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Reflexões sobre o Vazio na Arte e Devir Político - o caso da Bienal

Por Lilia Tandaya

O vazio para artistas pode ser considerado a falta de inspiração para criar,
ou um momento de transição criativa, o nada que pode vir a ser algo, a
ausência que deve ser preenchida, um campo de estímulo para a fruição do
sensível... Artistas como Malevich, com seu suprematismo, em obras como
“Quadrado negro sobre fundo branco” de 1915 e “Branco sobre branco" de
1918, e Duchamp que em 1919 apresentou como obra uma ampola vazia com
o titulo “Ar de Paris”, são pioneiros na abordagem do vazio. Desse período
modernista para a atual contemporaneidade muitos ‘vazios’ tem sido
preenchido especialmente pela arte conceitual.

Para Ernst Gombrich, conceituado historiador de arte, "Nada existe a que se


possa dar o nome Arte. Existem somente artistas". Assim podemos entender
que em ambientes de exposição de arte, o que se encontra são manifestações
de artistas cujos códigos nem sempre são de fácil compreenção, por isso o
papel do curador e do critico se tornam importantes na ‘construção de pontes’
entre as obras e o espectador.

Por ocasião da 28a Bienal de São Paulo, conhecida como “Bienal do Vazio”
apesar do tema "Em Vivo Contato" proposto pela curadoria de Ivo Mesquita e
Ana Paula Cohen, fomos levados a refletir sobre o vazio nos espaços-meios da
arte...

Nessa edição de 2008 da Bienal, considerada a maior mostra de arte do Brasil


atuando como periscópio da arte contemporânea, foi possível perceber o vazio
da curadoria. Ao propor a "síntese da negação e da ausência" deixando vazio
o 2º andar do pavilhão da Bienal, os curadores suprimiram os artistas que
seriam os ocupantes naturais daquele espaço chamado de “Planta livre”, em
referência ao conceito de arquitetura criado em 1926 por Le Corbusier.
Justificaram que “completamente aberto, revelando sua estrutura” estavam
“oferecendo ao visitante uma experiência física da arquitetura do edifício.“
Estariam assim os curadores atuando como artistas que apresentam uma obra,
um tipo de apropriação contemporânea da moderna arquitetura do Niemeyer?
Ou seria um esvaziamento da perspectiva relacional entre o curador e os
artistas? Já que, especialmente em tempos de convergências midiáticas,
interatividade e conectividade, não seria difícil encontrar soluções que
efetivamente apresentassem a arte de artistas contemporâneos.

Anunciado com antecedência o espaço livre repercutiu como convite para


manifestações, e pichadores foram os primeiros a atender o chamado se
organizando pela internet. A curadoria declarou na véspera da abertura "Nós
sabemos que eles estão convocando gente da periferia da cidade para fazer
isso, e essas pessoas não sabem o que elas vão encontrar" (Folha de São
Paulo, 24/10/2008). Mesmo com a segurança aguardando a investida cerca de
40 jovens conseguiram ‘furar o bloqueio’ e pixar o vazio do 2º andar,
resultando na prisão de uma única manifestante que, acusada por destruição
de bem protegido por lei, ficou 54 dias encarcerada na Penitenciária Feminina
do Carandiru. Questionado o curador Ivo Mesquita disse "Eu não sei o que a
curadoria tem a ver com isso" e "A curadoria não pode fazer nada, nem deve
fazer nada. A curadoria é um serviço terceirizado, que a Bienal contrata apenas
para fazer um projeto" (Folha de São Paulo, 13/12/2008), estabelecendo a
isenção de responsabilidade, o vazio no comprometimento curatorial. Poderia
ter aceitado a ação como intervenção legítima e coerente com a proposta “vivo
contato” e não como delito, inclusive porque o pixo não destruiu nada, foi logo
pintado, sem deixar vestígios no lugar, mas marcando na história da Bienal a
intransigência com que se tratou expressões transgressoras.

O vazio em projetos curatoriais, que propõe uma narrativa de


apresentação, contextualização e inserção na estética das obras, no universo
artístico, além de se verificar nas posturas omissas, está na ausência de
coerência e correspondência entre o proposto e o exposto. Ao oferecer uma
abstração de justificativas reflexivas sem sintoniza com a dinâmica das
possibilidades expressivas, estabelece um lapso, um vazio, entre o que se
projeta-propõe e o que se manifesta-expõe, especialmente quando não se está
aberto para lidar com as possíveis dissonâncias.

Quanto ao vazio institucional, infelizmente bastante comum em diversos


setores, na cultura encontra terreno fértil. Chega a ser impressionante a
quantidade de pessoas descomprometidas na área, sendo que o perfil de
“cabide de emprego” já foi muito pior, hoje temos profissionais tentando suprir
o vazio dos “fantasmas”, que seria melhor se não existissem ou ao menos nem
aparecessem, pois convocados ao trabalho acabam por atrapalhar-atravancar
as atividades. Só para constar, vale lembrar o vazio econômico instituído pela
falta de verba identificada em gestões descuidadas e/ou que sofrem com a
conhecida corrupção que impregna todos os setores, gerando um
esvaziamento nos serviços que deveriam prestar. Mas nenhum problema
administrativo deveria acarretar em omissão, como a exposta pela Fundação
Bienal ao se posicionar em relação ao ocorrido no seu domínio, declarando que
“não é de sua responsabilidade o destino da jovem e que agiu em defesa do
patrimônio público, o que é sua obrigação”. Fernando de Barros e Silva
escreveu: "Entre o vazio existencial da jovem 'Sustos' e o vazio conceitual da
Bienal, há menos identificação do que antagonismo: a fúria da primeira é o
impulso desesperado de vida que traz a luz o espírito burocrático e
mortificante da segunda" (Folha de São Paulo, 15/12/2008).

Se nem a curadoria, nem a instituição eram responsáveis pelo destino da


manifestante, de quem era a responsabilidade? Da Justiça, que
lamentavelmente por aqui é um ‘buraco negro’, não só pela forma com lida
com a informação, mas também pela distorção espaço-temporal que se
identifica nos encaminhamentos e na morosidade dos processos. O vazio na
justiça é bem exemplificado no caso Bienal-pichadores. O advogado Augusto
de Arruda Botelho Neto que defendeu Carol Sustos, como é conhecida,
declarou que ela foi vítima de um "equívoco", "Nem o Fernandinho Beira-Mar,
se fosse pego pichando um muro, receberia a pena que ela já recebeu.”
Alguém duvida? Consultado o advogado especialista em crimes ambientais
David Rechulski disse que "De acordo com a denúncia feita pela Promotoria, o
crime cometido por ela fere o artigo 62 da lei 9.605, que versa sobre
destruição de bem protegido por lei. No entanto, há um artigo específico sobre
pichação, o 65, na mesma lei e cuja punição é bem mais branda." E "Seria mais
apropriado que ela fosse condenada a pintar as pichações da Bienal, já que a
finalidade da pena é não apenas ser punitiva mas também educativa." Se
existe bom senso no direito porque ela ficou presa durante 54 dias? Nesse
período dividiu a cela com uma condenada por assalto a mão armada,
participou de uma "rebelião pacífica" protestando pela melhoria, dentre outras
coisas, da alimentação. Vegetariana, Carol sofreu "Tu sabes, a comida lá era
triste", disse. "Aliás, aquele lugar inteiro era muito triste, 3.000 mulheres que
não têm direito nem a um ginecologista; baratas, mofos e ratos por todos os
lados." Saiu de lá com uma micose e sem saber onde ia dormir já que, por falta
de pagamento perdeu o aluguel. No geral todos acham abusiva e arbitraria a
punição, mas o que não se entende é porque a justiça levou quase 2 meses
para liberar a manifestante.

E assim se dá o vazio no espectador, na falta de compreensão... Na confusão


ao se defrontar com o que poderia ser uma reflexão ou fruição estética,
encontra a ausência de sentido, que na melhor das hipóteses acaba sendo
apenas um entretenimento cultural, onde tentam convencê-lo de que aquilo é
arte. Sem as referências necessárias para entender os códigos artísticos
contemporâneos raramente conseguem ser sensibilizados pela obra exposta,
ficando a sensação do vazio. A respeitada critica de arte Aracy Amaral
escreveu “há tantas vertentes das artes visuais no mundo que a pálida 28ª
Bienal pode passar ao visitante incauto a falsa impressão de que nada mais
ocorre na área.” E ainda “Esta Bienal parece antes preconceituosa - em sua
preocupação em não mostrar artistas de outras tendências, mas apenas
aqueles rigorosamente conceituais.” Por mais que se realize um projeto
educativo, promova palestras, workshops o que se espera de uma mostra de
arte é a vivencia artística.

Se já pareceu confuso e até equivocado deixar um andar inteiro vazio numa


Bienal que tem como proposta geral apresentar-compartilhar-promover a arte
contemporânea brasileira e internacional, o que dizer dessa ”idéia de que é
impossível separar a arte da política” na qual “a 29ª Bienal de São Paulo está
ancorada”?

Ao “afirmar que a dimensão utópica da arte está contida nela mesma, e não no
que está fora ou além dela” e que “a mostra vai pôr seus visitantes em contato
com maneiras de pensar e habitar o mundo para além dos consensos que o
organizam... Vai pôr seus visitantes em contato com a política da arte“,
podemos pensar se estamos nos referindo a um evento efetivamente de artes
visuais, pois maneiras de pensar o mundo são propostas de filósofos,
sociólogos... e habitar de arquitetos, engenheiros... tudo bem que artistas tem
formações diversas, abordando, atuando em diferentes áreas, mas do que
afinal a curadoria está tratando? De política social através de projeções
artísticas?

O curador Moacir dos Anjos esclarece, “política é aqui entendida não como
espaço de apaziguamento de diferenças, mas justamente o contrário. Ou seja,
como o espaço formado pelos atos, gestos, falas ou movimentos que abrem
fissuras nas convenções e nos consensos que organizam a vida comum. Ou
seja, como bem coloca o filósofo francês Jacques Rancière, política entendida
como esfera do "desentendimento".” E pretendendo contemplar todas as
linguagens irá incluir o pixo, “queremos incluí-lo porque achamos que o pixo
borra e questiona os limites usuais que separam o que é arte e o que é
política” disse, entendendo os pichadores como "artistas brilhantes", apesar de
"tratados como marginais". Ciente das dificuldades explica, “trazer o pixo
como mera expressão gráfica que se vale de um suporte bidimensional para
dentro do prédio da Bienal não interessa, não resolve coisa alguma. Esse seria
o caminho mais curto para destituir o pixo de sua força transgressora e de sua
originalidade.” Buscando assim uma abertura que se identifica mais com
consenso, com entendimento, do que o contrário.

O risco é sairmos do vazio e cairmos num mar de lama, ou melhor, numa areia
movediça dessas mistificadas que parecem ‘dragar’ tudo o que nela cai, mas
que na realidade matem as coisas latentes podendo voltar à superfície. E ai a
correspondência com a política que se exerce por aqui, onde tudo “desmancha
no ar”, lembrando a famosa frase do Manifesto Comunista de Marx “Tudo o
que era sólido se desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e as
pessoas são finalmente forçadas a encarar com serenidade sua posição social
e suas relações recíprocas”. E então poderíamos divagar sobre o vazio na
política...

Mas, com o belo poético tema “Há sempre um copo de mar para um
homem navegar" a Bienal poderá muito bem abordar o imaginário no espaço
e tempo que o artista transforma usando material simbólico real ou virtual,
propondo um mergulho em sensações lúdicas que podem, ou não, refletir uma
critica social, e até ter uma abordagem política, instigando o visitante a
vivenciar a arte, compreendendo ou não... Arte não necessariamente leva a um
pensamento, a uma reflexão, ou a uma critica. Arte boa provoca os sentidos,
ela causa... sendo em si o efeito do que no artista foi causa primeira, mantendo
o ciclo de transformação que move a humanidade para além de razões-
conceitos concebidos.

De qualquer forma não existe vazio na arte que não seja “metáfora de uma
busca ou sintoma de uma aporia” como escreveu Affonso Romano de
Sant'Anna se referindo as obras de Malevich. Enquanto houver artistas
procurando inventar-rever-construir sentido, preenchendo espaços seja com
interpretações, com ilusões que inspiram significados imaginados... seja com a
rejeição, reinventando a existência... ou ainda, transgredindo preceitos...
teremos estímulo para fruições estéticas.

Em outra parte de ‘Invenção de Orfeu’ do poeta Jorge de Lima, que inspirou o


titulo da 29ª Bienal, podemos identificar no “poema” o dilema da Arte.

“Uma janela aberta


e um simples rosto hirto,
e que provavelmente
nela se debruçou;
e nesse gesto puro
do rosto na janela
estava todo o poema
que ninguém escutou;
só a janela aberta
e o espaço dentro dela
que o tempo atravessou.”

Referências:
Bienal de contrastes por Paula Alzugaray, Revista Isto É edição 2034, 29 de outubro de 2008

Caso Caroline Pivetta da Mota na 28a Bienal de São Paulo por Andre Mesquita, Artur
Matuck, Cristiane Arenas, Euler Sandeville, Flavia Vivacqua, Gavin Adams, George Sander,
Henrique Parra, 18 de dezembro 2008
http://www.canalcontemporaneo.art.br/brasa/archives/001984.html

O vazio, as marmotas e a arte por Affonso Romano de Sant'Anna


http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=38&id=457&tipo=1

Esta Bienal... reflete a arte contemporânea?, por Aracy Amaral, O Estado de São Paulo ,
31 de outubro de 2008 http://www.canalcontemporaneo.art.br/brasa/archives/001913.html

Ódio a pichadores me deixou tanto tempo presa, afirma jovem, por Laura Capriglione,
Folha de São Paulo, 20 de dezembro de 2008
Para ex-ministro da Justiça, punição foi "draconiana" por James Cimino, Folha de São
Paulo, 20 de dezembro de 2008
http://www.canalcontemporaneo.art.br/brasa/archives/001988.html

Convite para a transgressão no templo da arte. Curadores da mostra elegem Flávio


de Carvalho como vetor para tratar relação entre arte e política por Antonio Gonçalves
Filho e Camila Molina, 05 de outubro de 2009
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20091005/not_imp445815,0.php

"'Pixo' questiona limites que separam arte e política", diz curador da Bienal de SP
por Fernanda Mena, Folha de S. Paulo, 15 de abril de 2010.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u720657.shtml

Site da Bienal de São Paulo - http://www.fbsp.org.br/

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