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Ethos
Ruptura com a
necessidade da physis
A mediação da práxis
• Circularidade do processo:
Ethos Héxis
(sociedade) (sujeito ético)
A Praxis Humana
• Com a idéia de que o bem‚ aquilo a que tendem todas coisas, sendo
que tais fins podem ser alheios à própria ação ou imanentes a ela,
Aristóteles realiza a importante distinção entre práxis (ação - fim em si) e
póiesis (produção obra exterior ao agente).
• A primeira dá origem às ciências práticas, a segunda às technai (artes e
ofícios). O fato de a estrutura da techné ser muito mais definida do que
a da práxis faz com que Aristóteles recorra freqüentemente à
explicação dessa por meio daquela (medicina, instrumentos musicais,
etc.).
• Diante da pluralidade de fins humanos, Aristóteles elege como fim último
o que ele chama de bem supremo, sem, entretanto, deixar muito claro o
que seria isso (“Só os meios seriam objeto de deliberação, não os fins” -
p.ex.: 1112b 11 ss.).
• As ciências práticas têm no topo de sua hierarquia a Política,
considerada como a mais “arquitetônica” do gênero, assim como no
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âmbito das ciências teóricas, a Filosofia Primeira ou Teologia ocupa o
lugar principal.
• Pressuposto desse ponto de vista é a total unidade e solidária
convergência de todos os fins humanos, sendo que os fins parciais ou
imediatos são entendidos como meios para um fim superior único, cuja
obtenção prática é objeto da Política e cujo conhecimento especulativo é
objeto da Filosofia Primeira.
• Dessa forma, o caráter principial da Política e da Filosofia Primeira não
são de forma alguma alheios um ao outro – ambos almejam a
“imobilidade”, ausência total de mudança, pluralidade e dispersão (ética
rigidamente normativa).
A Eudaimonia ou Felicidade
• Tal bem supremo‚ definido como eudaimonia (“eu” = bom, “daimon” =
divindade de extrato inferior) ou “felicidade” (beatitude), significando
“viver uma vida virtuosa”, onde o caráter de atividade é ressaltado em
detrimento de uma simples dádiva.
• Na Ética Nicomaquéia analisa-se as opiniões correntes, segundo as
quais a felicidade liga-se a três classes de bens:
1) prazer,
2) honras e
3) riquezas.
• prazer tem, no livro I, uma desvalorização extrema (ao contrário dos livros
(VI e X) por seu aprisionamento ao físico, que nos iguala aos animais
irracionais.
• As honras encontram uma avaliação mais positiva, por serem uma
espécie de motor da atividade política. Mas sua desvantagem é que
elas dependem mais de quem as concede do que de quem as recebe,
o que as afasta da eudaimonia, entendida como algo mais “pessoal”.
• As riquezas, por sua vez, estão também‚ muito longe da felicidade, já
que o mundo dos negócios caracteriza-se pela violência e pela coerção
- é, antes de tudo, um mundo de meios.
• Mas Aristóteles acredita que em cada um desses tópicos existe um
elemento de verdade, que pelo menos aponte para a construção do
conceito de felicidade enquanto arché da ciência moral.
• Negativamente, portanto, Aristóteles chega às três determinações
fundamentais da eudaimonia:
1) A auto-suficiência ou autarquia (vs. honras)
2) A perfeição - caráter de algo acabado (vs. prazer)
3) Uma dimensão ativa ou funcional (vs. riquezas).
A Virtude
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• Mutatis mutandis, se a função humana liga-se ao desempenho da
razão, sua virtude ligar-se-á à excelência no desempenho da mesma.
• Já que na alma humana distinguimos a parte que razão e pensamento e
a outra, que, sem possuí-los, os obedece, há também duas classes de
virtudes:
1) As éticas e
2) as dianoéticas.
A Proéiresis
O Prazer
Maniqueismo e Neo-Platonismo
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• O homem para de imitar a escuridão na medida em que ele, como essa,
incorpora almas de outrem e cria continuamente receptáculos
(Behältnisse) para manter as almas aprisionadas.
A doutrina de Mani
• Depois de se batizar, Agostinho combateu o maniqueísmo com a mesma
convicção com a qual ele se filiara a esse anteriormente, apesar de os
maniqueístas milaneses se considerarem os verdadeiros cristãos.
• Cristo teria sido um mensageiro de Deus que proporcionou aos homens o
caminho para o auto-conhecimento, na medida em que lembrou-lhes sua
origem divina. Mas a verdade completa foi revelada primeiramente por
Mani.
• Já que a luz, em virtude de sua pura bondade, dispensava a fúria
destruidora da escuridão, ela foi derrotada por essa no combate e
abandonou uma parte de si como sacrifício a fim de escapar de uma
completa destruição.
• Mani contava a lenda de um mundo com frentes (Fronten) bem
delimitadas: de um lado o bem, do outro o mal. O que poderia ser mais
claro, mas adequado à exigência da razão, do que o bem ser bom e o mal
ser mau?
• Mas o reconhecimento era, desse modo, dado não apenas ao bem, mas
também ao mal, que era declarado – numa radicalidade desconhecida até
então – como um poder independente ativamente efetivo.
Dúvida e reorientação
• O que Deus ganhava em pureza através do ponto de vista dualístico, ele
perdia em poder, já que o mal era pensado como um poder originário
totalmente indenpendente de Deus e, com isso, seu dom de senhoria lhe
era retirado.
• O problema filosófico mais urgente para Agostinho consistia
primeiramente em achar um caminho para conciliar a experiência do mal
com a pressuposta perfeição de Deus. Se esse fosse tanto todo poderoso
quanto bom, o mal poderia não ser real.
Realidade
do mal
1) Menor
bondade de Deus 2) Menor poder
de Deus
Poder de Bondade
Deus de Deus
3) Menor
realidade do Mal
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• Permanece então apenas a possibilidade nº 3, diante da qual Agostinho
relutou, já que ela parecia contradizer a experiência do mal no mundo.
Agostinho se desligou do Maniqueísmo sem Ter ainda uma alternativa
séria em vista e se tornou temporariamente cético.
Plotino sobre a origem do mal
• Segundo Plotino, o mundo estruturado de modo totalmente diverso, no
qual vivemos, surgiu do Uno imutável e indiviso. Esse uno é a variante
neoplatônica da idéia platônica do bem.
• Desse modo, surgem, um após outro, com teor decrescente de ser, o
espírito e as idéias nele contidas, a alma do mundo, as almas individuais
e finalmente, em último lugar, o âmbito dos corpos materiais.
• Já que não há nada que não possua de algum modo uma forma e que,
portanto, não participe no princípio criador de formas, não há nada no
mundo que seja pura e simplesmente mau.
• Entes são primeiramente os sempre já enformados corpos, que Plotino
chama de “segundo mau” (deuteron kakon).
• O mal, portanto, não possui qualquer existência positiva, sendo, antes,
uma ausência, mera sombra (eikwn) do ser (En.I, 8, 3). Não é forma, mas
privação (steresis) (En.I, 8, 1), não-ser, carência de ser e de bem (elleiyis
agatou).
O mal (plotiniano) é necessário e bom
• Tanto quanto há mundo, há também uma gradação do ser e, com isso, o
mal relativo. Segundo Plotino, essa carência não é apenas inevitável,
porque constituinte do mundo, mas, vista corretamente, algo bom.
• Se se considera o que é chamado mal ou ruin não apenas por si, mas se
o vê com relação ao todo, mostra-se que o mundo sem ele não seria
melhor, mas, antes, pior do que é agora (En. III, 2, 3).
• Um mundo em que somente houvesse o bem, seria, se pudesse existir (o
que é impossível) tão insosso quanto uma tragédia cheia de brilhantes
heróis (En.III, 2, 11/12)
• A comparação escolhida por Plotino é eloqüente, pois disso se torna claro
o quanto no seu pensamento critérios éticos e estéticos passam um no
outro ou, antes, não são separados um do outro.
• Pois todo o mal ocorrido pode, de diversos modos, ser usado para o bem.
Desse modo, pobreza e doença apontam para a precariedade dos bens
materiais e mesmo a ruidade de uma alma humana, a carência de virtude,
ensina outros a “compreender que bem superior é a virtude, na medida
em que aquela se contrapõe aos males, que é o livrar-se do mal” (En.III,
2, 5)
Ruindade moral
• De modo semelhante aos maniqueus, também Plotino remete a ruindade
da alma à sua mistura (muxis, krasis) com a matéria, enquanto algo que lhe
é estranho (En.I, 6,5), certamente com a dificuldade que o mal não é
concebido positivamente como poder originário atuante, mas
negativamente, enquanto carência.
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O mal no mundo criado por Deus
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dele, que não há no mundo circundante nada que, tomado por si mesmo e
em conexão com o todo, não fosse por si “maravilhoso e belo”.
• De modo ainda diferente do estóicos, que como Agostinho souberam
apresentar a beleza do mundo nas mais quentes colorações, mas que,
nisso tinham em vista ultimamente apenas seu valor de uso universal, a
clássica identificação do bom com o útil é aqui tendencialmente abolida.
Entretanto, o nada é
• Entretanto, a defesa de um ponto de vista que põe totalmente em questão
a existência do mal tem seus vícios, que não ficaram ocultos a Agostinho
e o obrigaram a conceder ao mal uma certa existencia, mesmo que
secundária, no sentido plotiniano.
• Mesmo que Agostinho não se distancie nem um pouco de sua fé na
perfeição de Deus, o conhecimento dessa conseqüência não o levará, nos
anos tardios de sua vida em constraste com seus inícios neoplatônicos, a
reconhecer cabalmente a existência do mal no mundo.
• De fato, há o mal e ele é parte do mundo, mas ele consiste exatamente
numa carência de ser, respectivamente, em não ter o bem ou em ter
pouco de bem.
• Dessa origem a partir do nada as coisas criadas não podem se livrar,
porque elas diferentemente de Deus são mutáveis (civ XII.I). Sua nulidade
(nequitia) mostra-se – sob grande influência platônica – no seu ser
temporal: elas fluem, dissolvem-se, entram numa corrente.
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As amarras desse mundo
• Não é tão fácil para a alma, de um modo geral, se separar do que é
temporal e se dirigir ao que é chamado de eterno. A maioria dos homens
não apenas vivem nesse mundo mas também dedicam-lhe amor.
• Exatamente na ilusão de ser feliz, reside a maior infelicidade para as
pessoas (Ac I.2). Por meio dessa ilusão, o mundo dominado pelo não-ser
adere às pessoas como num feitiço, escurece suas almas e testemunha,
dessa forma, o poder do não-ser.
• Então o Nada deve permanecer nada; por outro lado pode conseguir
efetividade. Deve ser, em outras palavras, ao mesmo tempo nada e
alguma coisa. Agostinho resolve esse problema, atribuindo toda atividade
do mal ao homem.
Os pecados do homem
Pensamento carnal
• Ruim é apenas pensar carnalmente, i.e., considerar mais importantes os
objetos percebidos com os sentidos do que eles merecem segundo sua
qualidade, querer possuí-los e se apegar a eles como se não existissem
nada melhor.
• Além disso a alma comete um tipo de injustiça cósmica, pondo o pior na
frente do melhor e subvertendo a eterna ordem das coisas. Essa
depravação (depravatio) é o que Agostinho chama de pecado (peccatum)
e esse pecado é o verdadeiro – de acordo com a alma – mau.
• Nesse sentido ruim ou mau é sempre apenas o trato com as coisas, pois
o mau não é algo essencialmente existente (non est substantia): ele
consiste apenas no fazer (facere) e no sofrer (pati; rel 104).
• O mau é sempre o abuso do bem. Usar mal o bem significa usá-lo de
modo invertido, de um modo, a saber, que não é adequado ao seu
verdadeiro valor.
• Preferir as coisas temporais às eternas significa ter uma grande tendência
em direção a elas ou, mais ainda, amá-las mais do que as outras,
levando-se em conta que esse amor não repousa sobre um juízo material,
mas, antes constitui o fundamento de um juízo desse tipo.
• Que se possa perder as coisas materiais caracteriza o status inferior
dessas coisas, sua comparativa nulidade. O que vale a pena ser amado é
apenas o que é imperdível.
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ruins para mim, se eu os uso mau e isso significa: se eu paro de apenas
usá-los e, em vez disso, os amo por si mesmos.
• Pois amá-los significa tornar-se dependente deles e tornar-se dependente
de algo que é tão fugidio quanto as coisas pertencentes ao mundo
temporal limita drasticamente as possibilidades de ser feliz.
• Eu me perco na transitoriedade do que é relativamente não-ente e me
torno, eu mesmo, num não-ente. Eu me distancio da fonte da vida e deixo
minha alma morrer, abrigando-a no mundo transitório e me tornando igual
a ele (conf. XIII 21).
Somente Deus vê dentro do coração dos homens
• Já que o pecado ocorre na intimidade da alma humana e, por isso, o valor
de uma ação não se encontra mais como algo aberto, não podemos, sem
mais, julgar uma pessoa por aquilo que ela faz..
• Enquanto as razões da ação, a saber, as verdadeiras, as razões do
coração não nos forem conhecidas, não podemos frequentemente ousar
dizer se foi bom ou não agir assim. Há sempre também a possibilidade de
que nunca estaremos em condição de fazê-lo, pois não vemos no coração
das pessoas.
• Por isso, não se encontra no poder de nenhuma pessoa, emitir um juízo
conclusivo, nem sobre si próprio nem sobre uma outra pessoa, nem sobre
o bem, nem sobre o mal.
Emprego da violência motivado pelo amor
• Se os atos enquanto tais são indiferentes, então tudo é permitido, na
medida em que isso ocorre pelo correto amor. Aqui reside uma
potencialidade de ação quase ilimitada, na qual a Igreja Católica nos
tempos posteriores fez pleno uso de seu poder para perseguir
impiedosamente gentios, cristãos heréticos e todos os tipos de
perturbadores da ordem.
• Apesar de Agostinho pessoalmente preferir indubitavelmente a “suave
doutrinação” (civ XVIII. 51) ao “contundente castigo”, ele chegou
paulatinamente à concepção de que alguém que não quiser se deixar
curar do amor invertido para a correta fé através da cordialidade, em caso
extremo deve ser levado a isso com violência.
• Assim, Agostinho se tornou, segundo seu biógrafo Peter Brown, o
primeiro teórico da inquisição.
• a ser, mas amar a sua essência criada por Deus à sua imagem, sua
perfeita natureza (perfecta natura), que ele não pode perder quando ele a
recusa (rel 252, 262).
Proibição à mentira
• Dentre os mandamentos que, segundo Agostinho, possuem validade
categórica se encontra não em último lugar a veracidade. Sob quaisquer
condições deve um homem que ama Deus se servir da mentira, para
qualquer propósito que for. Nem mesmo para evitar um assassinato ou
outro grave crime, pois a mentira mata a alma, o assassinato, ao
contrário, apenas o corpo (mend 9).
• Tudo que é, pode ser mais ou menos verdadeiro, i.e., ter maior ou menor
participação no Ser dado por Deus e somente nele perfeitamente
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realizado. O mundo temporal é em sua transitoriedade menos ente e,
portanto, menos verdadeiro que o eterno.
• Por isso, todos os pecados são, no fundo, mentiras, porque eles
consistem em preferir o que é relativamente não-ente, portanto, é menos
ente em detrimento do Ente ilimitado (civ XIV. 4).
• Quem mente, diz o que não é. Ele recebe desse modo em si o não-ente e
entra, com isso, na maior distância possível com relação a Deus.
Redescobrimento de Aristóteles
• Somente a partir da metade do séc. XII afirmou-se um desenvolvimento
que, em última instância, tornou necessária uma nova avaliação das
relações entre razão e fé, a saber, o redescobrimento de Aristóteles.
• A cristandade primitiva não via muita utilidade neles. Agostinho não os
estimava, assim como toda filosofia pagã, e Clemente de Alexandria
chegou a amaldiçoá-lo como pai da heresia.
• O pouco que se sabia sobre Aristóteles, mais de ouvir dizer, era que ele
negava a imortalidade da alma e a providência divina e defendia a
eternidade do mundo, o que afastava bastante o interesse dos filósofos
cristãos.
• Além disso, quase todas as obras de Aristóteles teriam se perdido para
sempre se não fossem as traduções para o Árabe, feitas sob os auspícios
da Academia de Bagdá, no século IX.
• As contribuições de Avicena (980-1037) e Averróis (1126-1198) foram
decisivas para a retomada de Aristóteles no Ocidente. Já no início do
século XIII eram ensinados na então recém-fundada universidade de
Paris os escritos de metafísica e de ciências naturais de Aristóteles.
• Tais escritos mostraram-se úteis para uma interpretação racional e ampla
do mundo, sem que se precisasse necessariamente lançar mão da fé
cristã. Depois de uma reação negativa da Igreja Cristã, que, a princípio,
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proibiu o ensino de Aristóteles na Universidade de Paris, houve
consentimento no estudo de sua doutrina. Alberto Magno (1200-1280)
viria a comentar toda a obra de Aristóteles e, desde o início, defendia a
separação entre Filosofia e Teologia.
• Aos desenvolvimentos associados aos estudos aristotélicos considerados
heréticos veio uma resposta fulminante: em 07/03/1277, o bispo de Paris,
Etienne Tempier, divulgou um silabo contendo 219 teses que deveriam
ser condenadas. Doutrinas como a de Siger de Brabant e Boécio de Dácia
foram proibidas e seus autores excomungados. A persistência na defesa
dessas teses poderia ser punida com a morte.
• Até mesmo Tomás de Aquino, hoje considerado um autor “ortodoxo” do
cristianismo – chamado de Doctor Angelicus – , teve algumas de suas
teses censuradas pela Igreja da época. Em 1323 ele foi canonizado.
Saber teórico e saber ético
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• Fé e razão não se encontram em Tomás de Aquino numa relação de
inimizade, como para o último Agostinho ou seus seguidores
contemporâneos, como Boaventura, mas completam-se mutuamente.
• Não fazer uso da razão, não realizando assim o saber possível ao
homem, seria, segundo Tomás de Aquino contrário à determinação
originário para o homem e, portanto, contra a vontade divina. à
aperfeiçoamento do homem enquanto homem (perfectio hominis inquntum
homo).
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pode-se conhecer quais são bons e quais são maus, de modo que
qualquer discussão sobre o que fazer é principialmente decidível.
• Encontramos em nós previamente algo que é evidente de modo muito
simples e não precisa de desenvolvimentos ou mesmo provas ulteriores e
que permite deduzir rigorosamente – se prestamos corretamente atenção
– para cada situação o modo correto de agir.
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