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- O que é inspeção? Segurança alimentar; o que pode e não pode ser feito na indústria alimentícia.
É a atividade de maior valor agregado (hora/salário) na Medicina Veterinária.
- Origem da Medicina Veterinária: profissional das guerras na antiguidade que cuidava dos cavalos,
cães e comidas. Durante as guerras se conquistava tudo do inimigo, inclusive os alimentos – por isso
era uma prática comum do território perdedor envenenar os alimentos e os “provadores oficiais”
averiguavam esta segurança.
- A inspeção tem caráter privativo para os Médicos Veterinários, não há como abrir para outras
profissões: é necessário o conhecimento da patologia animal, doenças, anatomia, entre outros.
- Qualidade: também é julgada pelo ministério, tem relação principalmente com as exigências de
mercados externos.
- Resumindo, a Inspeção em:
• 1º lugar: Trata da segurança alimentar. O que pode ou não ser alimento.
• 2º lugar: Qualidade – demanda de mercado/diferenciais.
- Antigo RIISPOA: 52. Mas o novo (2017) ainda deixa a desejar quanto a inspeção de leite, portanto
dependemos muito do conteúdo de instruções normativas para nos guiar.
- A inspeção é muito dinâmica, optou-se por deixar em IN/portarias para poder mudar facilmente
valores de referência, sem amarrar na lei, pois as tecnologias sempre estão evoluindo.
- Ainda estão em vigor as normativas como a IN62 (evolução da IN51) para regrar a produção de leite.
- A IN51 vigorou até 2016. A IN62 atualizou valores dessa normativa e é vigente até hoje.
DE ONDE VEM
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Caderno de Inspeção de Leite e Derivados 2017/1
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- Muitos produtores dependiam do leite para seu sustento, mas qualidade era muito ruim.
- PNMQL = Plano Nacional de Melhoria da Qualidade do leite (médio e longo prazo, ideia seria que
Brasil se tornaria autossuficiente)
PRODUÇÃO INFORMAL
- 35-42% da produção leiteira no Brasil é comercializada sem nenhum tratamento (Mercado informal)
• Doenças: Febre Q (confunde com a Dengue, dor no corpo – relato em Belo Horizonte),
brucelose (dor em articulações é bem sugestivo), listeriose.
- Bom produtor descarta vacas ruins do ponto de vista sanitário (mastite, zoonoses) – Alta CCS. Porém
na verdade este produtor informal é uma pessoa que “não quer” se enquadrar, é resistente a
aprender ou implantar as boas práticas de fabricação, compra as vacas brucélicas e mastíticas
persistentes pois são mais baratas. Hoje o serviço de inspeção inclusive é mais flexibilizado na
questão de orientar produtores.
- Na última década vem aumentando a informalidade. A maneira de acabar com isso seria atuando
na conscientização do consumidor – não há produto se não há consumidor. Outro problema do
produto informal é que a qualidade é ruim e vai decaindo ao longo do dia. (Variações de temperatura)
- Brecha na legislação: queijo com leite cru artesanal na região da Serra da Canastra. Mas para isso é
feito rígido controle sanitário, não apenas o protocolo tradicional. Funciona, porque o próprio
produtor da região defende e fiscaliza, já que sabe a importância deste produto (alto valor agregado)
– é a mentalidade que possibilidade alcançar este patamar.
- Metas/ações para melhorar a qualidade do leite (que era defasada). Nem tudo foi alcançado.
- O Erro da IN51 (02/01/2002) foi ter sido “jogada” sem explicar o porquê das novas medidas.
Portanto, houve pouca adesão.
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- Não adianta só ter o equipamento adequado sem saber utilizar. Ex: se mal utilizado, a ordenhadeira
mecânica pode ser causa de destruição do úbere da vaca e servir de fonte de mastite.
- O produtor foi resistente ás mudanças pois foi feito de uma forma imposta e sem orientação. Na
época os laticínios não tinham equipes de assistência técnica.
LEGISLAÇÃO
- IN51: Aprovada em 2002. Foi importante porque mudou o que estava ruim no RIISPOA. Foi feita
para gerar um impacto (“Agora existe lei”).
- O principal objetivo da legislação é estabelecer padrões mínimos para o leite brasileiro, seja ordenha
manual ou tecnificada. Adequou para diferentes realidades, já que temos padrões. O cara da ordenha
manual também consegue agregar valor e obter bons resultados – valoriza o pequeno produtor.
- Perfil de qualidade da matéria prima: cria ferramentas para selecionar as melhores. (Logísticas na
empresa: pegar os melhores leites para render queijo, gordura, etc, hoje isso já é uma rotina e os
laticínios pagam por isso). É um incentivo para o produtor realizar as boas práticas de fabricação.
• Antes o leite era armazenado em latões que ficavam à beira da estrada em temperatura
ambiente (27-32º C): favorece o crescimento bacteriano e diminui a qualidade.
• EUA e EU: mesmo com o clima mais frio refrigeravam seu leite – modelo a ser seguido.
• Saímos de um modelo estabelecido para um novo ($): tanque de aço inox, estabelecido na
legislação – mas não explicaram o porquê. Laticínios foram capazes de reconhecer a
importância e pegaram linhas de crédito no BNDES para adquirir o equipamento e repassar
aos produtores – leite refrigerado.
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- Leite em 4º C em 3 horas: não atinge a fase de crescimento log. Por isso experimentalmente havia
sido estabelecido que entregar em até 2 horas para o laticínio seria capaz de segurar a contaminação
para aumentar a qualidade do leite.
- A fase de maior atividade metabólica é a LAG, pois nela as bactérias estão se preparando para
crescer e atingir a fase log, grande demanda de energia.
- No frio, a bactéria fica mais “preguiçosa” e não consegue sair bem de Lag. Já depois que entrou na
fase Log, não há mais como intervir – continuará expandindo exponencialmente até exaurir seu
potencial de crescimento.
- Fase estacionária: mesmo número de bactérias crescendo e bactérias morrendo. Este tamanho não
é proporcional, duração variável.
- Após a implantação desta lei, começamos a perceber problemas que até então não eram aparentes.
Começando a coletar a cada 48 horas, a maioria trabalhava com duas ordenhas diárias. O problema
disso é que iam colocando leite quente (Úbere – 30º C) no tanque, o que favorece as bactérias
crescerem. Elas saiam de um ambiente ruim (refrigerado) para um bom (quente), então a bactéria
corria para crescer.
• Ou seja: O certo e esperado seria que o leite se mantivesse a 4º C, porém a cada ordenha
(12h) que jogava o novo leite quente no tanque, havia uma variação da temperatura para
mais quente em pequenos picos, fazendo com que ao passar do tempo não tenha mais leite
nenhum a 4º C. Com isso, o crescimento bacteriano vai aumentando ao longo do tempo.
• Hoje existem soluções para este problema, como:
o Ordenha canalizada: um motor está sempre ligado, que homogeneíza o tanque de
expansão e vai ejetando o leite quente lentamente.
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- Tanque de imersão ➔ Tem que ser colocado em latão com água circulando embaixo, exceção na
legislação.
- Aço inox: favorece a dispersão do frio e facilita limpar. O tanque deve ter um
misturador/homogeneizador para não haver a separação do leite em fases.
* Leite de saquinho não homogeneizado: leva a sedimentação dos sólidos e separação da fase creme.
- Quanto mais fluido o leite estiver, melhor o resultado para não forçar o motor. Mais de 1 hora de
espera, o motor tem que forçar demais para desfazer o creme.
- Visualizador digital no tanque é uma exigência da legislação, pois fica mais fácil para bater o olho e
entender. O freteiro deve registrar a temperatura e a quantidade (volume) de leite no tanque, é
uma atribuição que ele ganhou.
- É obrigatório que o leite esteja entre 2-4ºC (Não congela, mas mantem a microbiota na fase lag) e
deve ser entregue no máximo a 7º C no laticínio. A exigência da lei fala em temperatura, não em
tempo para o caminhão chegar.
- Resfriamento pela mesma lógica das geladeiras antigas (motor faz o gás ficar girando para manter
o frio) – o leite é resfriado pelo contato com as paredes do tanque. Serpentinas com gás circulam
no interior da parede, gerando o frio no sentido da parede para dentro.
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- A legislação até então só falava e preocupava com os mesófilos, pois era o problema conhecido e
existente na época. No entanto, observou-se que o leite mesmo com menor contagem de mesófilos
continuou com a qualidade ruim – havia outros microrganismos envolvidos.
• Bactérias mesófilas: gostam de açúcar. Galactose = lactose + glicose. É uma forma mais
elaborada de açúcar do ponto de vista químico – via metabólica de eleição da bactéria
(metabolismo glicolítico). O resíduo gerado é o ácido lático, que é o responsável por acidificar
o leite. Toda legislação se baseia como triagem no teste do álcool-alizarol para medir acidez
e dizer se o leite será ou não coletado.
o A lei foi pensada considerando apenas as mesófilas como produtoras do ácido lático.
Porém mesmo com estas medidas se perdia produto, a massa não rendia apesar dos
cuidados com o resfriamento, pois existia outro grupo de bactérias atuando.
• Bactérias psicrotróficas: são como mesófilos, de temperatura de crescimento ótima na
mesma faixa. Mas, nas baixas temperaturas busca um metabolismo alternativo para crescer
– usa proteína e/ou gordura. Portanto, possuem enzimas proteases e lipases para realizar
essa quebra.Não acidifica o leite neste processo, mas prejudica a qualidade – pois não é
possível quantificar nem identificar e estas enzimas são termoestáveis. Ou seja, resistem a
pasteurização/UHT e continuam deteriorando o leite e com isso piorando o rendimento dos
derivados e comprometendo sua estabilidade. Nem CPP nem Alizarol são úteis para
identificar este processo – por muito tempo na indústria o UHT talhava, parecia que a
contagem bacteriana estava boa e os problemas persistiam devido à presença destas
enzimas.
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COLETA DO LEITE
- Amostras: recolher de cada propriedade em que se coletou leite.
- Temperatura adequada:
Tanque/Temp. Máxima Propriedade Recepção
Expansão (A e Refrigerado) 4º C 7º C
Imersão (Derivados) 7º C 10º C
- Acidez Alizarol: Álcool 72º
- É muito difícil o freteiro se dedicar a flambar e desinfetar a concha a cada coleta. Muitos também
lançam a temperatura na planilha sem realmente medir (nem olhar no marcador digital). Acontecia
também de pegar uma amostra em uma propriedade e usar como se fosse de várias outras.
- Quando se criou a lei, não sei pensou nestes aspectos sociais, de um funcionário de repente ganhar
várias atribuições sem prévio aviso ou treinamento (ou sequer aumentar o salário).
Álcool-alizarol (triagem): único momento de dizer “não vou recolher seu leite”, antes de misturar nos
demais. Impôs responsabilidade muito grande na mão do responsável pela coleta.
- Tanque: tem um aferidor de temperatura digital, para que a pessoa que coleta possa registrar de
maneira fácil a temperatura. Em seguida se faz o teste do alizarol e coleta de amostras. ➔ Cuidado
com esse ponto da cadeia na coleta, fragilidade.
- Leite tipo A não é transportado, mas pode ser mantido na propriedade em tanque de expansão.
(Para posteriormente ser pasteurizado/processado na própria propriedade)
- Exigência para o MAPA: 1 amostra por mês.
- Laticínios: muitos recolhem amostras a cada coleta na propriedade.
TESTE DO ÁLCOOL-ALIZAROL
* Álcool: pode ser nas concentrações 68º, 72º (mais usado) e 76º
- Não mede qualidade, mas sim estabilidade da proteína. (Teste qualitativo)
- Alizarina (indicador de pH)
* meio ácido: amarela
* alcalino: violeta
* próximo a neutralidade: laranja tijolo ➔ Normal do leite. (pH em torno de 6,6-7,2)
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(Leite tipo NAN: o que encarece sua fabricação é ter que adicionar geleificantes para reproduzir este
efeito de retenção.)
- Leite: “não foi feito para ser guardado”. Logística seria do úbere para o filhote.
-Acidez: Bacteriana, colostro, metabólica. ➔ Quando não passa na prova do álcool-alizarol.
• Bacteriana: Mesófilas – metabolismo glicolítico. (Produção de ácido lático)
• Colostro: aumento de proteínas – imunoglobulinas. Proteínas de baixo PM, leva a uma acidez.
Instabilidade.5-7 dias, o produtor pode testar fervendo o leite – se talhar, ainda é colostro.
• Metabólica: Vaca produz leite ácido (alteração fisiológica)
- O que altera o leite? (Parâmetros) Bactérias e fraudes.
• Entende-se como fraude “colocar ou tirar algo” do leite.
- No leite só se pode mexer com fato extrínseco. (Temperatura, ambiência). Não pode tirar nem
colocar nada (conservantes ou aditivos, mesma coisa vale para a carne)
CONTROLE DE QUALIDADE
- Produto sem alterações
• Parâmetros físico-químicos normais
• Parâmetros microbiológicos normais
- Conhecer as propriedades e os fatores que as influenciam
➔ TESTE DO ÁLCOOL-ALIZAROL
* Prova de acidez: qualidade da estabilidade do leite, é uma prova que serve para triagem.
- Caseína: proteína do leite, faz a estrutura do leite. Se agrega em micelas e forma o esqueleto do
leite. Se ela falha, não consegue manter sua estrutura. ➔ Ou seja, é uma maneira de testar se o leite
será apto a suportar o processo de pasteurização.
- Proteína: o que é capaz de desdobra-la? Temperatura, acidez e álcool.
- Essa prova quer ver se o leite irá suportar a temperatura do aquecimento. Por isso o álcool deve ser
usado forte: quanto maior o teor, maior a agressão. Se tolera o álcool, a estrutura da proteína está
boa.
- Pistola para medir: por um lado tem o alizarol e do outro, leite. Vira e cai no frasquinho. Deve-se
ver a cor E avaliar se há precipitado.
- Em locais em que é difícil encontrar o reagente alizarina, uma opção é utilizar o álcool absoluto e
diluí-lo para 72º C – desta maneira, e ver a estabilidade da proteína (que é o objetivo principal)
somente pelo álcool pela precipitação. Visualizar formação ou não de grumos.
- A importância deste teste de triagem é principalmente do interesse da indústria, não é uma questão
de segurança alimentar. Quando se pasteuriza um leite instável, a proteína precipita dentro do
pasteurizador, o que é muito difícil de limpar pois são tubulações de pequeno diâmetro – muitos
prejuízos e danos à indústria.
- Bons laticínios hoje já não têm problema com álcool-alizarol, realizam o teste pois está na legislação.
A boa qualidade da matéria-prima já deixa ele sem propósito.
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CONTROLE DE QUALIDADE
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as vacas não usam esta via de eliminação para o gás carbônico, mas trata-se de um
caminho “acidental” já que a concentração está alta no sangue.
• Assim, o leite se torna ácido por conta do gás, mas é estável. Simplesmente agitá-lo elimina
as bolhas.
• Pode acontecer de o leite ser normal no teste Dornic por ter balançado no caminho até o
laticínio no caminhão, ou mesmo por agitar o tubo da amostra antes do teste e isso
desprender as bolhas de gás. Este leite pode ser usado normalmente na indústria, pois a
proteína é estável.
- Tanto o leite LINA quando o SILA podem ser usados na indústria. O LINA sob pasteurização lenta,
e o SILA como se fosse um leite normal.
IN 51 E IN62
- Principais pontos: transporte a granel.
- Quem limpa o caminhão? O laticínio – é responsabilidade dele estabelecer lugar (fornece um
espaço onde seja feita), tipo de sanitizante, detergente, temperatura, pressão da água, treinar
funcionários, e responsabilizar-se por fazer a limpeza ou não.
- A empresa contratada para transporte só fornece o motorista e manutenção mecânica do
caminhão. O bom laticínio inclusive deve treinar este motorista. Geralmente o caminhão também
está especificado no contrato entre ambas as partes.
- O caminhão é isotérmico = perde temperatura da forma mais lenta possível. Funciona como se fosse
uma grande caixa de isopor/garrafa térmica: tem uma superfície externa, vácuo, isolante e camada
interna de aço. O isolante externo não deixa o calor entrar, e o isolante interno não deixa o “frio sair”.
• O calor não é bem conduzido no vácuo, precisa das partículas do ar para se conduzir. Daí a
necessidade dessa separação entre as camadas, para manter a temperatura.
- O caminhão pode ser compartimentado, para poder carregar diferentes perfis de leite no mesmo
caminhão sem comprometer a qualidade do leite coletivo.
- A legislação não prevê um limite de tempo para as viagens, mas sim estabelece limites para a
temperatura da qual o leite sai na propriedade e chega no laticínio.
- Leite cru somente poderá ser transportado até 2h após a ordenha (Pernambuco). Mas esta logística
não é “boa” para o laticínio, dá mais trabalho. Essa é a única condição em que um produtor pode
entregar leite fresco.
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