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IGOR PIERIN

A INSTABILIDADE DE PERFIS FORMADOS A FRIO EM


SITUAÇÃO DE INCÊNDIO

São Paulo
2011
IGOR PIERIN

A INSTABILIDADE DE PERFIS FORMADOS A FRIO EM


SITUAÇÃO DE INCÊNDIO

Tese apresentada à Escola Politécnica da


Universidade de São Paulo para obtenção do
título de Doutor em engenharia

Área de Concentração:
Engenharia de Estruturas

Orientador: Prof. Dr. Valdir Pignatta e Silva.

São Paulo
2011
Agradecimentos

Expresso a minha gratidão:

Ao professor Valdir Pignatta e Silva pela amizade, paciência, dedicação e o


entusiasmo na orientação nesse trabalho. Agradeço a confiança depositada em mim,
principalmente nas horas de desespero. Além da sua compreensão na etapa inicial da
pesquisa em que não pude ficar em São Paulo.
Ao professor Luís Carlos Prola que sempre me incentivou a pesquisar e teve a
paciência de explicar, via MSN, o método das faixas finitas splines. Agradeço pelos
conhecimentos transmitidos sobre instabilidade de estruturas.
À professora Henriette Lebre La Rovere que auxiliou na elaboração do programa
de análise térmica de estruturas. Agradeço pelos conhecimentos transmitidos sobre o
método dos elementos finitos e por permitir que eu voltasse à Universidade Federal de
Santa Catarina após a minha cirurgia.
Ao professor Eduardo Campello pela ajuda no ANSYS.
Aos amigos do LMC-JAC (Laboratório de Mecânica Computacional) que
proporcionaram momentos de descontração. Em especial ao Leonardo Lago, Fernando
Gonçalves, Paulo Nigro, Jorge Costa, Marcelo Teixeira, Eduardo Simões, Alexandre
Beletti, Ricardo Oliveira e Luís Bitencourt.
Aos meus pais, Paulo e Ester, e aos meus irmãos Denise, Júlio e Letícia que
sempre me apoiaram, incentivaram e ajudaram a conquistar as barreiras que apareceram
durante o caminho até a conclusão deste Doutorado.
À CAPES pela bolsa de estudos concedida.
RESUMO

A utilização de perfis formados a frio na construção civil tem sido motivada pela
elevada eficiência estrutural, expressa pela relação entre capacidade resistente e peso, e
pela facilidade de fabricação, caracterizada pela possibilidade de produção de elementos
com diferentes seções transversais.
Devido à alta esbeltez dos elementos que os constituem, o projeto desses perfis,
à temperatura ambiente ou em situação de incêndio, é governado pelos fenômenos de
instabilidade local, distorcional e global.
O objetivo dessa Tese é o desenvolvimento de ferramentas computacionais que
possibilitem a avaliação do comportamento estrutural de pilares de aço formados a frio
em situação de incêndio. Para esse fim são desenvolvidos dois programas de
computador.
O primeiro programa, denominado de ATERM, tem o objetivo de determinar o
campo de temperaturas em regime transiente, de estruturas bidimensionais formadas por
qualquer material, submetidas a qualquer curva temperatura-tempo de incêndio, com
base no método dos elementos finitos. A esse programa acopla-se o programa ATERM-
DIM para o dimensionamento em regime plástico de vigas de aço continuamente
travadas, em situação de incêndio. Resultados obtidos do ATERM são comparados aos
obtidos do programa sueco de computador Super Tempcalc.
O segundo programa, denominado de INSTAB, realiza análises lineares e não
lineares de estabilidade de perfis formados a frio, considerando as instabilidades local,
global e distorcional, empregando o método das faixas finitas splines, para material
elastofrágil, considerando a redução das propriedades mecânicas devido à temperatura.
Valores de esforços resistentes obtidos pelo programa INSTAB são comparados aos
determinados por meio do programa comercial de elementos finitos ANSYS, o qual
considera o comportamento elastoplástico do material, e a resultados obtidos por meio
de um método simplificado de dimensionamento de perfis formados a frio em situação
de incêndio, proposto pelo autor para fins de normatização brasileira. Essa comparação
permite avaliar o efeito da elastoplasticidade nos perfis axialmente comprimidos.
Pretende-se, com base neste estudo, fornecer subsídios para o desenvolvimento
de procedimentos para a verificação estrutural de perfis formados a frio em situação de
incêndio.
ABSTRACT

The use of cold-formed steel profile in construction has increased because of its
high efficiency, expressed as the ratio between load capacity and weight, and ease of
manufacturing, characterized by the possibility of production of elements with different
cross sections.
Due the high slenderness ratio of the sections elements, the design of these
profiles, either at room temperature or in case of fire, is determined by local, distortional
and global buckling phenomena.
The aim of this Thesis is to develop computational tools that allow the
assessment of the structural behavior of cold-formed steel columns in fire. For this
purpose, two softwares are developed. The first one, called ATERM, allows
determining the temperature field under transient analysis of two-dimensional structures
formed by any material, subjected to any time-temperature fire curve, and is based on
the finite element method. This software interacts with another program, ATERM-DIM,
used for plastic design of lateral restrained beams steel in fire. Results of ATERM are
compared to those obtained from the Swedish software Super Tempcalc.
The second program, named INSTAB, can perform linear and nonlinear stability
studies of cold formed profiles, taking into account the local, distortional and global
buckling, by means of the splines finite strip method for elastofragile material,
considering the reduction of mechanical properties caused by the increase in
temperature. Resistant values obtained by the INSTAB software are compared with
results from the commercial finite element program ANSYS, which considers the
plastic behavior of the material and also with results obtained by means of a simplified
method for design of cold-formed profiles in fire, proposed by the author for the
Brazilian fire standard. This comparison allows analyzing the effect of elastoplasticity
in columns of cold-formed steel.
Another objective of this study is to provide background for the development of
procedures for the structural analysis of cold formed profiles in fire.
SUMÁRIO

1.  Introdução ..................................................................................................... 1 


1.1.  Objetivo ................................................................................................ 2 
1.2.  Justificativa ........................................................................................... 3 
1.3.  Metodologia .......................................................................................... 4 
1.4.  Organização do Trabalho...................................................................... 5 
2.  Ações térmicas nas estruturas ....................................................................... 7 
2.1.  Transferência de Calor.......................................................................... 7 
2.1.1.  Convecção ........................................................................................ 9 
2.1.2.  Radiação ......................................................................................... 10 
2.1.3.  Condução ....................................................................................... 13 
2.2.  Incêndio .............................................................................................. 17 
2.3.  Representação do Incêndio ................................................................. 20 
2.3.1.  Incêndio-Padrão ............................................................................. 22 
2.3.2.  Incêndio Natural ............................................................................. 24 
2.3.3.  Incêndios Localizados .................................................................... 30 
2.3.4.  Modelos de Zona ............................................................................ 30 
2.3.5.  Fluidodinâmica Computacional ..................................................... 31 
2.4.  Carga de Incêndio Específica ............................................................. 31 
2.5.  Ensaios de Corpos de Prova a Temperaturas Elevadas ...................... 32 
2.6.  Propriedades Térmicas do Aço ........................................................... 33 
2.6.1.  Massa Específica ............................................................................ 33 
2.6.2.  Calor Específico ............................................................................. 33 
2.6.3.  Condutividade Térmica .................................................................. 34 
2.6.4.  Alongamento .................................................................................. 35 
2.6.5.  Convecção ...................................................................................... 36 
2.7.  Modelagem Numérica ........................................................................ 37 
2.8.  Determinação da Temperatura Atuante no Elemento Estrutural ........ 39 
2.9.  Dimensionamento de Estruturas em Situação de Incêndio ................ 40 
3.  Método dos Elementos Finitos aplicado à análise térmica ......................... 43 
3.1.  Elemento Retangular de Quatro Nós .................................................. 47 
3.2.  Elemento Especial de Barra de Dois Nós ........................................... 49 
3.3.  Integração Temporal ........................................................................... 51 
3.4.  Não Linearidade do Material .............................................................. 54 
3.5.  Implementação Computacional .......................................................... 55 
3.6.  Validação Numérica ........................................................................... 58 
3.6.1.  Viga de Concreto ........................................................................... 58 
3.6.2.  Pilar de aço em contato com alvenaria........................................... 61 
3.6.3.  Pilar Misto de Aço e Concreto ....................................................... 64 
3.7.  Dimensionamento de Estruturas em Incêndio .................................... 67 
4.  Instabilidade das Estruturas ........................................................................ 71 
4.1.  Instabilidade de Chapas ...................................................................... 77 
4.2.  Modos de Instabilidade....................................................................... 84 
4.2.1.  Modos Globais ............................................................................... 84 
4.2.2.  Modos Locais ................................................................................. 92 
4.3.  Métodos Numéricos............................................................................ 96 
4.4.  Tensões Residuais e Imperfeições Geométricas Iniciais .................. 104 
4.5.  Capacidade Resistente ...................................................................... 108 
4.5.1.  Problema de Instabilidade Inicial ................................................. 117 
5.  Comportamento de perfis formados a frio em incêndio ........................... 120 
5.1.  Perfis de Aço Formado a Frio em Incêndio...................................... 122 
5.2.  Propriedades Mecânicas dos Perfis Formados a Frio em Temperaturas
Elevadas .......................................................................................................... 124 
5.3.  Dimensionamento de Perfis Formados a Frio em Incêndio ............. 134 
6.  Método das Faixas Finitas Aplicado à Análise de Instabilidade .............. 138 
6.1.  Considerações iniciais ...................................................................... 139 
6.2.  Funções “B3Spline” ........................................................................ 140 
6.3.  Formulação das Faixas Finitas ......................................................... 142 
6.4.  Transformação de Coordenadas ....................................................... 153 
6.5.  Cálculo dos Deslocamentos e das Tensões....................................... 155 
6.6.  Não Linearidade Geométrica ............................................................ 156 
6.6.1.  Deformações Iniciais.................................................................... 160 
6.6.2.  Deformações Não Lineares .......................................................... 160 
6.7.  Implementação Computacional ........................................................ 168 
6.7.1.  Solução do Problema Não Linear ................................................ 171 
6.8.  Validação Computacional................................................................. 173 
6.8.1.  Análises Lineares de Estabilidade à Temperatura Ambiente....... 173 
6.8.2.  Análise Não Linear Geométrica ................................................... 179 
6.9.  Contribuição à ABNT NBR 14762:2010 ......................................... 198 
7.  Esforços resistentes de perfis formados a frio em incêndio ..................... 206 
7.1.  Efeito da Plasticidade ....................................................................... 206 
7.1.1.  Modo Local de Chapa .................................................................. 208 
7.1.2.  Modo Distorcional ....................................................................... 215 
7.2.  Comparação com a Proposta da NBR 14323 ................................... 220 
7.3.  Gradiente Térmico ............................................................................ 221 
8.  Conclusões e Recomendações .................................................................. 226 
8.1.  Conclusões ........................................................................................ 226 
8.2.  Sugestões para Trabalhos Futuros .................................................... 227 
Referências Bibliográficas ................................................................................ 229 
1. INTRODUÇÃO

A segurança contra incêndio tem sido alvo de inúmeras pesquisas com o


objetivo de estabelecer regras e procedimentos para garantir a segurança das edificações
em situação de incêndio, visando minimizar o risco à vida e à perda patrimonial.
A inalação de fumaça, no início do incêndio, pelos ocupantes da edificação é a
principal causa de morte. O desabamento de elementos construtivos sobre usuários das
edificações, sobre aqueles que participam das operações de combate ou que rompem as
barreiras de compartimentação do incêndio também deve ser evitado. A perda
patrimonial ocorre pela destruição total ou parcial da edificação, além da perda de
equipamentos e documentos.
A combinação de sistemas de proteção ativos (detecção de calor e fumaça,
chuveiros automáticos, brigadas de incêndio, etc.) e passivos (capacidade resistente dos
elementos estruturais, saídas de emergências, compartimentação, entre outros) é o
principal objetivo da segurança contra incêndios. Esses sistemas devem ser capazes de
(i) permitir a saída dos ocupantes da edificação, (ii) minimizar os danos à própria
edificação, além de às edificações vizinhas e à infraestrutura pública e (iii) fornecer
segurança à equipe de combate ao incêndio.
Devido ao processo de urbanização dos grandes centros, o risco desse tipo de
sinistro tem aumentado. No Brasil, incêndios de grande proporção, tais como os
Edifícios Andraus (1972), Joelma (1974) e Grande Avenida (1981), em São Paulo, o
Edifício Andorinhas (1986), no Rio de Janeiro, e as Lojas Americanas (1973) e Renner
(1976), em Porto Alegre, entre outros, têm contribuído, apesar dos transtornos
econômicos e sociais, para a modificação nas legislações, nas corporações de bombeiros
e no aumento do número de pesquisas com a finalidade de fornecer especificações que
visam a segurança das edificações em situação de incêndio.
A ação térmica nas estruturas de aço, concreto ou madeira provoca uma redução
nas propriedades mecânicas dos materiais, tornando necessária à verificação da
segurança estrutural em situação de incêndio.
Atualmente, a norma brasileira ABNT NBR 14323:1999, que se refere ao
dimensionamento de estruturas de aço e mistas de aço e concreto em situação de
incêndio, se encontra em processo de revisão. Porém, a maioria das pesquisas e normas
internacionais que subsidiam a elaboração dessa revisão está relacionada aos perfis
laminados e soldados.

1
Devido ao elevado grau de eficiência estrutural, os perfis formados a frio são,
geralmente, constituídos de seções abertas e de chapas de aço muito finas, sendo que os
fenômenos de instabilidade local e global tornam-se importantes no projeto desses
perfis a temperatura ambiente ou a temperaturas elevadas.
O comportamento dos perfis formados a frio apresenta um elevado grau de não
linearidade geométrica e do material, sendo que a sua rigorosa determinação exige a
utilização de métodos numéricos (tais como o Método dos Elementos Finitos e o
Método das Faixas Finitas) que requerem um grande esforço computacional.
Nesse sentido, pretende-se neste trabalho desenvolver uma ferramenta
computacional para fornecer uma contribuição para o conhecimento do comportamento
dos perfis formados a frio em situação de incêndio.
Nos itens subsequentes são apresentados os objetivos, a justificativa e a
metodologia a ser seguida nessa Tese, além da organização dos capítulos deste texto.

1.1. Objetivo
O objetivo desta Tese é a elaboração de ferramentas computacionais visando ao
estudo do comportamento termestrutural de perfis formados a frio de aço, axialmente
comprimidos, em situação de incêndio.
Com esse propósito, estuda-se, primeiramente, a ação térmica nas estruturas, a
distribuição de temperaturas ao longo da seção transversal dos perfis e a influência da
variação da temperatura nas propriedades mecânicas do material. Em seguida,
consideram-se os fenômenos das instabilidades locais, distorcional e global e os efeitos
das não linearidades geométrica e do material.
Para atingir o objetivo serão elaborados os seguintes programas de computador:
(a) Análise térmica bidimensional de seções transversais por meio do
método dos elementos finitos;
(b) Dimensionamento no regime plástico de vigas de aço continuamente
travadas em situação de incêndio, a partir do campo de temperaturas e
com base em procedimentos normatizados;
(c) Análise linear de estabilidade de perfis constituídos de placas de parede
fina, o qual permite a estimativa da força crítica e o respectivo modo de
instabilidade, por meio do Método das Faixas Finitas Splines;
(d) Análise não linear geométrica incluindo imperfeição geométrica inicial e
material de comportamento linear, com limitação de deformação linear
específica (material elastofrágil), por meio do Método das Faixas Finitas
Splines.

2
Avaliar o efeito da elastoplasticidade em incêndio e comparações entre métodos
avançados e o método simplificado do Eurocode também fazem parte do objetivo desta
Tese.
O item b do objetivo, apesar de não ser diretamente ligado à Tese proposta, será
uma aplicação direta do item a, com a finalidade de substituir o programa comercial
Super Tempcalc, que tem sido empregado pelo grupo de pesquisa sobre estruturas em
situação de incêndio da EPUSP.

1.2. Justificativa
A situação em que os perfis laminados ou soldados com seções esbeltas não
atingem a plastificação total da seção, devido à precoce instabilidade local e global,
impede que os tradicionais redutores da resistência ao escoamento fy (ky,)
recomendados pelo texto de revisão da ABNT NBR 14323 (2011) ou pelo Eurocode 3
parte 1.2 (2005) sejam utilizados. Algo similar ocorre nos perfis formados a frio.
Diversos pesquisadores (Makelainen e Miller (1983), Gleich (1995), Kaitila
(2002), Lee (2004), Zhao et al (2005) e Mecozzi e Zhao (2005)) ao ensaiarem perfis
formados a frio em situação de incêndio correlacionam a redução de esforço resistente
desses perfis com uma redução de resistência do aço associada a uma determinada
deformação linear específica menor do que a correspondente ao início do escoamento.
Atualmente, os ensaios utilizados para caracterizar as propriedades mecânicas
em incêndio dos perfis formados a frio são caros e se restringem apenas a alguns
pesquisadores. Desse modo, ainda não é possível elaborar um método geral e
econômico para o projeto de perfis formados a frio em situação de incêndio.
Para contornar essa lacuna de conhecimento, o Eurocode 3 parte 1.2 (2005)
permite, de forma simplificada, que os perfis formados a frio sejam dimensionados em
situação de incêndio utilizando o procedimento clássico do método das larguras efetivas
com redutor da resistência ao escoamento igual aos recomendados para os perfis
laminados ou soldados com seção classe 4 (denominação exclusiva do Eurocode 3 parte
1.2 (2005)), isto é, relativo a 0,2% da deformação específica plástica residual. Porém, o
desempenho estrutural dos perfis formados a frio em situação de incêndio é inferior aos
perfis laminados ou soldados suscetíveis aos fenômenos de instabilidade local (Pierin e
Silva, 2010).
Os perfis formados a frio, geralmente, são constituídos de chapas muito finas. O
estado limite último à temperatura ambiente, normalmente, é o da instabilidade global,

3
local ou distorcional, ou seja, raramente, atinge-se a plastificação total da seção. Supõe-
se que em situação de incêndio isso também ocorra.

1.3. Metodologia
Os programas elaborados na Tese serão todos desenvolvidos na linguagem
Fortran 90.
A análise térmica bidimensional das seções transversais foi efetuada por meio do
Método dos Elementos Finitos, onde são levados em consideração os fenômenos de
condução, convecção e radiação. Os resultados do programa de análise térmica são
validados com o programa Super Tempcalc desenvolvidos em Lund, Suécia,
(Anderberg, 1997), o qual é reconhecido internacionalmente pela comunidade científica
na área de análise térmica de estruturas em situação de incêndio. O programa
desenvolvido nesta Tese atende a seções transversais de elementos estruturais
compostos por quaisquer materiais.
O campo de temperaturas obtido na seção transversal é fornecido como dado de
entrada na análise não linear de estabilidade. Para a análise mecânica, será admitido o
mesmo campo de temperaturas em todas as seções transversais ao longo da altura do
pilar.
Devido ao fato de que os perfis formados a frio são barras prismáticas, ou seja,
as seções não são variáveis ao longo do perfil, as análises de estabilidade (lineares e não
lineares) serão efetuadas por meio do Método das Faixas Finitas Splines (MFFS), o qual
será detalhado no capítulo 6 dessa Tese. O programa computacional desenvolvido nessa
Tese com base no Método das Faixas Finitas Splines será validado com resultados
encontrados na literatura científica e por meio do programa ANSYS.
Embora o Método das Faixas Finitas Splines não seja muito utilizado pela
comunidade científica, quando comparado ao número de trabalhos que fazem uso do
Método dos Elementos Finitos, o MFFS foi utilizado nessa Tese pelos seguintes
motivos. Primeiro, o método é bastante eficaz no estudo dos fenômenos de instabilidade
local e distorcional em estruturas prismáticas, onde se incluem os perfis formados a frio.
Segundo, assim como no método dos elementos finitos, o MFFS exige discretizações
nas direções transversal e longitudinal. Porém, como se verá no capítulo 6, a
discretização longitudinal do perfil não requer tanta experiência do usuário na definição
da mesma, podendo ser automatizada, uma vez que todas as faixas possuem o mesmo
tamanho e são iguais ao comprimento do perfil.

4
Assim, o método requer do usuário apenas um cuidado na definição das larguras
das faixas finitas, uma vez que elas dependem da geometria da seção transversal. Assim,
o número de faixas utilizadas para modelar um perfil é bem menor do que o número de
elementos de casca utilizados em um modelo similar ao se utilizar o método dos
elementos finitos. Consequentemente, o MFFS se mostra mais eficiente
computacionalmente quando comparado ao método dos elementos finitos.
Não foi encontrado na literatura um programa de computador com as
características do desenvolvido nesta Tese, ou seja, que na análise de estabilidade se
considere a redução das propriedades mecânicas devido à elevação de temperatura e
incluindo técnicas de integração numéricas que permitem maior eficiência
computacional. As propriedades mecânicas são determinadas para cada temperatura e
em cada faixa finita, de forma a acoplar a análise estrutural à térmica.
Os resultados serão comparados à análise não linear incluindo efeitos da
plastificação das seções, empregando o programa ANSYS.
Para avaliar a influência da elastoplasticidade na capacidade resistente dos perfis
formados a frio, pretende-se neste trabalho comparar os resultados do programa aqui
desenvolvido, qual seja o de análise não linear geométrica, incluindo imperfeição inicial
e material de comportamento linear com deformação limitada a resultados empregando-
se o programa comercial Ansys, no qual se permitirá a plastificação da seção. Também
serão feitas comparações entre resultados obtidos por meio do método simplificado do
Eurocode 3 parte 1.2 (2005) e por intermédio de métodos numéricos mais avançados.

1.4. Organização do Trabalho


Além deste capítulo, onde se justificou a proposta da Tese e se apresentaram os
objetivos e a metodologia a ser empregada, o trabalho inclui mais sete capítulos que são
brevemente descritos nos parágrafos a seguir.
No capítulo 2 são descritos os fenômenos de transferência de calor para os
elementos estruturais, os principais modelos matemáticos representativos do incêndio e
apresentam-se, também, as propriedades térmicas dos aços submetidos a altas
temperaturas.
No capítulo 3 apresenta-se a aplicação do Método dos Elementos Finitos na
análise térmica não linear de estruturas bidimensionais. Em seguida, discute-se a
implementação computacional e a validação do programa desenvolvido (ATERM).

5
O estado da arte sobre os fenômenos de instabilidade local, distorcional e global
presentes nos perfis de aço formados a frio está apresentado no capítulo 4. Também se
discutem a presença das tensões residuais e as imperfeições geométricas iniciais, dois
aspectos que influenciam na resistência última dos perfis.
No capítulo 5 é apresentada uma revisão bibliográfica sobre o comportamento
dos perfis formados a frio em situação de incêndio. É proposta uma metodologia de
dimensionamento simplificado desses perfis submetidos à temperatura elevada.
O Método das Faixas Finitas Splines é apresentado no capítulo 6, sendo aplicado
a análises lineares e não lineares de estabilidade para materiais de comportamento
elastofrágil (INSTAB). Aborda-se também a implementação computacional do método.
São realizados estudos de convergência dos resultados. Os resultados obtidos são
validados com soluções teóricas e com análises do comportamento pós-crítico elástico
de perfis formados a frio encontrados na literatura científica e por meio do programa
ANSYS.
O comportamento de pilares de aço formados a frio em situação de incêndio é
estudado no capítulo 7. Comparam-se as capacidades resistentes dos perfis submetidos à
temperatura elevada considerando o comportamento elastofrágil, por meio do programa
INSTAB, e elastoplástico, com o auxilio do programa ANSYS.
Finalmente, no capítulo 8 são apresentadas as conclusões obtidas e as sugestões
para trabalhos futuros.

6
2. AÇÕES TÉRMICAS NAS ESTRUTURAS

O projeto de estruturas em situação de incêndio é, em geral, mais complexo


quando comparado ao projeto à temperatura ambiente. Os elementos estruturais
submetidos a temperaturas elevadas apresentam, além da perda de resistência mecânica,
uma série de efeitos que, geralmente, não estão presentes à temperatura ambiente, tais
como a acentuação das não linearidades geométrica e do material e a alteração das
condições de contorno do sistema.
De um modo simplificado, as referências normativas, nacionais e estrangeiras,
tal como a proposta de revisão da NBR 14323 (2011) e o Eurocode 3 parte 1.2 (2005),
de projeto de estruturas em situação de incêndio apresentam dimensões mínimas de
elementos e detalhes construtivos que atendam aos requisitos mínimos para garantir a
segurança das estruturas submetidas às altas temperaturas.
Em diversas situações, as indicações normativas não são aplicáveis sendo
necessária a adoção de modelos mais avançados. Esses modelos são fundamentados no
desempenho dos elementos construtivos ou estruturas em situação de incêndio. Nesse
modelo está envolvida a interação entre (i) o modelo de incêndio (ii) a transferência de
calor, e (iii) a resposta estrutural.
A seguir, discutem-se a transferência de calor, a modelagem do incêndio, as
características dos aços submetidos a altas temperaturas e as propriedades
termomecânicas dos aços.

2.1. Transferência de Calor


Define-se transferência de calor como a propagação de energia térmica de uma
região para outra de um meio sólido, líquido ou gasoso, como resultado da diferença de
temperaturas entre elas. A energia térmica transferida pelo fluxo de calor não pode ser
medida diretamente, mas seu conceito tem significado físico, pois está relacionado com
a temperatura, que é uma quantidade mensurável.
A transferência de calor complementa a primeira e a segunda lei da
termodinâmica ao proporcionar leis adicionais que são utilizadas para estabelecer a
velocidade da transferência de calor. A transferência de calor estuda o mecanismo, a
duração e as condições necessárias para que o sistema atinja o equilíbrio térmico.
Quando há uma troca de calor entre regiões de um mesmo corpo ocorre uma
alteração no grau de agitação das suas moléculas e duas situações podem ocorrer: (i)
variação da temperatura do corpo e/ou (ii) mudança no estado físico do material (sólido,

7
líquido ou gasoso). O calor trocado pelo corpo quando ocorre uma variação de
temperatura denomina-se de calor sensível. Chama-se de calor latente, o calor trocado
pelo corpo quando ocorre a alteração do estado físico do material sem variação de
temperatura. Como em situação de incêndio os materiais estruturais não alteram o seu
estado físico, esta Tese abordará somente o calor sensível.
A transferência de calor ocorre sempre que há diferença de temperaturas entre
dois ou mais corpos ou entre duas regiões de um mesmo corpo, a qual se processa da
região com maior temperatura para a região de menor temperatura, até atingir o
equilíbrio térmico entre eles. Dessa forma, está implícito dizer que a troca de calor é um
fenômeno transiente que cessa quando o equilíbrio térmico é atingido.
Em situação de incêndio, a diferença de temperaturas entre o ambiente em
chamas e os elementos estruturais gera um fluxo de calor que, por convecção, radiação e
condução, transfere-se para a estrutura, aumentando a sua temperatura. À soma dos
fluxos de convecção e radiação denomina-se ação térmica (Silva, 2001).
Esses mecanismos de transferência de calor são fundamentalmente diferentes,
regidos por leis próprias, mas que na realidade, podem ocorrer simultaneamente, o que
torna muito complexa a solução de um problema de transmissão de calor.
A condução e a radiação são mecanismos de transferência de calor que
dependem da diferença de temperaturas, enquanto a convecção depende do transporte
de massa, além da diferença de temperatura.
O fluxo de calor por convecção é gerado pela diferença de densidade entre os
gases do ambiente em chamas. Os gases quentes são menos densos e tendem a ocupar a
parte superior do ambiente, enquanto que os gases frios, de densidade maior, tendem a
se movimentar para a atmosfera inferior do ambiente. Esse movimento gera o contato
entre os gases quentes e as estruturas, ocorrendo a transferência de calor por convecção,
conforme mostrado esquematicamente na Figura 2.1a.
A radiação é o processo pelo qual o calor flui, na forma de ondas
eletromagnéticas, de um corpo à alta temperatura para a superfície de outra estrutura a
uma temperatura mais baixa (ver Figura 2.1b). A transferência de calor por condução é
responsável pelo aquecimento no interior do elemento estrutural, ou seja, a superfície do
elemento aquecida gera um fluxo de calor na direção do interior do elemento estrutural
(ver Figura 2.1c).

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Figura 2.1: Mecanismos de transferência de calor em um incêndio: (a) convecção,
(b) radiação e (c) condução. Adaptado de Seito et al (2008).
Define-se a ação térmica como sendo a ação na estrutura descrita por meio do
fluxo de calor, por convecção e radiação, provocada pela diferença de temperaturas
entre os gases quentes do ambiente em chamas e os componentes estruturais.
Nos próximos itens são explicados, sucintamente, os três mecanismos de
transferência de calor cujo entendimento torna-se necessário para o projeto de estruturas
em situação de incêndio.

2.1.1. Convecção
A convecção é um processo de transferência de energia térmica causado por um
deslocamento de um fluído. A convecção pode ser (i) natural, quando o movimento do
fluido é devido somente à diferença de densidade do fluido oriunda do gradiente
térmico e (ii) forçada, quando o movimento é devido a uma força externa, como por
exemplo, uma bomba, um ventilador ou ventos. Para a engenharia de segurança contra
incêndio, um regime de convecção importante é a convecção natural.
A diferença de densidade dos gases quentes e frios, ocasionada pela expansão
volumétrica devido ao aquecimento, provoca um deslocamento de matéria, comumente
chamada de corrente de ar ou corrente de convecção. A energia térmica decorrente da
convecção é transferida ao mesmo tempo em que a matéria se desloca.
A quantificação da energia térmica decorrente da convecção é bastante
complexa em comparação ao processo de condução térmica, pois depende de vários
fatores, tais como as propriedades térmicas e mecânicas do fluido, natureza do fluxo do
fluido (laminar ou turbulento), forma e orientação da superfície aquecida.
Por meio de observações do fenômeno da convecção, Isaac Newton (1643-1727)
deduziu, em 1701, que o fluxo de calor devido à convecção que atravessa uma área é
proporcional à diferença de temperatura entre o fluido e a superfície aquecida. Essa
relação, conhecida como lei de arrefecimento de Newton, é expressa pela equação (2.1),
Q c   c A  g   a  , (2.1)

9
sendo Q c o fluxo de calor convectivo na superfície,  c o coeficiente de transmissão de

calor convectivo, A a área da superfície aquecida,  g a temperatura do fluido e  a a

temperatura da superfície do sólido.


O coeficiente de transmissão de calor por convecção é uma função complexa do
escoamento do fluido, das propriedades térmicas do fluido e da geometria do sistema,
sendo seu valor numérico de difícil determinação exata. Por simplificação, o Eurocode 1
parte 1.2 (2002) adota valores constantes em função do modelo matemático de incêndio
adotado (que serão descritos no item 2.6).
As partículas do fluido ao entrarem em contato com a superfície passam a ter
velocidade zero na superfície de contato, retardando o movimento das partículas da
camada adjacente devido à viscosidade do fluido. Esse efeito se propaga até uma
distância  da superfície, conhecida como altura da camada-limite, conforme mostra a
Figura 2.2. Do mesmo modo que se desenvolve uma camada limite de velocidade, uma
camada-limite térmica deve se desenvolver se houver um gradiente térmico entre as
temperaturas do fluido na corrente livre e na superfície. Em uma região do fluido
afastada da superfície, a distribuição de temperaturas é uniforme e igual a   , ou seja,
igual à temperatura dos gases quentes. Ao aproximar da superfície, as partículas
atingem o equilíbrio térmico na temperatura da superfície. Esse efeito se propaga até a
altura da camada-limite térmica.

Figura 2.2: Desenvolvimento da camada limite térmica sobre uma superfície.

2.1.2. Radiação
A radiação, irradiação ou radiação infravermelha é o processo de transmissão de
calor por meio da absorção ou emissão de ondas eletromagnéticas. A transferência de
calor por radiação não necessita de um meio material para ocorrer, como na condução e

10
na convecção, podendo ocorrer no vácuo. Na radiação, o mecanismo de troca de calor é
instantâneo e direto entre as superfícies afastadas e com diferentes temperaturas.
O verdadeiro comportamento do mecanismo da radiação não está
completamente compreendido. Diversas teorias foram propostas para explicar a emissão
e a propagação da radiação. A mais aceita é a Teoria do Eletromagnetismo de Maxwell
que propõe que a radiação se propague como as ondas eletromagnéticas.
Quando a energia térmica radiante incide sobre um objeto, esse corpo pode
absorver, refletir ou transmitir parte da energia térmica radiante. A quantidade de
energia absorvida, refletida ou transmitida pelo objeto é função da temperatura, do
comprimento de onda eletromagnética e das propriedades da superfície incidente.
O fenômeno da radiação é semelhante ao da propagação da luz e pode ser
explicado pela teoria das ondas. Quando as ondas de radiação incidem na superfície de
um corpo, uma parte é refletida, uma parte é absorvida pelo corpo e o restante é
transmitido pelo meio.
A relação entre o fluxo de calor devido à radiação e a temperatura foi encontrada
experimentalmente por Joseph Stephan (1835-1893) em 1879 e explicado teoricamente
em 1884 por Ludwig Boltzmann (1844-1906). O fluxo máximo de calor que pode ser
emitido por uma superfície devido à radiação é dado pela lei de Stephan-Boltzmann,
expressa pela equação (2.2).

Q r   res A   273,15 ,
4
(2.2)

sendo Q r o fluxo de calor radioativo na superfície,  a constante de Stephan-

Boltzmann [   5, 67.10 8 W ( m 2 .K 4 ) ],  res a emissividade resultante, A a área da

superfície aquecida e  a temperatura da superfície em ºC.


A emissividade resultante é uma grandeza adimensional, cujo valor está
compreendido entre 0 e 1 (  res  0 para um espelho e  res  1 para um irradiador
perfeito, conhecido como corpo negro), que mede a capacidade da superfície emitir
calor radiativo em relação a um corpo negro. Para o aço, o projeto de revisão da ABNT
NBR 14323 (2011) recomenda o valor 0,7 para a emissividade resultante, considerando-
se a troca de calor entre os gases quentes da combustão e a superfície de aço. Enquanto
que o Eurocode 1 parte 1.2 (2002) recomenda que para os aços carbonos o coeficiente
de emissividade seja igual a 0,7 e 0,4 para os aços inoxidáveis.
A quantidade de energia de radiação que deixa a superfície como calor radiante
depende da natureza e da temperatura absoluta da superfície. Em casos de engenharia

11
que envolve temperaturas próximas da temperatura ambiente, o calor radiante pode ser
desprezado.
Se uma superfície irradia energia para o meio, o fluxo de calor por radiação é
dado pela equação (2.3).

Q r   res A   g  273,15    a  273,15   ,


4 4
(2.3)
 
onde  é o fator de forma,  g é a temperatura dos gases quentes e  a é a temperatura

da superfície do elemento estrutural, sendo que ambas temperaturas são fornecidas em


ºC.
O fator de forma, ou fator de configuração, é a fração de energia térmica
liberada por uma superfície i e recebida pela superfície j. O fator de forma é um valor
compreendido no intervalo [0,1] e é função da geometria das superfícies envolvidas na
troca de energia, de suas orientações e o espaçamento entre si. O fator de forma entre
duas superfícies elementares pode ser obtido por meio da equação(2.4), (Incropera e
Dewitt, 2003),
1 cos(i ) cos( j )
ij 
Ai 
Ai A j
 R2
dAi dAj , (2.4)

em que R é o comprimento de reta que conecta as duas áreas elementares,  i e  j são,

respectivamente, os ângulos formados entre a reta de comprimento R com as normais às


superfícies.
Fatores de forma para superfícies simples podem ser encontrados na literatura
especializada (e.g. Incropera e Dewitt (2003) e Eurocode 1 parte 1.2 (2002)). Segundo o
Eurocode 1 parte 1.2 (2002), o fator de forma deve ser adotado igual à unidade, exceto
nos casos em que se considere o efeito sombra, o qual não será abordado nessa Tese.
Existem muitas aplicações (e.g. modelagem da transferência de calor por meio
do método dos elementos finitos) nas quais é conveniente expressar a troca de calor
líquida por radiação na forma dada pela equação (2.5),

Q r  hr A Tg  Ta  , (2.5)

em que hr é determinado pela equação (2.6),

hr   res Tg  Ta  Tg2  Ta2  , (2.6)

onde Tg e Ta são temperaturas absolutas em Kelvin.

12
A diferença de temperaturas entre duas superfícies produz um fluxo de calor por
radiação em adição à convecção natural.

2.1.3. Condução
A condução de calor nos sólidos pode ser atribuída à atividade atômica, como o
movimento de translação, rotação e vibração da rede molecular. Quando existe um
gradiente de temperatura em um corpo, ocorre uma troca de energia entre a região de
alta temperatura e a região de baixa temperatura. Esse processo denomina-se condução
de calor.
A teoria da condução de calor foi formulada, de forma empírica, por Joseph
Fourier (1768-1830) quando, em 1822, publicou seu livro Théorie Analytique de la
Chaleurin. A Lei de Fourier estabelece que o fluxo de calor devido à condução é
proporcional ao gradiente de temperatura e à área que o fluxo atravessa. Para um fluxo
unidimensional e em regime permanente, i.e., em que a temperatura não varia com o
tempo, a Lei de Fourier pode ser escrita conforme a equação (2.7),
d
Q x   A , (2.7)
dx
onde Q é o calor, Q x é o fluxo de calor condutivo,  é a condutividade térmica do

material, A é a área por onde o calor flui,  é a temperatura e d dx é o gradiente de


temperatura na direção do fluxo de calor. O sinal (-) é inserido na equação (2.7) para
satisfazer a segunda lei da termodinâmica, ou seja, o calor deve fluir no sentido da
temperatura decrescente. A equação (2.7) pode ser reescrita em termos do fluxo de calor
por unidade de área ( hx ) conforme a equação (2.8),

Q d
hx  x   . (2.8)
A dx
A Lei de Fourier indica que o fluxo de calor é uma grandeza direcional sendo
que a direção do fluxo de calor será sempre normal à superfície isotérmica, i.e., à
superfície de temperatura constante. No caso tridimensional, a equação (2.9) representa
de forma mais geral a Lei de Fourier,
  x , y , z 
hx    , (2.9)
x y z

sendo   x, y, z  o campo de temperaturas.

13
A condutividade térmica do material indica a capacidade que o material possui
de conduzir calor por condução, sendo uma propriedade de transporte que depende da
composição e do arranjo químico, do estado físico, da textura e da temperatura do
material.
Considerando um fluxo unidimensional atravessando uma camada de espessura
dx de um corpo em regime transiente, i.e., em que a temperatura varia com o tempo, ou
quando existem geradores ou dissipadores de calor no interior do corpo, e aplicando a
Lei de Conservação da Energia, primeira lei da termodinâmica, no elemento
infinitesimal unidimensional da Figura 2.3, tem-se a equação (2.10),
 Q
 E 
 Q
Qx ger x  dx , (2.10)

onde Q x é o fluxo de calor condutivo na direção x que entra no elemento, Q ger é o fluxo
 é a variação da energia
de calor gerado (ou dissipado) no interior do elemento, E
interna em função do tempo e Q x  dx é o fluxo de calor condutivo que sai do elemento.

Os termos da equação (2.10) são determinados por meio das equações (2.11) a
(2.14),

Q x   A , (2.11)
x
Q ger  qAdx
 , (2.12)


E   cA dx , (2.13)
t

Q x  dx    A , (2.14)
x x  dx

onde q é a energia gerada no interior do elemento por unidade de volume e tempo, A é


a área do elemento por onde o fluxo de calor passa,  é a densidade do material, c é o
calor específico do material e  é a temperatura no interior do elemento, na abscissa x,
em função do tempo t.

14
Figura 2.3: Volume elementar para análise de condução de calor
unidimensional em regime transiente (Holman, 2009).

O calor específico indica a capacidade do material em perder ou receber calor,


definida pela quantidade de calor por unidade de massa capaz de elevar a temperatura
do material em 1oC. Quanto maior o calor específico, mais lentamente ocorrerá a troca
de calor.
Expandindo o termo Q x  dx em série de Taylor e considerando apenas os dois
primeiros termos da série, obtém-se equação (2.15),

d d  d d  d  
 A  qAdx
  cA dx  A     dx  . (2.15)
dx x dt  dx x dx  dx  
Simplificando, tem-se a equação (2.16) que representa a condução de calor na
forma unidimensional,
d  d  d
   q   c . (2.16)
dx  dx  dt
Considerando-se um elemento infinitesimal tridimensional de dimensões dx, dy
e dz, e aplicando a primeira lei da termodinâmica, tem-se a equação (2.17),
Q x  Q y  Q z  Q ger  E  Q x  dx  Q y  dy  Q z  dz , (2.17)

sendo Q x , Q y e Q z o fluxo de calor condutivo que entra no elemento na direção dos

eixos x, y e z, respectivamente, Q ger é o fluxo de calor gerado (ou dissipado) no interior


 a variação da energia interna em função do tempo e, Q x  dx , Q
do elemento, E y  dy e

Q z  dz o fluxo de calor condutivo que sai do elemento na direção dos eixos x, y e z,

respectivamente.
Os termos da equação (2.17) são determinados por meio das equações (2.18) a
(2.21),

15

Q x  x dydz
x

Q y   y dxdz , (2.18)
y

Q z  z dydx
z
Q ger  qdxdydz
 , (2.19)


Q x  dx   x dydz
x x  dx


Q y  dy    y dxdz , (2.20)
y y  dy


Q z  dz   z dydx
z z  dz


E   c dxdydz , (2.21)
t
De forma análoga, expandindo os termos Q x  dx , Q y  dy e Q z  dz em série de Taylor

e substituindo as equações (2.18) a (2.21) em (2.17), tem-se a equação (2.22), que


representa o calor condutivo para um sólido tridimensional.
            
 x    y    z   q  c , (2.22)
x  x  y  y  z  z  t
onde i é a condutividade térmica do material na direção i e   x, y, z , t  é o campo de

temperaturas no interior do elemento em função do tempo t.


Para sólidos isótropos e homogêneos termicamente, i.e., em que a condutividade
térmica é constante em qualquer ponto do material e igual em qualquer direção
(   x   y  z ), tem-se a equação diferencial (2.23),

 2  2  2 q 1 
    , (2.23)
x 2 y 2 z 2   t
ou, a equação (2.24), na sua notação compacta,
q 1 
2   , (2.24)
  t
sendo  2 o operador Laplaciano de segunda ordem e      c  a difusividade

térmica do material.
A difusividade térmica do material indica a velocidade de propagação do calor
no interior do corpo. Um valor baixo da capacidade térmica (  c ) significa que menor

16
quantidade de energia em trânsito por meio do material é absorvida e utilizada para
elevar a temperatura do material, assim, mais energia encontra-se disponível para ser
transferida.
A equação (2.24) possui algumas variantes de acordo com o sistema a ser
analisado Para sistemas em que não há geração (ou dissipação) interna de calor
( q  0 ), a equação (2.24) é conhecida como equação de difusão (2.25). Em regime

permanente (  0 ), tem-se a equação de Poisson (2.26) e em regime permanente e
t
sem geração de energia interna, tem-se a equação de Lapace (2.27),
1 
 2  , (2.25)
 t
q
 2   0, (2.26)

2  0 , (2.27)
Em geral, os materiais submetidos a temperaturas elevadas passam por
transformações físico-químicas alterando suas propriedades térmicas em função da
temperatura.
O campo de temperaturas em um sólido, que obtido a partir da solução da
equação (2.24) deve satisfazer as condições de contorno do problema, que podem ser (i)
temperatura ou fluxo de calor prescrito em uma parte do contorno e (ii) transferência de
calor por convecção ou radiação entre o meio ambiente e o sólido. Além disso, se a
situação muda com o tempo, a solução também depende das condições existentes no
sistema no instante inicial. Sendo a equação de condução de calor de segunda ordem em
relação às coordenadas espaciais, duas condições de contorno devem ser especificadas
para cada coordenada necessária para descrever o sistema. Como a equação é de
primeira ordem em relação ao tempo, somente uma condição inicial precisa ser
especificada.

2.2. Incêndio
De acordo com a ABNT NBR 13860:1997, o incêndio é o fogo sem controle. A
norma internacional ISO 8421-1 define o incêndio como sendo a combustão rápida
disseminando-se de forma descontrolada no tempo e no espaço. Deste modo fica claro
que o incêndio não é medido pelo tamanho do fogo. No Brasil, adota-se o termo
princípio de incêndio quando o dano causado pelo fogo é pequeno.

17
A combustão é uma reação exotérmica (i.e. libera calor) entre o oxigênio do ar
(comburente) e os materiais combustíveis (substâncias sólidas, líquidas ou gasosas). A
fonte de calor necessária para o início do processo de combustão é fornecida por meio
do calor proveniente das chamas ou dos elementos superaquecidos. Como a combustão
é um processo exotérmico, o calor gerado realimenta a reação tornando o processo
contínuo até que o comburente se acabe.
No início dos anos 1700, a combustão era explicada por meio da Teoria do
Flogístico desenvolvida pelos alemães Johann Joachim Becher (1635-1682) e Georg
Ernst Stahl (1660-1734). Essencialmente a teoria admitia que os materiais combustíveis
eram ricos em flogístico1. Durante a combustão, uma substância invisível, insípida e
inodora, chamada de flogístico, era liberada. Após a combustão, o material não podia
mais se queimar, pois o que sobrava não continha mais o flogístico. A fundição dos
metais também era condizente com essa teoria, pois a oxidação envolvia a transferência
de flogístico.
A compreensão do fenômeno da combustão deve-se à Lavoisier (1743-1794),
onde foi demonstrado que nenhum material queimava sem a presença de oxigênio e o
ganho de peso quando o metal se oxida, num recipiente fechado, é equivalente à perda
de peso do ar preso no recipiente. Assim, abandonou-se a Teoria do Flogístico e
concluiu-se que a combustão é apenas uma reação com o oxigênio.
Ainda não há um consenso mundial para a definição do fogo. No Brasil, a
ABNT 13860:1997 define o fogo como sendo o processo de combustão caracterizado
pela emissão de luz e calor. O órgão nacional de proteção ao fogo dos Estados Unidos
(NFPA, 2003) define o fogo como a oxidação rápida auto-sustentada acompanhada de
evolução variada da intensidade de luz e calor. Por meio da norma internacional ISO
8421-1, o fogo é o processo de combustão caracterizado pela emissão de calor
acompanhado de fumaça, chama ou ambos.
Inicialmente, foi proposta a teoria do Triângulo do Fogo, a qual explica que para
que o fogo se mantenha devem coexistir o combustível, o comburente e a fonte de calor.
Com a descoberta dos agentes extintores, foi necessário mudar a teoria, a qual é
atualmente conhecida pela designação Tetraedro do Fogo, onde o quarto vértice é a
reação em cadeia que se processa da seguinte forma: após o início da combustão, o calor
gerado pelas chamas atinge o combustível que é decomposto em partículas menores,

1
Do grego phlgiston que significa queimar

18
que se combinam com o comburente e se queimam, irradiando mais calor para o
combustível. Formam um ciclo constante o qual é denominado por reação em cadeia. O
processo só acaba quando um dos integrantes do triângulo do fogo se extingue.
Quanto a outros aspectos do projeto de segurança contra incêndio, é necessário
conhecer a toxidade das fumaças produzidas pelos elementos combustíveis, a taxa de
liberação de calor e o índice de propagação das chamas.
A fumaça é o principal perigo para as pessoas durante o desenvolvimento do
incêndio. Ela se expande de forma rápida devido à sua leveza, dificulta a visibilidade do
ambiente e provoca irritação do sistema respiratório. O interesse na toxicidade da
combustão originou-se quando estudos revelaram que a causa primária das mortes
decorrentes de incêndio é a inalação de gases aquecidos, tóxicos e com deficiência de
oxigênio.
A propagação das chamas é uma das propriedades mais regulamentadas e mais
testadas no que se refere ao desempenho ao fogo de um material. A propagação da
chama é uma propriedade primária por meio da qual os órgãos reguladores tentam
eliminar os materiais perigosos e melhorar a segurança à vida humana em prédios.
O comportamento dos materiais diante do fogo depende das propriedades
térmicas e mecânicas dos materiais do elemento estrutural submetido a temperaturas
altas, sendo, portanto, um tema extremamente amplo e pode ser abordado em diferentes
aspectos. O comportamento dos materiais é, geralmente, função da magnitude do
aquecimento e do tempo total de exposição ao fogo. Todavia, em muitos casos, o
resultado é produto da combinação desses parâmetros e outras variáveis do problema.
Os materiais combustíveis quando submetidos a temperaturas elevadas, se
existirem as condições necessárias de oxigênio, serão queimados, total ou parcialmente,
produzindo fumaça ou gases tóxicos e calor. Quando os materiais não combustíveis são
submetidos a um fluxo externo de calor, a sua temperatura aumenta. Esse aumento gera
uma série de mudanças no material. Algumas dessas mudanças são reversíveis quando o
material é resfriado, outras possuem uma característica permanente.
A temperaturas elevadas, o aço apresenta uma redução considerável no módulo
de elasticidade e na resistência ao escoamento, o que pode levar à perda de estabilidade
estrutural local ou global, conforme mostra a Figura 2.4. Se certo valor de temperatura
for ultrapassado, podem ocorrer deformações permanentes na estrutura.

19
Figura 2.4: Instabilidade localizada de um pilar após um incêndio (Lamont, 2001)

2.3. Representação do Incêndio


A intensidade do incêndio é regida pelo equilíbrio energético e de massa
ocorrido em uma região da edificação construída de forma a evitar a propagação do
incêndio para fora de seus limites. Essa região, denominada de compartimento, pode ser
toda a edificação ou apenas uma parte dela, compreendendo um ou mais cômodos,
espaços ou pavimentos. A energia liberada depende da quantidade e do tipo do
combustível presente, das condições de ventilação do ambiente e dos elementos de
vedação. A representação real do incêndio em edifícios é bastante complexa devido à
grande variabilidade das variáveis envolvidas. Desse modo, a representação dos
cenários do incêndio utilizados na prática é simplificada.
De um modo geral, o incêndio compartimentado pode ser representado por três
fases distintas, conforme pode ser visto na Figura 2.5: (i) ignição, (ii) aquecimento e
(iii) resfriamento.

20
temperatura (ºC)
temp. máxima

fase de
aquecimento
fase de
resfriamento
ignição

tempo
inflamação
generalizada

Figura 2.5: Fases de um incêndio natural


A fase inicial ou de ignição (conhecida também como pré-flashover) é o período
em que as temperaturas permanecem baixas e o incêndio espalha-se lentamente, não
tendo nenhuma influência no comportamento estrutural dos edifícios. Porém, é a fase
mais crítica do ponto de vista do salvamento dos ocupantes da edificação, pois são
liberados os gases tóxicos que provocam a morte por asfixia. É nesta fase que os
sistemas de proteção ativa (e.g. alarmes e chuveiros automáticos) podem ser eficientes
para evitar a inflamação generalizada (flashover).
Na fase de aquecimento, o fogo se espalha por convecção, radiação e condução,
até que ocorre a inflamação generalizada dos gases e o incêndio se propaga por todo o
compartimento. Esse fenômeno, conhecido como flashover, ocorre quando a
temperatura abaixo do teto situa-se entre 450 e 600ºC (Seito et al, 2008). A partir do
instante da inflamação generalizada a temperatura no interior do compartimento sobe
drasticamente. Em seguida, ocorre a queima de todo o material combustível e a
temperatura se mantém praticamente constante. A taxa de liberação de calor é,
geralmente, governada pela ventilação disponível no compartimento.
Com a falta de combustível ou de oxigênio, inicia-se a fase de resfriamento com
uma diminuição progressiva das temperaturas e a taxa de combustão volta a ser
controlada pelo combustível. Essa fase pode ser antecipada por meio da intervenção do
corpo de bombeiros ou por outros meios de proteção ativa.
O oxigênio disponível tem uma grande influência durante o desenvolvimento do
incêndio, podendo ocorrer duas situações (Real, 2003):

21
(i) Incêndio controlado pela carga de incêndio: quando há oxigênio
suficiente e a taxa de combustão depende somente das características e
da quantidade do material combustível;
(ii) Incêndio controlado pela ventilação: quando as aberturas de ventilação
do compartimento são pequenas quando comparadas com as dimensões
da área do compartimento, sendo a taxa de combustão condicionada à
quantidade de oxigênio disponível.
A severidade do incêndio em um edifício é influenciada por vários fatores, tais
como, o tipo de combustível, densidade e distribuição do combustível, área e geometria
do compartimento, condições de ventilação e as propriedades térmicas das paredes do
compartimento.
Segundo o Eurocode 1 parte 1.2 (2002) a relação temperatura dos gases quentes
versus tempo pode ser obtida por meio de uma curva padronizada de elevação de
temperatura, denominada incêndio-padrão, métodos analíticos simplificados, modelos
de zona ou pela modelagem computacional utilizando os princípios da fluidodinâmica
computacional (CFD).
Esses modelos são descritos sucintamente nos itens seguintes.

2.3.1. Incêndio-Padrão
Tendo em vista que a curva temperatura-tempo do incêndio possui muita
variabilidade dos parâmetros envolvidos, convencionou-se adotar um modelo
padronizado para a análise experimental de estruturas, de materiais de revestimento
contra fogo, de portas corta fogo, etc., em fornos de institutos de pesquisas. Esse
modelo é conhecido como modelo do incêndio-padrão.
A principal característica dos modelos de incêndio-padrão é que as curvas só
apresentam o ramo ascendente, ou seja, a temperatura dos gases é sempre crescente com
o tempo e independente das características do ambiente e da carga de incêndio. A
utilização dessas curvas para a representação dos incêndios reais tem pouco significado
físico. No entanto, a norma brasileira ABNT NBR 14432:2000 e a maioria das normas
estrangeiras permitem a utilização de tempos padronizados associados à curva de
incêndio-padrão com a finalidade de fornecer parâmetros de projeto. As curvas
padronizadas mais utilizadas são a ISO-834 (ISO, 2002), ASTM E119 (2005) e a curva
H para materiais à base de hidrocarbonetos (Eurocode 1 parte 1.2, 2002).

22
A International Organization for Standardization, por meio da norma ISO-834,
recomenda a curva temperatura-tempo fornecida pela equação (2.28). A utilização dessa
curva é recomendada pelo Eurocode 1 parte 1.2 (2002) e pela ABNT NBR 14432:2000,
 g  20  345 log  8t  1 , (2.28)

onde  g é a temperatura dos gases em graus Celsius e t é o tempo em minutos.

A ASTM, por meio da norma E119 (2005), recomenda o uso da curva


temperatura-tempo fornecida na Tabela 2.1. Segundo Silva (2001), esta curva foi
adotada em 1918 tendo por fundamento os ensaios de pilares realizados pelo
Underwrites Laboratory de Chicago.
Para ambientes incendiados com materiais combustíveis formados por
hidrocarbonetos, o Eurocode 1 parte 1.2 (2002) sugere a equação (2.29),
 g  20  1080 1  0,325e0,167t  0, 675e2,5t  . (2.29)

Essas três curvas estão ilustradas na Figura 2.6.

Tabela 2.1: Curva temperatura-tempo conforme ASTM E119 (2005)


Tempo (min) Temperatura (ºC) Tempo (min) Temperatura (ºC)
0 20 55 916
5 538 60 927
10 704 65 937
15 760 70 946
20 795 75 955
25 821 80 963
30 843 85 971
35 862 90 978
40 878 120 1010
45 892 240 1093
50 905 480 1260

23
Figura 2.6: Curvas de incêndio-padrão

2.3.2. Incêndio Natural


Outra forma de representar a ação do incêndio é por meio do modelo de incêndio
natural compartimentado onde são consideradas as principais variáveis que influenciam
no aumento da temperatura dos gases. Diferentemente do modelo do incêndio-padrão, o
modelo do incêndio natural permite uma modelagem simplificada dos ramos
ascendentes e descendentes das curvas temperatura dos gases quentes versus tempo.
Para uso desses modelos é necessário conhecer as características dos materiais que
compõem as vedações do compartimento (densidade, calor específico e condutividade
térmica), a carga de incêndio no compartimento e as áreas de ventilação do ambiente em
chamas.
Os primeiros ensaios do ramo ascendente das curvas temperatura-tempo de um
incêndio natural compartimentado foram realizados em 1958, em trabalhos diferentes,
pelo japonês Kunio Kawgoe, do Building Research Institute, e pelo sueco K. Odeen, do
Royal Institute of Technology. Nesses trabalhos os autores consideraram o equilíbrio
térmico entre o calor gerado durante a combustão e o calor dissipado pelas aberturas e
absorvido pela vedação do compartimento em chamas. No final da década de 1960, os
suecos Magnusson e Thelandersson apresentaram trabalhos que incluíram o ramo
descendente da curva temperatura-tempo.
A norma sueca SBN 1967 foi a primeira norma estrangeira que permitiu a
utilização do modelo de incêndio natural na determinação do tempo requerido ao fogo,
(Silva, 1999). As curvas temperatura-tempo apresentadas nessa norma eram
semelhantes às curvas de incêndio-padrão, porém com a inclusão do grau de ventilação
como parâmetro.

24
O trabalho desenvolvido por Petterson et al (1976) foi incorporado na revisão da
norma sueca realizada na década de 1970. A norma sueca SBN 1975 apresenta tabelas e
diagramas que fornecem uma relação temperatura-tempo em função da carga de
incêndio e do grau de ventilação. As principais hipóteses admitidas por Petterson et al
(1976) são: (i) o incêndio é restrito a uma área compartimentada; (ii) a distribuição de
temperaturas dos gases é uniforme em todo o volume do compartimento; (iii) a fase de
aquecimento do incêndio é de ventilação controlada; (iv) o material combustível é
formado por madeira cujo potencial calorífico é igual a 18,8 MJ/kg e (v) o material de
vedação é composto de concreto e tijolo, tal que  c  1160 J / m 2 s1/ 2 º C , onde  , c
e  são, respectivamente, a densidade, o calor específico e a condutividade térmica. O
produto  c é conhecido como inércia térmica. O método foi aferido a dezenas de
resultados obtidos em ensaios de incêndios em pequenos compartimentos.
Com base no trabalho de Kawagoe (1967), Lie (1974) desenvolveu expressões
matemáticas para as curvas temperaturas-tempo em função do grau de ventilação. Um
pouco mais tarde, Babrauskas e Williamson (1978) desenvolveram curvas temperatura-
tempo puramente teóricas sem base experimental.
A partir das hipóteses de Petterson et al (1976), Wickstrom (1985) propôs uma
expressão única, equação (2.30), para o ramo ascendente da curva em função do grau de
ventilação e das características dos materiais de vedação, a qual foi incorporada ao
Eurocode 1 parte 1.2 (2002). O modelo do incêndio natural é válido para
compartimentos com área de piso superior a 500 m², com pé direito máximo de 4
metros e sem abertura no telhado,

 * *
 g  20  1325 1  0,324e0,2t  0, 204e1,7t  0, 472e19t ,
*

 (2.30)

onde t* é um tempo fictício determinado pela equação (2.31),


t *  t , (2.31)
sendo  g a temperatura dos gases no tempo t;

t o tempo, em horas, decorrido desde a ignição do fogo;

v b
2

 ;
 0, 04 1160 
2

b   c sendo 100  b  2200 e as constantes térmicas do material  , c e  devem

ser tomadas à temperatura ambiente;

25
v é o grau de ventilação dado por v  Av h sendo 0, 02  v  0, 20 ;
At

Av a área total das aberturas verticais em todas as paredes (portas e janelas);

h a altura das aberturas verticais;


At a área total de fechamento (paredes, piso e teto, incluindo as aberturas).

Deve-se observar que quando   1 , a curva de aquecimento do modelo de


incêndio natural se aproxima muito com a curva-padrão ISO-834 (ABNT NBR
5428:2001), conforme mostra a Figura 2.7.

1400

1200

1000
Temperatura (ºC)

800

600

400

200
Tempo (min.)
0
0 100 200 300 400 500 600
Ramo ascendente da curva paramétrica ISO 834

Figura 2.7: Comparação da curva ISO-834 com o ramo ascendente da curva


paramétrica quando   1 .
A temperatura máxima dos gases na fase de aquecimento ocorre para o tempo
*
tmax  tmax  , onde tmax é dado pelo maior valor entre as expressões fornecidas pela

equação (2.32),
0, 2.103 qt ,d v
tmax  , (2.32)
tlim
em que qt ,d é o valor de cálculo da carga de incêndio específica relativa à superfície de

área At de fechamento (paredes, piso e teto) dada pela equação (2.33),

Af
qt ,d  q fi,d tal que 50MJ / m2  qt ,d  1000MJ / m2 , (2.33)
At

26
onde q fi , d é o valor de cálculo da carga de incêndio específica relativa à superfície de

área A f de piso.

O tempo limite tlim depende da taxa de combustão de acordo com o material


combustível e do grau de ventilação do ambiente compartimentado. Os tempos limites
para cada tipo de edificação podem ser consultados no Eurocode 1 parte 1.2 (2002).
Observa-se que quando t max  tlim o incêndio é controlado pela carga de
incêndio, caso contrário o incêndio é controlado pela ventilação.
De acordo com as especificações do Eurocode 1 parte 1.2 (2002), quando
t max  tlim , a equação (2.31) deve ser substituída pela equação (2.34),

t *  t  lim , (2.34)
com,

 vlim b 
2

 lim  , (2.35)
 0, 04 1160 
2

vlim  0,1.10 3 qt , d tlim . (2.36)

Se v>0,04, qt ,d  75 e b<1160,  lim deve ser multiplicado por k dado pela

equação (2.37),

 v  0,04   qt ,d  75   1160  b 
k  1    . (2.37)
 0,04   75   1160 
As equações (2.38) descrevem a fase de resfriamento das curvas naturais,
 g   max  625  t *  tmax
*
.x  se t *max  0, 5
 g   max  250  3  tmax
*
.x  t *  tmax
*
.x  se 0,5<t *max  2 , (2.38)
 g   max  250  t *  tmax
*
.x  se t *max  2

onde t* é dado pela equação (2.31) e tmax


*
é dado pelas equações (2.39) e (2.40),

0, 2.103 qt ,d
t *
max  , (2.39)
v
x 1 se tmax  tlim
tlim  . (2.40)
x *
se tmax  tlim
tmax
A título de exemplo, a Figura 2.8 mostra duas curvas de incêndio natural: uma
para o incêndio controlado pela ventilação e outra para o incêndio controlado pelo
combustível. As curvas foram obtidas para um compartimento retangular de dimensões

27
de 3,0 m por 6,0 m e 2,5 m de altura. A carga de incêndio utilizada foi igual a 750
MJ/m². Observa-se que quando o incêndio é controlado pelo combustível, a temperatura
máxima e a duração do incêndio são menores.

1000
900
800
Temperatura (ºC)

700
600
500
400
300
200
100
Tempo (min)
0
0 20 40 60 80 100 120
Controlado pela Ventilação Controlado pelo Combustível

Figura 2.8: Curva temperatura tempo conforme modelo do incêndio natural.

Com base em resultados experimentais e analíticos, Feasey e Buchanan (2002)


propuseram uma modificação no cálculo do tempo fictício apresentado no Eurocode 1
parte 1.2 (2002). Segundo eles o multiplicador que fornece o tempo fictício passaria a
ser calculado por meio da equação (2.41),


 v 0, 04  . (2.41)
 b 1900 
Outras curvas naturais temperaturas-tempo foram desenvolvidas nos últimos
anos, dentre as quais podem ser citadas as contidas nos trabalhos de Ma e Mäkeläinen
(2000) e Banett (2002):
(i) Ma e Mäkeläinen (2000) desenvolveram curvas paramétricas para incêndios
em compartimentos pequenos e médios, em que a expressão da curva
paramétrica é dada pela equação (2.42),


 g  20  t  t 
  exp 1    , (2.42)
 max  20  tm  tm  
onde t é o tempo em minutos, tm o tempo correspondente à temperatura máxima

do gás (  max ) e  é uma constante referente ao tipo da curva. O valor de 

28
correspondente à fase de resfriamento é aproximadamente duas vezes o valor
correspondente à fase de aquecimento. A máxima temperatura do gás é dada
pela equação (2.43),

11
 max  1240  . (2.43)
v
(ii) Barnett (2002) desenvolveu uma expressão geral para a modelagem de curvas
de incêndio denominadas de curvas BFD. A expressão proposta foi ajustada a
partir de 142 ensaios obtidos da literatura, sendo que 87% dos dados se ajustam
muito bem. Os combustíveis utilizados nos ensaios foram madeiras, petróleo,
querosene, poliuretano, automóveis, cadeiras e mobílias. A massa total de
combustível variou de 3 a 5100 kg e as temperaturas máximas de incêndio
variaram entre 500 e 1200ºC. As curvas BFD utilizam apenas uma expressão
para representar tanto a fase de aquecimento quanto a fase de resfriamento. A
expressão das curvas BFD é dada pela equação (2.44),

 g  20   m e  z , (2.44)

onde  m é a temperatura máxima dos gases (ºC) e,

 ln t  ln tm 
2

z , (2.45)
sc
em que s c é o fator de forma da curva, t é o tempo decorrido desde a ignição

do fogo e t m é o tempo em que  m ocorre em minutos.


Anos mais tarde, Barnett (2007) calibrou os coeficientes da sua expressão geral
para as curvas de incêndio mais citadas na literatura, conforme mostra a Tabela 2.2.

Tabela 2.2: Coeficientes da curva BFD (Barnett, 2007)


Curva  m (ºC) t m (min) sc

ISO-834 1148 10000 62


ASTM E119 1211 3500 58
Hidrocarbonetos 1065 80 60
Elementos Exteriores 660 50 150
Curva Paramétrica 810 20 1,5

29
Em situações específicas, podem-se usar métodos computacionais avançados
(item 2.3.5 deste texto) para a determinação da curva temperatura-tempo, envolvendo
mais parâmetros intervenientes no processo.

2.3.3. Incêndios Localizados


O incêndio é classificado de localizado quando não há possibilidade de ocorrer o
flashover. Segundo Wang (2002), essa situação ocorre em edifícios de grandes
dimensões e vazios, tais como estacionamentos, estádios e aeroportos. Nesses edifícios
somente alguns elementos são sujeitos a aquecimentos.
O Eurocode 1 parte 1.2 (2002) fornece, de maneira simplificada, o fluxo de calor
na superfície dos elementos submetidos a incêndios localizados.

2.3.4. Modelos de Zona


Os modelos de zona consideram o compartimento dividido em zonas, onde para
cada zona a temperatura é admitida uniforme. Geralmente, na fase de pré-flashover
adotam-se duas zonas, as quais são conectadas pela pluma. Os modelos de uma zona
são mais simples e são empregados na fase de pós-flashover.
Esses modelos são fundamentados nas leis de conservação de massa, momento e
energia, as quais são aplicadas em cada zona em um processo dinâmico que calcula o
tamanho, a temperatura e a concentração de espécies em cada zona com o progresso do
incêndio. Durante o processo, a pluma de fogo e o movimento da fumaça e dos produtos
tóxicos são levados em consideração.
Segundo Buchanan (2002), os modelos de zona fornecem a altura da camada, a
temperatura e a concentração dos gases quentes, a temperatura das paredes e dos pisos e
o fluxo de calor no piso. Não é possível obter a evolução da temperatura em objetos ou
superfícies por meio dos modelos de zona.
Os programas computacionais COMPF2 desenvolvido no NIST – National
Institute of Standards and Technology, EUA, e SFIRE-4 da Universidade de Lund,
Suécia, se destacam na modelagem de uma zona. Nos modelos de duas zonas destacam-
se os programas computacionais CCFM.VENTS e CFAST desenvolvido pelo NIST e o
programa OZONE da Universidade de Liége, Bélgica.
Para uma análise mais realista deve-se utilizar a modelagem com base na
fluidodinâmica computacional.

30
2.3.5. Fluidodinâmica Computacional
A fluidodinâmica computacional (CFD) tem sido utilizada na modelagem do
movimento de fumaça e, recentemente, na modelagem de incêndio. Essa técnica permite
a modelagem de incêndios localizados e da fase pré-flashover em compartimentos de
geometrias complexas, considerando o movimento de fumaça entre os compartimentos.
Os modelos de CFD envolvem a associação dos fenômenos de escoamento de
fluidos e transferência de calor. Essa associação é realizada por meio da resolução das
equações fundamentais da mecânica dos fluidos e da termodinâmica.
Apesar de os modelos de CFD necessitarem de elevado esforço computacional,
os modelos fornecem temperatura, velocidade e concentração das espécies químicas em
cada ponto do compartimento modelado.
Para a modelagem de incêndio por meio de CFD destacam-se os programas
computacionais SMARTFIRE desenvolvido na Universidade de Greenwich, FDS do
NIST e o SOFIE da Universidade de Cranfield. Exemplos de uso do SMARTFIRE
podem ser vistos em Silva et al (2006) e Azevedo (2009).

2.4. Carga de Incêndio Específica


Na definição do modelo de incêndio natural, uma das variáveis de grande
importância é a carga de incêndio específica. Entende-se por carga de incêndio tudo
aquilo que pode ser caracterizado como combustível, portanto quanto maior a carga de
incêndio específica de um compartimento maior a duração do incêndio.
A carga de incêndio em um compartimento é definida como a energia total a ser
liberada durante um incêndio. Uma parte dessa energia é utilizada para aquecer o
ambiente e outra parte é liberada por meio das aberturas do compartimento.
A carga de incêndio específica é definida pela razão entre a carga de incêndio e a
área do pavimento ( A f ) do compartimento incendiado, podendo ser também expressa

em relação à área total ( At ) do compartimento, incluindo a vedação (paredes, piso e


teto) e as aberturas. Essa última definição é mais adequada, pois o fluxo de calor
transfere-se por meio de todos os elementos de vedação e das aberturas do
compartimento.
A carga de incêndio específica característica ( q fi ) pode ser expressa por meio da

equação (2.46), Eurocode 1 parte 1.2 (2002),

31
 M H m
i i i i
q fi  i
, (2.46)
At
onde M i é a massa total de cada componente i do material combustível cujo valor tenha

uma probabilidade inferior a 20% de ser excedido durante a vida útil da edificação; H i
é o potencial calorífico de cada componente do material combustível definido na ABNT
NBR 14432:2000; mi é um coeficiente adimensional que representa a eficiência da
combustão de cada componente do material combustível onde m=1 representa a
combustão completa e m=0 representa a ausência de combustão durante o processo do
incêndio;  i é um coeficiente adimensional que representa o grau de proteção ao fogo,

  0 para materiais com proteção completa durante o incêndio e   1 para materiais


sem proteção. O Eurocode 1 parte 1.2 (2002) recomenda utilizar m=1. Schleich e Cajot
(1997) propõem utilizar m=0,7 e   1, salvo em estudos mais precisos.
Tendo em vista a dificuldade na determinação da carga de incêndio específica
característica, a ABNT NBR 14432:2000 fornece esse parâmetro em função do tipo de
ocupação da edificação.
O valor de cálculo da carga de incêndio específica ( q fi , d ) é dado pela equação

(2.47),
q fi ,d   n s q fi , (2.47)

onde  n é um coeficiente adimensional que leva em conta a presença de medidas de

proteção ativa, que permite reduzir a severidade do incêndio, e  s é o coeficiente de


segurança que depende do risco de incêndio, ou seja o perigo de início de incêndio e as
consequências do colapso da edificação. Esses coeficientes de ponderação podem ser
encontrados no texto de revisão da NBR 14323 (2011).

2.5. Ensaios de Corpos de Prova a Temperaturas Elevadas


As propriedades mecânicas, para fins de projeto em situação de incêndio, são
determinadas a partir de ensaios normatizados, visto que seus valores são fortemente
influenciados pelo procedimento de ensaio para determiná-los. Segundo Wang (2002),
os ensaios podem ser de dois tipos: (i) estacionário e (ii) transiente. No ensaio
denominado de transiente a estrutura é submetida a carregamentos à temperatura
ambiente. Os carregamentos são mantidos constantes e então a estrutura é exposta ao

32
fogo. O ensaio termina quando um dos critérios de falha é atingido, sendo esse tipo de
ensaio o que simula mais apropriadamente as condições de um incêndio. Segundo
Segundo Buchanan (2002), todos os modos de ensaio apresentam alguma
dificuldade na realização, visto que os efeitos da fluência influenciam todos os
resultados dos testes. Existe também uma dificuldade em ensaios com corpos-de-prova
grandes e em regime transiente de temperatura, pois a taxa de aumento de temperatura
pode não ser uniforme sobre a seção transversal.
Para vários materiais, a relação tensão-deformação a temperaturas elevadas pode
ser obtida diretamente a partir de ensaios em regime estacionário de temperatura ou ser
calculada a partir de resultados desses mesmos ensaios em regime transiente.

2.6. Propriedades Térmicas do Aço


Nesse item são apresentadas as propriedades térmicas do aço de acordo com o
texto de revisão da ABNT NBR 14323 (2011). Todas as propriedades térmicas são
dadas em função da temperatura do aço. A norma permite a utilização de valores
simplificados que fornecem bons resultados, para uma análise térmica, quando
comparados com resultados mais precisos.

2.6.1. Massa Específica


A massa específica do aço é pouco influenciada pela temperatura e é
considerada igual a 7850 kg/m³. Milke (2002) propõe que a massa específica seja igual
a 7868 kg/m³.

2.6.2. Calor Específico


O calor específico (c) é definido como sendo a quantidade de calor requerida
para aquecer uma unidade de massa do material em um grau Celsius. O calor específico
para uma faixa de temperaturas de 20ºC a 1200ºC é fornecido pelas equações (2.48) a
(2.51). A variação do calor específico para os aços em função da temperatura está
mostrada na Figura 2.9,
c  425  0, 773 a  0, 0169 a2  2, 22.10 6  a3 para 20ºC   a  600º C , (2.48)

13002
c  666  para 600ºC   a  735º C , (2.49)
738   a

17820
c  545  para 735ºC   a  900º C , (2.50)
 a  731

33
c  650 para 900ºC   a  1200º C , (2.51)

onde  a é a temperatura do aço em ºC.

6000

5000
calor específico (J/kgºC)

4000

3000

2000

1000

0
0 200 400 600 800 1000 1200
Temperatura (ºC)

Figura 2.9: Variação do calor especifico em função da temperatura.


Observa-se que o calor específico do aço tem um pico em torno dos 735 ºC. Isso
se deve ao fato da mudança da fase do aço que consome uma grande quantidade de
energia.
De uma forma simplificada, o texto de revisão da NBR 14323 (2011) permite
considerar o calor específico do aço constante e igual a 600 J/kgºC.

2.6.3. Condutividade Térmica


A condutividade térmica dos aços (  ) representa a taxa de calor transferida pela
diferença de temperatura por unidade de comprimento do material. A condutividade
térmica dos aços pode ser determinada por meio da equação (2.52). A variação da
condutividade térmica para os aços em função da temperatura está ilustrada na Figura
2.10.

  54  0,0333a para 20ºC  a  800º C


(2.52)
  27,3 para 800ºC  a  1200º C

34
60

condutividade térmica (W/mºC)


50

40

30

20

10

0
0 200 400 600 800 1000 1200
Temperatura (ºC)

Figura 2.10: Variação da condutividade térmica em função da temperatura.


O texto de revisão da NBR 14323 (2011) ainda permite considerar a
condutividade térmica do aço constante e igual a 45 W/mºC.

2.6.4. Alongamento
O texto de revisão da ABNT NBR 14323 (2011) permite que os efeitos da
restrição à dilatação sejam desprezados quando se emprega o método simplificado com
base no incêndio-padrão. Essa simplificação é bastante discutível. Há casos de vigas
biapoiadas, não superpostas por lajes, em que a flecha é acentuada ocasionando uma
inversão de compressão para tração da reação de apoio horizontal de origem térmica
(Silva, 1997). Em casos de vigas de aço superpostas por laje de concreto, mistas ou não,
restritas à dilatação axial, se por um lado, a flecha é menor não ocorrendo inversão de
sinal da reação de apoio, por outro, o gradiente térmico, que ocorre pela presença da
laje, faz com que a reação de apoio de compressão seja aplicada abaixo do centro
geométrico da seção transversal da viga gerando um momento fletor contrário ao
provocado pelas forças gravitacionais (Underwriters Laboratory, 2011). Nesses casos de
viga, a desconsideração da dilatação é favorável à segurança. Considerá-la conduziria a
resultados mais econômicos. Em determinados pilares, a desconsideração dos esforços
provenientes da restrição à dilatação pode ser prejudicial (Dorr, 2010). Em análises mais
rigorosas de estruturas mais complexas, a deformação axial de origem térmica deve ser
considerada.

35
A dilatação térmica dos aços pode ser determinada por meio das equações (2.53)
a (2.55). A variação da dilatação térmica para os aços em função da temperatura está
apresentada na Figura 2.11,
l
 1, 2.105 a  0, 4.108 a2  2, 416.10 4 para 20ºC   a  750º C ,(2.53)
l

l
 1,1.101 para 750ºC   a  860º C , (2.54)
l
l
 2.105 a  6, 2.103 para 860ºC   a  1200º C , (2.55)
l
onde l é o comprimento da peça de aço a 20ºC, l é a expansão térmica provocada pela
temperatura e  a a temperatura do aço em graus Celsius.

0.02
0.018
0.016
alongamento térmico

0.014
0.012
0.01
0.008
0.006
0.004
0.002
0
0 200 400 600 800 1000 1200
Temperatura (ºC)

Figura 2.11: Variação da dilatação térmica em função da temperatura.


De uma forma simplificada, o texto de revisão da ABNT NBR 14323 (2011)
permite a consideração do alongamento térmico por meio da equação (2.56).
l
 14.106  a  20  (2.56)
l

2.6.5. Convecção
O texto de revisão da ABNT NBR 14323 (2011) recomenda que o coeficiente de
transferência de calor por convecção entre os gases quentes e as estruturas de aço seja
igual a 25W/m²K independentemente da temperatura. Não há necessidade de um valor
mais preciso, pois à medida que o aço aumenta de temperatura, ela se aproxima cada

36
vez mais da temperatura do gás e, consequentemente, reduz a transferência de calor por
convecção.

2.7. Modelagem Numérica


Nos últimos anos, vários pesquisadores têm trabalhado no desenvolvimento de
programas de computador para a análise de estruturas em situação de incêndio. Com o
aumento exponencial na capacidade dos computadores pessoais e, consequentemente, a
popularização do Método dos Elementos Finitos, a aplicação dos métodos avançados de
dimensionamento de estruturas em situação de incêndio tem-se tornado uma ferramenta
importante na análise dessas estruturas.
O método avançado de análise de estruturas em situação de incêndio é,
normalmente, dividido em duas partes: (i) a análise térmica, que considera a
transferência de calor entre os elementos estruturais, e, (ii) a análise estrutural, que
determina o comportamento mecânico dos elementos aquecidos e suas interações com o
restante da estrutura.
A seguir são apresentados alguns programas computacionais comerciais que têm
sido utilizados de forma corrente na análise de estruturas em situação de incêndio.
O programa Super TempCalc (STC), desenvolvido pela FSD (Fire Safety
Design, Suécia), realiza a análise térmica não linear transiente de estruturas
bidimensionais por meio do método dos elementos finitos. Por meio do programa
Matlab, o STC gera automaticamente a malha de elementos finitos no domínio
bidimensional, além de apresentar o campo de temperaturas em função do tempo de
exposição ao incêndio. As propriedades térmicas dos elementos podem ser variáveis
com a temperatura.
Os resultados das análises térmicas obtidos por meio do STC foram validados
contra inúmeros resultados experimentais desde 1985 (Anderberg, 2004). A
confiabilidade da análise térmica fornecida pelo STC é mundialmente reconhecida,
sendo usado pelo grupo de pesquisadores responsáveis pela elaboração do Eurocode 2
parte 1.2 (2004). Deste modo, o programa STC será utilizado na calibração do programa
de análise térmica ATERM, desenvolvido nesta Tese de Doutorado, conforme será visto
no capítulo 3.
O programa SAFIR (Franssen et al, 2005), desenvolvido na Universidade de
Liège, Bélgica, é utilizado para a análise termestrutural via método dos elementos
finitos. Deve-se realizar, primeiramente, a análise térmica para cada parte da estrutura e,

37
com base nos históricos de temperaturas gerados, realizar a análise estrutural. Talamona
e Franssen (2005) adicionaram ao programa SAFIR elementos de casca que permitiram
a análise de instabilidade local em estruturas em situação de incêndio. Ressalta-se que
os módulos de análise térmica e estrutural não estão totalmente integrados.
O programa VULCAN, desenvolvido desde 1985 na Universidade de Sheffield,
Reino Unido foi concebido para modelar o comportamento de estruturas de edifícios em
situação de incêndio. Segundo Ferreira (2006), a estrutura é modelada com um conjunto
de elementos de vigas, pilares, conectores de cisalhamento e lajes. O programa não
realiza a análise térmica, sendo que o histórico de temperaturas na estrutura deve ser
fornecido ao programa.
No Brasil, alguns programas de análise termestrutural têm sido desenvolvidos
nos últimos anos. Landesmann (2003) desenvolveu um programa de pórtico por meio
do Método das Rótulas Plásticas, para a análise do comportamento de estruturas planas
em situação de incêndio. Caldas (2008) desenvolveu, na Universidade Federal de Minas
Gerais, modelos numéricos para análises do comportamento de estruturas de aço,
concreto e mistas em situação de incêndio. Os modelos foram desenvolvidos por meio
de elementos de vigas tridimensionais e de casca. Para simular as ligações semi-rígidas
em situação de incêndio, Caldas (2008) incorporou molas ao elemento de viga. Ribeiro
(2009) desenvolveu um programa de computador, com base no Método dos Elementos
Finitos, para a análise do comportamento termomecânico de estruturas tridimensionais
de aço, concreto e mistas em situação de incêndio.
Recentemente, Rigobello et al (2011) aplicaram um elemento finito de pórtico
laminado não linear com formulação posicional para análise de pórticos tridimensionais
em situação de incêndio. Diferentemente da abordagem convencional do método dos
elementos finitos, o qual utiliza o método dos deslocamentos, a formulação posicional
tem por base a posição dos nós dos elementos finitos. Além disso, o elemento utiliza a
teoria não linear geometricamente exata. Devido às características do elemento, as
análises realizadas por Rigobello et al (2011) não detectam os fenômenos de
instabilidade local e distorcional.
Alguns pesquisadores utilizam programas comerciais para a análise de perfis
formados a frio em situação de incêndio. Pode-se destacar o trabalho de Landesmann et
al (2009), onde, por meio do programa ANSYS, verificam a influência das imperfeições
geométricas iniciais na resistência última de pilares de aço formado a frio em situação
de incêndio. A análise é efetuada por elementos de casca não lineares (geométrica e do

38
material). Estuda-se o comportamento pós-crítico de pilares de seção Ue suscetíveis à
instabilidade distorcional. As análises foram efetuadas em regime permanente e
transiente onde foram obtidas as forças e temperaturas de colapso. Os resultados obtidos
pelas duas estratégias de carregamento foram semelhantes.
Recentemente, Landesmann e Camotim (2011) utilizaram o programa ANSYS
para a análise do modo distorcional de pilares de aço formado a frio em situação de
incêndio. Eles concluíram que a capacidade resistente dos pilares pode ser obtida por
meio de uma análise estacionaria, na qual a temperatura é mantida constante e a força é
aumentada gradualmente, pois as diferenças em relação à análise transiente são
pequenas.

2.8. Determinação da Temperatura Atuante no Elemento Estrutural


Na área de engenharia de estruturas em situação de incêndio sabe-se que a ruína
de um elemento estrutural é determinada pelo campo de temperaturas ao qual está
submetido.
Conforme visto no item 2.3, o incêndio real ou natural atinge uma temperatura
máxima. Se a temperatura for uniformemente distribuída no elemento estrutural, é
possível, a partir das expressões de transferência de calor, determinar a temperatura no
elemento estrutural. O dimensionamento da estrutura para essa temperatura assegura
uma resistência ao fogo durante a vida útil da estrutura.
Na prática utiliza-se a curva de incêndio-padrão no projeto de estruturas em
situação de incêndio, a qual não apresenta uma temperatura máxima (ver item 2.3.1),
surgindo uma dificuldade operacional na determinação do campo de temperatura
atuante no elemento estrutural. Para resolver esse problema utiliza-se o conceito de
tempo requerido de resistência ao fogo (TRRF). O TRRF é um tempo fictício e
estipulado de acordo com o tipo de ocupação e altura da edificação (ABNT NBR
14432:2000), que associado à curva de incêndio-padrão, que também é fictícia, fornece
a temperatura máxima dos gases quentes e permite determinar, por meio das expressões
de transferência de calor ou por modelagem numérica (e.g. com o auxílio do método dos
elementos finitos), o campo de temperaturas da estrutura e, assim, dimensioná-la,
conforme mostra a Figura 2.12.

39
Figura 2.12: Curva temperatura-tempo do incêndio e da estrutura conforme o
incêndio-padrão.

2.9. Dimensionamento de Estruturas em Situação de Incêndio


O objetivo principal do projeto de estruturas em situação de incêndio é garantir a
capacidade resistente das estruturas, durante um período de tempo preestabelecido,
suficiente para que todas as ações de combate ao fogo possam ser tomadas.
O texto de revisão da ABNT NBR 14323 (2011) permite que o
dimensionamento de estruturas em situação de incêndio seja realizado por (i) ensaios,
(ii) métodos analíticos simplificados ou (iii) métodos avançados de análise.
Segundo Real (2003), o primeiro método internacionalmente aceito para o
dimensionamento de estruturas em situação de incêndio baseia-se em ensaios
normatizados de resistência ao fogo. Nesses ensaios, o elemento é montado em fornos,
onde a temperatura varia com o tempo de acordo com a curva de incêndio-padrão (ISO
834).
O dimensionamento consiste em provar que o elemento estrutural tenha uma
resistência ao fogo, determinada no ensaio, igual ou superior à resistência requerida
pelas normas e instruções técnicas.
Os ensaios normatizados possuem alguns inconvenientes. É difícil reproduzir as
condições de aquecimento e de apoio dos elementos, não sendo possível simular com
rigor as reais condições de ligação com o resto da estrutura. Consequentemente, pode-se
obter uma variação significativa de resistência ao fogo para um mesmo elemento
estrutural, quando ensaiados em diferentes laboratórios, com fornos de diferentes
características e condições de apoio e ligação também diferentes. Outro inconveniente
está relacionado com as dimensões dos fornos, que limitam a dimensão dos elementos a
analisar.

40
O método simplificado de dimensionamento proposto no texto de revisão da
ABNT NBR 14323 (2011) aplica-se às barras prismáticas de aço constituídas por perfis
laminados e soldados não híbridos, às vigas mistas e pilares mistos e às lajes de
concreto com forma de aço incorporada. O texto de revisão dessa norma inclui o
dimensionamento de perfis formados a frio em situação de incêndio com base em
recomendações constantes de Pierin e Silva (2010), o qual será discutido no capítulo 5
dessa Tese.
O método simplificado se aplica a elementos estruturais envolvidos pelos gases
quentes, no interior de um compartimento em chamas.
Como a condutividade térmica do aço é alta, o método simplificado adota para a
obtenção dos esforços resistentes, dependendo do tipo de solicitação e do estado limite
último, consideram-se uma distribuição uniforme de temperatura na seção transversal e
ao longo dos elementos estruturais ou uma distribuição não uniforme de temperaturas
por meio de procedimentos favoráveis à segurança.
Na determinação das solicitações de cálculo, os efeitos das deformações
térmicas resultantes dos gradientes térmicos ao longo da altura da seção transversal
precisam ser considerados. Caso se utilize a curva de incêndio-padrão ISO 834, as
expansões térmicas podem ser desprezadas.
No caso de vigas sem revestimento contra fogo ou com revestimento tipo
contorno, com laje de concreto sobreposta, o gradiente térmico pode ser obtido pela
diferença de temperaturas entre a mesa superior e inferior, considerando que essas
mesas possuem aquecimentos independentes. Para vigas com revestimento tipo caixa, o
perfil pode ser considerado com temperatura uniforme.
Ao se considerar os efeitos das deformações térmicas resultantes dos gradientes
térmicos, admite-se, por simplificação, efetuar a análise estrutural tomando o módulo de
elasticidade constante e igual ao seu valor à temperatura elevada em todos os elementos
afetados pelo incêndio.
Os métodos avançados proporcionam uma análise realística da estrutura e do
cenário do incêndio e podem ser usados para elementos estruturais individuais com
qualquer tipo de seção transversal, incluindo elementos estruturais mistos, para
subconjuntos ou para estruturas completas, internas, externas ou pertencentes à vedação.
Eles devem ter por base o comportamento físico fundamental, de modo a levar a uma
aproximação confiável do comportamento esperado dos componentes da estrutura em
situação de incêndio.

41
Os métodos avançados podem incluir modelos separados para a determinação
do desenvolvimento e da distribuição de temperatura nas peças estruturais (análise
térmica) e para a análise do comportamento mecânico da estrutura ou de alguma de suas
partes (análise estrutural).
Os métodos avançados podem ser usados em associação com qualquer curva de
aquecimento, desde que as propriedades do material sejam conhecidas na faixa de
temperatura considerada.
A análise térmica deve ser baseada em princípios reconhecidos e hipóteses da
transferência de calor. O modelo adotado deve considerar as ações térmicas relevantes e
a variação das propriedades térmicas do material com a temperatura. Os efeitos da
exposição térmica não uniforme e da transferência de calor a componentes de edifícios
adjacentes devem ser incluídos quando forem relevantes. A favor da segurança, os
efeitos de migração de umidade no material de revestimento podem ser desprezados.
A análise estrutural deve ser baseada em princípios reconhecidos e hipóteses da
mecânica dos sólidos. Os efeitos das tensões e deformações induzidas termicamente em
virtude do aumento de temperatura e das temperaturas diferenciais devem ser
considerados. Quando relevantes, devem ser considerados os efeitos combinados de
ações mecânicas, imperfeições geométricas e ações térmicas, as variações das
propriedades dos materiais em função do aumento da temperatura, os efeitos da não
linearidade geométrica, os efeitos da não linearidade do material, incluindo os efeitos do
carregamento e descarregamento na rigidez estrutural.
As deformações no estado limite último devem ser limitadas, quando necessário,
para assegurar que a compatibilidade seja mantida entre todas as partes da estrutura.
Se necessário, o projeto deve ser fundamentado no estado limite último pelo qual
as deformações calculadas da estrutura poderiam causar o colapso devido à perda de
apoio adequado de um elemento estrutural.
No próximo capítulo, apresenta-se a formulação do método dos elementos
finitos aplicado à análise térmica de estruturas bidimensionais.

42
3. MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS APLICADO À ANÁLISE
TÉRMICA

Inicialmente, o método dos elementos finitos foi aplicado a problemas


mecânicos da engenharia estrutural. A análise térmica foi a primeira área não estrutural
a utilizar o método dos elementos finitos para a modelagem de problemas de
engenharia.
A determinação do campo de temperaturas no elemento estrutural é o primeiro
passo para a análise de estruturas em situação de incêndio. A distribuição de
temperaturas influencia a distribuição de tensões no elemento estrutural.
Neste capítulo apresenta-se a formulação e a implementação computacional de
um elemento plano de quatro nós utilizado na análise térmica de estruturas.
O calor propaga-se no aço por condução, cujo fenômeno é regido pela equação
de Poisson que, para domínios bidimensionais, é dada pela equação (3.1),
         
 x    y   Q  c , (3.1)
x  x  y  y  t

em que x e y são as condutividades térmica do material nas direções x e y,

respectivamente, Q é o calor gerado internamente por unidade de volume e de tempo,

 é a massa específica, c é o calor especifico,  é a temperatura e t é o tempo.


Para materiais isótropos, tais como o aço e o concreto, a condutividade térmica
não varia em função das direções x e y, ou seja:
  x   y (3.2)

Para resolver a equação (3.1) é necessário impor as condições de contorno e as


condições iniciais no modelo matemático. As condições gerais de contorno nas quais se
encontra uma estrutura, sujeita à equação de Poisson, são as condições de Dirichlet e de
Neumann. A condição de Dirichlet, ou temperatura prescrita, supõe conhecida para todo
instante a temperatura em uma parte do contorno.
A condição de Neumann supõe que seja conhecido o fluxo de calor, q , em uma
parte do contorno em todo o instante. Matematicamente, essa condição pode ser escrita
pela equação (3.3), ou seja, a derivada do campo de temperaturas em relação à normal à
superfície no contorno, n,

  q . (3.3)
n

43
Uma superfície com condição adiabática ou isolada termicamente pode ser
simulada por meio da imposição de um fluxo nulo ( q  0 ).
Os fenômenos de convecção são incluídos no modelo numérico por meio da
condição de contorno de Neumann, que pode ser reescrita pela equação (3.4),

   c     , (3.4)
n
em que  c é o coeficiente de convecção e  é a temperatura do fluído externo.
Segundo Bathe (1996), a condição de temperatura prescrita em uma parte do
contorno pode ser simulada por meio de um coeficiente de convecção bem maior do que
o coeficiente de condução do material, dessa maneira a temperatura prescrita no nó será
igual à temperatura do fluido adjacente ao nó.
A solução da equação diferencial (3.1) pode ser obtida numericamente por meio
do método dos elementos finitos (MEF). Para a utilização do MEF é necessário escrever
a formulação fraca do problema, a qual é obtida por meio da equação (3.5),
           


w     
 x  x  y  y 
 Q  c  d   0 ,
t 
(3.5)

onde w é uma função arbitrária denominada de função peso e  é o domínio do


problema.
Integrando por partes os dois primeiros termos da equação (3.5), se obtém a
equação (3.6),
             


w      
 x  x  y  y  
d     w
S
 x
l  w m  dS 
y 
, (3.6)
 w  w  
      d
 x x y y
 
onde S representa a região de contorno do problema e l e m são os cossenos diretores.
Substituindo a equação (3.6) em (3.5), tem-se a equação (3.7).

   w c  d    w  l  w  m  dS 


wQd  t S  x y 

. (3.7)
 w  w  
      d  0
 x x y y
 
Discretizando o domínio do problema em um número finito de elementos e
utilizando-se no Método de Galerkin o conjunto de funções de interpolação Ni como

44
funções peso. Assim, a temperatura em qualquer ponto no interior do elemento finito
pode ser aproximada pela a equação (3.8),
n
  x, y, t    N ii , (3.8)
i

onde n é o número de nós do elemento, N i  N i  x, y  são as funções de interpolação e

i são as temperaturas nodais do elemento.


Substituindo a equação (3.8) em (3.7), chega-se no sistema de equações (3.9),
que representa o equilíbrio térmico em cada elemento finito.
 N  N   
   i  i  N i Q  N i  c dAe
Ae
 x x y y t 
para i= 1 até n, (3.9)
 
  Ni  ldSe   N i  mdSe  0
Se x Se y
em que Ae e Se representam a área e a superfície do domínio do elemento
A derivada do campo de temperaturas em relação à normal à superfície no
contorno, n, pode ser escrita em função dos cossenos diretores, l e m, por meio da
equação (3.10),
  
 l m. (3.10)
n x y
Substituindo as equações (3.4) e (3.10) na equação (3.9), se obtém a expressão
(3.11),
  N  N  
    Ni  c dAe    i  i dAe   Ni c     dSe  0 .(3.11)
y y 
NiQdA
t  x x
Ae e Ae Ae Se

Definindo-se a matriz de funções de interpolação N e o vetor de temperaturas



nodais por meio das expressões (3.12),

N   N1 N 2 ... N n 1 N n  , (3.12)

  1  2 ...  n 1  n 
T

onde n é o número de nós do elemento e Ni são as funções de interpolação do elemento


finito.
Assim, pode-se reescrever a equação (3.8) sob forma matricial por meio da
equação (3.13).
n
  x, y , t    N ii  N , (3.13)
i 1 

45
Define-se também a matriz de condutividade do material, para o caso de material
isótropo, por meio da equação (3.14).
 0 
 , (3.14)
 0 
e o vetor gradiente pela expressão (3.15),

 x 
   . (3.15)

 y 
Inserindo-se as expressões (3.12) a (3.15) na equação (3.11) e rearranjando os
termos, obtém-se o sistema de equações (3.16),

 N T  cN  dAe    N  N dAe 
T
Ae   t Ae      , (3.16)
Se  c   e Ae  Se  c  e
T 
N T
 N  dS  N Q dAe  N T
  dS

O sistema de equações (3.16) pode ser reescrito de forma matricial por meio da
equação (3.17),
C  K  F , (3.17)
  
onde  é a primeira derivada do campo de temperaturas em relação ao tempo

 
   t .

A matriz de capacitância total ( K ) do elemento é dada pela equação (3.18),

K  K cond  K conv , (3.18)
  
onde a matriz de condutividade do elemento é dada pela equação (3.19),
K cond   BT  BdAe , (3.19)
 Ae   

em que,
B  N , (3.20)
 
e a matriz de convecção do elemento é dada pela equação (3.21),
K conv   N T  c N dSe , (3.21)
 Se  
em que  c é o coeficiente de convecção.

A matriz de capacidade térmica ( C ) do elemento é dada pela equação (3.22).



C   N T  cNdAe , (3.22)
 Ae  

46
onde  é a massa específica e c é o calor específico.
O vetor de ações térmicas consistentes ( F ) é dado pela expressão (3.23),

F   N Q dAe   N T  c  dS e ,
T 
(3.23)
 Ae  Se 

em que  é a temperatura do fluido externo ao elemento.

As matrizes N e B dependem do tipo de elemento utilizado na discretização da


 
estrutura.
No programa ATERM, desenvolvido nesta Tese, utilizam-se elementos
retangulares planos de quatro nós e elementos especiais de barra de dois nós para a
consideração dos efeitos de transferência de calor por convecção e radiação (Segerlind,
1984), podendo ser justapostos em qualquer face do elemento retangular de quatro nós.
Nos itens a seguir descreve-se a formulação dos elementos utilizados.

3.1. Elemento Retangular de Quatro Nós


Para efetuar a análise térmica de estruturas bidimensionais utiliza-se, nesta Tese,
um elemento retangular plano de quatro nós de lados 2a por 2b, conforme a Figura 3.1.
O campo de temperaturas no interior do elemento pode ser aproximado pela equação
(3.24) em função das temperaturas nodais,
1 
 
  x , y   N    N1 N2 N3 N4   2  , (3.24)
  3 
 
 4 
onde i são as temperaturas nodais e Ni são as funções de interpolação definidas pelas
equações (3.25) a (3.28) (Cook et al, 1989),
1  x  y 
N1  1  1   , (3.25)
4  a  b 
1  x  y 
N 2  1  1   , (3.26)
4  a  b 
1  x  y 
N3  1  1   , (3.27)
4  a  b 

1  x  y 
N 4  1  1   . (3.28)
4  a  b 

47
y

4 3
b
x

b
1 2

a a

Figura 3.1: Elemento retangular de quatro nós.


Para este elemento, a matriz B definida na equação (3.20) é expressa pela

equação (3.29),
 N1, x N2, x N3, x N4, x 
B . (3.29)
  N1, y N2, y N3, y N4, y 

Assim, a matriz de condutividade do elemento retangular plano de quatro nós


definida pela equação (3.19) fica sendo determinada pela expressão (3.30),
a b
K cond    BT  Bdxdy . (3.30)
  a b
 

Substituindo a equação (3.29) em (3.30) e integrando analiticamente, obtém-se


então a matriz de condutividade, conforme mostra a expressão (3.31),
 2 2 1 1   2 1 1 2 
 2 2 1 1  
K cond 
a    b  1 2 2 1 . (3.31)
 6b  1 1 2 2  6a  1 2 2 1 
   
 1 1 2 2   2 1 1 2 
De forma análoga, a matriz de capacidade térmica deste elemento, definida pela
equação (3.22), é expressa pela equação (3.32),
a b
C   c   N T Ndxdy . (3.32)
  a b
 

Substituindo as equações (3.25) a (3.28) em (3.32) e integrando analiticamente,


obtém-se a expressão (3.33) que representa a matriz de capacidade térmica consistente
do elemento retangular de quatro nós,

48
4 2 1 2
 4 2 1 
 cA  2
C , (3.33)
 36  1 2 4 2
 
2 1 2 4
onde A é a área do elemento.
Uma outra forma de aproximar a variação da temperatura em relação ao tempo é
por meio da matriz de capacidade térmica concentrada, a qual é definida pela expressão
(3.34),
1 0 0 0
 0 
 cA 0 1 0
C . (3.34)
 4 0 0 1 0
 
0 0 0 1
O vetor de ações térmicas consistente, F , definido pela equação (3.23), é

dividido em duas parcelas, sendo a primeira parcela correspondente à fonte de calor
geradora interna do elemento, caso exista, e é definida por meio da equação (3.35),
a b
Fcond    QN  T dxdy , (3.35)
  a b

onde Q é a fonte de calor interna no elemento. Ressalta-se que na Engenharia de


Estruturas em situação de incêndio, geralmente, não existe geração interna de calor, ou
seja, Q  0 .
A segunda parcela, devido à transferência de calor por convecção e radiação,
será considerada pelo elemento especial de barra de dois nós, descrito no que se segue.

3.2. Elemento Especial de Barra de Dois Nós


As condições de contorno de Neumann podem ser impostas ao modelo de
elementos finitos por meio de um elemento linear de dois nós de comprimento L,
conforme mostra a Figura 3.2. Ressalta-se que para o modelo ser coerente, o elemento
linear de dois nós tem que coincidir com as faces do elemento finito utilizado para
discretizar a estrutura.
1 2 

Figura 3.2: Elemento finito de convecção.

49
O campo de temperaturas ao longo do elemento pode ser obtido por meio da
equação (3.36),
 
  x  N  1  , (3.36)
  2 

onde i são as temperaturas nodais e N é a matriz de funções de interpolação definido



pela equação (3.37) (Cook et al, 1989),
 x x
N  1  . (3.37)
  L L 
Deve-se observar que o elemento linear de convecção é totalmente compatível
com o elemento retangular de quatro nós formulado anteriormente, pois esse utiliza
funções lineares para interpolar as temperaturas ao longo do lado do elemento.
Para este elemento a contribuição da transferência de calor por convecção,
definida pela equação (3.21), fica expressa pela equação (3.38),
L
K conv    c N T Ndx . (3.38)
 0
 

Por fim, a segunda parcela do vetor de ações térmicas consistente, que é devida
ao fluxo de calor convectivo, é dada pela expressão (3.39),
L
Fconv    c  N T dx , (3.39)
 0

Substituindo a equação (3.37) nas expressões (3.38) e (3.39), a matriz de


convecção e o vetor de ações térmicas consistentes devido ao fluxo de calor convectivo
são fornecidos pelas equações (3.40) e (3.41), respectivamente,
 L 2 1
K conv  c  , (3.40)
 6 1 2 

 L 2
Fconv   c  . (3.41)
  L 2
Os efeitos devidos à radiação podem ser considerados no modelo numérico de
forma análoga à contribuição da transferência de calor por convecção. A matriz e o
vetor de ações térmicas consistente devidos à radiação são dados pelas equações (3.42)
e (3.43).
 2 1
hL
K rad  , (3.42)
 6 1 2 

50
L 2
Frad  h   , (3.43)
 L 2 

em que hr é determinado pela equação (2.6),

hr   res Tg  Ta  Tg2  Ta2  , (3.44)


onde Tg e Ta são temperaturas em Kelvin dos gases quentes e da superfície do material,

respectivamente.  res é a emissividade resultante da superfície e  é a constante de

Stephan-Boltzmann [   5,67.108W (m2 .K 4 ) ].


A emissividade resultante é uma grandeza adimensional, cujo valor está
compreendido entre 0 e 1 (  res  0 para um espelho e  res  1 para um irradiador
perfeito, conhecido como corpo negro), que mede a capacidade da superfície emitir
calor radiativo em relação a um corpo negro.
Define-se K e F como sendo a matriz de capacitância total e o vetor de ações
 
térmicas resultantes do modelo por meio da equação (3.45),
nelem
K

 K
n 1
cond  K conv  K rad
 
nelem
, (3.45)
F

 F
n 1
conv  Frad

onde nelem é o número total de elementos finitos, devendo-se somar os coeficientes das
matrizes ou vetores dos elementos que correspondem aos mesmos nós do modelo.

3.3. Integração Temporal


O sistema de equações (3.17) representa equações diferenciais ordinárias
dependentes do tempo. A solução transiente dessa equação pode ser realizada por meio
dos Métodos de Integração Direta, tais como os Métodos ∝ (Zienkiewicz e Taylor
(1991), Lewis et al (2004) e Bathe (1996)), cuja principal característica é a discretização
da resposta no tempo em intervalos regulares, como mostra a Figura 3.3.

51
Figura 3.3: Métodos ∝ para a integração direta no tempo
A equação (3.17) deve ser satisfeita a cada instante discreto, sendo usualmente
escrita no instante t  t , conforme mostra a equação (3.46),
Ct t  K t t  Ft t . (3.46)
  
Utilizando as séries de Taylor, pode-se escrever a temperatura no tempo por
meio da equação (3.47),
 t t t 2  2t t
t t  t  t     ... . (3.47)
  t 2 t 2
Negligenciando os termos de ordens superiores, a primeira derivada do campo
de temperaturas em relação ao tempo é dada pela equação (3.48),
t t t t  t
    O  t  . (3.48)
t t 
Utilizando os Métodos-∝ (Bathe, 1996), a temperatura no instante t  t é
obtida pela equação (3.49),
t t  1    t  t t . (3.49)
  
Analogamente, pode-se escrever o vetor de ações térmicas no instante t  t
por meio da equação (3.50),
F t t  1    Ft   F t t . (3.50)
  
Substituindo-se as equações (3.48), (3.49) e (3.50) na equação (3.46) e
desprezando o termo O  t  , obtém-se a equação (3.51),

52
   
C  t t t   K t t  1    t    Ft t  1    Ft . (3.51)
  t   
Multiplicando a equação (3.51) por t e após algumas manipulações algébricas,
obtém-se a equação (3.52),
K ef  t t  Fef , (3.52)
  
onde,
K ef  C  tK
   . (3.53)
Fef  C  1    tK  t  t 1    Ft   Ft t 
     
O Método-∝ recebe uma denominação diferente de acordo com o valor de  ,
conforme mostra a Tabela 3.1.
Tabela 3.1: Esquemas de integração no tempo
 Método de
0,0 Euler Explícito
1/2 Crank-Nicolson
2/3 Galerkin
1,0 Euler Implícito

Segundo a estabilidade numérica, os métodos de integração direta são


classificados em: (i) incondicionalmente estáveis – quando a solução não crescer
indefinidamente para quaisquer condições iniciais, isto é, quando for limitada para
qualquer intervalo de tempo, ou (ii) condicionalmente estáveis - quando a solução for
limitada apenas para intervalos de tempo menor do que um certo valor chamado limite
de estabilidade. Nos Métodos-∝, os que apresentam   0, 5 são incondicionalmente
estáveis.
Para garantir a convergência correta da solução, Huang e Usmani (1994) e Lewis
et al (2004) recomendam que o intervalo de tempo a ser utilizado seja dado pela
inequação (3.54).
c 2
t  l (3.54)

onde  , c,  são, respectivamente, a massa especifica, o calor específico e a
condutividade térmica do material e l, a menor dimensão do elemento finito.
O texto de revisão da NBR 14323 (2011) recomenda que o intervalo de tempo

seja inferior a 5 segundos e não superior a 25000  u / A  , onde u é o perímetro da


1

seção exposta ao fogo e A é a área da seção transversal.

53
O programa SAFIR (Franssen et al, 2005), desenvolvido na Universidade de
Liège, recomenda o uso de   0, 90 , enquanto o programa Super Tempcalc
(Anderberg, 1997) utiliza o esquema de Galerkin.

3.4. Não Linearidade do Material

Uma vez que as matrizes C , K e o vetor de ações térmicas F são dependentes


  
da temperatura, a equação (3.52) torna-se não linear, devendo-se aplicar um método
incremental e iterativo para se obter a solução do problema. Neste trabalho utilizar-se-á
o método de Newton-Raphson.
Reescrevendo a equação (3.52) para a iteração j, obtém-se a equação (3.55).
Kefj 1t 
j j 1
t  Fef (3.55)
  
onde,
 t 
j
t   t t  
j 1 j
(3.56)
  
Substituindo (3.53) e (3.56) em (3.55), obtém-se a expressão (3.57).

C    tK   t j 1t    j    C   t 1    K   t   t  1    Ft   Ft i1t  (3.57)


j 1

      t   
Efetuando algumas manipulações algébricas, a equação (3.57) pode ser reescrita
por meio da equação (3.58).
K efj 1 j   j 1 (3.58)
  
onde  é o vetor de temperaturas residuais dado pela equação (3.59).

 j 1  Fefj 1  R j 1 (3.59)
  
em que,
Kefj 1  Ct j t  tKt t
1 j 1
(3.60)
  
Fef  Ct  t 1    K t   t  t 1    Ft   Ft 
j 1 j 1
 (3.61)
 
t
    
R j 1  Kefj 1t 
j 1
t (3.62)
  
O processo iterativo atinge convergência quando a inequação (3.63) é satisfeita.
t 
j
t  t t
j 1

   TOL (3.63)
t 
j 1
t

onde . é a norma euclidiana e TOL é a tolerância exigida.

54
3.5. Implementação Computacional
Desenvolveu-se um programa de computador com base no Método dos
Elementos Finitos (MEF), denominado ATERM, para efetuar a análise térmica de
estruturas em domínios bidimensionais de qualquer geometria e em regime transiente ou
permanente.
O programa ATERM, desenvolvido em linguagem Fortran F90 baseou-se no
programa ANEST (La Rovere et al, 2003), e é subdividido em módulos, ligados por
arquivos binários, que possibilitam a comunicação interna entre esses módulos. O
programa gera também arquivos de texto que possibilitam ao usuário visualizar todos os
resultados fornecidos pelo programa.
A Figura 3.4 mostra o fluxograma utilizado pelo programa. Em seguida,
descrevem-se sucintamente as principais funções dos módulos envolvidos no algoritmo
de cálculo.
 
INÍCIO 

ESTRU 

CONV 

QUAD 

INICIAL 

TERMICA 

ATERMVIEW 

FIM 

Figura 3.4: Fluxograma do programa de análise térmica

55
No módulo ESTRU são feitas a leitura das coordenadas nodais, das
conectividades dos elementos e das temperaturas nodais prescritas (se houver). Com
esses dados, o módulo numera as equações e renumera automaticamente os nós de
modo a minimizar a largura de banda da matriz de condutividade, que é armazenada em
perfil. É gerado um arquivo de texto com o mesmo nome do arquivo de dados, mas com
extensão .EST, onde o usuário pode visualizar os resultados gerados pelo
módulo.
O módulo CONV é responsável pela leitura das regiões do modelo a ser
analisado onde possuem transferência de calor por convecção ou radiação. Deve-se
salientar que nos modelos onde não há temperaturas nodais prescritas e nem geração de
calor, é fundamental, para que a matriz de rigidez do modelo não seja singular, a
imposição de regiões que possuem transferência de calor por convecção ou radiação. É
gerado um arquivo de texto puro com o mesmo nome do arquivo de dados, mas com
extensão .CNV, onde o usuário pode visualizar os resultados gerados pelo módulo.
O módulo QUAD é responsável pela leitura das propriedades térmicas dos
materiais e pela formação das matrizes de rigidez e dos vetores de ações térmicas
equivalentes dos elementos retangulares. Devido ao fato do problema possuir apenas
um grau de liberdade, não requerendo grande esforço algébrico, as matrizes e os vetores
de ações térmicas foram obtidos por meio de integração analítica. A matriz de
capacidade térmica pode ser obtida por meio da formulação consistente ou concentrada.
É gerado um arquivo de texto puro com o mesmo nome do arquivo de dados, mas com
extensão .QUD, onde o usuário pode visualizar os resultados gerados pelo módulo.
O módulo INICIAL é responsável pela formação da matriz de condutividade e
do vetor de ação térmica global do modelo a ser analisado.
O módulo TERMICA foi desenvolvido para utilizar o método da integração
direta conforme descrito no item 4.3. Para cada instante de tempo, as matrizes de rigidez
são atualizadas de acordo com as propriedades térmicas. O esquema de integração no
tempo (Método-α) pode ser modificado pelo usuário por meio do arquivo de entrada de
dados. É gerado um arquivo de texto puro com o mesmo nome do arquivo de dados,
mas com extensão .TER, onde o usuário pode visualizar os resultados gerados pelo
módulo. A Figura 3.5 mostra o fluxograma do módulo TERMICA.
Finalmente, o módulo ATERMVIEW, desenvolvido no ambiente MATLAB,
permite a visualização gráfica da distribuição de temperaturas para todos os instantes de

56
tempo, além da construção de gráficos que mostram a evolução da temperatura nodal
com o passar do tempo.

Figura 3.5: Fluxograma do módulo TERMICA

57
3.6. Validação Numérica
Para validar o programa de análise térmica, ATERM, desenvolvido nessa Tese,
foram realizadas três simulações numéricas cujos resultados foram comparados aos
obtidos por meio do programa Super Tempcalc (Anderberg, 1997), reconhecido
mundialmente na análise térmica de estruturas em situação de incêndio.
O programa Super Tempcalc (STC) foi desenvolvido em ambiente Matlab pelo
FSD (Fire Safety Design), localizado em Lund, Suécia. O STC utiliza o método dos
elementos finitos para a análise térmica de estruturas bidimensionais. O programa
utiliza elementos triangulares de três nós e retangulares de quatro nós. As matrizes de
condutividade e de capacidade térmica são obtidas por meio de integração analítica. A
integração temporal utiliza o método de Galerkin (   2 / 3 ).
Apesar de o programa ATERM permitir que o usuário escolha o esquema de
integração temporal, utilizou-se nos exemplos a seguir o método de Galerkin para poder
comparar os resultados obtidos por meio dos programas ATERM e STC.
As simulações realizadas foram (i) viga de concreto de 30 x 30 cm com todos os
lado expostos ao incêndio, (ii) pilar de aço em contato com alvenaria e (iii) pilar misto
de aço e concreto. As propriedades térmicas adotadas para o concreto tiveram por base
o Eurocode 2 parte 1.2, enquanto, para o aço, adotaram-se as características físico-
térmicas presentes no texto de revisão da ABNT NBR 14323 (2011).
Em todos os exemplos a ação térmica é determinada de acordo com a curva de
incêndio-padrão ISO 834 (ABNT NBR 5628:2001) e as estruturas foram expostas a 60
minutos de incêndio.

3.6.1. Viga de Concreto


Como primeiro exemplo, é analisado o aquecimento de uma viga de concreto de
seção retangular de dimensões 30x30 cm, conforme mostra a Figura 3.6. Admite-se que
o incêndio ocorra nos quatro lados da viga. As propriedades térmicas do concreto estão
apresentadas na Tabela 3.2, conforme recomendações do Eurocode 2 parte 1.2 (2004).
O fator de emissividade e o coeficiente de convecção foram adotados iguais a 0,7 e 25
W/m².ºC, respectivamente, conforme recomendações do Eurocode 2 parte 1.2 (2004).
Adota-se para temperatura inicial da estrutura o valor de 20ºC e o intervalo de tempo
igual a 7,2 segundos.

58
Tabela 3.2: Propriedades térmicas do concreto.
Temperatura Calor Massa Condutividade
(ºC) Específico Especifica Térmica
(J/kgºC) (kg/m³) (W/mºC)
20 900 2400 1,36
99 900 2400 1,231
100 1470 2400 1,230
115 1470 2400 1,211
200 1000 2352 1,111
300 1050 2316 1,003
400 1100 2280 0,907
500 1100 2259 0,823
600 1100 2238 0,749
700 1100 2217 0,687
800 1100 2196 0,637
900 1100 2175 0,598
1000 1100 2154 0,570
1100 1100 2133 0,554
1200 1100 2112 0,549

Figura 3.6: Geometria da viga de concreto submetida ao incêndio.


A estrutura foi discretizada em elementos quadrados, sendo que para o programa
ATERM foram utilizadas 3 malhas: na Malha 1 utilizaram-se elementos de 2,0 cm de
lado, na Malha 2 elementos de 1,0 cm de lado e, na Malha 3, elementos de 0,5 cm de
lado. Para o programa STC utilizou-se apenas a Malha 3. A Figura 3.7 apresenta a
influência do refinamento da malha na evolução da temperatura em função do tempo de
um nó localizado a x=y=2,0 cm do canto inferior esquerdo da viga. Observa-se que com
o refinamento da malha as temperaturas se elevam um pouco, até o instante t = 35

59
minutos (0,60 hora), e após esse instante as temperaturas obtidas para as diferentes
malhas são praticamente iguais. Nota-se que a solução tende a convergir com o
refinamento da malha, sendo que para a malha 3 os resultados obtidos pelos programas
ATERM e STC são iguais, conforme mostra a Figura 3.8.
800

700

600
Temperatura (ºC)

500

400

300

200

100
Tempo (h)
0
0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00
Malha 1 Malha 2 Malha 3

Figura 3.7: Influência da malha na temperatura nodal.


800

700

600
Temperatura (ºC)

500

400

300

200

100
Tempo (h)
0
0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00
ATERM STC

Figura 3.8: Comparação dos resultados obtidos pelos programas ATERM e


STC utilizando a malha 3.
Observa-se que nos instantes iniciais, a Malha 1 apresenta temperaturas
inferiores à temperatura inicial da viga. Esses resultados devem-se a um problema de
instabilidade numérica (Segerlind, 1984), e pode ser corrigido por meio de três
alternativas: (i) refinamento da malha espacial, (ii) utilização de um intervalo de tempo
maior nos instantes iniciais da análise e (iii) utilização da matriz de capacidade térmica
concentrada no modelo numérico. Ressalta-se que o programa STC utiliza somente a
matriz de capacidade térmica consistente. A Figura 3.9 mostra os resultados obtidos

60
para a malha 1 utilizando a matriz de capacidade térmica concentrada e consistente.
Observa-se que após 24 minutos de incêndio, a temperatura obtida por meio da matriz
consistente é superior à temperatura obtida por meio da matriz concentrada. Aos 60
minutos de incêndio, a diferença de temperaturas obtidas por meio desses dois
processos é igual a 5,94ºC. Essa diferença tende a diminuir com o refinamento da malha
espacial.
800

700

600
Temperatura (ºC)

500

400

300

200

100
Tempo (h)
0
0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00
Concentrada Consistente

Figura 3.9: Evolução da temperatura para a malha 1 utilizando a matriz de


capacidade térmica concentrada e consistente.

3.6.2. Pilar de aço em contato com alvenaria


O programa ATERM também permite a análise térmica de materiais não
estruturais, tal como a alvenaria. Para demonstrar a análise térmica de modelos com
esses materiais, realiza-se a análise térmica de um pilar de aço com seção transversal em
forma de “I” em contato com alvenaria revestida com argamassa de cimento e areia com
15 mm de espessura, sendo submetido ao aquecimento em apenas um lado (Silva et al,
2008). Nesse exemplo, considera-se que a superfície oposta ao incêndio seja adiabática.
Considera-se nesta análise que as mesas do perfil HEB 200 estejam em contato direto
com a alvenaria e que a ação do incêndio esteja atuante em uma extensão igual a 940
mm da parede, conforme mostra a Figura 3.10. O tempo de exposição ao fogo foi igual
a 60 minutos.

61
(a) (b)

Figura 3.10: Pilar em contato com alvenaria: (a) disposição da alvenaria e (b)
dimensões do perfil (em mm).
As características físico-térmicas adotadas para o concreto e o aço estão
apresentadas na Tabela 3.3. A massa específica do aço foi considerada constante e igual
a 7850 kg/m³. Para a alvenaria, as propriedades térmicas adotadas não variam com a
temperatura, sendo adotados os seguintes valores: (i) calor específico igual a 840
J/kgºC, (ii) massa específica igual a 1600 kg/m³ e (iii) condutividade térmica igual a 0,7
W/mºC.
Para ambos os programas o modelo foi discretizado em elementos quadrados de
4 mm de lado, totalizando 10228 nós e 9882 elementos. Para a discretização temporal
adotou-se o método de Galerkin e um intervalo de tempo de 7,2 segundos. A Figura
3.11 mostra a variação da temperatura no nó localizado na altura média da alma do
perfil metálico na face onde incide o calor. Observa-se que os resultados obtidos pelos
programas ATERM e STC são praticamente idênticos.
A distribuição de temperaturas obtidas pelos programas ATERM e STC (Silva et
al, 2008) para os instantes de 30 e 60 minutos, conforme mostra a Figura 3.12. Observa-
se que o campo de temperaturas obtido pelos programas ATERM e STC é praticamente
o mesmo.

62
Tabela 3.3: Características físico-térmicas adotadas.
Concreto/argamassa de cimento e areia Aço
Calor
específico Massa Condutividade Calor Condutividade
Temperatura (umid=1,5%) especifica térmica específico térmica
(ºC) (J/kgºC) (kg/m³) (W/mºC) (J/kgºC) (W/mºC)
20 900 2400 1,33 439,80 53,33
100 900 2400 1,23 487,62 50,67
115 1470 2400 1,21 494,92 50,17
200 1000 2352 1,11 529,76 47,34
300 900 2316 1,00 564,74 44,01
400 1100 2280 0,91 605,88 40,68
500 1100 2280 0,82 666,5 37,35
600 1100 2280 0,75 759,92 34,02
700 1100 2280 0,69 1008,16 30,69
735 1100 2280 0,67 5000 29,52
736 1100 2280 0,67 4109 29,49
800 1100 2280 0,64 803,26 27,36
900 1100 2280 0,60 650,44 27,3
1000 1100 2280 0,57 650 27,3
1100 1100 2280 0,55 650 27,3
1200 1100 2280 0,55 650 27,3
1500 1100 2280 0,60 650 27,3

1000

900

800

700
Temperatura (ºC)

600

500

400

300
ATERM
200
STC
100

0
Tempo (h)
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2

Figura 3.11: Variação da temperatura com o tempo no meio da alma do perfil

63
Figura 3.12: Distribuição de temperatura, em ºC, obtida pelos programas
(a) ATERM e (b) STC.

3.6.3. Pilar Misto de Aço e Concreto


Como último exemplo, efetua-se a análise térmica bidimensional de um pilar
misto, constituído de dois perfis formados a frio de seção Ue 200x100x25x3,0
preenchido com concreto, conforme mostra a Figura 3.13. O fator de emissividade e o
coeficiente de convecção foram adotados iguais a 0,7 e 25 W/m².ºC, respectivamente,
conforme recomendações do Eurocode 2 parte 1.2 (2004). Adota-se 20ºC para
temperatura inicial da estrutura. As propriedades térmicas do concreto estão
apresentadas na Tabela 3.2, enquanto as propriedades térmicas do aço estão
apresentadas na Tabela 3.3 (ver item 2.6 desta Tese).
A análise foi efetuada nos programas ATERM e STC, sendo que, em ambos os
programas, o pilar foi discretizado em elementos quadrados de 3 mm de lado,
totalizando 4761 nós e 4624 elementos finitos.
Considerando o pilar exposto ao incêndio nos quatro lados, a evolução da
temperatura para o nó localizado no meio da alma do perfil está ilustrada na Figura 3.14
e a Figura 3.15 mostra a variação da temperatura no centro do pilar obtidos por meio
dos programas ATERM e STC.

64
Figura 3.13: Pilar misto preenchido com concreto (dimensões em cm).
1000
900
800
700
Temperatura (ºC)

600
500
400
300
200 ATERM
STC
100
0 Tempo (h)
0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00

Figura 3.14: Variação da temperatura com o tempo no meio da alma do perfil

180

160

140
Temperatura (ºC)

120

100

80

60

40 ATERM

20 STC

0 Tempo (h)
0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00

Figura 3.15: Variação da temperatura com o tempo no centro do pilar.

65
Outra forma de representar a distribuição de temperaturas é por meio de
isotermas. As Figuras 5.16 a 5.19 mostram as isotermas calculadas pelo programa
ATERM para 30 e 60 minutos de exposição ao incêndio padrão, considerando quatro
cenários de exposição ao fogo: (i) somente a face inferior do pilar aquecido, (ii)
aquecimento nas faces inferior e superior do pilar, (iii) somente a face esquerda do pilar
exposta ao incêndio e (iv) as faces esquerda e direita do pilar expostas ao incêndio.

Figura 3.16: Isotermas para o pilar aquecido na face inferior:


(a) 30 minutos e (b) 60 minutos.

Figura 3.17: Isotermas para o pilar aquecido na face inferior e superior:


(a) 30 minutos e (b) 60 minutos.

66
Figura 3.18: Isotermas para o pilar aquecido na face esquerda:
(a) 30 minutos e (b) 60 minutos.

Figura 3.19: Isotermas para o pilar aquecido na face esquerda e direita:


(a) 30 minutos e (b) 60 minutos.

3.7. Dimensionamento de Estruturas em Incêndio


A partir do campo de temperaturas obtido pelo programa ATERM torna-se
possível o dimensionamento de estruturas em situação de incêndio com base em
procedimentos normatizados. Com este objetivo, foi desenvolvido um módulo adicional

67
ao programa ATERM, denominado ATERM-DIM, para realizar o dimensionamento de
vigas de aço continuamente travadas.
O programa ATERM-DIM calcula, a partir da distribuição de temperaturas
obtida da análise térmica, o momento resistente de vigas de aço continuamente travadas
em situação de incêndio com base no procedimento recomendado pelo Eurocode 3 parte
1.2 (2005).
Com a distribuição não uniforme da temperatura na seção transversal da viga
provocado pelo gradiente térmico, a linha neutra plástica se afasta da linha neutra da
seção transversal. A posição da linha neutra plástica é determinada de maneira iterativa
até que ocorra o equilíbrio de forças na seção transversal, ou seja, quando a equação
(3.64) é satisfeita,
nel

 Ak
i 1
i y ,i fy  0 , (3.64)

onde nel é o número de elementos do modelo, Ai é a área do elemento finito, ky,i é o


redutor da resistência ao escoamento do aço em função da temperatura média do
elemento e fy é a resistência ao escoamento do aço, sendo positiva quando o elemento
estiver na região tracionada e negativa quando o elemento estiver comprimido. Caso a
linha neutra plástica corte o elemento finito, o programa divide o elemento
automaticamente em duas partes, uma comprimida e a outra tracionada.
Uma vez determinada a posição da linha neutra plástica, o momento fletor
resistente da viga é calculado por meio da equação (3.65),
nel
M R , fi   Ai yi k y ,i f y , (3.65)
i 1

onde yi é a distância entre o centro geométrico do elemento i e a linha neutra plástica.


Para exemplificar a aplicação do programa ATERM-DIM será efetuada a análise
térmica de uma viga de aço com seção transversal VS 200x19, conforme mostra a
Figura 3.20, sendo a face externa da mesa inferior aquecida. Considera-se que a viga
seja constituída de aço ASTM A-570 GR 36 cuja resistência ao escoamento à
temperatura ambiente é igual a 250 MPa.

68
Figura 3.20: Viga VS 200x19 submetida ao incêndio (dimensões em mm).
A viga foi discretizada em 470 elementos quadrados de 3,15 mm de lado. As
propriedades térmicas do aço estão apresentadas na Tabela 3.3. Após 60 minutos de
incêndio, conforme a curva de incêndio-padrão ISO 834, a Figura 3.21 mostra a
distribuição de temperaturas obtidas na viga de aço por meio do programa ATERM.
Conforme pode ser observado, durante o incêndio ocorre um gradiente térmico
devido a diferença de temperaturas entre as mesas superior e inferior, o qual provoca
diferentes reduções da resistência ao escoamento do aço.
Adotando-se os redutores da resistência ao escoamento do aço segundo as
recomendações do Eurocode 3 parte 1.2 (2005), conforme mostra a Tabela 3.4, a Figura
3.21 apresenta a variação do momento fletor resistente característico em incêndio com o
tempo de exposição ao incêndio.

Tabela 3.4: Redutores da resistência ao escoamento do aço


Temperatura 20 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200
ºC
ky 1,00 1,00 0,78 0,47 0,23 0,11 0,06 0,04 0,02 0,00
50
45
40
35
30
Mfi (kNm)

25
20
15
10
5
0
0 10 20 30 40 50 60
Tempo (min)

Figura 3.21: Variação do momento fletor resistente característico em função do


tempo de exposição ao fogo.

69
Pode-se observar que após 8,50 minutos de exposição da viga ao incêndio-
padrão, o aço começa a perder resistência, ou seja, a temperatura máxima da viga é
superior a 400ºC. Aos 29 minutos de exposição ao incêndio, o momento fletor resistente
da viga é cerca de 50% do momento fletor resistente à temperatura ambiente.

70
4. INSTABILIDADE DAS ESTRUTURAS

Os perfis de aço formados a frio são obtidos a partir da conformação a frio de


chapas finas de aço e são produzidos em prensas dobradeiras ou em perfiladeiras. Esses
processos de fabricação permitem a produção de uma grande variedade de seções
transversais, conforme ilustra a Figura 4.1. Como esses perfis são constituídos de
chapas esbeltas, o projeto dessas estruturas, à temperatura ambiente ou elevada, é
governado pelos fenômenos de instabilidade local que, geralmente, são menos
relevantes em importância nos perfis de aço laminados ou soldados.

Figura 4.1: Tipos de seções transversais de perfis formados a frio.


No projeto de estruturas a noção de estabilidade está associada ao conceito de
equilíbrio. Quando uma estrutura está submetida à ação de forças externas, exibe uma
configuração de equilíbrio definida pelos valores dos deslocamentos ocorridos de forma
que as forças internas equilibrem as externas em todos os seus pontos. A estabilidade
dessa configuração pode ser avaliada por meio do comportamento da estrutura, após
sofrer uma perturbação causada por uma pequena ação exterior arbitrária. Ao cessar
essa perturbação, se a estrutura regressar à configuração de equilíbrio original, o
equilíbrio é estável, caso contrário, quando os deslocamentos continuam a crescer
indefinidamente, a configuração de equilíbrio é instável. A configuração de equilíbrio
indiferente, quando os deslocamentos aumentam um determinado valor e não regressam
à posição anterior à aplicação da perturbação, pode ser considerada como equilíbrio
estável, não possuindo interesse em Engenharia de Estruturas.

71
A mudança da geometria da estrutura, decorrente das ações mecânicas, pode
provocar o surgimento de fenômenos de instabilidade. A instabilidade pode surgir de
dois modos: (i) instabilidade bifurcacional (Figura 4.2a) ou (ii) instabilidade por ponto
limite, conhecido por snap-through na literatura anglo-saxônica. (Figura 4.2b).
O diagrama força-deslocamento de uma estrutura susceptível à instabilidade
bifurcacional, como, por exemplo, o pilar de Euler, apresenta (ver a Figura 4.2a): (i)
uma trajetória de equilíbrio fundamental (linear ou não linear), que se inicia na origem
do diagrama força-deslocamento, (ii) uma trajetória de equilíbrio que não passa na
origem do diagrama força-deslocamento e (iii) um ponto de bifurcação, que corresponde
à interseção das duas trajetórias de equilíbrio e no qual as configurações de equilíbrio da
trajetória fundamental passam de estáveis para instáveis.
Os fenômenos de instabilidade de estruturas em forma de arcos abatidos são
caracterizados por meio do aparecimento de ponto-limite. Nesse caso, o diagrama força-
deslocamento é caracterizado por (ver a Figura 4.2b): (i) uma trajetória de equilíbrio não
linear, que se inicia na origem do diagrama, (ii) um ponto limite, que corresponde ao
ponto de declividade nula da trajetória de equilíbrio e no qual as configurações de
equilíbrio passam de estáveis para instáveis e (iii) caso a força for aumentada quando a
estrutura se encontrar no ponto limite, a estrutura passa, dinamicamente, para uma
configuração de equilíbrio afastada e, por isso, o fenômeno é denominado ponto limite
com reversão. No caso de barras formadas de material com comportamento não linear,
com imperfeições geométricas iniciais, não há equilíbrio estável após o ponto-limite
que, assim, é chamado de ponto-limite sem reversão. Esse é o caso das barras de
concreto ou de aço na região elastoplástica.

Figura 4.2: Tipos de instabilidade: (a) por bifurcação e (b) por ponto limite.

72
No caso de pilares de aço reais, ou seja, elementos com imperfeição geométrica
inicial, tensões residuais e com material elastoplástico , o fenômeno da instabilidade
ocorre por aparecimento de ponto limite conforme mostra a Figura 4.3.

Ponto limite
Força

Configuração
instável

Configuração
estável

Deslocamento
Figura 4.3: Instabilidade de pilares de aço reais por ponto limite.
A instabilidade bifurcacional, também conhecida como flambagem, é
caracterizada pela ocorrência de duas ou mais trajetórias de equilíbrio, sendo que esse
fenômeno só ocorre em sistemas estruturais ideais, ou seja, estruturas sem imperfeições
geométricas iniciais (deslocamentos, excentricidades de força). Em estruturas com
imperfeições geométricas iniciais, estruturas reais, observa-se que deixa de ocorrer
bifurcação de equilíbrio, ou seja, só existe uma trajetória. O efeito das imperfeições
geométricas iniciais de barras, chapas e cilindros provoca uma redução na rigidez do
elemento estrutural, conforme mostra a Figura 4.4. As chapas sofrem uma considerável
perda de rigidez para as forças superiores à força de bifurcação, mas não entram em
colapso. Esse comportamento característico das chapas é denominado de resistência
pós-crítica e deve ser considerado na avaliação da capacidade resistente última de
chapas e de elementos estruturais constituídos de chapas finas, como é o caso dos perfis
formados a frio.

73
Figura 4.4: Trajetórias de equilíbrio, adaptada de Reis e Camotim (2001).
A análise de estabilidade de qualquer tipo de estrutura envolve (i) o
estabelecimento das equações de equilíbrio na configuração deformada, (ii) as equações
constitutivas, (iii) a consideração de relações cinemáticas não lineares e (iv) as equações
de compatibilidade (Reis e Camotim, 2001).
Em muitos problemas de instabilidade bifurcacional, a trajetória fundamental de
equilíbrio é linear e se pretende determinar somente a força crítica, ou seja, o menor
valor de bifurcação e o respectivo modo de instabilidade, i.e., o aspecto da configuração
deformada.
Na análise linear de estabilidade de um sistema estrutural, as equações de
equilíbrio são estabelecidas na configuração deformada e essas equações são
linearizadas em relação aos deslocamentos envolvidos, isto é, são os deslocamentos que
definem os modos de instabilidade. Desse modo, as equações de equilíbrio são
estabelecidas em uma configuração deformada que está ligeiramente afastada da
trajetória fundamental. Esse tipo de análise não fornece quaisquer indicações sobre a
trajetória de equilíbrio da estrutura, ou seja, as deformações para forças superiores à
força crítica de bifurcação do equilíbrio. Matematicamente, resolver um problema de
análise linear de estabilidade de sistemas discretos (i.e. quando a configuração
deformada da estrutura é definida por um número finito de parâmetros) conduz à
solução de um problema de autovalores e autovetores, pois a força crítica anula o
determinante da equação de equilíbrio tornando o sistema indeterminado. A anulação do
determinante conduz a um sistema de equações características cuja solução são as forças
de bifurcação do sistema discreto.

74
Para o conhecimento da trajetória de equilíbrio, considerando a não linearidade
geométrica, de um sistema estrutural, é necessário considerar termos não lineares nas
equações de equilíbrio, estabelecidas na configuração deformada, ou seja, efetuar uma
análise não linear de estabilidade. Nesse tipo de análise, é necessária a utilização de
métodos para a solução de sistemas de equações não lineares, tais como, por exemplo, o
Método de Newton-Raphson e do Comprimento do Arco. É usual a utilização do modo
de instabilidade crítico, obtido por meio da análise linear de estabilidade, como
representativo das imperfeições iniciais que fazem parte do problema de instabilidade
não linear.
Em relação à estabilidade dos perfis com seção aberta e parede fina
(classificação dos perfis formados a frio, objetos de estudo da presente tese), podem
ocorrer os modos de instabilidade de natureza global, local e distorcional:
(i) Os modos de instabilidade global por flexão, torção ou flexotorção,
característicos de barras comprimidas, são caracterizados pela ocorrência
de deformação do eixo da barra, sendo que a seção transversal da barra
apresenta unicamente deslocamentos de corpo rígido (translação ou
rotação). Na instabilidade global por flexão ocorre flexão da barra
conforme mostra a Figura 4.5a. Na instabilidade global por flexotorção
verifica-se a ocorrência de uma flexão em torno do eixo de menor inércia
combinada com uma torção e empenamento da seção transversal (ver
Figura 4.5b). A instabilidade por torção é característica de perfis
duplamente simétricos e com baixa rigidez à torção (ver Figura 4.5c).

Figura 4.5: Modos de instabilidade globais: (a) de flexão, (b) de flexotorção e


(c) de torção
(ii) Os modos de instabilidade locais envolvem as deformações das paredes
da barra, permanecendo o seu eixo reto. É ainda conveniente distinguir
entre os fenômenos de instabilidade local: (i) Modo Local de Chapa –

75
ocorre somente deslocamentos de flexão das paredes que constituem o
perfil (i.e., os cantos que unem as chapas dos perfis permanecem
indeslocados), conforme mostra a Figura 4.6a, e (ii) o Modo Distorcional
– ocorrem flexão de uma ou mais chapas juntamente com deslocamentos
dos cantos comuns a essas chapas, conforme ilustra a Figura 4.6b.

Figura 4.6: Modos de instabilidade locais: (a) local de chapa e (b) distorcional.

Atualmente há uma tendência de denominar os modos globais de flexão e


flexotorção de efeitos locais, pois estes modos de instabilidade estão relacionados ao
elemento estrutural. Os modos de instabilidade local de chapa e distorcionais são
denominados de efeitos localizados, pois esses modos estão relacionados às
deformações nas seções transversais do perfil. Nesta linha, os efeitos globais se referem
ao comportamento de toda a estrutura.
Dependendo da sua geometria (forma e dimensões da seção transversal e
comprimento), o comportamento estrutural de uma barra com seção aberta e parede fina
pode ser tanto influenciado por qualquer um desses dois tipos de modos de instabilidade
(global ou local), como por ambos simultaneamente.
Levando em consideração esses aspectos, uma barra com as características
referidas pode classificar-se, de acordo com a relação que existe entre o comprimento e
o comportamento de estabilidade como: (i) “barra curta”, se ocorrer apenas o modo de
instabilidade local, (ii) “barra longa”, se ocorrer um modo de instabilidade global e, (iii)
“barra intermediária”, se a instabilidade ocorrer numa combinação de um modo local
com um modo global.
Os perfis formados a frio são constituídos de seções de parede fina com elevada
esbeltez, o que os tornam altamente suscetíveis a fenômenos de instabilidade local,
distorcional e global. Assim, para a correta avaliação da eficiência estrutural desses
elementos, é necessário o estudo de estabilidade dos perfis formados a frio. Esse estudo

76
envolve a identificação dos modos de instabilidade relevantes, o cálculo das tensões de
bifurcação que os provocam e a determinação da trajetória de equilíbrio.
O valor da tensão crítica de bifurcação e a natureza do modo de instabilidade
dependem do comprimento da barra, da forma e das dimensões da seção transversal e
das condições de contorno, ou seja, das restrições aos deslocamentos e rotações
existentes nas seções transversais localizadas nas extremidades da barra, (Prola, 2001).
Como os modos de instabilidade dependem fundamentalmente do
comportamento das chapas que constituem a seção transversal do perfil, apresenta-se a
seguir a revisão da análise de estabilidade de chapas.

4.1. Instabilidade de Chapas


As equações que descrevem a estabilidade elástica de chapas são dadas pelo
sistema de equações diferenciais (4.1),
N x , x  N xy , y  0
N y , y  N xy , x  0 , (4.1)
D f 4 w   N x w, xx  2 N xy w, xy  N y w, yy   p

onde  4 é o operador diferencial de quarta ordem definido pela equação (4.2),


4 w  wxxxx  wyyyy  2wxxyy , (4.2)

N x , N y e N xy são os esforços de membrana por unidade de comprimento da chapa

associados a um modo de instabilidade e p é o carregamento perpendicular ao plano


médio da chapa. Df é a rigidez à flexão da chapa dada pela expressão (4.3),
Et 3
Df  , (4.3)
12 1  2 

em que E e  são o módulo de elasticidade e o coeficiente de Poisson do material,


respectivamente, e t é a espessura da chapa.
A primeira solução desse problema foi investigada por Bryan, em 1891, para
uma chapa retangular simplesmente apoiada submetida a forças de compressão
uniforme no seu plano médio, conforme ilustra a Figura 4.7. Posteriormente,
Timoshenko e Woinowsky-Krieger (1959) estenderam esses estudos considerando
outras condições de contorno.

77
x
b


a

y

Figura 4.7: Chapa retangular submetida à compressão uniforme.
As condições de contorno da chapa simplesmente apoiada são dadas pelas
equações (4.4),
w  w, xx  0 em x  0, a
. (4.4)
w  w, yy  0 em y  0, b

Na trajetória fundamental, a chapa está submetida a um estado uniaxial de tensão


definido pelas expressões (4.5),
N x   t
, (4.5)
N y  N xy  0

onde t é a espessura da chapa.


Substituindo as expressões (4.5) em (4.1), tem-se a equação (4.6),
D f 4 w   tw, xx  0 . (4.6)

As soluções da equação (4.6) que satisfazem as condições de contorno (4.4)


podem ser escritas na forma de uma série dupla de Fourier, como mostra a equação
(4.7) (Timoshenko e Woinowsky-Krieger, 1959):
 
m x n y
w  x, y    wmn sen sen , (4.7)
m 1 n 1 a b
onde wmn são coeficientes a determinar.
Substituindo a solução (4.7) na equação diferencial (4.6), chega-se à equação
(4.8), que permite obter os valores dos coeficientes wmn ,

78
  m 2 n 2  2  t m 2 2 
wmn  4  2  2    0. (4.8)
  a b  D f a2 

A partir da solução não trivial da equação (4.8) é possível concluir que existe um
modo de instabilidade com m semicomprimentos de onda longitudinais e n
semicomprimentos de onda transversais, o qual está associado a uma tensão de
bifurcação  b( mn ) , cujo valor corresponde ao anulamento do termo entre colchetes da
equação (4.8), ou seja:
2
 2E  t 
 ( mn )
 kmn   , (4.9)
12 1  2   b 
b

onde
2
 b n2 a 
kmn  m   . (4.10)
 a m b
Para obter o valor da tensão crítica de bifurcação  cr , o menor dos valores das
tensões de bifurcação, é necessário determinar a combinação de valores m e n que
minimiza a equação (4.10). Observa-se que, independentemente do valor de m, o menor
valor de kmn corresponde sempre a n=1 (uma única semionda transversal). Portanto, o

coeficiente de bifurcação kb é definido pela equação (4.11),


2
 b 1 a
kb   m   . (4.11)
 a m b
O valor da tensão crítica de bifurcação  cr é obtido a partir do valor de m que
minimiza a equação (4.11). A variação dos valores dos coeficientes de bifurcação com a
relação entre as dimensões (a e b) da chapa está mostrada nas curvas da Figura 4.8.

79
Figura 4.8: Variação dos coeficientes de bifurcação com a relação a/b
(Timoshenko e Woinowsky-Krieger, 1959).
Observa-se que quando o comprimento da chapa for um múltiplo inteiro da sua
largura, kb  4 . Entretanto, para as chapas longas (a>4b), sempre se tem kb  4 , para

qualquer relação entre comprimento e largura da chapa.


A solução analítica do sistema de equações para outros carregamentos e
condições de contorno não é trivial. O livro de Timoshenko e Gere (1963) disponibiliza
uma série de resultados para vários casos de forças de compressão e de situações de
apoio das chapas.
Nos casos em que a tensão de compressão da chapa isótropa ultrapassa o limite
de proporcionalidade fp, a equação (4.6) não é mais válida. Bleich (1952) propôs a
equação diferencial (4.12) para a instabilidade de chapas em regime elastoplástico,
4w 4w 4w  t 2w
R  2 R   0
x 4 x 2 y 2 y 4 D f x 2
, (4.12)
E
R t
E
em que Et é o módulo de elasticidade tangente.

A solução da equação diferencial (4.12) é dada pela equação (4.13),

 2E R
 cr  k, (4.13)
  t 
2
12 1  2 b

em que k é o coeficiente de instabilidade elástica da chapa.

80
Depois de atingida a tensão crítica, as chapas desenvolvem grandes
deformações, sem, no entanto, entrarem em colapso por instabilidade, como ocorre no
caso dos elementos de barra. Como consequência, as chapas possuem uma reserva de
resistência adicional ao valor da força crítica, cuja desconsideração no modelo de
cálculo pode levar a perdas em termos de economia.
Para efetuar a análise linear de estabilidade, ou seja, a determinação da força
crítica, a consideração apenas de pequenos deslocamentos é suficiente. No entanto na
análise não linear de estabilidade, é necessário considerar pelo menos a Teoria das
Deformações Moderadas, ou seja, as deflexões da chapa devem ser da mesma ordem de
grandeza da espessura.
Em 1910, Von Kárman desenvolveu as equações diferenciais que traduzem uma
primeira aproximação para o equilíbrio de uma chapa sem imperfeições na fase pós-
crítica. Posteriormente, em 1939, Marguerre introduziu o efeito das imperfeições
geométricas iniciais e chegou ao sistema de equações diferenciais (4.14), que são
conhecidas como equação de equilíbrio e de compatibilidade, respectivamente,
 4  w  w0   4  w  w0   4  w  w0  t   2 F  2 w  2 F  2 w 2 F 2w 
 2      2 0
x 4 x 2 y 2 y 4 D f  y 2 x 2 x 2 y 2 xy xy 
, (4.14)
 F
4
 F
4
 F 4  2 w  2   2 w  2  2 w  2 w  2 w  2 w 
 2 2 2  4  E   
0
  2  20 0
0
x 4 x y y  xy   xy  x y
2
x y 2 

onde (i) w  x, y  e w0  x, y  são os deslocamentos transversais, totais e iniciais, no

plano médio da chapa, (ii) h, D f e E são, respectivamente, a espessura, a rigidez de

flexão e o módulo de elasticidade da chapa e (iii) F  x, y  uma função de tensão de

Airy.
As forças de membrana N x , N y e N xy podem ser relacionadas com a função de

tensão de Airy por meio das equações (4.15),


2 F
Nx  t 2
y
2F
Ny  t . (4.15)
x 2
2 F
N xy  t
xy

No caso de chapas perfeitas, w0  0 , o sistema de equações diferenciais (4.14)


coincide com as expressões obtidas por Von Kárman.

81
O fato de o sistema de equações diferenciais (4.14) ser acoplado conduz à
conclusão de que a solução analítica seja extremamente difícil. A análise realizada por
Timoskenko e Woinowsky-Krieger (1959) utilizou o princípio da energia potencial total
mínima, aproximando os deslocamentos u, v e w por funções simples. Utilizando o
Método de Galerkin, Volmir (1967) apud Chajes (1975) também obteve uma solução
analítica fechada para o sistema de equações diferenciais (4.14).
A tensão normal  x da chapa quadrada de lado a simplesmente apoiada, obtida
por Volmir (1967), é obtida por meio da equação (4.16),
E 2 f 2
 x   cr  , (4.16)
8a 2
onde f é a deflexão máxima da chapa e  cr é a tensão crítica de bifurcação para uma
chapa quadrada simplesmente apoiada submetida a compressão uniaxial, sendo dada
pela equação (4.17),
4D f  2
 cr  , (4.17)
ta 2
em que Df é a rigidez à flexão e t é a espessura da chapa.
A representação gráfica da variação da tensão normal  x com a máxima
deflexão f da chapa sem imperfeição geométrica inicial, descrita pela expressão (4.16),
está mostrada na Figura 4.9a. Como esperado, a chapa começa a deformar-se mais
rapidamente depois de atingir a força crítica (obtida por meio da análise linear de
estabilidade). Para além desse ponto, enquanto o deslocamento transversal é pequeno, a
rigidez da chapa é praticamente nula, isto é, a inclinação da curva força-deslocamento é
quase zero. Entretanto, à medida que o deslocamento transversal aumenta, a rigidez da
chapa também aumenta. Por resistir a carregamentos axiais superiores à força crítica de
bifurcação, as chapas finas que instabilizam com pequenas tensões, podem resistir a
grandes forças sem apresentar colapso. Esta característica das chapas é conhecida como
capacidade resistente pós-crítica e pode ser explicada fisicamente pelo efeito de Poisson
nos elementos bidimensionais, ou seja, as fibras transversais tracionadas têm um efeito
contrário às deformações das fibras longitudinais comprimidas proporcionando um
acréscimo de rigidez (Carvalho et al, 2004). Quando os efeitos das imperfeições iniciais
são tomados em consideração na análise não linear de estabilidade da chapa, o gráfico
da relação tensão versus flecha deixa de ter o ponto de bifurcação, como mostra a
Figura 4.9b. (Reis e Camotim, 2001).

82
x x

 cr  cr

f f

(a) (b)

Figura 4.9: Variação da tensão com o deslocamento na região pós-crítica:


(a) chapa sem imperfeição e (b) chapa com imperfeição.
Na mesma linha de pesquisa, alguns autores utilizaram métodos energéticos para
o estudo do comportamento pós-crítico de chapas, os quais se destacam: (i) Marguerre e
Trefftz (1937) consideraram apenas os deslocamentos de flexão, sendo, posteriormente,
denominado de métodos semienergéticos (Rhodes e Harvey, 1977), para o estudo do
comportamento pós-crítico de chapas, (ii) Yamaki (1960) que utilizou o Método de
Galerkin para estudar o comportamento pós-crítico de chapas, ideais e com
imperfeições geométricas, com diferentes condições de contorno, (iii) os trabalhos de
Rhodes e Harvey (1971 e 1975) que utilizaram o Princípio da Energia Potencial Mínima
para estudar o comportamento pós-crítico de chapas com várias condições de apoio e
submetidas a diferentes distribuições de tensões e (iv) Sherboune e Bedair (1993) que
verificaram a influência das condições de apoio no comportamento pós-crítico de
chapas. Um estudo de instabilidade de chapas submetidas a tensões longitudinais
variáveis foi realizado por Yu e Schafer (2007) e Szychowski (2008), onde
desenvolveram modelos semianalíticos utilizando métodos energéticos.
Alguns autores (Paik e Kim (2002), Paik e Lee (2005), Brubak e Hellesland
(2007a e 2007b)) estudaram a instabilidade de chapas com enrijecedores, do tipo
mostrado na Figura 4.10. O trabalho de Byklum e Amdhal (2002) sobre o
comportamento pós-crítico do modo local (Figura 4.10b), caracterizado por
deformações locais na chapa e no enrijecedor, foi complementado por Byklum et al
(2004), que abordaram o modo de instabilidade global (Figura 4.10a), caracterizado por
deformações de flexão do enrijecedor e da chapa. Brubak e Hellesland (2008) propõem
um método para a avaliação da capacidade resistente de chapas enrijecidas utilizando o
Método de Rayleigh-Ritz e a teoria das grandes deformações. Os resultados analíticos

83
são comparados com análises não lineares por meio do método dos elementos finitos.
Brubak e Hellesland (2008) concluem, como era de se esperar, que em chapas com
grandes enrijecedores a força crítica é mais elevada do que chapas com enrijecedores de
pequena altura. O modo de instabilidade global torna-se crítico para enrijecedores de
pequena altura.

Figura 4.10: Modos de instabilidade de chapa com enrijecedor: (a) global, (b)
local (Adaptada de Brubak e Hellesland (2008))
Em relação à estabilidade de chapas com enrijecedores longitudinais cita-se o
programa EBPLATE, desenvolvido por Galéa e Martin (2010), o qual permite a
obtenção da força crítica de instabilidade.
Recentemente, Maiorana et al (2011) analisaram analíticamente a estabilidade
linear de chapas com enrijecedores longitudinais de vários tipos e geometrias,
submetidas a forças de compressão axial, flexão e cisalhamento. Estudaram também a
posição otimizada dos enrijecedores.
A seguir são comentadas, resumidamente, as características de cada um dos
modos de instabilidade identificados e as situações em que podem ser críticos.

4.2. Modos de Instabilidade

4.2.1. Modos Globais


A Teoria Linear de Estabilidade teve seu início com os trabalhos de Euler, em
1744, sobre a instabilidade global por flexão de pilares de comportamento elástico,
simplesmente apoiados, submetidos à compressão centrada. Durante muitas décadas,
esse foi o único fenômeno de instabilidade estudado. Segundo Bleich (1952), no ano de
1899, Michell e Prandtl publicaram os primeiros estudos sobre a instabilidade global
torsional de uma viga de seção retangular, utilizando a teoria de torção uniforme de
Saint-Venant (1855). Timoshenko (1905) continuou esse estudo considerando o efeito
do empenamento em vigas de seção I.
A determinação das forças críticas de bifurcação de pilares, associadas à
instabilidade global, foi alvo, ao longo dos anos, da atenção de um considerável número

84
de projetistas e pesquisadores. Estudaram-se pilares com diferentes condições de
contorno e diversos casos de carregamento. Resultados de grande relevância da análise
de instabilidade estão disponíveis nas publicações de Timoshenko e Gere (1963), Bleich
(1952) e Bazant e Codolin (1991).
Com base em uma importante contribuição de Wagner (1936), Vlasov (1961)
desenvolveu uma teoria geral de torção não uniforme aplicada a barras de seção aberta e
de parede fina. Inicialmente, a teoria geral foi aplicada a problemas relativamente
simples, os quais não demandavam grandes esforços de cálculo. Os livros de Trahair
(1993) e Reis e Camotim (2001) são referências importantes no estudo dos fenômenos
de estabilidade estrutural.
Nos modos de instabilidade globais em barras comprimidas, as seções
transversais praticamente não se deformam, sofrendo unicamente deslocamentos de
corpo rígido. A instabilidade global de pilares apresenta-se de três formas: (i) modo
global por flexão – ocorre em seções duplamente simétricas e seções com um ponto de
simetria (i.e. seções Z), (ii) modo global por torção – ocorre em seções duplamente
simétricas com baixa rigidez à torção e (iii) modo global por flexotorção – ocorre em
seções com um ou nenhum eixo de simetria.
Os modos globais são críticos em barras suficientemente longas e que não
estejam suficientemente contraventadas. A configuração desses modos é dependente das
condições de apoio da barra e, geralmente, nos casos de instabilidade por flexão e
flexotorção, apresenta um semicomprimento de onda. Ilustram-se na Figura 4.11 os
modos de instabilidade por flexão e flexotorção,
Considerando uma barra perfeita, ou seja, sem imperfeições geométricas,
submetida à compressão centrada, a força crítica de instabilidade de Euler (Pcr ) por
flexão é dada pela expressão (4.18),
 2 EI
Pcr  , (4.18)
 KL 
2

onde EI é a rigidez à flexão e KL é o comprimento efetivo do pilar.


A expressão (4.18) é válida para regimes elásticos, onde a tensão da barra é
inferior ao limite de proporcionalidade do material fp. Salienta-se que a tensão de
proporcionalidade está diretamente ligada as tensões residuais, como será explicado no
item 3.5.

85
Figura 4.11: Modos globais de uma barra: (i) por flexão, (ii) por flexotorção.
Quando a tensão na barra é superior ao limite de proporcionalidade, o regime é
elastoplástico. Nesse regime ocorre uma perda de linearidade do diagrama tensão-
deformação entre o limite de proporcionalidade fp e a resistência ao escoamento do aço
fy, conforme mostra a Figura 4.12.

Figura 4.12: Diagrama tensão-deformação para aços com patamar de


escoamento (Adaptado de Chodraui, 2006).
Para a análise de instabilidade no regime elastoplástico, uma abordagem possível
e usual consiste em utilizar os conceitos de módulo tangente e módulo reduzido, os
quais são descritos a seguir. Uma abordagem mais detalhada desses conceitos pode ser
encontrada nos livros de Bleich (1952) e de Galambos (1998).
O cálculo da força crítica no regime elastoplástico foi sugerido pela primeira vez
em 1889, quando Engesser propôs a utilização da força de Euler (equação (4.18))
substituindo-se o módulo de elasticidade E pelo módulo de elasticidade tangente Et,
cujo valor varia de acordo com a derivada da tensão em relação à deformação, conforme

86
mostra a Figura 4.13. Nessa proposta, a força crítica no regime elastoplástico é dada
pela equação (4.19),
 2 Et I
Pcr  . (4.19)
 KL 
2

Figura 4.13: Diagrama tensão-deformação do aço.


Segundo Yu (2000), no ano de 1895, Jasinky concluiu que o conceito do módulo
tangente estava errado, pois as hipóteses de Engesser não consideravam o
descarregamento elástico do material. Anos mais tarde, Engesser corrigiu sua teoria e
desenvolveu o conceito do módulo reduzido ou duplo módulo que conduz à força crítica
definida pela equação (4.20),
 2 Er I
Pcr 
 KL 
2

, (4.20)
I  I 
Er  E  1   Et  2 
I   I 
onde I1 é o momento de inércia relativo à parte tracionada da seção transversal na fase
de descarga e I2 é o momento de inércia relativo à parte comprimida da seção
transversal na fase de carregamento.
Durante vários anos, houve uma grande polêmica no uso dessas duas teorias.
Pela Teoria da Estabilidade Clássica, o conceito do módulo reduzido era mais correto.
Porém, as forças de colapso obtidas em laboratório se aproximavam mais das forças
obtidas pelo módulo tangente.
Acreditava-se que as discrepâncias dos resultados entre os modelos teóricos e os
ensaios eram devidas às imperfeições geométricas iniciais da barra e à excentricidade da
aplicação da força, que não podiam ser totalmente eliminadas durante o ensaio.

87
Para confirmar essa hipótese, Shanley (1947), utilizando um modelo de duas
barras rígidas, mostrou que uma barra poderia fletir com um aumento da força previsto
pelo modelo do módulo tangente. Desta forma, dada uma imperfeição infinitesimal para
provocar flexão na barra, a força proposta pela teoria do módulo reduzido não poderia
ser encontrada.
A partir do modelo de Shanley (1947) pôde-se concluir que: (i) a teoria do
módulo tangente fornece a força máxima para a qual o pilar permanece reto, (ii) a força
de resistência última excede a força do módulo tangente PT e é inferior à força obtida
pelo módulo reduzido PR e (iii) para forças superiores a PT ocorrem deslocamentos
laterais (perpendiculares ao eixo da barra).
Mais adiante, Bleich (1952) propôs a equação (4.21) para servir como
aproximação para a equação da força crítica obtida pelo módulo tangente,
 fy 
Pcr  Af y 1  , (4.21)
 4 e 
em que fy é a resistência ao escoamento do aço e  e é a tensão elástica de Euler.
A equação (4.21) é uma curva conservadora aproximada da força crítica
proposta pelo SSRC (Structural Stability Research Council) (Yu, 2000) para aços
laminados a quente considerando os efeitos das tensões residuais e que o limite de
proporcionalidade seja igual à metade da resistência ao escoamento do aço. Essa curva
também pode ser adotada no projeto de perfis de aço formados a frio.
As curvas de dimensionamento das tensões em função do índice de esbeltez
dadas pelas expressões (4.22), que são utilizadas na análise de instabilidade global,
estão apresentadas na Figura 4.14,
 2E
 cr  2
 KL 
 
 r 
 2 Et
 cr  2 , (4.22)
 KL 
 
 r 
 2 Er
 cr  2
 KL 
 
 r 
sendo r o raio de giração da seção dado pela equação (4.23),

88
I
r . (4.23)
A
onde I e A são o momento de inércia e a área da seção transversal, respectivamente.

Figura 4.14: Variação da tensão com o índice de esbeltez para instabilidade


global (Adaptada de Yu, 2000)
Além da instabilidade de Euler (ou instabilidade por flexão), os elementos
lineares comprimidos constituídos de seções abertas e de parede fina podem apresentar
fenômenos de instabilidade de torção ou flexotorção. Estes modos de instabilidade são
característicos de barras longas e de seções transversais de baixa rigidez à torção. A
instabilidade por torção deve-se à rotação das seções transversais em torno do eixo do
elemento, o qual permanece reto, e ocorre em perfis duplamente simétricos com rigidez
torsional muito pequena, como por exemplo, nas seções em formato de cruz (ver Figura
4.15a). Os perfis com seções com um ou nenhum eixo de simetria, por exemplo, nas
seções cantoneiras e em U, apresentam instabilidade por flexotorção. Neste caso, o
perfil apresenta uma instabilidade por flexão, transladando seu eixo para a posição
deformada e, juntamente, com uma instabilidade por torção, ou seja, as seções
transversais são rotacionadas em torno do eixo de cisalhamento, conforme mostra a
Figura 4.15b.
No caso de barras que se instabilizam por torção ou flexotorção, as seções
transversais sofrem rotação em torno do seu próprio eixo e podem empenar, ou seja,
após a deformação as seções transversais deixam de estar contidas em um plano.

89
Figura 4.15: Modos de instabilidade global: (a) por torção, (b) por flexotorção
(adaptada de Silva e Silva, 2008).
O estudo de instabilidade uma barra simplesmente apoiada de comprimento l
submetida à compressão uniforme N, indeformável axialmente e submetida à torção não
uniforme, ou seja, as seções transversais rotacionam em torno do seu próprio eixo e
empenam (i.e. deixam de estar contidas em um plano), requer a solução do sistema de
equações diferenciais (4.24),
EI z v, xxxx  N  v, xx  z0, xx   0
EI y w, xxxx  N  w, xx  y0, xx   0 , (4.24)
ECw, xxxx  GI t, xx  N  r02  y0 w, xx  z0 v, xx   0

onde x é o eixo da barra,  é o ângulo de torção da barra em torno do eixo que passa
pelo centro de cisalhamento da seção transversal, G e E são os módulos de cisalhamento
e de elasticidade do material, Iy e Iz são os momentos de inércia em relação aos eixos
principais de inércia y e z, respectivamente, It é o momento de inércia à torção, C w é a

constante ao empenamento, o qual é fornecido pela ABNT NBR 6335:2003 para as


seções mais usuais e r0 é o raio de giração polar da seção bruta em relação ao centro de
cisalhamento dado pela equação (4.25),
r02  ry2  rz2  y02  z02 , (4.25)

onde ry e rz são os raios de giração em relação aos eixos principais de inércia y e z,


respectivamente, e y0 e z0 são as coordenadas do centro de cisalhamento na direção dos

90
eixos principais de inércia y e z, respectivamente, em relação ao centro geométrico da
seção.
No caso particular de um pilar de comprimento l, simplesmente apoiado nas
direções y e z e cujos apoios impedem a rotação de torção, mas permitem o
empenamento da seção, as condições de contorno são dadas pelas equações (4.26),
v(0)  v(l )  w(0)  w(l )  0
v, xx (0)  v, xx (l )  w, xx (0)  w, xx (l )  0 . (4.26)
 (0)   (l )  , xx (0)  , xx (l )  0
Pode-se mostrar (Trahair, 1993) que a solução do sistema de equações
diferenciais (4.24) é dada pelas expressões (4.27),
x
v  C1sen
l
x
w  C2 sen , (4.27)
l
x
  C3 sen
l
onde C1, C2 e C3 são constantes a determinar.
Substituindo as equações (4.26) e (4.27) em (4.24), chega-se ao sistema de
equações lineares (4.28),
 N ez  N  0 Nz0   C1  0 
    
 0 N ey N  Ny0   C2    0  , (4.28)
 
 Nz0  Ny0 r02  N ex  N   C3  0 

onde Ney e Nez são as forças de instabilidade elástica de flexão em relação aos eixos
principais y e z e são fornecidas pelas equações (4.29) e (4.30), respectivamente. Nex é a
força de instabilidade elástica de torção em relação ao eixo longitudinal x e é dado pela
equação (4.31),
 2 EI y
N ey  , (4.29)
l2
 2 EI z
N ez  , (4.30)
l2

1  2 ECw 
N ex  2  GI t  . (4.31)
r0  l2 

A solução não trivial do sistema de equações lineares (4.28) é fornecida por


meio da equação cúbica (4.32),

91
r02  N  N ey   N  N ez  N  N ex   N 2 z02  N  N ey   N 2 y02  N  N ez   0 .(4.32)

Assim, a força crítica (Ncr) de bifurcação do pilar é igual à menor raiz da


equação (4.32).

4.2.2. Modos Locais


As barras curtas podem ser suscetíveis a fenômenos de instabilidade local, que
são caracterizados pela instabilidade das chapas que constituem o elemento estrutural.
Para as seções em Ue, por exemplo, a deformação da seção deve-se à flexão da alma e
da mesa, enquanto os enrijecedores possuem uma borda livre e, consequentemente,
sofrem predominantemente deslocamentos de corpo rígido. Esse fato ilustra-se na
Figura 4.16, onde se observa que o modo local de chapa (MLC) da seção em Ue
representada, submetida à compressão uniforme, é induzido pela instabilidade da alma
(chapa mais esbelta). A deformação das mesas e enrijecedores deve-se, unicamente, à
compatibilidade que as rotações de flexão têm que satisfazer nas bordas longitudinais
alma-mesa.
A estabilidade local da barra é condicionada pelo comportamento da chapa mais
susceptível à instabilidade por flexão, cujo fenômeno depende da esbeltez das várias
chapas da seção transversal e da distribuição das tensões atuantes. Em termos físicos, na
tese de Prola (2001), o MLC está descrito da seguinte maneira:
(i) O modo de instabilidade de chapas é caracterizado pela instabilidade, por
flexão, da chapa condicionante, sendo que as chapas restantes, por
compatibilidade, acompanham as deformações;
(ii) O comportamento da barra pode ser modelado por meio de uma barra
comprimida (total ou parcialmente) cujos cantos das chapas estão na
condição de engastamento elástico, de modo que as molas de rotação
traduzem as influências do comportamento das chapas restantes da barra.

92
Figura 4.16: Modo local de chapa uma barra em Ue influenciado pela alma.
A análise linear de estabilidade de uma seção, modelada como um conjunto de
chapas isoladas, é dificultada pela necessidade de compatibilizar as rotações que
ocorrem nas bordas longitudinais adjacentes. A rigor, a instabilidade da seção pode ser
analisada por meio do comportamento de qualquer uma das suas chapas, desde que se
conheça o grau de restrição às rotações existentes nas bordas longitudinais da chapa
(i.e., a rigidez das molas elásticas que modelam estas restrições). Uma abordagem
conservadora consiste em admitir-se que esta rigidez seja nula, o que vale dizer que
todas as bordas longitudinais estão simplesmente apoiadas. Nessa linha de pensamento,
nos elementos comprimidos a instabilidade de cada chapa independe das restantes e,
portanto, admite-se que a tensão de bifurcação da seção é condicionada pelo
comportamento do elemento de menor tensão crítica.
A primeira análise sistemática e consistente de estabilidade de seções deve-se a
Lundquist et al (1943), que utilizaram o método de distribuição de momentos para
resolver o sistema de equações diferenciais de equilíbrio de seções uniformemente
comprimidas. Posteriormente, Chilver (1951) validou, experimentalmente, os resultados
teóricos de Lundquist et al (1943).
Logo a seguir, Bleich (1952) determinou expressões para tensões de bifurcação
no MLC, a partir da resolução das equações diferenciais de equilíbrio relativas a cada
chapa, satisfazendo as condições de contorno, estáticas e cinemáticas, relativas à
continuidade de deformações nas bordas longitudinais. Chilver (1953) e Bulson (1967)
escreveram as equações de equilíbrio em forma matricial, cujos coeficientes dependem,
não linearmente, do parâmetro de força (tensão). O menor valor desse parâmetro que
anula o determinante da matriz fornece a tensão crítica de bifurcação da seção.
A estabilidade de seções em Ue submetidas à flexão composta foi estudada por
Walker (1966) que considerou, separadamente, os comportamentos: (i) da alma,

93
modelando-a como uma chapa sujeita à compressão uniforme com as rotações
elasticamente restringidas nas bordas longitudinais e (ii) das mesas, como sendo chapas
submetidas à compressão linearmente variável e com uma borda longitudinal (mesa-
alma) engastada elasticamente e com a outra (mesa-enrijecedor) articulada.
Ainda dentro da pesquisa de soluções analíticas, Rhodes e Harvey (1976)
analisaram o comportamento de seções em U, submetidas à compressão uniforme na
alma e variável nas mesas, baseados em métodos energéticos.
O estudo do comportamento pós-crítico de seções abertas e de parede fina, que
se instabilizam no MLC, requer a consideração da compatibilidade entre os
deslocamentos e as rotações, e o equilíbrio das forças e dos momentos ao longo das
chapas que constituem a seção. A solução analítica das equações não lineares de
equilíbrio combinadas com essas condições adicionais de equilíbrio e compatibilidade,
torna-se de difícil obtenção, sendo restringida a um número reduzido de problemas.
Nesse contexto, Benthem (1959) obteve, de forma analítica, o comportamento pós-
crítico de um pilar de seção em U, tendo chegado a resultados precisos.
Durante a década de 1960, o estudo do comportamento pós-crítico de seções
abertas e de parede fina era realizado por meio de métodos aproximados, os quais
envolviam um grande volume de cálculos. Utilizando o método de Rayleigh-Ritz e a
hipótese de que a configuração deformada das paredes deva permanecer inalterada,
Graves Smith (1968, 1969) estudou a perda de rigidez de um pilar tubular retangular
devido aos fenômenos de instabilidade locais de chapa. Essa hipótese pode ser
considerada válida apenas na fase inicial do comportamento pós-crítico.
Contribuindo para o conhecimento da fase pós-crítica associada ao MLC,
Rhodes e Harvey (1971 e 1975) estudaram, analiticamente, o comportamento de barras
curtas de seções em U e Ue submetidas à compressão uniforme e linearmente variável.
Eles utilizaram o método de Rayleigh-Ritz combinado com a formulação energética,
sendo que os resultados obtidos apresentaram boa correlação com os ensaios
experimentais realizados por Winter (1968).
Nas seções enrijecidas constituídas por chapas finas, tais como, Ue, Ze, rack e
cartola, a instabilidade local pode ser caracterizada pela distorção da seção transversal.
Na configuração do modo local de chapa (MLC), por definição, está sempre garantida a
conservação original das bordas longitudinais (linhas de dobra), as quais permanecem
retas ao longo do perfil, assim como os ângulos formados entre as chapas vizinhas. O
modo distorcional envolve deslocamentos de flexão e de membrana e inclui

94
deslocamento nas linhas de dobra provocando distorção na seção transversal. A
instabilidade distorcional dos elementos comprimidos envolve a rotação, em sentidos
opostos, do conjunto mesa e enrijecedor sobre a junção mesa-alma conforme mostra a
Figura 4.17.

Figura 4.17: Modo Distorcional, (Hancock, 1997).


Uma caracterização detalhada do MD foi elaborada por Hancock (1985), que fez
estudos analítico e experimental, sobre o comportamento de pilares usados em
estruturas de armazenamento, submetidos à compressão uniforme.
Mais tarde, Lau e Hancock (1987) desenvolveram expressões analíticas para
calcular as tensões de bifurcação do MD.
O mesmo tipo de estudo foi realizado por Hancock (1997) para vigas (seção
submetida à flexão pura em torno do eixo de maior inércia) de perfis formados a frio de
mesma tipologia (Ue e em rack ) no intuito de encontrar fórmulas simplificadoras de
fácil aplicação prática.
Por meio de um modelo analítico semelhante aos trabalhos anteriores, Li e Chin
(2008) propuseram fórmulas analíticas para a determinação de tensões críticas para o
MD dos perfis formados a frio com seção em Ue, Z e Sigma submetidos à compressão
uniforme e variável. Depois, Chen et al (2010) fizeram um conjunto de testes
experimentais em seções (U e Ue) com enrijecedores longitudinais, uniformemente
comprimidas, com comprimentos para os quais o MD é o modo crítico. O estudo foi
complementado com cálculos analíticos comparativos da resistência última usando as
normas australiana AS/NZ 4600 (2005) e a norte-americana AISI (2007). No presente
ano, Cheng e Yan (2011) propuseram um método de determinação da largura efetiva
para o MD de seções Z e Ue sob flexão, que foi comparado com resultados
experimentais disponíveis na literatura.

95
4.3. Métodos Numéricos
A partir dos avanços dos recursos computacionais, houve uma progressiva
substituição dos métodos analíticos pelos métodos numéricos nas soluções dos
problemas de estabilidade de perfis constituídos por paredes finas.
Em um trabalho onde faz uma revisão dos métodos numéricos empregados na
solução de problemas que envolvem fenômenos de instabilidade, Camotim (2006)
relaciona quatro tipos de modelagem numéricas que são empregadas por diversos
pesquisadores na abordagem dos modos locais e globais, ou seja, modos que envolvam
os efeitos localizados e locais: (i) modelagem em elementos de casca geometricamente
não lineares por meio do Método dos Elementos Finitos (MEF), (ii) Método das Faixas
Finitas Semi-Analítico (MFF), (iii) Método das Faixas Finitas Splines (MFFS) e (iv)
por meio de elementos de barra com a formulação da Teoria Generalizada de Vigas
(TGV).
Nessa Tese, por se tratar de análises de instabilidade de perfis formados a frio,
opta-se pelo uso do Método das Faixas Finitas Splines (MFFS), o qual tira partido da
natureza prismática da maioria dos elementos estruturais constituídos de parede fina,
ocasionando uma elevada redução no número de graus de liberdade quando comparados
aos modelos de elementos finitos de casca. Na direção longitudinal, os deslocamentos
do perfil são aproximados por funções “B3-Spline”, i.e. combinações de quatro
polinômios cúbicos (De Boor, 1978), fazendo com que seja possível manter uma
elevada eficiência computacional em comparação com elementos de casca. Assim, o
método permite analisar elementos estruturais submetidos a forças aplicadas ao longo
do vão ou com diferentes condições de apoio e assegura a compatibilidade entre des-
locamentos transversais de membrana e flexão, ao longo das linhas de dobra do perfil.
Este último aspecto tem grande relevância quando se analisa, por exemplo, o
comportamento pós-crítico de perfis que se instabilizam no modo distorcional.
Entre os citados, o MEF é o método mais difundido na área de engenharia de
estruturas pela sua versatilidade e pelos inúmeros programas computacionais comerciais
disponibilizados, além de sua sólida fundamentação matemática que lhe dá
confiabilidade. Para análises de instabilidade de perfis de seção aberta e de parede fina
são, normalmente, utilizados elementos de casca geometricamente não lineares. No
interior de cada elemento, os deslocamentos são aproximados por funções de forma,
geralmente polinômios, cujos coeficientes são os deslocamentos generalizados. No caso
de análises de instabilidade de perfis formados a frio, a necessidade de modelar

96
adequadamente os vários modos de instabilidade faz com que o MEF exija a utilização
de malhas refinadas de elementos de casca geometricamente não lineares (Pierin e
Rovere, 2005).
A partir da década de 1960, deu-se início à generalização do uso do MEF para a
resolução de problemas geometricamente não lineares, especificamente a análise linear
de estabilidade de elementos estruturais, destacando-se, entre outros, os trabalhos de
Gallagher e Padlog (1963), Kapur e Hantz (1966), Wittrick (1968) e Przemieniecki
(1968 e 1972).
Inserido no grupo de autores que desenvolveram formulações próprias baseadas
no MEF para permitir o estudo das condições de estabilidade de elementos com seções
constituídas de parede fina, destaca-se o trabalho de Chin et al (1993), que elaboraram
um elemento finito de chapa fina com seis nós e trinta graus de liberdade para efetuar
análises lineares dos modos locais (MLC e MD) e globais de perfis com qualquer
condição de carregamento e de contorno.
Quanto à aplicação à análise linear de estabilidade dos modos de instabilidade
globais, citam-se os trabalhos de (i) Trahair e Rasmussen (2005a, 2005b), que
desenvolveram um programa de computador baseado na formulação em MEF para
aplicar ao estudo dos modos globais de instabilidade de pilares (MGF e MGFT,
respectivamente) com apoios elásticos inclinados em relação aos eixos principais das
barras e de (ii) Erkmen e Mohareb (2008) que desenvolveram um elemento finito de
barra de dois nós para análise de instabilidade de seções abertas incluindo na
formulação as deformações por cisalhamento.
Em relação à aplicação do MEF à análise não linear de estabilidade dos perfis de
parede fina, Lee e Harris (1979) foram dos primeiros a usar o MEF, aplicando-o ao
estudo do comportamento pós-crítico de vigas com seção Ue e cartola. Já Desmond et
al (1981) conseguiram observar a presença do MD, como um modo crítico, ao
analisarem a influência dos enrijecedores na fase pós-crítica de perfis Ue. O
comportamento pós-crítico das barras tubulares com seção quadrada submetidas à
compressão excêntrica foi analisado por Rerkshanandana et al (1981) por meio da
aplicação do MEF. Shen e Zhang (1992) usaram elementos finitos de cascas para
efetuar a análise não linear de estabilidade de pilares com seção em I.
Nos finais dos anos 90, Schafer e Pekoz (1999) utilizaram elementos finitos do
programa comercial ABAQUS para estudar o comportamento pós-crítico dos modos

97
locais (MLC e MD) de um modelo constituído por um conjunto mesa-enrijecedor
submetido à compressão uniforme.
A partir desde momento e no decorrer da primeira década do século XXI,
observou-se uma tendência em aplicar de forma generalizada e recorrente os programas
de cálculo comerciais que utilizam o MEF na análise linear e não linear de estabilidade
dos perfis de parede fina. Isso se deve à grande evolução dos programas comerciais no
que se refere à otimização de tempo, confiabilidade e criação de interfaces amigáveis
com outros programas que possibilitaram uma maior interação entre os programas e o
usuário.
Sarawit et al (2003) elaboraram uma síntese da utilização dos programas
baseados no MEF na resolução de problemas de estabilidade de perfis constiuídos por
paredes finas explicitando a modelação em elementos finitos a usar em problemas
lineares e não-lineares de estabilidade. O elemento finito de casca de 4 nós
(denominados S4, S4R e S4R5) da biblioteca do programa ABAQUS tem ganho
preferência de vários autores como os que são referidos nas citações a seguir.
Os estudos analíticos, já citados, sobre os modos locais e globais de instabilidade
de chapas enrijecidas feitos por Byklum et al (2004) e Byklum e Amdhal (2002), foram
validados por resultados numéricos obtidos no programa ABAQUS. Idêntica
metodologia foi empregada por Yu e Schafer (2007) e Szychowski (2008) na validação
dos modelos semianalíticos utilizando métodos energéticos, também já citados, do
estudo de instabilidade de chapas submetidas a tensões longitudinais variáveis.
Aplicando o programa ABAQUS para os estudos numéricos do comportamento
de perfis formados a frio, Gotluru et al (2000) contribuíram para o conhecimento do
fenômeno de torção presente nos modos locais e globais de instabilidade e Young e Yan
(2002) estabeleceram comparações com os resultados obtidos experimentalmente para o
pilar de seção em U com as extremidades engastadas. De maneira semelhante, dois
trabalhos foram realizados na Universidade de Sydney onde as análises numéricas
foram comparadas com os resultados das análises experimentais de pilares curtos (Yang
e Hancock, 2002a) e longos (Yang e Hancock, 2002b). Utilizando as mesmas
ferramentas computacionais, Koji et al (2002) apresentaram resultados de análise
lineares e não lineares de estabilidade de seções rack submetidas à compressão
uniforme e linearmente variável. A influência das condições de empenamento (livre ou
impedido) foi estudada por Dinis e Camotim (2003), que em outro trabalho (Dinis e
Camotim, 2004) estenderam o estudo ao comportamento de pós-crítico elástico e

98
elastoplástico de seções Ue e rack. Um vasto conjunto de resultados de esforços
resistentes de seções Ue simulados no ABAQUS foi usado por Silvestre et al (2007)
para estabelecer comparações com os resultados fornecidos pelo Método da Resistência
Direta (MRD).
Outros tipos de perfis, com geometria não usual, foram analisados por
Karayanan e Mahendran (2002). Schafer et al (2006) analisaram perfis Ue e Z com
enrijecedores complexos, não usuais, comparando os resultados de esforços resistentes
fornecidos pelo MRD com os obtidos numericamente pelo ABAQUS. O comportamento
crítico e pós-crítico de chapas e perfis formados a frio não enrijecidos foram estudados
por Bambach (2006 e 2009), sendo que as análises numéricas obtidas pelo referido
programa foram comparados com resultados experimentais e com a norma australiana
AS/NZ 4600 (2005) e a norte-americana do AISI (2007). Ainda com a ajuda do mesmo
programa, Dinis et al (2007) desenvolveram um estudo das respostas lineares e não
lineares da interação entre (i) os modos locais MLC e MD de pilares, que foi estendido à
análise de vigas (Dinis e Camotim (2010), e (ii) os modos distorcional e global (Dinis e
Camotim (2011). Um trabalho semelhante foi desenvolvido com a ajuda do mesmo
programa por Nandini e Kalyanaraman (2010), que estudaram a interação entre os
modos locais (MLC e MD) e globais de vigas, propondo uma metodologia que foi
comparada com os regulamentos norte-americano e europeu, além do método da
resistência direta. Ye e Rasmussen (2008) também usaram o ABAQUS para estudar a
instabilidade de perfis de aço de alta resistência formados a frio.
Para obter as forças críticas usadas nos cálculos da resistência última pelas
especificações das normas australiana AS/NZ 4600 (2005) e a norte-americana AISI
(2007), Chen et al (2010) usaram o programa ABAQUS.
Com objetivos semelhantes (estudo da instabilidade de perfis formados a frio)
alguns autores têm usado outros programas comerciais com base no método dos
elementos finitos, como por exemplo, Salem et al (2004) aplicaram o programa
COSMOS/M para avaliar a resistência última de perfis em I e Mohan et al (2005)
utilizaram o programa NASTRAN para analisar a interação entre os modos global e
local de instabilidade de cantoneiras. O programa ANSYS foi usado por (i) Paik et al
(2001) e Paik e Seo (2009) na validação dos resultados analíticos da simulação do
comportamento pós-crítico de chapas ortótropas, (ii) Dubina e Ungureanu (2002) na
avaliação do efeito das imperfeições iniciais na resistência última dos PFF, (iii) Zhang
et al (2007) na comparação com os resultados experimentais dos ensaios realizados em

99
pilares PFF com enrijecedores inclinados e, mais recentemente, por (iv) Wang e Zhang
(2009) na comparação com resultados experimentais de perfis Ue com enrijecedores
inclinados submetidos à flexão pura e (v) Roure et al (2011) no estudo do MD de seções
rack uniformemente comprimidas, os quais compararam os resultados numéricos com
dados experimentais e cálculos de resistência com base no conceito de largura efetiva
presente nas especificações do Eurocode 3 parte 1.3 (2005).
Para superar os inconvenientes presentes no MEF para análises de instabilidade,
tais como, o elevado esforço computacional ocasionado pelo refinamento da malha
exigido para se obter resultados precisos, vários autores têm utilizado o método das
faixas finitas (MFF) nas análises de instabilidade de perfis formados a frio. O MFF foi
formulado inicialmente por Cheung no final da década de 1960 e foi publicado no livro
de Cheung (1976). Przemieniecki (1973) utilizou o método em análise de seções de
parede fina considerando apenas deformações de flexão e Plank e Wittrick (1974)
consideraram as deformações de membrana e de flexão nas análises. Esses mesmos
autores (Plank e Wittrick, 1974) também utilizaram funções mais complexas, o que
permitiu a avaliação do efeito das tensões cisalhantes. Um pouco mais tarde, Hancock
(1978) estudou a instabilidade de vigas em seção I por meio do MFF. Dentre os
trabalhos mais relevantes sobre a aplicação do MFF em análises de instabilidade de
perfis formados a frio, destacam-se Graves-Smith e Sridharam (1978), Key (1988),
Hancock et al (1990), Key e Hancock (1993) e Papangelis e Hancock (1995).
Na formulação original do MFF, os deslocamentos longitudinais do perfil são
aproximados por funções trigonométricas (seno), o que implica a condição de
simplesmente apoiada nas extremidades do perfil. Devido a esta restrição, o MFF
permanecia com aplicações limitadas, até que Fan (1982) propôs a utilização de funções
B3-Splines (Método das Faixas Finitas Splines – MFFS) como funções de interpolação,
ao invés das usuais funções trigonométricas. A utilização das funções B3-Splines
aproxima o Método das Faixas Finitas do Método dos Elementos Finitos, uma vez que é
necessária a introdução de nós intermediários na direção longitudinal. Outra forma de
superar as restrições das condições de contorno do MFF foi encontrada por Bradford e
Azhari (1995), que propuseram a utilização de uma combinação de funções
trigonométricas.
O MFFS foi usado na análise de estabilidade elástica de perfis formados a frio
por vários autores, como por exemplo, a análise linear de Lau e Hancock (1986), e as
análises não lineares de Kwon e Hancock (1990) e Prola (2001).

100
Na década de 1990, o modo distorcional de várias seções abertas e de parede
fina foi estudado no Instituto Superior Técnico de Lisboa, utilizando o MFFS, tais
como, os perfis com seções tipo S enrijecido (Prola e Camotim, 1995), perfis rack
(Prola e Camotim, 1996a), perfis sigma (Prola e Camotim, 1996b) e seções tipo Z com
enrijecedores inclinados (Prola e Camotim, 1997). Os resultados numéricos dos perfis
rack e sigma foram comparados com ensaios experimentais realizados na Universidade
Federal do Rio de Janeiro e publicados em Prola et al (1996) e Batista et al (1999),
respectivamente. Além disso, Camotim et al. (2000) utilizaram o MFF com funções
“B3-Spline” para estudar a influência das condições de contorno (sobretudo as relativas
ao empenamento das seções de extremidade) na instabilidade distorcional de perfis com
seção em rack.
Por meio de análises do comportamento pós-crítico de perfis que se instabilizam
no modo distorcional, Prola (2001), utilizando o MFFS, detectou que o comportamento
pós-crítico é distinto quando a seção transversal se abre ou se fecha, conforme mostra a
Figura 4.18, sendo que a maior resistência pós-crítica ocorre quando a seção transversal
se fecha. Com a utilização da Teoria Generalizada de Vigas (TGV), Silvestre e Camotim
(2003) explicaram que esse fenômeno é devido aos efeitos de cisalhamento e a
assimetria dos deslocamentos longitudinais provocados pelo empenamento da seção
transversal. Por meio dos fundamentos da TGV, Adany e Shafer (2006) usaram a
formulação do método das faixas finitas para desacoplar os modos locais na análise
linear de estabilidade de seções abertas e de parede fina. Esse método foi designado de
Método das Faixas Finitas Confinadas (Constrained Finite Strip Method). Em um
trabalho posterior, Adany e Shafer (2008) ampliam esse estudo para aplicação da
análise linear de estabilidade em pilares e vigas.

Figura 4.18: Empenamento da seção causada pela instabilidade distorcional:


(a) seção que abre, (b) seção que fecha.

101
O método semienergético foi usado por Ovesy et al (2005 e 2006) na formulação
das faixas finitas no estudo do comportamento pós-crítico de chapas e pilares de seção
em U. Posteriormente, Ghannadpour e Ovesy (2008) estenderam esse estudo para
elementos estruturais com seções em I. A utilização do método semienergético na
formulação dos métodos numéricos só permite o estudo inicial da fase pós-crítica para
elementos que se instabilizam no MLC, o que limita muito o seu uso, embora possua a
vantagem em termos de simplicidade na formulação e economia de tempo de
processamento.
A formulação isoparamétrica tem sido utilizada em conjunto com o MFFS por
alguns autores, tais como, Au e Cheung (1993) e Cheung e Au (1995) que analisaram
elementos planos e cascas degeneradas, respectivamente. Nos últimos anos, na
Austrália, nos trabalhos de Eccher (2007) e Eccher et al (2009) foi utilizada a
formulação isoparamétrica do MFFS, juntamente com a Teoria de Reisser-Mindlin, para
a análise de perfis formados a frio perfurados.
Por meio do MFFS, Vrcelj e Bradford (2008) incluem apoios intermediários na
largura da faixa finita utilizando funções de aproximação, no sentido transversal da
faixa, do tipo bolha (bubble functions).
A instabilidade de perfis de aço formados a frio submetidos a tensões de
cisalhamento por meio do MFFS foi estudada por Pham e Hancock (2009). Foram
estudados elementos estruturais em seção U e Ue, com diferentes condições de contorno
e distribuição de tensões de cisalhamento.
As análises de instabilidade de perfis formados a frio também têm sido
estudadas com o auxílio da Teoria Generalizada de Vigas (TGV). A TGV apresenta uma
formulação semelhante à teoria de vigas, ou seja, as equações de equilíbrio e as
condições de contorno são expressas em grandezas que dependem apenas de uma
coordenada axial, e incorpora os conceitos da teoria de chapas dobradas, o que torna
possível a consideração dos efeitos locais (deformações das seções transversais dos
elementos no seu próprio plano). Existem semelhanças substanciais entre a TGV e o
MFFS, no sentido que ambos os métodos adotam representações do campo de
deslocamentos similares e tratam diferentemente as discretizações ao longo da linha
média da seção transversal e ao longo do eixo longitudinal do perfil. No entanto, a TGV
é conceitualmente diferente do MEF/MFF/MFFS, pois ela (i) aproxima a configuração
da deformada de uma seção transversal da barra por meio de uma combinação linear dos
modos de deformação com significados mecânicos estruturais bem definidos e (ii)

102
proporciona uma metodologia geral para obter soluções rigorosas de diversos problemas
não lineares que envolvam perfis de seções abertas e de parede fina (Camotim, 2006).
Dentre os trabalhos que utilizaram a TGV nas análises de instabilidade de perfis
formados a frio, destaca-se o trabalho liderado pelo Professor Camotim e seus
colaboradores no Instituto Superior Técnico (Portugal) na elaboração de vários
trabalhos (Silvestre (2005), Silvestre e Camotim (2003), Camotim et al (2010)).
O trabalho de Baiz e Aliabali (2009) utiliza o método dos elementos de contorno
no cálculo da força crítica de PFF que se instabilizam no MLC. Cita-se também o
trabalho de Pala (2008) que utiliza os algoritmos genéticos para efetuar a análise linear
de estabilidade de perfis onde o MD é crítico.
Na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo vem sendo desenvolvido o
programa computacional PEFSYS, o qual é programado em linguagem Fortran F90 e
utiliza o MEF para a análise não linear física e geométrica de estruturas. Yojo (1993) e
Pimenta e Yojo (1993) formularam um elemento de barra tridimensional com base na
teoria geometricamente não linear para o estudo da instabilidade de vigas e pórticos em
balanço. Fruchtengarten (1995) alterou a hipótese constitutiva da teoria não linear
geometricamente exata formulada por Pimenta e Yojo (1993). Esta alteração permitiu a
análise de instabilidade por distorção cujos resultados foram comparados com a teoria
de Vlasov (1961).
Posteriormente, Campello (2000) incluiu o empenamento não uniforme no
elemento de barra tridimensional com base na teoria não linear geometricamente exata
para efetuar a análise não linear de perfis formados a frio. Fruchtengarten (2005)
comparou os resultados das análises de instabilidade lateral de vigas obtidas pela teoria
não linear geometricamente exata e pela teoria de Vlasov. Campello (2005) formulou
um elemento de casca triangular com base na teoria não linear geometricamente exata
para a análise não linear de estruturas com materiais elásticos e elastoplásticos.
No que se refere à revisão bibliográfica, destaca-se o trabalho de síntese de
Magnucka-Blandzi e Magnucki (2011), recentemente publicado, onde, além da
apresentação analíca da formulação das forças críticas locais e globais para vigas com
seções Ue com os enrijecedores constituídos por 2 ou 3 chapas em formato aberto ou
fechado, os autores apresentam e discutem uma vasta bibliografia sobre o problema de
instabilidade e otimização dos perfis formados a frio.

103
4.4. Tensões Residuais e Imperfeições Geométricas Iniciais
Em uma análise não linear de estabilidade de perfis formados a frio deve-se
considerar a presença de tensões residuais e imperfeições geométricas iniciais, pois
influem muito nos resultados do problema da estabilidade de seções de parede fina.
Esses dois fatores são decorrentes dos processos de fabricação e de montagem dos
perfis formados a frio.
A presença das tensões residuais é a principal causa da não linearidade do
diagrama tensão-deformação dos aços estruturais. Para perfis sem tensão residual o
comportamento tensão-deformação tenderia para o elastoplástico perfeito, conforme
mostra a Figura 4.19.

Figura 4.19: Influência da tensão residual no diagrama tensão-deformação.

Se um pilar de aço com tensões residuais (  r ) for submetido a uma compressão

uniforme, o diagrama tensão-deformação apresenta três zonas distintas, conforme


mostra a Figura 4.19: (i) um ramo linear, correspondente a um comportamento elástico
onde as tensões são menores do que a tensão de proporcionalidade (fp), (ii) um ramo não
linear, correspondente a um comportamento elastoplástico, ou seja, à medida que a
tensão aumenta, diminui a zona elástica da seção e, portanto, a declividade diminui e
(iii) um ramo horizontal que corresponde a um comportamento plástico onde todas as
fibras da seção atingem a resistência ao escoamento (fy). A relação entre a tensão de
proporcionalidade e a resistência ao escoamento é dada pela equação (4.33),
f p  fy r . (4.33)

Por meio de um estudo experimental, Weng e Pekoz (1990) concluíram que para
os perfis formados a frio com seção em Ue, as tensões residuais apresentam as seguintes

104
particularidades: (i) tensões de compressão na parte interna do perfil e de tração na parte
externa; (ii) nos cantos as tensões residuais são mais elevadas em comparação às partes
planas da seção; (iii) os valores encontrados das tensões residuais variam entre 25% a
70% da resistência ao escoamento do aço; (iv) a distribuição das tensões residuais segue
o mesmo padrão em todos os ensaios realizados e (v) nas partes planas, a distribuição
das tensões residuais é uniforme.
Nos cantos do perfil, as tensões residuais são mais elevadas, pois nessas regiões,
durante o processo de fabricação, o trabalho a frio é mais acentuado, aumentando a
resistência ao escoamento. Dessa forma, o aumento da tensão residual pode ser
negligenciado nessas regiões.
Por meio de ensaios em 93 perfis formados a frio submetidos à compressão,
Weng (1991) concluiu que a magnitude e a distribuição das tensões residuais são
diferentes quando comparados aos perfis laminados.
Schafer e Pekoz (1998) convencionaram que as tensões residuais são
constituídas de duas parcelas (i) membrana e (ii) flexão. Essa convenção foi adotada,
pois nos ensaios são colocados dois extensômetros, um em cada face do perfil,
fornecendo duas leituras. Geralmente essas leituras fornecem um valor de tensão
residual de tração na face externa e um valor de compressão na face interna, de
magnitudes diferentes. Isso pode ser explicado pela superposição entre uma tensão de
compressão constante ao longo da espessura (denominada de membrana) e uma
variação simétrica de tensões ao longo da espessura (denominada de flexão), conforme
mostra a Figura 4.20.

Figura 4.20: Definição das tensões residuais de membrana e flexão.


De acordo com Schafer e Pekoz (1998), as tensões residuais de membrana são
mais relevantes nos perfis laminados e soldados, enquanto que nos perfis formados a
frio as tensões residuais de flexão são mais elevadas do que as de membrana.

105
A distribuição de tensões residuais de flexão para perfis formados a frio com
seções tipo Ue recomendada por Schafer e Pekoz (1998) está ilustrada na Figura 4.21. A
tensão residual máxima ocorre na região de dobra das chapas. A distribuição das tensões
residuais na seção depende do processo de fabricação dos perfis formados a frio.
Quando o perfil é produzido em perfiladeiras a tensão residual máxima ocorre na alma
do perfil. Por outro lado, se o perfil for produzido em prensas dobradeiras, a máxima
tensão residual ocorre nas regiões de dobra. O modelo proposto por Schafer e Pekoz
(1998) não considera tensões residuais nos enrijecedores.

Figura 4.21: Tensões residuais em %fy: (a) perfiladeiras (b) prensas dobradeiras
(Adaptado de Schafer e Pekoz, 1998)
A consideração dos cantos arredondados ou vivos nas análises numéricas
provoca diferenças insignificantes na estimativa da resistência última dos perfis. Por
esse motivo, Ranawaka e Mahendran (2010) recomendam, para perfis produzidos em
prensas dobradeiras, a distribuição de tensões ilustradas na Figura 4.22 para seções tipo
Ue e Rack. Geralmente o aumento da resistência ao escoamento é desprezado nas
regiões de dobra do perfil e, por esse motivo, o acúmulo de tensões residuais na região
de dobras (0,33fy) é negligenciado.
As tensões residuais são aliviadas à medida que a temperatura do aço aumenta.
A taxa de alívio de tensões depende do teor de carbono presente no aço. Para aços com
0,2% de teor de carbono, as tensões residuais são nulas para temperatura acima de
830ºC (Calliser, 2000 apud Lee, 2004). Lee (2004) admite que as tensões residuais são
nulas para a temperatura igual a 800ºC e propõe a equação (4.34) para os fatores de
redução para as tensões residuais em função da temperatura,
  1, 0181  0, 00128 , (4.34)
onde  é a temperatura do aço em graus Celsius ( 20    800º C ).

106
Figura 4.22: Distribuição de tensões residuais: (a) Ue (b) Rack
(Adaptado de Ranawaka e Mahendran, 2010)
Os processos de fabricação e montagem dos perfis formados a frio originam as
imperfeições geométricas iniciais no elemento que devem ser incluídas nos
procedimentos de análises estruturais. Assim, as hipóteses de chapas retilíneas e barras
perfeitamente retas ao longo do seu eixo não são válidas.
Desse modo, a resistência última da barra pode ser muito influenciada pela
presença das imperfeições geométricas iniciais, especialmente se elas forem
semelhantes ao modo de instabilidade obtidos por meio de uma análise linear de
estabilidade.
As barras submetidas à compressão centrada estão, à rigor, sob flexocompressão
desde o início do carregamento devido aos esforços de flexão oriundos das imperfeições
iniciais e das possíveis excentricidades de carregamento.
Segundo Bazant e Cedolin (1991), em 1807 Young propôs que a imperfeição
geométrica inicial de uma barra fosse aproximada por uma função senoidal. Essa
proposta era válida somente para a imperfeição global do eixo da barra.
Dois tipos de imperfeições geométricas iniciais foram observados por Schafer e
Pekoz (1998), especificadamente para os efeitos localizados (modo local de chapa e
distorcional), conforme mostra a Figura 4.23. Com base em ensaios experimentais, os
autores concluíram que a máxima magnitude das imperfeições é fornecida pelas
equações (4.35), para duas categorias: (i) Tipo 1 - imperfeição máxima de elementos
enrijecidos e (ii) Tipo 2 - imperfeição máxima dos elementos com enrijecedores de
borda ou sem enrijecedores. Essas equações são válidas para (i) chapas com espessuras
menores do que 3 mm e (ii) com relações largura/espessura (b/t) menores do que 200 e
100 para os tipos 1 e 2, respectivamente,

107
d1  0, 006b ou d1  6.t.e 2t
. (4.35)
d2  t

Por meio de um estudo experimental e numérico, Yang e Hancock (2004)


concluem que as imperfeições iniciais na forma de um modo de instabilidade, obtida da
análise linear de estabilidade, podem conduzir a resultados contra a segurança devido à
possibilidade de ocorrência de interação entre os modos de instabilidade.

Figura 4.23: Parâmetros de imperfeições geométricas da seção transversal:


(a) Tipo 1, (b) Tipo 2
Devido à sensibilidade às imperfeições na resistência última dos perfis formados
a frio, no trabalho de Dubina e Ungureanu (2002) avaliou-se a influência das
imperfeições na capacidade resistente dos elementos estruturais com a finalidade de
estabelecer tolerâncias a serem utilizadas na fabricação dos perfis e definição das
imperfeições geométricas iniciais que devem ser incluídas nas análises numéricas.
Nessa linha de pesquisa citam-se, também, os trabalhos de Almeida (2007) e
Almeida e Neto (2009), onde os pilares de seções em U e Ue foram modelados por meio
do MEF com elementos sólidos e de casca do programa comercial ANSYS. Os autores
concluem que os perfis em seção Ue são menos suscetíveis às imperfeições geométricas
locais do que os perfis em seção U. Além disso, a forma e a magnitude das imperfeições
geométricas devem ser estabelecidas em função da esbeltez e do tipo de seção do
elemento a ser estudado.

4.5. Capacidade Resistente


A determinação da capacidade resistente dos perfis constituídos por placas
esbeltas envolve o conhecimento das trajetórias de equilíbrio. As trajetórias de
equilíbrio são obtidas por meio de dois tipos de análises:

108
(i) Análise Linear de Estabilidade: aplica-se a barras ideais (i.e., barras
sem imperfeições geométricas iniciais) e pressupõe-se que o
comportamento do aço é elástico. Tem o objetivo de determinar a
força crítica de instabilidade a qual é resultado da solução de um
problema de autovalor.
(ii) Análise Não Linear de Estabilidade: Esse tipo de análise é aplicável a
barras com ou sem imperfeições geométricas iniciais e com tensões
residuais e possibilita a determinação do comportamento pós-crítico
das barras. O comportamento do material pode ser elástico ou
elastoplástico.

De maneira ilustrativa, a Figura 4.24 mostra a trajetória de equilíbrio de um pilar


formado a frio obtida por diferentes tipos de análises de estabilidade: (i) estabilidade
elástica (análise de segunda ordem), (ii) análise do comportamento pós-crítico elástico
(inclui somente os efeitos da não linearidade geométrica) e (iii) análise do
comportamento pós-critico elastoplástico, onde ambas as não linearidades (geométrica e
do material) são consideradas. Na trajetória de equilíbrio elastoplástica, o colapso
ocorre em um ponto limite situado sobre a trajetória de equilíbrio. A resistência última
da barra corresponde a força um pouco superior à força que provoca o colapso do
elemento. No entanto, a análise não linear elástica tem grande utilidade prática na
análise de perfis à temperatura ambiente, pois permite caracterizar o comportamento
estrutural quase até o colapso. Observa-se ainda que a trajetória de equilíbrio horizontal,
obtida pela teoria de segunda ordem, reflete na linearização das equações de equilíbrio
utilizadas para efetuar a análise.

109
Figura 4.24: Tipos de análises de estabilidade.
A obtenção das trajetórias de equilíbrio envolve a solução de sistemas de
equações diferenciais lineares ou não lineares. Esses sistemas possuem soluções
analíticas fechadas somente para casos particulares, cuja geometria e condições de
carregamento são bastante simples e sem interesse prático. Desse modo, as normas de
dimensionamento de perfis formados a frio apresentam métodos simplificados de
dimensionamento, tais como o Método das Larguras Efetivas, o Método da Área Efetiva
e o Método da Resistência Direta, os quais são descritos a seguir.
A avaliação do esforço resistente de perfis formados a frio à temperatura
ambiente é feita, de maneira clássica, por meio do Método das Larguras Efetivas (MLE).
Segundo Wang (2002), esse método também é aplicável a temperaturas elevadas sendo
que as resistências ao escoamento e o módulo de elasticidade são reduzidos de acordo
com a temperatura. Para o entendimento do conceito das larguras efetivas considere
uma chapa simplesmente apoiada em todas as bordas e submetida à compressão
uniforme na menor direção da chapa. Para tensões inferiores à tensão crítica da chapa, a
distribuição de tensões é uniforme. Quando se aumenta a tensão de compressão,
ultrapassando-se a tensão crítica, ocorre uma redistribuição de tensões onde observa-se
uma diminuição do nível de tensões na parte central da chapa com um acréscimo de
tensões junto às bordas laterais da chapa, como mostra a ilustração da Figura 4.25.

110
Figura 4.25: Distribuição das tensões na fase pós-crítica na chapa.
Com base nessa redistribuição de tensões, von Karman et al (1932) propuseram
que a distribuição não-uniforme de tensões fosse substituída por uma distribuição
uniforme de tensões equivalentes, conforme mostra a Figura 4.26. Segundo von
Karman, a largura efetiva da chapa (bef) é dada pela equação (4.36),
bef k .E
 0,95 , (4.36)
t fy

onde k é o coeficiente de instabilidade da chapa, E é o módulo de elasticidade, t é a


espessura e f y é a resistência ao escoamento do aço.

Figura 4.26: Conceito de largura efetiva.


Em 1946, por meio de uma análise de vários resultados experime
ntais, Winter propôs uma correção na fórmula de Von Karman, recomendando
que a largura efetiva fosse calculada pela equação (4.37).

111
b  0, 25 
bef  1  , (4.37)
 p   p 

onde  p é a esbeltez reduzida da chapa, sendo dada pela expressão (4.38),

bt
p  . (4.38)
k .E
0,95

Posteriormente, a equação (4.37) foi alterada por Johnson (1966) apud Yu
(2000) para a inclusão dos efeitos de instabilidade elastoplástica, conforme mostra a
equação (4.39). Esta equação, embora modificada por Johnson (1966), é conhecida por
fórmula de Winter e está incluída em várias normas de perfis formados a frio, tais como
o AISI (2007), o Eurocode 3 parte 1.3 (2005) e a ABNT NBR 14762:2010,

b  0, 22 
bef  1  . (4.39)
 p   p 

Com caráter meramente ilustrativo, visto que o procedimento de cálculo será


detalhado no capítulo 6, a Figura 4.27 ilustra a evolução das tensões na fase pós-crítica
no perfil Ue que instabiliza (i) no MLC (Figura 4.27a), precipitada pela esbelteza da
alma ou da mesa e (ii) no MD (Figura 4.27b), ocasionada pela instabilidade do canto
mesa-enrijecedor. Da observação dos fenômenos mostrados na Figura 4.27, pode-se
concluir que não faz sentido aplicar o conceito de largura efetiva em seções que
instabilizam no MD, pois as altas tensões de compressão (quando o perfil abre, Figura
4.27b) e de tração (quando o perfil fecha, Figura 4.27c) desenvolvidas nas extremidades
do enrijecedor causam o colapso da seção.

Figura 4.27: Distribuição das tensões pós-críticas na seção Ue (a) MLC, (b) MD
que abre e (c) MD que fecha. Tensões em MPa.
Desse modo, a aplicação do método da largura efetiva deve ficar restrita aos
perfis que se instabilizam no MLC. No entanto, para avaliar a capacidade resistente de

112
perfis que instabilizam no MD, Kwon (1992) sugere, com base em testes experimentais,
a aplicação de fórmulas empíricas para o cálculo da largura efetiva, porém essas
expressões não caracterizam a distribuição real das tensões do comportamento pós-
crítico. A terminologia e metodologia de dimensionamento características do conceito
de largura efetiva são adotados unicamente com o propósito de uniformizar os
procedimentos e a nomenclatura corrente na avaliação da capacidade resistente de perfis
que instabilizam em ambos os modos locais (MLC e MD) para fins normativos.
O Método da Resistência Direta (MRD), proposto por Schafer e Pekoz (1998),
utiliza os resultados da análise linear de estabilidade para estimar o esforço resistente
dos perfis formados a frio. O método consiste em utilizar curvas de dimensionamento
ajustadas experimentalmente para, a partir da força de instabilidade elástica, calcular a
força de colapso do perfil. Nesse método, o processo de cálculo considera a seção do
perfil como um todo e não em elementos isolados, como no MLE.
O esforço resistente característico de um perfil submetido à compressão é
fornecido pelo menor valor entre a força normal resistente associada à instabilidade
local (NRl) e distorcional (NRdist), fornecidas pelas equações (4.40) e (4.41),
respectivamente,

N Re  0,15 
N Rl  1    N Re
l0,8  l0,8 
0,5
, (4.40)
N 
l   Re 
 Nl 
Af y  0, 25 
N Rdist  1,2 
1  1,2   Af y
dist  dist 
0,5
, (4.41)
 Af y 
dist  
 N dist 
onde A é a área da seção bruta, fy é a resistência ao escoamento do aço, NRe é o valor
característico da força axial de compressão resistente, associado à instabilidade global,
fornecido pela ABNT NBR 14762:2010, Nl e Ndist são as forças axiais elásticas devidas
à instabilidade local e distorcional, respectivamente, obtidas por meio de análises
lineares de estabilidade.
Para perfis submetidos à flexão, o momento fletor resistente característico, por
meio do MRD, é dado pelo menor valor entre a momento fletor resistente associado à

113
instabilidade local (MRl) e distorcional (MRdist), fornecidos pelas equações (4.42) e
(4.43), respectivamente,

M Re  0,15 
M Rl  1    M Re
l0,8  l0,8 
0,5
, (4.42)
M 
l   Re 
 Ml 
Wf y  0, 22 
M Rdist  1    Wf y
dist  dist 
0,5
, (4.43)
 Wf y 
dist  
 M dist 
onde W é o módulo de resistência elástico da seção bruta em relação à fibra extrema que
atinge o escoamento, MRe é o valor característico do momento fletor resistente,
associado à instabilidade global, fornecido pela ABNT NBR 14762:2010, Ml e Mdist são
os momentos fletores elásticos devidos à instabilidade local e distorcional,
respectivamente, obtidas por meio de análises lineares de estabilidade.
As análises lineares de estabilidade podem ser efetuadas por meio de programas
específicos, tais como, INSTABDKQ (Pierin, 2005) que utiliza o MEF, INSTABFAIXA
(Pierin, 2005) e CUFSM (Schafer e Ádány, 2006) que utilizam o MFF e o GBTUL
(Bebiano et al, 2008) que é formulado por meio da GBT.
No trabalho de Li e Schafer (2010), os autores mostram como o MFF e o MFF
confinado podem ser utilizados na determinação da capacidade resistente de perfis
formados a frio por meio do MRD. O MFF confinado permite uma melhor identificação
dos modos de instabilidade presentes, porém não permite a simulação dos cantos
arredondados do perfil.
Um outro método para o cálculo da capacidade resistente dos perfis formados a
frio à temperatura ambiente foi proposto por Batista (2010) e denominado por Método
da Seção Efetiva (MSE). Esse método é uma extensão do Método da Área Efetiva,
desenvolvido por Batista (1989), o qual era aplicável somente em perfis formados a frio
comprimidos. No MSE, a capacidade resistente do perfil é obtida a partir da tensão
crítica de bifurcação do elemento estrutural. Assim, considera-se a influência da
restrição às rotações de flexão que ocorre entre as paredes adjacentes, como por
exemplo, a rotação entre a mesa e a alma do perfil. Além disso, o método permite a
aplicação em perfis que se instabilizam no MD.

114
Para perfis formados a frio submetidos à compressão, o MSE fornece a área
efetiva da seção (Aef) por meio da expressão (4.44),

A  0,15 
Aef  1   A, (4.44)
 p0,8   p0,8 

onde  p é dado pela equação (4.45),


0,5
  Af y 
p    , (4.45)
 N 
em que A é a área da seção bruta, fy é a resistência ao escoamento do aço,  é o fator de
redução da força axial de compressão resistente, associado à instabilidade global,
calculado conforme a ABNT NBR 14762:2010 e N é a força axial de instabilidade
local elástica, calculada por meio de análise de estabilidade elástica.
Em perfis formados a frio submetidos à flexão, o MSE fornece o módulo efetivo
da seção (Wef) por meio da expressão (4.46),

W  0, 22 
Wef  1   W , (4.46)
 p   p 

onde  p é dado pela equação (4.47),


0,5
 Wf 
p   y  , (4.47)
 M 
onde W é o módulo de resistência elástico da seção bruta em relação à fibra extrema que
atinge o escoamento e Mℓ é o momento fletor de instabilidade local elástica, calculado
por meio de análise de estabilidade elástica.
No trabalho de Prola e Pierin (2009), os esforços resistentes de pilares de perfis
formados a frio de seções Ue, Ze e rack, obtidos experimentalmente em Batista et al
(1999), foram comparados aos esforços resistentes obtidos pelo MLE e MRD, além dos
procedimentos estabelecidos pelo Eurocódigo 3 parte 1.3 (2005) e pela norma norte-
americana (AISI, 2007). Embora o número de ensaios não seja significativo, Prola e
Pierin (2009) concluem, para os casos analisados, que os esforços resistentes obtidos
pelo MLE, MRD e AISI (2007) superam aos resultados obtidos por Batista et al (1999).
No entanto, os esforços resistentes obtidos por meio do Eurocódigo 3 parte 1.3 (2005)
são sempre a favor da segurança quando se leva em conta a mudança de posição do
centro de gravidade da seção efetiva.

115
Bedair (2009) fez um estudo analítico da influência das dimensões da mesa e do
enrijercedor na análise de estabilidade e no comportamento pós-crítico da alma de perfis
com seções Ue, estabelecendo comparações com especificações das norma norte-
americana (AISI, 2007) e canadense (CSA-S136-07). Concluiu que algumas
formulações presentes nas referidas normas não contabilizam adequadamente a
influência das outras paredes (mesa e enrijecedor) no comportamento da alma do perfil.
Esses métodos de dimensionamento à temperatura ambiente foram incorporados
aos códigos normativos, tais como o AISI (2007), que permite o uso do MRD, e,
recentemente, a ABNT NBR 14762:2010, que incluiu o MRD e o MSE como alternativa
ao MLE.
Além dos métodos simplificados supracitados, a capacidade resistente dos perfis
formados a frio pode ser obtida por meio de modelos numéricos de análises de
estabilidade que contemplem as não linearidades geométricas e do material. Esses
modelos desempenham um papel fundamental na validação e calibração de
metodologias para o dimensionamento de perfis formados a frio.
O primeiro estudo teórico em regime elastoplástico de chapas submetidas a
esforços de membrana foi realizado por Moxham em 1973. Anos mais tarde, o método
energético de Rayleigh-Ritz foi usado por Little (1977) e Grädzki e Kowaĺ-Michalska
(1987) no estudo do comportamento pós-crítico em regime elastoplástico de chapas de
aço.
As análises lineares de estabilidade em regime elastoplástico de chapas, vigas e
pilares foram realizadas por Lau e Hancock (1989) por meio do MFFS. O método da
quadratura diferencial foi utilizado por Wang e Huang (2008) no estudo de instabilidade
de chapas submetidas à compressão biaxial em regime elastoplástico. Em Azhari e
Bradford (1993), estuda-se a instabilidade de chapas em regime elastoplástico com ou
sem a inclusão de tensões residuais por meio do método das faixas finitas.
O comportamento pós-crítico de perfis formados a frio, considerando a não
linearidade do material, foi estudado por Key (1988), Yan-lin e Shaofan (1991) e Key e
Hancock (1993). O comportamento elastoplástico, estabelecido por meio do critério de
von Mises e da regra de fluxo de Prandtl-Reuss, foi incluído na formulação do método
das faixas finitas semianalítico.
Estudos semelhantes foram efetuados por meio do MFFS para o estudo do
comportamento pós-crítico de pilares de seção caixão e I (Yanlin, 1992) e de chapas

116
enrijecidas (Yanlin e Linder, 1993). Chen et al (1994) demonstraram que o uso do
MFFS em análise pós-crítica em regime elastoplástico é bastante eficiente.
Análises do comportamento pós-crítico em regime elastoplástico por meio do
MEF requer a utilização de modelos refinados de casca não lineares. Com a utilização
do programa ABAQUS, nos trabalhos de Dinis e Camotim (2004) e Dinis et al (2007)
foram analisados o comportamento pós-crítico de pilares de aço formado a frio em
seção rack e Ue, respectivamente. Nessas análises, as imperfeições geométricas iniciais
foram admitidas iguais às formas do modo crítico de instabilidade e com amplitudes
relativamente pequenas e as tensões residuais foram desprezadas. Na mesma linha de
pesquisa, em Loughlan et al (2009) verifica-se, por meio do programa NASTRAN, a
influência da não linearidade do material e das imperfeições geométricas iniciais no
comportamento pós-crítico de pilares de seção I constituídos de chapas finas.
Outros métodos numéricos são utilizados na determinação da capacidade
resistente de estruturas constituídas por chapas finas. Em Degee et al (2007) estuda-se
o comportamento pós-crítico de elementos estruturais com seção caixão. As análises
são efetuadas por um modelo numérico, constituído por elementos de viga que
consideram as deformações de membrana da seção transversal e as não linearidades
geométricas e do material. No trabalho de Paik e Kim (2008) foi utilizado o ISUM
(idealized structural unit method) na análise do comportamento pós-crítico de pilares de
seção caixão. Esse método utiliza técnicas computacionais semelhantes ao MEF, com a
diferença que a matriz constitutiva é função das propriedades geométricas e do material,
das imperfeições geométricas iniciais, das tensões residuais, dos fenômenos de
instabilidade e dos critérios de colapso. Os resultados obtidos apresentaram uma boa
correlação com as análises efetuadas por meio do programa ANSYS.

4.5.1. Problema de Instabilidade Inicial

A matriz geométrica k (equação (6.80)) não contém explicitamente os



deslocamentos e é proporcional ao nível de tensões. Portanto, quando se adota uma
estratégia incremental-iterativa na solução do problema não linear, na primeira etapa de
carregamento, no sistema local, a matriz k NL é nula e a equação (6.85) pode ser

reescrita como representada na equação (4.48),
d   k0  k  du  0 . (4.48)
    

117
Incrementando-se as tensões por meio de um fator  , que é um termo
multiplicativo que pode ser colocado em evidência na matriz geométrica, haverá um
ponto neutro de instabilidade se a igualdade (4.49) for satisfeita,
d   k0   k  du  0 . (4.49)
    
Como o sistema de equações (4.49), que traduz o equilíbrio da faixa finita, está
referido ao sistema de coordenadas locais, o estabelecimento das equações de equilíbrio
da estrutura requer (i) a realização de uma transformação do sistema de coordenadas
locais para o global das matrizes de rigidez e geométrica de cada faixa finita (ver item
6.4) e (ii) formar as matrizes de rigidez e geométrica globais da estrutura com base nas
incidências nodais. Após estas operações, chega-se ao sistema de equações (4.50),
sendo o parâmetro de tensão  obtido através da solução do problema de autovalores e
autovetores,

 K0   K  du  0 . (4.50)
 
O sistema de equação da expressão (4.50) representa o problema clássico de
instabilidade inicial, típico de problemas de instabilidade de hastes, placas e cascas onde
(i) os autovalores, que significam fisicamente as cargas de bifurcação (  ), são obtidos
matematicamete (em quantidade igual ao número de graus de liberdade do sistema
estrutural) pela anulação do determinante da matriz ( K 0   K ) e (ii) os autovetores
 
( du ) são determinados pela solução de (4.50) após a substituição de cada um dos

autovalores () já calculados.
A introdução dos valores de  transforma (4.50) em um sistema de equações
lineares indeterminado, que somente permite a obtenção das formas das configurações
deformadas associadas a cada um dos autovalores encontrados, denominadas de modos
de instabilidade. Isto pode ser explicado pelo fato de que a solução do sistema de
equações indeterminado pode ser feita adotando-se um valor arbitrário para um
elemento qualquer do vetor du , calculando-se os demais elementos do vetor em função

desse elemento arbitrado. O problema de instabilidade inicial somente pode dar
respostas fisicamente significativas se a solução elástica fornecer deformações em que a
matriz de grandes deslocamentos for nula.
Deve-se ter cuidado para não se utilizar a equação (4.50) além dos limites de
aplicabilidade, ou seja, no caso de grandes deslocamentos, quando se deve utilizar a
equação (6.87), ou seja, a expressão completa da matriz de rigidez tangente. Antes de

118
realizar-se a análise não linear geométrica é recomendável efetuar uma análise linear de
estabilidade (resolução do sistema de equações (4.50)), o que permite o conhecimento
prévio das cargas de bifurcação e dos respectivos modos de instabilidade. Nas análises
não lineares de estabilidade é usual (i) fixar-se o incremento de tensões como uma
parcela da tensão crítica e (ii) a utilização do modo de instabilidade como representativo
das imperfeições iniciais que fazem parte do problema de instabilidade não linear.

119
5. COMPORTAMENTO DE PERFIS FORMADOS A FRIO EM INCÊNDIO

Os perfis formados a frio, devido ao seu processo de fabricação, são, geralmente,


constituídos de seções abertas e de paredes finas muito esbeltas, o que implica,
automaticamente, em fenômenos de instabilidade local, i.e., caracterizados por
deformações das placas finas que constituem a seção, que não afetam as seções menos
esbeltas. Os fenômenos de instabilidade local provocam uma redução na capacidade
resistente dos perfis formados a frio.
O aço submetido a altas temperaturas sofre degeneração de suas características
físico-químicas, ocasionando uma redução da resistência ao escoamento e do módulo de
elasticidade, além do aparecimento de esforços solicitantes adicionais nas estruturas
com restrições às deformações térmicas, o que deve ser levado em conta no
dimensionamento de estruturas constituídas por esse material.
Como consequência desses dois fenômenos, no projeto de estruturas de perfis
formados a frio em situação de incêndio tem-se que analisar conjuntamente os
problemas de instabilidade e da degradação do material devido à temperatura. Existem
poucos trabalhos que tratam de perfis formados a frio em situação de incêndio, dentre os
quais ganham destaques os trabalhos de Kaitila (2002), Feng et al (2003), Zhao et al
(2005), Alves (2006), Chen e Young (2006, 2007 e 2008), Landesmann et al (2009),
Ranawaka e Mahendran (2009 e 2010), Kankanamge (2010) e Landsmann e Camotim
(2011).
A norma brasileira ABNT NBR 8800:2008 apresenta uma classificação das
seções transversais em função de sua esbeltez. As seções são classificadas em (i)
compactas – seções capazes de redistribuição de momentos fletores com grande
capacidade de rotação plástica antes da ocorrência de instabilidade local, (ii)
semicompactas – os elementos comprimidos podem atingir a resistência ao escoamento
antes que a instabilidade local, mas não apresentam grandes capacidades de rotação
plástica e (iii) esbeltas – seções onde um ou mais elementos comprimidos apresentam
instabilidade local em regime elástico antes de atingir a resistência ao escoamento.
Analogamente, o regulamento europeu Eurocode 3 parte 1.1 (2005) classifica as
seções de perfis metálicos em quatro classes em função da esbeltez de suas paredes,
capacidade resistente, capacidade de rotação plástica e do risco de instabilidade local:
(i) Classe 1: seções que permitem mobilizar a sua capacidade plástica, sem a
ocorrência de instabilidade local e com grande capacidade de rotação
plástica;

120
(ii) Classe 2: seções que permitem mobilizar a sua capacidade plástica, sem a
ocorrência de instabilidade local e com capacidade de rotação plástica
limitada;
(iii) Classe 3: seções que permitem mobilizar a sua capacidade elástica nas fibras
extremas, mas não a sua capacidade plástica em virtude do risco de
ocorrência de instabilidade local;
(iv) Classe 4: seções que não podem atingir a sua capacidade elástica em virtude
da ocorrência de instabilidade local.  
Nota-se que apesar de as definições das classes de seções conforme norma
europeia e brasileira serem similares, os limites de esbeltez das seções, que limitam as
classes, não são os mesmos. Para exemplificar, a Tabela 5.1 apresenta os limites de
esbeltez obtidos para um perfil laminado ou soldado, com seções I e H com dois eixos
de simetria e seções U não sujeitas a momento de torção, fletidas em relação ao eixo de
maior momento de inércia, com fy= 250 MPa, submetidos a flexão e a compressão,
respectivamente. Nessa tabela consideram os dois estados limites referentes a
instabilidade local: flambagem local da mesa (FLM) e flambagem local da alma (FLA).
Tabela 5.1: Esbeltez limite para perfil submetido à compressão.
Estado Limite
FLM (Elemento AL) FLA (Elemento AA)
Seção Esbelta – NBR 8800:2008 >16 >42
Classe 4 – EC3 parte 1.1 (2005) >14 >41

Observa-se que, para o perfil comprimido, os limites de esbeltez obtidos pelas


normas brasileira e europeia são semelhantes para as seções suscetíveis a fenômenos de
instabilidade local.
Devido à pequena espessura das chapas presentes nos perfis com seções
esbeltas, o fenômeno da instabilidade local torna-se importante no projeto desses perfis
à temperatura ambiente ou em temperaturas elevadas.
O fato de os perfis laminados ou soldados com seções esbeltas não atingirem a
plastificação total da seção, devido à precoce instabilidade local, impede que os
tradicionais redutores da resistência ao escoamento fy (ky,) recomendados pela ABNT
NBR 14323:1999 ou Eurocode 3 parte 1.2 (2005) sejam utilizados. Algo similar ocorre
nos perfis formados a frio.
Diversos pesquisadores (Makelainen e Miller (1983), Gleich (1995), Kaitila
(2002), Lee (2004), Zhao et al (2005) e Mecozzi e Zhao (2005)) ao ensaiarem perfis
formados a frio correlacionam a redução de esforço resistente desses perfis com uma
redução de resistência do aço associada a uma determinada deformação linear específica
menor do que a correspondente ao início do escoamento.

121
Atualmente, os ensaios utilizados para caracterizar as propriedades mecânicas
em incêndio dos perfis formados a frio não são suficientes em número e se restringem
apenas a alguns pesquisadores. Desse modo, sem um número expressivo de ensaios
experimentais, ainda não é possível elaborar com rigor um método geral e econômico
para o projeto de perfis formados a frio em situação de incêndio.
Para contornar essa lacuna de conhecimento, o Eurocode 3 parte 1.2 (2005)
permite, de forma simplificada, que os perfis formados a frio sejam dimensionados em
situação de incêndio utilizando o procedimento clássico do método das larguras efetivas
com redutor da resistência ao escoamento iguais aos recomendados para os perfis
laminados ou soldados com seção classe 4, isto é, relativo a 0,2% da deformação
específica plástica residual.
A seguir, apresenta-se uma descrição de ensaios e simulações numéricas,
realizados por diversos pesquisadores nos últimos anos, com a finalidade de verificar as
reduções da resistência ao escoamento dos perfis formados a frio em situação de
incêndio. Ao final do Capítulo, propõe-se uma metodologia de dimensionamento de
perfis formados a frio submetidos a elevadas temperaturas.

5.1. Perfis de Aço Formado a Frio em Incêndio


No que se refere aos trabalhos experimentais, pilares tubulares de chapa fina
foram ensaiados por Ala-Outinen e Mylymäki (1995), que verificaram que a largura
efetiva dos elementos, em temperatura elevada, segue a mesma formulação das
especificações do Eurocode 3 parte 1.3 para temperatura ambiente. Porém, devem-se
utilizar fatores de redução para a resistência ao escoamento e para o módulo de
elasticidade do aço em temperaturas elevadas com deformação específica residual de
0,2%, conforme sugere o Eurocode 3 parte 1.2 (2005). Foram encontradas temperaturas
críticas por volta de 400ºC.
Um estudo dos fenômenos de instabilidade por flexão e flexotorção em
temperatura ambiente e para situação em incêndio foi realizado por Ranby (1999).
Nesse estudo não se consideraram os efeitos causados por momentos aplicados na
estrutura, porém levou-se em conta o efeito do momento fletor causado pelo
deslocamento do centro geométrico da seção transversal indeformada, originado pelo
gradiente térmico.
Pela teoria de Nylander (1951), Ranby (1999) estudou o efeito de deslocamentos
iniciais à temperaturas elevadas. Os resultados mostraram que o efeito dos

122
deslocamentos iniciais tem a mesma influência relativa na resistência do aço em
temperatura ambiente e em situação de incêndio.
Por meio de uma série de ensaios e modelagens numéricas efetuadas com a
ajuda do método dos elementos finitos, Ranby (1999) concluiu que o procedimento
recomendado pelo Eurocode 3 parte 1.3 (1996) para instabilidade flexional e
flexotorcional em temperatura ambiente poderia ser utilizado em temperatura elevada,
desde que considerassem a redução da resistência e do módulo de elasticidade do aço
em função da temperatura.
Em outro trabalho numérico-experimental, Lee (2004) estudou o comportamento
de pilares de aço formados a frio em situação de incêndio. Os pilares ensaiados eram
curtos e não apresentaram modos de instabilidade global critico. Todos os ensaios foram
em regime estacionário. Foram determinados os coeficientes de instabilidade de placas
em altas temperaturas.
Um método termestrutural analítico para o cálculo da resistência ao fogo de
paredes Studs-Wall expostas ao incêndio em apenas uma face foi proposto por
Alfawakhiri e Sultan (2000). Os autores apresentaram modelos analíticos que permitem
simular o histórico das deformações laterais e indicar o tempo de colapso estrutural.
Mostram também como diferentes formas de aquecimento de pilares de aço formado a
frio podem causar diferentes modos de colapso. O modelo considera que a instabilidade
por flexotorção permaneça impedida durante o incêndio.
Por meio do programa comercial ABAQUS, Kaitila (2002) desenvolveu um
método numérico para representar o comportamento de perfis formados a frio em
situação de incêndio. Estudou o comportamento de vigas e pilares que se instabilizam
em modos local e global, para diferentes condições de contorno e carregamento. Foram
efetuados dois tipos de análises: (i) análise linear de estabilidade onde se obtém as
cargas criticas e os respectivos modos de instabilidade e (ii) a análise do comportamento
pós-crítico para se obter a carga última do elemento. As imperfeições geométricas
iniciais foram obtidas a partir da configuração do modo de instabilidade, obtido da
análise linear de estabilidade. A degradação das propriedades do aço devido ao
aquecimento foi incluída no modelo a partir dos fatores de redução fornecidos por
Outinen et al (2001), que, segundo o autor, fornecem resultados mais confiáveis na
modelagem numérica.

123
5.2. Propriedades Mecânicas dos Perfis Formados a Frio em Temperaturas
Elevadas
As propriedades mecânicas dos perfis laminados são bem conhecidas à
temperaturas ambiente e elevadas. Pesquisadores têm mostrado, por meio de ensaios,
que os fatores de redução da resistência ao escoamento e do módulo de elasticidade a
serem empregados para os perfis formados a frio são diferentes dos fatores de redução
utilizados nos perfis laminados.
Os primeiros ensaios de perfis formados a frio em situação de incêndio foram
realizados por Klippstein (1978). A partir desses ensaios, Gerlich (1995) obteve as
expressões (1.1) para o cálculo dos fatores de redução do módulo de elasticidade, k E , ,

e da resistência ao escoamento, k y , , para temperaturas inferiores a 650ºC,

k E ,  1, 0  3, 0.104   3, 7.107  2  6,1.109  3  5, 4.1012  4


, (1.1)
k y ,  1, 0  5,3.104   4, 0.106  2  1,9.108 3  1, 7.1011 4

onde  é a temperatura do aço.,


Makelainen e Miller (1983) ensaiaram, em regime transiente e estacionário,
chapas de aço galvanizado (Z33) formado a frio em situação de incêndio. No primeiro
caso, referente ao regime transiente, foram obtidas as expressões (1.2) para os fatores de
redução k E , e k y , ,

k y ,  1, 088  0,1314.exp 0, 0047   148,3  para 20ºC   <500ºC


k y ,  104. 1   1135    356  para 500ºC    800ºC .(1.2)
k E ,  1, 01  0,139.exp 0, 007   346   para 20ºC   <600ºC

Os valores de k y , foram obtidos com base na deformação específica residual

igual a 0,2%. A taxa de aquecimento utilizada nos ensaios foi igual a 10ºC/min.
Para os ensaios em regime estacionário, ou seja, com aplicação de carga de
tração em perfis submetidos à temperatura constante e uniforme, os autores obtiveram a
equação (1.3) para o redutor do módulo de elasticidade, sendo válida para temperatura
entre 20ºC e 800ºC,
   550 
k E ,  0,56  0, 46 tanh  . (1.3)
 250 
Um estudo semelhante foi realizado por Lee (2004), onde foram ensaiados 189
corpos de prova de aço com três diferentes resistências ao escoamento (300, 500 e 550
MPa) e com quatro espessuras distintas (0,4, 0,6, 1,0 e 1,2mm). Os fatores propostos

124
para a redução do módulo de elasticidade e da resistência ao escoamento estão descritos
pelas equações (1.4) e (1.5), respectivamente,
k E ,  1, 0 para   100ºC
k E ,  1, 0  0, 0014   100  para 100ºC<  500ºC , (1.4)
1, 0   1200
k E ,  -0,203 para 500ºC<  800ºC
0,3  0, 00122
k y ,  1, 0065  4.10 4   2.10 6  2  10 8 3  7, 9.10 12  4 . (1.5)

Observa-se na equação (1.4) que o redutor da resistência ao escoamento


apresenta um comportamento não linear somente para temperaturas superiores a 500ºC.
Além disso, o redutor do módulo de elasticidade é semelhante à equação (1.1) proposta
por Gleich (1995), mas válida para temperaturas entre 20ºC e 800ºC.
A variação do redutor da resistência ao escoamento obtidos por Makelainen e
Miller (1983), Gleich (1995), Lee (2004) e o Eurocode 3 parte 1.2 (2005) referente à
seção classe 4 está ilustrada na Figura 5.1.
Pode ser observado que as duas primeiras curvas são muito parecidas, com a
ressalva de que a expressão proposta por Gleich (1995) é válida para temperaturas
inferiores a 650ºC. Os resultados obtidos por Lee (2004) foram menos conservadores
para temperaturas superiores a 150ºC.
Os redutores do módulo de elasticidade obtidos por Makelainen e Miller (1983),
Gleich (1995), Lee (2004) e o Eurocode 3 parte 1.2 (2005) estão mostrados na Figura
5.2. Observa-se uma certa discrepância relativa entre os redutores do módulo de
elasticidade obtidos pelos autores. Para temperaturas superiores a 500ºC as curvas
convergem com exceção da curva que representa os redutores do módulo de elasticidade
obtidos por Makelainen e Miller (1983) no regime estacionário.

125
Figura 5.1: Redutor da resistência ao escoamento propostos por Makelainen e
Miller (1983), Gleich (1995), Lee (2004) e Eurocode 3 parte 1.2 (2005).

Figura 5.2: Redutor do módulo de elasticidade proposto por Makelainen e


Miller (1983), Gleich (1995), Lee (2004) e Eurocode 3 parte 1.2 (2005)

As propriedades mecânicas do aço zincado S350GD+Z em temperatura elevada


foram obtidas experimentalmente por Mäkeläinen e Outinen (1998) apud Kaitila
(2002). Estes ensaios foram executados em regime transiente. As deformações foram
obtidas em função da temperatura e o alongamento térmico foi subtraído da deformação
total para se obter a curva deformação versus temperatura.

126
As resistências ao escoamento obtidas experimentalmente foram relativamente
coincidentes com as resistências recomendadas em alguns códigos normativos, tais
como o Eurocode 3 parte 1.2 (2005) e as normas francesa e australiana. Os módulos de
elasticidade obtidos foram ligeiramente inferiores aos recomendados pelo Eurocode 3
parte 1.2 (2005).
Seguindo a mesma metodologia, Chen e Young (2006, 2007, 2008) analisam os
aços australianos G450 e G550 em temperaturas elevadas, utilizando corpos de prova
com espessuras de 1,9 mm e 1,0 mm. Os valores do módulo de elasticidade, a
resistência ao escoamento relativo a 0,2% da deformação específica plástica residual e
da resistência última dos aços G450 e G550 em temperatura ambiente estão
apresentados na Tabela 5.2.

Tabela 5.2: Propriedades mecânicas dos aços G450 e G550 à temperatura ambiente
Aço E (GPa) fy,0.2 (MPa) fu (MPa)
G450 203,0 524 551
G550 200,3 598 608

Segundo as conclusões desses autores:


(i) Para o aço G450 os fatores de redução da resistência ao escoamento proposto
pela norma australiana AS 4100 são conservadores para temperaturas entre 220ºC e
550ºC, enquanto para a temperatura de 660ºC, o redutor da resistência ao escoamento
encontrado pelos autores foi inferior ao redutor fornecido pela norma AS 4100.
(ii) Para o aço G550 os fatores de redução da resistência ao escoamento proposto
pela norma australiana AS 4100 são conservadores para temperaturas entre 220ºC e
400ºC, enquanto para as temperaturas entre 450ºC e 800ºC, os redutores da resistência
ao escoamento encontrado pelos autores foram inferiores aos redutores fornecidos pela
norma AS 4100.
Com base nos resultados experimentais efetuados em regime estacionário e
transiente, Chen e Young (2007) propõem a equação (1.6) para os fatores de redução do
módulo de elasticidade e da resistência ao escoamento dos aços G450 e G550. Os
coeficientes a, b, c e n estão apresentados nas Tabelas 4.4 e 4.5 para os aços G450 e
G550, respectivamente. O redutor do módulo de elasticidade foi obtido com base nos
ensaios em regime transiente somente para o aço G450,

127
  b 
n

k a . (1.6)
c
Os redutores da resistência ao escoamento em função da temperatura para os
aços G450 e G550 obtidos por Chen e Young (2007) estão apresentados na Figura 5.3.
Observa-se que os redutores da resistência ao escoamento do aço G450 são menores do
que os redutores do aço G550.

Tabela 5.3: Fatores de redução para o aço G450.


Propriedade Temperatura A B C n
Módulo de 22    450 1,0 22 1,25.103 1
Elasticidade
450    650 -0,11 860 -2,22.105 2
k E ,

Resistência ao 22    300 1,0 22 5,56.103 1


escoamento 300    650 0,95 300 1,45.105 2
k y , 650    1000 0,105 650 5,0.103 1

Tabela 5.4: Fatores de redução para o aço G550.


Propriedade Temperatura A B C n
Resistência ao 22    300 1,0 22 2,78.103 1
escoamento 300    450 0,9 300 4,8.106 3
k y , 450    1000 0,2 1000 9,0.108 3

128
Figura 5.3: Variação do redutor da resistência ao escoamento para os aços G450
e G550.

Mais tarde, um estudo semelhante foi realizado por Ranawaka e Mahendran


(2009), que desenvolveram equações empíricas para os fatores de redução do módulo de
elasticidade e da resistência ao escoamento dos aços G250 e G550. As equações foram
estabelecidas com base na tensão relativa a 0,2% da deformação plástica residual. Os
autores propuseram somente uma expressão (equação (1.7)) para o redutor do módulo
de elasticidade, pois a diferença entre os dois tipos de aços não foi significativa,
k E ,  1, 0 para 20ºC    100º C
. (1.7)
k E ,  1,1297  0, 0013 para 100ºC<  800º C

Já para os redutores da resistência ao escoamento dos aços G250 e G550, os


autores propõem duas expressões distintas, equações (1.8) e (1.9), respectivamente,
k y ,  1, 014  0, 0007 para 20ºC<  200º C
  74  , (1.8)
0,15

k y ,  3, 7  para 200ºC<  800º C


0, 736
k y ,  1, 0003  0, 00016 para 20ºC<  200º C

  200 
1,81

k y ,  0, 97  para 200ºC<  600º C . (1.9)


58500
k y ,  0, 3363  0, 00037 para 600ºC<  800º C

Em 2005, na Europa, um grupo de pesquisadores do Centre Technique


Industriel de la Construction Métallique, liderado por Zhao, publicaram um extenso
trabalho, em conjunto com diversos centros de pesquisas, com o objetivo de reunir

129
informações sobre o desempenho de pórticos constituídos de perfis formados a frio e
desenvolver métodos analíticos para a previsão da resistência quando esses são
submetidos a temperaturas elevadas. Foram efetuados testes de tração em corpos de
prova de dois tipos de aços (S280 e S350) e com três tipos de seções U identificadas de
(i) pequena, (ii) média e (iii) grande, conforme está indicado na Tabela 5.5. De acordo
com Zhao et al (2005) e Mecozzi e Zhao (2005), os aços S280 não possuem
características portantes e apresentam resistência relativa ao fogo menor do que os aços
S350.
Por meio de ensaios a tração, obteve-se a resistência ao escoamento relativa a
0,2% da deformação plástica, a resistência ao escoamento e o módulo de elasticidade
em temperatura ambiente, cujos resultados estão mostrados na Tabela 5.6.

Tabela 5.5: Seções analisadas (Mecozzi e Zhao, 2005)


Identificação Aço Seção U
Pequena S280 100x50x0,6
Média S350 150x57x1,2
Grande S350 250x80x2,5

Tabela 5.6: Propriedades mecânicas a temperatura ambiente


(Mecozzi e Zhao, 2005)
Identificação fσ (MPa) fy (MPa) E (GPa)
Pequena 312 383 212
Média 419 486 205
Alta 327 461 190,5

Os valores dos fatores de redução obtidos para o aço S350 em temperaturas


elevadas em regime estacionário e transiente estão apresentados na Tabela 5.7.
Nas especificações do Eurocode 3 parte 1.2 (2005), estão presentes fatores de
redução das resistências ao escoamento à deformação específica de 2%, do limite de
proporcionalidade e do módulo de elasticidade para temperaturas elevadas. Para seções
suscetíveis a instabilidade local, o Eurocode 3 parte 1.2 (2005) sugere que os valores de
redução da resistência ao escoamento do aço seja relativo a 0,2% de deformação
plástica residual. Outinen e Myllymäki (1995) postularam que esses valores de redução

130
poderiam se aplicados em perfis formados a frio. Na Tabela 5.8 estão indicados os
fatores de redução presentes no Eurocode 3 parte 1.2 (2005).
Tabela 5.7: Fatores de redução para aços S350 (Zhao et al, 2005)
Redutor da resistência Redutor da resistência Redutor do
Redutor da resistência correspondente ao limite ao escoamento para modulo de
Temperatura ao escoamento de proporcionalidade perfis formados a frio elasticidade
(ºC) k y ,  f y , f y k p ,  f p , f y k ,  f y , f y k E ,  E E
20 1,000 1,000 1,000 1,000
100 1,000 1,000 1,000 1,000
200 1,000 0,807 0,896 0,900
300 1,000 0,613 0,793 0,800
400 0,890 0,374 0,616 0,680
500 0,570 0,263 0,407 0,450
600 0,340 0,130 0,229 0,250
700 0,180 0,059 0,117 0,110
800 0,070 0,032 0,049 0,080
900 0,053 0,024 0,037 0,060
1000 0,035 0,016 0,025 0,040
1100 0,018 0,008 0,013 0,020
1200 0,000 0,000 0,000 0,000

Tabela 5.8: Fatores de redução segundo o Eurocode 3 parte 1.2 (2005)


Redutor da Redutor da resistência Redutor da resistência Redutor do
resistência ao correspondente ao limite ao escoamento para modulo de
Temperatura escoamento de proporcionalidade perfis formados a frio elasticidade
(ºC) k y ,  f y , f y k p ,  f p , f y k ,  f y , f y k E ,  E E
20 1,0000 1,0000 1,0000 1,0000
100 1,0000 1,0000 1,0000 1,0000
200 1,0000 0,8070 0,8900 0,9000
300 1,0000 0,6130 0,7800 0,8000
400 1,0000 0,4200 0,6500 0,7000
500 0,7800 0,3600 0,5300 0,6000
600 0,4700 0,1800 0,3000 0,3100
700 0,2300 0,0750 0,1300 0,1300
800 0,1100 0,0500 0,0700 0,0900
900 0,0600 0,0375 0,0500 0,0675
1000 0,0400 0,0250 0,0300 0,0450
1100 0,0200 0,0125 0,0200 0,0225
1200 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000

131
A variação dos redutores da resistência ao escoamento relativa a 0,2% da
deformação específica, do limite de proporcionalidade, da resistência ao escoamento
para perfis formados a frio e do módulo de elasticidade em temperaturas elevadas está
ilustrada nas curvas da Figura 5.4. Observa-se que os fatores de redução propostos pelo
Eurocode 3 parte 1.2 (2005) e por Zhao et al (2005) são semelhantes para temperaturas
baixas (20ºC a 300ºC) e altas (800ºC a 1200ºC). No intervalo de temperaturas entre
300ºC a 1100ºC, os valores obtidos por Zhao et al (2005) são inferiores aos fatores
recomendados pelo Eurocode 3 parte 1.2 (2005).

1.0 1.0
Zhao et al Zhao et al
0.8 (2005) 0.8 (2005)

EC3 parte 1.2 EC3 parte 1.2


(2005) (2005)

Redutor kp
Redutor ky

0.6 0.6

0.4 0.4

0.2 0.2

0.0 0.0
0 200 400 600 800 1000 0 200 400 600 800 1000
Temperatura (ºC) Temperatura (ºC)
(a) (b)
1.0 1.0
Zhao et al Zhao et al
0.8 (2005) 0.8 (2005)

EC3 parte 1.2 EC3 parte 1.2


(2005) (2005)
Redutor kE
Redutor kσ

0.6 0.6

0.4 0.4

0.2 0.2

0.0 0.0
0 200 400 600 800 1000 0 200 400 600 800 1000
Temperatura (ºC) Temperatura (ºC)
(c) (d)

Figura 5.4: Redutores: (a) resistência ao escoamento a 2%, (b) limite de


proporcionalidade, (c) resistência ao escoamento a 0,2%, (d) modulo de elasticidade.

Com o aumento da temperatura o diagrama tensão-deformação do aço deixa de


ser praticamente bilinear e passa a possuir um encruamento não linear. Para a correta
definição do encruamento não linear do aço a altas temperaturas torna-se necessário a
determinação da resistência ao escoamento e do limite de proporcionalidade. Nessa
linha de pensamento, o Eurocode 3 parte 1.2 (2005) propõe relações tensão-deformação
para temperaturas elevadas, válidas para uma taxa de aquecimento entre 2 e 50K/min,
com base nos ensaios feitos pelas siderúrgicas British Steel (Reino Unido) e ARBED
(Luxemburgo), que são dadas pelas equações (1.10),

132
  E  para    p ,
2
b  a 2      2 
0,5
  f p , c   y ,  para  p ,     y ,
a
  f y , para  y ,     t , , (1.10)
    p , 
  f p , 1   para  t ,     u ,
  u ,   t , 
  0, 0 para    u ,

onde os parâmetros são definidos pelas equações (1.11) a (1.14),


f p ,
 p , 
E
 y ,  0, 02 , (1.11)
 t ,  0,15
 u ,  0, 20

 c 
a 2    y ,   p ,    y ,   p ,  , (1.12)
 E 

b 2  c   y ,   p ,  E  c 2 , (1.13)

f  f 
2
y , p ,
c , (1.14)
 y ,    E  2 f
p ,  y ,  f p , 

em que  y , ,  p , ,  t , ,  u , são as deformações específicas no início do escoamento, no

limite de proporcionalidade, no final do patamar de escoamento e a última, na


temperatura  a , respectivamente, f p , é a tensão correspondente ao limite de

proporcionalidade, f y , é a resistência ao escoamento e E o módulo de elasticidade na

temperatura  a . A Figura 5.5 representa graficamente a lei constitutiva do aço a altas


temperaturas adotada pelo Eurocode 3 parte 1.2 (2005).

Figura 5.5: Relação tensão-deformação para aços a altas temperaturas.

133
O diagrama tensão-deformação específico para os aços S350 em função da
temperatura de acordo com a metodologia proposta pelo Eurocode 3 parte 1.2 (2005)
está ilustrado na Figura 5.6. Nas linhas cheias foram adotados os redutores conforme o
Eurocode 3 parte 1.2 (2005) para seções classe 4, enquanto que nas linhas tracejadas
foram adotados os redutores propostos por Zhao et al (2005). Observa-se que para
temperaturas superiores a 400ºC os redutores recomendados pelo Eurocode 3 parte 1.2
(2005) fornecem relações tensões-deformações menos conservadoras em relação aos
parâmetros fornecidos por Zhao et al (2005).
1
0.9
100ºC
Resistência ao escoamento relativa

0.8
0.7 200ºC

0.6 300ºC

0.5 400ºC

0.4 500ºC

0.3 600ºC
0.2 700ºC
0.1 800ºC
0
0 0.01 0.02 0.03 0.04
Deformação linear específica

Figura 5.6: Diagrama tensão-deformação em função da temperatura


linhas cheias - Eurocode 3; linhas tracejadas - Zhao et al (2005)

5.3. Dimensionamento de Perfis Formados a Frio em Incêndio


Como já foi referenciado anteriormente, o dimensionamento de PFF em situação
de incêndio ainda é um assunto pouco estudado, não existindo uma norma específica de
dimensionamento desses perfis nessa situação, uma vez que não se encontram
disponíveis trabalhos científicos que garantam com razoável grau de confiabilidade
procedimentos de dimensionamento seguros e econômicos. Com base nos redutores de
resistência ao escoamento já apresentados neste capítulo e no Eurocode 3 parte 1.2
(2005), apresentam-se, a seguir, algumas recomendações relativas ao dimensionamento
de perfis formados a frio em situação de incêndio, para a situação em que há redução
das características geométricas decorrente da instabilidade local. Essa metodologia
proposta aqui está no texto de revisão da ABNT NBR 14323 (2011).

134
A metodologia estima a força resistente de compressão ( N fi , Rd ) de um perfil

formado a frio em situação de incêndio por meio da equação (1.15),


N fi , Rd   fi k , Aef f y , (1.15)

onde k , é o redutor de resistência ao escoamento para perfis formados a frio, Aef é a

área efetiva da seção transversal à temperatura ambiente, determinada pelo método da


largura efetiva ou da seção efetiva.
O fator de redução associado à resistência à compressão em situação de incêndio
(  fi ) é dado pela equação (1.16),

1
 fi  , (1.16)
0, fi  0,2 fi  0,2 fi

com,
0, fi  0,5 1   0, fi  0,2 fi 
E
  0, 022 , (1.17)
fy
k y ,
0, fi  0
k E ,

onde 0 é o índice de esbeltez reduzido de barras comprimidas à temperatura ambiente,


determinado de acordo com a ABNT NBR 8800:2008.
k E ,
De forma simplificada, pode-se adotar:  0,85
k y ,

A variação da força normal resistente de um pilar de comprimento igual a 6,0 m


submetido à compressão com seção Ue 100x50x17x1,20, em função da temperatura
está representada na Figura 5.7. O gráfico foi obtido pela utilização dos fatores de
redução das propriedades mecânicas recomendados pelo Eurocode 3 parte 1.2 (2005)
para seções classe 4 e por Zhao et al (2005). A relação entre os redutores do módulo de
elasticidade e da resistência ao escoamento foi variável de acordo com os redutores
utilizados. Observa-se que para temperaturas superiores a 400ºC, a força normal
resistente calculada por meio dos redutores fornecidos por Zhao et al (2005) é inferior
aos valores calculados com os fatores de redução recomendados pelo Eurocode 3 parte
1.2 (2005).

135
20
18
16 Eq. (4.15) com redutores de
Zhao et al (2005)
14
Eq. (4.15) com redutores de
12
N fi,Rd (kN)

EC3 parte 1.2 (2005)


10
8
6
4
2
0
0 200 400 600 800 1000 1200
Temperatura (ºC)

Figura 5.7: Variação da força normal resistente com a temperatura.

Para perfis formados a frio submetidos à flexão, o momento resistente de cálculo


em situação de incêndio ( M fi , Rd ) é dado pela equação (1.18),

M fi , Rd   fi k , Wef f y , (1.18)

em que Wef é o módulo resistente elástico efetivo da seção transversal à temperatura

ambiente calculado de acordo com as prescrições da ABNT NBR 14762:2010, pelo


método das larguras efetivas ou das seções efetivas
A variação do momento fletor resistente com a temperatura para o perfil Ue
100x50x17x1,20 está ilustrada na Figura 5.8. Observa-se que para temperaturas
superiores a 400ºC, o momento fletor resistente calculada por meio dos redutores
fornecidos por Zhao et al (2005) é inferior aos valores calculados com os fatores de
redução recomendados pelo Eurocode 3 parte 1.2 (2005) para seções classe 4.

136
100
90
80 Eq. (4.18) com redutores de Zhao et
al (2005)
70
Eq. (4.18) com redutores de EC3
M fi,Rd (kN.cm)

60 parte 1.2 (2005)


50
40
30
20
10
0
0 200 400 600 800 1000 1200
Temperatura (ºC)

Figura 5.8: Variação do momento fletor resistente com a temperatura.


Como se pode notar nas Figuras 4.9 e 4.10, a proposta do autor desta Tese
conduz a resultados pouco abaixo daqueles recomendados por Zhao et al (2005) no
entanto, se trata de uma proposta que formaliza a recomendação do Eurocode 3 parte
1.2 (2005), ou seja, usar-se para os perfis formados a frio os mesmos redutores dos
perfis laminados ou soldados constituídos de elementos classe 4. Em vista de o
Eurocode 3 parte 1.2 (2005) ter sido a base das normas brasileiras de dimensionamento
em incêndio e as diferenças serem aceitáveis, julga-se a proposta de uso compatível com
regulamentação nacional sobre estruturas de aço.

137
6. MÉTODO DAS FAIXAS FINITAS APLICADO À ANÁLISE DE
INSTABILIDADE

O Método das Faixas Finitas (MFF) foi escolhido nesta Tese para efetuar as
análises de estabilidade de elementos estruturais com seção transversal constituídas de
paredes finas por apresentar, devido à forma como efetua a discretização da estrutura,
uma redução no esforço computacional na modelação e processamento de cálculo,
quando comparado ao conhecido e amplamente utilizado método de elementos finitos
(MEF).
Na análise de barras prismáticas, como é o caso dos perfis formados a frio, a
discretização dos elementos estruturais torna-se mais fácil quando comparada a um
modelo que faça uso do método dos elementos finitos, pois, como se verá, o método só
requer a discretização da seção transversal, permitindo que o usuário, mesmo sem
muitos conhecimentos em métodos numéricos, possa efetuar análises de estabilidade
por esse método.
Por meio do MFF, desenvolvem-se neste capítulo as análises:
(i) lineares de estabilidade, onde se obtêm os valores das tensões de bifurcação e
os correspondentes modos de instabilidade de barras comprimidas ideais (sem
imperfeições iniciais), ou seja, o valor da força de compressão que provoca a
instabilidade da barra e a respectiva forma da configuração deformada. Nesse tipo de
análise não se consegue determinar exatamente as deformações.
(ii) não linear geométrica, também conhecida como análises não lineares de
estabilidade, onde se torna possível calcular as trajetórias de equilíbrio, considerando a
não linearidade geométrica, de barras comprimidas com ou sem imperfeições
geométricas iniciais e com ou sem a consideração das tensões residuais.
O capítulo divide-se em três partes. Na parte inicial do capítulo, apresenta-se a
formulação do MFF aplicado a análises do comportamento elástico geometricamente
linear e não linear de elementos constituídos por paredes finas. A seguir mostra-se a
implementação das soluções numéricas dos dois tipos de análise por meio da elaboração
de um programa computacional, que é validado no final do capítulo pela comparação a
resultados de alguns exemplos conhecidos disponíveis na literatura.

138
6.1. Considerações iniciais
O método das faixas finitas (MFF) proposto inicialmente por Cheung (1976), no
final da década de 60, combina os métodos dos elementos finitos com a formulação dos
métodos de Rayleigh-Ritz ou Galerkin (Fan, 1982). A discretização dos elementos
estruturais é processada da seguinte forma:
(i) Discretização espacial no plano da seção transversal da peça, passando esta a ser
constituída por um conjunto de faixas finitas de largura b e comprimento a,
sendo que a conexão de duas faixas adjacentes é feita através das linhas nodais,
conforme mostra a Figura 6.1;
(ii) Na direção transversal, o campo de deslocamentos é aproximado, em cada faixa
finita, por funções polinomiais cujo grau condiciona a compatibilidade entre as
faixas adjacentes;
(iii) Na direção longitudinal, os deslocamentos de cada faixa finita são aproximados
por funções contínuas que satisfazem as condições de contorno globais do
elemento. Em geral utilizam-se funções periódicas que possuam a capacidade de
satisfazer as condições de contorno, como é o caso, por exemplo, das funções
trigonométricas. Devido a este fato, é usual designar esta versão por método das
faixas finitas semi-analítico (MFF).

faixa finita

linhas
nodais

Figura 6.1: Discretização de um perfil em faixas finitas.

139
O MFF é vantajoso para análise linear de estabilidade de estruturas cuja
deformação longitudinal é periódica. No entanto, segundo Prola (2001), a utilização do
MFF apresenta algumas dificuldades na modelagem em alguns aspectos como: (i) em
elementos onde a deformação longitudinal não é periódica, devido à presença de apoios
intermediários ou diferentes condições de contorno e (ii) compatibilidade de
deslocamentos de membrana e flexão entre duas faixas adjacentes não coplanares. Esse
último aspecto é relevante no estudo do comportamento pós-crítico associado ao modo
distorcional, onde os deslocamentos de membrana assumem grande importância.
Para contornar estas dificuldades, Kwon (1992) sugere a utilização do método
das faixas finitas splines (MFFS), desenvolvido por Fan (1982), o qual é uma
modificação na versão original do MFF, onde as funções periódicas de aproximação dos
deslocamentos longitudinais são substituídas por combinações lineares de funções
especiais, designadas por “B3Spline”. O MFFS apresenta mais graus de liberdade do
que o MFF, mas, mesmo assim, o número de graus de liberdade é aproximadamente
40% menor quando comparado ao modelo de elementos finitos utilizando elementos de
casca (Van Erp, 1989).
Como se pretende efetuar análises lineares e não lineares que considerem todos
os modos locais de instabilidade de seções de parede fina, nessa Tese as análises de
instabilidade serão efetuadas por meio do MFFS.

6.2. Funções “B3Spline”

As funções splines foram desenvolvidas por Schoenberg (1946).


Matematicamente, as funções splines são definidas como sendo polinômios
segmentados de grau n cujos valores e suas primeiras n-1 derivadas passam pelos
pontos comuns a esses segmentos. Esses pontos são denominados de nós e os
polinômios são escolhidos de forma a minimizar a curvatura quadrática média mínima.
O intervalo é dividido em m subintervalos onde se define m+1 nós.
Uma função “B3Spline” (B3S) é definida em um domínio constituído por quatro
intervalos de igual comprimento (h), sendo definida no domínio genérico
x i  2h, x i  2h  , pelas expressões (6.1),

140
0 x  xi  2h
s x
 1  xi  2h  x  xi  h
 s  x  xi  h  x  xi
i  x    2 , (6.1)
 s3  x  xi  x  xi  h
 s4  x  xi  h  x  xi  2h

0 x  xi  2h

onde os polinômios si(x) são definidos pelas equações (6.2),


1
s1  x   3 
x  xi  2h 
3

6h
1
s2  x   3  h3  3 h 2  x  xi  h   3h  x  xi  h   3  x  xi  h  
2 3

6h  
. (6.2)
1  3
s3  x   3 h  3 h  xi  h  x   3h  xi  h  x   3  xi  h  x  
2 2 3

6h  
1
s4  x   3  xi  2h  x 
3

6h
A representação de uma função “B3Spline” assim definida está mostrada na
Figura 6.2, a qual é classificada como de classe C2, ou seja, a função e as primeiras duas
derivadas são contínuas no intervalo x i  2 h, x i  2 h  . Os valores da função B3S e das
suas duas primeiras derivadas correspondentes às extremidades de cada subintervalo
estão indicados na Tabela 6.1.

  i

xi‐2  xi‐1 xi xi+1 xi‐2 


h h h h

Figura 6.2: Função “B3Spline”.


Tabela 6.1: Valores da função B3S e das suas duas primeiras derivadas.

x i 2 x i1 xi x i1 x i2


i 0 1/6 2/3 1/6 0

'i 0 1/2h 0 1/2h 0

"i 0 1/h2 2/h2 1/h2 0

141
Uma combinação linear das funções B3S definida pela equação (6.3) e ilustrada
na Figura 6.3 pode ser usada para aproximar uma função genérica f(x) definida no
intervalo [a,b],
m 1
f  x   B3 S  x     ii  x  , (6.3)
i 1

onde m é o número de sub-intervalos de comprimento h=(ab)/m e definem-se (m+3)


pontos, denominado de nós, (as extremidades dos m sub-intervalos e mais dois pontos
exteriores, adjacentes às extremidades do intervalo – (ah) e (a+h)).

Figura 6.3: Combinação linear de funções “B3Spline”.


Os coeficientes  i são determinados por meio das condições de contorno dadas

pelas expressões (6.4),


B3 S   a   f '  a 
B3 S  a  jh   f  a  jh  j  0,1, ..., m . (6.4)
B3 S   b   f '  b 

A utilização das funções B3S conduz a uma representação suave dos


deslocamentos longitudinais do elemento estrutural, sendo que o diagrama tensões-
deformações é mais bem representado quando comparado ao método das faixas finitas
semi-analítico (Prola, 2001).

6.3. Formulação das Faixas Finitas


A utilização do método das faixas finitas splines (MFFS) requer duas
discretizações, uma no sentido transversal e outra no sentido longitudinal do elemento
conforme mostram as Figura 6.4a e Figura 6.4b, respectivamente.
O elemento estrutural é dividido transversalmente em nf faixas finitas de largura
b e comprimento a, sendo que as faixas adjacentes são conectadas por meio das linhas
nodais. A largura b pode variar entre as faixas, enquanto o comprimento é único para
todas as faixas finitas e igual ao comprimento do perfil. Cada linha nodal é subdividida

142
em m seções utilizando (m+1) nós. Para a definição das funções B3S é necessário dois
nós exteriores ao comprimento da faixa, conforme mostra a equação (6.3). Dessa
maneira, são necessários (m+3) nós por linha nodal.

faixa finita

nós
a
h
h y
h
h
linhas h
h m seções 
nodais x
b h

(a) (b)

Figura 6.4: Discretização de um perfil em faixas finitas: (a) transversalmente e


(b) longitudinalmente.
Os graus de liberdade de uma faixa finita estão representados na Figura 6.5.
Observa-se que cada faixa possui 8(m+3) graus de liberdade, na medida em que cada nó
está associado a: (a) dois deslocamentos de membrana (u e v), (b) um deslocamento de
flexão (w) e (c) uma rotação de flexão (x). Consequentemente, o número de graus de
liberdade da estrutura é 4nl(m+3), onde nl é o número de linhas nodais da estrutura.

z
y m+3 nós y h
wi wj h
vi xj h
a  xi vj
h
linha  h
nodal i
ui uj h
t h
h
x linha 
b nodal j

Figura 6.5: Graus de liberdade numa faixa finita.

143
Os vetores dos deslocamentos generalizados ou dos graus de liberdade, de
membrana ( u m ) e de flexão ( u f ), de uma faixa finita são definidos pela expressão
 
(6.5),
ui   wi 
v   
 i  xi 
um    u f    , (6.5)
 u j   w 
j

   xj 
v j   
onde os sub-vetores ui , j , vi , j , wi , j e  xi , j tem dimensão m+3 e são dados pelas equações
   
(6.6),

ui , j  u1 , u0 , u1 , ..., um1 , um , um1


T


vi , j  v1 , v0 , v1 , ..., vm1 , vm , vm1
T

 . (6.6)
wi , j  w1 , w0 , w1 , ..., wm1 , wm , wm1
T


 xi , j   x ,1 ,  x ,0 , x ,1 , ...,  x ,m1 ,  x ,m ,  x ,m1
T


Os deslocamentos no sentido longitudinal são aproximados por meio de uma
combinação linear de m+3 funções “B3Spline”, onde m é o número de nós considerado
em cada linha nodal, conforme mostra a Figura 6.4b. Os deslocamentos nodais são
dados por uma expressão do tipo da equação (6.3), onde os coeficientes  i são
determinados por meio do princípio da energia potencial estacionária ou da aplicação do
principio dos trabalhos virtuais.
Na direção transversal da faixa finita (eixo y), os deslocamentos de membrana (u
e v) são aproximados por polinômios lineares e os deslocamentos de flexão (w e x) por
polinômios cúbicos.
Assim, o campo de deslocamentos em uma faixa finita é definido pela equação
(6.7) e as componentes u, v e w, que ocorrem em qualquer ponto da superfície média da
faixa, são obtidos pelas equações (6.8) a (6.10),
u 
 
u  v ,
e
(6.7)
  w
 

u 
   N m m u
m

v     , (6.8)
w  N ff u f
  
onde

144
 N ( y)  N ( y) 0 N 2 ( y) 0 
N m ( y)    u    1 , (6.9)
  Nv ( y)   0 N1 ( y ) 0 N 2 ( y ) 

N f ( y )   N3 ( y ) N 4 ( y) N5 ( y) N 6 ( y ) , (6.10)
~

onde Ni(y) são as funções que representam a variação dos deslocamentos de cada faixa
finita na direção transversal (eixo y), sendo dadas pelas expressões (6.11)-(6.17),
N1  1  y (6.11)

N2  y (6.12)

N3  1  3 y 2  2 y 3 (6.13)


N4  y 1  2 y  y 2  (6.14)

N5  3 y 2  2 y 3 (6.15)


N6  y y 2  y  (6.16)

y
y . (6.17)
b
As matrizes  m e  f representam a variação dos deslocamentos na direção
 
longitudinal (eixo x) de cada faixa finita, sendo definidas pelas equações (6.18) e (6.19),
ui 0 0 0
  
 0  0
uj 0
m      ,  (6.18)
 
vi 0 
0 0
 
0 0
0 vj 
  
wi 0 0 0
    
 0  i 0 0
f     , (6.19)
 0 0 wj 0 
    
 0 0 0  j 
     
em que 0 é o vetor nulo de dimensão m+3. Os vetores ui , uj , vi , vj , wi , wj ,  i e
       
 j , também de dimensão m+3, são iguais às funções B3S locais, definidos de forma

genérica pelo vetor (6.20),
  1 , 0 , 1 , 2 ,..., m2 , m1 , m , m1  ,
(6.20)

em que  são as funções B3S modificadas conforme a natureza do grau de liberdade.

145
As condições de contorno nas extremidades de cada linha nodal são satisfeitas
por meio da aplicação de funções B3S modificadas, que são obtidas pela alteração dos
valores das três funções B3S que definem o valor de f(x) em cada um dos segmentos
extremos da faixa finita. Ou seja, para a borda x=0 as funções 1 , 2 e 3 devem ser

substituídas pelas funções splines modificadas 1 , 2 e 3 , enquanto para a borda x=a as

funções m 1 , m  2 e m 3 devem ser substituídas por m1 , m 2 e m3 . As funções


modificadas correspondentes às condições de contorno livre, apoiado, engaste e engaste
deslizante estão apresentadas na Tabela 6.2.
Observa-se que a menos das condições de contorno das bordas longitudinais,
todos os deslocamentos são aproximados pela mesma função. Isso assegura a
compatibilidade de deslocamentos de membrana e flexão entre duas faixas finitas
adjacentes não co-planares.
Tabela 6.2: Definição das funções B3S modificadas.

Extremidade x=0 Extremidade x=a

condição
Extremi- 3 m 3
de 1 2  m 1 m 2
dade contorno

f(x)0 1 1
Livre 1 2  41 3 -  2  1 m1  m 2  m3 m  2  4m  3 m  3
f’(x)0 2 2

f(x)=0 1 1
Apoiado 0 2  41 3 - 2 +1 m1  m 2  m3 m  2  4m  3 0
f’(x)0 2 2

f(x)=0 1 1
Engaste
f’(x)=0
0 0 3 - 2 +1 m1  m 2  m3 0 0
2 2

Engaste f(x)0 1 1
0 2 3 - 2 +1 m1  m 2  m3 m  2 0
deslizante f’(x)=0 2 2

As relações deformações-deslocamentos utilizadas na análise linear de


estabilidade, são válidas para as seções constituídas por placas finas e baseiam-se nas
seguintes hipóteses, Cheung (1976):

146
(i) A espessura de cada placa é muito pequena em relação às dimensões da
sua superfície média.
(ii) As rotações das placas são pequenas.
(iii) Os deslocamentos de membrana das placas são pequenos, quando
comparados com os respectivos deslocamentos de flexão.
(iv) No plano médio de cada placa as fibras normais, antes da deformação,
permanecem normais a esse mesmo plano, após a deformação. Deste
modo, as deformações (e, consequentemente, as tensões) em qualquer
ponto da placa podem ser expressas em termos das deformações
generalizadas do plano médio (deformações de membrana e curvaturas).
Na formulação das faixas finitas, o vetor da deformação de membrana, devido às
pequenas deformações, é definido pela equação (6.21),
 u 
 
  x   x 
   v 
 0m    y    . (6.21)
    y 
 xy   u v 
  
 y x 
Considerando a curvatura de flexão (  xy ) com o sinal positivo de maneira a

coincidir com o sinal positivo do momento de torção, o vetor de deformação de flexão


(curvaturas) é representado pela equação (6.22),
 2w 
 2 
  x   2x 
    w 
 0f    y     2  . (6.22)
     y 
 xy   2 
 w
2 
 xy 
Em relação às equações constitutivas, considera-se que cada faixa finita é
constituída por um material elástico e isotrópico, para o qual as expressões que
relacionam tensões com deformações são lineares. As tensões generalizadas de
membrana normais e tangenciais à superfície média da faixa finita  0m e os momentos

fletores e torçores  0 são representadas por meio das equações (6.23) e (6.24),
f


respectivamente,

147
 x 
 
   y  ,
m
0 (6.23)
  
 xy 
Mx 
 
 0
f
 M y . (6.24)
 M 
 xy 

Consequentemente, as relações lineares tensões-deformações específicas podem


ser dadas pelas equações (6.25) e (6.26),
 0m  D0m 0m , (6.25)
  
 0  D0f  0f ,
f
(6.26)
  
sendo que as matrizes constitutivas de constantes elásticas, de membrana e flexão, para
material isotrópico são definidas pelas matrizes (6.27) e (6.28),
 
1  0 
E  
D0m  2 
 1 0 , (6.27)
 1  
1  
0 0 
 2 
t3 m
D0f  D0 , (6.28)
 12 
onde E e  são, respectivamente, o modulo de elasticidade e o coeficiente de Poisson
do material, sendo t a espessura da faixa finita.
Com base na Teoria de Kirchhoff-Love, as tensões normais à superfície média
da faixa  z são desprezíveis. Além disso, a reta normal à superfície média na
configuração indeformada, permanece reta e perpendicular à superfície média após a
deformação. Assim, as tensões de membrana em qualquer ponto da faixa podem ser
obtidas por meio da equação (6.29),
 x   x   M x 
     
 y    y   z  M y  , (6.29)
     
 xy   xy   M xy 
onde z é a coordenada ao longo da espessura t da faixa e pode ser qualquer valor no
intervalo   t 2, t 2 .

A partir das relações lineares de deformação específica deslocamentos (equações


(6.21) e (6.22)), obtém-se a relação entre o vetor de deformações específicas

148
generalizadas e o vetor de deslocamentos nodais da faixa que estão expressas nas
equações (6.30) e (6.31),
 0m  B0mu m , (6.30)
  
 0  B0f u f ,
f
(6.31)
  
onde B0m e B0f são as matrizes de deformação de membrana e de flexão,
 
respectivamente, representadas por meio das equações (6.32) e (6.33),
 N1, x 0 N 2, x 0 
     
B0m   0 N1, y 0 N 2, y  , (6.32)
     
 N1, y N1, x N 2, y N 2, x 
   
  N 3, xx  N 4, xx  N 5, xx  N 6, xx 
     
B0f    N 3, yy  N 4, yy  N 5, yy  N 6, yy  . (6.33)
     
 2 N 3, y, x 2 N 4, y, x 2 N 5, y, x 2 N 6, y, x 
   
Existem duas formas de se obter as equações de equilíbrio de um sistema
estrutural, cujos enfoques são semelhantes:
(i) A primeira alternativa consiste em dividir o corpo em elementos
infinitesimais e estabelecer as equações de equilíbrio de forças de um
elemento isolado. Introduzindo as equações constitutivas e as relações
entre as deformações específicas nas equações de equilíbrio, obtém-se
um sistema de equações diferenciais parciais de equilíbrio, cuja
solução depende das condições de vinculação da estrutura;
(ii) A segunda alternativa é a formulação variacional do problema, onde
se calcula o funcional da energia potencial total do sistema. As
equações de equilíbrio são encontradas a partir do Princípio da
Energia Potencial Estacionária. Se o valor estacionário da energia
potencial corresponder a um valor de mínimo de energia potencial
total, a configuração deformada da estrutura, obtida da solução do
sistema de equações de equilíbrio, é uma configuração de equilíbrio
estável.

O funcional da energia potencial total (π) de um corpo elástico em relação a


certa configuração deformada é definido como a soma da energia de deformação interna
(U), acumulada pelo corpo desde sua configuração indeformada até a configuração

149
deformada, com o potencial de realização de trabalho das forças externas atuantes (V).
Matematicamente esse funcional pode ser escrito pela equação (6.34),
  U V . (6.34)
A energia potencial total do sistema é dada pela equação (6.35), sendo fornecida
pela soma das energias potenciais de cada faixa finita e (admitindo continuidade de
deslocamentos entre as faixas),
ne
   e . (6.35)
e 1

O potencial das forças externas é dividido em duas parcelas: (i) uma devido às
deformações de membrana (Vm) e (ii) outra devido às deformações de flexão (Vf), sendo
expressa pela equação (6.36),
V  V m  V f   f mu m  f f u f , (6.36)
   
onde f m e f f são os vetores de cargas generalizadas de membrana e de flexão atuantes
 
na faixa finita.
A energia de deformação interna é dividida em duas parcelas: (i) uma devido às
deformações de membrana (Um) e (ii) outra devido às deformações de flexão (Uf), sendo
expressa pela equação (6.37),
1 1
U  U m U f    0m T 0m dV    0f T 0f dV .
2V   2V  
(6.37)

Substituindo-se as equações (6.25) e (6.26) em (6.37), a energia de deformação


interna pode ser expressa por meio da equação (6.38),
1 mT m m 1
U  U m U f    0 D0  0 dV    0f T D0f  0f dV .
2V    2V   
(6.38)

Quando se substitui as equações (6.30) e (6.31) na equação (6.38), encontram-se


as energias de deformação de membrana e de flexão expressas em função dos
deslocamentos generalizados, representadas nas equações (6.39) e (6.40),
respectivamente,
1 mT mT m m m
2 V     
Um  u B0 D0 B0 u dV , (6.39)

1 fT fT f f f
2 V     
Uf  u B0 D0 B0 u dV . (6.40)

Assim, a energia potencial total da faixa fica sendo dada pela equação (6.41),

150
1 mT mT m m m 1
e   u B0 D0 B0 u dV   u f T B0f T D0f B0f u f dV  f mu m  f f u f ,(6.41)
2V      2V         
Para encontrar a equação de equilíbrio da faixa, aplica-se o Principio da Energia
Potencial Estacionária. A energia potencial total é mínima, quando a primeira variação
da energia potencial total, em relação aos deslocamentos generalizados, for nula,
conforme está expresso na equação (6.42),
 e
  B0m T D0m B0m dVu m   B0f T D0f B0f dVu f  f m  f f  0 . (6.42)
u V     V
     

Assim, as matrizes de rigidez de membrana ( k0m ) e de flexão ( k0f ) no sistema
 
local da faixa finita são definidas pelos termos que multiplicam os deslocamentos
generalizados de membrana e de flexão da equação (6.42), as quais são dadas pelas
equações (6.43) e (6.44),
a b
k    B0m T D0m B0mtdydx ,
m
0 (6.43)
 0 0
  
a b
k0f    B0f T D0f B0f dydx . (6.44)
 0 0
  

Desse modo, a matriz de rigidez elástica da faixa finita, incluindo os termos de


membrana e de flexão, é dada pela equação (6.45),
k m 0 
k0    0  . (6.45)
  0 k0f 
 
Finalmente, a partir da equação (6.42) pode-se escrever a equação de equilíbrio
da faixa finita por meio da equação (6.46), a qual pode ser reescrita de forma compacta
na representação mostrada na expressão (6.47),

 k0m 0  u m   f 
m

   .       , (6.46)
0 k0f  u f   f f 
   
k0u  f . (6.47)
  
Nessa Tese, as matrizes de rigidez serão integradas numericamente por meio da
integração Gaussiana. Verifica-se que o esquema de integração 2x2 conduz a resultados
satisfatórios para a integração das matrizes de rigidez lineares. Devido ao fato de ser
utilizada uma combinação linear de funções B3S, será utilizado m esquemas de
integração de Gauss. A posição dos pontos de integração ao longo de uma faixa finita
está ilustrada na Figura 6.6.

151
Figura 6.6: Esquema de integração
Por meio dos pontos de Gauss é possível considerar a redução do módulo de
elasticidade decorrente do aumento de temperatura. As temperaturas nas linhas nodais
são obtidas por meio do programa ATERM (ver capítulo 3 desta Tese). As temperaturas
no interior da faixa finita são obtidas por interpolação linear.
O cálculo do vetor de forças depende da forma com que os carregamentos estão
aplicados na estrutura. No caso de forças ou momentos concentrados aplicados
diretamente nos nós da estrutura, basta aplicar o valor equivalente na devida posição
dentro do vetor de forças.
Já no caso de forças distribuídas aplicadas, é necessário fazer a integração dentro
de cada faixa e posteriormente sobrepor essas cargas ao vetor de forças concentradas
nos nós. O vetor de forças f generalizadas da faixa finita é definido pela equação

(6.48),
 f m   f qm 
f    f    f , (6.48)
  f   f q 
 

152
onde f m e f f são os vetores de ordem m+3 de forças generalizadas de membrana e
 
flexão, respectivamente. Os vetores f qm e f qf representam as forças generalizadas de
 
membrana e de flexão devido às forças e momentos aplicados diretamente nos nós da
faixa finita.
O vetor das forças generalizadas de membrana é definido pela equação (6.49),
a b
f m    mT N vT p x dx    mT N uT p y dy , (6.49)
 0 
 0 

onde p x e p y são as forças distribuídas por unidade de comprimento ao longo das faces

x e y da faixa finita, respectivamente.


O vetor de forças generalizadas de flexão é definido pela equação (6.50),
a b
f f     Tf N wT pz dydx , (6.50)
 0 0 

onde pz representa as forças distribuídas por unidade de área aplicada


perpendicularmente à faixa.
O vetor de forças generalizadas de membrana para forças cortantes concentradas
Qu e Qv , nas direções x e y, respectivamente, atuantes na linha nodal i e na coordenada

x  xi , é definido pela equação (6.51),

1 0
0 1  Qu 
f qm  mT  xi    . (6.51)
 0 0  Qv 
 
0 0
Analogamente, o vetor de forças generalizado de flexão para uma carga
concentrada P na direção vertical e um momento concentrado M atuantes na linha nodal
i e na coordenada x  xi , é definido pela equação (6.52),

1 0
0 1   P 
f q   f  xi 
f T   . (6.52)
 0 0 M 
 
0 0

6.4. Transformação de Coordenadas


As matrizes de rigidez estabelecidas nos itens anteriores estão referenciadas no
sistema de coordenadas locais x, y e z de cada faixa finita. Para escrever as equações da

153
estrutura, em um sistema de coordenadas globais designado por X, Y e Z, deve-se
proceder a uma transformação de coordenadas, isto é, escrever as equações relativas a
cada elemento finito no sistema global.
Considerando-se uma faixa finita genérica cujo eixo longitudinal local (x)
coincida com o eixo global (X) e cuja seção transversal seja definida no sistema de eixos
y-z, por meio de uma rotação do valor de  obtém-se o sistema de eixos global Y-Z,
conforme indica a Figura 6.7.

Z
z

Y
j wj
i wi vj
ui vi u j

X x

Figura 6.7: Transformação de eixos global para local.


Por meio de relações trigonométricas é possível relacionar os valores dos graus
de liberdade locais (u, v, w e x) e globais (U, V, W e x) em cada uma das linhas nodais
(i e j), fazendo-se uso da equação (6.53),
u  TU , (6.53)
 
onde os vetores dos deslocamentos generalizados referidos, respectivamente, aos eixos
locais ( u ) e globais ( U ) são definidos pelas expressões (6.54) e matriz de
 
transformação de coordenadas T depende somente de senos e cossenos (ver equação

(6.55)),

154
 ui   Ui 
 v   V 
 i   i 
 wi   Wi 
    
 xi   xi 
u    U    , (6.54)
 u j   U j 
 
vj   Vj 
    
w j  W j 
xj   xj 
   
I 0 0 0 0 0 0 0
0 cos .I sen .I 0 0 
0

0

0
       
0  sen .I cos  .I 0 0 0 0 0
       
 0 0 0 I 0 0 0 0
T         , (6.55)
 0 0 0 0 I 0 0 0
       
0 0 0 0 0 cos  .I sen .I 0 
0      
0 0 0 0  sen .I cos  .I 0 
       
0 0 0 0 0 0 0 0 
       
onde 0 e I são as matrizes nula e identidade de ordem m+3, respectivamente.
 
A matriz de rigidez e o vetor de cargas consistentes, de cada faixa finita e, no
sistema de coordenadas global da estrutura podem ser obtidos por meio das equações
(6.56) e (6.57),
K 0e  T T k0T , (6.56)
   
F  TT f .
e
(6.57)
  

6.5. Cálculo dos Deslocamentos e das Tensões


Determinadas as matrizes de rigidez e o vetor de cargas de cada faixa no
sistema global, pode-se encontrar a matriz de rigidez e o vetor de cargas consistentes da
estrutura, levando-se em conta a contribuição de todas as faixas por meio do somatório
dos coeficientes de rigidez e de força correspondentes ao mesmo grau de liberdade.
Portanto, a matriz de rigidez e o vetor de cargas da estrutura são expressos pelas
equações (6.58) e (6.59), respectivamente,
nf
K 0   K 0e , (6.58)
 e 1 

nf
F   Fe , (6.59)
 e 1 

155
nf
onde 
e 1
indica a soma dos coeficientes correspondentes aos mesmos graus de

liberdade.
Desta maneira, os deslocamentos generalizados podem ser calculados pela
solução do sistema de equações lineares (6.60), após inserindo as condições de
contorno,
K 0U  F . (6.60)
  
Obtidos os deslocamentos generalizados ( U ) da estrutura, determinam-se os

deslocamentos generalizados de membrana ( u ) e de flexão ( u f ) de cada faixa no
m

 
sistema local. As tensões de membrana e de flexão, que serão utilizadas no problema
não linear geométrico, são dadas pelas equações (6.61) e (6.62),
 0m   D0m B0mu m dV , (6.61)
 V
  

 0f   D0f B0f u f dV . (6.62)


 V
  

O campo de deslocamento da estrutura ( U e ) pode ser obtido a partir dos



deslocamentos generalizados ( U ) por meio das equações (6.8).

6.6. Não Linearidade Geométrica
Aplicando-se o Princípio dos Trabalhos Virtuais (PTV) chega-se à equação
(6.63), que fornece o equilíbrio de forças de uma faixa finita (Zienkiewicz e Taylor,
1991),
   B T  dV  f  0 , (6.63)
 V
   

em que (i) f é o vetor de forças externas, (ii)  B  dV é o vetor de forças internas e


T

 V

(iii)  é o vetor de forças residuais que se deve anular ou ser menor do que uma

tolerância, na configuração de equilíbrio da faixa finita.
O vetor de deformações generalizadas para a faixa finita incluindo os efeitos de
não linearidade geométrica, quando as rotações são moderadas, é definido pela equação
(6.64),
 m   m   m 
    f     0 f  NL  , (6.64)
     0 
 

156
onde 0m e  0f , dados pelas equações (6.65) e (6.66), são os vetores de deformações
 
especificas que contém os termos lineares devido às tensões de membrana e de flexão,
respectivamente,

 u 
 
 x 
 v 
 0m   , (6.65)
  y 
 u v 
  
 y x 

 2w 
 2 
 x 
  2 w 
 0f    2  , (6.66)
  y 
 2w 
2 
 xy 
A parcela não linear das deformações especificas devido às tensões de
membrana, i.e.  NL   NL
m
, é definida pela equação (6.67), onde todos os elementos não
 
lineares das relações deformações-deslocamentos são levados em consideração,
 1  u  2  v  2  w  2  
          
 2  x   x   x   
 
 1  u   v   w   
2 2 2

 NL            . (6.67)
   2   y   y   y   
 
 u u    v v    w w  
 x y   x y   x y  
 
Fazendo-se variar as deformações especificas em relação aos deslocamentos
generalizados chega-se a equação (6.68),
d   Bdu , (6.68)
  

onde B é a matriz que relaciona o incremento de deformações específicas (expressões
~

(6.30) e (6.31)) com o incremento de deslocamentos nodais, considerando relações não


lineares entre deformações e deslocamentos, composta de duas parcelas, conforme

157
mostra a equação (6.69): (i) a parcela B0 como sendo a mesma matriz utilizada em
~

análises lineares e (ii) a parcela BNL que depende dos deslocamentos nodais,
~

B  B0  BNL  u  . (6.69)
   
em que u é definido pelo vetor (6.70),

u m 
u   f , (6.70)
 u 

onde u e u são os deslocamentos de membrana e de flexão (ver equação (6.5)).
m f

 
Separando os termos de membrana e de flexão, as matrizes B0 e BNL são
 
representadas pelas equações (6.71) e (6.72),
 Bm 0 
B0    0 f  , (6.71)
  0 B 0 

Bm B f 
BNL    NL  NL  , (6.72)
  0 0 
 
onde as matrizes de deformação específica lineares de membrana e de flexão ( B0m e

B0 ) já foram definidas nas equações (6.32) e (6.33), e as matrizes de deformação
f


específica não lineares de membrana e de flexão ( BNL
m
e BNL
f
) serão determinadas mais
 
adiante neste capítulo.
Para material elástico linear, as relações constitutivas se escrevem por meio da
equação (6.73),
  D0     0    0 , (6.73)
    
em que (i) D 0 é a matriz constitutiva do material, (ii)  0 é o vetor de deformações
 ~

específicas iniciais e (iii)  0 é o vetor de tensões iniciais.


~

A relação entre d  e d u , pode ser obtida pela aplicação da regra da cadeia.


~ ~

Faz-se a primeira variação de  em relação a u , conforme o desenvolvimento


~ ~

representado na equação (6.74).


   
d   dB   d  dB T T   d . (6.74)
 B     B  
   
Substituindo-se (6.74) em (6.63) obtém-se a equação (6.75),

158
d   dB T dV   B T d dV  k t du , (6.75)
V   V    

onde k t é a matriz de rigidez tangente da faixa finita.
~

Os termos presentes na matriz tangente (6.75) são encontrados atraves do uso


das expressões (6.68) e (6.73), obtendo-se a expressão (6.76). A partir da equação (6.69)
encontra-se a equação (6.77),
d  D0 d   D0 Bdu , (6.76)
     
dB  dBNL . (6.77)
 
A substituição das expressões (6.76) e (6.77) em (6.75) resulta na equação
(6.78),
d  k du  kdu  k t du , (6.78)
      
onde k é conhecida como matriz de tensões iniciais, também conhecida como matriz

geométrica, definida pela equação (6.79),
k du   dBNL
T
 dV . (6.79)
  V  

Substituindo as expressões (6.71) e (6.72) em (6.79), a matriz geométrica pode


ser representada pela equação (6.80),
 dBNL
mT
0   m 
k du     f T     f  dV . (6.80)
  V  dBNL 0   
  
Levando em consideração a igualdade mostrada na expressão (6.76), a parcela
da matriz tangente devida aos grandes deslocamentos ( k ) é dada pela equação (6.81),

k   B d dV   B D0 BdV .
T T
(6.81)
 V     
V

Que após a substituição da matriz B (ver equação (6.69)), transforma-se na



expressão (6.82),
k    B0T  BNL
T
 D  B 0  B NL  dV  k0  k NL , (6.82)
 V  

onde k0 representa a matriz de rigidez de pequenos deslocamentos, dada pela equação


~

(6.83),
k0   B0T DB0 dV , (6.83)
 V  

159
e a matriz k NL , conhecida como matriz de grandes deslocamentos ou matriz de
~

deslocamentos iniciais, é dada pela equação (6.84),


k NL   B0T DBNL dV   BNL
T
DB0 dV   BNL
T
DBNL dV . (6.84)
 V
  V
  V
 

Substituindo-se as matrizes k0 (6.83) e k NL (6.84) na equação (6.75), tem-se a


 
equação (6.85),
d  k t du , (6.85)
  
onde,
k t  k0  k  k NL . (6.86)
   
Quando se admite que BNL  0, a equação (6.86) pode ser usada para estabelecer
 
a condição de equilíbrio para pequenos deslocamentos.
Por outro lado, quando se admite um comportamento geometricamente não
linear, a equação de equilíbrio deve conter as parcelas apresentadas na equação (6.87),
d    K0  K  KNL U  0 , (6.87)
     
onde o problema não-linear acima pode ser resolvido pelos métodos usuais, como por
exemplo o método de Newton-Raphson.

6.6.1. Deformações Iniciais


Para incluir os efeitos das imperfeições geométricas iniciais, as deformações
lineares e não lineares da faixa finita (ver equação (6.64)) são escritas da forma das
equações (6.88) a (6.90),
 0m   0m  u, v, w   0m  uimp , vimp , wimp  , (6.88)
  
 0f   0f  w   0f  wimp  , (6.89)
  
 NL   NL  u, v, w   NL  uimp , vimp , wimp  , (6.90)
  
onde uimp , vimp e wimp são as imperfeições geométricas iniciais da faixa finita.

6.6.2. Deformações Não Lineares

Definindo-se o vetor  por meio da expressão (6.91),



 x 
   , (6.91)
  y 

160
onde os vetores  x e  y são definidos pelas expressões (6.92) e (6.93),
 
 u v w 
T

x    , (6.92)
  x x x 
T
 u v w 
Y    . (6.93)
  y y y 
Pode-se reescrever a equação (6.67) na forma matricial por meio da equação
(6.94),
 xT 0 
1    1
 NL   0  Ty    A . (6.94)
 2  T  T   2  
 y  x 
 
O vetor  que contém as rotações de membrana e de flexão pode se relacionar

com o vetor de deslocamentos u da faixa finita pela equação (6.95) (Zienkiewickz e

Taylor, 1991),
  Gu , (6.95)
 
Que, após aplicado o operador diferencial, torna-se a equação (6.100),
d  Gdu . (6.96)
  
A matriz G pode ser encontrada a partir das funções de interpolação, resultando

na expressão (6.97),
 N1 m, x 0 N 2m , x 0 0 0 0 0 
         
 0 N1 m, x 0 N 2 m, x 0 0 0 0 
         
0 0 0 0 N 3 m, x N 4m , x N 5m , x N 6m , x 
G           . (6.97)
 N  0 N 2, y m 0 0 0 0 0 
 1, y  m        
 0 N1, y m 0 N 2, ym 0 0 0 0 
         
 0 0 0 0 N 3, ym N 4, y m N 5, y m N 6, ym 
       
Das equações (6.94) e (6.96), obtém-se a equação (6.98) (Zienkiewicz e Taylor,
1991),
1 1
d  NL  dA  Ad  Ad  AGdu (6.98)
 2  2       
Assim, a matriz B NL pode ser expressa pela equação (6.99),

BNL  A G , (6.99)
~ ~ ~

161
que assume a forma da equações (6.104) e (6.105), quando aplicado o operador
diferencial e efetuadas operações de transposição de matrizes,
dBNL  dA G , (6.100)
~ ~ ~

T
dBNL  GT d AT . (6.101)
~ ~ ~

Considerando a relação entre tensões e deformações, dada pela equação (6.102).


 x 
 
   y   D  , (6.102)
~ ~ ~
 
 xy 
e tendo em vista que:
dAT   Sd , (6.103)
   
sendo S a matriz de tensões de membrana atuantes na faixa finita dada pela expressão
~

(6.104),
 x 0 0  xy 0 0
0  0 0  xy 0 
 x

0 0 x 0 0  xy 
S . (6.104)
~
 xy 0 0 y 0 0
 0  xy 0 0 y 0 
 
 0 0  xy 0 0  y 

Substituindo as equações (6.96), (6.101) e (6.103), em (6.79) obtém-se a


expressão (6.105),
k d u   G T d AT  dV   G T S G d u dV . (6.105)
~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~
V V

A matriz de rigidez de tensões iniciais para a faixa finita, também conhecida


como matriz de rigidez geométrica é definida por meio da equação (6.106),
k   GT S G dV . (6.106)
~ ~ ~ ~
V

Como  NL   NL
m
, pode-se considerar apenas tensões de membrana na equação
~ ~

(6.102), i.e.,    m , logo S é função somente das tensões na superfície média da


~ ~ ~

faixa, ou seja, a equação (6.106) pode tomar a forma da equação (6.107),


a b
k  t  G
T
S G dydx , (6.107)
~ ~ ~ ~
 a b

162
onde t é a espessura da faixa.
Na análise não linear geométrica as equações de equilíbrio podem ser
estabelecidas recorrendo-se ao Principio dos Trabalhos Virtuais (PTV). Na faixa finita
submetida a uma combinação arbitrária de tensões de membrana representada na Figura
6.8,i.e., (i) tensões normais longitudinais x (linearmente variáveis  x1 e x2 são os
valores extremos), (ii) tensões normais laterais y (uniforme) e (iii) tensões tangenciais
xy (uniforme), o trabalho virtual (W), escrito na expressão (6.108) é dado pela soma do
trabalho virtual realizado pelas forças internas (Wi) e externas (We),
W  Wi  We . (6.108)

x2
z x1
xy

y
x
a
b

y
y
xy
x2
x1

Figura 6.8: Faixa finita submetida a tensões de membrana.


O trabalho virtual realizado pelas forças internas de uma faixa finita, ocasionado
pelos deslocamentos infinitesimais du , medidos a partir da configuração de equilíbrio,

é dado pela equação (6.109),
a b
Wi    d  T  tdydx , (6.109)
0 0
 

onde d  é a variação das deformações provocadas pelos deslocamentos infinitesimais



du .

Os vetores de tensão e deslocamentos, na configuração de equilíbrio
considerada, são definidos pelas expressões (6.110) e (6.70), respectivamente,
 m 
    f . (6.110)
  

163
O trabalho virtual realizado pelas forças internas pode ser escrito em função dos
deslocamentos nodais como indica a equação (6.111),
a b
Wi     d  m T D m m  d  f T D f  f  tdydx . (6.111)
0 0
     

Utilizando as relações deformações-deslocamentos (equações (6.64)-(6.90)) e as


funções de interpolação (equações (6.8)-(6.10)), obtêm-se as deformações de membrana
e flexão, escritas nas equações (6.112) e (6.113), respectivamente,
1 1 1 1
 m  B0mu m  BNL
m m
u  BNL
f
u f  B0muimp
m
 BNLimp
m m
uimp  BNLimp
f f
uimp ,(6.112)
   2  2    2  2 
 f  B0f u f , (6.113)
  
m f
onde uimp e uimp são os deslocamentos de membrana e flexão devidos às imperfeições
 
geométricas iniciais, respectivamente. BNLm
e BNLf
são as matrizes de deformação
 
especifica não lineares de membrana e de flexão, representadas nas expressões (6.114)
m
e (6.115), calculadas a partir dos correspondentes deslocamentos u m e u f , BNLimp e
  
f
BNLimp são as matrizes de deformação especifica não lineares de membrana e de flexão

m f
calculadas a partir dos respectivos deslocamentos uimp e uimp e B0m e B0f são as
   
matrizes de deformação especifica lineares de membrana e flexão dadas pelas equações
(6.32) e (6.33), respectivamente,
 u m mT , x N uT N u  m , x  u m mT , x N vT N v  m , x 
       
     
m
BNL  u m mT N uT, y N u , y  u m mT N vT, y N v , y m  ,(6.114)
  m T T m T T    m  T  T   
u  m N u , y N u  m , x  u  m N v , y N v  m , x  u  m , x N u N u , y m  u  m , x N v N v , y m 
m T T

       
 u f  Tf , x N Tf N f  f , x 
    
   
f
BNL  u f  Tf N Tf , y N f , y f . (6.115)
  f T T      
u  f N f , y N f  f , x  u  f , x N f N f , y f 
f T T

   
As variações das deformações de membrana e de flexão em relação aos
deslocamentos generalizados são dadas pelas equações (6.116) e (6.117),
d  m  B0m du m  BNL
m
du m  BNL
f
du f , (6.116)
      
d   B0 du .
f f f
(6.117)
  

164
Substituindo as equações (6.112), (6.113), (6.116) e (6.117) em (6.111), obtém-
se a expressão (6.118) que relaciona o trabalho realizado pelas forças internas com os
deslocamentos nodais generalizados,
a b m 
   Wi tdydx 
0 0  
Wi   du m T du f T   a b , (6.118)
   W f tdydx 
  i 
0 0  
em que Wi m e Wi f são representados a seguir, nas equações (6.123) e (6.124),
 
 1 1 mT m m 1 mT m m  m
Wi m   B0m T D m B0m  B0m T D m BNL
m
 BNL D B0  BNL D BNL  u 
    2   2   2    
 mT m m 1 mT m m 1 mT m m  m
 B 0 D B0  B0 D BNLimp  BNL D B0  BNL
mT m m
D BNLimp  uimp  ,(6.119)
   2      2   
1 mT m f 1
 B0 D BNL  BNmLT D m BNL
2      
f
 u f   B0m T D m BNLimp
 2   
f
 BNL
mT
D m BNLimp
  
f
 
f
uimp

 fT m m 1 fT m f  m  fT m m 1 fT m f  m
Wi f   BNL D B0  BNL D BNL  u   BNL D B0  BNL D BNLimp  uimp 
    2        2   
. (6.120)
 T m f 1 fT m f  f 1 fT m f f
 B f D B0  BNL D BNL  u  BNL D BNL uimp
   2     2   
Por outro lado, o trabalho virtual realizado pelas forças externas de uma faixa
finita, ocasionado pelos deslocamentos infinitesimais du , medidos a partir da

configuração de equilíbrio, é dado pela equação (6.121),
 f m 
We  du f   du
T
du    f  ,
mT f T
(6.121)
     f 

onde f é o vetor de forças generalizadas dado pela expressão (6.122), em que f m e
 
f são os vetores de forças generalizadas de membrana e de flexão, respectivamente,
f


 f m 
f   f . (6.122)
  f 

Para que as forças internas e externas presentes na faixa finita estejam em
equilíbrio, o PTV postula que o trabalho virtual total realizado na faixa finita deve ser
nulo, ou seja, a equação (6.123) deve ser satisfeita,
Wi  We  0 . (6.123)

165
Assim, substituindo (6.118)-(6.121) em (6.123), e após algumas transformações
de natureza algébrica, chega-se à equação (6.124) que traduz o comportamento
geometricamente não linear da faixa finita, ou seja, o equilíbrio na configuração
deformada,
ksu  ksimpuimp  f , (6.124)
   
sendo ks a matriz de rigidez secante (ou matriz de equilíbrio) e k simp a matriz que
 
engloba todos os elementos que contabilizam os efeitos das imperfeições geométricas
iniciais ( uimp ), dadas pelas expressões (6.125) e (6.126), respectivamente,

k k
ks  k0  kLN
T
  LN  NN , (6.125)
   2
k LNimp  k NNimp
k simp  k0  k LN
T
  . (6.126)
   2
A matriz de rigidez elástica linear k0 já foi apresentada na equação (6.45). As

matrizes k NL e k NL 0 contém os termos quadráticos das equações de equilíbrio e são
 
representados nas equações (6.127) e (6.128),
 k NL
m f
k NL 
k NL     , (6.127)
  0 0 
 
 k NLimp k NLimp
m f

k NLimp     , (6.128)
  0 0 
 
m f
onde as sub-matrizes k NL
m
, k NL
f
, kNLimp e kNLimp são dadas pelas equações (6.129)-
   
(6.132),
a b
m
k NL    B0m T D0m BNL
m
tdydx , (6.129)
 0 0
  
a b
f
k NL    B0m T D0m BNL
f
tdydx , (6.130)
 0 0
  
a b
m
k NLimp    B0m T D0m BNLimp
m
tdydx , (6.131)
 0 0
  
a b
f
k NLimp    B0m T D0m BNLimp
f
tdydx . (6.132)
 0 0
  

As matrizes k NN e k NNimp contém os termos cúbicos das equações de equilíbrio e


 
são dadas pelas equações (6.133) e (6.134),

166
 k NNm mf
k NN 
k NN   mf T  f  , (6.133)
  k NN k NN 
 
 k NNimp k NNimp
m mf

k NNimp    fm T f , (6.134)
  k NNimp k NNimp 
 
m mf f fm
onde as sub-matrizes kNNm
, kNN
mf
, kNN
f
, k NNimp , k NNimp , k NNimp e k NNimp são dadas pelas
      
equações (6.135)-(6.141),
a b
k m
NN    BNL
mT
D0m BNL
m
tdydx , (6.135)
 0 0
  
a b
k mf
NN    BNL
mT
D0m BNL
f
tdydx , (6.136)
 0 0
  
a b
f
k NN    BNL
f T
D0m BNL
f
tdydx , (6.137)
 0 0
  
a b
m
k NNimp    BNL
mT
D0m BNLimp
m
tdydx , (6.138)
 0 0
  
a b
mf
k NNimp    BNL
mT
D0m BNLimp
f
tdydx , (6.139)
 0 0
  
a b
f
k NNimp    BNL
f T
D0m BNLimp
f
tdydx , (6.140)
 0 0
  
a b
fm
k NNimp    BNLimp
mT
D0m BNL
f
tdydx . (6.141)
 0 0
  

Na estratégia incremental-iterativa, o sistema de equações que governa o


equilíbrio está associado à matriz de rigidez tangente ( k t ), na vizinhança da

configuração atual, a qual corresponde a um ponto genérico na trajetória de equilíbrio.
A matriz de rigidez tangente pode ser determinada a partir do cálculo, na
configuração de equilíbrio considerada, do valor da derivada do sistema de equações
(6.124) em relação aos deslocamentos generalizados. Também pode ser derivada a
partir da aplicação do PTV, procedimento que permite a identificação da natureza dos
termos envolvidos na matriz.
A equação de equilíbrio (6.63) pode ser reescrita em termos dos deslocamentos
generalizados como indicado na equação (6.142),

 d   dV  du T f  0 . (6.142)
T

V
   

167
A substituição das equações (6.64), (6.110) e (6.121) na equação (6.142), conduz
à equação (6.143),

  d
mT

  

 m  d  f T f dV  du m T f m  du f T f
   
f
  0 . (6.143)
V

Utilizando as equações (6.116) e (6.117), e reescrevendo a equação (6.143) na


forma matricial, chega-se a equação (6.144),
a b
 B0m T  BNL
0   m  mT
0 
0 0  BNLf T
f    f  tdydx     .

BNL   

0 
(6.144)
   
A matriz de rigidez tangente é obtida pela derivação da equação (6.144) em
relação aos deslocamentos generalizados, conforme mostra a equação (6.145).
a b
 B0m T  BNL
0   d m 
mT a b
 dBNL
mT
0   m  0 
0 0   BNLf T .
f T    f 
B0   d 
tdydx      f T   .   f  tdydx     .(6.145)
0 0  dBNL 0    0 
     
A segunda parcela da expressão (6.145) corresponde à matriz de rigidez
geométrica (ver a equação (6.80)).
Finalmente, substituindo-se as equações (6.25), (6.26), (6.116) e (6.117) na
segunda parcela da equação (6.145), se obtém a matriz de rigidez tangente devida às
grandes deformações, que está dada pela equação (6.146) (ver a equação (6.82)),
a b
Bm T  Bm T 0   D0m 0   B0m  BNL m
BNLf

k      0 f T NL .
f T    .
f      f  tdydx . (6.146)
 0 0  BNL B0   0 D0   0 B0 
     
A equação (6.146) pode ser rescrita na forma da equação (6.147), sendo para isto
necessário o uso das equações (6.45), (6.127) e (6.133).
k  k0  kLN
T
 kLN  k NN . (6.147)
    
Em uma notação compacta, a matriz de rigidez tangente pode ser escrita na
forma indicada na equação (6.148),
k t  k  k . (6.148)
  

6.7. Implementação Computacional


Para as análises lineares e não lineares usando o Método das Faixas Finitas
Splines, foram desenvolvidos módulos e rotinas adicionais no programa INSTAB,
inicialmente desenvolvido pelo autor dessa Tese em sua Dissertação de Mestrado
(Pierin, 2005). O programa INSTAB, desenvolvido em 2005, realiza análises lineares de
instabilidade utilizando (i) o Método dos Elementos Finitos cuja modelagem é realizada
por elementos de cascas, que foram desenvolvidos com base nos elementos de placa

168
ACM (Adini e Clough, 1960) e DKQ (Bathoz e Tahar, 1982), e (ii) o Método das Faixas
Finitas Semi-Analítico. Deste modo, foi incluído no programa INSTAB um módulo
adicional para realizar análises lineares e não lineares de instabilidade por meio do
Método das Faixas Finitas Splines.
O programa INSTAB foi escrito em linguagem Fortran F90 e é subdividido em
módulos, ligados por arquivos binários, que possibilitam a comunicação interna entre
esses módulos. O programa gera também arquivos de texto puro que possibilitam ao
usuário visualizar todos os resultados fornecidos pelo programa. O fluxograma geral do
funcionamento do programa está ilustrado na Figura 6.9 e comentado sucintamente a
seguir.

INÍCIO

ESTRU

FSPL

RESOL

ESFSPL

INSTAB

ANÁLISE  N
N.L. INST.

NLG

GERDXF

FIM

Figura 6.9: Fluxograma do programa de análise de instabilidade

169
Para realizar análises lineares e não lineares de estabilidade com o programa
INSTAB, é necessário a elaboração de um arquivo texto, com extensão .DAT, que será
lido pelo módulo ESTRU. Nesse arquivo devem constar todos os dados necessários para
as análises que são: (i) coordenadas das linhas nodais, (ii) conectividades para a
formação das faixas, (iii) número de seções que as linhas nodais devem ser divididas
(m), (iv) comprimento do perfil, (v) condição de vinculação das bordas longitudinais,
(vi) restrições aos deslocamentos u, v, w e  x dos nós das linhas nodais, (vii)
propriedades dos materiais, (viii) distribuição de tensões nas faixas e as (ix) tensões
residuais, se houver. Além disso, para análises não lineares geométrica, devem ser
fornecidos: (i) número de etapas de carregamento, (ii) incremento de carga, (iii)
algoritmo para a solução do sistema de equações não lineares (Newton-Raphson,
Newton-Raphson modificado ou Comprimento de Arco) e a (iv) tolerância do erro. O
módulo ESTRU gera um arquivo texto .EST contendo todas as informações da estrutura
para conferencia do usuário.
O módulo FSPL calcula as matrizes de rigidez elástica e os vetores de cargas
consistentes de todas as faixas finitas do modelo e os transforma para o sistema de
coordenadas global da estrutura, escrevendo-os em arquivos binários.
No módulo RESOL são lidos as matrizes de rigidez e os vetores de cargas
consistentes de todas as faixas e, com as conectividades e com as restrições nodais, é
gerada a matriz de rigidez global e o vetor de cargas consistente global da estrutura.
Finalmente, é efetuada a análise linear elástica da estrutura, cujos deslocamentos são
impressos no arquivo texto .RES.
Com os deslocamentos obtidos, o modulo ESFSPL calcula as tensões de
membrana de cada faixa que serão lidas pelo módulo INSTAB para o cálculo da matriz
de rigidez geométrica. Com as matrizes de rigidez elástica e geométrica, o modulo
INSTAB resolve o problema de autovalores e escreve no arquivo texto .INS a carga de
bifurcação crítica e o respectivo modo de instabilidade. Além disso, o módulo INSTAB
gera um arquivo binário .IMP com as imperfeições geométricas iniciais.
No módulo NLG, são lidas as imperfeições geométricas iniciais e as tensões
residuais. Com essas informações, as equações de equilíbrio não lineares da estrutura
são resolvidas pelos algoritmos escolhidos pelo usuário. Esses algoritmos serão
detalhados no próximo ítem. Em cada etapa de carregamento, quando ocorre a
convergência estipulada, os deslocamentos nodais e as tensões em cada ponto de Gauss
são impressos no arquivo texto .NAL.

170
Para a análise linear de estabilidade, o modulo GERDXF gera um arquivo .DXF
para a visualização da configuração do modo de instabilidade. Nas análises não lineares
geométrica, o modulo GERDXF gera um arquivo .DXF com a deformada da estrutura
para cada etapa de carregamento. O arquivo DXF pode ser lido em programas CAD,
como por exemplo, o AutoCAD.

6.7.1. Solução do Problema Não Linear


As matrizes secantes presentes no sistema de equações (6.124), que descreve o
equilíbrio da faixa finita na configuração deformada, são dependentes dos
deslocamentos generalizados, tornando o sistema de equações não linear. Para a solução
do problema geometricamente não linearé adequada a aplicação de métodos do tipo
incremental-iterativo. No programa INSTAB foi implementa uma rotina de solução
com base no método de Newton-Raphson.
O método de Newton-Raphson é um dos métodos mais utilizados na solução de
sistemas de equações não lineares, onde a solução não linear é aproximada por retas
tangentes até a convergência, (Cook et al, 1989). O método consiste em aplicar
sucessivos incrementos do parâmetro de controle, que, geralmente, é a carga aplicada, e
para cada etapa de carregamento calcula-se, por meio de iterações, o incremento de
deslocamento, obtendo, assim, a trajetória de equilíbrio não linear.
Em uma etapa e do carregamento, onde se conhece o ponto de equilíbrio, aplica-
se um incremento de carga, no qual deve-se fazer uma previsão da solução aproximada
do sistema de equações (6.124). Essa previsão deve ser corrigida por meio de um
processo iterativo, sendo que os deslocamentos da iteração i são calculados por meio da
solução do sistema linear de equações (6.149),
K et (i 1) U e(i )   e(i 1) , (6.149)
  
onde Ket (i 1)
é a matriz de rigidez tangente da estrutura calculada no início da etapa e de

carregamento, U e(i ) é o incremento de deslocamento e  e(i 1) é o vetor de forças
 
residuais, que caracteriza a imprecisão da previsão feita pelo uso da matriz tangente.
O vetor de deslocamentos generalizados da iteração i ( U e(i ) ) é dado pela equação

(6.150) ,
U e(i )  U e( i 1)  U e(i ) . (6.150)
  
O vetor de forças residuais da iteração i-1 é calculado pela equação (6.151),

171
 e(i 1)  Fe  Re(i 1) , (6.151)
  
onde Re(i 1)
é o vetor de forças generalizadas que assegura a condição de equilíbrio

(equação (6.124)) na configuração deformada (referente aos deslocamentos da iteração
i-1), sendo fornecido pela equação (6.152). Fe é o vetor de forças generalizadas da

etapa de carregamento e dada pela equação (6.153),
Re(i 1)  Ks(,ie1)Ue(i 1)  Ksimp
(i 1)
,eUimp , (6.152)
    
Fe  Fe 1  Fe , (6.153)
  
onde Fe é o incremento de forças generalizadas da etapa de carregamento e.

O processo iterativo converge quando a inequação (6.154) é satisfeita,


  tolerância , (6.154)
F

onde é a norma euclidiana do vetor.

De acordo com a maneira que a matriz tangente é atualizada existem duas


variações do método: (i) Newton Raphson Padrão – a matriz de rigidez tangente é
atualizada a cada iteração e (ii) Newton Raphson Modificado – a matriz de rigidez
tangente é atualizada a cada etapa de incremento de carregamento e mantida constante
em todas as iterações.
O processo iterativo de Newton Raphson, para um grau de liberdade, está
esquematizado na Figura 6.10.

Figura 6.10: Esquema do processo iterativo de Newton Raphson.

172
O método de Newton Rapshon pode apresentar falhas de convergência nas
regiões próximas às cargas de bifurcação. Pode-se utilizar ao invés de cargas prescritas,
deslocamento prescrito, onde o parâmetro de controle é o deslocamento aplicado, no
qual se define o nível de deslocamento, encontrando-se a carga de equilíbrio. No
entanto, essa técnica também apresenta uma desvantagem, pois a convergência no
processo iterativo é bem mais lenta e às vezes não é possível atingi-la. No entretanto,
para o uso do programa INSTAB, no qual se considera o material elastofrágil, o método
de Newton Raphson não apresenta problemas de convergência.

6.8. Validação Computacional


Nesse ítem os resultados obtidos pelo programa INSTAB são validados com
resultados obtidos na literatura. A validação dos resultados obtidos pelo programa é
realizada por meio da combinação de estudos de convergência (definição do nível de
discretização necessário para se obter resultados precisos) e com comparações de
resultados analíticos e numéricos obtidos na literatura.

6.8.1. Análises Lineares de Estabilidade à Temperatura Ambiente


Iniciam-se os estudos de validação pelos resultados obtidos da análise linear de
estabilidade, onde se consideram chapas constituídas de materiais isotrópicos cujos
resultados numéricos apresentados consistem em valores de coeficientes de
instabilidade (k) que podem ser relacionados com a força axial (N) pela equação (6.155)
,
12 1   2   b 2 N
k , (6.155)
 2 E  t  A
onde E e  são, respectivamente, o módulo de elasticidade e o coeficiente de Poisson
do material, A, t e b são a área, espessura e a largura da chapa, respectivamente.
No primeiro estudo de validação do programa utilizou-se a chapa retangular
representada na Figura 6.11, cujas bordas longitudinais e transversais estão
simplesmente apoiadas, sendo submetida à compressão uniforme na direção
longitudinal.
Os resultados obtidos do coeficiente de instabilidade para cinco chapas, com os
quatro lados simplesmente apoiados e com diferentes relações entre o comprimento e a
largura que variam de 1,0 a 5,0, estão apresentados na Tabela 6.3. O número de
semicomprimentos de onda n exibidos na configuração deformada (modo de

173
instabilidade) para cada chapa também é apresentado na Tabela 6.3. Todas as placas
foram discretizadas em sete faixas de igual largura, sendo variável o número de nós por
linha nodal nln. Recorde-se que o número de linhas por linha nodal mínimo é 4, pois
m=nln-3, onde m é o número de sub-intervalos ao longo do comprimento da placa.


a


Figura 6.11: Chapa retangular submetida à compressão uniforme.

Verifica-se que todas as chapas apresentam rápida convergência para o valor


exato K b  4, 00 e, como esperado, o número de nós por linha nodal (discretização
longitudinal) necessário para a convergência aumenta de acordo com o número de
semicomprimentos de onda exibidos pelo modo de instabilidade. Em geral, a
consideração de 5 nós por cada semicomprimento de onda é suficiente para se obter
uma grande precisão nos resultados. Observa-se ainda que discretizações longitudinais
inferiores a 6 nós por linha nodal apresentam resultados muito pouco precisos.
Os modos de instabilidade para as chapas comprimidas com as quatro bordas
simplesmente apoiadas e com relação entre os lados a/b igual a 1 e a 5 estão ilustrados
na Figura 6.12. Observa-se que as chapas apresentam 1 e 5 semicomprimentos de onda,
respectivamente.

174
Tabela 6.3: Coeficientes de instabilidade para chapas com bordas longitudinais
e transversais simplesmente apoiadas.
a/b=1 a/b=2 a/b=3 a/b=4 a/b=5
nln n=1 n=2 n=3 n=4 n=5
6 4,0018 4,0247 4,6623 4,4058 4,3922
7 4,0006 4,0097 4,0412 4,3373 4,4234
8 4,0003 4,0041 4,0208 4,0515 4,2026
9 4,0002 4,002 4,0104 4,0322 4,0558
10 4,0001 4,001 4,006 4,0184 4,042
11 4,0001 4,0006 4,003 4,0108 4,027
12 4,0004 4,002 4,0067 4,017
13 4,0003 4,001 4,0043 4,011
14 4,0009 4,0029 4,007
15 4,0006 4,0021 4,005
16 4,000 4,0015 4,004
17 4,0011 4,003
18 4,0009 4,002
19 4,0007 4,0015
20 4,0006 4,001
21 4,0005 4,00097
22 4,0008
23 4,0006
24 4,000

Figura 6.12: Modos de instabilidade para chapas apoiadas: (a) a/b=1 e (b)
a/b=5.
Os coeficientes de instabilidade obtidos para a chapa quadrada e com os quatro
lados engastados estão apresentados na Tabela 6.4. Verifica-se que a convergência para
o valor exato k=10,08, fornecido em Bradford e Azhari (1995), com um
semicomprimento de onda ( n  1 ) é atingida com 240 graus de liberdade. Essa chapa
foi modelada com elementos de casca DKQ por Pierin (2005) onde se encontrou

175
k=10,071 (erro de 0,09%), utilizando 3721 elementos quadrados de 1,667 cm de lado e
com 17885 graus de liberdade.
Tabela 6.4: Coeficientes de instabilidade para chapas com quatro lados
engastados,
Número de nós por linha a/b=1
nodal (nln) n=1
6 10,83
7 10,23
8 10,135
9 10,103
10 10,091
11 10,085
12 10,082
13 10,081
14 10,080

O programa INSTAB também permite analisar a estabilidade de chapas


submetidas a diagramas de tensões aplicadas variáveis. Na Tabela 6.5 apresentam-se os
resultados dos coeficientes de instabilidade fornecidos pelo referido programa para uma
chapa com todos os lados simplesmente apoiados, relação a/b=2,0, sob a ação de um
diagrama de tensões aplicadas correspondentes à flexão pura (ver Figura 6.13) e cujo
modo de instabilidade exibe três semicomprimentos de onda (n=3). A chapa foi
discretizada transversalmente em 6 faixas finitas, pois, segundo Pierin (2005), essa
discretização é suficiente para obter o valor exato do coeficiente de instabilidade k=23,9
(Yu, 2000) por meio do Método das Faixas Finitas Semi-Analítico.
σ


a

Figura 6.13: Chapa retangular simplesmente apoiada submetida à flexão pura.

176
Tabela 6.5: Coeficientes de instabilidade para chapa submetida à flexão pura
Número de nós por linha a/b=2
nodal (nln) n=3
6 27,112
7 24,166
8 24,038
9 23,946
10 23,935
11 23,918
12 23,910
13 23,905
14 23,903
15 23,901
16 23,900

Para mostrar a eficiência do método na análise de perfis formados a frio, realiza-


se uma análise linear de estabilidade de um pilar bi-apoiado, com seção transversal em
Ue 50x25x5x1,2 e material isotrópico (E= 210,00 GPa;   0,30 ), submetido a uma
carga de compressão centrada na extremidade livre, conforme mostra a Figura 6.14a. O
pilar Ue apresenta os modos de instabilidade: (i) MLC – modo local de chapa (Figura
6.14b), (ii) MD – modo distorcional (Figura 6.14c) e (iii) MGFT – modo global por
flexo-torção (Figura 6.14d).

Figura 6.14: Pilar em seção Ue: (a) geometria, (b) MLC, (c) MD e (d) MGFT.
A ocorrência dos modos de instabilidade está condicionada à geometria e ao
comprimento do perfil. Tendo em vista a análise dos modos de instabilidade, foram
escolhidos três comprimentos de perfil: (a) a= 41,5 cm, (b) a=143,0 cm e (c) a=500,0
cm. Todos os perfis foram discretizados em 20 faixas finitas, sendo 2 faixas em cada
enrijecedor, 4 em cada mesa e 8 na alma. Os valores dos coeficientes de instabilidade k
obtidos pelo programa INSTAB estão apresentados na Tabela 6.6, onde se verifica que

177
para os modos de instabilidade local de chapa e distorcional a convergência é obtida
com 11 nós por linha nodal. Para o modo global por flexotorção a convergência é obtida
com apenas 6 nós por linha nodal.
Tabela 6.6: Coeficientes de instabilidade críticos para pilares Ue 50x25x5x1,2
Número de nós
por linha nodal MLC MD MGFT
(nln)
6 5,3262 4,666 3,8611
7 5,3243 4,658 3,8611
8 5,3238 4,6563 3,8611
9 5,3237 4,656 3,8611
10 5,3236 4,6559 3,8611
11 5,3235 4,6558 3,8611
12 5,3235 4,6558 3,8611

As configurações dos modos de instabilidade para os três comprimentos de


perfis estão ilustrados na Figura 6.15, onde se pode observar que todos os modos de
instabilidade apresentam um semicomprimento de onda.

Figura 6.15: Configurações dos modos de instabilidade: (a) MLC, (b) MD e (c)
MGFT
Para uma melhor visualização dos resultados da análise linear de instabilidade, a
Figura 6.16 mostra a variação do coeficiente de instabilidade k em função do parâmetro
geométrico a/bw (relação entre o comprimento do perfil e a largura da alma). Observa-se
que (i) para comprimentos pequenos a/bw <1,9 o modo de instabilidade crítico é o MLC
com um ou dois semicomprimentos de onda (número entre parênteses), (i) para
comprimentos intermediários 1,9< a/bw < 9,0 o modo de instabilidade critico é o MD
com um, dois ou três semicomprimentos de onda (número entre parênteses), (iii) para
perfis longos o MGFT é o modo de instabilidade crítico, com um semicomprimento de

178
onda, e (iv) para perfis extremamente longos (a/bw >40) há a ocorrência do modo global
por flexão MGF.

Figura 6.16: Variação do coeficiente de instabilidade em função da relação


entre o comprimento do perfil e a largura da alma

Para perfis de comprimentos iguais a 290 e 430 cm o modo de instabilidade


distorcional apresenta dois e três semicomprimentos de onda, respectivamente. As
configurações desses modos de instabilidade estão ilustradas na Figura 6.17.

Figura 6.17: Modo de instabilidade distorcional: (a) com dois e (b) com
três semicomprimentos de onda.

6.8.2. Análise Não Linear Geométrica


Neste item realizam-se análises não lineares de estabilidade de perfis formados a
frio por meio do método das faixas finitas splines e do método dos elementos finitos por
meio do programa comercial ANSYS v.13.
Ressalta-se que o programa computacional INSTAB foi desenvolvido com base
na Teoria de Kirchhoff-Love, a qual é válida para cascas finas. No entanto, todos os
elementos de casca presentes na biblioteca do programa ANSYS utilizam a Teoria de

179
Reissner-Mindlin, a qual é uma teoria mais geral e é válida para placas finas e semi-
espessas. Segundo Soriano (2003), outros fatores devem ser considerados na escolha da
teoria a ser utilizada, tais como: comportamento estático ou dinâmico, placa isótropa ou
sanduíche. Além disso, a consideração das deformações por esforço cortante torna-se
importante em análises de estabilidade de elementos de perfis formados a frio que
instabilizam no modo distorcional (Camotim, 2006).
Como o programa INSTAB realiza análises de instabilidade de elementos
estruturais constituídos de materiais elásticos lineres, utilizou-se o programa ANSYS
para efetuar as análises de instabilidade considerando a não linearidade do material
(material elastoplástico). O programa ANSYS também foi utilizado para realizar análises
de instabilidade de estruturas constituídas de materiais elásticos lineares com o intuito
de validar o programa INSTAB desenvolvido nesta Tese.

6.8.2.1 Comentários sobre a Modelagem com o Programa ANSYS


Dentre os vários elementos de casca presentes na biblioteca do programa
ANSYS, as análises serão efetuadas com o elemento Shell 181, o qual permite efetuar
análises de estabilidade de estruturas constituídas de materiais elásticos e elatoplásticos.
Esse elemento possui quatro nós com seis graus de liberdade por nó, três translações e
três rotações, sendo adequado para modelar estruturas com comportamento linear e não
linear com grandes deformações e grandes rotações. As funções de forma são lineares e
utiliza o esquema de integração 2x2 no plano da casca e cinco pontos de integração ao
longo da espessura. O elemento ainda permite a utilização da integração reduzida. Além
do elemento Shell 181, o programa ANSYS incluiu a partir da versão 11, o elemento de
casca de oito nós, Shell 281, o qual utiliza funções de forma quadráticas.
Os elementos Shell 181 e 281 podme efetuar a análise em multicamadas. Nas
análises termoestruturais, esta característica permite que todas as temperaturas obtidas
pelo modelo térmico sejam transferidas ao modelo estrutural.
O ANSYS tem sido utilizado em diversos trabalhos para a análise de estabilidade
de perfis formados a frio em temperatura ambiente e elevada, conforme comentado no
capítulo 4 desta Tese. Especificamente, o elemento Shell 181 foi utilizado por Chodraui
(2006) na análise de estabilidade de perfis em seção U e Ue cujos resultados foram
comparados com resultados experimentais e posteriormente Chodraui et al (2007)
fizeram análises de estabilidade de cantoneiras de aço formado a frio por meio do MEF
e MFF. Mesquita (2005) modelou vigas de aço por meio de elementos Shell 181 para

180
estudar a instabilidade lateral de vigas em situação de incêndio. Almeida et al (2010)
utilizaram elementos de casca e sólidos para avaliar o comportamento termoestrutural
de uma viga de aço formado a frio em contato com uma laje de concreto e alvenaria.
Recentemente, Landesmann e Camotim (2011) usaram o elemento Shell 181 na análise
não lineares de estabilidade de pilares de aço formados a frio com seção Ue em situação
de incêndio.
As condições de contorno adotadas nos modelos deste capítulo simulam a
condição de extremidade globalmente rotulada e sem impedimento do empenamento
das seções extremas. Na aplicação do MFFS, essa simulação é imposta ao modelo por
meio das funções splines modificadas, conforme apresentado no item 6.3. Em ambos os
métodos, o carregamento é aplicado nas duas extremidades do perfil por meio de cargas
nodais equivalentes, simulando um carregamento uniformemente distribuído, conforme
mostra a Figura 6.18a. Na modelagem via MEF, as restrições de apoio são aplicadas
diretamente nos nós das extremidades, os quais são impedidos de deslocar nas direções
y e z, conforme mostra a Figura 6.18b. Para impedir o deslocamento de corpo rígido, o
nó situado a meia altura da alma da seção do meio do vão é impedido de deslocar-se na
direção x (ver Figura 6.18c).
Os resultados das análises não lineares de estabilidade dos elementos estruturais
são, geralmente, apresentados em forma de gráficos. Na abcissa destes gráficos é
apresentada a relação entre os deslocamentos máximos e a espessura do elemento
estrutural. No eixo das ordenadas, está representado o fator de força (FF) que é dado
pela relação entre a força aplicada e a força crítica de bifurcação, fornecida pela análise
linear de estabilidade.

181
Figura 6.18: Condições de contorno aplicado nas análises: (a) carregamento; (b)
deslocamentos impedidos nas seções de extremidade; (c) deslocamento de corpo rígido
impedido. Adaptado de Souza et al (2006).

6.8.2.2 Chapa apoiada sob Compressão Uniaxial


Analisa-se agora a estabilidade de uma chapa de aço quadrada simplesmente
apoiada (a=b=100 mm, t= 1,0 mm, E=200 GPa, e ν=0,3) submetida à compressão
uniaxial, conforme mostra a Figura 6.19a. A tensão crítica da chapa é igual a 72,305
MPa (coeficiente de instabilidade igual a 4,0) e o modo de instabilidade está
representado na Figura 6.19b.
Para o estudo de convergência da malha, admite-se a presença de uma
imperfeição geométrica inicial, na forma do modo de instabilidade da chapa e com
amplitude máxima (deslocamento transversal no centro da chapa) igual a 10% da
espessura (z0/t=0,1), a qual é determinada por meio da analise linear de estabilidade.

182
Figura 6.19: Chapa sobre compressão uniaxial: (a) geometria, (b) modo de
instabilidade.
Inicialmente a chapa foi discretizada em 4 faixas finitas. Para a tensão media
50% superior ao valor critico (fator de força igual a 1,5), observa-se que a convergência
da relação z/t (onde z é o deslocamento no centro da chapa) é atingida com 11 nós por
linha nodal, conforme mostra a Tabela 6.7.
Fixando a discretização longitudinal da chapa em 11 nós por linha nodal e
variando o número de faixas finitas (discretização transversal), verifica-se que o
resultado converge com 20 faixas finitas, conforme mostra a Tabela 6.8. No entanto,
com uma discretização de 12 faixas finitas o erro é inferior a 1,2%.

Tabela 6.7: Relação z/t da chapa para FF=1,5 – discretização longitudinal


NLN. z/t
9 1,514
11 1,50
13 1,50

Tabela 6.8: Relação z/t da chapa para FF=1,5 – discretização transversal


nf=4 nf=8 nf=12 nf=16 nf=20 nf=24
1,50 1,63 1,68 1,69 1,70 1,70

Apesar de as matrizes de rigidez não lineares possuírem polinômios de 12º grau,


o que necessita de um esquema de integração mínimo de 7x7 pontos de Gauss para a

183
integração exata, verifica-se que os deslocamentos obtidos, utilizando esquemas de
integração de 4x4 e 8x8, são exatamente iguais, conforme mostra a Tabela 6.9. A
redução do número de pontos de integração acarreta em diminuição do tempo total de
processamento de 642 para 169 segundos. O tempo de processamento foi medido em
um microcomputador Quad Core Q6600 com 2 Gb de RAM utilizando o Windows 7 64
Bits.
As trajetórias de equilíbrio das chapas simplesmente apoiadas podem ser
visualizadas na Figura 6.20. Apresentam-se quatro trajetórias de equilíbrio obtidas pelo
programa INSTAB, onde para cada curva foram adotadas imperfeições geométricas
iniciais, na forma do modo de instabilidade, com diferentes amplitudes z0/t. As
trajetórias de equilíbrio, obtidas pelo programa INSTAB, foram comparadas com os
resultados obtidos pelo programa ANLESPL, desenvolvido por Prola (2001). Para a
modelagem utilizando o programa ANLESPL, incluiu-se uma imperfeição inicial na
forma do modo crítico e com amplitude igual a 20% da espessura da chapa. O programa
ANLESPL também utiliza o Método das Faixas Finitas Splines e as matrizes de rigidez
são integradas analiticamente (Prola, 2001). Em ambos os programas adotou-se a
mesma discretização (20 faixas finitas e 11 nós por linha nodal). Verifica-se que ambos
os programas apresentaram resultados praticamente iguais (diferença máxima relativa
de 0,26%).
A partir dos deslocamentos obtidos pelo programa INSTAB, pode-se obter as
tensões de membrana  x ,  y e  xy para qualquer nível de carregamento. A Figura 6.21

mostra a distribuição de tensões  x para a tensão média aplicada igual a 50% superior
ao valor crítico (fator de força igual a 1,5). Observa-se que os resultados obtidos
traduzem o Conceito de Largura Efetiva, ou seja, em fase pós-critica, as tensões normais
diminuem no centro da chapa e aumentam nas bordas longitudinais, o que significa que
a capacidade resistente de chapa se concentra junto a essas bordas. No comportamento
pré-crítico as tensões normais são praticamente uniformes, conforme mostra a Figura
6.22, que representa a distribuição de tensões  x para a tensão média aplicada igual a
50% do valor crítico (fator de força igual a 1,5).

184
Tabela 6.9: Relação z/t em função do carregamento da chapa.
FF Esquema 4x4 Esquema 8x8
0,10 0,11 0,11
0,20 0,13 0,13
0,30 0,15 0,15
0,40 0,17 0,17
0,50 0,21 0,21
0,60 0,26 0,26
0,70 0,34 0,34
0,80 0,47 0,47
0,90 0,65 0,65
1,00 0,85 0,85
1,10 1,04 1,04
1,20 1,22 1,22
1,30 1,39 1,39
1,40 1,55 1,55
1,50 1,70 1,70
1,60 1,85 1,85
1,70 1,99 1,99
1,80 2,12 2,12
1,90 2,25 2,25
2,00 2,38 2,38
2.50

2.00
z0/t=1%
Fator de Força

1.50
z0/t=5%

1.00 z0/t=10%

z0/t=20%
0.50
z0/t=20%
w/t ANLESPL
0.00
0.00 0.50 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00

Figura 6.20: Trajetórias de equilíbrio de chapas quadradas com imperfeição


geométrica inicial

185
Figura 6.21: Distribuição de tensões de membrana  x na fase pós-crítica (MPa)
– obtido com o programa INSTAB.
A partir das distribuições de tensões de membrana podem-se obter as tensões de
Von Mises por meio da expressão (6.156), cuja distribuição está ilustrada na Figura
6.23 para a tensão media aplicada igual a 50% superior ao valor critico (fator de força
igual a 1,5),

VM   x2   y2   x y  3 xy2  .
0,5
(6.156)

Figura 6.22: Distribuição de tensões de membrana  x na fase pré-crítica (MPa) –


obtido com o programa INSTAB.

186
Figura 6.23: Distribuição de tensões de Von Mises para FF=1,5 (MPa) – obtido
com o programa INSTAB.
A partir da distribuição de Von Mises, observa-se que o inicio da plastificação
ocorrerá no meio do vão e nas bordas y=0 e y=100.
Devido ao fato de que o elemento Shell 181 do programa ANSYS ser formulado
com base na teoria de Reissener-Mindlin, a qual leva em conta as deformações por
cisalhamento, opta-se em uma placa mais fina para realizar a comparação entre os
programas INSTAB e ANSYS. Deste modo, efetua-se a análise não linear de estabilidade
de uma chapa de aço quadrada simplesmente apoiada (a=b=100 mm, t= 0,1 mm, E=200
GPa, e ν=0,3) submetida à compressão uniforme.
Com uso do programa ANSYS, observa-se que discretizando a chapa em
elementos quadrados de 1,25 mm de lado, obtém-se a tensão crítica igual a 0,72314
MPa. Para uma malha mais refinada, com elementos quadrados de 0,625 mm de lado, o
valor da tensão crítica é igual a 0,72300 MPa. Por meio do programa INSTAB,
discretizando a chapa em 20 faixas finitas de mesma largura e com 11 nós por linha
nodal, a tensão crítica obtida é igual a 0,72305 MPa, que corresponde ao valor exato da
tensão crítica obtido por Timoshenko e Krieger, 1959.
Para a análise não linear de estabilidade foi adotada uma imperfeição geométrica
inicial, na forma do modo de instabilidade, com amplitudes igual a 10% da espessura. A
variação do deslocamento vertical do nó central da chapa em função da força aplicada
obtida com a ajuda dos programas INSTAB e ANSYS está ilustrada na Figura 6.24.
Observa-se que, os deslocamentos obtidos por meio do MFFS são um pouco maior aos
obtidos pelo MEF. Para níveis de força superior a 10% da força crítica, os
deslocamentos obtidos pelo INSTAB são ligeiramente menores quando comparados aos

187
deslocamentos obtidos pelo ANSYS considerando-se o material de comportamento
elástico.

1.50
1.40
1.30
1.20
1.10
1.00
Fator de Força

0.90
0.80 INSTAB
0.70
0.60 ANSYS
0.50
0.40
0.30
0.20
0.10
0.00 Deslocamento (mm)
0.00 0.05 0.10 0.15

Figura 6.24: Trajetórias de equilíbrio das chapas – comparação entre MFFS e


MEF.

6.8.2.3 Pilar Metálico – Instabilidade Local de Chapa


Efetua-se, agora, a análise não linear de estabilidade de pilares de aço formado a
frio com seção Ue 118,7x88,7x15x1,08 (E=200 GPa, e ν=0,3) submetido à compressão
centrada.
Essa seção foi inicialmente estudada por Kwon (1992) e posteriormente por
Prola (2001). Inicialmente faz-se um estudo de convergência de malha, ou seja, variação
do número de nós por linha nodal e de faixas. Considera-se que o comprimento do perfil
seja igual a 109 mm, cujo modo de instabilidade é o Modo Local de Chapa (MLC) com
um semicomprimento de onda. Admite-se uma imperfeição geométrica inicial na forma
do modo crítico e com amplitude igual a 10% da espessura do perfil. A força crítica de
bifurcação obtida pela análise linear de estabilidade é igual a 26,82 kN.
Admite-se inicialmente que a seção transversal seja discretizada em 20 faixas
finitas (3 faixas em cada enrijecedor, 4 faixas em cada mesa e 6 faixas na alma). A
relação entre o deslocamento de flexão no meio da alma da seção do meio do vão e a
espessura (y/t) obtidos pelos programas INSTAB e ANLESPL, correspondente a uma
força média aplicada 50% superior à respectiva força de bifurcação crítica, estão
apresentados na Tabela 6.10. Mostra-se também a influência da discretização
longitudinal do perfil (número de nós por linha nodal).

188
Tabela 6.10: Relação y/t para FF=1,5
Programa Número de Nós por Linha Nodal
9 11 13
INSTAB – 1,714 1,715 1,715
Esquema 4x4
INSTAB – 1,714 1,715 1,715
Esquema 8x8
ANLESPL 1,714 1,715 1,715

Observa-se que os resultados convergem com 11 nós por linha nodal, sendo que
os deslocamentos obtidos pelos programas INSTAB e ANLESPL são iguais. A influência
do número de pontos de Gauss utilizados na integração das matrizes não altera os
deslocamentos obtidos, sendo que, nos demais exemplos serão utilizados o esquema de
4x4 pontos, pois o tempo de processamento é cerca de 2,5 vezes menor.
Para avaliar a discretização da seção transversal, a discretização longitudinal
será fixada em 11 nós por linha nodal. A relação entre o deslocamento de flexão e a
espessura (y/t) no meio da alma da seção do meio do vão obtidos pelo programa
INSTAB, correspondente a uma tensão média aplicada 50% superior à respectiva tensão
crítica, estão apresentados na Tabela 6.11. Nessa tabela varia-se somente o número de
faixa na alma do perfil, sendo que as mesas e os enrijecedores são discretizados em 4 e
3 faixas, respectivamente. Nota-se que com 20 faixas na alma, a diferença relativa é
igual a 0,3%, em relação ao deslocamento obtido com 28 faixas.
Tabela 6.11: Relação y/t em função da discretização da alma
Número de faixas na alma y/t
6 1,715
10 1,749
20 1,770
24 1,773
26 1,774
28 1,775
30 1,775

Para avaliar a influência da discretização das mesas, a Tabela 6.12 mostra a


variação da relação w/t em função do número de faixas das mesas, considerando que a
alma e os enrijecedores foram discretizados em 28 e 3 faixas, respectivamente.

189
Tabela 6.12: Variação da relação y/t em função da discretização das
mesas
Número de faixas na mesa y/t
4 1,775
10 1,837
20 1,849
25 1,851
30 1,852

Com base nos estudos de convergência anteriores, a Tabela 6.13 mostra a


variação da relação w/t para duas malhas: (i) Malha 1 com 20 faixas finitas (3 faixas em
cada enrijecedor, 4 faixas em cada mesa e 6 faixas na alma) e (ii) Malha 2 com 94
faixas finitas (3 faixas em cada enrijecedor, 30 faixas em cada mesa e 28 faixas na
alma). Os resultados foram obtidos pelos programas INSTAB e ANLESPL são
praticamente iguais.
Os programas possuem a mesma estratégia de solução do sistema de equações
não lineares, mas uma metodologia diferente para o cálculo das matrizes de rigidez.
Enquanto que o INSTAB utiliza integração numérica, o programa ANLESPL,
desenvolvido por Prola (2001), utiliza expressões analíticas para o calculo das matrizes
lineares e não lineares. Além disso, no cálculo das matrizes geométricas, Prola (2001)
utiliza a integração com base nos deslocamentos nodais, enquanto que, no programa
INSTAB, a integração é feita a partir das tensões nos pontos de Gauss. A integração
numérica proporcionou uma redução no tempo de processamento. Para a malha 2,
malha mais refinada com 56 faixas finitas e 11 nós por linha nodal, o tempo de
processamento total foi de 4020 segundos utilizando o programa ANLESPL, e 610
segundos com o programa INSTAB. Os tempos de processamento foram medidos em
um microcomputador Quad Core E6600 com 2 Gb de memória RAM com o Windows
7.
Pode ser observado que, para níveis de carregamento baixos (FF<0,7), os
deslocamentos obtidos por meio da malha 1 e 2 são praticamente os mesmos. No
entanto, na fase pós-crítica, a malha 2 apresenta deslocamentos maiores. A ilustração
gráfica dos resultados apresentados na Tabela 6.12 está mostrada na Figura 6.25, que
representa a trajetória de equilíbrio do pilar submetido à compressão uniforme cujo
modo de instabilidade é o MLC, Pode ser notado que o andamento da trajetória de
equilíbrio é semelhante ao de uma chapa comprimida simplesmente apoiada (ver Figura
6.20), o que significa que o pilar possui uma resistência pós-crítica significativa.

190
Tabela 6.13: Relação y/t em função do fator de força para o MLC.
INSTAB ANLESPL
FF Malha 1 Malha 2 Malha 1 Malha 2
0,1 0,1114 0,1114 0,1114 0,1114
0,2 0,1258 0,1257 0,1258 0,1257
0,3 0,1447 0,1445 0,1447 0,1445
0,4 0,1703 0,1700 0,1703 0,1700
0,5 0,2066 0,2063 0,2066 0,2063
0,6 0,2610 0,2608 0,2610 0,2608
0,7 0,3464 0,3473 0,3464 0,3473
0,8 0,4789 0,4843 0,4789 0,4843
0,9 0,6573 0,6738 0,6573 0,6738
1,0 0,8540 0,8871 0,8547 0,8871
1,1 1,0491 1,1000 1,0491 1,1000
1,2 1,2324 1,3028 1,2324 1,3028
1,3 1,4046 1,4963 1,4037 1,4954
1,4 1,5639 1,6787 1,5639 1,6787
1,5 1,7139 1,8519 1,7139 1,8519
1,6 1,8556 2,0176 1,8556 2,0176
1,7 1,9889 2,1778 1,9889 2,1778
1,8 2,1167 2,3315 2,1167 2,3315
1,9 2,2380 2,4815 2,2380 2,4815
2,0 2,3546 2,6269 2,3546 2,6269

2.50

2.00
Fator de Força

1.50
Malha 2
1.00 Malha 1

0.50

w/t
0.00
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0

Figura 6.25: Trajetória de equilíbrio do pilar (MLC).


Com o objetivo de comparar a trajetória de equilíbrio obtida pelos programas
INSTAB e ANSYS, a Figura 6.26 ilustra a variação do deslocamento no meio da alma da
seção no meio do vão em função da força de compressão aplicada. No ANSYS, o modelo
foi discretizado em elementos quadrados de 1,25 mm de lado.

191
2.5

Fator de Força 1.5

0.5

0 w/t
0.00 0.50 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00
INSTAB ‐ malha 1 INSTAB ‐ malha 2 ANSYS

Figura 6.26: Trajetória de equilíbrio obtida por meio do INSTAB e do ANSYS


(MLC)
Observa-se que para baixos níveis de carregamento, os deslocamentos máximos
do perfil obtidos pelo MFFS e MEF são praticamente iguais. Para níveis elevados de
carregamento, a malha 2 do modelo de faixas finitas splines é um pouco mais flexível
quando comparado ao modelo de casca obtido pelo programa ANSYS utilizando material
elástico.
A distribuição de tensões de von Mises obtida pelo programa INSTAB, para a
força media aplicada igual a 50% superior ao valor critico (fator de força igual a 1,5),
está representada na Figura 6.27. A observação dessa figura mostra que: (i) As maiores
e menores tensões normais de compressão ocorrem na junção mesa-alma e no meio da
alma, respectivamente, ou seja, os valores extremos ocorrem na chapa mais esbelta e,
portanto, aquela que precipita e condiciona o comportamento pós-critico de toda a
seção, (ii) as tensões são praticamente constantes nos enrijecedores, sendo ligeiramente
maiores na borda livre dos mesmos, (iii) as tensões nas mesas são maiores nos cantos, e
(iv) a rigidez de flexão da junção mesa-alma é superior ao do canto mesa-enrijecedor.
Com o objetivo de validar o program INSTAB, a Figura 6.28 mostra a
distribuição de tensões de von Mises obtida pelo programa ANSYS para o mesmo nível
de força. O nível de tensões obtido pelo ANSYS é um pouco inferior às tensões obtidas
pelo INSTAB. Isto pode ser explicado pelo fato dos deslocamentos obtidos pelo ANSYS,
para o nível de força FF=1,5, serem um pouco menores quando comparados aos
deslocamentos obtidos pelo programa INSTAB (ver Figura 6.26).

192
Figura 6.27: Distribuição de tensões de von Mises na fase pós-critica (MPa)
obtida pelo programa INSTAB

Figura 6.28: Distribuição de tensões de von Mises na fase pós-critica (MPa),


obtida pelo programa ANSYS

Na fase pré-critica as tensões de von Mises, obtida pelo programa INSTAB, são
praticamente constante em todo o perfil, sendo um pouco mais elevadas nas regiões de
junção mesa-alma e mesa-enrijecedor, conforme mostra a Figura 6.29, onde as tensões

193
foram obtidas para a força media aplicada igual a 20% do valor critico (FF=0,2). Como
o programa INSTAB fornece deslocamentos um pouco maiores, as tensões de von Mises
obtidas pelo programa ANSYS são um pouco inferiores às tensões obtidas pelo programa
INSTAB, conforme pode ser visto na Figura 6.30.

Figura 6.29: Distribuição de tensões de von Mises na fase pré-critica (MPa),


obtida pelo programa INSTAB.

Figura 6.30: Distribuição de tensões de von Mises na fase pré-critica (MPa),


obtida pelo programa ANSYS.

194
6.8.2.4 Pilar Metálico – Modo Distorcional
Efetua-se, agora, a análise não linear de estabilidade do pilar com seção Ue
50x25x10x1,75 (E=200 GPa, e ν=0,3) simplesmente apoiado, com comprimento igual a
150 mm, submetido à compressão centrada, cujo modo de instabilidade é o Modo
Distorcional (MD).
Conforme discutido no capitulo 3, os perfis que se instabilizam no MD
apresentam uma assimetria nos deslocamentos longitudinais devido aos efeitos de
cisalhamento. Esse fenômeno provoca comportamentos pós-críticos distintos quando a
seção transversal se abre ou se fecha, conforme mostra a Figura 4.18.

Figura 6.31: Empenamento da seção causada pela instabilidade


distorcional: (a) seção que abre, (b) seção que fecha. Ilustrações obtidas pelo
INSTAB

O pilar foi discretizado transversalmente em 26 faixas finitas (2 faixas em cada


enrijecedor, 6 faixas em cada mesa e 10 faixas na alma) e em 11 nós por linha nodal na
direção longitudinal. No programa ANSYS, o pilar foi discretizado em elementos de
casca quadrados de 1,25 mm de lado e modelado com material elástico. Admite-se uma
imperfeição geométrica inicial na forma do modo distorcional e com amplitude igual a
L/1000, onde L é o comprimento do perfil.
Para a seção que se abre (ver Figura 4.18a), os deslocamentos z, do ponto
localizado no canto mesa-enrijecedor da seção do meio do vão em função do fator de
força (relação entre a força aplicada e a força crítica fornecida pela análise linear de
estabilidade) obtidos pelos programas INSTAB e ANSYS estão ilustrados na Figura 6.32.
Observa-se que os deslocamentos obtidos pelos programas INSTAB e ANSYS são
semelhantes.

195
1.2

0.8
Fator de Força

ANSYS
0.6 INSTAB

0.4

0.2

0 Deslocamento 
0 1 2 3 4 5 6 (mm)

Figura 6.32: Trajetória de equilíbrio para a seção que abre

Alterando o sentido da imperfeição geométrica inicial pode-se avaliar a trajetória


de equilíbrio para a seção que se fecha (ver Figura 4.18b). A Figura 6.33 mostra a
variação do deslocamento z do canto mesa-enrijecedor com o nível de força aplicada.
Novamente verifica-se que os deslocamentos obtidos pelos programas INSTAB e ANSYS
são muito próximos.

1.2

0.8
Fator de Força

ANSYS
0.6 INSTAB

0.4

0.2

0 Deslocamento 
0 1 2 3 4 5 6 (mm)

Figura 6.33: Trajetória de equilíbrio para a seção que fecha

Em relação à distribuição de tensões normais para a seção que abre, ilustrada na


Figura 6.34 para fator de carga igual a 1,30, nota-se que, no meio do vão, as maiores

196
tensões de compressão ocorrem nas extremidades livres dos enrijecedores. Observa-se
uma leve tração na junção mesa-enrijecedor.

Figura 6.34: Distribuição de tensões normais para a seção que abre (MPa),
obtida pelo programa INSTAB

Para a seção que se fecha, a Figura 6.35 mostra a distribuição de tensões normais
para o fator de carga igual a 1,30. Observa-se que as maiores tensões de compressão
ocorrem na junção mesa-enrijecedor. Além disso, as extremidades livres dos
enrijecedores apresentam tensões de tração.

Figura 6.35: Distribuição de tensões normais para a seção que fecha (MPa),
obtida pelo programa INSTAB

197
Ressalta-se que as distribuições de tensões normais dos pilares que se
instabilizam no MLC e no MD são diferentes, sendo que o conceito de largura efetiva
não é aplicável nos pilares que se instabilizam no MD.

6.9. Contribuição à ABNT NBR 14762:2010


A norma brasileira de dimensionamento de estruturas de aço constituídas de
perfis formados a frio (ABNT NBR 14762:2010) recomenda que, para as seções
transversais sujeitas a instabilidade distorcional, deve ser calculada a força ou momento
elástico devido a este fenômeno. Segundo a norma, a força ou o momento de
flambagem elástica deve ser calculado a partir da teoria de estabilidade elástica, porém a
norma não fornece nenhuma formulação para a determinação destes valores. Torna-se
necessário ao engenheiro recorrer a programas computacionais, como por exemplo, o
CUFSM (Schafer e Ádány, 2006) e GBTUL (Bebiano et al, 2008) que efetuam este
cálculo.
O programa INSTAB permite a construção de gráficos que mostram a variação
do coeficiente de instabilidade com o comprimento do perfil. Esses gráficos (ver Figura
6.16) identificam o coeficiente de instabilidade associados aos modos locais de chapa
ou distocional. O modo de instabilidade local do perfil que governa o projeto é o modo
de instabilidade associado ao menor valor entre os coeficientes obtido por meio desses
gráficos.
Nas tabelas a seguir são apresentados os comprimentos críticos (comprimento do
perfil associado ao menor valor entre os coeficientes de instabilidade), os respectivos
coeficientes de instabilidade (k) e a força de flambagem elástica (N) decorrente do
modo crítico, seja local ou distorcional, para os perfis constituidos em seções Ue
padronizadas pela ABNT NBR 6335:2003. As seções foram discretizadas em 30 faixas
finitas (8 na alma e nas mesas e 3 nos enrijecedores) e 11 nós por linha nodal. Os perfis
foram considerados biapoiados e submetidos à compressão. Nas tabelas 6.14 a 6.21 as
dimensões estão em mm.
A força de flambagem elástica correspondente ao modo de instabilidade crítico,
devida à instabilidade local ou distorcional, (N), é obtida por meio da equação (6.157),
k 2 EA
N 2
, (6.157)
b 
12 1  2   w 
 t 

198
onde E e  são, respectivamente, o módulo de elasticidade e o coeficiente de Poisson
do material, A, t e bw são a área, espessura e a largura da alma do perfil,
respectivamente.

Tabela 6.14: Força de flambagem elástica para perfis com bw = 300


Modo
bf D t Comp. k Crítico N (kN)
100 25 4,75 238 5,54 MLC 655,9
100 25 4,25 236 5,57 MLC 472,3
100 25 3,75 234 5,59 MLC 325,6
100 25 3,35 232 5,61 MLC 233,0
100 25 3,00 231 5,62 MLC 167,6
100 25 2,65 230 5,63 MLC 115,7
85 25 4,75 240 5,58 MLC 624,6
85 25 4,25 236 5,62 MLC 450,6
85 25 3,75 233 5,65 MLC 311,2
85 25 3,35 231 5,67 MLC 222,6
85 25 3,00 229 5,69 MLC 160,5
85 25 2,65 228 5,70 MLC 110,8
85 25 2,25 226 5,72 MLC 68,0
85 25 2,00 225 5,73 MLC 47,9

Tabela 6.15: Força de flambagem elástica para perfis com bw = 250


Modo
bf D t Comp. k Crítico N (kN)
100 25 4,75 199 5,47 MLC 847,7
100 25 4,25 198 5,49 MLC 609,4
100 25 3,75 197 5,51 MLC 420,2
100 25 3,35 196 5,52 MLC 300,1
100 25 3,00 195 5,53 MLC 215,9
100 25 2,65 194 5,54 MLC 149,1
85 25 4,75 199 5,53 MLC 805,6
85 25 4,25 197 5,56 MLC 580,2
85 25 3,75 195 5,58 MLC 400,0
85 25 3,35 194 5,60 MLC 286,2
85 25 3,00 193 5,61 MLC 205,9
85 25 2,65 193 5,62 MLC 142,2
85 25 2,25 191 5,63 MLC 87,2
85 25 2,00 190 5,64 MLC 61,3

199
Tabela 6.16: Força de flambagem elástica para perfis com bw = 200
Modo
bf D t Comp. k Crítico N (kN)
100 25 4,75 659 5,29 MD 1152,9
100 25 4,25 162 5,38 MLC 839,9
100 25 3,75 161 5,39 MLC 578,0
100 25 3,35 160 5,40 MLC 412,8
100 25 3,00 159 5,41 MLC 297,0
100 25 2,65 159 5,42 MLC 205,1
75 25 4,75 160 5,48 MLC 1061,6
75 25 4,25 159 5,51 MLC 764,6
75 25 3,75 157 5,53 MLC 527,1
75 25 3,35 157 5,55 MLC 377,2
75 25 3,00 156 5,56 MLC 271,4
75 25 2,65 155 5,57 MLC 187,4
75 20 2,25 155 5,57 MLC 111,8
75 20 2,00 155 5,58 MLC 78,7

Tabela 6.17: Força de flambagem elástica para perfis com bw = 150


Modo
bf D t Comp. k Crítico N (kN)
60 20 4,75 390 5,05 MD 1347,9
60 20 4,25 122 5,42 MLC 1036,2
60 20 3,75 120 5,46 MLC 717,1
60 20 3,35 119 5,48 MLC 513,1
60 20 3,00 119 5,50 MLC 369,8
60 20 2,65 118 5,52 MLC 255,8
60 20 2,25 117 5,53 MLC 156,9
60 20 2,00 117 5,54 MLC 110,4

Tabela 6.18: Força de flambagem elástica para perfis com bw = 125


Modo
bf D t Comp. k Crítico N (kN)
50 20 3,75 101 5,44 MLC 879,5
50 17 3,35 101 5,44 MLC 612,8
50 17 3,00 100 5,47 MLC 442,5
50 17 2,65 99 5,49 MLC 306,1
50 17 2,25 98 5,52 MLC 188,4
50 17 2,00 98 5,53 MLC 132,6

200
Tabela 6.19: Força de flambagem elástica para perfis com bw = 100
Modo
bf D t Comp. k Crítico N (kN)
50 17 3,35 345 4,67 MD 742,6
50 17 3,00 364 5,08 MD 580,2
50 17 2,65 81 5,37 MLC 422,7
50 17 2,25 80 5,39 MLC 259,7
50 17 2,00 80 5,40 MLC 182,7
40 17 3,35 308 5,07 MD 737,3
40 17 3,00 80 5,45 MLC 569,2
40 17 2,65 79 5,48 MLC 394,5
40 17 2,25 79 5,50 MLC 242,3
40 17 2,00 79 5,52 MLC 170,8

Tabela 6.20: Força de flambagem elástica para perfis com bw = 75


Modo
bf D t Comp. k Crítico N (kN)
40 15 3,00 277 4,08 MD 654,9
40 15 2,65 294 4,50 MD 497,9
40 15 2,25 318 5,13 MD 347,4
40 15 2,00 61 5,35 MLC 254,4

Tabela 6.21: Força de flambagem elástica para perfis com bw = 50


Modo
bf D t Comp. k Crítico N (kN)
25 10 3,00 149 3,15 MD 737,9
25 10 2,65 157 3,44 MD 555,4
25 10 2,25 169 3,88 MD 383,5
25 10 2,00 178 4,24 MD 294,3

O programa INSTAB permite, também, a determinação dos coeficientes de


bifurcação de elementos submetidos à flexão. Nas tabelas a seguir são apresentados os
comprimentos críticos, os respectivos coeficientes de instabilidade e o momento fletor
de flambagem elástica associados à instabilidade local ou distorcional para os perfis
constituidos em seções Ue padronizadas pela ABNT NBR 6335:2003. Os perfis foram
considerados biapoiados e submetidos à flexão pura. Nas tabelas 6.22 a 6.29 as
dimensões são em mm.

201
O momento fletor de flambagem elástica correspondente ao modo de
instabilidade crítico, devida à instabilidade local ou distorcional, (M), é obtido por meio
da equação (6.158),
k 2 EWx
M 2
, (6.158)
b 
12 1    w 
2

 t 
onde E e  são, respectivamente, o módulo de elasticidade e o coeficiente de Poisson
do material, Wx , é o módulo resistente elástico em relação ao eixo x. t e bw são a
espessura e a largura da alma do perfil, respectivamente.

Tabela 6.22: Momentos fletores de flambagem elástica para perfis com bw = 300
M
bf D t Comp. k Modo (kNm)
100 25 4,75 649 14,76 MD 40,8
100 25 4,25 686 16,07 MD 31,8
100 25 3,75 730 17,73 MD 24,1
100 25 3,35 772 19,41 MD 18,8
100 25 3,00 817 21,26 MD 14,8
100 25 2,65 870 23,59 MD 11,3
85 25 4,75 584 17,95 MD 45,2
85 25 4,25 617 19,50 MD 35,2
85 25 3,75 656 21,46 MD 26,6
85 25 3,35 693 23,46 MD 20,7
85 25 3,00 732 25,64 MD 16,3
85 25 2,65 780 28,41 MD 12,4
85 25 2,25 165 30,56 MLC 8,2
85 25 2,00 165 30,60 MLC 5,8

202
Tabela 6.23: Momentos fletores de flambagem elástica para perfis com bw = 250
M
bf D t Comp. k Modo (kNm)
100 25 4,75 628 11,13 MD 34,9
100 25 4,25 664 12,14 MD 27,3
100 25 3,75 708 13,44 MD 20,8
100 25 3,35 749 14,75 MD 16,2
100 25 3,00 792 16,18 MD 12,8
100 25 2,65 842 18,00 MD 9,8
85 25 4,75 563 13,82 MD 39,4
85 25 4,25 596 15,06 MD 30,7
85 25 3,75 634 16,64 MD 23,3
85 25 3,35 672 18,24 MD 18,2
85 25 3,00 709 19,99 MD 14,3
85 25 2,65 755 22,21 MD 11,0
85 25 2,25 822 25,58 MD 7,7
85 25 2,00 870 28,38 MD 6,0

Tabela 6.24: Momentos fletores de flambagem elástica para perfis com bw = 200
M
bf D t Comp. k Modo (kNm)
100 25 4,75 605 7,73 MD 28,6
100 25 4,25 640 8,46 MD 22,4
100 25 3,75 681 9,39 MD 17,1
100 25 3,35 720 10,33 MD 13,4
100 25 3,00 762 11,35 MD 10,6
100 25 2,65 811 12,65 MD 8,1
75 25 4,75 498 11,47 MD 35,4
75 25 4,25 526 12,52 MD 27,7
75 25 3,75 561 13,86 MD 21,1
75 25 3,35 594 15,22 MD 16,5
75 25 3,00 627 16,70 MD 13,0
75 25 2,65 668 18,58 MD 10,0
75 20 2,25 627 18,66 MD 6,0
75 20 2,00 666 20,65 MD 4,7

203
Tabela 6.25: Momentos fletores de flambagem elástica para perfis com bw = 150
M
bf D t Comp. k Modo (kNm)
60 20 4,75 351 8,73 MD 28,2
60 20 4,25 372 9,50 MD 22,0
60 20 3,75 396 10,47 MD 16,7
60 20 3,35 419 11,46 MD 13,0
60 20 3,00 443 12,55 MD 10,2
60 20 2,65 472 13,92 MD 7,8
60 20 2,25 513 16,01 MD 5,5
60 20 2,00 544 17,74 MD 4,3

Tabela 6.26: Momentos fletores de flambagem elástica para perfis com bw = 125
M
bf D t Comp. k Modo (kNm)
50 20 3,75 338 9,75 MD 15,8
50 17 3,35 323 10,01 MD 11,4
50 17 3,00 341 10,92 MD 8,9
50 17 2,65 363 12,08 MD 6,8
50 17 2,25 395 13,84 MD 4,8
50 17 2,00 419 15,30 MD 3,7

Tabela 6.27: Momentos fletores de flambagem elástica para perfis com bw = 100
M
bf D t Comp. k Modo (kNm)
50 17 3,35 310 6,98 MD 9,3
50 17 3,00 328 7,64 MD 7,3
50 17 2,65 349 8,47 MD 5,6
50 17 2,25 380 9,73 MD 3,9
50 17 2,00 403 10,78 MD 3,1
40 17 3,35 265 9,10 MD 10,6
40 17 3,00 281 9,94 MD 8,3
40 17 2,65 299 11,00 MD 6,3
40 17 2,25 325 12,62 MD 4,5
40 17 2,00 345 13,96 MD 3,5

204
Tabela 6.28: Momentos fletores de flambagem elástica para perfis com bw = 75
M
bf D t Comp. k Modo (kNm)
40 15 3,00 246 5,99 MD 6,1
40 15 2,65 262 6,63 MD 4,6
40 15 2,25 285 7,61 MD 3,3
40 15 2,00 303 8,43 MD 2,5

Tabela 6.29: Momentos fletores de flambagem elástica para perfis com bw = 50


M
bf D t Comp. k Modo (kNm)
25 10 3,00 128 4,74 MD 4,6
25 10 2,65 136 5,20 MD 3,5
25 10 2,25 148 5,90 MD 2,4
25 10 2,00 157 6,48 MD 1,9

Para as barras fletidas, observa-se que a grande maioria dos perfis padronizados
pela ABNT NBR 6335:2003 apresentou instabilidade distorcional. Apenas os perfis Ue
300x85x25x2,25 e Ue 300x85x25x2,00 apresentaram o MLC como crítico.

205
7. ESFORÇOS RESISTENTES DE PERFIS FORMADOS A FRIO EM
INCÊNDIO

Os esforços resistentes de elementos estruturais em situação de incêndio podem


ser obtidos por meio de ensaios executados em fornos submetidos a um carregamento
mecânico e com condições de aquecimento, a qual, geralmente, é fornecida pelo
incêndio-padrão.
A resistência ao fogo de um elemento é fornecida em função da temperatura a
partir da qual o elemento estrutural apresenta deformações excessivas ou perda de
capacidade resistente. Considerando que na prática emprega-se a curva de incêndio-
padrão para o dimensionamento de estruturas em situação de incêndio, a qual não
apresenta um ponto de temperatura máxima, convenciona-se a adoção de um tempo
fictício que fornece, por meio da curva de incêndio-padrão, a temperatura máxima
resistida pelo elemento estrutural. Esse tempo fictício é conhecido por tempo de
resistência ao fogo (TRF).
Devido ao alto custo de realização de ensaios para determinar o TRF, é comum a
utilização de simulações numéricas em estudos do comportamento de elementos
estruturais em situação de incêndio.
Neste capítulo faz-se um estudo numérico do comportamento estrutural de perfis
formados a frio em situação de incêndio com a utilização dos recursos proporcionados
por métodos numéricos consagrados. Inicialmente, estuda-se o efeito da plasticidade na
capacidade resistente de perfis formados a frio sujeitos a fenômenos de instabilidade
local e distorcional. Em seguida, verifica-se o efeito do gradiente de temperaturas
devido ao aquecimento não uniforme da seção transversal.

7.1. Efeito da Plasticidade


O efeito da plasticidade na capacidade resistente de perfis formados a frio é
estudado com o auxilio dos programas INSTAB e ANSYS. Para este estudo serão
realizadas comparações entre a capacidade portante dos perfis de aço formado a frio
obtidos por meio de dois modelos: elastofrágil e elastoplástico. No modelo elastofrágil o
material é considerado elástico-linear e a capacidade resistente do perfil é determinada
pelo critério de von Mises, ou seja, a capacidade resistente é determinada pela força
aplicada no perfil que produz uma tensão de von Mises equivalente igual à resistência
ao escoamento do aço. No modelo elastoplástico considera-se a não linearidade do
material conforme as recomendações do Eurocode 3 parte 1.2 (2005) e a capacidade

206
resistente do perfil é a força correspondente ao ponto limite obtido por meio da
trajetória de equilíbrio do perfil analisado.
Ressalta-se que o modelo elastofrágil pode ser analisado pelos programas
INSTAB e ANSYS. Enquanto que o modelo elastoplástico somente é analisado pelo
programa ANSYS.

Para as análises efetuadas pelo modelo elstoplástico, os redutores, devido à


temperatura, da resistência ao escoamento ( k y , ), da resistência correspondente ao

limite de proporcionalidade ( k p , ) e do modulo de elasticidade ( k E , ) adotados nas

análises estão apresentados na Tabela 5.8.


Tabela 7.1: Fatores de redução segundo o Eurocode 3 parte 1.2 (2005)
Redutor da Redutor da resistência Redutor do
resistência ao correspondente ao limite modulo de
escoamento de proporcionalidade elasticidade
Temperatura
(ºC) k y ,  f y , f y k p ,  f p , f y k E ,  E E

20 1,00 1,0000 1,0000


100 1,00 1,0000 1,0000
200 1,00 0,8070 0,9000
300 1,00 0,6130 0,8000
400 1,00 0,4200 0,7000
500 0,78 0,3600 0,6000
600 0,47 0,1800 0,3100
700 0,23 0,0750 0,1300
800 0,11 0,0500 0,0900
900 0,06 0,0375 0,0675
1000 0,04 0,0250 0,0450
1100 0,02 0,0125 0,0225
1200 0,0000 0,0000 0,0000

Conforme já discutido no Capítulo 5, o Eurocode 3 parte 1.2 (2005) propõe uma


relação tensão-deformação para temperaturas elevadas (ver equações (5.10) a (5.14))
conforme mostra a Figura 7.1.

207
Figura 7.1: Relação tensão-deformação para aços a altas temperaturas.
Devido à consideração de não linearidades geométricas e do material, o
programa ANSYS adota o método de solução de Newton Raphson para a solução do
sistema de equações não lineares. Para evitar falhas de convergência na solução
numérica devido a não linearidade do material considerou-se a deformação específica
do aço limitada em  t , . Esta limitação é justificável, pois, devido aos fenômenos de

instabilidade local e de plasticidade, os perfis formados a frio não apresentam


deformações lineares específicas muito elevadas. Utilizou-se, também, um pequeno
endurecimento do material após o início do escoamento do aço. Assim, a tensão
correspondente ao final do patamar de escoamento é dada pela equação (1.1).

   t ,   f y , 
E
1000
 t ,   y ,  . (1.1)

Após um estudo de convergência de malhas, no programa INSTAB, os perfis


foram discretizados em 26 faixas finitas com 8 nós por linha nodal, sendo 2 nos
enrijecedores, 6 nas mesas e 10 na alma. Em relação ao programa ANSYS, os perfis
foram modelados com elementos quadrados de casca de quatro nós (Shell 181) com
1,25 mm de lado.

7.1.1. Modo Local de Chapa


Inicialmente, testa-se a influência da plasticidade na determinação da capacidade
resistente de um perfil de seção Ue 100x50x17x1,00, simplesmente apoiado, submetido
à compressão uniforme e com comprimento pequeno igual a L=80 mm, a fim de que o
modo de instabilidade seja o local de chapa (MLC). Considera-se que o perfil seja
constituído de aço ASTM A-570 GR 36 cuja resistência ao escoamento e o módulo de
elasticidade à temperatura ambiente sejam iguais a 250 MPa e 200 GPa,
respectivamente. Admite-se uma imperfeição geométrica inicial na forma do modo

208
critico de instabilidade e com amplitude máxima igual a L/1000, conforme
recomendação da ABNT NBR 8800:2008.
A variação do deslocamento máximo do perfil (ponto localizado no meio da
alma na seção do meio do vão) com a força aplicada está apresentada na Figura 7.2.
Como a espessura do perfil é pequena, considera-se que a seção do perfil esteja
submetida a temperaturas uniformes iguais a 20ºC, 200ºC, 400ºC e 600ºC. A Figura 7.2
foi obtida com o programa ANSYS considerando o material elastoplástico (ELP).

35

20ºC
30
200ºC
25
Força (kN)

20 400ºC

15

10 600ºC

0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3
Deslocamento (mm)

Figura 7.2: Trajetória de equilíbrio para o pilar com seção Ue 100x50x17x1,00.


A influência da plasticidade na determinação da força normal resistente dos
perfis de aço formado a frio pode ser avaliada por meio da comparação entre a trajetória
de equilíbrio obtida por modelos numéricos que consideram o material elástico-linear e
elastoplástico. A Figura 7.3 apresenta três trajetórias de equilíbrio para o pilar com
seção Ue 100x50x17x1,00 submetida à temperatura ambiente, uma curva obtida por
meio do programa INSTAB e as outras duas calculadas pelo programa ANSYS, sendo
uma obtida com o material elástico linear e outra com material elastoplástico.
A partir da observação da Figura 7.3 pode-se concluir que: (i) para níveis baixos
de carregamento (forças inferiores a 20 kN) as três curvas são praticamente iguais e (ii)
as curvas obtidas pelos programas INSTAB e ANSYS com o material elástico-linear
são praticamente iguais para qualquer valor de força, sendo que os resultados obtidos
pelo ANSYS são ligeiramente mais flexíveis quando comparados ao programa
INSTAB. Essa diferença entre os resultados do programa INSTAB e ANSYS com o

209
modelo elástico-linear deve-se à diferença de teorias de placas utilizadas na formulação
dos elementos. Enquanto o INSTAB utiliza a teoria de placas finas (Kirchhoff-Love), o
elemento Shell 181, e todos os outros elementos de casca, do programa ANSYS foram
formulados com base na teoria de Reissner-Mindlin.

50

45

40

35
B
30 A
Força (kN)

25

20

15

10

0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3
Deslocamento (mm)
ANSYS - EL ANSYS - ELP INSTAB

Figura 7.3: Comparação entre trajetórias de equilíbrio para o pilar Ue


100x50x17x1,00 a 20ºC.
Verifica-se que a força correspondente ao aparecimento do ponto limite é igual a
29,72 kN (ponto B), a qual ocasiona uma tensão de von Mises máxima igual à
resistência ao escoamento do aço, conforme mostra a Figura 7.4. O modelo elastofrágil
fornece uma força resistente de 27,02 kN (ponto A) correspondente a uma tensão de von
Mises de 250 MPa. Assim, a estimativa da capacidade resistente por meio do modelo
elastofrágil aproxima-se com erro de 9,0% do valor mais rigoroso dado pelo modelo
elastoplástico. Verifica-se que para este pilar, essa diferença deve-se à influência da não
linearidade geométrica, da plasticidade e das imperfeições geométricas iniciais que
propiciam a perda de rigidez do pilar.

210
 
1
NODAL SOLUTION
STEP=1
SUB =10
TIME=.704103
SEQV (AVG)
DMX =1.89786
SMN =33.7303
SMX =250
MN

X Y

MX

33.7303 81.7902 129.85 177.91 225.97


57.7603 105.82 153.88 201.94 250

Figura 7.4: Distribuição das tensões de von Mises, obtida pelo ANSYS,
correspondente ao ponto limite para o pilar de seção Ue 100x50x17x1,00 a 20ºC

Para temperaturas elevadas, as Figuras 7.5 a 7.7 apresentam a distribuição das


tensões de von Mises, obtidas pelo ANSYS, correspondente ao ponto limite para o pilar
com seção Ue 100x50x17x1,00 submetidos à temperatura uniforme iguais a 200ºC,
400ºC e 600ºC. Observa-se que para o pilar aquecido, neste caso, as tensões de von
Mises máximas são inferiores à resistência ao escoamento do aço.
 
1
NODAL SOLUTION
STEP=1
SUB =10
TIME=.678523
SEQV (AVG)
DMX =1.90574
SMN =29.3927
SMX =225.731

MX
MN
Z

X Y

29.3927 73.0233 116.654 160.285 203.915


51.208 94.8386 138.469 182.1 225.731

Figura 7.5: Distribuição das tensões de von Mises, obtida pelo ANSYS,
correspondente ao ponto limite para o pilar de seção Ue 100x50x17x1,00 a 200ºC

211
 
1
NODAL SOLUTION
STEP=1
SUB =10
TIME=.64122
SEQV (AVG)
DMX =1.90162
SMN =21.5875 MX
SMX =178.559

MN

X Y

21.5875 56.47 91.3526 126.235 161.118


39.0288 73.9113 108.794 143.676 178.559

Figura 7.6: Distribuição das tensões de von Mises, obtida pelo ANSYS,
correspondente ao ponto limite para o pilar de seção Ue 100x50x17x1,00 a 400ºC

 
1
NODAL SOLUTION
STEP=1
SUB =11
TIME=.648192
SEQV (AVG)
DMX =2.11119
SMN =10.0488 MX
SMX =87.1038

MN

X Y

10.0488 27.1721 44.2955 61.4188 78.5421


18.6105 35.7338 52.8571 69.9805 87.1038

Figura 7.7: Distribuição das tensões de von Mises, obtida pelo ANSYS,
correspondente ao ponto limite para o pilar de seção Ue 100x50x17x1,00 a 600ºC

As capacidades resistentes obtidas por meio do modelo elastoplástico (ELP) para


as temperaturas de 200, 400 e 600ºC estão apresentadas na Tabela 7.2. Nessa mesma
tabela, mostram-se as forças resistentes obtidas utilizando o modelo elastofrágil (ELF).

212
Tabela 7.2: Capacidade resistente obtidas pelos modelos ELP e ELF para o pilar
de seção Ue 100x50x17x1,00.
Força kN Força kN
Temperatura ºC ELP ELF Diferença
20 29,7 27,0 9,1%
200 25,8 24,3 5,8%
400 19,0 18,9 0,1%
600 8,5 8,4 1,2%

No modelo elastrofrágil, a força normal resistente em temperatura elevada foi


calculada a partir da força resistente à temperatura ambiente multiplicada pelo
respectivo redutor do módulo de elasticidade. A estimativa da capacidade resistente à
temperatura ambiente no modelo elastofrágil foi obtida quando a força aplicada no
perfil provoca uma máxima tensão de von Mises próxima à resistência ao escoamento
aço à temperatura ambiente.
Para uma melhor avaliação da influência da plasticidade em pilares que
apresentem o modo local de chapa como modo crítico de instabilidade, as Tabelas 7.3 e
7.4 apresentam as capacidades resistentes obtidas por meio dos modelos elastoplástico
(ELP) e elastofrágil (ELF) para os pilares de comprimento de 80 mm e com seção
transversal Ue 100x50x17 com espessuras iguais a 2,25 e 2,65 mm. As temperaturas
foram consideradas uniformes na seção transversal e iguais a 20, 200, 400 e 600ºC.
Admite-se uma imperfeição geométrica inicial na forma do modo critico de
instabilidade e com amplitude máxima igual a L/1000.
Tabela 7.3: Capacidade resistente para o pilar com seção Ue 100x50x17x2,25
Temperatura Força kN Força kN
ºC ELP ELF Diferença
20 128,3 115,4 10,1%
200 111,9 103,9 7,2%
400 82,7 80,8 2,3%
600 37,5 35,8 4,5%

Tabela 7.4: Capacidade resistente para o pilar com seção Ue 100x50x17x2,65


Temperatura Força kN Força kN
ºC ELP ELF Diferença
20 152,7 137,4 10,0%
200 136,6 123,6 9,5%
400 112,5 96,2 14,5%
600 51,6 42,6 17,4%

213
Observa-se que, para todos os pilares analisados, a estimativa da capacidade
resistente obtida pelo modelo elastofrágil é sempre a favor da segurança em relação ao
valor mais preciso, o qual leva em consideração o comportamento elastoplástico do aço.
Além do efeito da plasticidade, as imperfeições geométricas iniciais influenciam na
perda de rigidez dos pilares.
Para o perfil Ue 100x50x17x2,65, às temperaturas de 400 e 600ºC, as tensões de
von Mises máximas, obtidas nos pontos limites, foram próximas ao valor das
resistências ao escoamento do aço, conforme mostram as Figuras 7.8 e 7.9, por
consequência, as forças resistentes calculadas pelo modelo elastofrágil foram mais
conservadoras quando comparadas ao resultado obtido pelo ANSYS considerando o
modelo elastoplástico.

 
1
NODAL SOLUTION
STEP=1
SUB =6
TIME=.20983
SEQV (AVG)
DMX =.976867
SMN =119.608
SMX =225.705 X
Y
Z

MX

MN

119.608 143.185 166.763 190.34 213.917


131.397 154.974 178.551 202.128 225.705

Figura 7.8: Distribuição das tensões de von Mises, obtida pelo ANSYS,
correspondente ao ponto limite para o pilar de seção Ue 100x50x17x2,65 a 400ºC

214
 
1
NODAL SOLUTION
STEP=1
SUB =7
TIME=.218035
SEQV (AVG)
DMX =1.12383
SMN =54.3224 X
SMX =106.667 Y
Z

MX

MN

54.3224 65.9545 77.5867 89.2189 100.851


60.1385 71.7706 83.4028 95.035 106.667

Figura 7.9: Distribuição das tensões de von Mises, obtida pelo ANSYS,
correspondente ao ponto limite para o pilar de seção Ue 100x50x17x2,65 a 600ºC

7.1.2. Modo Distorcional


Estuda-se, agora, o efeito da plasticidade de um perfil de seção Ue
50x25x10x1,75, simplesmente apoiado, submetido à compressão uniforme e com
comprimento igual a L=150 mm, a fim de que o modo de instabilidade seja o
distorcional (MD). Considera-se que o perfil seja constituído de aço ASTM A-570 GR
36. Admite-se uma imperfeição geométrica inicial na forma do modo de instabilidade
distorcional e com amplitude máxima igual a L/1000, conforme recomendação da
ABNT NBR 8800:2008.
Por meio do modelo elastoplástico, a Figura 7.10 mostra a variação do
deslocamento máximo do pilar (nó localizado no meio do vão e na junção da mesa
superior com o enrijecedor) em função da força normal aplicada e da temperatura. A
elevação da temperatura na seção transversal de 20ºC para 600ºC provoca uma redução
de 73% na capacidade resistente do pilar.

215
60

20ºC
50
200ºC

Força (kN) 40 400ºC

30

20 600ºC

10

0
0 0.5 1 1.5 2
Deslocamento (mm)

Figura 7.10: Trajetórias de equilíbrio para o pilar com seção Ue


50x25x10x1,75.

As trajetórias de equilíbrio obtidas pelos programas INSTAB e ANSYS,


considerando os modelos elastofrágil e elastoplástico, para o pilar de seção Ue
50x25x10x1,75 submetido a uma temperatura uniforme de 200ºC estão ilustradas na
Figura 7.11.
Observa-se que para forças abaixo de 30 kN, as quais estão em regime elástico,
as três trajetórias são coincidentes. Na fase pós-critica, as curvas obtidas com o modelo
elastofrágil são praticamente as mesmas para qualquer valor de força, embora para
forças superiores a 200 kN haja uma ligeira diferença entre elas.
Quando a força aplicada no pilar é igual a 45,43 kN, a qual corresponde à
capacidade resistente do pilar, praticamente todo o perfil está submetido a uma tensão
de von Mises de 228,03 MPa, a qual é próxima à resistência ao escoamento do aço a
200ºC (fy,200=250 MPa), conforme mostra a Figura 7.12. Utilizando o modelo
elastofrágil com limite de tensão igual a 250 MPa, obtém-se a força normal resistente à
temperatura ambiente igual a 46,73 kN.

216
250

200

150
Força (kN)

100

50

0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5 5.5 6
Deslocamento (mm)
ANSYS - EL ANSYS - ELP INSTAB

Figura 7.11: Comparação entre trajetórias de equilíbrio para o pilar Ue


50x25x10x1,75 a 200ºC.
1
NODAL SOLUTION
STEP=1
SUB =8
TIME=.108019
SEQV (AVG)
DMX =1.01082
SMN =91.6239
SMX =228.031

X Y
MX

MN

91.6239 121.937 152.249 182.562 212.874


106.78 137.093 167.405 197.718 228.031

Figura 7.12: Distribuição das tensões de von Mises, obtida pelo ANSYS,
correspondente ao ponto limite para o pilar de seção Ue 50x25x10x1,75 a 200ºC

As forças normais resistentes para o pilar com seção transversal Ue


50x25x10x1,75 obtidas por meio dos modelos elastoplástico e elastofrágil para as
temperaturas de 20, 200, 400 e 600ºC estão apresentadas na Tabela 7.5.

217
Tabela 7.5: Capacidade resistente obtidas pelos modelos ELP e ELF para o pilar
de seção Ue 50x25x10x1,75.
Força kN Força kN
Temperatura ºC ELP ELF Diferença
20 52,0 46,7 10,2%
200 45,4 42,1 7,3%
400 37,5 32,7 12,8%
600 17,0 14,5 14,7%

Para ambas temperaturas de 400 e 600ºC o modelo elastofrágil, como esperado,


se mostrou conservador quando comparadas ao modelo elastoplástico. Nesses casos, as
tensões máximas de von Mises, obtidas pelo modelo elastoplástico, são próximas as
resistências de escoamento do aço nas temperaturas de 400ºC (fy,400=250 MPa) e 600ºC
(fy,600=117,50 MPa) conforme mostram as Figuras 7.13 e 7.14, respectivamente.
 
1
NODAL SOLUTION
STEP=1
SUB =7
TIME=.114572
SEQV (AVG)
DMX =2.80329
SMN =5.58994
SMX =232.542

Z
MN
X Y

MX

5.58994 56.0238 106.458 156.892 207.325


30.8069 81.2407 131.675 182.108 232.542

Figura 7.13: Distribuição das tensões de von Mises, obtida pelo ANSYS,
correspondente ao ponto limite para o pilar de seção Ue 50x25x10x1,75 a 400ºC

218
 
1
NODAL SOLUTION
STEP=1
SUB =5
TIME=.117253
SEQV (AVG)
DMX =2.47334
SMN =5.41575
SMX =106.28

Z
MN
X Y

MX

5.41575 27.83 50.2442 72.6585 95.0727


16.6229 39.0371 61.4513 83.8656 106.28

Figura 7.14: Distribuição das tensões de von Mises, obtida pelo ANSYS,
correspondente ao ponto limite para o pilar de seção Ue 50x25x10x1,75 a 600ºC

Verifica-se, também, a capacidade resistente de pilares com seções transversais


Ue 50x25x10x2,25 e Ue 50x25x10x2,65. A fim de os pilares apresentarem o modo
distorcional como crítico, consideram-se esses pilares simplesmente apoiados e de
comprimento igual a 150 mm. A imperfeição geométrica inicial adotada foi na forma do
modo de instabilidade distorcional e com amplitude máxima igual a L/1000, onde L é o
comprimento do pilar. As Tabelas 7.6 e 7.7 mostram as capacidades resistentes para os
pilares analisados em temperatura ambiente e elevados, considerando os modelos
elastoplástico e elastofrágil.

Tabela 7.6: Capacidade resistente para o pilar com seção Ue 50x25x10x2,25


Temperatura Força kN Força kN
ºC ELP ELF Diferença
20 67,0 61,0 9,0%
200 60,0 54,9 8,5%
400 53,6 42,7 20,3%
600 25,0 18,9 24,4%

219
Tabela 7.7: Capacidade resistente para o pilar com seção Ue 50x25x10x2,65
Temperatura Força kN Força kN
ºC ELP ELF Diferença
20 79,0 69,8 11,6%
200 71,6 62,8 12,3%
400 66,9 48,9 26,9%
600 31,4 21,6 31,2%

Os resultados obtidos pelo modelo elastofrágil se mostraram conservadores em


relação aos valores obtidos por meio do modelo elastoplástico. Como se pode notar, em
geral, para espessuras maiores o efeito da plasticidade é maior.

7.2. Comparação com a Proposta da NBR 14323


A proposta de revisão da ABNT NBR 14323 (2011) apresenta algumas
recomendações relativas ao dimensionamento de perfis de aço formados a frio em
situação de incêndio, com base nas recomendações do Eurocode 3 parte 1.2 (2005)
conforme foi discutido no capítulo 5 desta Tese.
Alguns autores, tais como Zhao et al (2005) e Knobloch et al (2010), afirmam
que a utilização dos redutores da resistência ao escoamento relativo a 0,2% da
deformação específica plástica residual no dimensionamento de perfis formados a frio,
proposta pelo Eurocode 3 parte 1.2 (2005), ocasionam capacidades resistentes contra a
segurança.
Diante desse fato, nas Tabelas 7.8 a 7.10 são comparadas as forças resistentes
para os pilares que apresentem o modo local de chapa (MLC) como modo de
instabilidade crítico, obtidas com o modelo elastoplástico, as quais julgam serem mais
precisas, com as capacidades portantes calculadas de acordo com a proposta apresentada
no capítulo 5 (item 5.3) desta Tese. Na última coluna dessas tabelas é fornecido um
valor de k para que a força resistente calculada por meio da metodologia apresentada
no capítulo 5 resulte em um valor igual à capacidade resistente obtida pelo ANSYS.
O cálculo da área efetiva à temperatura ambiente foi efeituado com base no
método da seção efetiva conforme recomendado pela ABNT NBR 14762:2010.

220
Tabela 7.8: Capacidade resistente para o pilar com seção Ue 100x50x17x1,75
TEMPERATURA FORÇA FORÇA
ºC kN ELP kN NBR k
20 87,53 88,47 1,00
200 75,69 78,74 0,85
400 52,50 57,50 0,59
600 23,50 26,54 0,26

Tabela 7.9: Capacidade resistente para o pilar com seção Ue 100x50x17x2,25


Temperatura Força kN Força kN
ºC ELP NBR k
20 128,33 126,07 1,00
200 111,91 112,20 0,887
400 82,67 81,94 0,65
600 37,48 37,82 0,297

Tabela 7.10: Capacidade resistente para o pilar com seção Ue 100x50x17x2,65

Temperatura Força kN Força kN


ºC ELP NBR k
20 152,72 148,48 1,00
200 136,64 132,15 0,92
400 112,51 96,51 0,757
600 51,58 44,54 0,347

Observa-se que para o perfil formado pela parede mais esbelta, a conclusão
obtida por Zhao et al (2005) quanto à falta de segurança no uso dos redutores
recomendados pelo Eurocode 3 parte 1.2 (2005) é verificada. Para os perfis com parede
menos esbelta, entretanto, os redutores são adequados e favoráveis a segurança. Mais
estudos devem ser desenvolvidos para encontrar redutores k mais precisos. Ressalta-se
que as áreas efetivas das seções dos pilares Ue 100x50x17x2,25 e Ue 100x50x17x2,65
são iguais às áreas das seções brutas.

7.3. Gradiente Térmico


Para efeito de mostrar o uso do ATERM e do INSTAB em sequência, estuda-se,
agora, o efeito da distribuição de temperaturas no comportamento pós-crítico do pilar de
aço formado a frio com seção Ue 100x50x17x2,00 biapoiado. O comprimento do pilar é
igual a 80 mm, a fim de o modo crítico ser o MLC com um semi-comprimento de onda.

221
Admite-se que apenas a face externa da mesa inferior do perfil esteja exposta ao
incêndio, simulando, por exemplo, um pilar em contato com paredes. Considera-se que
a temperatura inicial do perfil é igual a 20ºC e o incêndio é modelado por meio da
curva-padrão ISO-834 (ABNT NBR 5628:2001). A Figura 7.15 mostra a distribuição de
temperaturas obtidas pelo programa ATERM para os tempos de 5, 10 e 15 minutos de
exposição da mesa inferior ao incêndio. Utilizaram-se elementos quadrados de 1,0 mm
de lado.

Figura 7.15: Distribuição de temperaturas aos (a) 5 minutos, (b) 10 minutos e


(a) 15 minutos.
Por meio da análise linear de estabilidade obtida pelo programa INSTAB,
verifica-se a variação da tensão crítica de bifurcação em função do parâmetro
geométrico a/bw (relação do comprimento do perfil e a largura da alma) e do tempo de
exposição ao incêndio, conforme mostra a Figura 7.16.

222
600,00

500,00

Tensão crítica (MPa)
400,00

300,00

200,00

100,00

0,00
0,10 1,00 10,00 100,00
a/bw

Ambiente 5 minutos 10 minutos 15 minutos

Figura 7.16: Variação da tensão crítica de bifurcação em função do parâmetro


geométrico a/bw e o tempo de exposição ao incêndio
Para tempos de exposições ao incêndio inferiores a 5 minutos, verifica-se que o
modo de instabilidade é o MLC. Com o aumento do tempo de exposição ao incêndio, o
ocorre uma perda de rigidez na parte inferior do perfil e o modo de instabilidade
distorcional passa a ser condicionante. Para o perfil com 320 mm de comprimento, a
Figura 7.17 mostra as configurações dos modos de instabilidade para os tempos de 5, 10
e 15 minutos de exposição da mesa inferior ao incêndio.

Figura 7.17: Modos de instabilidade críticos para (a) 5 minutos, (b) 10 minutos
e (c) 15 minutos. Ilustrações obtidas com o programa INSTAB
A trajetória de equilíbrio foi obtida pelo programa INSTAB considerando uma
imperfeição geométrica inicial na forma do modo local de chapa, sendo que o
deslocamento no meio do vão e na metade da altura da alma é igual a 0,08 mm. A
redução do módulo de elasticidade decorrente da temperatura foi considerada, de forma

223
automática, em cada faixa finita de acordo com a temperatura obtida pelo programa
ATERM. No modo atual, o INSTAB ainda não considera os esforços internos
decorrentes das deformações térmicas restringidas. De modo a haver compatibilidade
entre as malhas utilizadas nas análises térmica e estrutural, a largura das faixas foi
considerada igual a 1,0 mm.
O deslocamento do nó localizado no meio do vão e na metade da altura da alma
em função da força de compressão aplicada e do tempo de exposição ao incêndio é
apresentado na Figura 7.18.
400
Ambiente
350 5 minutos

300
10 minutos
250
Força (kN)

200

150
15 minutos
100

50

0
0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00
Deslocamento (mm)

Figura 7.18: Trajetória de equilíbrio em função do tempo de exposição ao


incêndio
Na Figura 7.18, o ponto de inflexão das curvas (ponto em que elas invertem a
embocadura) corresponde à força crítica de instabilidade; a partir desse ponto se inicia a
fase pós-crítica. Em 15 minutos de exposição ao incêndio, por exemplo, a redução da
força crítica de instabilidade é da ordem de 38% em relação à temperatura ambiente (de
182,9 kN para 112,7 kN). As trajetórias de equilíbrio conduzem, evidentemente, a
forças reduzidas em função do tempo de exposição ao fogo.
Para 5 minutos de exposição ao incêndio verifica-se que o gradiente térmico
varia de 31,69ºC a 360,1ºC (ver Figura 7.15a). A Figura 7.19 mostra duas trajetórias de
equilíbrio (i) uma adotando a temperatura uniforme e igual a 360,1ºC na seção
transversal e outra (ii) adotando o gradiente térmico (curva já apresentada na Figura
7.18).
Como se esperava, a variação da temperatura na seção transversal resulta em
força crítica de instabilidade superior ao se comparar com a força para a seção

224
submetida à temperatura uniforme e igual à temperatura máxima verificada na análise
térmica.
400.00

350.00 5 minutos

300.00

250.00
Força (kN)

Temperatura
200.00 uniforme

150.00

100.00

50.00

0.00
0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00
Deslocamento (mm)

Figura 7.19: Comparação da trajetória de equilíbrio com temperatura uniforme


e com gradiente térmico.

225
8. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

8.1. Conclusões
O objetivo desta Tese de Doutorado foi o de criar ferramentas computacionais
destinadas à análise termestrutural de pilares de aço formados a frio em situação de
incêndio. Essas ferramentas são dois programas computacionais, desenvolvidos em
linguagem Fortran 90, denominados ATERM e INSTAB.
Pesquisas internacionais indicam que os redutores de resistência para altas
temperaturas desses perfis são inferiores aos redutores dos perfis laminados e soldados
recomendados pelo Eurocode. Nas aplicações feitas nesta Tese, isso se confirmou para
chapas finas (da ordem de 1,75 mm), no entanto, para chapas acima de 2 mm os
resultados determinados pelo procedimento normatizado foram satisfatórios e até
favoráveis à segurança. Neste trabalho, para fins de normatização brasileira, foi
proposta, com base nas recomendações do Eurocode, uma metodologia simplificada
para o dimensionamento de perfis formados a frio em situação de incêndio.
Para realizar a análise térmica bidimensional em regime transiente, foi
desenvolvido o programa de computador ATERM, validado, por meio de exemplos, com
o programa sueco de computador Super TempCalc. O ATERM pode ser empregado
para qualquer material e para qualquer modelo de incêndio. A fim de acoplar ao
ATERM, foi desenvolvido um módulo adicional, denominado de ATERM-DIM, que,
com base em prescrições normatizadas, determina em regime plástico o momento fletor
resistente de vigas de aço continuamente travadas em função da redução das
propriedades mecânicas decorrentes da elevação da temperatura.
Para realizar a análise não linear geométrica em situação de incêndio, foi
desenvolvido o programa de computador INSTAB com o emprego do método das
faixas finitas splines. Esse método foi escolhido, em vista da maior facilidade da
discretização dos perfis e pela eficiência computacional, em comparação ao método dos
elementos finitos. O programa desenvolvido considera, atualmente, material de
comportamento elastofrágil (elástico-linear com interrupção em uma determinada
resistência). A resistência e o módulo de elasticidade variam com a temperatura. Antes
de efetuar a análise não linear geométrica, o programa INSTAB realiza a análise linear
de estabilidade, onde são determinadas a força crítica e o respectivo modo de
instabilidade, o qual é imposto como imperfeição geométrica inicial na análise não
linear geométrica. O INSTAB foi validado com resultados obtidos na literatura

226
científica e pelo programa ANSYS empregando material de comportamento elastofrágil.
Não foi encontrado, na literatura pesquisada, qualquer outro programa com as
características do INSTAB.
Os perfis formados a frio são muito esbeltos e, como consequência, o projeto
desses elementos estruturais à temperatura ambiente é, em geral, governado pelo estado
limite último de instabilidade sem atingir o patamar de escoamento. Foram realizadas
algumas simulações para a situação de incêndio e a força resistente obtida por meio do
INSTAB foi comparada à calculada com o ANSYS empregando material elastoplástico,
de modo a avaliar o efeito da plasticidade no esforço resistente desses pilares. Apesar da
grande diferença entre os dois modelos, confirmou-se que, para todos os pilares
analisados, a capacidade resistente obtida pelo INSTAB é sempre a favor da segurança
em relação à obtida pelo ANSYS. Ressalta-se, no entanto, que o efeito da
elastoplasticidade é considerável (há grande variabilidade em torno de 10%) e visando
projetos mais econômicos ela deveria ser aproveitada. O INSTAB, no estágio atual,
pode ser empregado para pré-dimensionamentos.
Para os perfis de aço formados a frio submetidos a gradiente térmico, como por
exemplo nos perfis onde somente uma mesa é aquecida, observou-se que o modo crítico
de instabilidade ser alterado em função do tempo de exposição ao incêndio. Isto pode
ser explicado pela diminuição de rigidez das chapas de aço aquecidas.
A ABNT NBR 14762:2010 recomenda a consideração da instabilidade por
distorção no dimensionamento de perfis formados a frio à temperatura ambiente, no
entanto, não apresenta uma formulação que permita a determinação da força normal
associada à instabilidade distorcional desses perfis Como atividade adicional ao
objetivo da Tese, empregando-se o INSTAB, obteve-se as forças críticas, à temperatura
ambiente, e os respectivos modos de instabilidade de todos os perfis tabelados na
ABNT NBR 6335:2003, submetidos à compressão e à flexão, o que permitirá seu
dimensionamento.

8.2. Sugestões para Trabalhos Futuros


Para trabalhos futuros, recomenda-se a implementação, no programa INSTAB,
da elastoplasticidade do aço e da consideração dos efeitos das restrições às deformações
térmicas.
Devem ser feitos estudos de outras seções transversais para o melhor
entendimento desses perfis em situação de incêndio, a fim de procurar redutores de

227
resistência adequados para permitir o dimensionamento simplificado de perfis formados
a frio em situação de incêndio.
Recomenda-se efetuar análises não lineares de estabilidade, por meio dos
programas INSTAB e ANSYS, de perfis formados a frio submetidos à flexão pura e à
flexocompressão. Podem ser analisados os efeitos da variação de temperatura ao longo
da seção transversal e as restrições às deformações térmicas no comportamento de vigas
de aço formadas a frio em situação de incêndio.
Em relação ao programa de análise térmica desenvolvido nesta Tese, ATERM,
podem ser incorporados elementos finitos sólidos na formulação desenvolvida para a
análise térmica de estruturas tridimensionais.
Estender o programa ATERM-DIM para o dimensionamento de vigas de
concreto e pilares mistos de aço-concreto em situação de incêndio com base em
procedimentos normatizados.

228
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