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A EVOLUÇÃO DO PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO:

ILUSÃO DE CONTROLE E AVERSÃO À AMBIGUIDADE


THE EVOLUTION OF THE DECISION-MAKING PROCESS: ILLUSION OF CONTROL AND AVERSION TO AMBIGUITY

Raphael Leon Peres Thomazine Brocchi (UniCEUB); Jaqueline Thomazine Brocchi (IFB) – rbrocchi@gmail.com;
jaquelineth@gmail.com

Resumo: Este trabalho objetiva ampliar a definição do perfil do investidor com o estudo das
relações existentes entre os traços de personalidade e os fenômenos de ilusão de controle e
aversão à ambiguidade. A pesquisa é descritiva e quantitativa. Foi aplicado um questionário
formal estruturado em uma amostra de alunos do curso de bacharelado em administração da
Universidade de Brasília. Analisou-se a existência de correlação entre os traços de personalidade
e de ilusão de controle e aversão à ambiguidade apresentados. Foi encontrada pouca correlação
entre tais fatores. Conclui-se que existe dificuldade em determinar o perfil do investidor por meio
dos traços de personalidade.

Palavras-chave: aversão ao risco, finanças comportamentais, tomada de decisão.

1 Introdução escolhas. O principal esforço nesse sentido é o de


desenvolvimento de modelos matemáticos. Como
forma de possibilitar a criação de tais modelos, a

O comportamento humano sempre foi tema de


curiosidade. As ciências sociais têm como foco
o elemento humano e, para áreas como a filosofia,
teoria clássica adota pressupostos que definem o
homem como um ser racional e calculista. Dessa
forma, ele seria capaz de verificar quais são as
a psicologia, a administração e a economia, as ações oportunidades e teria discernimento suficiente para
humanas configuram sua principal fundamentação. optar pela escolha mais otimista.
Nas ciências econômicas e na administração, o Começou-se, então, a perceber as limitações
comportamento do homem é analisado em aspectos dos pressupostos adotados. O indivíduo racional e
relacionados com o papel que ele assume na calculista tornou-se um ser intuitivo e que apresentava
sociedade: o consumidor, o empresário, o capitalista, desvios irracionais. Com isso, surgiu um novo campo
entre outros. Qualquer que seja este papel, o homem de estudo, o campo das finanças comportamentais.
é um tomador de decisões. O indivíduo, agora visto de forma menos racional,
Essas ciências buscam, ao longo do tempo, decifrar virou foco de diversos estudos que tinham o intuito
como o indivíduo age no momento em que faz de identificar as limitações da racionalidade.
RAPHAEL LEON PERES THOMAZINE BROCCHI
JAQUELINE THOMAZINE BROCCHI

Tentativas de mapear os principais atos relevantes para bancos de investimentos que


irracionais das pessoas encontraram fenômenos buscam mapear o perfil de seus investidores.
como a contabilidade mental, ilusão de controle,
aversão à perda e aversão à ambiguidade.
Porém, a dificuldade revelou-se no momento 2 Referencial teórico
da modelagem matemática de tais fenômenos,
uma vez que, por não possuírem sentido lógico, 2.1 Decisão sob a ótica das
não era possível criar fórmulas gerais que se
aplicassem a quase todas as situações. finanças comportamentais
Outro problema é identificar que tipos de
pessoas apresentam tais fenômenos e quais Conforme Halfed e Torres (2001), o estudo
são as suas características. Trabalhos recentes das finanças comportamentais surgiu com os
buscam traçar o perfil do indivíduo que possui trabalhos de Kahneman e Tverski (1979), no
determinados tipos de desvios. Dessa forma, final da década de 1970. Essa nova abordagem
as previsões seriam mais acuradas e gerariam buscava revisar e aprimorar o modelo moderno
informações mais completas. de finanças, incorporando aspectos de
Apesar da grande evolução da teoria irracionalidade no investidor.
apresentada anteriormente, ainda não existem Com o desgaste da teoria moderna de
modelos que demonstram como os consumidores finanças nos anos 80 e 90, especialmente através
não racionais se comportam, além de não existir da constatação da existência de anomalias não
teoria consolidada acerca das formas como eles explicadas pelo modelo no mercado financeiro,
podem ser classificados e identificados. Isso a teoria das finanças comportamentais começou
torna difícil a previsão de como os indivíduos a ganhar adeptos. Dessa forma, ganhou força e
irão se comportar, gerando grandes gastos em conseguiu consolidar alguns de seus conceitos,
pesquisas e previsões de demanda que raramente apesar de ainda ser marginalizada em grande
conseguem gerar informações bem próximas da parte da academia (HALFED; TORRES, 2001).
realidade. Os autores destacam, ainda, que as ideias
Esta pesquisa tem por finalidade responder à da teoria emergente impactam de maneira
seguinte questão: existe relação entre os traços contundente na teoria já estabelecida, uma vez
de personalidade e os fenômenos de ilusão de que suas suposições dizem respeito à figura
controle e aversão à ambiguidade? Tal pergunta fundamental de toda a teoria moderna – o
é vista sob a ótica de Goldberg (1992). investidor e o seu comportamento racional – e
Dessa forma, busca-se identificar os traços procura incorporar a irracionalidade do homem.
de personalidade apresentados por indivíduos Apesar da hipótese do homo economicus
que apresentam os fenômenos de ilusão de ser universalmente aceita e utilizada, existem,
controle e aversão à ambiguidade, além de segundo Halfeld e Torres (2001), muitos
verificar a existência de correlação entre tais estudos feitos por psicólogos e psicanalistas que
fenômenos. Para tal, espera-se identificar a comprovam a inexistência da racionalidade como
correlação entre os traços de personalidade e o centro do pensamento humano. Assim, segundo
fenômenos apresentados, apurar a relação entre os autores, o homem apresentado pela teoria das
a intensidade em que um traço de personalidade finanças comportamentais não é completamente
é percebido com a intensidade da presença de racional, tendo suas decisões influenciadas por
tais fenômenos e apurar se a ocorrência dos dois emoções e erros cognitivos, podendo interpretar
fenômenos está correlacionada. um problema de maneiras diversas. A nova teoria
A possível descoberta de relações entre de finanças busca explicar como essas emoções e
os traços de personalidade e a presença dos erros cognitivos alteram o mercado e as decisões
fenômenos de ilusão de controle e aversão dos investidores.
à ambiguidade pode contribuir de maneira Kahneman e Tversky (1979) realizaram
relevante para a identificação do perfil dos diversos testes com o objetivo de avaliar a
consumidores, aumentando a precisão de validade da teoria da utilidade esperada. Como
previsões realizadas por empresas. O uso de resultado do seu trabalho, eles caracterizaram três
tal pesquisa pode ter significados ainda mais situações em que os indivíduos se comportam

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de maneira contrária à teoria estabelecida, i. Autoconfiança excessiva – estudos


quais sejam: certainty effect; reflection effect; e afirmam que 80% das pessoas acreditam
isolation effect. estar acima da média, o que gera uma
O fenômeno certainty effect foi detectado confiança exagerada nas informações que
através de um experimento que apresentava duas cada investidor possui. Consequentemente,
opções de investimento, uma com certo grau de como cada investidor negocia de acordo
risco e um retorno maior, e outra com risco zero com suas informações, isso altera o preço
e um retorno menor. De acordo com a teoria de mercado de um ativo;
clássica, os respondentes deveriam optar pelo
ii. Otimismo e pessimismo – os investidores
investimento arriscado, uma vez que seu valor
não levam em consideração o conceito
esperado era consideravelmente maior. Porém,
d e re t o r n o à m é d i a d a s f i n a n ç a s
contrariando o esperado, a grande maioria dos
comportamentais. Tal conceito explica que
entrevistados preferiu o investimento sem risco.
uma ação que possui vários períodos de alta
Isto fez com que Kahneman e Tversky (1979)
tende a cair, e outra tende a subir depois
chegassem à conclusão de que os indivíduos
de vários períodos de baixa. Apesar disso, o
costumam supervalorizar um evento certo em
investidor comum tende a comprar uma ação
detrimento de outro arriscado.
que está subindo a vários períodos e rejeitar
Em um experimento parecido ao anterior, esses
uma que está caindo a vários períodos;
autores aplicaram questionários que envolviam
também a escolha cuja situação envolvia perdas iii. Sobre reação às novidades de mercado
ao invés de ganhos. Segundo a teoria da utilidade – utilizando a variação de dividendos
esperada, os indivíduos deveriam apresentar como lastro para o valor de um título do
aversão ao risco em ambas as situações. Contudo, mercado, percebe-se que o valor de uma
os indivíduos se mostraram avessos ao risco em ação é mais volátil que as oscilações dos
situações que envolviam a possibilidade de ganho dividendos. Assim, o preço da ação não
e apresentaram amor pelo risco nas situações em reflete as informações disponíveis desse
que o risco era de perda. A este fenômeno foi ativo, contrariando a hipótese de mercados
dado o nome de reflection effect. eficientes.
Por fim, o fenômeno do isolation effect
refere-se ao fato dos indivíduos tomarem Contudo, como evidenciam Halfed e Torres
decisões em estágios, decompondo as opções de (2001, p. 71), “As finanças comportamentais
investimento em partes passíveis de comparação. ainda não têm força para derrubar o modelo
Dessa forma, os indivíduos podem eliminar as moderno de finanças [...] falta-lhe um modelo
partes comuns aos investimentos e analisar as matemático confiável e abrangente”. Apesar
partes diferentes. Para validar esse conceito, foi das evidências do comportamento irracional
aplicado um questionário em que os indivíduos dos investidores, Fama (1998) julga que eles
deveriam escolher entre dois investimentos, participam no mercado de forma aleatória, de
um certo com valor esperado menor (A), e um forma tal que suas interferências se anulariam.
incerto com valor esperado maior (B), porém os
dois investimentos eram precedidos de uma etapa
anterior que determinava a probabilidade de eles 2.1.1 Ilusão de controle
poderem realizar esse investimento. De acordo
com outra questão respondida anteriormente, Segundo Taylor e Brown (1988), a maioria dos
que apresentava as mesmas probabilidades indivíduos apresentam um fenômeno chamado de
em uma única etapa, os indivíduos escolheram ilusão. Isso significa que eles costumam acreditar
o investimento B; porém, motivados pelo que são melhores que os demais em certa
isolation effect, eles preferiram o investimento qualidade, seja ela negativa ou positiva, além de
A (KAHNEMAN; TVERSKEY, 1979). crerem que o seu futuro também será melhor que
Halfeld e Torres (2001) apresentam o dos demais. Dessa forma, as pessoas formam
outras anomalias identificadas pelas finanças uma impressão muito positiva de si, acreditando
comportamentais: que suas habilidades são melhores do que elas
realmente são (HVIDE, 2002).

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Lewicki (1983) explica que esse fenômeno de investimentos nos quais se sintam mais
ocorre porque as pessoas tendem a utilizar suas competentes, ou seja, sintam-se mais capazes
melhores qualidades para se comparar com as de julgar os resultados. Dessa maneira, um
demais, tornando tal comparação favorável indivíduo atribui maior utilidade esperada a um
a elas próprias. Além disso, essas pessoas investimento em que ele possui mais informação.
tendem a subestimar as qualidades das demais
e superestimar os defeitos (GREEN; GROSS,
1979), e a se verem de forma mais favorável do 2.2 Evidências empíricas
que como os outros as veem (TAYLOR; BROWN,
1988). Existem três trabalhos publicados que possuem
A ilusão de controle ocorre quando um alta relevância para este estudo. Dois destes
indivíduo avalia um evento pessoal como trabalhos são os validadores dos questionários
sendo mais favorável ao sucesso do que ele é utilizados para a devida identificação dos traços
de fato (LANGER, 1975). Langer (1975) explica de personalidade dos indivíduos e da existência
isso através da disposição que as pessoas ou não dos fenômenos de ilusão de controle
apresentam em pagar mais por um bilhete de e aversão à ambiguidade em suas decisões. O
loteria cujos números são escolhidos por elas do terceiro trabalho retrata um passo inicial no
que um bilhete onde os números são sorteados estudo dos traços de personalidade de indivíduos
aleatoriamente. que apresentam tais fenômenos.
Como os indivíduos tendem a dar mais valor Goldberg (1992) apresenta, em seu trabalho,
à um evento em que participam diretamente, a evolução teórica que determinou a divisão
Hvide (2002) infere que a utilidade esperada pelo de todos os traços de personalidade em cinco
indivíduo se torna maior, aumentando também grandes grupos, gerando o modelo dos cinco
o valor que tal indivíduo está disposto a pagar grandes fatores. Ao longo do tempo, diversas
para participar do evento. Ainda segundo o autor, pesquisas foram feitas com diversas qualidades
um indivíduo que apresenta a ilusão de controle humanas com o objetivo de buscar as qualidades
pode ter tido uma série de confirmações positivas que apresentavam alta correlação e agrupá-las
de suas habilidades de forma coincidente, em fatores que representariam os traços de
provocando um pensamento de que o próprio personalidade dos indivíduos. Segundo o autor,
indivíduo seria o responsável pelo sucesso. esses traços de personalidade foram separados
em: extroversão, agradabilidade, consciência,
estabilidade emocional e intelecto.
2.1.2 Aversão à ambiguidade Cada traço de personalidade apresentado
se subdivide em sete qualidades bipolares
A teoria de aversão à ambiguidade surgiu do representativas do fator, como se pode ver a
trabalho de Ellsberg (1961), o qual constatou que seguir:
o indivíduo possui preferência por eventos em
que as probabilidades sejam declaradas, por mais i. Extroversão: introvertido/extrovertido;
arriscado que o evento seja, do que por eventos apático/enérgico; calado/falador; tímido/
incertos, isto é, eventos em que não é possível ousado; inativo/ativo; não assertivo/assertivo;
realizar qualquer tipo de previsão probabilística e não aventureiro/aventureiro;
dos resultados. Para isso, o autor desenvolveu
um tipo de jogo no qual os indivíduos poderiam ii. Agradabilidade: frio/caloroso; maldoso/
optar por um investimento arriscado, porém com bondoso; negligente /cooperativo; egoísta/
probabilidades certas, e outro investimento com altruísta; desagradável/agradável; apreensivo/
alto grau de incerteza. confiante; e mesquinho/generoso;
Nesse jogo, Ellsberg (1961) notou que as iii. Consciência: desorganizado/organizado;
respostas concentravam-se no sentido da escolha negligente /consciente; irresponsável/
do evento certo a despeito do incerto, a qualquer responsável; enrolado/prático; descuidado/
combinação de incentivos. Heath e Tversky (1991) cuidadoso; preguiçoso/trabalhador; e
acreditam que esse fenômeno é explicado pela extravagante/modesto;
preferência dos indivíduos em participarem

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iv. Estabilidade emocional: irritado/calmo; por cento do valor investido caso escolhesse a
tenso/relaxado; nervoso/tranquilo; invejoso/ primeira bolsa. Neste teste, o resultado foi
não invejoso; instável/estável; descontente/ positivo para ambos os questionários. A grande
contente; e emocional/racional; maioria dos investidores não só preferiu a primeira
bolsa, apresentando aversão à ambiguidade,
v. Intelecto: ignorante/inteligente; não
como também estava disposta a pagar por ela.
analítico/analítico; irreflexivo/reflexivo;
No ultimo trabalho, Zanetta (2010) replica
comedido/curioso; não imaginativo/
as duas pesquisas feitas por Goldberg (1992)
imaginativo; não criativo/criativo; e comum/
e Charnes e Gneezy (2009), realizando o
sofisticado. mesmo tipo de análise. Conforme o esperado,
O segundo trabalho, de Charnes e Gneezy grande parte dos indivíduos mostrou-se avessa
(2009), estuda a existência dos fenômenos de à ambiguidade; porém, quanto à ilusão de
aversão à ambiguidade, ilusão de controle e controle, a maioria optou por não lançar o dado.
aversão míope à perda; porém, por não ser de Dessa maneira, não se pode inferir a existência
interesse deste trabalho, serão apresentados do fenômeno de ilusão de controle entre os
apenas os dois primeiros. Primeiramente, os participantes.
autores tentam comprovar a existência da ilusão Zanetta (2010) também verificou a correlação
de controle. Para isso, são aplicados quatro entre a existência de ilusão de controle e a
questionários (cada pessoa respondendo a um aversão à ambiguidade, além de tentar identificar
tipo) com perguntas acerca de um investimento. os traços de personalidade correlacionados a cada
O investimento refere-se a um jogo de um desses fenômenos. O resultado da primeira
dados em que o respondente deve escolher três correlação foi positivo, mostrando que os eventos
números, tendo cinquenta por cento de chance de ilusão de controle e aversão à ambiguidade
de êxito. A diferença entre os questionários estão correlacionados.
consistia na opção de quem deveria lançar o Como resultado do teste de correlação e dos
dado. Um seria o próprio respondente, outro seria fenômenos, Zanetta (2010) verificou apenas que a
o aplicador, no terceiro seria dada a escolha ao estabilidade emocional está correlacionada com a
respondente e no último o respondente deveria ilusão de controle e que a aversão à ambiguidade
pagar para poder lançar os dados. está correlacionada com a extroversão. Os demais
Como resultado, Charnes e Gneezy (2009) traços de personalidade não apresentaram
perceberam um elevado nível de ilusão de correlação com tais fenômenos.
controle entre os respondentes. Apesar disso,
eles perceberam que o grau do fenômeno não
era elevado o suficiente para que os respondentes 3 Material e métodos
aceitassem pagar – em moeda fictícia – para
poder lançar os dados, uma vez que poucos A pesquisa realizada apresenta caráter
respondentes escolheram esta opção, preferindo conclusivo descritivo transversal simples. A
que o aplicador lançasse os dados. população escolhida foi definida pelos alunos
Para testar a aversão à ambiguidade, os do curso de administração da FACE – UnB, e a
autores reproduziram o clássico jogo realizado por amostra foi definida de forma não probabilística
Goldberg (1992). Neste jogo, existem duas bolsas e por conveniência. Tal amostra foi composta
opacas com cem bolas vermelhas e pretas em por 153 alunos, sem discriminação de sexo,
seu interior. Na primeira bolsa, existem cinquenta faixa etária ou renda, estando todos em situação
bolas vermelhas e 50 bolas pretas e, na segunda, regular junto à universidade.
a proporção entre as bolas pretas e vermelhas era Buscou-se, com este trabalho, replicar
desconhecida, representando a escolha ambígua. um estudo realizado por Zanetta (2010),
O respondente era perguntado sobre qual baseado nos artigos de Goldberg (1992) e
bolsa e cor de bola ele gostaria de investir. Nesse Charness e Gneezy (2010). O instrumento de
caso, foram aplicados dois tipos de questionário. pesquisa já foi amplamente validado, sofrendo
No primeiro, era dada livre escolha ao apenas pequenas alterações. O instrumento
respondente em relação à bolsa em que investiria. utilizado especificamente neste trabalho foi
No entanto, no segundo, ele deveria pagar cinco um condensado da pesquisa dos 5 grandes

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fatores apresentado por Goldberg (1994), e os foram analisados e serão apresentados no tópico
questionários de ilusão de controle e aversão a seguir.
à ambiguidade apresentados por Charness e
Gneezy (2010).
O questionário dos 5 grandes fatores 4 Resultados e discussão
foi alvo de livre tradução e os títulos das
variáveis representativas de cada fator foram Ao todo, o questionário gerou quarenta
removidos com o objetivo de não gerar vieses e uma variáveis de análise que compõem os
aos respondentes. Os questionários de ilusão fatores explicados anteriormente. O primeiro
de controle e aversão à ambiguidade foram fator representativo é o de extroversão, o
resumidos em dois jogos, uma vez que o original qual apresenta uma variância total explicada
possuía 4 versões diferentes com pequenas de 46,27%. O fator agradabilidade apresenta
variações entre si. O objetivo dessa alteração foi 51,62% como valor da variância total explicada,
apresentar ao respondente apenas as questões e o fator de consciência, 51,13%. Já os fatores
que envolvem a identificação do efeito ilusão de de estabilidade emocional e inteligência
controle e aversão à ambigüidade, uma vez que apresentam os valores de 42,85% e 45,88%,
o objetivo deste trabalho não é revalidar a sua respectivamente. E, por fim, o fator de ilusão de
existência, e sim identificar os indivíduos que os controle apresenta a variância total explicada de
apresentam. 54,97%, e o de aversão à ambiguidade, 59,84%.
Além disso, foram feitas 3 alterações na Conforme esperado, em congruência com
estrutura do questionário. Foi incluída uma opção os trabalhos de Goldberg (1992) e Charness e
de indiferente à pergunta de quem deveria lançar Gneezy (2010), os fatores são consideravelmente
os dados no primeiro jogo, e foi acrescentada representativos de suas variáveis, uma vez que
a pergunta de quanto o candidato pagaria as variâncias totais esperadas possuem valores
para poder lançar os dados no primeiro jogo expressivos. Dessa forma, tais fatores foram
e para investir na bolsa A no segundo jogo. O utilizados como representantes do grupo de
questionário encontra-se no anexo A. características que os compõem para o cálculo
A coleta de dados foi aplicada pelo autor deste das correlações.
trabalho em diversas salas de aula do curso de Os valores gerados pela Correlação de Pearson
Administração em maio de 2012. Para garantir o apontam um único traço de personalidade
entendimento pleno dos respondentes, o objetivo correlacionado ao fenômeno de ilusão de
da pesquisa foi explicado detalhadamente, bem controle de forma estatisticamente significativa.
como os itens constantes no questionário. Os Tal traço é representado pelo fator inteligência
dados foram migrados para uma planilha de Excel e apresentou um coeficiente de correlação de
com foco em sua organização. Posteriormente, 0,340 (p = 0,000). Esse resultado vai de encontro
foram transferidos para o software SPSS, no qual com a pesquisa realizada por Zanetta (2010), uma
foram tratados. vez que este autor não encontrou correlação
Primeiramente, agruparam-se os dados significativa entre esses dois fatores. Tal correlação
em 7 fatores, por meio de análise fatorial. foi confirmada pelos métodos de cálculo das
Mais especificamente, utilizou-se a análise de correlações de Kendall e Spearman.
componentes principais para se determinar Os demais traços de personalidade não
um escore único para cada fator avaliado. Os apresentaram correlação estatisticamente
grupos formados representam os fatores em significativa com o fenômeno de ilusão de
análise, quais sejam: extroversão, agradabilidade, controle. Dessa forma, não é possível realizar
consciência, estabilidade emocional, inteligência, inferências sobre a forma como indivíduos que
ilusão de controle e aversão à ambiguidade. possuem tais traços de personalidade agem
Com o escore dos fatores de análises gerados, em relação a tal fenômeno. A inexistência de
utilizaram-se três tipos de correlação para correlação mencionada foi confirmada pelos
identificar se os fatores eram correlacionados métodos de Kendall e Spearman.
ou não: Correlação de Pearson; Correlação Em todos os métodos de cálculo da correlação
de Spearman; e Correlação de Kendall. Após – Spearman, Kendall e Pearson – não foi
verificação das correlações anteriores, os dados encontrada nenhuma correlação estatisticamente

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significativa para os fatores representantes dos apresentam os fenômenos de ilusão de controle


traços de personalidade em relação ao fenômeno e aversão à ambiguidade.
de aversão à ambiguidade. Tal fato vai ao Porém, pode-se perceber uma relação direta
encontro aos resultados apresentados por Zanetta entre o traço inteligência e o fator ilusão de
(2010), com exceção do fator extroversão, único controle. Assim, é possível afirmar que os
fator encontrado pelo autor que é correlacionado indivíduos que apresentam ilusão de controle
de forma estatisticamente significativa. tendem a se considerar mais inteligentes que os
Todos os métodos utilizados para verificar a indivíduos que não apresentam ilusão de controle.
correlação entre os fatores de ilusão de controle Considerando a teoria clássica, este fato pode
e aversão à ambiguidade retornaram valores de ser considerado um paradoxo, uma vez que os
correlação estatisticamente significativos (p = indivíduos inteligentes – racionais – deveriam
0,000), sendo que o método de Pearson gerou o perceber que não existe ganho real quando
coeficiente de correlação de 0,301. Dessa forma, se opta por lançar dados em vez de permitir
pode-se inferir que os dois fenômenos possuem que o aplicador os lance, ainda mais quando
forte associação. Tal resultado corrobora com o considerada a opção em que o respondente deve
resultado apresentado por Zanetta (2010). pagar para lançá-los.
Apesar de não ser foco deste trabalho, Em relação à aversão à ambiguidade e
podem-se observar correlações entre os traços de aos traços de personalidade, não se pode
personalidade. Primeiramente, foi observado que inferir nenhum tipo de associação, uma vez
o traço consciência possui correlação significativa que os resultados mostraram uma correlação
com todos os demais traços, apresentando estatisticamente insignificante. Assim, não se
coeficiente de correlação de 0,308 (p = 0,000) pode identificar um individuo que apresenta
para o fator extroversão, 0,501 (p = 0,000) para tal fenômeno por meio de seus traços de
o fator agradabilidade, 0,433 (p = 0,000) para o personalidade.
fator estabilidade emocional e 0,257 (p = 0,001) Outro ponto identificado pela pesquisa foi
para o fator inteligência. O fator agradabilidade a correlação entre a ocorrência de ilusão de
não apresentou correlação estatisticamente controle e de aversão à ambiguidade. Conforme
significativa apenas para o fator inteligência (p apresentado nos resultados, os indivíduos
= 0,013), gerando o coeficiente de 0,429 (p = que manifestam ilusão de controle tendem a
0,000) para o fator extroversão, 0,501 (p = 0.000) manifestar, também, aversão à ambiguidade. Isso
para o fator consciência e 0,433 (p = 0,000) para mostra que, conforme visto no tópico de finanças
o fator estabilidade emocional. pessoais, o ser não é tão racional quanto à teoria
O fator extroversão, além das correlações já clássica prega, podendo até apresentar mais de
mencionadas, possui associação estatisticamente um desvio irracional ao mesmo tempo.
significativa com o traço inteligência, gerando De forma complementar, foi identificado que
o coeficiente de correlação 0,279 (p = 0,000). os indivíduos que apresentam um alto nível de
Não foram encontrados resultados além dos já consciência também tendem a apresentar um
apresentados para os fatores de estabilidade alto nível dos demais traços de personalidade.
emocional e inteligência. Já o fator agradabilidade não se mostrou
correlacionado apenas com o fator inteligência,
caso em que não podemos inferir nenhum tipo
5 Conclusões de associação entre os dois, sendo que para
os demais traços pode-se inferir que, quanto
Este trabalho buscou identificar os traços mais um indivíduo se julga agradável, mais
de personalidade manifestados por indivíduos ele se julga extrovertido, consciente e estável
que apresentam os fenômenos de ilusão de emocionalmente.
controle e aversão à ambiguidade, além de Além do que já foi apresentado acerca do
verificar a existência de correlação entre tais traço extroversão, pode-se concluir que ele
fenômenos. Conforme se pôde observar no apresenta correlação com o traço inteligência.
tópico anterior, não foi possível identificar, Assim, pode-se inferir que os indivíduos que se
de maneira abrangente, quais são os traços consideram extrovertidos, também tendem a se
de personalidade presentes em pessoas que considerar inteligentes. Além do apresentado

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anteriormente, não se pode gerar inferências HVIDE, H. K. Pragmatic beliefs and over
sobre os traços estabilidade emocional e confidence. Journal of Economic Behavior &
inteligência, uma vez que estes não apresentam Organization, v. 48, p. 15-28, 2002.
correlação com nenhum outro traço.
Esta pesquisa significa mais um passo para o KAHNEMAN, D.; TVERSKY, A. Prospect theory: an
avanço da teoria do comportamento humano analysis of decision under risk. Econométrica, v.
e, mais especificamente, do comportamento 47, n. 2, p. 263-292, 1979.
do investidor. Como principal resultado, ela
KEYNES, J. M. A teoria geral do Emprego. In:
apresenta a dificuldade em se mapear o perfil
SZMRECSANYI, T. J. M. K (1984). Economia. São
do investidor – quanto aos fenômenos de ilusão
Paulo: Ática, p. 167-179. 1937.
de controle e de aversão à ambiguidade – por
meio de seus traços de personalidade, uma vez LANGER, E. The illusion of control. Journal of
que apresenta pouca correlação com estes. Personality and Social Psychology, v. 32, p.
311-328, 1975.

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Revista EIXO, Brasília – DF, v. 5, n. 1, janeiro-junho de 2016 15


A EVOLUÇÃO DO PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO:
ILUSÃO DE CONTROLE E AVERSÃO À AMBIGUIDADE

ZANETTA, A.; TABAK, B. M. ; MOREIRA, T. B.


S. Influence of personality on the occurrence of
illusion of control and ambiguity aversion. In:
IABE-2011 Las Vegas Conference, 2011.

_________________________
Recebido em: 28/04/2016
Aceito em: 17/10/2016

ANEXO A – Questionário
Levantamento de dados
Caro respondente, este questionário é parte de uma pesquisa cuja finalidade é
descobrir os traços da personalidade dos indivíduos que apresentam aversão ao controle
e à ambiguidade. O pesquisador está à disposição para auxiliá-lo(a) no caso de dúvidas.
Contamos com a sua colaboração e desde já agradecemos.

1.1 Curso: _____________________________ Semestre: _____________


1.2 Renda familiar (em salários mínimos):

( ) a. Menor que 2 ( ) 2. De 2 a 5 ( ) 3. Maior que 5 a 10 ( ) 4. Maior que 10

1.3 Idade: _____________________________

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RAPHAEL LEON PERES THOMAZINE BROCCHI
JAQUELINE THOMAZINE BROCCHI

1 Traços de Personalidade
Marque de 1 a 9 – sendo 1 para completa concordância com a característica apresentada
na primeira coluna e 9 para completa concordância com a característica apresentada na
última coluna – o nível em que você se identifica com as características abaixo:

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A EVOLUÇÃO DO PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO:
ILUSÃO DE CONTROLE E AVERSÃO À AMBIGUIDADE

2 Personalidade do 2.2. Instrução:


investidor Suponha que você recebeu 100 pontos
para alocar em um investimento de risco,
2.1 Instrução: podendo investir de 0 a 100 pontos. Caso o
investimento seja um sucesso, você receberá
Suponha que você recebeu 100 pontos 2,5 vezes o montante investido e, no caso
para alocar em um investimento de risco, contrário, você perderá o valor investido. O
podendo investir de 0 a 100 pontos. investimento será determinado da seguinte
Existem 50% de chance de o investimento forma, considerando que existem duas
ser um sucesso e 50% de chance de ser bolsas opacas com 100 bolas em cada uma:
um fracasso. Caso o investimento seja um • Na bolsa A, existem 50 bolas vermelhas
sucesso, você receberá 2,5 vezes o montante e 50 pretas.
investido e, no caso contrário, você perderá • Na bolsa B, existem 100 bolas entre
o valor investido. vermelhas e pretas, porém a proporção de
O investimento será delimitado da cada uma é desconhecida.
seguinte forma, você irá determinar 3 Atenção: Você deverá escolher somente
números de 1 a 6, em seguida será jogado UMA bolsa e UMA cor para realizar o seu
um dado de 6 faces e você ganhará se um investimento.
dos seus números for sorteado.
Você poderá escolher quem irá jogar o Responda:
dado, você ou o aplicador da pesquisa. 2.2.1.Qual o valor que você gostaria de
investir:............................
Responda: 2.2.2.Qual é a cor da bola escolhida:
( ) Vermelha ( ) Preta
2.1.1.Qual o valor você gostaria de
investir: ................................ 2.2.3.Qual é a bolsa escolhida:
( )A ( )B
2.1.2.Quais são os seus 3 números
escolhidos: ............................ 2.2.4.Agora você deve pagar 5 pontos
para que você possa escolher a bolsa A. Você
2.1.3.Quem você gostaria que lançasse pagaria?
os dados: ( ) Sim ( ) Não
( ) Você ( ) Aplicador ( ) Indiferente
2.2.5.Até quanto você pagaria pela bolsa
2.1.4.Agora você deve pagar 5 pontos A? ___________.
para que você mesmo possa lançar os dados.
Você pagaria?
( ) Sim ( ) Não

2.1.5.Até quanto você pagaria para lançar


os dados? ___________

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