na fraude à execução, o ato de disposição patrimonial se dá no transcurso da relação processual (o divisor
de águas é a CITAÇÃO, e não a propositura da ação, a menos que o executado tenha ciência do
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude ajuizamento da demanda e venha se esquivando da citação – Inf.303/STJ);
contra credores. - a fraude à execução atinge a efetividade da prestação jurisdicional; a fraude contra credores atinge os
interesses patrimoniais dos credores quirografários;
- fraude à execução gera ineficácia relativa (?); fraude contra credores gera anulabilidade (há controvérsias)
O art.182 prevê os efeitos da anulação dos negócios jurídicos, entre os quais encontra-se o regresso
ao status quo ante. Ademais, o art.165 afirma que, anulado o negócio jurídico, em sintonia com o art.182 e o - a fraude à execução pode ser suscitada por simples petição; a fraude contra credores pressupõe ação
171, II, os bens voltam ao patrimônio do devedor alienante. pauliana, ressalvadas as exceções

Art. 182. Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que *- se dizia que a fraude à execução independia da má-fé do adquirente, pois atingiria o interesse público,
antes dele se achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o atingindo o 3º, ainda que de boa-fé. No entanto, o princípio da confiança faz com que a tutela da legítima
equivalente. expectativa de terceiros se tornasse matéria de ordem pública. Nesta esteira, foi editado o v.375/STJ,
segundo o qual a fraude à execução pressupõe o registro da penhora ou a má-fé do terceiro adquirente.
Art. 165. Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em O verbete prestigiou o princípio da confiança, mas exigiu registro ou a má-fé, trazendo resquício de
proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores. boa-fé subjetiva. Ademais, o verbete, de certa forma, contradiz o art.159, pois se a alienação patrimonial
ocorre antes da citação, trata-se de fraude contra credores, não se exigindo a má-fé, bastando que a
Parágrafo único. Se esses negócios tinham por único objeto atribuir direitos
insolvência fosse notória ou perceptível.
preferenciais, mediante hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade importará somente
na anulação da preferência ajustada. Por outro lado, de forma incompreensível, o verbete estabelece que se a alienação seja realizada em
momento ainda mais gravoso (após a citação), que seja exigida a má-fé, havendo contradição.
Contrariando tal entendimento, a 2ª corrente defende que a fraude contra credores gera ineficácia
relativa, em que o ato não produz efeitos em relação à determinada pessoa (no caso, o adquirente de boa- A questão da fraude contra credores e os embargos de terceiro: X ingressa com ação de
fé). Neste caso, não há retorno ao status quo ante, o provimento jurisdicional beneficia apenas ao credor cobrança em face do devedor Y. Na pendência da prestação jurisdicional, Y pratica ato de disposição
demandante da ação pauliana (CÂMARA, DINAMARCO, STOLZE, ROSENVALD). patrimonial em favor de Z e tal alienação o conduz à insolvência. X, credor, vai alegar fraude à execução,
alegando que a alienação lhe é ineficaz, requerendo a penhora do bem, que está com Z. Z opõe embargos
O CC/02 parece ser textual em favor da 1ª tese, da anulabilidade. Os adeptos da 2ª corrente de terceiro contra X. Ao ler a citação dos embargos de terceiro, X percebe que a alienação promovida por Y
sustentam os seguintes argumentos: para Z, de fato, não incorreu em fraude à execução, mas sim em fraude contra credores: o ato de
- a invalidade representa um vício intrínseco, ao passo que na eficácia relativa o ato contraria o interesse de disposição foi posterior à propositura da ação, mas anterior à citação.
determinada pessoa (credores à época). Será que X pode, nos embargos de terceiros movidos por Z, alegar fraude contra credores? O
- se houvesse anulação, haveria status quo antes e, com o seu advento, o devedor insolvente deveria ser v.195/STJ diz que não, pois a via adequada para suscitar fraude contra credores é a ação pauliana;
beneficiado com o valor eventualmente excedente, que sobrasse. No entanto, o art.165 deixa claro que o ademais, os embargos de terceiro não têm natureza dúplice e não comportam reconvenção, por conta do
devedor insolvente não é beneficiado. Logo, não há um efetivo status quo ante. rito especial. Ainda, a ação pauliana exige o litisconsórcio passivo necessário entre Y e Z, mas Y não é
parte dos embargos de terceiros manejados por Z. Os limites subjetivos da coisa julgada, portanto, também
- aplicação analógica da sistemática da fraude à execução e da ação revocatória da Lei de Falências: não constituiriam óbice à alegação de fraude contra credores em sede de embargos de terceiro.
há razão plausível para um tratamento diferente da fraude contra credores em relação a tais institutos.
Fraude contra credores e impenhorabilidade do bem de família – STJ: se o bem penhorado
- o legislador não exige a má-fé do adquirente, e a tese da ineficácia relativa prestigia os interesses do retorna ao patrimônio do devedor em virtude de procedência de pretensão deduzida em ação pauliana, é
terceiro adquirente da melhor forma possível, que não necessariamente se encontra de boa-fé. inaplicável a lei da impenhorabilidade do bem de família. Logo, o status quo ante gerado pela anulabilidade
Julgado recente do STJ (Inf.467): a sentença na ação pauliana beneficia apenas o crédito fraudado, não abrange a impenhorabilidade do bem, pois prestigiaria a má-fé e a tu quoque do devedor que o
dando indício de adesão à 2ª corrente (só o credor que ajuizou se beneficia, não havendo retorno ao status alienara.
quo ante). Por outro lado, o julgado afirma que se há remissão da dívida, não há anulabilidade, parecendo
aderir à 1ª corrente.
Inf.475/STJ – reconhecimento da aplicabilidade do art.943 ao dano moral (o direito da personalidade
é personalíssimo, mas os reflexos patrimoniais de tal direito são transmissíveis). INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
Inf.474/STJ – a tutela reintegratória (retratação pública) não exclui a ressarcitória, pela lógica da
reparação integral de danos. Relembrando: existe ineficácia em sentido amplo, a qual se divide em 3 espécies: inexistência,
Fraude contra credores X Fraude à execução: invalidade e a ineficácia em sentido estrito.
As hipóteses de inexistência do negócio jurídico são: ausência de vontade, coação física, Há autores que não fazem tal distinção, afirmando que o art.169 trata da imprescritibilidade dos atos
documento com assinatura falsificada; objeto materialmente inexistente; ausência de sujeito. nulos E de suas eventuais consequências patrimoniais.
Nulidade x Inexistência: O professor entende ser louvável a 2ª corrente, que prestigia a segurança jurídica, no entanto,
entende que o CC/02 quis entender pela total imprescritibilidade. Ressalta-se, no entanto, que a
- a inexistência dispensa pronunciamento judicial
imprescritibilidade total do ato nulo parece contrariar o direito contemporâneo, visto que até a Administração
- o ato inexistente não produz efeito algum; os atos nulos podem produzir efeitos, em relação a terceiros de pode ser privada de anular atos que geram benefícios para terceiros.
boa-fé, como no caso do casamento putativo, por exemplo.
Qual seria o prazo prescricional dos reflexos patrimoniais? Se o pleito for de tutela específica, na
Ineficácia em sentido estrito: representa a inaptidão do ato para produzir efeitos. Tal ineficácia pode ausência de prazo especial, o prazo é de 10 anos. No entanto, em caso de reparação civil decorrente de
ser relativa/parcial (o ato não produz efeitos em relação à DETERMINADA PESSOA. Ex: art.290 – cessão ilícito contratual, o tema é controvertido.
de crédito, enquanto não cientificada ao devedor; art.504 – direito de preferência do condômino) ou
Uma 1ª corrente advoga a tese do prazo de 3 anos, que é o prazo específico de reparação civil do
absoluta/plena (ex: negócio sujeito a condição suspensiva e testamento enquanto vivo o testador).
art.206, p.3º.
Agora partiremos para a invalidade.
No entanto, de forma minoritária, HTJ defende tese diversa: entende que o prazo de 3 anos só vale
Invalidade: gênero que comporta a nulidade absoluta (nulidade) e nulidade relativa (anulabilidade). para ilícito extracontratual, pois a reparação civil decorrente de ilícito contratual tem natureza acessória, por
Nulidade absoluta X Nulidade relativa/anulabilidade: decorrer do inadimplemento. Logo, o prazo para reparação civil seria o mesmo, pelo princípio da gravitação
jurídica, previsto para o cumprimento da prestação, de 3 anos, visto que a reparação é obrigação acessória,
- a nulidade atinge interesse público; anulabilidade atinge interesse particular. devendo ter o mesmo prazo.
- a nulidade pode ser suscitada por qualquer interessado, pelo MP e deve ser reconhecida de ofício pelo juiz - para suscitar a anulabilidade, há prazos decadenciais: o art.178 afirma ser de 4 anos nas causas gerais de
(art.168); a anulabilidade só pode ser suscitada pelo interessado (art.177). Dentro desta distinção, muito se anulabilidade (incapacidade relativa e defeitos do negócio jurídico).
critica o v.381/STJ, segundo o qual não cabe reconhecimento de ofício da abusividade de cláusula de
contratos bancários. Surpreende, pois a abusividade de cláusulas gera nulidade absoluta, segundo o CDC.
- a nulidade não pode ser sanada (art.169, 1ª parte); a anulabilidade pode ser ratificada (art.172). A nulidade Cuidado com o art.179, segundo o qual o legislador pode contemplar causas específicas de
não pode ser sanada, até pelo fato de o ato nulo não produzir efeitos. Por outro lado, pode o ato nulo anulabilidade (o que realmente faz ao longo da lei).
propiciar o surgimento de uma nova relação jurídica. Ex: a compra e venda pode não transferir a Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer
propriedade, mas transfere a posse e esta pode viabilizar a consumação da usucapião. prazo para pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a contar da data da conclusão
*- a nulidade gera efeitos ex tunc e a anulabilidade, efeitos ex nunc. do ato.

Até algum tempo atrás, era possível afirmar que a anulabilidade produzia efeitos ex nunc (art.177,1ª O dispositivo menciona que se as causas específicas não mencionarem prazo, que este será de 2
parte), mas hoje o tema é controvertido: existe uma 2ª corrente que defende que a produção de efeitos ex anos. Ex: art.496 – anulável a venda de ascendente a descendentes; causa específica de anulabilidade
nunc é insuficiente para proteção da livre manifestação de vontade. Ex: venho efetuando pagamentos sem prazo específico, sendo aplicável, portanto, o prazo de 2 anos do art.179 (E.468/CJF); art.533, II e 117.
mensais por força de coação. Se a sentença reconhecer a coçação moral gerar efeitos ex tunc, ela vai OBS: o art.496 faz remissão ao v.494/STF, segundo o qual o prazo seria de 20 anos, pois o legislador do
convalidar todos os pagamentos anteriormente efetuados. CC/16 não apontava se tal venda era nula ou anulável, e se entendia que era nula, com prazo de 20 anos.
Portanto, se entendeu que a produção de efeitos ex nunc não protege de forma eficaz a livre Com o advento do CC/02, portanto, o verbete cai por terra, apesar de estar em vigor. Fim da comparação
manifestação de vontade. Logo, tal corrente defende que a anulabilidade, uma vez reconhecida em juízo, entre nulidade e anulabilidade.
também produz efeitos ex tunc. O embasamento legislativo seria o art.182 (STOLZE, ROSENVALD,
MATIETO).
Nulidade absoluta (art.166)
- em relação aos prazos: o art.169, parte final diz que o negócio jurídico nulo não convalesce pelo decurso
do tempo, logo, seria imprescritível.
Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:
Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem
convalesce pelo decurso do tempo. I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;
Tal dispositivo surpreendeu os civilistas: o CC/16 não tratava do assunto e havia 2 correntes: a 1ª
II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;
defendia a imprescritibilidade do ato nulo (que veio a ser prestigiada pelo CC/02), por conta do interesse
público, enquanto a 2ª defendia que o interesse público da prescrição era essencial, entendendo que o ato
III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;
nulo prescrevia em 20 anos.
O entendimento predominante era o 2º, mas o advento do CC/02 prestigiou a 1ª corrente, da IV - não revestir a forma prescrita em lei;
imprescritibilidade. Alguns autores refletiram e passaram a defender que o reconhecimento da nulidade é
imprescritível, mas que prescrevem eventuais reflexos patrimoniais decorrentes de tal reconhecimento V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade;
(TEPEDINO, STOLZE, HTJ).
VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
o
VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. § 2 Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio
jurídico simulado.
O art.166 traz algumas causas de nulidade.
As premissas da simulação são: declaração enganosa de vontade em conluio com o declaratário com
III – motivo representa as razoes subjetivas que levam alguém a praticar certo ato. Em regra, por ser do
o objetivo de enganar terceiro (pacto simulationis) havendo negócio jurídico meramente aparente.
plano subjetivo, o motivo não tem relevância. No entanto, no caso do inciso III, o motivo é ilícito e comum a
ambas as partes, ambas sabem. Há uma classificação segundo a qual a simulação pode ser relativa ou absoluta. Na simulação
relativa, há o negócio simulado (aparente; negócio de fachada) e também o dissimulado (real intenção das
Quando o motivo é razão determinante do negócio, em não havendo abalo à segurança jurídica, o
partes, negócio efetivamente celebrado). Ex: compra e venda entre o cônjuge e a amante.
negocio jurídico é comprometido, pois o motivo ingressa na própria lógica da causa do negócio jurídico. O
art.137 vem em sintonia com o art.166, III: quando o motivo é determinante, pode prejudicar sua validade. Na simulação absoluta, por sua vez, há apenas um negócio simulado. As partes dizem estar
Um exemplo do art.166, III é o empréstimo deliberado para prática de jogo proibido; outro exemplo é a celebrando negócio X, quando, na verdade, não estão celebrando nada. Ex: o locador quer despejar
doação para recompensar prática de ato ilícito; a locação para casa de prostituição. locatário, mas não tem razão jurídica para fazê-lo; logo, faz venda simulada para terceiros para facilitar o
despejo.
VI – fraude à lei. Na fraude à lei, há uma aparência de licitude, porque é de sua essência que exista
determinado dispositivo legal que, aparentemente, legitime a prática do ato. Porém, numa interpretação Ademais, a simulação pode ser maliciosa ou inocente. A simulação maliciosa atinge interesses
sistemática, é possível constatar que o ato atinge outros interesses protegidos pelo sistema. juridicamente protegidos de terceiros, ao contrário da inocente, que não os atinge. Ex: sujeito é ator, tem
namorada, mas não quer fazer alarde sobre a mesma. Quer doar bem para ela, mas não quer explanar,
Exemplos: art.549 – doação inoficiosa: nula é a doação quanto à parte que exceder o limite da
logo, celebra compra e venda; outro exemplo de simulação inocente é a venda simulada de seus bens por
legítima dos herdeiros necessários; art.1.301 – regra de direito de vizinhança que protege a intimidade: o
parte de pessoa que não queira ser fiadora e queira se esquivar dos convites.
vizinho abre 50 espaços permitidos no p.2º, visando ao fim proibido pelo 1º; art.1.369 - direito de superfície
com prazo determinado de 900 anos (o instituto, que deve ter tempo determinado, acaba, na prática, sendo A simulação inocente é invalidante? O art.104 do CC/16 enfrentava a questão e dizia que a
eterno). simulação inocente não era invalidante. O CC atual é omisso. A simulação no CC/16 era causa de
anulabilidade, logo, se a mesma não atingisse interesse particular algum, não seria invalidante.
“Na fraude à lei, o sujeito viola a lei com a própria lei” – PONTES DE MIRANDA. Ademais, ao
contrário da simulação, a fraude à lei não exige conluio e aparenta licitude. No entanto, a simulação no CC atual é causa de nulidade, e o legislador entendeu que o simples
conluio entre as partes com o objetivo de enganar viola o princípio da eticidade, que resulta na boa-fé
Ademais, há muita semelhança entre a fraude à lei e o abuso de direito: o abuso também possui
objetiva, ferindo o interesse público. O E.152/CJF entende que a simulação inocente é invalidante.
aparência de licitude, mas a aparência de licitude da fraude à lei é muito mais forte, pois a lei precisa,
aparentemente, autorizar, enquanto no abuso a lei não pode proibir. E.152/CJF – Art. 167: Toda simulação, inclusive a inocente, é invalidante.
OBS: o STJ decidiu que a renúncia ao usufruto não gera fraude à execução por conta do art.1.393, que O art.167, parte final, prevê a possibilidade subsistir o negócio dissimulado se for válido na substância
prevê a inalienabilidade do usufruto. Logo, o usufruto seria impenhorável. Julgado discutível, pois os frutos e na forma. Pode-se dizer que o negócio só é válido na substancia e na forma se não atingir interesses
são penhoráveis! juridicamente protegidos de terceiros. Logo, tal artigo trata da simulação relativa e inocente, podendo valer o
negócio dissimulado. Os E.253 e 292/CJF prestigiam a preservação do negócio dos dissimulados, em
VII – a 1ª parte trata da nulidade expressa ou textual. Existem vários dispositivos que a contemplam,
sintonia com o princípio da conservação dos atos e negócios jurídicos.
como os art.497, 548, 549, 762, 1.860, 1.900, 1.548, 1.863 e 1.867.
E.253/CJF – Art. 1.417: O promitente comprador, titular de direito real (art. 1.417),
A 2ª parte, por outro lado, trata da nulidade implícita ou virtual: quando a lei proíbe, mas não indica
a sanção. Ex: art.547, parágrafo único – doação com cláusula de reversão, a qual não pode contemplar tem a faculdade de reivindicar de terceiro o imóvel prometido a venda.
terceiro (se o fizer, há nulidade implícita); art.380, 426, 483, 485, 1.521. E.292/CJF – Art. 158: Para os efeitos do art. 158, § 2º, a anterioridade do crédito é
determinada pela causa que lhe dá origem, independentemente de seu reconhecimento por
decisão judicial.
Simulação (art.167)
Em outra classificação, a simulação pode ser subjetiva/ad persona (realizada por meio de pessoa
interposta – o testa de ferro – art.167, p.1º, I) ou objetiva (não envolve interposta pessoa).
Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou,
se válido for na substância e na forma. O CC/16 dizia que nenhuma das partes em conluio poderia alegar simulação contra a outra, mas o
CC atual é omisso. Logo, com base na omissão da lei atual, poderíamos sustentar que tal regra do
o
§ 1 Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: CC/16 subsiste no ordenamento? NÃO, pois a simulação é causa de nulidade absoluta, havendo o
interesse público no seu reconhecimento (E.294/CJF). O reconhecimento da nulidade pode ser feito, mas
I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais não uma das partes não pode exigir perdas e danos da outra, por conta da boa-fé objetiva e da tu quoque.
realmente se conferem, ou transmitem;
O STJ já enfrentou tal questão, mas à época da celebração do contrato, estava em vigor o CC/16,
II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; havendo questão de intertemporal. Aplicando o art.2.035, o STJ disse que não poderia nenhuma das partes
alegar a simulação contra a outra, sendo aplicável a lógica vigente à época, embora o julgamento tenha
III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados. advindo sob a égide do CC/02.
Art.167, p.2º - à época do CC/16, era unânime o entendimento de que a nulidade atinge terceiros está, na verdade, reconhecendo o direito do credor. Portanto, a renúncia antecipada à prescrição nula pode
adquirentes, ainda que de boa-fé pelo fato de a nulidade ser de interesse público. O princípio da confiança ser convertida no reconhecimento do direito do credor do art.202.
faz com que a proteção da legítima expectativa de terceiros também seja matéria de ordem pública. Logo,
- Alienação de usufruto é nula, pois o usufruto é inalienável (art.1.393). No entanto, a alienação do usufruto
tal norma enaltece a proteção dos interesses dos terceiros adquirentes de boa-fé, em prestigio ao princípio
pode ser convertida na cessão de direito de uso, conforme o mesmo dispositivo.
da confiança.
- exemplo de HTJ, controvertido: o penhor nulo. Via de regra, o penhor pressupõe a entrega de bem ao
Nesta esteira, o art.182 precisa ser reinterpretado à luz da nova principiologia. A norma diz que o
credor. HTJ entende que o penhor nulo é convertido em direito de retenção em favor do credor. É discutível,
status quo ante é invocado após a anulação do negócio jurídico, cuja impossibilidade gera perdas e danos.
pois direito de retenção não se presume, visto que é resquício de autotutela.
Tal impossibilidade do status quo ante era interpretada como impossibilidade física. No entanto, no contexto
atual, surge também a impossibilidade jurídica, a qual surge no caso da transferência do bem ao terceiro de Em todos os exemplos fica nítido que a conversão do ato nulo está em consonância com o princípio
boa-fé. Ademais, o art.167, p.2º pode ser invocado analogicamente. da conservação dos negócios jurídicos.

OBS: Inf.473/STJ – duplicata simulada, que não estava vinculada à compra e venda e nem à prestação Existe classificação segundo a qual a conversão pode ser formal (há mudança apenas da forma. Ex:
de serviços. O STJ entendeu que o sacado poderia alegar a duplicata simulada em face do endossatário de testamento público nulo que atenda aos requisitos do testamento particular) ou material/substancial, a
boa-fé, pois, neste caso, há um vício formal intrínseco que conduz à inexigibilidade do título de crédito; o qual pressupõe mudança da qualificação jurídica (é o caso de todos os exemplos já vistos). Há quem
princípio do formalismo espancaria tudo isso que viemos falando, da boa-fé, princípio da confiança, etc. sustente que só há conversão propriamente dita na conversão material.

OBS2: a venda ficta que conduz à suposta insolvência é simulação, gerando nulidade absoluta. Não se Ainda, existe argumento de ROSENVALD no sentido de que quem deu causa à nulidade não pode
trata de fraude contra credores, pois esta exige o dano patrimonial real. Os credores do falso adquirente não suscitar a conversão, sob o argumento da tu quoque. Tal posição é criticável, pois o princípio da
podem se opor aos credores do ficto alienante. conservação dos atos e negócios jurídicos é de ordem pública.

Não confundir simulação com negócio fiduciário (o meio excede o fim) e negócio indireto (o
fim excede o meio). Nestes 2 casos, não se trata de simulação, a qual pressupõe uma situação de
Anulabilidade
aparência negocial, algo que não procede no plano real. No negócio fiduciário e indireto há efetiva
transferência de propriedade para a instituição financeira, embora a mesma sirva como garantia, por
exemplo. Nestas 2 modalidades, as partes se utilizam de um tipo negocial para obter efeitos que não lhe
são próprios, mas aquilo que as partes declaram acontece no plano real e o que os justifica é o princípio da Comporta ratificação, a qual pode ser expressa (art.172, 173 e 176) ou tácita, que pode se dar por
autonomia privada. meio de 2 mecanismos diferentes: o transcurso do prazo in albis para suscitar anulabilidade (art.178 e 179)
e quando o devedor cumpre a prestação, ainda que em parte, quando ciente e livre do vício (art.174).
Inalegabilidade de forma/de vícios formais: aquele que deu causa conscientemente à nulidade não
pode suscitá-la, sobretudo com vício de forma (ZENO VELOSO, HTJ, TEPEDINO). Se uma das partes O que inspira o art.174 é a venire contra factum proprium, pois não poderia o devedor, ciente do vício,
convence a outra a firmar C/V sob instrumento particular não pode alegar a nulidade; prestígio da tu cumprir a sua parte e depois alegar a anulabilidade.
quoque. Isto nunca colou no Brasil, porque a inobservância da forma prevista em lei é causa de nulidade Art. 174. É escusada a confirmação expressa, quando o negócio já foi cumprido
absoluta, a qual enseja o interesse público, podendo quem convenceu a parte a burlá-la, alegar o vício de em parte pelo devedor, ciente do vício que o inquinava.
forma.
A regra do dispositivo é útil, pois acaba vedando diversos outros comportamentos contraditórios que
Conversão do ato nulo (art.170) poderiam ser levados a cabo pelo devedor depois de ciente e livre do vício: alienação do bem a terceiros,
oneração do bem, pedido de dilação de prazo. Sempre que, livre do vício, houver conduta incompatível com
Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, a vontade de anular, aplica-se extensivamente o art.174 com base na venire.
subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam
querido, se houvessem previsto a nulidade. A ratificação deve ser realizada pela mesma forma do negócio praticado? Questão controvertida.
- a 1ª corrente defende que a forma do negócio atrai a forma da ratificação (GOMES, AMARAL)

As premissas da conversão do ato nulo são: - a 2ª corrente entende que não, pois, se cabe ratificação tácita, não há razão para se exigir rigor formal
para a ratificação expressa. Além disso, a ratificação seria negócio jurídico distinto.
- celebração de negócio jurídico nulo;
- existência de outro tipo negocial que confira validade à vontade emitida pelas partes.
Art.172 – o negócio anulável pode ser ratificado, desde que não prejudique direito de terceiros.
- compatibilidade de vontades: para converter o negócio A em negócio B, deve haver compatibilidade de
vontades. Exemplos: Art. 172. O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo direito de
terceiro.
- compra e venda de imóvel por instrumento particular. O tipo negocial nulo é a compra e venda por meio de
instrumento particular. O negócio poderia ser convertido em compromisso de compra e venda, propiciando,
inclusive, a adjudicação compulsória; Tal artigo deve ser interpretado em sintonia com o art.177, segundo o qual só os interessados podem
- A renúncia antecipada da prescrição é nula (art.191). Por sua vez, o art.202, VI prevê como causa alegar a anulabilidade; os interessados seriam a parte beneficiada com a anulação, os sucessores do
interruptiva da prescrição o devedor que reconhece o direito do credor. Logo, quem renuncia à prescrição beneficiado e os terceiros mencionados no art.172.
Art. 177. A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença, nem se Natureza jurídica
pronuncia de ofício; só os interessados a podem alegar, e aproveita exclusivamente aos
que a alegarem, salvo o caso de solidariedade ou indivisibilidade.
Ex: X, relativamente incapaz, celebra compra e venda de carro com Y sem assistência (negócio Há 3 correntes básicas:
anulável). Depois, X celebra compra e venda do mesmo carro com Z, mas devidamente assistido (negócio 1 – a prescrição gera a perda da ação (M.H.D, VENOSA): corrente que vem sendo cada vez mais repudiada
válido). Em tese, a compra e venda celebrada com Y poderia ser ratificada, mas a ratificação atingiria o por conta da teoria abstrata da ação, segundo a qual o direito de ação é abstrato. Ainda que haja
direito de Z. improcedência do pedido, há manifestação do direito de ação, que não se perde pela prescrição.
2 – a prescrição gera a perda do direito subjetivo (GOMES, CÂMARA): a principal crítica é que se a
Aula 9 prescrição gerasse a perda do direito, o pagamento de dívida prescrita seria pagamento indevido, o qual
enseja repetibilidade. O art.882, inclusive, afirma que não se pode repetir o que se pagou para solver dívida
prescrita ou cumprir obrigação judicialmente inexigível.
Art.183 - a invalidade do instrumento não induz a invalidade do negócio sempre que este puder ser
Dívida prescrita é exemplo de obrigação natural, em que há débito, mas não há responsabilidade.
provado por outro meio.
Há quem repudie tal corrente ao afirmar que o art.191 prevê a renúncia à prescrição.
Art. 183. A invalidade do instrumento não induz a do negócio jurídico sempre
que este puder provar-se por outro meio. Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo
feita, sem prejuízo de terceiro, depois que a prescrição se consumar; tácita é a renúncia
Quando o artigo menciona tal regra, fica evidente que a norma só se aplica no caso de forma ad
quando se presume de fatos do interessado, incompatíveis com a prescrição.
probationem tantum, pois se for forma ad celebretatem (quando a forma é da própria essência do negócio
celebrado), o negócio é nulo de pleno direito. Ex: a compra e venda de imóvel com instrumento particular Logo, se a prescrição fulminasse o direito, não seria possível renunciar algo que já teria sido
poderia se valer do art.170 (conversão do negócio nulo), mas não do artigo em tela, visto que o instrumento dissolvido (AZEVEDO).
público na compra e venda de imóvel é forma ad celebritatem. 3 – a prescrição gera a perda da pretensão (art.189 CC).
Tal artigo também vem em sintonia com o princípio da conservação dos atos e negócios jurídicos. Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue,
pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206.

Art.184 – Redução. O objeto da prescrição são os direitos subjetivos patrimoniais. Portanto, os direitos da
personalidade são imprescritíveis, sendo prescritíveis, no entanto, eventuais reflexos patrimoniais.
Art. 184. Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio
jurídico não o prejudicará na parte válida, se esta for separável; a invalidade da As faculdades jurídicas prescrevem? As faculdades jurídicas são prerrogativas de atuação
obrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz a da resultante de um direito subjetivo preexistente, não têm autonomia. Ex: uso, gozo, disposição e
obrigação principal. reivindicação, que são faculdades jurídicas resultantes do direito subjetivo de propriedade. Portanto, as
faculdades jurídicas, por si só, não são atingidas pela prescrição, o que prescreve ou não é a pretensão
Se há contrato com 30 cláusulas, a invalidade de uma delas não atinge a validade de todo o contrato; resultante do direito subjetivo.
é possível que o contrato seja reduzido ao número de cláusulas válidas.
O fundamento da prescrição, num 1º estágio, era sancionar, punir a desídia do credor.
O que há de comum entre a redução e da conversão é que ambos são manifestações do princípio da
Posteriormente, num 2º estágio, o caráter punitivo deu origem à ideia de renúncia tácita do credor, que
conservação dos atos e negócios jurídicos. Por outro lado, são diferentes, pois na redução há mera
tacitamente estaria perdoando o devedor. Hoje, não há dúvida de que o fundamento da prescrição é a paz
limitação interpretativa sem mudança da qualificação jurídica ou da forma do negócio.
social, estabilidade das relações jurídicas. “A prescrição busca a cicatrização da lesão ao direito subjetivo” –
SAN TIAGO DANTAS.

Art. 190. A exceção prescreve no mesmo prazo em que a pretensão.

PRESCRIÇÃO (art.189 e seguintes) O artigo menciona exceção no sentido amplo, todo meio de defesa. Logo, se a prescrição pressupõe
a inércia, aquele que tem em favor de si uma tese defensiva não pode ser considerado inerte por não arguí-
la se não for demandado.
Direito subjetivo > dever jurídico > lesão > pretensão > prescrição. O E.14/CJF afirma que a Hoje, se consolidou que é preciso diferenciar as exceções propriamente ditas/dependentes das
pretensão nasce da violação de um dever jurídico. chamadas exceções impróprias/independentes. As exceções propriamente ditas são aquelas apenas
E.14/CJF – Art. 189: 1) O início do prazo prescricional ocorre com o surgimento da arguíveis como matéria de defesa, ao passo que as exceções impróprias são teses defensivas que
pretensão, que decorre da exigibilidade do direito subjetivo; 2) o art. 189 diz respeito a casos poderiam e deveriam ter sido deduzidas por meio de ação autônoma. Ex: A e B são credores e devedores
em que a pretensão nasce imediatamente após a violação do direito absoluto ou da obrigação reciprocamente. A pretensão de A contra B venceu há uma semana, e a de B contra A venceu há 25 anos.
Se o A cobrar do B, este poderá alegar compensação. No entanto, tal tese defensiva resulta de pretensão
de não fazer.
que tem em face de A, a qual deveria ter sido deduzida por ação autônoma. Logo, a compensação, por ser
exceção imprópria prescreve se a pretensão que embasa a compensação foi atingida pela prescrição. Caso Existe uma frase famosa de BARBOSA MOREIRA sobre o assunto, que também foi “atropelada” pela
contrário, B estaria burlando o instituto da prescrição se pudesse arguir tal exceção imprópria depois de modificação trazida em 2006: “a prescrição não retira a arma do credor, ela apenas confere um escudo ao
ultimado o prazo prescricional daquela tese defensiva (compensação) que poderia ter sido proposta por devedor para que este o utilize como mecanismo de defesa, se quiser”.
meio de ação autônoma. Ex2: vício redibitório. O art.445 prevê prazos para propositura das ações edilícias.
Outra crítica é a seguinte: a decadência gera a perda do direito, daí a razão pela qual ela pode ser
Compro TV com vício redibitório, mas deixo de pagar as 2 últimas parcelas. Quando o credor ingressa em
reconhecida de ofício. A prescrição, por sua vez, gera a perda da pretensão, devendo ter lógica distinta da
juízo querendo as parcelas, eu poderia alegar o vício redibitório para pleitear o abatimento proporcional do
decadência.
preço da TV. No entanto tal tese defensiva só poderia ser alegada se não ultrapassado os prazos do
art.445, por se tratar de exceção imprópria, que poderia ter sido deduzida por meio de ação autônoma. Ademais, a prescrição atinge direitos subjetivos patrimoniais que são disponíveis. O reconhecimento
de ofício da prescrição acaba por gerar uma indevida ingerência do Judiciário em detrimento do princípio da
Portanto, verifica-se que o art.190 se aplica apenas às exceções impróprias.
autonomia privada, pois são direitos disponíveis. Portanto, o reconhecimento de ofício da prescrição pode,
por exemplo, inibir a pretensão moral do devedor de cumprir a obrigação e, ainda, impedir que o devedor
deixe o processo correr afim de obter a sentença de improcedência da cobrança.
Art.191 – Renúncia da prescrição. O legislador prevê a renúncia expressa ou tácita.
Uma outra crítica, de ordem prática, é a seguinte: talvez o juiz não tenha elementos suficientes para
Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo
categoricamente afirmar, com a simples leitura da inicial, se houve ou não a prescrição, visto que esta
feita, sem prejuízo de terceiro, depois que a prescrição se consumar; tácita é a renúncia
admite causas de interrupção, impedimento ou suspensão. Logo, seria necessária a promoção de um
quando se presume de fatos do interessado, incompatíveis com a prescrição.
contraditório mínimo, para que as partes pudessem demonstrar tais eventuais causas.
Ex: depois de já consumado o prazo prescricional, o devedor efetua o pagamento, ocorre a renúncia
Cabe ressaltar que a renúncia à prescrição pressupõe a capacidade do renunciante e, sobretudo, a
tácita da prescrição. Para que haja renúncia da prescrição, há a necessidade de verificação de 2 requisitos:
livre disponibilidade sobre o objeto do direito material. Logo, o insolvente e o falido não poderiam renunciar
é necessário que a mesma esteja consumada, não sendo admitida a renúncia antecipada da prescrição; a
à prescrição, por conta dos interesses da massa; o tutor e o curador, idem, pois não pode dispor
renúncia não pode prejudicar terceiro, como no caso da fraude contra credores.
gratuitamente do patrimônio dos tutelados e curatelados; o incapaz também não pode renunciar à
Outro exemplo de renúncia à prescrição com prejuízo a terceiro: solidariedade passiva, e a pretensão prescrição.
do credor já está prescrita. O credor procura o devedor D1, que o paga. Neste ponto, com o pagamento
Com a nova sistemática do reconhecimento de ofício da prescrição, o art.193 perde a graça: juiz,
integral da dívida, ativam-se as relações internas entre os devedores solidários. Neste caso, a renúncia à
como pode reconhecer de ofício, a prescrição pode ser reconhecida em qualquer grau de jurisdição. Trata-
prescrição não pode prejudicar D2 e D3, não podendo exigi-los em suas respectivas quotas-parte.
se de exceção ao princípio da concentração e da eventualidade (art.303).
Portanto, como visto, o art.193 estabelece que a prescrição pode ser alegada em qualquer grau de
A questão do reconhecimento de ofício da prescrição jurisdição.
Art. 193. A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela
parte a quem aproveita.
A lei 11.280/06 revogou o art.194 do CC e alterou o CPC para que o juiz pudesse vir a reconhecer de
ofício a prescrição. Há limite para tal regra? SIM. O limite se encontra na necessidade de prequestionamento para
interposição de RE/RESP e recurso de revista. Portanto, a prescrição não ser alegada de maneira
Alguns começaram a sustentar que tal lei teria revogado tacitamente o art.191. Faz sentido, pois se a inédita quando da interposição do RE/RESP por conta do prequestionamento.
prescrição deve ser conhecida de ofício, a matéria é de ordem pública, não podendo comportar renúncia,
portanto. Tal entendimento está superado; o E.295/CJF textualmente afirma que a norma não foi revogada, Houve um reflexo processual por conta do reconhecimento de ofício: hoje, se admitem embargos de
cabendo renúncia da prescrição, em que pese o seu reconhecimento de ofício. declaração que tenham como único objetivo prequestionar a matéria da prescrição, visto que o julgado que
não se refere à prescrição de ofício passa a ser considerado omisso.
E.295/CJF – Art. 191: A revogação do art. 194 do Código Civil pela Lei n.
Outra coisa que o STJ vem acolhendo é o seguinte: o RESP sobe por motivo diverso da prescrição,
11.280/2006, que determina ao juiz o reconhecimento de ofício da prescrição, não retira do
devidamente prequestionado (o que é diverso do aventado acima: quando o RESP sobe alegando a
devedor a possibilidade de renúncia admitida no art. 191 do texto codificado.
prescrição, sem que a mesma tenha sido prequestionada, não pode o STJ vir a reconhecê-la). Neste caso,
Surgiu posição interessante de ARRUDA ALVIM e de H.T.J, segundo o qual é devido compatibilizar o o STJ parece decidir no sentido de possibilitar o reconhecimento de ofício da prescrição.
reconhecimento de ofício da prescrição com a renúncia: o juiz não poderia reconhecer de ofício a prescrição
Uma outra consequência da mudança legislativa de 2006 é a possibilidade de ação rescisória: o
antes de ouvido o réu, pois se o juiz pudesse reconhecer a prescrição antes mesmo de ouvi-lo, o juiz estaria
julgado que não reconhece a prescrição, ainda que de ofício, é passível de ação rescisória por contrariar a
impedindo-o de renunciar à prescrição. Logo, tal audiência do réu seria para oportunizá-lo a renunciar à
lei (art.485, V).
prescrição.
Existe um julgado recente do STJ que contempla tese de alguns autores de Direito do Trabalho: não
MATIETO traz uma posição interessante para Procuradorias: o juiz não pode reconhecer de ofício a
caberia declaração de ofício da prescrição em face do empregado por conta do princípio protetivo. O
prescrição antes de ouvir o réu, salvo se o réu é Fazenda Pública, visto que o advogado público não pode
julgado estabeleceu que não cabe reconhecimento de ofício da prescrição em face da parte hipossuficiente:
renunciar à prescrição devido à indisponibilidade dos interesses fazendários.
potencial aplicação em favor de consumidores e aderentes.
Há, ainda, diversos autores que criticam o reconhecimento de ofício da prescrição. A legislação que
Os art.741, VI e 475-L, VI CPC permitem argüição de prescrição em sede de embargos à execução e
introduziu tal mudança é essencialmente processual, com o objetivo de trazer economia processual,
impugnação ao cumprimento de sentença apenas em relação à prescrição posterior ao trânsito em julgado
atropelando diversos institutos do Direito Civil (como a renúncia à prescrição, por exemplo).
da sentença ou do acórdão; não pode a parte, em execução, alegar prescrição que deveria ter sido
suscitada em momento anterior. Tal prescrição se refere ao prazo prescricional da pretensão executória, – como a herança é indivisível, H2 e H3 são beneficiados! O prazo volta a fluir quando cessar a
que nasce a partir do trânsito em julgado. incapacidade absoluta: ou seja, quando H1 fizer 16 anos.
Quando há o trânsito em julgado em detrimento da Fazenda, não há interrupção do prazo da Art.192: os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo entre as partes, o que ressalta
prescrição, e sim ocorre o início de um novo prazo prescricional; se houve causa interruptiva na causa o caráter de ordem pública. A jurisprudência anterior admitia a redução do prazo, no silêncio do CC/16.
cognitiva, nada impede, na prática, a ocorrência de uma outra causa interruptiva na fase executória, pois
Art. 192. Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das
esta é regida por um novo prazo prescricional.
partes.

O art.195 contempla regra de responsabilidade civil: os relativamente incapazes atuam por meio de
seus assistentes, e as PJ, por meio de seus representantes. Fatos preclusivos da prescrição

Art. 195. Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contra os


seus assistentes ou representantes legais, que derem causa à prescrição, ou não a Gênero que comporta 3 espécies: impedimento, suspensão e interrupção.
alegarem oportunamente.
Impedimento X Suspensão X Interrupção: no impedimento, o prazo sequer se inicia; na
É possível que a desídia do assistente possa levar à prescrição e atingir os interesses do suspensão, o prazo se inicia, se suspende e, ao retornar, leva-se em conta o período anteriormente
relativamente incapaz, assim como a PJ pode ser lesada pela desídia do representante. Os relativamente transcorrido; na interrupção, o prazo se inicia, se interrompe e, quando retorna, volta ao início.
incapazes e a PJ têm ação contra eles se estes derem causa à prescrição ou não alegarem oportunamente.
Esta não alegação se tornou duvidosa, pois agora a prescrição pode ser alegada de ofício. As causas de impedimento e de suspensão da prescrição são as mesmas, sendo um ou outro de
acordo com o momento em que as causas operarem. Ex: não corre prescrição entre cônjuges. Enquanto
TEPEDINO defende que não se pode responsabilidade civil do assistente do incapaz com a solteiros há uma dívida e depois eles se casam, a suspensão ficará suspenso; se a dívida for contraída
responsabilidade do representante da PJ, pois este é um profissional que assume os riscos do negócio. quando do casamento, há impedimento.
Dele se exige maior diligencia e habilidade. Logo, TEPEDINO entende ser objetiva sua responsabilidade
civil, com base no art.927, parágrafo único – teoria do risco, ao passo que a responsabilidade civil do Art.197 – Não corre prescrição:
assistente do incapaz seria subjetiva. Tal posição privilegia o tratamento da PJ em detrimento do incapaz,
que deverá provar dolo ou culpa do assistente; solução que vai contra a despatrimonialização do Direito Art. 197. Não corre a prescrição:
Civil.
I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;
Ressalta-se que, em relação aos absolutamente incapazes, a regra do art.195 não se aplica, visto
que contra estes não corre a prescrição (art.198, I). II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;

Art. 198. Também não corre a prescrição: III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou
curatela.
o
I - contra os incapazes de que trata o art. 3 ;
I – não corre prescrição contra cônjuges: o prazo volta a fluir quando da separação judicial, não precisa do
II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos divórcio para reiniciar o prazo. Trata-se de regra que objetiva proteger a paz familiar. Por isso, o E.296/CJF
Municípios; estende a aplicação da norma à união estável.

III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra. E no caso de separação de fato? Neste caso, há 2 correntes.
- a separação de fato, por não romper a sociedade conjugal, na pendência da mesma não corre prazo
prescricional;
Art.196 – Acessio praescriptionis. Decorrência natural da definição de sucessão. - o art.197 deve ser interpretado com o art.1.723, p.1º, que permite ao separado de fato constituir união
Art. 196. A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra o seu estável; seria uma contradição o separado de fato poder constituir uma nova família e não ver eventual
sucessor. prazo fluir por conta do cônjuge, até porque não há mais paz familiar a ser preservada (HTJ)

Na sucessão há a mutação subjetiva em um dos polos da relação jurídica, a qual se mantém a No caso do casamento nulo, afasta-se o efeito impeditivo ou suspensivo da prescrição. A exceção é o
mesma em relação aos demais elementos. Ex: Cessão de crédito – sucessão no polo ativo, mas as casamento putativo (art.1.561), protegendo o cônjuge de boa-fé.
garantias, juros, prazos, tudo continua fluindo normalmente. Logo, a redação do artigo deveria ser “contra e II – não corre prescrição entre ascendentes e descendentes durante o poder familiar. Se há maioridade,
a favor”. emancipação, o prazo volta a fluir.
No entanto, há um detalhe: credor X e devedor Y. X morre e automaticamente transfere o direito de No caso da adoção, em relação aos pais biológicos o prazo volta a fluir, mas quanto aos pais
crédito a seus herdeiros. H1 tem 12 anos, e H2 e H3 são maiores. A prescrição originada contra X adotivos há impedimento/suspeição.
continua fluindo contra seus sucessores, embora não corra contra H1, que é absolutamente incapaz.
A dúvida é: a suspensão do prazo em favor de H1 beneficia H2 e H3? A jurisprudência aplica III – não corre prescrição entre tutelados e curatelados e seus responsáveis quando da tutela e curatela.
analogicamente a parte final do art.201: a prescrição só aproveita aos demais se a obrigação for indivisível
TEPEDINO defende a aplicação estensiva do inciso III à hipótese de guarda (não corre prescrição (testador) que transfere o bem ao fiduciário (com propriedade resolúvel) e, com o implemento de condição
entre o guardião e o menor). Fazer remissão com o art.33 a 35 do ECA. ou termo, o bem vai para o fideicomissário. Ex: há termo de 50 anos e, durante 16 anos, o fiduciário sumiu
e um terceiro apareceu e usucapiu. Logo, este 3º adquire direito resolúvel?
Qual é a razão da existência de 2 artigos que tratam do mesmo tema (art.197 e 198)? Existe uma
razão de técnica legislativa: o art.197 trata de causas subjetivas bilaterais, ou seja, a norma busca proteger Em regra, não, pois a usucapião gera direito originário, novo. O STJ, inclusive, chegou a dizer que
relações socialmente importantes – o objetivo é proteger a paz em relações importantes. quem usucape imóvel hipotecado, faz cair a hipoteca.
No art.198 há causas subjetivas unilaterais, a norma busca a proteção de determinadas pessoas. No entanto, quem usucapir vai obter propriedade resolúvel por conta da regra especial do art.199, I e
II combinada com o art.1.244, pois a propriedade não havia sido transferida para o fideicomissário por conta
I – não corre prescrição contra absolutamente incapaz. No caso de incapacidade absoluta
do não implemento da condição ou não transcurso do prazo. Se não corre prescrição contra o
superveniente, é necessária sentença de interdição para aplicação do art.198, I? Há 2 correntes.
fideicomissário, também não corre prazo para usucapião.
- a 1ª corrente defende que a sentença de interdição é necessária, para derrubar a presunção de
III – não corre prescrição pendendo ação de evicção. No caso de alienação a non domino, a vítima do furto
capacidade dos maiores (CARVALHO SANTOS)
é o evictor, que aduz pretensão evictória contra D, que está com o bem, e D vai propor ação de evicção em
- a 2ª corrente, de CÂMARA LEAL e TEPEDINO, entende que a norma em comento objetiva proteger face dos alienantes imediatos. Enquanto há pendência da ação do evictor em face do evicto, não flui o
aquele desprovido de discernimento. É possível que a pessoa tenha se tornado deficiente, mas que não prazo prescricional da pretensão ressarcitória do evicto em face dos alienantes anteriores por conta da
tenha advindo sentença de interdição por conta de demora do Judiciário ou desídia dos familiares. Seria relação de prejudicialidade entre as demandas.
inadmissível que uma pessoa não goze de proteção. Logo, não havendo sentença de interdição, caberia o
Há regras especiais quanto a impedimentos, suspensões e interrupções:
ônus de provar a ausência de discernimento.
- suspensão da prescrição por conta da sentença de falência;
Existe um julgado do STJ que aplicou tal posição do CÂMARA LEAL: a sentença de interdição foi
retroagida para fins de suspensão do prazo prescricional até o momento do advento da incapacidade - prescrição da execução fiscal;
II – não corre prescrição contra os ausentes do país em serviço da União, Estado, municípios e DF, assim - v.229/STJ – contrato de seguro; o pedido de pagamento de indenização à seguradora suspende o prazo
como em serviço de autarquias e fundações públicas. Há controvérsia em relação às estatais: de prescrição até que o segurado tenha ciência da decisão.
- CAPANEMA defende que a regra se aplica às estatais, pois há recursos públicos envolvidos. Fora tais hipóteses, é possível sustentar a não fluência do prazo prescricional no caso da
impossibilidade absoluta de agir? A tendência é no sentido de que SIM. Ex: greve do Judiciário no último
- HTJ discorda, dizendo que as estatais são PJ de direito privado.
dia do prazo; tragédia natural que inviabilize o exercício da pretensão. Nosso CC/02 é omisso, mas poderia
haver aplicação analógica do art.183 CPC, que prevê a possibilidade de devolução de prazo peremptório se
Art.199 – não corre igualmente a prescrição: a razão desta norma vir autonomamente é o fato de tal demonstrada a justa causa.
artigo prever causas objetivas ou materiais. O E.156/CJF afirma que não corre prescrição contra os ausentes, o que vem no sentido da tese
exposta.
Art. 199. Não corre igualmente a prescrição:
E.156/CJF – Art. 198: Desde o termo inicial do desaparecimento, declarado em
I - pendendo condição suspensiva; sentença, não corre a prescrição contra o ausente.
O prazo prescricional só flui a partir do momento em que a pretensão é exercitável – teoria da actio
II - não estando vencido o prazo; nata. Há julgado do Inf.470/STJ no seguinte sentido: foi constatado que uma agulha foi deixada na barriga
da paciente em 1979, e o exame foi feito em 1995. Logo, a prescrição se iniciou a partir do exame, em
III - pendendo ação de evicção. 1995, pois a pretensão não era exercitável antes disso, a paciente não tinha conhecimento acerca da lesão
de seu direito subjetivo.
I – não corre prescrição pendendo condição suspensiva. Na pendência desta condição não há sequer a
obtenção do direito visado, não havendo que se falar em lesão de direito subjetivo e fluência do prazo
prescricional. Art.200 – Fato que deve ser apurado no juízo criminal. O prazo para eventual reparação civil ex
TEPEDINO ressalta o seguinte: X possui pretensão embasada em um título que seja questionado delicto não flui até a sentença definitiva.
judicialmente. O resultado da prestação jurisdicional seria condição suspensiva para a efetividade da Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo
pretensão, por ser evento futuro e incerto. Portanto, não fluiria prazo prescricional na pendência da criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva.
prestação jurisdicional que questiona a validade do título, havendo impedimento ou suspensão.
A maioria da doutrina entende que o prazo da prescrição civil retorna quando do trânsito em julgado
Entendimento questionável, pois a simples propositura da ação anulatória ou rescisória não suspende da condenação penal.
a efetividade da pretensão; o resultado da prestação jurisdicional se assemelha mais a uma condição
resolutiva do que suspensiva. HTJ possui posição isolada no sentido de que a prescrição não se consumará, ou seja, na pendência
do processo criminal, a prescrição civil continua fluindo. Ou seja, em havendo trânsito em julgado da
II – não corre prescrição não estando vencido o prazo: óbvio, pois ainda não há lesão ao direito subjetivo. decisão penal antes do advento do prazo, este em nada é alterado. O objetivo da regra é evitar que haja
Isso cai muito em direitos reais. O art.1.244 afirma que as regras sobre impedimento, suspensão e condenação criminal com a consumação da prescrição cível, prejudicando a vítima; a regra quer evitar a
interrupção da prescrição se aplicam à usucapião. O que cai muito é: fideicomisso há o fideicomitente prescrição cível. HTJ diz que a simples propositura do processo penal em nada protege o credor; se há
prazo prescricional de 5 anos e o processo penal dura 2 anos, ainda restam 3 anos para se obter a O professor possui posição interessante: no 2º dia do prazo prescricional, o devedor reconhece o
reparação, segundo HTJ. Para a maioria da doutrina, no entanto, o prazo se suspende. direito do credor, interrompendo a prescrição segundo o art.200, VI, mas nada faz a respeito e não
demonstra intenção de pagar. Segundo o caput, o credor não mais poderia interromper o prazo
THEOTONIO NEGRÃO, ao seu turno, defende que o art.200 só é aplicado se houver propositura de
prescricional, visto que uma causa interruptiva já foi verificada. Segundo o professor, tal hipótese trata-se de
ação penal; enquanto não houver recebimento de denúncia ou queixa, o prazo para a reparação civil flui.
fraude à lei, não podendo afastar do credor a possibilidade de interromper a prescrição.
Em havendo denúncia ou queixa, suspende-se o prazo prescricional. Se a sentença advier e condenar o
praticante do ilícito penal, surge um novo prazo prescricional de pretensão executória. Se a sentença for Art.202, I – Análise dos incisos:
absolutória, vai depender da causa da absolvição: se for por inexistência de materialidade ou autoria, o
I – interrompe a prescrição o despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação. Trata-se do
prazo não volta a fluir; nas demais hipóteses, o prazo prescricional se reinicia.
despacho liminar de conteúdo positivo (BARBOSA MOREIRA), o famoso “cite-se”.
TEPEDINO defende que tal norma revogou tacitamente, em parte, o art.219 caput do CPC, o qual
afirma que o que interrompe a prescrição é a citação válida, enquanto o art.202, I diz que o mero “cite-se” já
possui o condão de interrompê-la.
Os processualistas em geral discordam; GONÇALVES também, pois o art.219, p.1º afirma que se a
citação for promovida no tempo oportuno, o efeito interruptivo da citação válida retroage à data da
Interrupção da prescrição (art.202) propositura, a qual pode se dar de 2 formas: com a distribuição ou com o “cite-se”, e o CC/02 afirma que
interrompe a prescrição o “cite-se” se o interessado promover a citação no prazo da lei processual. Logo, na
Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar- verdade, o que o CC/02 foi trazer o p.1º do art.219 do CPC para a Lei Civil, pois na verdade o que vai
se-á: interromper é o “cite-se” apenas se o interessado promover a citação no prazo legal. Talvez o CC/02 tenha
falhado por não contemplar a outra possibilidade de propositura da ação: a distribuição.
I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a Questão: X entra em juízo na iminência de consumação do prazo prescricional. O Juiz manda
promover no prazo e na forma da lei processual;
emendar a PI e, na pendência da emenda, o prazo prescricional se consuma. Neste caso, há quem
defenda que a consumação do prazo se dá pela desídia do credor. O professor discorda: ainda que a PI
II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;
tenha sido atécnica, isto não afasta o elemento essencial de o autor ter saído da inércia; tal solução não se
prestaria à melhor tutela do direito material.
III - por protesto cambial;
O art.202, I é plenamente aplicável no caso de reconvenção ou pedido contraposto, pois nestes
IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de casos há verdadeira pretensão deduzida pelo réu em face do autor. A norma também se aplica no caso de
credores; cautelar preparatória.

V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; TEPEDINO possui interessante entendimento, no sentido de aplicar a interrupção do prazo
prescricional em juízo arbitral: há contrato com cláusula compromissória. O ingresso no juízo arbitral
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do propicia a aplicação estensiva do art.202, I, pois neste caso o ingresso no juízo arbitral representa a via
direito pelo devedor. definitiva para a solução do conflito de interesse, se equipara ao ingresso em juízo para fins de interrupção
do prazo prescricional.
Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a
interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper. II – o protesto que interrompe a prescrição é o previsto nos art.867-873 CPC. O CC/16 não previa, mas o
CC/02 o fez: o protesto cambial passou a ser forma de interrupção da prescrição (inciso III).
Nos incisos I a V, quem interrompe a prescrição é o credor, ao sair do estado de inércia. Cuidado com o v.153/STF – o protesto cambial não interrompe a prescrição. Tal verbete era da época
Excepcionalmente, no inciso VI, quem interrompe a prescrição é o próprio devedor. do CC/16, mas o mesmo caiu por terra com o CC/02.
A interrupção da prescrição só pode se dar uma vez, com o condão de evitar a imprescritibilidade no IV – interrupção da prescrição pela apresentação de título de crédito em juízo de inventário ou em concurso
caso de sucessivas interrupções (até porque o prazo zera). de credores (falência, por exemplo).
TEPEDINO faz ponderações: poderia ocorrer a seguinte situação: o credor protesta o título, Questão importante: o art.6 da LF diz que um dos efeitos da sentença de falência é a suspensão
interrompendo a prescrição, conforme o inciso II. Desta forma, o prazo se reiniciaria. Em seguida, o mesmo da prescrição. Como compatibilizar os dispositivos? Com a simples prolação da sentença, suspende-se
credor ajuíza ação pretendo obter o seu crédito. Pela leitura fria do caput do art.202, a prescrição não mais a prescrição. Aquele credor que for diligente e habilitar seu título de crédito no juízo falimentar passa a ser
poderia ser interrompida, visto que isto já ocorreu quando do protesto; logo, o prazo prescricional poderia contemplado com a interrupção do prazo prescricional. Logo, pode haver convolação da suspensão em
ser consumado ao longo da ação judicial, prejudicando o credor. interrupção do prazo caso o título seja habilitado na falência.
Nesta esteira, TEPEDINO sustenta que o art.202, I pode representar uma 2ª causa interruptiva V – interrupção da prescrição por meio de qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor.
da prescrição, considerando que neste caso o credor busca o Judiciário para solucionar
A mora referida no inciso é mora ex persona (art.397, parágrafo único). Indaga-se: apenas os atos
definitivamente o conflito; portanto, se protesta o título, o prazo volta do zero, e se entra na Justiça antes
judiciais são capazes de interromperem a prescrição? Por meio da corrente legalista, apenas o ato
de encerrado, o prazo zera de novo.
judicial pode interromper a prescrição.
No entanto,TEPEDINO e HTJ trazem 2 novidades do CC atual que seriam incompatíveis com a HTJ sustenta que a inaplicabilidade do art.2.028 só poderia ser afastada por razão de ordem pública.
interpretação literal de tal inciso: a parte final do parágrafo único do art.397 – o legislador passa a admitir a Ex: determinado direito potestativo não era sujeito a prazo, e passou a ter prazo na nova legislação. Logo,
constituição da mora ex persona por meio da interpelação extrajudicial; o protesto cambial passa a ser neste caso o prazo previsto na nova legislação se computa a partir de sua vigência.
causa interruptiva da prescrição, o qual possui natureza extrajudicial, logo, não faria sentido que a
Art.207 – todo mundo dizia que os prazos decadenciais eram peremptórios, pois não admitiam
interpelação extrajudicial não produzisse o mesmo efeito.
causas de suspensão, impedimento e interrupção. Tal artigo desmente tal afirmativa, pois o legislador
admite, excepcionalmente, tais causas. Ex: art.208.
Aula 10 Art. 207. Salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as
normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição
HTJ entende que a aplicabilidade do art.198,I (não fluência do prazo contra absolutamente
VI – única hipótese em que a prescrição é interrompida pelo devedor: qualquer ato inequívoco do
incapazes) à decadência deve ser analisada com cautela: é preciso diferenciar 2 situações:
devedor, ainda que extrajudicial, que importe em reconhecimento do credor, interrompe a prescrição (ex:
parcelamento tributário). - exercício do direito potestativo que ocorre necessariamente em juízo, por meio de ação judicial, como o
direito potestativo de anular o contrato. Neste caso, seria aplicável o art.198, I à decadência.
TEPEDINO possui exemplo: propositura de ação consignatória interrompe a prescrição quanto aos
valores incontroversos. - exercício do direito potestativo pode se dar pela via extrajudicial (ex: cláusula de retrovenda). Se o
vendedor se torna absolutamente incapaz por demência, por exemplo, não seria razoável que o prazo
Há julgado do STJ que decidiu que a indicação de bem à penhora não é apto para interromper a
decadência ficasse suspenso para sempre. Outro exemplo: ação renovatória, em que a parte que pode
prescrição, visto que trata-se de meio pelo qual o devedor pode se insurgir contra a execução por meio de
pleitear renovação compulsória fique incapaz. Neste caso, se a deficiência mental perdurar por 5 anos,
embargos.
caberia ação renovatória de contrato que já fosse extinto, o que seria inimaginável.
Art.202, parágrafo único – reinício do prazo prescricional. A 1ª parte prevê a hipótese da
Portanto, segundo HTJ, a aplicabilidade do art.198, I em relação a prazos decadenciais se
interrupção de eficácia instantânea e a 2ª parte trata da interrupção por processo judicial.
restringe às hipóteses em que o direito de potestativo deva ser exercido em juízo. Tal entendimento
Se a interrupção se dá pela relação processual, permanece interrompida enquanto a relação evita que contratos encerrados pudessem ser ressuscitados por conta do advento de incapacidades, por
perdurar. É o caso dos incisos I, II. IV e V. A interrupção decorrente de ato extrajudicial é de eficácia exemplo, mitigando a insegurança jurídica.
instantânea, nos casos dos incisos III e VI (a última hipótese, ressalta-se, pode se dar por via judicial, em
Basta lembrar que os regimes protetivos envolvendo incapazes e prazos prescricionais também se
relação processual).
aplicam em relação aos prazos decadenciais.
No transcurso da relação processual, pode ocorrer a prescrição intercorrente: ideia de que a
OBS: o art.445 estabelece prazos decadenciais para a propositura de ações edilícias, e o artigo seguinte
prescrição permanece interrompida durante a relação processual se esta tiver andamento regular; em
afirma que tais prazos não fluem na constância da cláusula de garantia, a qual é causa de impedimento de
havendo desídia do credor para promover o andamento do processo, se inicia a prescrição intercorrente.
prazo decadencial. Lembrar que a garantia contratual se soma à garantia legal.
TEPEDINO sustenta que à prescrição intercorrente não se aplica o caput do art.202: a prescrição seria
interrompida por mais de uma vez. O legislador no CC/02 prevê a decadência legal e a decadência convencional, ajustada pelas partes.
Ex: quando há uma obrigação alternativa, a concentração (escolha de uma das prestações) é direito
DECADÊNCIA (art.207 – 211)
potestativo. Se for atribuído ao credor o direito de exercer a concentração, uma vez exercido tal direito
potestativo, surge para o credor o direito subjetivo de exigir o bem escolhido. Por isso, os clássicos diziam
que em muitos casos o direito potestativo representa o direito subjetivo em formação. Neste caso, nada
A decadência é o prazo exercido para o exercício de direitos potestativos.
impede que as partes ajustem prazo de 10 dias para o credor exercer a concentração da obrigação, o qual
Todo direito potestativo se submete a prazo decadencial? NÃO, existem alguns que podem ser seria decadencial convencional.
exercidos a qualquer tempo. Ex: direito do condômino de exigir a extinção parcial do condomínio. Ademais,
Decadência legal X Decadência convencional: a decadência legal é irrenunciável (art.209),
STJ já afirmou que não há prazo decadencial para o credor exigir a desconsideração da personalidade
diversamente da decadência convencional (princípio da autonomia privada); a decadência legal deve ser
jurídica, a qual poderia ser exigida a qualquer tempo (Inf.468/STJ).
reconhecida de ofício pelo juiz (art.210), enquanto a decadência convencional não pode ser reconhecida de
O fundamento da decadência é a segurança jurídica, assim como na prescrição. No entanto, na ofício (art.211 parte final).
prescrição também existe o objetivo de se evitar a eternização dos conflitos de interesses, o que não ocorre
O art.295, IV CPC fala que uma das causas de indeferimento da PI é a decadência; o dispositivo trata
na decadência, visto que quando há direito potestativo, em regra, não há conflito de interesses.
apenas da decadência legal.
O art.2.028 que trata do direito intertemporal é aplicado em relação aos prazos decadenciais?
O art.211 afirma que a decadência convencional por ser alegada em qualquer grau de jurisdição,
A redação do dispositivo não restringe, mas a tendência é no sentido da inaplicabilidade. A decadência gera
desde que não o faça de maneira inédita quando da interposição de recurso excepcional, por ausência de
a perda do direito potestativo, o qual já nasce com um prazo dentro do qual deve ser exercido; o prazo
prequestionamento. Obviamente, a decadência legal também pode ser alegada em qualquer grau de
decadencial integra a própria estrutura do direito potestativo, o que torna inaplicável o art.2.028, pois a lei
jurisdição.
não poderia atingir o direito adquirido; haveria o direito adquirido ao exercício do direito potestativo dentro
do prazo decadencial, que faz parte da sua própria estrutura. Art. 211. Se a decadência for convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-
la em qualquer grau de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação.

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