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Acta Obstet Ginecol Port 2008;2(3):131-142

Artigo de Revisão/Review Article

Miomas uterinos – revisão da literatura


Uterine fibroids – a review
Joana Faria*, Cristina Godinho**, Manuel Rodrigues***

Serviço de Ginecologia, Maternidade Júlio Dinis, Porto


ABSTRACT

Uterine fibroids or leiomyomas represent a major public health problem: they are among the most
common entities encountered in gynecologic practice and are responsible for significant morbidity
in women of reproductive age. Uterine fibroids are the most frequent indication for hysterectomy in
the United States. Despite its prevalence, the disease has remained enigmatic, with the incidence,
natural history and progression incompletely understood; on the other hand, treatment innovation
has been slow.
This review focuses on currently available evidence regarding the epidemiology, pathogenesis, clas-
sification, histological types, clinical features, differential diagnosis, imaging techniques and treat-
ment of this disease.

Epidemiologia e patogénese Sugere-se que ocorram em 20-40% das mulhe-


res em idade reprodutiva3, contudo a sua prevalência
Os miomas uterinos (também conhecidos por leio- exacta não é conhecida, sendo subestimada3. A este
miomas ou fibromas uterinos) constituem a principal propósito, vários estudos americanos referem que a
indicação de histerectomia devido à morbilidade as- presença de miomas uterinos na idade da menopausa
sociada1. Registe-se, a título de exemplo, a realiza- parece ser a regra e não a excepção4.
ção de mais de 200.000 histerectomias e de cerca de São a quinta causa mais frequente de internamen-
42.000 miomectomias por ano, por esta patologia, to hospitalar por causa ginecológica não relacionada
nos Estados Unidos da América (EUA). com a gravidez, em mulheres dos 15 – 44 anos3.
São os tumores pélvicos sólidos benignos mais O diagnóstico anatomo-patológico dos miomas
frequentes na mulher em idade reprodutiva2. aumenta linearmente com a idade, até aproximada-
Estas neo-formações, habitualmente de natureza mente aos 50 anos, e então diminui abruptamente.
benigna, bem circunscritas e não infiltrativas, têm Raros antes da menarca, regridem tipicamen-
origem na camada muscular lisa do miométrio. Os te após a menopausa, na ausência de terapêutica de
seus constituintes são músculo liso e matriz extrace- substituição hormonal5.
lular (colagéneo, proteoglicanos e fibronectina). Durante a gravidez não há consenso se os miomas
crescem, diminuem ou mantêm o mesmo tamanho.
* Interna Complementar de Ginecologia e Obstetrícia, Hospital Dona Postula-se que, se se verificar um aumento das suas
Estefânia dimensões, este ocorre no início da gravidez5.
** Assistente Hospitalar de Ginecologia e Obstetrícia, Centro Hospitalar
V.N. Gaia / Espinho Trata-se de um tema exaustivamente estudado,
*** Director do Serviço de Ginecologia, Maternidade Júlio Dinis contudo não se conhece com precisão a origem e o

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mecanismo de desenvolvimento dos miomas uteri- dos miomas uterinos6. Os mediadores referidos, em
nos. conjunto com as hormonas esteróides, causam au-
Das diversas teorias propostas, uma das mais acei- mento da actividade mitótica e deposição de matriz
tes postula que as células miometriais somáticas so- extracelular. Muitos autores defendem esta área de in-
fram perda da regulação do crescimento, originando vestigação como sendo a chave para que, num futuro
um grupo de células monoclonais que irá constituir o próximo, a terapêutica seja dirigida a estes mecanis-
nódulo de mioma5. Rein, em 2000, sugere que níveis mos a nível celular7.
aumentados de estrogénios e progesterona resulta- Estima-se que aproximadamente 40% dos mio-
riam num aumento da taxa de mitoses, o que, por sua mas apresentem anomalias citogenéticas5. Apesar de
vez, poderia contribuir para a formação de miomas, monoclonais, podem ocorrer mutações distintas nos
ao aumentar a probalidade de ocorrência de mutações diferentes nódulos de mioma de um mesmo útero. As
somáticas6. alterações citogenéticas mais frequentemente encon-
Classicamente, considerava-se que as hormonas es- tradas são a translocação (12;14) e a delecção (7q)6.
teróides gonadais, estrogénios e progesterona, seriam Mesmo após terem sido realizados vários estudos ci-
os únicos moduladores importantes do crescimento e togenéticos, há ainda muitas questões que aguardam
transformação dos miomas. Tem sido demonstrado resposta, havendo dúvidas sobre se as aberrações cro-
que no seu local de crescimento e desenvolvimento mossómicas estarão na génese destes tumores ou se
existem receptores aumentados de estrogénios e pro- serão eventos secundários.
gesterona relativamente ao miométrio e endométrio Sugere-se que exista um aumento da incidência
normais6, facto que poderá explicar a sensibilidade familiar8,9,10, que parece ser 4-5 vezes maior em fa-
dos miomas às hormonas esteróides, tanto endógenas miliares do primeiro grau de mulheres com miomas,
como exógenas. No entanto, é agora evidente que vá- quando comparado com a população em geral, mas
rios factores de crescimento e seus receptores estão pouco se sabe ainda a este respeito.
igualmente aumentados nos nódulos de mioma. Os Apesar da sua etiopatogénese ser ainda um tema
factores de crescimento são elementos essenciais no de debate, foram já identificados vários factores pre-
controle da taxa de proliferação celular e a sua super- disponentes:
expressão ou a dos seus receptores poderão contribuir
para a génese tumoral. Muitos investigadores dedica- Idade
dos à patofisiologia dos miomas baseiam-se no mo- A incidência aumenta com a idade até cerca dos 50
delo autócrino-parácrino de crescimento tumoral para anos. Entre os 25 e 30 anos a incidência aproximada
explicar a sua gênese. Assim, as hormonas ováricas é de 0,31/1000 mulheres-ano. Entre os 45 e 50 anos
actuariam como reguladoras de expressão génica das a incidência aumenta 20 vezes, para 6,2/1000 mulhe-
células. As células dos miomas produziriam em ex- res-ano11.
cesso citoquinas e factores de crescimento aos quais
responderiam e de que resultaria uma proliferação e Menarca precoce
fibrogénese sustentada e auto-estimulada7. Sato e colaboradores demonstraram que mulheres
Salientam-se os seguintes factores de crescimen- com miomas uterinos exibiam frequentemente ciclos
to associados a esta patologia, descritos na literatu- menstruais normais mais precocemente, concluindo
ra: transforming growth factor beta (TGF-β); basic que o estabelecimento da regularidade menstrual em
fibroblat growth factor (bFGF); epidermal growth idade mais precoce poderá ser responsável pelo cres-
factor (EGF); platelet derived growth factor (PDGF); cimento dos miomas no início da vida reprodutiva.
vascular endothelial growth factor (VEGF); insulin- Segundo Marshall e colaboradores, o início mais pre-
like growth factor 1 (IGF-1). Postula-se que, tanto es- coce de ciclos regulares poderá aumentar o número
tes factores de crescimento como mutações somáticas de divisões celulares sofridas pelo miométrio durante
de certos genes terão também um papel na patogénese a idade reprodutiva, resultando numa maior probabi-

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lidade de mutações genéticas responsáveis pela proli- ter 2-3 vezes maior incidência de miomas12; o risco
feração miometrial6. associa-se positivamente ao ganho de peso a partir
dos 18 anos de idade, mas apenas em mulheres não
Raça negra nulíparas15.
Submetidas a ecografia pélvica endovaginal de modo Apesar do IMC elevado ter sido implicado no au-
randomizado, 73% das mulheres de raça negra versus mento do risco para o desenvolvimento de miomas16
48% das mulheres caucasianas, na mesma faixa etá- devido à elevação dos níveis de estrogénios circulan-
ria, apresentaram miomas uterinos (Baird e colabora- tes, esse risco não parece ser acentuado11.
dores em 1998 e Marshall e colaboradores em 1997)6;
as mulheres asiáticas exibem incidência semelhante Tabagismo
às mulheres caucasianas12. Assim, os miomas são 2-3 Tem sido relatada uma diminuição do risco de mio-
vezes mais frequentes, ocorrem mais precocemente, mas associado ao tabagismo, pela redução dos níveis
são mais numerosos e sintomáticos na raça negra3. de estrogénios. No entanto, os estudos são contraditó-
A prevalência etária varia de acordo com a raça: o rios. No Black Women´s Health Study, que envolveu
pico de incidência nas mulheres negras ocorre entre cerca de 22.000 mulheres, não se verificou alteração
os 35-39 anos de idade e nas mulheres brancas, entre do risco com o uso de tabaco17.
os 40-44 anos13.
Apesar de não se saber ainda o que está na base Contracepção hormonal
desta prevalência aumentada na raça negra versus Há uma boa evidência epidemiológica que, ao contrá-
raça caucasiana, alguns estudos mostram diferenças, rio do que se pensava anteriormente, sugere que a ad-
quer nos níveis de estrogénios circulantes nas duas ministração de estro-progestativo oral também se asso-
raças, quer no metabolismo dos estrogénios6. cie a uma menor incidência de miomas uterinos18.
Em 2004, um estudo piloto de Amante e colabo- No entanto, esta associação pode ser resultado dos
radores14 sugere o possível papel do polimorfismo do critérios de selecção das pacientes estudadas16,18 e
gene do Citocrómio P450c17alpha (polimorfismo do deve ser interpretada com cuidado. Por exemplo, num
CYP17A) na patobiologia dos miomas na raça ne- dos estudos18, a população portadora de miomas, por
gra - as mulheres negras portadoras homozigóticas ter maior dificuldade em atingir uma gravidez, teria
do alelo CYP17A2 (vs CYP17A1) apresentam um menor duração do uso de contracepção hormonal.
miométrio mais exposto a uma estimulação estrogé-
nica mais forte, o que poderá estar relacionado com a Classificação dos miomas uterinos
maior incidência desta patologia nesta raça.
Os miomas uterinos caracterizam-se de acordo com a
Nuliparidade sua localização anatómica: a maioria surge no corpo
O risco de miomas diminui 20-50% em mulheres que do útero e uma minoria ao nível do colo uterino ou
apresentam um nado vivo, continuando a diminuir ligamento largo. A localização dos miomas relativa-
com o aumento do número de nados vivos. Uma ex- mente à camada muscular do útero determina a sua
plicação frequentemente citada aponta para a redução classificação em subserosos, intramurais ou submu-
da exposição a estrogénios não contrabalançada, du- cosos. Os subserosos situam-se imediatamente abaixo
rante a gravidez, enquanto que a nuliparidade poderá da serosa e podem estar ligados ao corpo uterino por
associar-se a ciclos anovulatórios caracterizados por uma base larga ou estreita. Os intramurais encontram-
longos períodos de hiperestrogenismo relativo6. se predominantemente na espessura do miométrio,
podendo distorcer a cavidade uterina ou o contorno
Obesidade exterior do útero. Os miomas submucosos localiza-
Embora seja ainda controverso, mulheres com o dos imediatamente abaixo do endométrio também se
IMC (índice de massa corporal) aumentado parecem podem ligar ao restante útero por uma base larga ou

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estreita. Apesar do uso alargado desta classificação, A variante vascular apresenta vasos proeminentes.
poucos miomas são de um tipo único e, frequente- O mioma schwannóide caracteriza-se pela depo-
mente, ocupam mais do que uma localização anató- sição de células musculares em paliçada, assemelhan-
mica. do-se às neoplasias da bainha nervosa.
A sua degeneração maligna é rara, inferior a 1%2. Os lipoleiomiomas contêm adipócitos maduros
Contudo, o diagnóstico de sarcoma uterino deve ser junto às células musculares.
considerado nas mulheres pós-menopáusicas com
massa e dor pélvica12 e hemorragia uterina anormal3. Clínica

Padrões histológicos dos miomas A suspeita clínica de miomas uterinos é muita vezes
uterinos baseada num exame pélvico, no qual é detectada a
presença de um útero aumentado de volume ou de
O padrão típico ou usual12 (maioria dos nódulos de contorno irregular5.
mioma) caracteriza-se pela presença de amplos feixes Calcula-se que causem sintomas em 20-25% das
de células musculares lisas que se entrelaçam em di- mulheres em idade reprodutiva, mas uma inspecção
ferentes direcções, sem atipias, necrose ou mitoses, cuidada revela que esta percentagem poderá atingir
e ainda por uma quantidade variável de colagénio e os 80%2. Aproximadamente 62% das mulheres sin-
vasos sanguíneos. As células musculares são positi- tomáticas apresentam múltiplos sintomas3. Frequen-
vas para receptores de estrogénio e progesterona. Al- temente, são achados ocasionais no exame pélvico ou
guns nódulos podem ser mais celulares que o habitual ecográfico.
e, desde que a contagem do número de mitoses seja A sintomatologia associada aos miomas ute-
inferior a 5/10 campos microscópicos de grande am- rinos geralmente relaciona-se com a sua localiza-
pliação e não apresente necrose tumoral, são designa- ção, número, tamanho e alterações degenerativas
dos miomas celulares. concomitantes3,20.
Miomas mitoticamente activos são aqueles que Os sintomas iniciais cursam em 30-60% dos ca-
possuem um padrão usual de diferenciação, sem sos12 com hemorragia uterina, nomeadamente menor-
necrose tumoral ou atipia significativa, com uma ragia e hipermenorreia20 e desconforto/algias/pressão
contagem do número de mitoses até 20/10 campos pélvica em 30-50% dos casos12, causados pelo efeito
microscópicos de grande ampliação; ocorrem prin- de massa. Estes episódios de hemorragia uterina anor-
cipalmente em nódulos submucosos ulcerados e em mal podem associar-se a anemia ferropénica ligeira a
mulheres submetidas a tratamento com progestativo. grave. Um quadro clínico caracterizado por metror-
O leiomioma atípico caracteriza-se pela presença ragias não é característico dos miomas, devendo,
de células gigantes pleomórficas. As atipias são ge- portanto, excluir-se outras patologias, nomeadamente
ralmente focais e associadas a áreas com fenómenos endometriais5. São também frequentes as queixas de
degenerativos. Não existem mitoses. dismenorreia e dispareunia.
Variações no padrão usual de diferenciação re- Como consequência do efeito de massa causado
sultam nos padrões epitelióide, mixóide, vascular, sobre a bexiga e vias urinárias poderão surgir fre-
schwannóide e lipoleiomioma. quência e incontinência urinária, disúria e, mais rara-
No padrão epitelióide as células musculares, em mente, hidronefrose.
vez de alongadas, são redondas ou poligonais. A obstipação, tenesmo, pressão rectal e oclusão
Os miomas mixóides apresentam extensas áreas intestinal são consequências possíveis da compressão
de degeneração mixóide, dificultando, por vezes, a do cólon sigmóide ou recto, mas menos frequentes.
caracterização da neoplasia em muscular lisa. Con- Estão ainda descritos: casos de prolapso de mioma
tornos infiltrativos e atipia são critérios de malignida- submucoso pediculado através do colo do útero; esta-
de para esta variante19. se venosa dos membros inferiores e possível trombo-

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flebite secundária à compressão pélvica; policitémia pensar na possibilidade de existência de uma


secundária; ascite. das seguintes patologias: lesões do colo uterino
No que diz respeito à associação entre miomas e (pólipo ou neoplasia cervical), pólipo endome-
infertilidade, em apenas 2-3% dos casos se poderá trial, hiperplasia ou até carcinoma endometrial,
atribuir uma relação isolada de causalidade4. adenomiose e finalmente, hemorragia uterina
A maioria das mulheres com miomas uterinos disfuncional.
apresenta gestações e partos sem complicações, no Álgias pélvicas crónicas/ dismenorreia podem
entanto podem relacionar-se com abortamentos de fazer-nos suspeitar de endometriose ou adeno-
repetição, parto pré-termo ou má apresentação fetal. miose.
Actualmente, os dados disponíveis sugerem que ape- Quando as queixas incidem especificamente no
nas os miomas com um componente submucoso ou trato urinário ou gastrointestinal e detectamos
intracavitário se associem a disfunção reprodutora e um exame ginecológico perfeitamente inocente,
que, nestes casos, a miomectomia histeroscópica po- deveremos excluir uma causa primária, respecti-
derá ser benéfica21. vamente, do sistema urinário ou gastrointestinal.
Episódios de dor aguda não são comuns mas po- 2 A apresentação macroscópica clássica, nodular e
dem dever-se à torção de mioma pediculado ou de- circunscrita dos miomas uterinos pode ser repro-
generescência. A degenerescência ocorre quando o duzida por outras lesões uterinas bastante menos
crescimento do mioma supera o seu aporte vascular. frequentes: tumores epiteliais, outros subtipos de
A degenerescência hialina, onde as células são substi- tumores mesenquimatosos (em particular, o leio-
tuídas por tecido fibroso denso22, é a forma mais ligei- miossarcoma), tumor linfóide, neoplasia metas-
ra. A degenerescência mixóide pode surgir com um tática, entre outros ainda mais raros.
componente cístico. A degenerescência rubra (aspec- 3 Microscopicamente, os miomas uterinos são
to róseo homogéneo, ao corte) resulta de enfarte das geralmente facilmente identificados pelo anáto-
veias tributárias do mioma, causando sintomatologia mo-patologista. No entanto, os tumores mesen-
álgica aguda e febre22. quimatosos são os que, eventualmente, podem
A razão pela qual estes tumores causam hemorra- suscitar mais dúvidas, podendo ser necessária a
gia uterina anormal não é clara, associando-se princi- realização de um estudo imuno-histoquímico.
palmente a miomas submucosos ou intramurais com
componente intracavitário. Uma das razões aponta- Para excluir as patologias acima citadas é fun-
das para a hemorragia anormal é o efeito obstrutivo damental atender à semiologia e realizar um exame
nos vasos uterinos provocado por miomas intramu- objectivo cuidado, complementado por exames subsi-
rais, donde resulta ectasia venosa endometrial; outro diários, sempre que necessário. Como se referirá pos-
factor contributivo poderá ser o aumento da área de teriormente, a ecografia pélvica é o exame de imagem
superfície do endométrio23. De acordo com estudos de primeira linha quando há suspeita clínica de mio-
recentes, parece também relacionar-se com a desre- mas uterinos ou na avaliação de patologia endometrial
gulação de factores de crescimento locais e angiogé- ou massas anexiais. Em casos seleccionados, a histe-
nese aberrante. rossonografia (HsoG) é útil no diagnóstico diferencial
entre miomas submucosos e pólipo endometrial. A bi-
Diagnóstico diferencial ópsia endometrial é recomendada para excluir causas
endometriais e hemorragia uterina disfuncional.
O diagnóstico diferencial pode ser considerado a três A urocultura, estudos urodinâmicos e cistoscopia po-
níveis distintos: dem justificar-se em caso de sintomatologia urinária.
1 Um diagnóstico diferencial baseado na clínica: A referência ao gastroenterologista deve realizar-
a título de exemplo, quando o único achado clí- se sempre que existe forte suspeita de causa gastro-
nico é a hemorragia uterina anormal, deveremos intestinal.

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No caso de infertilidade, é fundamental excluir outras método preciso para a distinção entre leiomiomas,
causas possíveis para além dos miomas uterinos, uma leiomiosarcomas22 e adenomiose23,24.
vez que estes são, infrequentemente, uma causa isola- O recurso à histerosonografia (HSoG) aumenta a
da de infertilidade. sensibilidade na detecção de miomas submucosos.
Enquanto que a sensibilidade e especificidade na de-
Imagiologia dos miomas tecção de lesões endometriais focais é de 70% e 96%,
respectivamente, quando usamos apenas ecografia
Anteriormente, a principal via de abordagem no trata- transvaginal, quando recorremos à HSoG, a sensibi-
mento dos miomas uterinos era cirúrgica: a histerec- lidade aumenta para 90%27. Actualmente, aceita-se
tomia ou miomectomia. que a HSoG é a técnica mais sensível para avaliar e
Com o desenvolvimento de novas armas terapêu- orientar as cirurgias endoscópicas dos miomas sub-
ticas menos invasivas e mais adaptadas às necessida- mucosos28.
des da mulher, assiste-se à necessidade de definir com No caso de crescimento rápido dos miomas, a flu-
exactidão as características, localização e mapeamen- xometria poderá auxiliar no diagnóstico diferencial
to dos miomas. Para atingir este objectivo, é necessá- com leiomiosarcoma, embora estudos recentes não
rio recorrer a exames de imagem, que possam, com sejam unânimes nesta afirmação12.
maior acuidade, distinguir as lesões potencialmente
malignas das benignas. Conhecer as alterações anató- 2 – Tomografia computorizada (TC)
micas induzidas por esta patologia é, cada vez mais, Tem um papel muito limitado no diagnóstico de mio-
um pressuposto essencial, de modo a optimizar a in- mas uterinos22. Não permite o diagnóstico diferencial
formação obtida por estes exames complementares de com segurança entre miomas uterinos e outras mas-
diagnóstico. sas uterinas ou cervicais29. O achado mais frequente
é o aumento do tamanho uterino ou deformidade dos
1 – Ecografia pélvica transvaginal seus contornos. A presença de calcificação é o sinal
É o gold standard da imagiologia na avaliação ini- mais específico, mas é encontrado em menos de 10%
cial da paciente com miomas uterinos22. É fácil de dos casos22.
usar, é segura, tem baixo custo (comparativamente a
outros exames de imagem) e está facilmente disponí- 3 – Ressonância magnética (RMN)
vel. Contudo, a sua sensibilidade é, em larga escala, É o método de imagem mais fidedigno no diagnósti-
operador-dependente24,25. co, mapeamento e caracterização dos miomas uterinos,
Ecograficamente, os miomas surgem tipicamente tendo-se tornado no complemento da ecografia em ca-
como lesões nodulares sólidas hipoecogénicas com sos seleccionados, ultrapassando as suas limitações22.
origem na camada miometrial. Na vasta maioria dos Trabalhos bem conduzidos afirmam que se trata de
casos, a ecografia pélvica é suficiente na identificação um exame menos dependente do operador, logo, mais
e no diagnóstico diferencial entre miomas uterinos e reprodutível30.
outras patologias pélvicas. O uso de ponderação T2 permite uma resolução de
A sensibilidade, especificidade e valor preditivo imagem necessária para detalhar a anatomia pélvica,
positivo do uso de sonda abdominal, em associação tornando a RMN superior à TC. Esta sequência per-
com a sonda endovaginal no diagnóstico de miomas mite distinguir três zonas uterinas: o endométrio tem
uterinos ronda os 90-98%26. elevada intensidade de sinal; seguidamente, a zona
A sensibilidade da ecografia aumenta com o uso juncional (corresponde à camada interna de miomé-
de sondas com maior frequência e diminui nos casos trio, onde existe um aumento do número de células
de úteros muito volumosos e nos que contêm múlti- miometriais e uma diminuição do conteúdo de água
plos nódulos de mioma6 e também quando os miomas e de matriz extracelular) surge como uma banda com
são pequenos ou subserosos. Não é igualmente um fraco sinal; a zona juncional é histologicamente indis-

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tinta do restante miométrio, que corresponde a uma baixa, requerendo apenas vigilância clínica e ecográ-
terceira zona nesta ponderação22. fica apertadas. Não há evidência que a ausência de
Os nódulos de mioma não degenerados aparecem tratamento dos miomas prejudique a utente, excepto
caracteristicamente na ponderação T2 com baixa in- nas situações clínicas de anemia severa causada por
tensidade de sinal22. Existe uma clara demarcação na hemorragia uterina anormal ou hidronefrose por obs-
intensidade do sinal entre o nódulo de mioma e o res- trução de pelo menos um ureter1. Nas mulheres que se
tante miométrio31. aproximam da menopausa, a atitude expectante, caso
É útil no diagnóstico diferencial com adenomiose seja possível, deve ser considerada, visto que, o de-
focal ou difusa e hiperplasia da zona de junção, usan- senvolvimento de novos sintomas é menos frequente
do sequências em T1 e T212. e, após a menopausa, a hemorragia cessa e os miomas
Uma das maiores preocupações é, evidentemente, tendem a diminuir de tamanho34.
distinguir condições benignas das malignas – a ce- O tratamento cirúrgico é uma opção a considerar
lularidade e o grau de atipia das amostras colhidas quando o tratamento conservador falha.
são usadas pelo patologista para as distinguir. A RMN
não tem sensibilidade para diferenciar índices mitóti- A) Tratamento Médico
cos aumentados; contudo, áreas de maior celularida- 1- Anti-Inflamatórios não esteróides (AINE’s)
de podem surgir com sinal hiperintenso nas pondera- Visam o alívio das algias pélvicas e a redução do flu-
ções T222. Os sarcomas tendem a ser massas maiores xo menstrual em caso de menorragia idiopática. O
e heterogéneas, com áreas de hemorragia e necrose seu efeito na diminuição da perda hemática associada
de coagulação22. A hemorragia em focos necróticos a miomas uterinos não está confirmado1.
aumenta a intensidade do sinal em sequências T132. O
componente sólido dos sarcomas está marcadamente 2- Terapêutica estroprogestativa/progestativa
aumentado e as margens são mal definidas em oposi- A terapêutica estroprogestativa combinada ou proges-
ção aos miomas, que apresentam uma margem bem tativa isolada tem sido usada no controlo da hemor-
delimitada devido à sua pseudo-cápsula22. ragia anómala associada aos miomas, por indução de
Devido ao facto de ter um custo muito elevado, a atrofia ou estabilização endometrial35.
realização deste exame de imagem só se justificará em Se por um lado o controlo hemorrágico pode ser
casos seleccionados de massas pélvicas que suscitam conseguido, ainda que temporariamente, esta terapêu-
dúvidas no exame ecográfico; mais de 95% dos mio- tica não tem demonstrado favorecer a diminuição da
mas uterinos tem uma apresentação ecográfica típica, dimensão dos miomas. Atendendo aos estudos limi-
não sendo necessária mais investigação imagiológica, tados e contraditórios, a terapêutica estroprogestativa
especialmente em mulheres assintomáticas33. parece ter um efeito mínimo no crescimento dos mio-
mas, mas a terapêutica progestativa isolada poderá ter
Diagnóstico definitivo um potencial efeito no crescimento miomatoso35.

O diagnóstico definitivo é obtido por exame anáto- 3- DIU medicado com Progestativo
mo-patológico. Numerosos estudos comprovam a eficácia dos DIU
medicados com progestativo no tratamento da menor-
Tratamento ragia. Este efeito associa-se à possibilidade de contra-
Relativamente ao tratamento, este deve ser sempre cepção, se necessário.
individualizado e de acordo com a clínica, motivação Relativamente ao efeito do DIU medicado com
da doente e desejo em preservar a fertilidade. levonorgestrel (DIU-LNG) no crescimento dos mio-
Com frequência, o tratamento expectante (em mas, serão necessários mais estudos.
mulheres assintomáticas) ou médico é possível e Se, por um lado, os progestativos podem ter um
desejável, visto que a incidência de malignização é papel no crescimento dos miomas, dependendo da in-

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fluência de outros factores de crescimento36, o efeito O seu uso pré-operatório, durante 3 a 4 meses, visa
dos DIU-LNG na dimensão dos miomas necessita de estabilizar hemodinamicamente a doente, reduzir o vo-
mais estudos, havendo alguns relatos sobre a eventual lume uterino e dos miomas, facilitando a intervenção ci-
prevenção do seu crescimento35. rúrgica, minimizando as perdas de sangue intra-operató-
rias e reduzindo os tempos de internamento. A utilização
4- Moléculas com acção sobre os receptores da de GnRH-a pré-operatoriamente poderá evitar a incisão
progesterona abdominal mediana ou permitir a conversão de uma his-
O Mifepristone (RU 486) é um esteróide sintético terectomia abdominal em histerectomia vaginal1.
com propriedades anti-progestativa e acção competi- As principais desvantagens dos GnRH-a são os
tiva sobre os receptores da progesterona. Consequen- efeitos secundários, que impossibilitam o seu uso a
temente, têm um efeito inibitório no crescimento dos longo prazo: sintomas de hipoestrogenismo, algias
miomas, com uma redução aproximadamente de 50% pélvicas por necrose dos miomas, diminuição da den-
do seu volume ao fim de três meses de tratamento12. sidade mineral óssea e distúrbios no perfil lipídico. O
Pode ser usado: pré-operatoriamente (com o intuito de tratamento a longo prazo (superior a 6 meses) não é,
reduzir o tamanho dos miomas, diminuindo as com- portanto, recomendado. Recentemente tem-se proposto
plicações operatórias), no período da perimenopausa que, com a combinação de agonistas da GnRH e baixas
(para reduzir os miomas até à menopausa) ou em mu- dosagens de hormonas esteróides (estroprogestativo ou
lheres jovens que pretendam preservar a fertilidade. tibolona) , se poderá estender a duração do tratamen-
Os principais efeitos secundários do mifepristone são to com os agonistas e minimizar as sequelas adversas
a sintomatologia vasomotora, alteração das enzimas do hipoestrogenismo crónico, nomeadamente prevenir
hepáticas e hiperplasia endometrial, podendo esta li- a perda de massa óssea. No entanto, esta associação
mitar o seu uso a longo prazo. poderá diminuir a eficácia terapêutica, em termos de
O asoprisnil, como modulador selectivo dos re- redução do volume dos miomas35.
ceptores da progesterona, parece eficaz na redução do
volume dos miomas e redução da hemorragia uterina 6- Antagonistas da GnRH
através da supressão da angiogénese a nível endome- O uso de antagonistas da GnRH tem por base a su-
trial e sem efeito nos níveis de estrogénios. Actual- pressão endógena imediata da GnRH, sem elevação
mente encontra-se em fase de ensaio clínico1. prévia inicial, donde resulta uma diminuição rápida
do volume uterino ou de miomas.
5- Agonistas da GnRH (Gonadotropin-releasing Num estudo de pequena dimensão, Flierman e
hormone) colaboradores37 administraram diariamente um an-
Os agonistas da GnRH (GnRH-a) induzem uma dimi- tagonista da GnRH (ganirelix), donde resultou numa
nuição dos níveis de estrogénios e progesterona pseu- rápida diminuição dos volumes dos miomas e uterino,
domenopáusico, sendo esta a base que fundamenta a com uma redução média máxima de 43% do volume
diminuição do volume dos miomas, enquanto tumo- após 19 dias de tratamento1. Contudo, os inconvenien-
res hormono-dependentes. Shaw e colaboradores, em tes causados pelo hipoestrogenismo e a necessidade
1997, sugeriram uma redução de 77% do volume ute- de administração diária levam estes autores a sugerir
rino após 3 meses de tratamento. No entanto, a sus- que, no futuro, os antagonistas GnRH de longa dura-
pensão do tratamento resulta num rápido crescimento ção de acção poderão tornar-se o tratamento médico
dos miomas e útero até uma dimensão semelhante35 de eleição, previamente à cirurgia.
nos 4 a 6 meses seguintes. Induz ainda um estado de
amenorreia, que é particularmente útil na reversão B) Tratamento Cirúrgico
dos casos de anemia ferropénica induzida pela me- 1- Miomectomia
norragia, minimizando a necessidade de transfusão É uma opção, quando cirurgicamente exequível, para
sanguínea. as mulheres que pretendem preservar o seu útero.

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Contudo, é necessário serem consciencializadas de rápido do volume uterino seria uma indicação para
que pode vir a ser necessária uma re-intervenção por histerectomia pela forte suspeita de malignização. Vá-
recidiva dos sintomas e dos nódulos de mioma. A rios estudos realizados na última década afirmam que
taxa de recorrência, 5 anos após miomectomia, po- esta indicação é infundada. Parker e colaboradores,
derá atingir os 62%38. Relata-se uma diminuição das em 1994, concluiram que apenas 1 em 371 mulheres
menorragias em 80% das mulheres, mas um risco de com aumento rápido do tamanho uterino tinham sar-
recorrência de 25-51%, com 10% dos casos a neces- coma uterino1.
sitarem de re-intervenção2. Este facto, descrito como
“recorrência”, poderá resultar da persistência de mio- 3- Embolização das Artérias Uterinas (EAU)
mas não removidos completamente durante a cirurgia Este método surgiu recentemente como opção de tra-
ou do desenvolvimento de novos miomas1. tamento conservador, com bons resultados. Foi pela
Não há evidências que comprovem que a miomec- primeira vez utilizado em França, em 1991, como
tomia profiláctica diminua as complicações gestacio- terapêutica inicial em miomas uterinos sintomáticos.
nais em mulheres com miomas, podendo até inviabi- Em Portugal, a 24 de Junho de 2004, efectua-se com
lizar gravidezes futuras, pela formação de aderências. êxito a primeira embolização das artérias uterinas
Neste caso, a cirurgia só está indicada quando a infer- numa paciente de 32 anos, anteriormente submetida
tilidade foi comprovada. a 2 miomectomias sem resolução do quadro de me-
A abordagem pode ser histeroscópica ou abdomi- norragias.
nal (laparoscópica ou clássica). A EAU consiste na introdução de partículas ou po-
O trabalho de Vavala e colaboradores, em 1997, límeros de polivinil-álcool ou microsferas de políme-
evidenciou que o tratamento com GnRH-a, após a ro de tris-acril com esponja de gelatina em ambas as
miomectomia, pode reduzir o seu crescimento “de artérias uterinas após a cateterização de uma ou am-
novo”39. bas as artérias femorais. Este procedimento visa pro-
duzir alterações isquémicas nos miomas, pela dimi-
2- Histerectomia nuição do fluxo arterial, sem causar lesão permanente
É o único tratamento definitivo para mulheres com no restante útero. Globalmente, trata-se de uma técni-
miomas uterinos sintomáticos que não respondem ao ca minimamente invasiva, preserva o útero e requer
tratamento conservador, mas com a desvantagem de internamento hospitalar mais curto que a abordagem
comprometer definitivamente a fertilidade e de ser cirúrgica clássica (histerectomia ou miomectomia) e
uma intervenção cirúrgica major, com todos os riscos com complicações major raras. Contudo, parece ha-
que lhe são inerentes. ver um maior número de complicações minor após
A abordagem deve ser individualizada, poden- a alta hospitalar, com maior necessidade de consul-
do a via ser vaginal ou abdominal (laparotomia ou tas pós-tratamento e maior taxa de re-internamento,
laparoscopia) ou, ainda, uma combinação das duas o que nos alerta para a necessidade de realização de
abordagens, a histerectomia vaginal assistida por la- mais estudos que testem a sua eficácia e perfil de se-
paroscopia (LAVH). Se a histerectomia vaginal for gurança41.
tecnicamente exequível, não há benefício em reali- As indicações para EAU não estão claramente
zar uma histerectomia laparoscópica; comparando a definidas, no entanto são, actualmente, critérios de
LAVH com a histerectomia abdominal, a primeira exclusão para o uso desta técnica: o desejo de engra-
técnica oferece a vantagem de ser uma intervenção vidar (que pode tornar-se impossível pela amenorreia
menos invasiva, sem se verificar um aumento dos e insuficiência ovárica transitória ou permanente pós-
riscos1,40. EAU), infecção genito-urinária, DIP aguda, neoplasia
No caso de uma forte suspeita de leiomiosarcoma, genital maligna, alergia ao contraste iodado, coagulo-
a histerectomia é, habituamente, o tratamento de elei- patia, vasculite, insuficiência renal e mioma pedicula-
ção1. Classicamente considerava-se que um aumento do12 subseroso ou submucoso42.

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Faria J, Godinho C, Rodrigues M

Um estudo multicêntrico comparativo de Goo- The Ontario Multicenter Trial46 é um estudo com
dwin e colaboradores43 teve por objectivo determinar o objectivo de comparar a taxa de gravidez em mu-
a existência ou não da melhoria da qualidade de vida lheres com miomas uterinos sintomáticos submetidas
nas mulheres submetidas à EAU e comparar os re- a EAU (555 pacientes) vs cirurgia; os resultados mos-
sultados da EAU com os da miomectomia. Concluiu tram que as mulheres submetidas a EAU conseguem
que há melhoria da qualidade de vida, em ambos os engravidar e que na maioria dos casos os partos são
grupos, sem grandes diferenças inter-grupo relati- a termo. Recomendam apenas uma vigilância mais
vamente à melhoria nos índices hemorragia uterina apertada do status placentar, pois 12,5% das mulheres
anormal e redução do volume uterino e que as mulhe- apresentaram anomalias da placentação.
res submetidas a EAU necessitam de menos dias de Relativamente à taxa de recorrência dos miomas após
internamento hospitalar, retomam a vida diária mais embolização, os dados a longo prazo são limitados.
rapidamente e experienciam menos efeitos adversos. Devido à crescente solicitação de informação pe-
Estão descritas após EAU situações como leucor- las pacientes sobre esta técnica, é necessário que o gi-
reia crónica (4-7%), que geralmente resolve esponta- necologista se familiarize com as indicações, critérios
neamente, expulsão de mioma (10%), falência ovári- de exclusão e complicações dela decorrentes. Desde
ca (1-2%), complicações infecciosas graves (1-2%), 1999 existe uma base de dados (FIBROID) relativa
febre (33%), sindrome pós-embolização (20-35% a pacientes submetidas a EAU, que permitirá, no fu-
- febre e leucocitose, eventualmente associadas a turo, recolher dados sobre a segurança da técnica e
náuseas, vómitos e anorexia). As complicações major optimizar os critérios de opção terapêutica.
decorrentes da técnica ocorrem em 1-5% dos casos.
Febre persistente é tratada com antibioterapia, mas a C) Perspectivas terapêuticas
ausência de resposta pode corresponder a um quadro Outras abordagens terapêuticas são de prever num
de sepsis, que implica um tratamento agressivo com futuro próximo, como sejam novos antagonistas da
histerectomia1. GnRH, inibidores da aromatase, progestativos e
Payne e colaboradores44 identificaram dois casos anti-progestativos, oclusão das artérias uterinas via
com complicações major (infecção e/ou oclusão in- transvaginal não incisional, técnicas de miólise lapa-
testinal parcial) que obrigaram a histerectomia de roscópica ou percutânea guiadas por RMN, ablação
emergência. Godfrey45 relatou a rara mas possível térmica laparoscópica por radiofrequência dos mio-
ocorrência de necrose uterina difusa, dois meses após mas uterinos e oclusão laparoscópica dos vasos ute-
a realização de EAU, que motivou a realização de his- rinos, numa tentativa de tornar o tratamento desta pa-
terectomia total. tologia progressivamente menos invasivo. Tem sido
Goldberg e colaboradores46 relataram um caso demonstrado que certos factores de crescimento têm
sem resposta terapêutica à EAU, que revelou poste- um papel relevante na patofisiologia dos miomas ute-
riormente tratar-se de um leiomiossarcoma. Conclui- rinos e que, provavelmente, a inibição da sua acção
ram que a ausência de resposta clínica, após EAU poderá ser a base do tratamento futuro47.
tecnicamente bem sucedida, nos deve alertar para a
necessidade de fazer uma investigação mais aprofun- Conclusão
dada.
Não existem dados suficientes relativamente à Os miomas uterinos são os tumores pélvicos sólidos
segurança da EAU e fertilidade posterior. Apesar de benignos mais frequentes na mulher em idade reprodu-
ser compatível com gravidez e parto sem intercorrên- tiva, sendo, por isso, uma das patologias mais frequen-
cias, as taxas de fecundidade não estão determinadas. temente encontradas na prática clínica ginecológica.
O risco de disfunção ovárica após EAU existe, com Menos de 50% das mulheres são sintomáticas, sendo
eventual instalação de menopausa precoce. A maioria as queixas mais frequentemente relatadas a hemor-
destes casos ocorre em pacientes na peri-menopausa. ragia uterina anormal e desconforto pélvico. São um

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Acta Obstet Ginecol Port 2008;2(3):131-142

problema major de Saúde Pública, devido à morbili- 10. Benda JA. Pathology of smooth muscle tumors of the uterine corpus.
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é um evento muito raro. 13. Schwarts S. Epidemiology of uterine leiomyomata. Clin Obstet Gynecol
São a principal indicação de histerectomia nos 2001; 44:316-26.
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Apesar dos factores iniciadores dos miomas não se- P450c17alpha gene (CYP17) polymorphism, in the pathobiology of
rem ainda conhecidos, vários factores de risco foram uterine leiomyomas from black South African women: a pilot study.
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identificados, como sejam idade reprodutiva tardia, me- 15. Wise LA, Palmer JR, Spiegelman D, Harlow BL, Stewart EA, Adams-
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Os estrogénios e a progesterona são reconhecidos Epidemiology 2005; 16(3):346-54.
como promotores do crescimento tumoral. Recente- 16. Faerstein E, Szklo M, Rosenshein N. Risk factors for uterine
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