MACIEL, K. F. O pensamento de Paulo Freire na trajetória da educação popular.
Educação em Perspectiva, Viçosa, v 2, n. 2, p.326-344, 2011.
Karen de Fátima Maciel é mestranda em Educação pela Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro (UFRJ). Neste trabalho, Maciel traça as principais contribuições de Freire para com a Educação Popular. Na introdução a autora discorre a respeito do cenário de ideologias neoliberais na educação, que visam primordialmente a formação de indivíduos produtivos para o mercado capitalista, em seguida ela propõe o pensar em uma educação que vá em direção oposta ao neoliberalismo na educação e que sirva para a população que sofre com a exclusão dos direitos básicos de existência e de formação de sujeitos críticos. Como proposta, Freire, por entender a sua importância, apresenta a educação popular, que parte das classes populares que possuem um saber não valorizado e que sofrem com a exclusão da sociedade. Freire então demonstra a importância da construção de uma educação que considera o conhecimento do povo. Nesse momento, Maciel faz um apanhado bibliográfico que visa primeiramente o conhecimento das experiências de Educação Popular no Brasil. Maciel discorre a respeito das concepções da Educação Popular no Brasil e a divide, segundo Brandão (2002) em quatro posturas. A primeira está relacionada ao não reconhecimento da educação popular como a educação que a sociedade deseja. A segunda pode ser ligada a linha cultural da educação popular, devido ao fato dela ser mais ligada aos movimentos sociais do que com a própria educação. A terceira direciona a educação popular como um fenômeno que proporcionou um marco na história educacional de alguns países da América Latina e, por último, Brandão (2002) pontua que a educação popular não foi uma experiência única, que participou e ainda continua participando na atual educação. Levando em consideração a última concepção proposta por Brandão (2002), Maciel nomeia três concepções que estão diretamente ligadas à educação popular. A primeira está relacionada a alfabetização de jovens e adultos no espaço escolar. A segunda confere a educação popular o caráter transformador e que ocorre fora do espaço escolar. A terceira concepção compreende a educação popular como uma educação política da classe trabalhadora, que garante tanto a emancipação quanto o status quo. Em seguida, Maciel partindo das concepções da educação popular, abre um tópico para falar a respeito da educação de jovens e adultos. Nesse tópico a autora discorre a respeito das mudanças no cenário econômico brasileiro em meados do ano de 1945 e como essas mudanças influenciaram na inserção de trabalhadores e demais indivíduos nas iniciativas de alfabetização de jovens e adultos, que nesse momento, seriam umas das primeiras iniciativas de educação popular, logo a autora discorre acerca da institucionalização da educação de jovens e adultos, pois, a partir daquele momento, considerando os altos índices de analfabetismo, tem-se a necessidade de alfabetizar a população, mesmo que inicialmente essa preocupação era apenas promover a alfabetização, permitindo-nos pensar que essas medidas eram apenas formas de dominação do governo. No próximo tópico, Maciel discorre a respeito da educação popular que acontece fora do espaço escolar, esses movimentos educacionais populares ocorrem em igrejas, partido comunista, movimentos sociais, etc. Nesse momento, essas experiências de educação popular, segundo Maciel, passam a ter um caráter de organização política maior, que tinha por objetivo a conscientização e contribuição na organização popular. Durante todo esse processo, há também uma crítica muito forte e de cunho ideológico dirigido a educação vigente. Agora, a educação e a cultura são consideradas como importantes instrumentos, que devem ser pensadas e propostas a partir da visão das classes populares e que possuem o objetivo de transformação social. Nesse momento Freire surge como o idealizador de uma educação que proporciona a conscientização do analfabeto, da libertação do mesmo. Voltando a discussão da política Neoliberal, Maciel salienta os impactos sofridos pela educação, houve uma concentração das ações educacionais no ensino fundamental. As universidades sofreram com o sucateamento e passaram a servir ao capital, criando assim uma barreira que dificulta o acesso das classes populares. Nesse momento, alguns movimentos como o MST, desenvolve projetos de educação popular. A escola deixa de ser um instrumento de reprodução do estado hegemônico e passa a ser com local concreto de educação que atende aos interesses das classes populares. Segundo Maciel, essa educação popular é altamente comprometida com a classe trabalhadora, atendendo as reais necessidades das mesmas, e que ainda, na contemporaneidade ainda é perceptível em nossa sociedade a tentativa de privilegiar a escola como espaço de educação culta em detrimento das demais possibilidades educativas existentes. Maciel considera tanto as escolas como os movimentos como espaços legítimos de desenvolvimento de uma educação emancipadora e crítica. No último tópico, antes de sua conclusão, Maciel discorre diretamente acerca do pensamento freireano na educação popular, e como ele foi importante para que nós entendêssemos a importância da militância na educação, contrariando assim a visão que considerava a educação como uma prática neutra. A proposta de pedagogia freireana é uma condensação da teoria na prática da educação popular, ela considera o conhecimento como uma possibilidade de superação das relações de poder contraditórias e de modelos mecanicistas de análise da realidade social. Utilizando dessa pedagogia, educadores começam a propor ações de educação popular, como por exemplo, os cursinhos pré vestibulares gratuitos que rodeiam as comunidades brasileiras mais carentes. Segundo Freire, sair da condição de oprimido não quer dizer que esse indivíduo será um opressor, e sim ele deve propor uma relação social na qual haja a igualdade de indivíduos. Para Freire, a educação popular se torna popular devido ao seu potencial de organização da classe trabalhadora, que possui em suas raízes a contestação da ordem econômica e do sistema político. A pedagogia freireana visa a transformação do indivíduo em um sujeito político, que seja ativo na transformação do mundo, seja autônomo e capaz de uma responsabilidade singular na organização de uma sociedade mais humanista. Nesse momento eu, como acadêmico e Maciel concordamos no que tange o que nós consideramos como importante. Maciel destaca a importância da luta de vários educadores para garantir uma escola pública de qualidade e democrática , que na perspectiva de que a educação popular seja um instrumento de democratização e não somente de ensino e que deve ser realizada em diferentes espaços e de diferentes formas, por meio de atividades formais e não formais, sendo assim um produto de práticas sociais.