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8/13/2018 Niñas Arañas (2017), de Guillermo Helo.

por Marília-Marie Goulart | 13º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo

Niñas Arañas (2017), de Guillermo Helo. por Marília-


Marie Goulart
No cotidiano inundado por imagens e anúncios publicitários, o mito do consumo democrático faz
crer que todas temos a potencial capacidade de acessar as incontáveis ofertas exibidas
indiscriminadamente à população. Apresentado como um direito, o consumo se revela como um
verdadeiro dever: é preciso consumir para se tornar sujeito, para ser socialmente reconhecido e
adquirir o status de cidadão. Fora dos anúncios, o mito do consumo democrático rapidamente se
esvanece e revela sua face perversa: as imagens de felicidade, liberdade, pertencimento e
adequação livremente oferecidas pelas propagandas apenas se concretiza para uma parcela
bastante pequena da população. Para a grande maioria a oferta é uma imago perversa, mas
atraente, que será perseguida com juros e prestações. Como Sísifo a carregar sua pedra, a tarefa
do cidadão-consumidor nunca se completa. Com contrastes extremos as cidades expressam o
abismo social em sua superfície cindida entre territórios destinados aos que “podem ter” e aos
“desprovidos”.

Niñas Arañas desnuda com crueza essa dinâmica, mobilizando recursos estético-narrativos para
expressar a violência simbólica e real resultante de uma sociedade extremamente desigual devota
de um modelo de consumo impraticável. No longa-metragem acompanhamos as desventuras de
três adolescentes: Avi, Cindy e Estefany pela capital chilena. Moradoras da Toma Modelo de

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8/13/2018 Niñas Arañas (2017), de Guillermo Helo. por Marília-Marie Goulart | 13º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo

Peñalolén, maior ocupação de Santiago, as meninas são defrontadas em seu cotidiano com um
mundo diferente daquele que lhes cerca. Contrastando com a escassez e violência que lhes
rodeiam, a TV, as revistas e os outdoor apresentam um outro lugar cujo conteúdo lhes é bastante
familiar, mas onde, sabem, são estrangeiras. Seduzidas pelas imagens que apresentam uma
Santiago da beleza e do conforto, repleta de sabores, cores e novidades, o trio busca escapar do
precário lugar social onde estão. A tentativa é empreendida com incansáveis fugas que se
expressam no campo estético através do travellig e constante deslocamento da câmera e das
personagens.

Realizando pequenos furtos, as jovens logram desfrutar brevemente das imagens dessa “outra”
Santiago. Doces, comidas de fast-food e revistas de celebridades representam um alívio no
cotidiano de violência doméstica e ameaças sociais. Penetrando mais efetivamente no “outro lado”
as jovens passam a realizar incursões pelas ruas da Santiago rica. Se no princípio questionam se
podem simplesmente circular pelos espaços públicos destinadas à outras camadas sociais,
rapidamente o trio passa a ter con ança de circular nesse lugar. Impulsionadas pelo desejo de
participar do outro mundo, as jovens passam a engenhosamente entrar em edifícios de bairros
ricos para subtrair pequena quantia de dinheiro, alguns itens pessoais, mas principalmente
saborear esse lugar; como aranhas em uma fábula infantil, o trio consegue passear pelos estratos
do topo da pirâmide social.

Em Niñas Arañas os espaços da cidade são elementos importantes na expressão da cisão social.
Do alto do morro que cerca Peñalolén, nos breves respiros das incansáveis fugas, ao fundo da
paisagem, as jovens podem alcançar com os olhos a Santiago das revistas e novelas. Acima dos
adultos e dos con itos cotidianos, elas compartilham aspirações adolescentes, como ser famosa,
adquirir a casa de verão anunciada na revista ou o novo garoto da mídia. Mais do que o desejo de
consumir esses itens, as jovens expressam o anseio de integrar esse mundo de imagens que lhes
é oferecido e negado. Mais do que deter mercadorias, consumir é uma tarefa necessária para
escapar da invisibilidade e para integrar a sociedade (de consumo) que lhes cerca. A visão do topo
do bairro oferece também uma imagem dolorosa: a paisagem que têm à frente expressa o
contraste da pobreza de suas casas com o restante da cidade onde guram espaços verdes e
modernos arranha-céus. Chocando-se contra suas aspirações a intensa imagem da ocupação com
ruas de terra batida e residências improvisadas rea rma com dureza o lugar dessas meninas em
um bairro onde impera a escassez e que parece estar apartado da cidade que se exibe ao fundo.

Como um contra-plano da vista que têm de Peñalolén, do topo de um dos prédios que escalam no
“Bairro Alto”, região onde habita parte da população que concentra os maiores recursos de
Santiago, as jovens podem devolver o olhar para suas casas. Deslumbrada com o pôr do sol digno
de um comercial Estefany constata: “daqui se vê tudo”, mas Cindy rapidamente complementa:
“menos nossas casas”. O olhar ao revés, ancorado no ponto de vista da desejada (e rica) Santiago
lhes apresenta a sua completa invisibilidade. Na paisagem do “comercial”, no lugar que cobiçam,
sua existência é negada. Como Sísifo, elas chegam no cume apenas para constatar sua queda.

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A despeito de suas incursões, defrontadas com a paisagem e com o ambiente que lhes cercam, as
aspirações ligadas a esse “outro mundo” logo se esvanece. O contraste entre suas ambições e a
realidade que lhes cerca é brutal. Diferente dos comerciais e dos aconchegantes lares do Bairro
Alto, na Toma Modelo de Peñalolén impera a aspereza e a falta dos itens mais básicos. A
consciência da desigualdade vai crescendo junto à desesperança e rapidamente elas constatam
que não importa o que façam, elas e seus pares fazem parte do largo grupo que jamais integrará o
outro lado.

Na atualidade, o que engaja a incessante atividade de consumo é a busca de sair da invisibilidade,


captar o olhar dos outros (consumidores), tornando-se assim atrativo, desejado como uma
mercadoria cobiçada: essa é a matéria que compõem sonhos e contos de fadas. A re exão é
válida para o trio de personagens e para o sem número de jovens das metrópoles latino-
americanos que tragicamente têm o consumo de bens como via de acesso àquilo que lhes é
negado. Para o trio de Niñas Arañas entrar nos apartamentos representa simbolicamente
penetrar no mundo das imagens, naquele mundo que lhes é ofertado na TV e nos anúncios. Mas o
ingênuo desejo de serem vistas é rapidamente apropriado com perversidade. Longe das páginas
de celebridades, as três meninas terão visibilidade e serão desejadas como mercadorias de outro
departamento. O espaço que lhes é reservado será na sessão policial, onde têm reforçado seus
estigmas e a impossibilidade de sair do lugar precário de onde tentam fugir.

PROGRAMAÇÃO

18 de Julho
19 de Julho
20 de Julho
21 de Julho
22 de Julho
23 de Julho
25 de Julho
26 de Julho
27 de Julho
28 de Julho
29 de Julho
30 de Julho
31 de Julho
01 de Agosto

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FILMES

Contemporâneos
Contemporâneos Foco Chile
Homenagem Inés Efron
Homenagem Jeferson De
Latininhos
Mostra Escolas de Cinema CIBA-CILECT
Retrospectiva Mostra Escolas de Cinema CIBA-CILECT

13º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo

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