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DANILO ABBAD BORIN

RESENHA-CRÍTICA
(Da Monarquia à República – Capítulo 11: A proclamação da
República)

Araraquara - SP
2018
No livro “Da Monarquia à República”, Emília Viotti, no capítulo “A
proclamação da República” traz as diversas historiografias surgidas sobre a
proclamação da República, historiografias que nasceram no início da República e
são referências até hoje e, Emília Viotti busca corrigi-las.
Viotti começa expondo as versões tradicionais da historiografia, que colocam
a proclamação da República como resultado das crises do fim do Segundo Reinado,
e depois faz reparos a elas.
A versão tradicional diz que a abolição da escravidão teria colocado os
fazendeiros contra a Monarquia por vingança, a mesma opinião expressava
Joaquim Nabuco na Câmara dos Deputados, dizendo que a força dos republicanos
provinha deste descontentamento dos fazendeiros. Emília Viotti diz, com razão, que
na realidade a abolição deu um “golpe de morte” na estrutura colonial de produção,
que já estavam defasadas em relação às novas condições do Brasil, a partir de
1850. A classe senhorial que resistia e não incorporava a modernização dos
métodos de produção e das relações de trabalho, que era ligada ao modo
tradicional de produção, era afetada pela abolição, mas estes constituíam a parte
menos dinâmica do país.
Sobre a questão religiosa, que se refere a prisão dos bispos do Pará e de
Pernambuco, dividiu o Brasil entre os que eram favoráveis aos bispos e os
favoráveis aos maçons e ao governo. Mesmo com uma sociedade indiferente ao
clericalismo, o Império brasileiro tinha como religião oficial o catolicismo e, pela
primeira vez, o Império e a Igreja entraram em conflito. Viotti diz que é exagero
supor que esse conflito seria a condição para a proclamação da República, para que
isso acontecesse seria preciso de uma nação clerical e que a Igreja e a Monarquia
fossem inimigas.
As versões tradicionais também superestimavam o papel do partido
republicano que, segundo Viotti, apesar de terem poucos adeptos e uma minoria no
quadro do partido, tiveram um papel significativo pelo grau de organização, pela
propaganda e pelas condições existentes. Somente as mudanças na estrutura
econômica e social e a crise nas instituições monárquicas explicam o fato da
proclamação da República ter ocorrido apenas em 1889, pela conversão de uma
parcela da nação às ideias republicanas.
Emília Viotti diz que, diferente do que dizem as versões tradicionais, os
militares não foram meros instrumentos dos civis, muitos militares já tinham
convicções republicanas, principalmente os de patentes inferiores e, essa adesão
pode ser explicada pela infiltração das ideias positivistas nos meios militares. Surgia
também uma ideia de que cabia aos militares a salvação da pátria.
As versões tradicionais têm a ideia de que o imperador abusou do Poder
Pessoal (ou Poder Moderador) e isso explica o advento da República. Mas Viotti
mostra que, apesar do Poder Moderador ser quase absoluto, tendo funções do
poder executivo e podendo intervir no legislativo e judiciário, vantagens dadas pela
Carta Constitucional, o imperador nunca as exerceu como um rei absoluto. Segundo
Viotti, eram as oligarquias que possuíam um imenso poder político, representadas
nas Assembleias Legislativas Provinciais, nas Câmaras dos Deputados, no Senado,
e outros. E esse grande poder das oligarquias provinha da estrutura econômica e
social do país.
As versões tradicionais da historiografia se centram na questão religiosa, na
questão militar e na abolição da escravidão, que teriam levado ao fim do Segundo
Reinado e a proclamação da República. Outros historiadores, com influência
positivista, achavam que a República é a consequência natural dos vícios da
Monarquia. Segundo Viotti, essas interpretações são superficiais e pouco objetivas,
pois provinham de depoimentos deformados e parciais de testemunhas que
estavam vivendo o momento revolucionário.
Logo após a proclamação da República surgiram duas versões contraditórias
sobre esse processo: a dos monarquistas e a dos republicanos. Os monarquistas
idealizavam a monarquia e consideravam a proclamação da República como um
mero golpe militar e, que os republicanos, uma minoria no país, apenas queriam a
mudança de regime para interesses próprios. A versão dos republicanos era mais
objetiva, mas também tinham uma visão parcial do movimento. Para eles, a
proclamação da República foi necessária para corrigir os vícios do regime
monárquico e os militares, ao proclamar a República, seriam os intérpretes do povo.
Tanto as crônicas dos republicanos quanto as dos monarquistas atribuíam
grande importância aos personagens e suas idiossincrasias, sem se preocupar em
fazer uma análise mais objetiva.
Viotti insiste, e com razão, na questão de se fazer uma análise objetiva, indo
além dos fatos mais perceptíveis e das opiniões (subjetivas), ou seja, ir além dos
fenômenos aparentes. Mas não penso que seja totalmente verdade que, os que
vivem o momento histórico apenas veem as ações individuais e os fenômenos
aparentes, penso que um bom teórico pode fazer uma análise objetiva de seu
momento histórico indo além dos fenômenos aparentes, mas é verdade que a
população em geral e, especificamente neste caso da proclamação da República,
os testemunhos, relatavam fenômenos pouco objetivos e bastante deformados.
Em uma passagem interessante, Viotti diz que “as grandes transformações
que subvertem a estrutura econômica e a ordem social são às vezes silenciosas e
passam despercebidas aos olhos dos contemporâneos [...]”.
Na década de 1920, a República revelava suas contradições e crises, assim,
os republicanos buscaram na monarquia as raízes das crises presentes e os
monarquistas idealizavam o passado e consideravam a República o início de todos
os males.
Na década de 1930, abandonando as versões subjetivas dos testemunhos,
os historiadores tentaram fazer uma análise mais objetiva dos fatos, explicando a
queda da Monarquia pela inadequação das suas instituições às condições
existentes. Já no fim do Segundo Reinado, as transformações que vinham se
operando, como a decadência das oligarquias tradicionais, a abolição da
escravidão, a imigração, o processo de industrialização e a urbanização,
contribuíram para a derrubada do regime monárquico. A República resultou da
aliança entre grupos ativos da classe média, como o exército que se identificou com
os interesses deste grupo e, dos setores progressistas da classe senhorial, que
eliminaram o trabalho escravo e transformaram as relações tradicionais ligadas à
terra em relações capitalistas de produção.
Várias transformações ocorreram durante o reinado de D. Pedro II: as
primeiras ferrovias, barcos a vapor, processos mais modernos na fabricação do
açúcar, também nos processos de plantio do café no Oeste Paulista, aumentando a
produtividade; o sistema escravista entrou em crise e o trabalho livre começou a
substituí-lo, vindo principalmente das imigrações; o capitalismo industrial dava seus
primeiros passos; formava-se um mercado interno e uma economia diversificada e
complexa, com capitais sendo aplicados em setores além da agricultura, como na
construção de ferrovias, estabelecimentos industriais e instituições de crédito.
Surgiram grupos novos, dando origem a uma população urbana, como a
pequena e média burguesia, que se alinhava às atividades mercantis, profissões
liberais, bancos, administração pública, etc. E os grupos tradicionais, como as
lavouras do Vale do Paraíba, que resistiam à modernização, estavam decadentes, já
que se apegavam a formas tradicionais de produção e ao trabalho escravo e, essa
decadência abalou as bases do Império.
A modernização das estruturas econômicas e sociais abalou as instituições
do Império, que acabaram entrando em crise. Sem entender essas transformações
econômicas e sociais, já detalhadas anteriormente, não se entende o longo e
silencioso processo de transformação e crise da Monarquia e que deu origem à
proclamação da República.

Bibliografia:
VIOTTI, Emília. A proclamação da República. In:______. Da Monarquia à República:
momentos decisivos. São Paulo: UNESP, 1998. Cap. 11, p. 444-490.

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