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Vol 07
(ÚLTIMO LIVRO DA SAGA)
Créditos:
Equipe Night Huntress de Tradução
http://www.facebook.com/groups/nighhuntressoficial/
(sim, está escrito nigh e não night no link do grupo. Pequena falha
técnica incorrigível no Facebook ;)
Prologo
C runch.
O som era um alívio. Assim como a súbita frouxidão na forma abaixo dela.
Acabou.
Ela pulou para fora do corpo antes que ele começasse a vazar como todos
eles faziam. Então ela ficou de prontidão, cuidando para não olhar diretamente
para o homem velho que a assistia por trás de uma grossa camada de vidro.
Ele não gostava quando ela olhava em seus olhos.
O homem franziu os lábios enquanto considerava os resultados do seu
último teste. Ela não moveu um músculo, mas, por dentro, sorria por causa da
música que continuava tocando na mente dele. Seus outros instrutores
raramente cantarolavam em seus pensamentos, mas ele fazia. Toda vez. Se
isso não fosse deixá-lo bravo, ela diria a ele que gostava daquilo, mas seu
instrutor não gostava de pessoas espreitando em sua mente. Ela ouviu aquilo
brevemente após adquirir a habilidade, então ela nunca disse a ele sobre ela.
— Sete segundos. — Ele disse finalmente, olhando para o cadáver. —
Essas cobaias não representam mais um desafio para você.
Ele parecia satisfeito, mas, ainda assim, ela não sorriu. Exibir emoções
levava a muitas perguntas, e ela queria voltar às suas instruções.
— Está na hora de seguir para a próxima fase. — Ele continuou.
As palavras pareciam ser dirigidas a ela, mas, na verdade, ele estava
falando com o homem por trás do espelho vinte metros acima dele. Como ela
não deveria saber que ele estava lá, ela acenou.
— Estou pronta.
— Está?
A forma como ele prolongou a palavra a avisou de que esse próximo teste
não seria fácil, e foi por isso que ela não pôde se impedir de piscar em
surpresa quando a rampa acima dela se abriu e outra cobaia caiu na arena. Ele
parecia igual aos outros que ela neutralizou, mas quando ele levantou e a
encarou, ela entendeu. Seu novo oponente não tinha batimento cardíaco.
— O que é isso? — Ela perguntou, seu coração começando a bater mais
rápido.
Seu oponente tinha uma pergunta, também.
— Mas que porra é essa?
— Neutralize isso. — Seu instrutor grisalho ordenou.
Ela escondeu o desapontamento. Talvez, se terminasse rápido, ela seria
recompensada com uma resposta. No mínimo, neutralizar essa… coisa, valeria
a ela mais informação.
Ela atacou sem outro momento de hesitação, varrendo as pernas daquilo
debaixo dele antes de esmagar o cotovelo em sua garganta.
Crunch.
Seus ossos quebraram com o som comum, mas, ao invés de ficar mole, a
coisa a jogou para longe e saltou para cima, dando ao velho um olhar de
descrença.
— O que você fez?
Enquanto aquilo falava, seu pescoço estalou de volta ao lugar, consertando
seu ângulo torto em menos tempo do que ela levou para piscar outra vez. Ela
encarou, confusa. Que tipo de criatura podia se curar daquele jeito?
— Você quer viver? — Seu instrutor respondeu friamente a coisa. — Você
terá que matá-la.
Aquelas mesmas palavras foram ditas para muitos oponentes antes desse,
ainda assim, pela primeira vez, suas mãos ficaram úmidas. Com sua incrível
habilidade de cura, era possível neutralizar essa coisa?
Ela olhou para o velho, encontrando seu olhar por um segundo antes de
desviar. Mesmo naquele breve momento, ela teve sua resposta.
A coisa podia ser morta. Ela só tinha que descobrir como.
Capitulo Um
I gnorar um fantasma é muito mais difícil do que você pensa. Para começar,
paredes não atrapalham sua espécie, então, apesar de eu fechar a porta na
cara do espectro vadiando do lado de fora da minha casa, ele me seguia para
dentro como se fosse convidado. Apertei a mandíbula irritada, mas comecei a
descarregar os mantimentos como se eu não tivesse notado. Acabei muito
rápido. Ser uma vampira, casada com outro vampiro, significava que minha
lista de compras era bem pequena.
— Isso é ridículo. Você não pode continuar me evitando para sempre, Cat,
— o fantasma murmurou.
Sim, fantasmas também podem falar. Isso os tornava ainda mais difíceis de
ignorar. Claro, também não ajudava o fato de esse fantasma ser meu tio. Vivos,
mortos, mortos-vivos… família tinha um jeito de entrar sob sua pele quer você
queira ou não.
Caso em questão: Apesar do meu voto de não falar com ele, não pude evitar
responder.
— Na verdade, já que nenhum de nós está ficando mais velho, eu posso
fazer isso para sempre, — notei friamente. — Ou até que você fale tudo o que
sabe sobre o idiota coordenando nossa antiga equipe.
— É sobre isso que vim aqui falar com você, — ele disse.
Surpresa e suspeita fizeram meus olhos se estreitarem. Por quase três
meses, meu tio Don se recusou a divulgar qualquer coisa sobre meu novo
inimigo, Jason Madigan. Don tinha uma história com Madigan, um importante
ex CIA que tomou a unidade secreta do governo para a qual eu costumava
trabalhar, mas ele continuava calado sobre os detalhes mesmo quando seu
silêncio significava que Madigan quase tinha feito eu, meu marido e outras
pessoas inocentes sermos mortos. Agora ele estava pronto para falar? Algo
mais devia estar acontecendo. Don era tão patologicamente cheio de segredos
que eu não tinha descoberto que éramos parentes até quatro anos depois de
eu começar a trabalhar para ele.
— O que aconteceu? — perguntei sem preâmbulos.
Ele repuxou uma sobrancelha cinza, um hábito que ele não pôde perder
mesmo depois de perder seu corpo físico. Ele também vestia seu habitual terno
e gravata apesar de morrer usando um traje de hospital. Eu acharia que eram
minhas lembranças ditando como Don aparecia para mim exceto pelas
centenas de outros fantasmas que conheci. Podia não existir shopping centers
no pós vida, mas auto imagem residual era forte o suficiente para fazer os
outros verem fantasmas do jeito que eles se viam. Em vida, Don foi o retrato de
um perfeito burocrata de seus sessenta e poucos anos bem arrumado, então
era como ele parecia em morte.
Ele também não tinha perdido a tenacidade por trás daqueles olhos cor de
chumbo, a única característica física que tínhamos em comum. Meu cabelo
ruivo e pele pálida vieram do meu pai.
— Estou preocupado com Tate, Juan, Dave e Cooper, — Don declarou. —
Eles não estiveram em casa faz semanas e, como você sabe, não posso entrar
no complexo para verificar se eles estão lá.
Eu não salientei que era culpa de Don o Madigan saber como deixar o
prédio a prova de fantasmas. Fortes combinações de erva, alho e sálvia
queimando manteria todos, exceto os fantasmas mais fortes, afastados. Depois
que um fantasma quase matou Madigan ano passado, ele equipou nossa
antiga base com um fornecimento generoso dos três.
— Quanto tempo faz, exatamente, desde que você os viu?
— Três semanas e quatro dias, — ele respondeu. Ele pode ter falhas, mas
Don era meticuloso. — Se apenas um deles estivesse afastado esse tempo
todo, eu presumiria que ele estava em um trabalho disfarçado, mas todos eles?
Sim, isso era estranho até mesmo para membros de uma divisão secreta da
Segurança Interna que lidava com membros de mau comportamento da
sociedade morta-viva. Quando eu era um membro do time, o trabalho
disfarçado mais longo em que estive foram onze dias. Vampiros perigosos e
ghouls tendem a frequentar os mesmos lugares se fossem tolos o suficiente
para agir a ponto de chamarem a atenção do governo dos Estados Unidos.
Porém, eu ainda não ia presumir o pior. Chamadas telefônicas estavam além
das capacidades de Don como um fantasma, mas eu não tinha esse obstáculo.
Tirei um celular da gaveta da minha cozinha, discando o número de Tate.
Quando a secretária eletrônica atendeu, eu desliguei. Se algo tivesse
acontecido e Madigan fosse responsável, ele estaria checando as mensagens
de Tate. Não havia necessidade de lhe dar sinal de que eu estava
bisbilhotando.
— Nenhuma resposta, — eu disse a Don. Então deixei aquele telefone de
lado e peguei outro celular na gaveta, discando para Juan em seguida. Depois
de alguns toques, uma voz melódica com sotaque espanhol me instruía a
deixar uma mensagem. Não deixei, desligando e pegando outro telefone na
gaveta.
— Quantos desses você tem? — Don murmurou, flutuando sobre meu
ombro.
— O suficiente para dar a Madigan uma enxaqueca, — eu disse com
satisfação. — Se ele estiver rastreando chamadas para os telefones deles, ele
não vai descobrir minha localização em nenhum desses, por mais que ele
adoraria saber onde estou.
Don não me acusou de ser paranoica. Assim que ele assumiu o antigo
emprego do meu tio, Madigan deixou claro que não gostava de mim. Eu não
sabia o motivo. Naquela época eu já estava afastada do time e, até onde
Madigan sabia, não havia mais nada especial a meu respeito. Ele não sabia
que me transformar de meia vampira para vampira completa tinha vindo com
efeitos colaterais inesperados.
O telefone de Dave também foi direto para caixa postal. Assim como o de
Cooper. Considerei tentar ligar para eles em seus escritórios, mas eles ficavam
dentro do composto. Madigan podia ter escutas suficientes naquelas linhas
para me localizar não importa o quanto eu tivesse arranjado para os sinais de
celular serem redirecionados.
— Ok, agora eu também estou preocupada, — eu disse finalmente. —
Quando Bones chegar em casa, vamos descobrir um jeito de dar uma olhada
mais de perto no complexo.
Don me olhou sobriamente. — Se Madigan tiver feito alguma coisa a eles,
ele vai esperar que você apareça.
Mais uma vez comprimi o maxilar. Com certeza eu apareceria. Tate, Dave,
Juan e Cooper não eram apenas soldados com quem lutei lado a lado por anos
quando eu era parte do time. Eles também eram meus amigos. Se Madigan
fosse responsável por algo ruim acontecendo com eles, logo ele iria se
arrepender.
— É, bem, Bones e eu tivemos alguns meses de relativa calma. Acho que é
hora de animar as coisas novamente.
M eu gato, Helsing, pulou do meu colo ao mesmo tempo em que o ar ficou
carregado com pequenas correntes invisíveis. Emoções rolavam sobre meu
subconsciente. Não eram minhas, mas quase tão familiares para mim.
Instantes depois, ouvi o som de pneus na neve. Quando a porta do carro se
fechou, Helsing já estava na porta, sua longa cauda preta se contraindo em
antecipação.
Fiquei onde eu estava. Um gato esperando na porta era suficiente, obrigada.
Com uma lufada de ar gelado, meu marido entrou. Um Bones revestido de
neve, o fazendo parecer que tinha sido polvilhado com açúcar. Ele bateu os
pés para retirar os flocos de neve de suas botas, fazendo Helsing pular com um
sibilo.
— Certamente ele acha que você deveria fazer carinho nele primeiro e lidar
com a neve depois, — eu disse.
Olhos tão escuros que eram quase negros encontraram os meus. Assim que
eles se encontraram, meu divertimento se transformou em apreciação feminina
primal. As bochechas de Bones estavam coradas e a cor acentuava sua pele
impecável, feições esculpidas e boca sensualmente carnuda. Então ele tirou o
casaco, revelando uma camisa azul escuro que se aderia aos seus músculos
como se os revelasse. Jeans pretos estavam ajustados nos lugares certos,
destacando um abdome liso, coxas fortes e uma bunda que podia ser uma obra
de arte. Quando trouxe o olhar de volta para seu rosto, seu leve sorriso se
transformou em um sorriso malicioso. Mais emoções envolveram meu
subconsciente enquanto seu cheiro—uma rica mistura de especiarias, almíscar
e açúcar queimado—enchia o ambiente.
— Já sentindo minha falta, Kitten?
Eu não sabia como ele conseguia fazer a pergunta soar indecente, mas ele
fazia. Eu diria que o sotaque Inglês ajudava, mas seus melhores amigos eram
Ingleses e suas vozes nunca transformavam meu interior em geleia.
— Sim, — eu respondi, me levantando e indo até ele.
Ele me observou, não se movendo enquanto eu deslizava lentamente
minhas mãos para enlaçá-lo atrás do pescoço. Eu tinha que ficar na ponta dos
pés para fazer isso, mas estava tudo bem. Isso nos deixou mais perto e sentir
seu corpo firme era quase tão intoxicante quanto os redemoinhos de desejo
que circulavam minhas emoções. Eu amava poder sentir suas emoções como
se fossem minhas. Se eu soubesse que essa era uma das vantagens em ele
me transformar em uma vampira completa, eu teria atualizado meu estado de
mestiça anos atrás. Então ele baixou a cabeça, mas antes que seus lábios
roçassem os meus, eu me virei.
— Não até você dizer que sentiu minha falta também, — eu provoquei.
Em resposta, ele me pegou, seu aperto facilmente subjugando minha luta
falsa. Couro macio encontrou minhas costas quando ele me colocou no sofá,
seu corpo era uma barricada que eu não queria expulsar. Ele colocou as mãos
ao redor do meu rosto, me segurando possessivamente enquanto o verde
preenchia suas íris e as presas deslizavam de seus dentes.
Minhas próprias presas cresceram em resposta, pressionando contra lábios
que estavam entreabertos em antecipação. Ele inclinou a cabeça, mas ele
apenas roçou sua boca sobre a minha com uma rápida carícia antes de rir.
— Dois podem brincar de provocar, amor.
Comecei a lutar a sério, o que o fez rir ainda mais. Meu alto número de
mortes tinha me feito merecer o apelido de Red Reaper no mundo morto-vivo,
mas mesmo antes dos novos e impressionantes poderes de Bones, eu não era
capaz de vencê-lo. Tudo que meus movimentos fizeram foi esfregá-lo contra
mim de forma mais erótica—que era o porquê de eu continuava fazendo.
O zíper do meu blusão de moletom desceu todinho sem ele tirar as mãos da
minha cabeça. Minhas roupas foram mais resultados da prática com sua nova
telecinese. Em seguida, o fecho frontal do meu sutiã se abriu, desnudando a
maior parte dos meus seios. Sua risada mudou para um rosnado que enviou
um delicioso formigamento através de mim, endurecendo meus mamilos. Mas
quando os botões de sua camisa azul se abriram, a cor me lembrou dos olhos
de Tate—e a notícia que eu precisava contar a ele.
— Tem algo acontecendo, — eu disse com um suspiro.
Dentes brancos brilharam antes de Bones baixar a boca para meu peito. —
Que cliché, mas, no entanto, verdade.
A parte mais baixa de mim sussurrou que eu podia adiar essa conversa por
uma hora ou mais, mas a preocupação com meus amigos afastou isso. Eu me
dei uma sacudida mental e enchi a mão com os cachos castanhos escuros de
Bones, puxando sua cabeça para cima.
— Estou falando sério. Don apareceu e transmitiu uma informação
potencialmente perturbadora.
Pareceu levar um segundo para as palavras penetrarem, mas então ele
ergueu as sobrancelhas. — Depois desse tempo todo, ele finalmente lhe disse
o que ele está escondendo sobre Madigan?
— Não, ele não disse, — eu falei, balançando minha cabeça de verdade
dessa vez. — Ele queria que eu soubesse que Tate e os outros não estiveram
em casa por três semanas. Tentei ligar para seus celulares e só consegui caixa
postal. Na verdade, isso me distraiu quanto a pressionar Don sobre o passado
dele com Madigan.
Bones bufou, o breve sopro de ar pousando no vale sensível entre meus
seios. — Cara esperto, sabia que iria te distrair. Duvido que foi acidente o fato
de ele lhe dar essa informação enquanto eu estava fora.
Agora que a preocupação com meus amigos não era prioridade em minha
mente, eu duvidava que isso fosse um acidente também. Don esteve em
minha casa o suficiente para saber que Bones saia por algumas horas de vez
em quando para se alimentar. Eu não ia com ele já que minhas necessidades
nutricionais estavam em outro lugar. Interiormente eu xinguei. Descobrir se
meus amigos estavam bem ainda era de extrema importância, assim como era
descobrir o que Don sabia sobre Madigan. Devia ser monumental para meu tio
manter em segredo mesmo quando não nos falamos por meses em resultado
disso. Afinal de contas, eu não era apenas a única família que tinha restado
para Don—como uma vampira, eu também era uma das poucas pessoas que
podia vê-lo em seu novo estado de fantasma.
— Vamos lidar com meu tio mais tarde, — eu disse, afastando Bones com
um suspiro de arrependimento. — Agora, precisamos encontrar um jeito de
entrar no meu antigo complexo que não envolva nós dois terminando em uma
cela para vampiros.
Capitulo Dois
— E la está aqui?
Era quase engraçado ouvir o tom chocado do outro lado da linha. Eu não
podia ver o rosto do guarda através do seu visor escuro, mas sua voz também
tinha uma distinta nota de surpresa.
— Sim, senhor. Ela e o outro vampiro.
Bones sorriu, imperturbável por todas as armas miradas em sua direção. Eu
tinha tantas quantas miradas para mim. Pontos para os guardas por não serem
sexistas.
Houve um longo silêncio, então a voz de Madigan voltou à linha, soando
concisa agora.
— Deixe-os entrar.
Bones e eu passamos pelos próximos cinco postos de controle sem
incidentes antes de finalmente chegarmos ao edifício principal. Quando as
espessas portas de metal da base fecharam atrás de nós, eu torci para que o
som de trava fosse um novo recurso de segurança e não Madigan tentando
nos prender. Isso não seria um bom sinal para o destino dos meus amigos, e
muito menos para os empregados lá dentro.
Mais guardas de capacetes nos escoltaram para o escritório de Madigan,
não que isso fosse necessário. Eu poderia encontrar o caminho até mesmo
vendada, visto que esse costumava ser o escritório do meu tio. Madigan não
perdeu tempo em se instalar aqui uma vez que assumiu.
O homem cujo passado era tão obscuro que meu tio se recusava a divulgar
o que sabia sobre ele se levantou de seu assento quando entramos. Madigan
não estava sendo educado – aquilo era para reforçar o olhar afiado que ele
lançava em nossa direção.
— Você em uma coragem surpreendente.
Eu dei de ombros. — Eu diria que nós estávamos pela vizinhança, mas…
Eu deixei a frase suspensa. Bones assumiu imediatamente.
— Você sabe que nós não suportamos você, então porque fingir que essa é
uma visita social?
Ou Madigan se lembrava de que franqueza era a marca registrada de
Bones, ou ele não se importava com o insulto. Eu não poderia dizer, já que não
podia ouvir seus pensamentos por trás de uma música de Barry Manilow que
ele repetia em sua cabeça. Eu odiava Madigan, mas eu tinha que dar-lhe
crédito pela defesa que ele tinha desenvolvido contra o controle de mente
vampírico. Ninguém podia atravessar os mantras irritantes que ele escolhia.
Então, com um brilho nos olhos que parecia muito satisfeito para meu gosto,
ele acenou para as cadeiras em frente a sua mesa.
— Eu disse que te prenderia se você voltasse, mas por acaso, temos alguns
assuntos para discutir.
Ele tinha assuntos comigo? A curiosidade me impediu de exigir saber onde
Tate e os outros estavam. Eu veria o que Madigan tem na manga primeiro.
Bones ficou onde estava, mas eu sentei e estiquei minhas pernas quase
vagarosamente enquanto considerava o homem magro de óculos em minha
frente.
— Dispare.
Um leve sorriso esticou a boca de Madigan, como se estivesse
contemplando a outra possibilidade por trás daquela diretiva.
— Da última vez que você esteve em meu escritório, você me disse para ler
o seu arquivo pessoal. Eu segui seu conselho.
Eu vagamente me lembrava de ter dito a ele para fazer isso, para que ele
percebesse que meu tio também já foi tão desconfiado de vampiros quando
Madigan era. Don superou seu preconceito, mas Madigan nunca mudaria sua
visão hostil sobre a minha espécie, não que eu me importasse mais.
— Aham, — eu disse com um grunhido evasivo.
— Quando o fiz, encontrei algo interessante, — ele continuou, antes de tirar
os óculos como se para procurar por fiapos nele.
— O quê? — Eu perguntei, não me importando em esconder o tédio em
minha voz.
Ele olhou para cima, e seu olhar azul brilhou. — Você partiu antes que seu
termo de serviço acabar.
Agora eu bufei em diversão. “Você deveria ter lido aqueles arquivos mais
cuidadosamente. Don concordou em encurtar meus termos de serviço se
Bones transformasse em vampiros os soldados que ele escolheu. Nós
terminamos aqui quando Bones transformou Tate e Juan. Dave ser trazido de
volta como um ghoul foi um bônus.
— Esse foi o acordo que Don requisitou aos seus superiores, mas seu
pedido foi negado. — Madigan me deu um breve sorriso de satisfação
enquanto colocava seus óculos de volta. — De acordo com o governo dos
EUA, você ainda tem cinco anos de serviço ativo para cumprir e, ao contrário
do seu falecido tio, eu não vou falsificar registros para te deixar escapar disso.
Eu estava muito chocada para responder, mas a risada do Bones quebrou o
silêncio.
— Você tem que estar zoando comigo.
— Eu deveria saber o que isso significa? — Madigan perguntou friamente.
Bones se inclinou para frente, todos os vestígios da risada haviam sumido.
— Permita-me ser claro: se você pensa que vai forçar minha esposa a
trabalhar para você, você não sabe com quem está fodendo.
Se ele estava se referindo a ele ou a mim, eu não sabia, e finalmente
encontrei minha voz.
— Você ganhou pontos por contar a melhor piada que eu ouvi o ano todo,
mas eu não estou com humor para jogar. Nós viemos para descobrir onde
Tate, Dave, Juan e Cooper estão. Pelo que ouvi, eles não foram para casa em
semanas.
— Isso é porque eles estão mortos.
Minha mente imediatamente rejeitou as palavras ditas sem rodeios, razão
pela qual eu não saltei para frente e rasguei a garganta de Madigan ali mesmo.
— Duas piadas. Você está com tudo, mas eu estou sem paciência. Onde
eles estão?
— Mortos.
Madigan pronunciou a palavra com algo próximo à satisfação dessa vez. Eu
estava de pé, presas expostas para rasgar carne, quando Bones me puxou de
volta com um aperto tão forte que eu não pude quebrar mesmo em minha fúria.
— Como? — Bones perguntou calmamente.
Madigan deu um olhar cauteloso para o aperto que Bones tinha em mim
antes de responder. — Eles foram mortos enquanto tentavam derrubar um
ninho de vampiros.
— Deve ter sido um ninho e tanto.
Madigan deu de ombros. — Como se viu, sim.
— Eu quero os corpos deles.
Madigan mostrou mais surpresa do que quando eu pulei nele. — O quê?
— Os corpos deles, — Bones respondeu, sua voz endurecendo. — Agora.
— Por quê? Você nem mesmo gosta do Tate. — Madigan resmungou.
Minha fúria assassina abrandou. Ele estava protelando, o que significava
que, com toda probabilidade, ele estava mentindo sobre as mortes deles. Eu
bati de leve no braço do Bones. Ele me soltou, mas uma mão permaneceu na
minha cintura.
— Meus sentimentos são irrelevantes, — Bones respondeu, — Eu os criei,
então eles são meus, e se estão mortos, então você não terá mais uso para
eles.
— E que possível uso você teria? — Madigan exigiu.
Uma sobrancelha escura se ergueu. — Não é da sua conta. Estou
esperando.
— Então é bom que você não envelhece. — Madigan rosnou enquanto
levantava. — Seus corpos foram cremados e suas cinzas jogadas fora, então
não sobrou nada para dar a você.
Se Madigan queria nos fazer crer que eles estão mortos, então eles devem
estar em sérios problemas. Mesmo que Madigan não esteja por trás disso, ele
claramente pretendia deixá-los para enfrentar seu destino.
Eu não.
Algo em meu olhar deve tê-lo alarmado, porque ele olhou para a esquerda e
direita antes de balançar uma mão na direção de Bones.
— Se você não pretende deixá-la completar seu termo de serviço, então os
dois podem sair. Antes que eu a prenda por abandono do dever, deserção e
por tentar me atacar.
Eu esperava que Bones o dissesse para onde ir, e foi por isso que eu fiquei
tão chocada quando ele apenas acenou.
— Até a próxima.
— O quê? — Eu estourei. — Não vamos partir sem mais respostas!
Sua mão apertou minha cintura.
— Nós vamos, Kitten. Não há nada para nós aqui.
Eu encarei Bones antes de voltar minha atenção para o homem velho e
magro. O rosto de Madigan tinha ficado pálido, mas sob o pesado cheiro de
colônia, ele não cheirava a medo. Ao invés disso, seu olhar azul estava
desafiante. Quase… ousado.
Mais uma vez, o aperto de Bones se intensificou. Algo mais estava
acontecendo. Eu não sabia o quê, mas eu confiava em Bones o suficiente para
não agarrar Madigan e começar a morder a verdade para fora dele como eu
queria. Ao invés disso, eu sorri o suficiente para descobrir minhas presas.
— Desculpe, mas eu não acho que você e eu teríamos uma relação de
trabalho saudável, então terei que recusar a oferta de trabalho.
Múltiplos passos soaram no corredor. Momentos depois, guardas de
capacete, fortemente armados, apareceram na porta. Em algum momento
Madigan deve ter apertado um alarme silencioso – um upgrade que ele deve
ter instalado desde a minha visita anterior ao seu escritório.
— Saiam. — Madigan repetiu.
Eu não me incomodei em fazer qualquer ameaça, mas o único olhar que
lancei a ele disse que isso não havia acabado.
N ós fomos seguidos por todo o caminho da base até a árvore onde Bones
deixou seu celular. Assim que Bones o recuperou, nós nos lançamos no ar.
Levou uma hora cruzando o céu antes que nós despistássemos o helicóptero.
Bones poderia tê-lo destruído, mas eu não tinha nada contra o piloto além de
suas habilidades de manobras. Assim que tivemos certeza de que tínhamos
despistado nossos perseguidores, eu despenquei em um campo próximo,
aterrissando com um baque e derrapando.
Bones caiu no chão ao meu lado sem nem mesmo dobrar os caules da
grama para provar. Um dia eu dominarei aterrisagem graciosamente assim. Por
enquanto, eu fui bem em não deixar uma pequena cratera em meu rastro.
— Por que nós deixamos Madigan sair dessa tão fácil? — Foram minhas
primeiras palavras.
Bones limpou alguma sujeira que eu levantei com meu impacto. — Minha
telecinese não é forte o suficiente para ter parado todas as armas.
Minha risada foi mais descrente do que divertida. — Você pensou que os
guardar seriam mais rápidos que você?
— Eles não, — Bones disse firmemente, — As metralhadoras automáticas
nas paredes em ambos os nossos lados.
— O quê? — Eu arfei.
Então eu me lembrei de como Madigan tinha olhado para a direita e
esquerda quando eu estava prestes a agredi-lo. Eu pensei que ele estava
olhando em volta em alarme. Obviamente não. Não é de se espantar que ele
não estivesse cheirando a medo.
— Como você soube? — Perguntei.
— A sala cheirava a prata e pólvora, apesar de não haver nada à vista, além
disso, a textura das paredes ao redor da mesa dele havia mudado. Ele olhando
para elas quando se sentiu ameaçado só confirmou tudo.
E eu aqui pensando que o alarme silencioso tinha sido a única adição de
Madigan ao escritório. Nota para si: Preste mais atenção ao redor.
— Por que ele não as usou? Ele sempre nos considerou uma ameaça, e
agora que sabemos que ele está mentindo sobre os rapazes, ele está certo.
A expressão de Bones estava friamente contemplativa.
— Talvez ele não estivesse seguro de que aquelas armas seriam
suficientes, mas mais revelador foi como ele tentou te obrigar a trabalhar para
ele. Ele te quer para alguma coisa, Kitten, o que significa que ele precisa de
você viva. As novas medidas de segurança eram apenas para se ele não
tivesse outra escolha.
Eu fiquei em silêncio enquanto digeria aquilo. Desde que nos conhecemos,
vários meses arás, Madigan tinha exibido um interesse incomum em mim, e
não era do tipo lisonjeiro. O que quer que ele queira, isso resultaria em minha
morte, eu não tinha dúvidas disso. A única coisa que eu não tinha certeza era o
que ele esperava conseguir antes disso.
Ele não teria a chance de descobrir. Assim que eu descobrir o que
aconteceu com meus amigos, eu matarei Madigan.
— E agora? — Eu perguntei, mentalmente me preparando para o caminho à
frente.
Bones me deu um olhar cuidadoso. — Agora nós rastreamos seu tio e o
forçamos a dizer o segredo que ele está tentando tanto esconder.
Capitulo Três
E ssa é a minha sorte… quando eu não quero falar com o Don, eu não
consigo fugir dele. Agora que eu preciso falar com ele, ele não está em lugar
algum.
Após dois dias esperando que ele aparecesse, minha paciência acabou. Em
algum lugar lá fora, meus amigos estavam em perigo, e cada segundo que
passava poderia estar levando-os mais perto da morte. Uma vez, eu fui capaz
de invocar fantasmas a quilômetros de distância, eles querendo vir ou não, mas
esse poder, como todos os outros que eu absorvi quando bebi sangue morto-
vivo, desapareceu. No seu estado incorpóreo, eu não podia ligar, mandar
mensagem ou e-mail para meu tio para exigir que ele aparecesse, mas havia
outra forma de contatá-lo, apesar de isso requerer uma viagem.
Nós não tínhamos ligado porque eu não estava certa se Tyler concordaria
em nos ajudar. Da última vez, isso quase o matou. As pessoas tendem a
guardar rancor desse tipo de coisa, mas um bom médium é difícil de encontrar.
Tyler puxou os ombros para trás, esticando ainda mais o tecido da sua
camisa.
— Don? — Tyler zombou. — Por que você precisa de mim para isso?
Eu olhei para cima. — Por que não podemos gastar mais tempo esperando
que ele apareça por conta própria. Madigan fez algo para os nossos amigos.
O olhar de Tyler correu sobre ele. — Você é muito bonito para que eu
recuse, Bonesy. — Ele disse com um suspiro triste. Então ele piscou para mim.
— Mas não bonito o suficiente para que eu faça isso de graça.
Eu bufei, acostumada com os flertes de Tyler, tanto quanto com sua
ganância.
— Fechado.
— Oi, Don, — Eu disse com satisfação. — Que bom que você conseguiu vir.
Don olhou para o tabuleiro saindo de seu estômago, sua boca curvando para
baixo. — Quem diria que essas coisas realmente funcionam?
— Faça amizade com outros da sua espécie, você aprenderá muitas coisas,
— Tyler disse, estreitando os olhos na direção do Don. Então sua testa alisou.
— Oh, aí está você.
O olhar que ele me deu estava tão cheio de tristeza que eu quase não
percebi a outra emoção em seu rosto. Vergonha.
— Quando Madigan assumiu meu antigo trabalho, eu temi que ele pudesse
tentar isso, mas eu não esperava isso tão cedo. Eu sinto muito, Cat. Não há
nada que você possa fazer. Nem eu. Sem dúvidas Madigan protegeu aquele
edifício contra fantasmas, também.
— Que edifício?
As duas palavras ferveram com ameaça. Assim como o olhar que Bones
lançou para Don. Ambos deveriam ter assustado meu tio o suficiente para
responder com a verdade. Ao invés disso, ele suspirou novamente.
Antes que eu pudesse perguntar o que diabos ele queria dizer com aquilo,
ele desapareceu.
— Espere! — Eu gritei.
Nada. Nem mesmo um ponto gelado permaneceu no ar. Bones xingou, mas
eu joguei a peça de madeira para Tyler e joguei outra pitada das cinzas de Don
no tabuleiro Ouija.
Tyler murmurou alguma coisa sobre como vampiros são irracionais, ainda
assim, mais uma vez, ele invocou o espírito de Don para retornar. Ele voltou,
mas após alguns segundos de silêncio absoluto, enquanto eu o xingava, meu
tio desapareceu. Nós repetimos o mesmo processo uma e outra vez com o
mesmo resultado. Era o equivalente sobrenatural a ligar e ter a ligação
desligada na cara.
— Você não pode fazer nada para fazê-lo ficar? — Eu perdi a paciência.
— Isso não faz sentido, — Eu continuei a esbravejar. — Foi Don que nos
avisou que Tate e os outros estavam desaparecidos, ainda assim, agora que
confirmamos que Madigan os tem, ele se recusa a nos ajudar! Eu não entendo
isso.
— Eu entendo. Significa que Don prefere ver pessoas por quem ele se
importa morrer do que revelar o que ele sabe sobre Madigan, mas há uma
pessoa que pode forçar o seu tio a falar
— Espere um minuto.
Tyler bateu palmas com a pura alegria de uma criança. — Isso vai ser tão
divertido!
Tyler olhou para ele como se pensasse que foi ele quem ficou louco.
— Namorado, deixe-me soletrar isso para você. Você me deve muito, e eu
estou cobrando isso. Você tem alguma ideia do fenômeno que Marie é no
mundo médium? É como descobrir que Papai Noel é real e ganhar uma
passagem de primeira classe para a oficina dele!
Eu tentei a lógica, embora soubesse que não iria funcionar. — Você não
entende, Tyler. Ela é perigosa.
— Eles são minhas pessoas, erguidos do meu sangue ou juraram por ele, e
nenhum Mestre deixa suas pessoas para trás quando há uma chance de salvá-
los.
Eu não era Mestra de uma linhagem, mas eu concordava com cada palavra.
Nenhum amigo de verdade deixaria seus amigos para trás para morrer,
também.
Tyler fez um ruído exasperado. — Podemos parar de falar sobre isso e fazer
isso logo?
Capitulo Quatro
escuras ao redor da longa ponte que nos deixou entrar na cidade. Finalmente,
nós estávamos aqui. Foi mais de um dia dirigindo, considerando que nós
tivemos que passar por nossa casa em Blue Ridge para pegar meu gato. Nós
não podíamos voar para Nova Orleans por causa das bolsas de alho e
maconha que nós trouxemos para o caso de Marie enviar seus espiões
espectrais para nós. Quanto a alugar um trailer ao invés de pegar nosso carro,
bem, essa não era a primeira vez que eu viajava com Dexter. Os gases do
cachorro podiam ser considerados armas químicas, e o espaço extra me dava
algum lugar para fugir.
— Lá estão eles.
Olhei para fora da janela. Fantasmas cobriam o French Quarter mais que
colares de plástico durante o Mardi Gras. Eles flutuavam através de multidões
de turistas, ficavam sobre telhados, bares e, é claro, passeando pelos famosos
cemitérios da cidade. A coisa mais impressionante sobre eles é o quanto deles
estavam conscientes. A maioria dos fantasmas costuma ser repetições de um
momento no tempo. Incapazes de pensar, apenas infinitamente representando
o mesmo incidente. Não surpreendentemente, muitos daqueles incidentes
contavam as suas mortes. A morte é um evento importantíssimo para qualquer
um.
Tyler riu quando viu isso. — Eu espero não voltar depois de morrer, mas se
eu voltar, vou me mudar para cá, onde a festa nunca termina.
Bones lançou um olhar para ele antes de voltar sua atenção para as ruas
estreitas. — Não recomendaria isso, companheiro. Nova Orleans não é a
cidade mais assombrada do mundo por acaso.
— O poder de Marie atraí fantasmas para ele, e uma vez que eles estão
presos nisso, como insetos em uma teia de aranha, a maioria deles não é forte
o suficiente para partir.
— Você tem que me apresentar a ela. Isso vai fazer valer minha vida.
Ou sua morte, eu pensei cinicamente, mas mantive aquilo para mim. Maria
era seletiva sobre a quem ela concedia uma audiência. Ela poderia até mesmo
não concordar em contar comigo e com Bones, então eu duvido de que ela vá
arranjar um horário em sua agenda para bater papo com um fã desconhecido.
— Inferno sangrento.
Tyler olhou para o ghoul com mais interesse. — Sério? Eu pensei que vocês
não tivessem ligado para ela para avisar que vocês estavam vindo.
Tyler olhou para Jacques novamente antes de encontrar meu olhar. Então
vocês estão ferrados, não estão? Passou pela mente dele.
Meu sorriso foi rígido. Marie sempre concedia passagem segura de e para
uma reunião, mas assim que a reunião acabava, todas as apostas estavam
fora.
Bones deu as chaves do trailer para Jacques antes de dar um jogo diferente
para Tyler. — Entre. Nós voltaremos mais tarde.
Pelo lado negativo, eu duvidava de que ela tenha enviado alguém para nos
levar imediatamente por que ela sentia saudade de nós, mas só havia uma
forma de descobrir o que ela queria. Eu forcei um tom descontraído enquanto
me virava para Tyler.
— Eu vou guardar isso para quando vocês voltarem. — Então para Jacques
ele disse; — Você não vai dirigir essa coisa para lugar algum até que eu pegue
o meu cachorro e o gato dela.
Nenhuma voz nos disse para entrar. Não era necessário. Esse era o mais
perto de um convite que qualquer um conseguiria de Marie. Eu tinha que dar
crédito para a rainha voodoo. Ela sabia como maximizar sua versão de
“vantagem do time da casa”.
Eu estava prestes a pular no buraco quando Bones me impediu com uma
mão no meu ombro.
Eu não discuti. Isso não era uma bofetada para o meu feminismo – isso era
boa estratégia de batalha. Bones pode não ter dominado totalmente sua
telecinese, mas uma pequena habilidade para controlar objetos com sua mente
era muito melhor do que nenhuma. Além disso, Marie não estava ciente do seu
novo poder, então se as coisas tomassem um rumo inesperadamente letal, nós
tínhamos o elemento surpresa.
Após cerca de vinte e sete metros, nós chegamos a uma porta de metal com
dobradiças que deveriam estar enferrujadas, mas que não fizeram nenhum
ruído quando abrimos a porta. Ela abria para uma escadaria curta que levava
ao quarto sem janelas que eu imaginava que estava dentro de uma das
maiores criptas públicas. Não parecia haver saída além do caminho pelo qual
viemos, mas, mais uma vez, as aparências enganam.
*Designer e sapatos.
O mais perto que eu cheguei de identificar a idade de Marie quanto ela foi
transformada em ghoul era quarenta ou cinquenta, mas não havia dúvidas dos
anos em seu olhar. Aqueles olhos cor de avelã continham conhecimento que
intimidaria o mais louvado dos sábios, e eu não deixava o seu sorriso suave me
enganar. Ele era mais de advertência do que de boas vindas, embora seu
batom cor de concha pudesse ser.
Sua fala lenta era puro Creole do Sul, mais macia que manteiga e mais doce
do que torta, mas como de costume, Marie nãos e incomodou com falsas
gentilezas. Essa característica nós tínhamos em comum.
— O que é?
Ela se inclinou e pegou um copo de vinho que eu não tinha notado. Deve ter
estado escondido sob as dobras de sua saia. A visão daquele líquido vermelho
trouxe de volta uma memória induzida por raiva da última vez que nós três
estivemos nessa sala: Bones preso na parede com Remnants rasgando-o de
dentro para fora e Marie se recusando a chamá-los de volta até que eu
concordasse em beber o sangue dela.
Conhecendo Marie, ela escolheu trazer esse copo porque queria que nós
nos lembrássemos. Como se eu pudesse esquecer.
Eu fiquei tensa, mas Bones riu como se ela não tivesse acabado de insinuar
iniciar uma guerra entre vampiros e ghouls.
— Vamos lá, Majestic, você não tem interesse em colocar nossas duas
espécies uma contra a outra. Você também já sabe há algum tempo que Cat
não manifesta mais suas habilidades, ou nós estamos fingindo que você não
tem nos espionado no ano passado?
Há dias em que ela me lembra meu amigo, Vlad. Ele seria igualmente
desavergonhado em ser pego espionando.
— Agora que isso está claro, você irá nos ajudar? —Eu perguntei de uma
vez.
— Sim.
urgência em ser dita. Outra ruptura em seus escudos mentais me deixou sentir
a raiva que correu por Bones apesar do único sinal visível ser um músculo
tenso em seu maxilar.
— Por quê? O que você quer com o caçador de bruxas? — Ele perguntou
com uma calma admirável.
Os olhos dela pareciam brilhar com luzes internas. — Isso não é da sua
conta.
Kramer fez mais, mas listar todas as suas maldades demoraria muito. Ele foi
um idiota assassino em vida, e virar um fantasma não o impediu. Isso apenas o
permitiu continuar seu reino de terror por séculos. Nós quase morremos
prendendo Kramer, e agora Marie queria o endereço de sua cela? Se ela
algum dia o soltar, Kramer virá direto para mim. Na melhor das hipóteses, um
dia eu olharei para baixo para ver uma faca de prata enfiada em meu peito. Na
pior… bem, eu prefiro a faca de prata.
Pelo brilho no olhar de Marie, ela sabia disso tudo, embora seus fantasmas
espiões não tenham encontrado a cela de Kramer, obviamente.
— Fechado.
Bones olhou para mim. Eu ergui uma mão. — Ela está certa. Nós
precisamos do que Don sabe mais do que precisamos manter a localização de
Kramer em segredo.
— Você sabe como é família. — Minha voz estava afiada. — Sempre uma
dor no rabo.
Bones encarou Marie. Sua expressão não revelando nada, e suas emoções
estavam trancadas, então, a menos que eu ficasse na frente dele, eu não podia
determinar o que ele estava silenciosamente dizendo a ela. Marie parecia
saber, entretanto. Ela encarou de volta do mesmo jeito inabalável antes de
inclinar a cabeça em um leve aceno. Então a troca silenciosa acabou.
“Quem está aí?” de Tyler pôde ser ouvido sobre o som dos latidos do Dexter.
A porta se abriu para revelar um Tyler risonho. — Sua casa realmente tem
estilo. E fica bem no coração do French Quarter! Diga-me novamente por que
vocês vivem naquela cabana na floresta—
Ele parou de falar quando viu que não estávamos sozinhos. Bones empurrou
Tyler de lado o suficiente para permitir que Marie e eu entrássemos. Nós
poderíamos ter feito isso lá no cemitério, mas eu não achava que Tyler me
perdoaria se eu o fizesse perder sua chance de conhecer seu ídolo. Agora que
estávamos de acordo com os termos, ele estaria seguro.
Tyler a encarou, sua boca abrindo e fechando. Por alguns segundos, ele
sequer respirou. A única vez que eu o vi tão embasbacado foi quando ele
conheceu Ian.
Então ela estendeu a mão. Tyler a agarrou, mas não balançou. Ele se
curvou sobre ela com mais formalidade do que eu pensei que ele fosse capaz.
Para minha surpresa, Marie balançou a mão de Tyler, sua expressão ficando
pensativa.
— Você tem poder, então você deve ser o médium sobre quem eu ouvi.
Nem se ele ganhasse na loteria eu acho que Tyler pareceria mais feliz.
Bones, entretanto, foi direto aos negócios.
— Você precisa de algo antes de prosseguir, Majestic?
Ela olhou em volta no salão, pausando na urna que Tyler colocou na mesa
de café.
Com meu aceno, Marie riu levemente. — Então isso será simples.
Ela deu um olhar desdenhoso para o tabuleiro antes de pegar a urna. — Isso
não é necessário.
Assim que seus dedos tocaram as cinzas, uma corrente fria cortou através
da sala, abrupta e afiada como se nós tivéssemos sido jogados no centro de
uma nevasca. Antes mesmo que eu tivesse a chance de tremer, meu tio estava
de pé no centro da sala, materializado o suficiente para que eu visse que seu
cabelo grisalho estava desgrenhado, como se ele tivesse sido arrancado com
tanta força de onde quer que estivesse, que aquilo desarrumou o estilo que era
sua marca registrada.
— Que diabos? — Ele questionou Marie. Então ele viu a mim, Bones e Tyler.
Em um momento, Marie estava sentada no sofá com nada mais que seda
em volta dela. No outro, ela estava envolta em sombras que soltavam uivos de
tremer os ossos enquanto eles se juntavam sobre meu tio. Eu não a vi
derramar o sangue que era o catalisador para invocar Remnants, mas esse é o
motivo de ela ter uma agulha escondida em seu anel. Um pequeno furo é tudo
o que ela precisa para empunhar sua arma mais mortal.
Outros argumentos seriam inúteis. Agora a única pessoa que podia parar
isso era Don. Eu dei ao meu tio um olhar suplicante enquanto me aproximava.
A acusação aflita rasgou meu coração. Eu não queria! era muito inútil para
dizer. Além do mais, apesar de isso não ser o que eu queria, Don admitiu
condenar Tate e os outros a morte certa. Se ele apenas nos dissesse a
verdade, nada disso estaria acontecendo.
Aquilo era mentira. Você não pode matar o que já está morto, o que eu
frequentemente lamentava enquanto estava atrás do Kramer, mas Don não
sabia disso.
— Nãããão.
Meu tio arrastou a palavra com tanto desespero que meu controle se partiu.
Eu não podia suportar vê-lo assim, e eu não podia fazer parar, como a dura
expressão de Marie me lembrou.
— Experiência genética!
Meu queixo caiu com a resposta. O do Don também, antes que outro grito
deformasse sua expressão e uma de agonia. Além da dor, algo mais passou
por suas feições. Surpresa, como se ele não pudesse acreditar que me
respondeu com a verdade.
— Responda-o. — Eu rosnei.
— Não apenas humanos, — Don disse, antes que outra expressão de Que
diabos? cruzar seu rosto.
Eu não. A única vez em que eu fui capaz de forçar fantasmas a fazer o que
eu queria foi quando eu tinha o poder da sepultura de Marie fluindo pelas
minhas veias, mas aquilo acabou há muito tempo.
Seu olhar era tão impaciente quanto divertido. — Como pode tantos da
minha espécie temerem você quando você é tão ingênua?
Antes que eu pudesse latir uma resposta, ela continuou. — Ele morreu
enquanto você ainda possuía meus poderes, não foi? E você chorou enquanto
o espírito dele deixava o corpo?
Eu não apreciei o seu tom de isso não é óbvio? — Todo mundo não chora
quando alguém amado morre?
— Mas ele não ficou. — Eu disse, raiva pela dor de Don afiando minhas
palavras. —Ele morreu.
Então eu encontrei o olhar do meu tio. Se eu viver para ter mil anos, ainda
assim não esquecerei a angústia que vi ali… ou a raiva.
Você fez isso comigo! sua expressão gritava, e ele não estava mais se
referindo ao ataque impiedoso dos Remnants. Aquilo terminaria, mas sua
permanência entre esse mundo e o próximo não iria. Ele não é um espírito que
ficou porque tinha uma missão final para cumprir, como vínhamos desejando
que fosse durante os últimos meses. Não, ele era um dos poucos
amaldiçoados que nunca poderiam fazer a passagem, e isso era minha culpa.
O fato de que eu não sabia o que estava fazendo quando isso aconteceu era
quase irrelevante, em comparação.
— Eu sinto tanto.
Foi por isso que minhas próximas palavras não foram para implorar perdão e
o porquê de eu também segurar as minhas lágrimas. Considerando o que elas
fizeram antes, elas seriam apenas sal na ferida agora. Ao invés disso, eu
enterrei as presas no meu lábio inferior, contente pela dor que trouxe um
instantâneo fio de sangue.
— Você disse que não eram apenas humanos, Don, então em que mais
Madigan fez suas experiências genéticas?
— O que mais? — O som que Don fez foi mais um grito agonizado que uma
risada. — Qualquer coisa. Tudo.
Sua cabeça sacudiu de forma afirmativa. Meu próximo olhar foi direcionado
à Marie. Ela ficou de pé e, um mover de seus dedos depois, os Remnants
deixaram Don, para cercá-la como uma auréola serpenteante e etérea.
— Por “tudo”, você quer dizer ghouls? — Ela perguntou ao meu tio com uma
voz sedosa.
Don não respondeu. Bones olhou para mim. Eu cerrei os dentes, mordi meu
lábio novamente e repeti a questão.
— Provavelmente.
Minha culpa foi para o banco de trás com aquela informação. A expressão
do Bones se fechou e eu não precisava de um espelho para saber que meu
próprio rosto devia ter endurecido em ângulos igualmente rígidos.
— Nós não pensamos que você fosse ficar, então, enquanto a tínhamos,
tentamos aprender tanto quanto pudéssemos sobre a sua dualidade de
espécies…
— Eles eram trabalho de Madigan. Assim que ele tinha vampiros e ghouls
cativos para trabalhar, seu objetivo se ampliou, mas ele entrou em um beco
sem saída tentando combinar os códigos genéticos. As células humanas
suportavam a incorporação com uma espécie ou outra, mas não as duas… até
você. Como mestiça, suas células eram as únicas compatíveis com o DNA
vampiro e ghoul. Madigan estava convencido de que mapiando e duplicando
seu código genético poderia criar uma versão sintética e mais segura dos vírus
vampiros e ghouls a fim de transformar soldados normais em superarmas. Eu
não acreditei nele, mas então ele sintetizou o Brams…
Don não disse nada, mas com a vergonha tomando sua expressão, ele não
precisou falar.
Don correu uma mão pelo seu cabelo grisalho, parecendo mais cansado do
que eu alguma vez o vi.
Parece que devíamos ter chamado de Cats, pela mestiça mais ingênua do
mundo. Eu pensei que todas as extrações de sangue e testes eram porque
Don era paranoico sobre eu “ficar má” por beber sangue de vampiro. Pouco eu
sabia que Don era o que estava secretamente fazendo acordos com o diabo.
— Por quanto tempo Madigan usou o sangue dela, células e tecidos para
suas experiências imundas? — Bones perguntou em um tom duro.
Eu não precisei morder meu lábio e repetir a pergunta. Don parecia ávido em
responder.
— Eu o cortei assim que percebi que estava errado sobre Cat. Ela não era
corrupta como meu irmão…
Pelo menos, aqui estava a fonte da inimizade entre os dois homens. Não é
de se espantar que Don queria levar isso para sua sepultura e o além. Se ele
estivesse vivo enquanto contava isso, eu não acho que poderia impedir Bones
de matá-lo, a julgar pela raiva emanando de sua aura.
O olhar de Don saltou para mim, então ele olhou para longe. — Não.
— Mentiroso.
Meu tio abriu a boca… e nada saiu. Então, com um tremor final, ele ajeitou
os ombros e abriu os braços.
Mordi meu lábio tão forte que minhas presas o atravessaram. — O que mais
Madigan quis fazer, Don? Colher meus órgãos? Vivissecção?
Aquelas eram as coisas mais horríveis que eu podia pensar, mas quando ele
levantou a cabeça e sua expressão era uma mistura de vergonha desprezível e
apelo por compreensão, eu soube que era pior.
— Ele queria te forçar a procriar, para produzir mais espécimes de teste com
seu DNA compatível com três espécies, mas assim que ele sugeriu isso, eu o
joguei para fora…
Eu senti a ruptura nos escudos de Bones logo antes de a urna voar através
de Don e se esmagar na parede atrás dele. Embora ela tenha sido
arremessada com força suficiente para produzir uma fina nuvem de cinzas
entre os pedaços quebrados, aquilo não tocou nenhum de nós. Os olhos de
Marie se abriram enquanto ela olhava ao redor. Então um lento sorriso esticou
seus lábios.
— Mais como assustador quando ele faz isso. — Tyler murmurou para
ninguém me particular.
Bones não parecia se importar que ele tinha se entregado para Marie sobre
suas habilidades telecinéticas. Seu olhar era todo para Don enquanto ele
apontava um dedo na direção do meu tio.
— Você permitiu que Madigan visse quão valiosa ela era para os planos de
super soldados dele, então você estimulou o apetite dele ao recusar que ele se
aproximasse dela por anos. Inferno sangrento, ela é uma vampira completa
agora, e ainda assim ele ainda está obcecado com ela! Mas você sabia disso
quando ele se apressou em assumir o seu trabalho após a sua morte, e ainda
assim você se recusou a divulgar a verdade, então você não dirá nada em sua
defesa agora.
Eu também não falei, ainda tonta pela bomba dele. Meu relacionamento com
Don sempre foi complicado, verdade. Quando nos conhecemos, ele me
chantageou para trabalhar com ele. Somente após eu descobrir que nós
éramos parentes que fui descobri a razão pelo preconceito de Don contra
vampiros. Max, meu pai, assassinou seus próprios pais após se tornar um
vampiro. Por décadas, Don colocou a culpa das ações de seu irmão no
vampirismo antes de finalmente admitir que Max foi um idiota pervertido
quando humano, também.
Ele começou a circular meu tio, pausando apenas para triturar um pedaço da
urna de Don sob suas botas.
Então ela apontou para mim, e eu não acho que foi por acidente que ela
apontou com o dedo com o anel Invocador-de-Remnant.
— Eu não sou a única que não vai tolerar humanos tentando criar super
soldados fundindo nossos códigos genéticos. — Marie continuou. — Se você
não destruir essa operação inteira em sessenta dias, eu vou ajudar o Conselho
dos Guardiões a eliminar a operação através de outros meios.
Eu não respondi. Estava muito ocupada traduzindo o que ela quis dizer.
“Terra arrasada” seria uma descrição agradável do que restaria se Marie e o
grupo governante de vampiros assumissem isso. Eles não parariam ao Matar
Madigan e seus cientistas loucos – eles acabariam com todos, do último
assistente de escritório até o zelador. Isso significa centenas de empregados,
para não mencionar meus amigos, se eles ainda estiverem vivos.
Claro, nós precisaríamos de muito mais que sorte, como o olhar sombrio que
Bones me lançou me lembrou. Eu encarei Marie, não sabendo como
impediríamos isso no tempo designado, apenas sabendo que nós tínhamos
que fazer.
Seu sorriso foi pequeno. — Espero que sim, Reaper, pelo bem de todos nós.
Capitulo Sete
maconheiros. Não era necessário dizer que eu não queria falar com o meu tio
no momento, então, se Don tivesse intenção de viajar para Charlottesville, ele
faria isso por linhas de poder. Nós tínhamos alho e maconha suficientes para
afastar um exército etéreo.
— Fique com essa espátula pronta quando eu voltar. — Ian cantou para ela.
— Não quer? Que vergonha, Crispin. Casado há tanto tempo, e ainda não
espancou sua mulher com uma espátula de metal?
Eu estava acostumada com Ian presumindo que todo mundo era tão
pervertido quanto ele, então entrei no jogo.
— Eu ainda não tentei isso… oh, você está mentindo, não está?
Dessa vez, Bones não tentou escondeu o sorriso. — É por isso que você
pode escolher seus amigos, mas não sua família, primo.
Uma emoção cruzou o rosto de Ian antes que ele a cobrisse com seu usual
sorrisinho de “eu sou uma dor no rabo e tenho orgulho disso”. Se fosse
qualquer outro, eu juraria que era alegria infantil por ouvir Bones chamá-lo de
“primo”. Eventos recentes revelaram a conexão humana há muito perdida entre
eles, fazendo de Ian tanto o criador de Bones quanto seu único parente de
sangue vivo.
— Você não disse muito quando me ligou, então, qual é a crise dessa vez?
— Ian falou lentamente, soando entediado.
Fiquei contente por Bones estar dirigindo, porque aquilo fez cada músculo
do meu corpo congelar. Eu estive tão preocupada sobre as consequências de
uma potencial fusão entre espécies que não considerei o quão horrível o efeito
colateral seria se isso já tivesse acontecido. Se vampiros ou ghouls
descobrissem que seus atributos mais fortes podiam ser sintetizados, e então
passados para qualquer membro da raça humana, as reações deles seriam
brutais. Não seria a Terceira Guerra Mundial, seria a Guerra Mundial V e G*.
*V e G de Vampiros e Ghouls.
— Você tem razão. — Minha voz estava rouca. — Se ele já está fazendo
soldados geneticamente mistos, eles terão que ser eliminados antes que as
nações vampira e ghoul percebam que isso é possível.
— Pode não chegar a isso, Kitten, — Bones disse, expandindo sua aura
para envolver minhas emoções de forma reconfortante. — Provavelmente
Madigan ainda está no estágio de rato de laboratório.
Bones e eu vivíamos. Ela também era localizada nas Montanhas Blue Ridge, e
a visão de seus picos revestidos de nuvens causou uma onda de saudade em
mim. Eu cresci entre as colinas suaves da versão rural de Ohio, mas desde a
primeira vez que vi as montanhas, eu me senti em casa.
Era lá que eu desejava estar agora. Em casa com Bones, cercada por
montanhas que pareciam afastar o resto do mundo. Os últimos meses de
relativa calma me apresentaram ao que a maioria das pessoas chama de uma
vida normal, e, para minha grande surpresa, eu amei. Em casa, os únicos
objetos afiados de metal com que eu lidava eram para o novo jardim que eu
estava instalando, e os únicos gritos que eu ouvia era Helsing uivando se o
gatinho sentisse que não estava recebendo atenção suficiente.
Eu costumava ansiar por uma caçada, mas tanto quanto eu queria Madigan
morto, se eu pudesse abrir mão de matá-lo eu mesma em troca de tudo isso
terminar, eu trocaria. Em um segundo.
Eu queria voltar para aquela vida, e apenas uma coisa estava no meu
caminho. Madigan. Minha mandíbula ficou rígida. Graças a ele, eu ainda não
havia acabado com o negócio de caçar e matar.
— Parece que ninguém usa esse lugar por anos. — Ian disse.
— Nós não temos tempo para esperar até Madigan eventualmente deixar
sua antiga base. — Bones disse. — Por mais que eu fosse gostar de agarrá-lo
e torturá-lo até arrancar a verdade dele, nós temos um prazo, e pode levar
semanas antes que ele deixe a segurança daquela instalação.
Nós também não podíamos atacar minha antiga base para capturá-lo pelo
mesmo motivo. Se fizéssemos, nós também estaríamos revelando nosso jogo
para quem quer que seja que Madigan esteja envolvido, isso daria à pessoa a
chance de mudar de lugar a base de operações deles. Ou aumentar a
segurança dela. Não, o elemento surpresa era nossa única vantagem. Graças
a Deus Madigan não sabia que Don tinha se transformado em fantasma. Por
tudo que Madigan sabia, não havia forma alguma de sabermos sobre seus
planos de fusão de espécies, dando a ele nenhuma razão para ser mais
paranoico sobre proteger isso do que ele já ele já era.
Até o dia em que eu aparecer para matá-lo, era assim que pretendíamos
manter isso.
— Podemos tentar algumas das outras bases que Don e eu usávamos como
casas seguras. — Eu comecei, apenas para ter o súbito “Shh!” do Bones me
silenciando.
Olhei ao redor, agarrando uma faca de prata. Nada correu para nós, e meus
sentidos não tinham captado nenhuma energia sobrenatural, então, o que era?
Ian também olhou ao redor antes de dar de ombros como se dissesse Não
faço ideia.
Olhei de volta para Bones. Sua sobrancelha estava franzida, e sua cabeça
estava inclinada para o lado.
— Não você. — Bones disse com uma pitada de desculpas. — Você, Kitten.
Eu? O que eu podia ouvir que Ian não podia… oh, claro. Eu afastei os sons
audíveis para me concentrar no baixo zumbido de pensamentos sob eles. Após
um momento, pedaços de sentenças rastejaram para a minha mente. A maioria
vinha das áreas povoadas do outro lado da rua, mas algumas pareciam ser
transmitidas de algum outro lugar.
M eu amigo Vlad uma vez me disse que “à prova de som” não significa “à
prova de mente”, porque telepatia viaja até mesmo através das mais grossas
paredes. Caso em questão: Quem quer que seja o oficial do governo que
secretamente apoiou Madigan após Don demiti-lo foi cuidadoso. Mesmo com
os sentidos sobrenaturalmente afiados de vampiros, nada visível ou audível
dava uma dica de que o antigo laboratório ainda estava operando, embora
quatro andares abaixo da sua localização original. Apenas as habilidades
minha e do Bones de ler mentes nos deu a pista; apesar de que, se não fosse
por ele, eu poderia ter deixado passar, de qualquer forma.
Eu mantive a cabeça abaixada, para meu cabelo cobrir meu rosto. Quem
sabia se Madigan tinha circulado minha foto para seus funcionários?
— Meu tornozelo, — Eu disse com uma voz trêmula. — Eu… eu acho que
está quebrado.
Uma buzina de carro soou atrás dele, e ele fez um som exasperado.
Isso foi tudo o que ele disse antes que eu o atingisse com o meu olhar,
notando com alívio que seus olhos ficaram imediatamente vidrados. Eu estava
com medo de que Madigan tivesse inoculado seus funcionários contra controle
de mente dando-lhes sangue de vampiro.
Eu fugi sem esperar por Ian. Ele sabia para onde estávamos indo. Então eu
dirigi tempo suficiente para largar o carro em uma área escura e deserta antes
de agarrar o funcionário loiro e saltar para cima, noite adentro.
Eu percebi meu erro tarde demais. Eu mandei o homem não falar; Eu não o
mandei não ficar com medo. Quando estávamos a cerca de um quilômetro de
distância, algo morno ensopou meu jeans. Uma olhada para baixo confirmou
minhas suspeitas.
— Você está ficando melhor, Reaper. — Uma voz inglesa notou atrás de
mim. — Embora tenha demorado.
— James Franco.
Sua expressão suavizou em um sorriso. — Sim, mas mais pobre e mais feio.
— Sim.
Uma resposta inflexível dessa vez. Eu dei um breve aceno. — Bom, isso
poupa tempo explicando. Agora, você sabe quem nós somos?
— Não.
Acho que eu não precisava esconder meu rosto mais cedo. — Já ouviu o
nome Cat Crawfield?
— Não.
— O que você faz no seu trabalho? — É bem nossa sorte ter capturado um
funcionário administrativo que não sabe de nada.
— Quem tem?
E u abri com força a pequena porta do banheiro, então xinguei quando ela
caiu. No meu mau humor, esqueci de prestar atenção na minha força, um erro
de novatos que eu não cometia em anos. Daqui a pouco eu mostraria as
presas para um turista e diria a ele, em um sotaque Euro-lixo, que eu queria
beber o sangue dele.
Um leve sorriso moveu seus lábios. — Não estou mentindo, amor. James
sabe mais do que ele acha.
Caminhei até o estreito armário e escolhi outra roupa, olhando para trás para
ter certeza de que Bones tinha fechado a porta antes de largar minha toalha.
Ian espiaria um show gratuito desavergonhadamente, com ou sem laços
familiares.
Pelo olhar demorado que Bones deu a certas partes do meu corpo, ele
também não deixaria passar um show gratuito, apesar da seriedade do tópico.
Minha pergunta foi brusca para disfarçar a faísca que cintilou dentro de mim.
Por favor, Deus, permita que isso funcione, nós não temos mais nada…
Então ele me puxou para ele, sua boca se inclinando contra a minha. Um por
um, botões de camisa se abriram até que nada, exceto carne dura e suave
esfregasse contra minha pele nua. Meu gemido virou um suspiro com a
exigência de seu beijo, e quando seus escudos caíram e luxúria se derramou
sobre minhas emoções como caramelo quente, eu tremi.
Uma risada vibrou contra meus lábios. — Não pense sobre ele se juntar a
nós, desculpe.
Eu empurrei contra seu peito, mas isso não o moveu. — Ele vai nos ouvir.
— Eu falei antes que a voz de Bones roubasse minha voz. Então sua mão
roubou minha razão quando ela deslizou entre minhas pernas, acariciando
carne que inchou e lubrificou sob seu toque.
Outra risada, essa claramente perversa. — Sim, então não seja mesquinha
nos elogios.
Eu pretentida discutir mais. Então suas mãos não eram as únicas coisas me
acariciando. Poder varreu meu corpo em deliciosos arrepios, fazendo minha
carne zumbir antes de se concentrar em minhas partes mais sensíveis com
intenção sensual. Eu mal notei quando Bones me colocou na cama, seu corpo
cobrindo o meu antes que minhas costas atingissem o colchão. Quando sua
boca queimou um caminho pelo meu estômago e permaneceu entre minhas
coxas, eu não me importava mais com o que Ian ouvisse.
seu sedan simples e pensamentos revelavam que ela trabalhava para outro
empregador. Ainda assim, se Bones e eu não estivéssemos lançando nossos
sentidos em todos que entravam naquele estacionamento, ela teria passado
despercebida.
Dei uma olhada frustrada para a luz do sol. Se ao menos ela fizesse sua
entrega à noite! Com a cobertura da escuridão, nós poderíamos agarrá-la e
voar com ela para longe, com mínimas chances de alguém notar. Mas revelar
as nossas espécies para a humanidade com um sequestro sobrenatural
espalhafatoso em plena luz do dia faria nossa atual situação difícil parecer
bobagem em comparação. Há uma razão pela qual os vampiros
permaneceram em seus caixões metafóricos por milênios. Qualquer um que
ameace o segredo de nossa existência acaba morto de forma suja e dolorosa
pelos Guardiões da Lei.
— Nós podemos segui-la até em casa, pegá-la lá. — Eu sugeri.
— Ela não mora por aqui, — Uma voz grossa de sono disse do banco de
trás.
Ian. Eu quase esqueci que ele estava aqui, provavelmente porque ele esteve
cochilando pelas últimas sete horas enquanto Bones e eu vigiávamos o
estacionamento. Agora ele se sentou relaxado, deslizando sua máscara de
sono de cetim negro até a linha do cabelo.
Ian encarou até ela desaparecer dentro do elevador. Então ele olhou de
volta para mim.
— Você não pode jogar olhos verdes nela no elevador, ele terá vídeo
vigilância. Assim como o estacionamento. — eu repliquei.
Com um golpe casual de sua mão, ele rasgou a camisa, fazendo botões
voarem por todo lugar. Outro golpe arrancou sua máscara de dormir.
Finalmente, ele penteou com os dedos seus cabelos na altura do ombro e
sorriu para seu reflexo no espelho retrovisor.
— Eu sou, afinal de contas, irresistível.
Não pude conter meu riso. — Eu resisti muito bem a você no dia em que nos
conhecemos, ou você não se lembra de eu enfiando uma faca no seu peito?
Ian sorriu com uma malícia preguiçosa. — Eu me lembro, mas você parece
ter esquecido que você me beijou, primeiro. E gostou muito.
Pega fora de guarda, eu corei. Hey, eu estive celibatária por mais de quatro
anos naquela época – eu não estava pensando claramente!
Ele acenou uma mão. — Pare de rosnar, Crispin. Eu superei minha antiga
atração por sua esposa, mas o ponto continua sendo que eu sou deslumbrante.
Com aquilo, ele saiu do carro e desfilou com sua camisa aberta ondulando
atrás dele como minicapas gêmeas.
— Deixe-o tentar, Kitten. Anzóis funcionam melhor quando estão com iscas.
Era verdade, mas a entregadora parecia ser muito esperta para morder esse
pedaço específico de isca. Eu só esperava que Ian não estragasse nosso
disfarce depois que sua exibição de peito nú falhasse em fazê-la perder o
equilíbrio.
O sol da tarde deu ao seu cabelo cor de cobre mechas douradas e ele se
certificou de que as linhas duras de seu peito e abdômen estivessem
totalmente visíveis enquanto seu passo manteve a camisa esvoaçante atrás
dele. De má vontade, eu tive que admitir que várias cabeças viraram, e mais
que alguns carros diminuíram enquanto motoristas mulheres davam a ele um
segundo, terceiro e quarto olhar. Ian respondeu jogando um sorriso
deslumbrante para elas, fazendo-o parecer quase angelical para qualquer um
que não soubesse que ele era uma vadia sem consciência.
A morena saiu para o nível da rua e foi direto para a calçada onde tinha
estacionado. Nenhuma surpresa em ver que a pasta com que ela chegou tinha
sumido. Pelos seus pensamentos, ela estava menos alerta, já que a entrega
tinha sido feita com sucesso, mas ela ainda deu uma inspeção completa em
seus arredores enquanto caminhava em direção ao seu carro.
O que significa que ela viu Ian no momento em que ele cambaleou na
direção dela, o estranho que ele abordou agora o empurrando e puxando sua
calça. Minhas sobrancelhas subiram, mas então o homem agarrou a carteira de
Ian do bolso da frente e, com um empurrão final que o fez cair esparramado no
chão, correu.
— Sim, — ele disse. Então ele olhou para baixo, para seu peito nu como se
ele mesmo não tivesse rasgado a camisa.
Cautela pediu a Barbara para deixar o lindo estranho sozinho, mas ela
ignorou aquilo e se aproximou, de qualquer forma. Eu estava tão feliz quanto
enojada. Bela forma de inflar o ego do Ian e prejudicar o feminismo ao mesmo
tempo, Barb!
Aquilo bastou. Ela se aproximou os últimos poucos metros entre eles sem
hesitação, estendendo seu celular. Quando os dedos dele se fecharam sobre
os dela enquanto ele pegava, “mãos frias” flutuou na mente dela antes que o
olhar dele prendesse o dela e se iluminasse com um verde brilhante e
hipnótico.
— Eu te disse que seria fácil, — Ian disse, e ele não estava falando com ela.
Bones ligou o carro. Eu olhei para longe, não precisando ver Ian entrar no de
Barbara para saber que eles logo estariam nos seguindo.
— Vai ser impossível conviver com ele agora, — Eu disse sob a respiração.
As más notícias eram que eu não sabia como nós poderíamos invadir a
instalação sem sermos pegos.
Hoje, algumas centenas dos mais de três mil acres de terra estavam fora
dos limites para o público devido a preocupações com a segurança e questões
ambientais. Até mesmo o espaço aéreo estava fechado sobre uma sessão
após um dos bunkers misteriosamente explodir em 2010, mas enquanto o
governo tem posse e monitora a área, alguém como Barbara poderia entrar e
sair sem levantar suspeitas dos moradores locais. Além dos caçadores que
frequentam a área McClintic Wildlife Management, lá também era o local
original da aparição do Mothman*, portanto, atraí caçadores do sobrenatural
aos milhares.
*Homem Mariposa.
Afinal, ela não era localizada em uma cidade, como o laboratório de Madigan
em Charlottesville. Lá, não seria estranho vampiros frequentando as
mediações. Caçadores e aspirantes a aberrações podem ser capazes de
circular ao redor de McClintic Wildflife Management sem levantar suspeitas,
mas nenhum vampiro de respeito atiraria em animais por esporte. E nenhum
iria caçar criaturas sobrenaturais que não existem.
Dei um olhar azedo para ele. — Vale uma tentativa, mas eu duvido que o
lugar mais importante no esquema de Madigan criar supersoldados
parcialmente mortos-vivos seja também o único que ele não deixou a prova de
fantasmas.
Eu acho que ele murmurou “O que é uma pena” após falar, mas eu estava
muito excitada para repreendê-lo.
Vlad! Com sua pirocinese, ele era mais quente que a maioria dos humanos,
e a mesma habilidade o fazia a prova de fogo. Peguei meu telefone da bolsa e
disquei o celular do Vlad.
Daca nu este ceva important, nu lasati mesaj si nu sunati din nou, uma
gravação em voz masculina respondeu, seguida pela tradução em inglês “Se
não for importante, não deixe mensagem e não ligue novamente.
F abian du Brac tinha quarenta e cinco quando morreu, e seu longo cabelo
marrom ainda estava amarrado para trás em um estilo que saiu de moda há
mais de um século. Suas costeletas e roupas também o marcavam como de
outra época, mas foram nos seus nebulosos olhos azuis que eu foquei agora.
Antes mesmo que ele falasse, eles me disseram que ele não tinha boas
notícias.
— Então nós temos que esperar mais onze dias até a próxima coleta
agendada no laboratório. Alguém vai ter que sair daquela base para entregar a
pasta para Barbara.
Ele era, como sempre, muito gentil. Pela milésima vez, eu desejei poder
abraçar Fabian, mas, ao invés, eu fiz a única coisa que podia: ergui minha mão
e sorri quando seus dedos transparentes se curvavam perto – e através – dos
meus.
— Agora tudo o que você precisa é fazer um V com as mãos e dizer em uma
voz trêmula que você foi, e sempre será, amiga dele. — Ian observou, cheiro
de ironia.
Eu estava muito chateada com sua resposta para fazer uma piada sobre o
verdadeiro drácula usando a palavra “conte*”.
— O que quer que seja, eu não posso ajudar. Além disso, você precisa estar
na Romênia hoje à noite.
Eu conhecia bem a arrogância de Vlad, mas isso estava indo longe demais.
— Você se recusa a me ajudar com um cenário de vida ou morte, mas quer
que eu pule em um avião e parta imediatamente para a sua casa?
Bones veio para a sala, suas feições marcadas por uma expressão de
incredulidade.
— Nós não podemos correr para a Romênia, Kitten. O que quer que Vlad
pense que é tão importante, pode esperar…
— Não, não pode. — Eu interrompi, ainda sorrindo. — Ele vai se casar essa
noite.
Capitulo Onze.
A menos que…
Alguém importante no governo deve ter apoiado Madigan todos esses anos
após Don demiti-lo. De que outra forma ele poderia ter pelo menos duas
instalações subterrâneas clandestinas à sua disposição, para não mencionar o
financiamento astronômico que toda a sua pesquisa experimental deve ter
custado? Então a figura misteriosa – ou figuras – por trás de Madigan se
esconderia profundamente assim que soubesse que nós tínhamos o poder de
imobilizar uma base inteira. Não, nós tínhamos que poupar nossa melhor arma
para a batalha final, quando pegarmos Madigan e as pessoas por trás dele,
não desperdiçar a surpresa na luta antes disso.
Era a única escolha lógica, mas isso não dava esperanças sobre resgatar
meus amigos vivos. Eu tentei lembrar a última vez que falei com Tate. Nós
brigamos? Possível. Nosso relacionamento tem sido tenso pelos últimos dois
anos, mas as coisas tinham começado a voltar ao normal. Eu odiava que eu
poderia nunca ter a chance de dizer a ele o que a amizade dele significava
para mim, nos tempos bons e ruins.
— Obrigada.
As palavras não foram ditas em voz alta. Ao invés disso, elas deslizaram
diretamente nos meus pensamentos como um SMS telepático. Mencheres,
com sua incrível idade e habilidades, era o único vampiro que eu conheci que
podia se comunicar dessa forma, embora ele só tenha feito isso comigo uma
vez antes.
— Exibido, — eu murmurei.
Seus lábios contraíram outra vez, mas então ele voltou a atenção para a
janela e as luzes que ela revelava quando o avião inclinou bruscamente.
— Chegamos.
do não coroado príncipe das trevas: uma mansão gigantesca que era tão linda
quanto selvagem, com varandas esculpidas e pilares próximos a torres altas e
baixas, adornadas por gárgulas. Também estava mais ocupada do que eu já vi.
Membros de sua equipe esperavam do lado de fora da estrutura de quatro
andares, apressando-se para estacionar carros à medida que os convidados
chegavam. Aquela não era a única diferença desde a minha última visita. Ao
invés de eletricidade, agora eram tochas que iluminavam o exterior. Elas
estavam postas a quase quatro metros de altura ao redor da casa, enquanto
tochas menores adornavam as muitas varandas da mansão. Eu teria dito que
aquilo era um risco de incêndio, exceto pelas habilidades do Vlad. Nada
queimava ao redor dele, a menos que ele quisesse.
Sua boca se curvou quando ele aceitou outra taça. Então seus dedos
prenderam os meus enquanto ele levantava a taça para beber. Os nós dos
meus dedos escovaram seu queixo liso enquanto ele engolia, com aqueles
olhos escuros nunca deixando os meus. Ele só me soltou após beber tudo e,
quando soltou, eu não queria que ele fizesse. Na verdade, eu estava me
perguntando onde era o nosso quarto de convidados e se nós tínhamos tempo
para escapulir antes que o casamento começasse.
Ele se inclinou, seu olhar agora tingido de verde enquanto ele colocava sua
taça vazia na bandeja de um garçom que passava, nunca desviando o olhar.
— Você vai morrer com algo mais assim que estivermos sozinhos. — Eu
sussurrei.
Aquele tom duro e baixo fez arrepios sensuais dançarem sobre mim, mas
então, atrás de nós, alguém limpou a garganta. Desde que estávamos em uma
casa cheia de vampiros, aquilo não era uma acidente.
— Não seja boba, você não está interrompendo. — Eu disse, embora meu
corpo protestasse quando eu me afastei de Bones. Então peguei uma nova
taça de Cristal do funcionário atencioso.
ao redor das propriedades de Vlad, era o único lugar grande o suficiente para
acomodar seus muitos convidados, desde que ocupava mais da metade do
terceiro andar. Havia aproximadamente duas mil pessoas aqui, ainda assim, eu
só precisaria das duas mãos para contar o número de humanos.
A noiva, Leila, e o homem velho que eu supunha que fosse seu pai, estavam
entre as raras exceções mortais. Ela ofegou quando entrou no salão, mas
aquilo poderia não ter a ver com as milhares de pessoas que se levantaram
quando ela entrou. Pode ter sido pelos pilares gigantes feitos de rosas brancas
que delimitavam seu caminho até o altar, ou os antigos candelabros queimando
com mais velas do que eu podia contar. Isso não era a melhor decoração de
Vlad, embora. Quando Leila começou a descer o corredor, o arco de metal sob
o qual Vlad estava explodiu em chamas que queimavam tanto que, quando ela
o alcançou, parecia que ele estava sob por uma cobertura de ouro.
— Wow, — eu sussurrei.
A cerimônia começou assim que Vlad pegou a mão de Leila. Acabou sendo
surpreendentemente tradicional. Mencheres entregou as alianças quando
chegou a hora, e uma morena que se parecia com Leila pegou seu buquê.
Com exceção de Vlad respondendo tanto em inglês quanto em romeno, e do
rugido que suas pessoas soltaram após ele declarar que amaria, honraria e
protegeria Leila como sua esposa, foi um casamento padrão.
Em meus trinta anos nessa terra, eu já vi e fiz mais do que a maioria das
pessoas na vida, mas eu não teria chegado tão longe se não fosse por amor.
Isso foi o chão firme sob meus pés quando tudo mais ao meu redor colapsou, e
apesar do perigo e incerteza do que estava por vir, eu sabia que seria
novamente.
Por uma fração de segundo, senti pena de Madigan. Ele só tinha ambição e
crueldade sustentando-o. Quão grande sua queda seria de um pilar tão frágil e
não confiável assim…
O longo cabelo negro do Vlad estava penteado para trás o suficiente para
exibir seu pico de viúva. O estilo rígido também enfatizava as maçãs do rosto
altas, testa forte e os incomuns olhos verdes acobreados. Ele não era
classicamente bonito como Bones, mas era impressionante de uma forma que
não podia ser ignorada. Seu manto vermelho de pele e o terno ricamente
trançado por baixo apenas somava à sua presença dominante, sem mencionar
que ele poderia espancar alguém até a morte com o gigante pendente de ouro
pendurado em seu pescoço.
Ele me abraçou, breve, mas acolhedor. — Estou contente que você veio,
Cat.
Seus lábios se curvaram para baixo quando ele olhou por cima do meu
ombro, mas tudo o que ele disse foi “Bones”, em um tom evasivo.
Rolei meus olhos. Pelo menos eles não estavam ameaçando se matar. Isso
era um progresso para o relacionamento deles.
Bones beijou sua mão enluvada, dando seus próprios parabéns. Antes que
os deixássemos, dei uma olhada para Leila e, maliciosamente, disse —
Ninguém pensou que o que você acabou de fazer pudesse ser feito, você sabe.
Você vai ganhar o apelido de A Matadora de Dragão.
Vlad me fuzilou com os olhos, mas Bones riu. Enquanto nos afastávamos,
ele se inclinou até seus lábios tocarem minha orelha.
Ela certamente poderia, se isso não fosse expô-la como uma das únicas
metamorfas do mundo. Um demônio marcou Denise com sua essência, que
virou permanente após a morte dele. Agora minha melhor amiga tem todos os
poderes que o demônio tinha, incluindo sua imortalidade e a habilidade de
mudar de forma para qualquer coisa que ela escolhesse. Ela escolheu um
dragão para assustar Heinrich Kramer quando o fantasma estava préstes a
matar Bones. Embora eu tenha visto com meus próprios olhos, parte de mim
ainda não podia acreditar que Denise tinha se transformado em uma criatura
mítica de dois andares de altura tão facilmente quanto se ela estivesse
trocando de roupa…
Excitação fez minha voz vibrar, embora eu tenha tido o cuidado de falar
apenas em um sussurro.
incomodava, mas Bones, que odiava voar até mesmo em circunstâncias boas,
estava em um humor péssimo quando finalmente pousamos em St. Louis. Foi
azar dele que Spade e Denise não estavam em sua propriedade na Inglaterra.
Teria sido uma viagem relativamente curta da Romênia até lá.
Claro, seu mau humor pode ter sido porque ele odiava meu plano. Ainda
assim, como eu disse a ele mais de uma vez no sacolejante voo de volta, se
ele tivesse uma ideia melhor, eu estava aberta a ouvir. Seu silêncio sobre o
assunto dizia muito, mas eu conhecia Bones. Ele ainda não tinha desistido de
brigar.
— Crispin, — Spade disse, referindo-se a Bones pelo seu nome real já que,
como Ian, ele o conhecia na época em que eles eram todos humanos. —Cat.
Bem-vindos.
— Você não está errado, Charles, — Bones disse, também usando o nome
de nascimento de Spade. Então ele deu batidas nas costas dele. — Mas você
precisa ouvir isso, apesar de tudo.
— Denise!
— Ela está bem, — eu disse, fazendo uma nota mental para ligar para ela
logo. — Estamos aqui por algo que meu tio começou há muito tempo atrás.
Nós contamos tudo a eles enquanto tomávamos café em sua sala de estar.
Os traços bonitos de Spade estavam congelados em linhas duras quando
terminamos.
— Ele vai causar uma guerra se tiver sucesso, — ele disse. Então ele deu
um olhar especulativo para Bones. — A resposta é sim, Crispin. Eu vou lutar
com você para impedir que a contaminação de uma interespécie jamais
aconteça.
Bones bufou. — Eu nunca duvidei disso, companheiro, mas não é por isso
que estamos aqui.
Com aquilo, eu limpei minha garganta. — Nós não podemos atacar a base
onde achamos que Madigan está fazendo suas experiências – e mantendo
nossos amigos – até sabermos quem é seu backup no governo. E não
podemos descobrir isso sem entrar na base, então isso tem sido um beco sem
saída até agora.
Embora aquela única palavra fosse suave, o impacto de poder que inundou
instantaneamente a sala era qualquer coisa menos isso.
— Então não olhe para a minha esposa desse jeito. — Foi sua resposta
instantânea.
— Sim, querida, mas você não pode entrar sozinha naquela instalação. É
muito perigoso.
Aquilo chocou Spade o suficiente para olhar para mim sem seu antigo olhar
mortal. — O quê?
Uma risada seca precedeu sua resposta. — Disposto? Não. Resignado, sim,
mas ela também não vai sozinha. Eu vou com elas.
— Sim, com o exército mais forte que ele puder reunir para capturar você, —
Bones disse, suas emoções queimando através das minhas com a intensidade
de relâmpagos. — Eu preciso te lembrar que da última vez em que você
encontrou um adversário nos termos dele, você foi baleada e quase queimada
até a morte?
Por reflexo, corri uma mão pelo meu cabelo. Mesmo com as habilidades
vampíricas de cura, ele ainda não tinha crescido até o comprimento que estava
na noite em que Kramer colocou fogo em mim.
— Mas quem está aqui e quem está preso em uma armadilha de fantasmas?
— Eu rebati. — Se o fantasma mais poderoso da história não pôde me matar,
então o maior imbecil da humanidade não tem nem chance.
Então a pessoa que eu menos esperava que ficasse do meu lado entrou na
cozinha, usando nada além de um lençol ao redor do quadril.
— Por que você se incomoda, Crispin? Você se casou com uma lutadora,
então pare de tentar convencê-la de que ficar só observando é melhor para ela.
— O dia em que você amar alguém além de si, é o dia em que eu aceitarei
conselhos conjugais de você, Ian. — Bones respondeu em um tom gélido.
O queixo de Denise caiu, ou pela descrição menos que lisonjeira que Ian
deu de nós, ou pela noção de que eu matei mais pessoas que ele. A expressão
de Spade agora estava dura, mas um músculo se contraía no queixo de Bones
– a única indicação dos seus sentimentos, já que ele cobriu sua aura sob uma
nuvem impenetrável.
— Foi você que me ensinou a julgar as pessoas pelas suas ações, ao invés
de por suas espécies. Você me salvou de uma vida de sofrimento,
arrependimento e recriminações merecidas. Agora é hora de me deixar fazer
aquilo em que sou boa, Bones — Eu sorri com ironia — e confiar que você me
ensinou a ser a melhor maldita assassina que eu poderia ser.
Ele cobriu minhas mãos com as dele, sua carne vibrando com o poder que
ele manteve tão firmemente sob controle. Então ele me beijou, gentilmente,
embora cheio de paixão ardente.
E foi por isso que, quando ele se afastou e falou, eu não pude acreditar no
que ele disse.
— Você está certa, amor. Mas eu ainda me recuso a ser parte disso.
N ão era a primeira vez que Bones ficava puto o suficiente para se afastar
Apontei para o gin. Ela entrou, entregando-o. Então ela sentou perto de mim
na cama e abriu a tampa do sorvete, atacando-o ela mesma.
— Claro que ele vai voltar, — ela disse entre colheradas. — Mas você está,
você sabe, bem, nesse meio tempo?
Dei tapinhas em seu braço, tomando um último gole de gin antes de colocar
a garrafa no criado mudo. Então peguei meu celular pré-pago descartável,
discando um número que costumava me conectar com meu tio quando ele
estava vivo.
Dei uma risada curta. — Humor nunca foi seu ponto forte, Jason. Quero
dizer pessoalmente, e quanto antes, melhor.
— Venha aqui, então. Você sabe onde eu estou. — Foi sua resposta.
Dessa vez, seu silêncio se estendeu por mais que dois batimentos
cardíacos. Provavelmente tentando descobrir como eu sabia sobre as armas.
— Hoje, à meia noite, no Píer Rat Branch do Lago Watauga. É bem ao leste
de Hampton, Tennesse. Vá sozinho, e eu farei o mesmo.
Risadas flutuaram através da linha, ásperas como vidro triturado por rochas.
— Você fará o mesmo? Nós dois sabemos que Bones está olhando sobre o
seu ombro nesse instante, silenciosamente jurando acompanhar você.
— Isso me intriga, Crawfield, mas eu não acho que te darei uma chance de
me matar. Você quer conversar? Venha até mim, aqui.
O som que ele fez foi muito baixo para que eu pudesse determinar se era de
desdém ou uma risada.
O píer Rat Branch, no Lago Watauga, era um lugar público, ainda assim,
mesmo que eu tivesse escolhido a tarde, ao invés de a meia noite para o nosso
encontro, ainda seria muito isolado. Mais da metade dos quase vinte e seis
quilômetros de margem do lago era cercado pela Floresta Nacional Cherokee,
enquanto uma estrada serpenteada, oculta por um terreno íngreme e
arborizado contornava o outro lado. Apenas a lua provia iluminação, já que o
único poste de luz perto do píer estava quebrado.
Fresco.
Ele saiu do carro, segurando o guarda-chuva sobre ele com uma mão e
carregando uma pequena, mas poderosa, lanterna na outra. Seus passos
estavam firmes enquanto ele caminhava no píer, e quando ele virou a esquina
em direção ao final, sua lanterna me cegou brevemente quando ele iluminou
meu rosto. Acho que ele sabia onde eu estava esperando o tempo todo.
Sua boca ficou tensa, enfatizando rugas causadas por carrancas ao invés de
sorrisos.
Meu meio sorriso nunca desapareceu. — Se você soubesse onde ela está,
eu acreditaria nisso.
Seu olhar deslizou sobre mim, frio e calculista. — Você é cuidadosa. Ela
não. Você pode acreditar que ela voltou para a sua casa de infância em Ohio,
como se eu não tivesse colocado o lugar sob vigilância desde que você o
visitou no outono passado? Sentimentalismo pode ser uma maldição, não é?
Eu não sabia quem eu queria sufocar mais; Madigan por sua ameaça, ou
minha mãe, por voltar a um lugar que ela sabia que tinha sido comprometido.
Espere, não há dúvidas. Madigan, mas eu não podia. Não ainda.
Eu dei uma risada curta. — Você é esperto, eu admito, mas eu não tenho
intenção de te matar essa noite.
— Não, não acho. — Então sorri torto para ele. — Ainda assim, tinha que
tentar, certo?
Madigan não lutou. Ele nem mesmo pareceu surpreso, embora você poderia
ter me derrubado com uma pena pelo súbito aparecimento do meu marido.
Então ergui a cabeça quando barulhos dispararam através das árvores, céu
e até mesmo da água ao redor do píer.
Madigan conseguiu dar um sorriso, apesar do firme aperto que Bones tinha
nele.
Se ele disse algo mais, eu não ouvi. O som de tiros das metralhadoras era
muito alto.
Capitulo Quatorze.
rápido do que eu podia voar para fora de alcance. Ser baleada várias vezes
machuca, mas a dor desaparecia rapidamente, o que significa que as balas
não eram de prata.
Então um novo bombardeio fez meu estômago se apertar. Ele não podia
estar ainda no píer, podia?
Eu mergulhei com tudo para baixo, como um falcão perseguindo uma presa.
À medida que eu atravessava camada atrás de camada de nuvens opacas de
tempestade, a cena abaixo finalmente se tornava visível. Soldados lotavam o
píer, vindos da floresta, barcos no lago e carros que cantavam pneu até o cais.
Todos com armas automáticas, que cuspiam balas no único vampiro de joelhos
no final do píer.
Mas ele não voou. Ao invés disso, ele caiu para frente, seu corpo
desmoronando contra as ásperas tábuas de madeira. Então, o único
movimento que eu via eram suas roupas rasgando enquanto balas
continuavam a metralhá-lo impiedosamente.
Eu pousei ao lado dele com tanta força que metade do meu corpo
atravessou o píer. Só me levou um segundo para levantar e me jogar em cima
dele, feliz que as alfinetas geladas e quentes de dor significavam que as balas
estavam perfurando a mim, ao invés dele. Então, sobre o som dos tiros, eu ouvi
um grito.
— Cessar fogo!
Não.
Esse era o único pensamento que minha mente era capaz de produzir
enquanto linhas negras começavam a aparecer por toda a sua pele,
ziguezagueando e se dividindo em novos e impiedosos caminhos. Eu vi a
mesma coisa acontecer com incontáveis vampiros antes, normalmente depois
de torcer uma faca de prata em seus corações, mas negação tornou impossível
para eu acreditar que o mesmo estava acontecendo com Bones. Ele não podia
estar lentamente murchando sob meus olhos, a morte verdadeira mudando sua
jovem aparência em algo que lembrava cerâmica de barro cozida por muito
tempo em um forno.
Outro grito rasgou seu caminho para fora de mim quando a pele de Bones
rachou sob minhas mãos antes de cair em camadas nas tábuas. Frenética, eu
tentei colocá-las de volta, mas mais pele começou a descamar, mais rápido do
que eu podia segurar tudo junto. Músculo e osso apareciam sob aqueles
amplos espaços, até seu rosto, pescoço e braços lembrarem uma fatia de
carne exposta. Mas o que rasgou através de mim como um fogo que nunca
pararia de queimar foram seus olhos. Aquelas esferas castanho-escuras que
eu amava se afundaram em suas cavidades, virando uma gosma. Meu grito,
agudo e agonizante, substituiu os sons de soldados se posicionando ao meu
redor.
Eu não tentei impedi-los. Eu sentei lá, agarrando com ambas as mãos o que
agora parecia couro ressecado, até que tudo o que eu pude ver sob as roupas
rasgadas por balas de Bones era uma casca pálida e encolhida. Vagamente
ouvi Madigan gritar “Eu disse sem munição de prata! Quem diabos disparou
aquela carga?” antes que tudo desaparecesse, exceto a dor irradiando através
de mim. Ela fazia a agonia que eu senti quando quase queimei até a morte
parecer uma memória feliz. Aquela apenas destruiu minha carne, mas essa
rasgou através da minha alma, pegando cada emoção e triturando-as com um
conhecimento que era muito horrível para suportar.
Bones se foi. Ele morreu bem diante dos meus olhos porque eu insisti em
pegar Madigan do meu jeito. Eu merecia tudo o que recebesse do burocrata
distorcido por levar meu amado marido à morte.
Partes ásperas de crânio esfregaram em mim onde deveria haver pele lisa e
suave – outra bola de demolição em minhas emoções da qual eu nunca me
recuperaria.
Anos atrás, Bones me fez prometer seguir em frente se ele fosse morto. Eu
prometi, entretanto agora eu estava voltando atrás com aquela promessa. A
morte era a minha única chance de me reunir com ele. Eu não a perderia por
nada.
— Espere por mim, — Eu sussurrei, minha voz quebrando com outro soluço.
— Estarei aí logo.
armados apontavam suas armas para mim. Por incrível que pareça, seus
pensamentos estavam mudos por trás de um estático ruído de fundo que seus
capacetes emitiam. Apesar da grossa blindagem, o veículo poderia ter se
passado por um caminhão de mudanças, de tão simples que era o interior. Ele
também não tinha janelas, mas pela duração da viagem, nosso destino não era
a base de Madigan no Tennesse. Eu não tinha certeza de onde estávamos
indo, mas pelos pensamentos que captei, tínhamos um comboio armado nos
escoltando por todo o caminho.
Ele era sábio por temer isso. A única coisa mais apelativa para mim do que o
pensamento da minha própria morte era levar Madigan e seus soldados
comigo. De fato, agora que eu tive várias horas para processar tudo, eu estava
me chutando por deixar Madigan me prender em tantas amarras, além de uma
rede de prata completa com lâminas. Eu poderia ter morrido lá no píer mesmo,
em uma chuva de balas após rasgar a garganta dele e dançar sobre seus
restos mortais.
Nenhum dos meus guardas olhou para cima. Eles não podiam ouvi-lo, então
quando eu disse “Não faça nada. Vá para casa,” várias cabeças em capacetes
se viraram em minha direção antes de olhar em volta cuidadosamente.
Fabian voou para perto, até eu poder ver a determinação em seus olhos
azuis pálidos.
— Cat—!
Sua voz foi cortada quando eu fui levada para dentro do iglu de concreto e
uma porta escondida fechou a entrada. Meu carrinho de bagagem equipado
com laser balançou enquanto algo metálico se prendia às suas rodas. Em
seguida, quatro curtos postes em formato de T levantaram do chão de
concreto. Os guardas seguraram neles quando o chão começou a vibrar,
fazendo com que o lixo antigo preso a ele tremesse, antes de abruptamente
cair abaixo de nós.
Paredes cobertas de graffiti foram substituídas por aço liso à medida que
nós despencávamos a mais de vinte quilômetros por hora. Minha rede de prata
ficou suspensa brevemente pela velocidade, apenas para bater de volta em
mim quando paramos abruptamente alguns minutos depois. Então a porta se
abriu, revelando uma grande sala com dúzias de estações de trabalho, gráficos
de segurança 3-D dos arredores da área de vida selvagem, assim como desse
complexo, e guardas de capacete rondando como Tropas de Assalto*.
Eu olhei em volta, mas não o vi, e houve uma característica metálica em sua
voz. Deve estar dando ordens via interfone. Mais uma vez, eu me chutei por
não tê-lo matado quando tive chance, mas eu vou retificar isso na minha
próxima oportunidade. Então eu fui levada para fora do que eu supunha que
fosse o centro de comando e arrastada por um longo corredor. As botas da
minha escolta armada faziam barulhos em ritmo estacado no chão de azulejo
enquanto me guiavam por duas direitas e uma esquerda antes de me levar
para a entrada do que parecia a ala hospitalar de uma prisão.
Ele também usava um capacete completo com visor, mas o dele não emitia
o barulho que embaralhava pensamentos que os dos meus captores emitiam.
Para constar, nem os de nenhum guarda de capacete aqui. Deve ser uma
tecnologia de elite que apenas as unidades táticas têm.
— Rato fodido, — o guarda murmurou. Então sua cabeça se virou para mim.
— Por que você não matou aquilo? — Ele exigiu em um tom acusador.
Ele pensou que eu fosse me desculpar por não ser uma boa exterminadora?
Mesmo se eu não estivesse muito sobrecarregada com o luto para notar, por
que eu me importaria se um roedor pegou carona na traseira do vão em que eu
estava sendo sequestrada…
Era Denise.
Capitulo Quinze.
Desde a primeira vez que o vi, Tate manteve seu cabelo castanho em um
corte militar, uma homenagem aos seus dias de sargento das Forças
Especiais. Agora estava com centímetros de comprimento, e a metade inferior
do seu rosto estava sombreada por uma barba grossa, enfatizando sua
expressão assombrada. Na cela ao lado dele estava Juan, sua massa de
cabelos negros agora passando dos ombros e sua pele parecendo pálida até
mesmo para um vampiro. Dave estava na cela ao lado dele, parecendo
igualmente desgrenhado e pálido, mas foi a mudança de Cooper, na penúltima
cela, que me fez arfar.
Ele perdeu pelo menos quinze quilos, transformando sua estrutura muscular
em algo esquelético. Seu corte de cabelo normalmente curto agora lembrava
um Black Power e sua pele café com leite agora tinha um doentio tom de azul.
Levou-me um segundo para perceber que aquilo vinha de vastos hematomas,
particularmente destacados em seus pulsos, mãos e nas dobras dos seus
braços.
E com Denise aqui, agora eu tinha uma chance melhor de ter sucesso.
Como nenhum dos meus amigos olhou para cima quando passei, eles não
devem ser capazes de ver do lado de fora das suas celas de vidro. Minha
suspeita se provou correta quando um dos meus guardas disse “Abram a Cela
Oito” e então meu carrinho foi empurrado para dentro sem cerimônias. Quando
as portas de vidro fecharam, tudo o que eu vi foi meu próprio reflexo sob uma
pilha de rede de prata cheia de lâminas.
Tentei erguer a cabeça, mas ela também estava presa. Então eu estendi
minha mente. A maioria dos pensamentos veio de forma aleatória, como ouvir
rádio enquanto se percorre os canais, mas o de uma pessoa veio claramente, e
ela estava nessa sala.
Então uma mulher na faixa dos quarenta apareceu em minha limitada linha
de visão, quase todo seu cabelo, exceto alguns fios loiros e grisalhos, estavam
escondidos por uma touca médica. Suas expressões estavam controladas em
uma máscara educada, e seus pálidos olhos verdes tinham o distanciamento
clínico que todos os doutores aperfeiçoavam.
Não se incomode com controle de mente. Ela pensou para mim. Eu estou
inoculada.
Ela sequer piscou. — Você só aprende da forma difícil, não é? — Ela disse
em voz alta.
Um dar de ombros tímido que a colocou logo após Madigan em minha lista
negra. — O vampiro morto? No freezer. — Com o resto deles, seus
pensamentos terminaram.
Nada sequer se moveu. Madigan não poupou gastos construindo uma mesa
de exames a prova de vampiro.
— Agora que você tirou isso do seu sistema, — a voz da médica disse
secamente — quer um pouco de comida?
Ela voltou para a minha linha de visão, segurando uma bolsa de sangue com
um longo tubo sobre mim. Eu dei um olhar breve e calculado para os seus
dedos. Muito longe para mordê-los. Claramente, eu não era a sua primeira
prisioneira.
Desde que eu me sentia mais fraca que um bebê vampiro no nascer do sol,
peguei a ponta do tubo entre meus lábios e tomei um longo gole. Então fiz
careta.
Ela estava certa; eu estava tão faminta que doía, mas para mim, aquilo não
era comida.
Sua testa enrugou, aprofundado as linhas finas que já eram visíveis. — Mas
você é uma vampira.
Com aquilo, sua expressão voltou a ser tranquilamente clínica. — Você não
é a minha primeira criança problemática. Se você recusar o sangue oralmente,
ele será injetado em você. Diretor Madigan ordenou um extensivo trabalho de
laboratório assim que você estiver reidratada.
Aposto que sim. — Estou certa de que Madigan te disse que eu era um caso
especial, mas ele não sabe tanto quanto pensa. Como o fato de que eu bebo
sangue vampiro, não humano.
Eu não sabia quando Denise agiria, mas se Tate ou Juan estiverem fora de
suas celas quando ela fizer, muito melhor. Agora era ter esperanças de que
Madigan acreditasse em minhas necessidades dietéticas incomuns.
Dr. Óbvia me encarou por tempo suficiente para fazer alguém normal se
contorcer ou abrir o bico em uma confissão. Eu não fiz nenhum dos dois. A pior
coisa em minha vida já tinha acontecido, então, além de luto e ódio assassino,
o resto de mim estava entorpecido.
Fechei meus olhos contra o brilho das luzes acima. Eu não tinha nada a
fazer exceto esperar, mas, logo, eu estaria pronta para matar.
Cerca de uma hora depois, várias pessoas entraram na sala, a julgar pelo
barulho e dilúvio de pensamentos. Tentei erguer a cabeça novamente, e tudo o
que consegui foi cortar minha cabeça com a tira de metal, fundo o suficiente
para tirar sangue. Eu não tive que esperar muito para descobrir quem eram
meus visitantes, entretanto. Duas vozes se sobressaíram entre os outros sons,
ambas familiares, mas apenas uma bem-vinda.
— Cat.
Um ofego aflito de Tate, seguido pelo “Se isso é um truque, você vai se
arrepender, Crawfield.” de Madigan.
— Não mais, mas isso é culpa sua. Você jurou pela vida do Bones que iria
sozinha, e não foi.
Você vai se libertar, e vai matá-lo. Eu jurei. Até lá, o fato de Madigan se
sentir presunçosamente superior apenas ajudaria. Assim ele estaria mais
propenso a cometer um erro.
— Posso ser colocada na vertical primeiro? Qual é, eu sei que você gastou
uma nota por esse recurso nessa mesa de exame extra chique.
Sua boca estava firme em uma linha fina, mas aqueles olhos azul-escuros
começaram a encher com lágrimas coloridas.
Tate bufou com uma risada cansada. — Você não sabe a metade do que ele
fez.
Eu não respondi. Primeiro, minha boca estava cheia, segundo, eu não podia
arriscar dizer a ele sobre Denise. A amarra em seu pescoço poderia ter um
microfone, além dos outros dispositivos.
Então ele sussurrou algo mais que fez minha garganta fechar apesar da
exigência inconsciente da minha fome.
Você quer matar os bastardos, Kitten? Você vai precisar da sua força, então
pare de choramingar e beba.
Ele estava certo. Ele quase sempre estava, e eu raramente ouvia. Eu ouviria
agora, entretanto. Para provar minha decisão, mordi o pescoço do Tate
novamente, mas eu encarava Madigan enquanto engolia.
Outro pensamento sombrio me ocorreu. Ela pode não estar esperando por
nada. Talvez o rato que eu vi tenha sido só isso… um rato que se escondeu
nas roupas de Bones para escapar de um bombardeio e então correu na
primeira chance que teve. Não minha melhor amiga transmorfa disfarçada.
Se for assim, eu não estava simplesmente por conta própria. Eu estava nua,
amarrada a uma mesa e incapaz de libertar a mim, que dirá Tate, Juan, Dave e
Cooper. Ou fazer Madigan pagar pelo que ele fez. Inferno, eu não podia sequer
impedir Dr. Óbvia de enfiar outra agulha na minha jugular, para extrair mais
sangue.
Sangue.
Esperei até Dr. Óbvia terminar sua última extração e desaparecer no outro
lado da sala antes de começar na menor amarra. A que prendia minha cabeça.
Eu não movi um único músculo enquanto tentava abri-la, ao invés disso, foquei
toda a minha concentração em imaginar a amarra se abrindo.
Nada.
Tudo bem, eu não consegui na primeira tentativa. Quando foi que algo
importante foi fácil? Fechei os olhos e me concentrei outra vez, tentando forçar
a amarra a se abrir com a força dos meus pensamentos. Mais um pouco, mais
um pouco, ok, outra vez e deve dar certo…
Ainda nada.
Elas não quebraram. Eu não senti nada quebrar, vibrar, não senti nada
exceto o metal frio contra a minha testa e minha raiva aumentando pelo fato de
Madigan poder ter ganhado, afinal.
Maldição, eu posso não merecer derrotá-lo, mas ele merece perder! E Bones
merece algo também. Ele estava naquele píer porque estava tentando me
proteger, então a última coisa que ele iria querer seria eu presa nessa mesa
como o último rato de laboratório do Madigan. Ele iria me querer de pé e
soltando o inferno sobre todos que ajudaram a prender seu povo, que o
mataram e que me enfiaram nesse laboratório subterrâneo distorcido –
especialmente o imbecil que orquestrou tudo isso. Se Bones estivesse aqui, ele
me mandaria parar de tentar abrir minha amarra e fazer a coisa voar pela
maldita sala e chicotear a Dr. Óbvia bem entre-
Click.
Ela não teria a chance de terminar suas descobertas. Raiva sempre foi o
catalisador para as minhas habilidades, mas em meu luto paralisante, eu
esqueci isso. Que apropriado que a memória do Bones tenha me lembrado.
Agora tudo o que eu tinha que fazer era deixar minha raiva fluir, e considerando
tudo o que aconteceu, essa parte era fácil.
D epois de esmagar sua laringe, tirei o jaleco da finada Dr. Óbvia e o vesti.
Não porque eu achei que fosse enganar alguém fingindo trabalhar aqui, mas
porque há algo de perturbador em andar por aí completamente nua em uma
orgia assassina. Então vasculhei a sala em busca de armas, totalmente ciente
de que eu só tinha alguns instantes. Como cada lugar nessa instalação, havia
câmeras de segurança. Como previsto, logo o som de um alarme disparou. Eu
só consegui encontrar duas pistolas semiautomáticas e dois pentes extras, o
que não era muito, mas teria que servir.
Então eu voei pelas portas logo antes de elas fecharem e barras grossas
deslizarem do marco em algum tipo de confinamento automático. No corredor,
eu corri em direção ao grupo de pensamentos se aproximando de mim, ao
invés de para longe dele. Assim que os soldados dobraram a esquina, eu me
joguei para frente, caindo de barriga no chão de azulejo com força suficiente
para quebrar minhas costelas. A dor foi brutal e instantânea, mas os tiros deles
passaram por cima da minha cabeça. Mantive meus braços esticados enquanto
o impulso, e o chão liso, me faziam deslizar para frente enquanto eu atirava até
as duas armas estarem descarregadas.
Coloquei minhas pistolas nos bolsos, junto com os pentes extras. Então
peguei tantos rifles quanto podia carregar.
E esse, pelo menos, não era vigiado ou equipado com portas que fechavam
automaticamente.
Aquilo foi seguido por uma resposta que eu não escutei, quando tive que me
esquivar de outra sessão de tiros. Eu me abriguei atrás de um suporte de aço,
permanecendo abaixada enquanto atirava de volta. Com a distância, e fumaça
de todo o tiroteio, eu não tive nem de longe a mesma taxa de sucesso. Apenas
um terço dos guardas caiu com seus visores estilhaçados, e eu ouvi mais
reforço chegando.
Então uma granada foi lançada na minha direção. Eu a chutei para longe
uma fração de segundo antes que ela explodisse. Não era uma granada de
concussão amplificada, como eles usaram no píer, mas ela tinha estilhaços de
prata. Eles devem estar ficando impacientes. Gastei alguns minutos
angustiantes atirando cegamente enquanto meus olhos se curavam, e quando
minha visão estava restaurada, para meu desânimo, vi que a barreira de aço
sobre a cela dos meus amigos ainda estava intacta, apesar de eu ter esvaziado
dois pentes inteiros no chão.
Madigan.
Meus dedos apertaram o M-4 mesmo que ele tenha sido disparado o
suficiente para deixar o metal causticante. Parece que eu não vou conseguir
libertar meus amigos, mas ainda havia algo que eu poderia fazer.
Isso não era um escritório comum. Com sua falta de móveis ou utensílio,
além de suas paredes e portas de aço incrivelmente grossas, isso só podia ser
um quarto do pânico. A única saída era para baixo, e uma olhada no buraco
que eu fiz me mostrou quase uma dúzia de guardas com armas apontadas
diretamente para mim.
Verdade. Mas quando eu falei, eu não disse “eu me rendo.” Ao invés disso,
eu disse outras três palavras.
— Vá se foder.
Então fiquei tensa, pronta para atacar e levar comigo tantos deles quanto eu
pudesse, quando uma voz frenética estourou pelo sistema deles.
Denise estava aqui, e pelos gritos que vieram do outro lado da transmissão,
ele estava seriamente chutando traseiros.
Eu não sabia quem era esse outro “hostil”, mas eu conhecia uma boa
distração quando via uma. Eu me lancei para cima e colei no teto para
maximizar a velocidade enquanto me lançava nos guardas. O impacto matou
dois ali mesmo, mas os outros abriram fogo. Puxei um dos guardas mortos
para cima de mim, usando-o como escudo enquanto eu me arremessava para
o resto, quebrando tornozelos, e então pescoços, quando eles caíam.
Eu repeti aquilo até que nada ao meu redor se movesse. Então joguei
corpos no buraco para impedir que mais balas entrassem no quarto e
ricocheteassem nas paredes de metal. Quando aquilo estava feito, eu soltei um
uivo de vitória que terminou quando eu percebi que eu venci, mas eu ainda não
podia sair do quarto a menos que alguém abrisse a porta.
Talvez eu pudesse conseguir alguém para fazer isso. Dominada pela ideia,
agarrei o guarda morto mais próximo e falei no seu sistema de comunicação.
— Denise, — eu gritei. — Você tem que achar um jeito de abrir essa porta!
Mas não foi isso o que me fez congelar, meu M-4 parado no ar. Foi a coisa
do outro lado da porta. Cabelo branco emoldurava um rosto que mostrava mais
crânio que pele, exceto por um conjunto de olhos que ardiam em esmeralda.
Roupas esburacadas por balas se penduravam em um corpo que parecia couro
velho e carne murcha envolvendo ossos. Quando aquilo mostrou os dentes em
uma horrível versão de sorriso, eu recuei instintivamente.
— Olá… Kitten.
Capitulo Dezoito.
M ais tarde, eu ficaria envergonhada por não correr para os braços dele
Bones não teve a mesma hesitação que eu, ele também não tinha mais de
sessenta por cento da sua carne, mas esse era o ponto. Ele agarrou meu braço
e me arrancou do quarto do pânico, empurrando-me pelo corredor. Eu o deixei
me conduzir, ainda tentando acreditar que ele estava aqui, sem falar no estado
em que estava. Corpos de guardas lotavam o corredor, suas cabeças quase
todas arrancadas e suas poças de sangue me fazendo escorregar uma ou
duas vezes enquanto corríamos. Luzes vermelhas brilhavam e alarmes
disparavam, mas nós não encontramos mais guardas. E se essa sessão tinha
funcionários, eles haviam evadido há muito tempo.
Então uma porta dupla grande bloqueou nosso caminho para a próxima
sessão. Pela estação de segurança vazia, o guarda da entrada deve ter
abandonado seu posto, e pela pequena tela de monitoramento, eu não vi
nenhum na próxima sala, também.
Eu o agarrei e tentei voar, pretendendo nos lançar através do teto para uma
sessão que não estivesse prestes a ser grelhada, mas ele plantou os pés e não
se permitiu ser movido. Como ele conseguiu fazer aquilo, enquanto parecia um
figurante de A Noite dos Mortos Vivos estava além da minha imaginação, ainda
assim, eu poderia muito bem tentar levantar uma montanha, que daria no
mesmo.
Bones ainda não se moveu. Se eu voasse sem ele, eu poderia escapar, mas
eu preferia morrer a fazer isso. Parecendo uma aberração ou não, esse era o
Bones, e meu lugar era ao lado dele, na vida ou na morte. Joguei meus braços
ao redor dele e fechei os olhos, esperando que o fogo fosse tão intenso que
isso fosse ser rápido-
— Você usou seu poder para sabotar a máquina incineradora deles antes
que ela pudesse fritar esse andar, e ela explodiu no lugar em que está
instalada.
Fale sobre combater fogo com fogo. Ou com telecinese, nesse caso.
Quando foi que Bones ficou tão poderoso assim? Uma pergunta melhor, como
ele poderia estar tão poderoso, nas condições em que estava?
Falar estava claramente difícil para ele, mas suas habilidades estavam em
níveis chocantes, a julgar pelo que ele fez.
— Todas… elas.
Ele não abriu apenas essas portas. Ele abriu todas as portas na instalação,
incluindo aquelas que mantinham prisioneiros mortos-vivos em suas celas.
Pelos sons, Tate, Juan, Dave e Cooper estavam lidando bem com a situação
deles, mas mais guardas podiam estar indo para eles.
Ele podia estar sem metade da pele do rosto, mas ele não teve problema
algum em fazer uma expressão de “Você está de sacanagem comigo?
— Pode haver uma luta, e você parece como se um olhar feio pudesse
arrancar um membro seu, — eu disse, exasperada.
Algo bateu nas minhas costas. Eu virei, já atirando, mas o que bateu em
mim foi uma cabeça decepada – nojento, mas não perigoso. Então outra
cabeça veio em minha direção, como se fosse uma bola de boliche, e minhas
pernas fossem os pinos. Eu desviei, mas ela virou no ar e me acertou na
bunda.
Acho que eu devia ter adivinhado quem matou todos aqueles guardas, pra
começo de conversa, embora, Bones parecia tão podre que a única ameaça
que alguém temeria dele seria fazer a pessoa perder o apetite…
Aquilo me atingiu, então. Tudo isso. Talvez fosse óbvio desde o momento
em que ele quebrou a porta do quarto do pânico, mas o choque me impediu de
ligar as peças. Agora eu sabia como ele ainda estava vivo, embora eu o tenha
visto morrer, e o porquê de ele estar nessas condições.
E se não fosse arrancar um montão da sua carne, eu o teria socado direto
no rosto.
— Cat!
Minha felicidade ao vê-la dissolveu quando notei que ela não parecia nem
um pouco surpresa em ver Bones vivo, ou nas condições em que ele estava.
Eu era a única que não sabia o plano real por trás do meu encontro com
Madigan no píer?
Eu olhei para Bones e Denise antes de falar. — A maior parte disso não foi
minha culpa dessa vez.
Então eu passei por cima de outra forma caída enquanto entrava no que
parecia um centro cirúrgico. Havia equipamentos médicos pendurados no teto
em vários lugares, enquanto bisturis, cerras de osso e outros instrumentos
afiados repousavam em uma mesa próxima a uma chapa de metal com
amarras. A mesa estava vazia, mas a máquina tubular do outro lado da sala
não estava. Tate estava nela, tubos saindo de toda parte dele, enquanto Juan e
Cooper estavam de pé perto de um painel de controle.
Dave começou a responder, então olhou sobre meu ombro. Denise e Bones
estavam atrás de mim, e eu não sabia dizer qual dos dois o chocou mais.
— Eles já vão terminar de tirar, não foi tão profundo. — Dave continuou.
Ele me deu um olhar sombrio. — Eles aprenderam após a muitas vezes que
ela foi usada para tirar a prata deles.
Tate resmungou algo que soava como o meu nome, mas sua voz mal estava
audível sobre os barulhos que a máquina fazia.
— Não você, querida, — Juan disse, olhando em volta antes de apertar mais
botões. — Katie. Ela correu quando as celas abriram. Você a viu?
Eu recuei. Que terrível se alguém trouxe a filha para o trabalho logo hoje…
espere.
Denise odiava matar, e eu não podia deixar alguma pobre criança vagando,
apesar de nós não podermos gastar tempo procurado por ela. Nós já gastamos
muito tempo aqui.
Dave agarrou Denise antes que ela pudesse sair. — Não tente forçá-la se
ela não quiser ir com você.
— Não é isso-
— Madigan.
A voz grossa do Bones cortou o que quer que Dave estivesse prestes a
dizer. Todos nós viramos, exceto Denise, que partiu com velocidade
sobrenatural.
— Onde?
Capitulo Dezenove.
*Comida rápida.
Mantive meus olhos atentos, já que ainda podia haver soldados nos
corredores, esperando para nos emboscar; mas eu também não conseguia
parar de observar o Bones. A cada cadáver que ele bebia, seu corpo
aumentava, e pele nova crescia de volta para cobri-lo. Logo, todos os buracos
horríveis foram cobertos e músculos se destacavam onde antes estavam
murchos, por baixo das roupas. Era como observar um vampiro murchar ao
inverso enquanto juventude e vitalidade sobrepunham todos os vestígios da
sua aparência frágil. Se não fosse pelo seu abundante cabelo cacheado ainda
estar branco, ele pareceria exatamente o mesmo de antes.
Aquela não era a única mudança incrível. Enquanto seu corpo regenerava,
sua aura também, até o ar ao redor dele ficar carregado com ondas pulsantes.
Sentir sua conexão comigo novamente foi um alívio quase tão grande quanto
ver seu corpo se restaurar.
— Se você podia se regenerar tão rápido assim, por que não bebeu sangue
mais cedo? — Não pude evitar perguntar.
Era a voz dele novamente, aquele sotaque britânico tão suave quanto
sempre, embora seu tom estivesse afiado com algo que eu não conseguia
descobrir o que era.
— Você drenou mais de uma dúzia de guardas sem quase diminuir o passo,
— Eu apontei.
Ele olhou para mim, seu olhar castanho-escuro tão carinhoso quanto
frustrado.
Eu não sabia como responder àquilo. Eu ainda estava soltando fumaça por
ele pregar a peça mais cruel possível, mas, por baixo daquilo, eu estava tão
feliz por ele estar vivo que eu queria abraçá-lo e nunca mais soltar. Talvez a
vontade de estrangulá-lo com uma mão enquanto o acaricio com a outra seja
como eu fiz Bones se sentir por todos esses anos. Se fosse assim, então você
podia dizer que eu mereci isso.
Eu balancei a cabeça, dividida entre respeito e irritação. Ele não evoluiu para
habilidades de Mega Mestre durante a noite, o que significava somente uma
coisa: Ele vem escondendo de mim o aumento dos seus poderes.
Nós fomos em direção a ele. Em meio aos gemidos dos funcionários feridos,
e dos pensamentos nervosos daqueles tentando se esconder, captei um
conjunto de barulhos de estática. No início, pensei que vinha dos sistemas
elétricos danificados na base; então percebi que aquilo soava familiar. Onde eu
ouvi aquilo antes…?
Puxei Bones para trás antes que ele pudesse dar outro passo. Guardas, eu
gesticulei, apontando para o teto, cerca de dez metros à frente.
— Morram, monstros!
Duas coisas aconteceram ao mesmo tempo. A arma voou para fora da mão
do funcionário, e seu pescoço quebrou com um crack audível. Ele tombou sem
outro pensamento, mas minha mente estava longe de estar em silêncio. O
atirador era a única pessoa visível, mas a sala não estava vazia.
— Saiam.
Choros soaram quando o gabinete foi empurrado de lado, revelando um
espaço oculto. Várias pessoas feridas estavam escoradas na parede, e meu
coração ficou apertado quando vi uma mulher agachada protetoramente sobre
um homem inconsciente e ensanguentado. A julgar por suas roupas casuais,
eles eram funcionários, não guardas ou doutores, e seus pensamentos
revelavam que todos eles estavam convictos que estavam prestes a morrer
pelas mãos – e presas – de dois monstros impiedosos.
Uma vez, não muito tempo atrás, eu me senti da mesma forma a respeito
dos vampiros. Apesar do fato de que todos eles me matariam, se tivessem a
chance, eu me inclinei para o Bones e toquei seu braço.
Sua boca se curvou, não no sorriso cruel que ele mostrou quando abateu os
guardas no teto, mas algo provocador.
Então seu olhar brilhou em um verde intenso enquanto ele voltava sua
atenção aos espectadores aterrorizados.
Eu me inclinei para eles, feliz por ouvir seus batimentos voltarem a um ritmo
normal enquanto o poder dele os convencia de que eles não seriam mortos ali
mesmo. Então eu examinei os de pé e os feridos. O homem que nós
procurávamos não estava entre eles, mas ele estava aqui. Eu podia ouvir seus
pensamentos, para não mencionar sua respiração pesada.
O que eu não esperava era a pistola Desert Eagle que ele pressionava na
têmpora.
— Era pra isso ser uma ameaça? Você perdeu a parte em que nós
queremos você morto?
Pra variar, ele não cantava nada em sua mente, então eu ouvi alto e claro
quando ele pensou Provoque-me e veja, Crawfield.
Eu encarei seus olhos azuis brilhantes e soube que ele não estava blefando.
Se nós sequer nos mexermos, ele puxará o gatilho, e o poder daquela pistola
explodiria o seu crânio para o além. Ele sabia algo que eu não podia descobrir
acessando os computadores daqui? Talvez, e talvez nós nem conseguíssemos
acessar os computadores.
Sem um único pensamento para nos alertar, sua mandíbula rangeu. Bones
disparou para ele, enterrando os dedos na boca do Madigan, mas era muito
tarde. Espuma escorria pelos lábios de Madigan, e seus olhos rolaram para
trás. Então seu corpo todo começou a convulsionar.
Não foi o suficiente. Bolhas vermelhas saíram dos lábios de Madigan, e seus
olhos ficaram fixos e dilatados. Aconteceu tão rápido que ele nem teve tempo
de um pensamento final. Se ele tivesse tido, provavelmente teria sido Foda-se.
vasculharam a instalação, para ter certeza de que não havia mais guardas
escondidos por aí, esperando a chance de atacar. Denise ainda hão havia
voltado com a criança desaparecida, mas eu não estava preocupada. Apenas
osso de demônio fincado entre os olhos poderia matar Denise, e Madigan não
tinha um. Quase nenhum morria. Osso de demônio era mais difícil de conseguir
do que astato*.
Bones bateu na coxa com a larga faca que ele pegou de um dos centros
cirúrgicos da base.
— Não podemos nos dar ao luxo de esperar. A cada dia, o sangue perde
poder.
— Você esteve lá para assistir esse coração ser colocado no meu peito.
Acho que seja apropriado que você esteja aqui para assistir ele ser tirado,
também.
— Ele foi do Rodney, e então seu, é um bom coração. — Eu respondi,
preparando-me para o que estava por vir. — Ele não o merece.
Dave rosnou. — E eu não quero isso, mas, ainda assim, aqui estamos.
Bones não hesitou. Ele enfiou a faca até o cabo sob a caixa torácica de
Dave. Então, da mesma forma rápida e brutal, ele fez um corte largo o
suficiente para sua mão e a enfiou ali. Sons ásperos escapavam dos lábios
firmemente fechados de Dave, mas ele não gritou. Eu teria gritado, se fosse o
meu coração sendo arrancado do peito. Repetidamente. Ainda assim, aqueles
sons irregulares eram a única indicação que Dave deu do quanto aquilo doía, e
do trauma mental de ver Bones retirar seu coração do peito.
Ele não estava se referindo à comida normal dos ghouls, que era pedaços
crus de carne comum. Eu me repreendi por ter um instantâneo flash de náusea
enquanto Dave saía para seguir aquelas instruções. Ele não podia evitar
precisar daquilo para sobreviver e, como Bones apontou, havia muitos
soldados mortos para escolher. Além disso, a parte de Dave nisso pode ter
terminado, mas a nossa não.
Se eu não tivesse feito isso antes de os levar para o poço, eles teriam se
mijado, de tão apavorados por ver um corpo com o peito aberto e um vampiro
inclinado sobre ele, cortando sua própria garganta. Inferno, aquilo me deixava
nervosa, e eu já vi aquilo, anos atrás, quando Bones levantou Dave como um
ghoul. Transformar alguém em vampiro era muito mais bonito, em comparação.
— Não, nós cuidados dos últimos, — ele disse em tom desdenhoso. Então
seu tom endureceu. — Estou falando sobre software. Acontece que a máquina
Dante não era o único mecanismo de alto-destruição.
— Pode ser que não esteja tudo perdido, — eu disse, acenando para a
plataforma do elevador aberta atrás de Tate.
— Você devia ter sido mais específico! — Ela gritou de volta, aborrecimento
substituindo seu choque.
Ele me olhou com simpatia. — Apenas em idade. Eu te disse que você não
sabia de metade do que Madigan fez. Bem, ela é a outra metade.
K atie não estava mais na instalação subterrânea. Tate seguiu seu cheiro
Madigan ainda não havia acordado. Já ouve atrasos assim, Bones me disse,
mas não era uma boa previsão das chances dele acordar como ghoul. A
maioria acordava em minutos, como Dave. Talvez Madigan tenha conseguido
fugir de nós, afinal. Se conseguiu, eu só podia me consolar que ele não
escaparia de Deus.
Então, cobertos de sangue e exaustos, nós sete saímos do iglu que tinha a
plataforma de elevador secreta. Spade esperava por perto, já que Fabian disse
que ele podia entrar na reserva. O fantasma ficou radiante por ver que
estávamos todos vivos e bem já que, como eu, ele não sabia que minha
chegada com o cadáver do meu marido foi uma armação.
Isso era algo que eu pretendia discutir assim que eu estivesse sozinha com
Bones. Agora, nós tínhamos que dar o fora daqui sem sermos detidos por
reforços, então tínhamos que procurar uma garotinha pequena, com múltiplas
espécies, que podia ser a coisa mais mortal sobre duas pernas.
Ele parou de falar quando nos viu. As três garotas e dois rapazes com quem
ele estava primeiro encaram, então pensaram, nervosamente.
— Ah.
Se eu não tivesse tido um dia infernal, eu teria dito a ela para parar de olhar
para a bunda do meu marido. Ao invés disso, eu peguei o braço do Bones e
continuei andando. Se não estava tentando nos matar, não valia minha atenção
no momento.
Tate socou a parte de trás do banco do Ian com tanta força que o encosto de
cabeça quebrou e bateu na cabeça do Ian.
— Muito obrigado, — Bones disse, ainda com a voz dura. Então ele se virou
para encarar Tate.
— Significa que, como minha criação, você atacar outro vampiro é o mesmo
que eu atacar, — Bones respondeu, afiado. — É por isso que você nunca mais
fará isso sem minha permissão. Está claro agora?
Eu disse a mim mesma que não iria interferir, mas isso já era demais.
— Oh, cale a boca, Tate. O lado bom em ser uma criação do Bones é que
ele arrisca a vida dele para te tirar da prisão, então lide com a parte ruim. Como
ele disse, foi para isso que você assinou quando se tornou um vampiro.
Ele até mesmo conseguiu soar ofendido. Bom saber que Ian tem algum
senso de moral, mesmo que esteja coberto por pilhas de pornografia e
violência.
— Então isso foi um mal entendido que foi longe demais, — Eu resumi,
pensando em quantas guerras devem ter começado assim. — Estamos todos
bem, agora?
O vampiro mais jovem olhou para longe. Pelo jeito que Tate cruzou os
braços sobre o peito, essa não seria a última briga intensa entre eles, mas seu
silêncio confirmou que ele concordava.
Então Bones voltou sua atenção para o Ian. — Você nunca disse se viu a
garotinha.
assim que estávamos longe dos olhares curiosos das áreas populosas. Então,
já que metade do nosso grupo não podia voar, cada um de nós agarrou uma
pessoa e jogou a versão do Homem de Ferro de Barril de Macacos*. No ar, as
únicas coisas com as quais precisávamos nos preocupar se estavam nos
seguindo eram aviões, helicópteros ou drones, mas, felizmente, ainda não
havíamos visto nenhum deles.
Nós não voamos por muito tempo. O céu estava muito claro para arriscar
voar sobre as cidades, e Madigan podia acordar a qualquer momento. Além
disso, agora que o perigo imediato havia passado, minha explosão de energia
para sobreviver desapareceu, deixando-me perigosamente cansada. Voar
carregando um homem grande não ajudava. Quando eu me peguei olhando um
trecho de fazenda e fantasiando em cair ali para poder dormir, eu soube que
tinha esgotado minhas forças. Felizmente, Ian e Spade começaram a descer,
sinalizando que nós estávamos próximos do nosso destino.
Acabou por ser um grupo de silos perto de uma linha de trem inutilizada. A
área ao redor dos silos altos estava deserta, e eu não ouvi nenhuma atividade
dentro deles, o que significa que eu não precisava me preocupar em ser
discreta. Eu me choquei contra a terra macia atrás dos silos, pousando até
mesmo com mais força do que o normal. Dave, meu passageiro sem sorte,
soltou mais “oofs!” durante nosso pouso do que soltou quando Bones arrancou
o coração dele.
— Eu quero carona com qualquer um exceto ela para o próximo voo. — Ele
disse quando nós finalmente paramos de rolar.
Bones olhou para o Tate, então para o Ian, que não se incomodou em
esconder seu sorrisinho.
— Bom saber que você se manteve fiel à sua palavra de deixar de lado a
agressão dele, — Bones disse, exagerando no sarcasmo.
A chegada de Spade com Denise e Cooper cortou o que quer que Bones
estivesse prestes a responder.
— Ele está muito fraco, — Spade disse, ainda segurando Cooper, embora
eles já estivessem em chão firme. — Eu dei sangue pra ele, mas o que quer
que sejam esses experimentos que fizeram nele, isso está o matando.
Outra risada áspera. — Yep, mas não funcionou. Nem em mim, nem nos
dois mil bastardos azarados antes de mim. Madigan continua esperando por
outro golpe de sorte como Katie, mas acho que ele precisa de mais do que
quer que ele tenha tirado de você anos atrás para fazer funcionar. Isso, ou
esperar até que Katie fique mais velha.
Tate falou, finalmente saindo do buraco que ele fez quando caiu. Cooper
acenou sombriamente.
Tate parou para olhar feio para o Ian uma vez antes de falar.
Era sem sentido, mas, ainda assim, eu me virei e chutei o corpo de Madigan
com tanta força que ele ricocheteou no silo mais próximo.
— Acorde! — Eu gritei para ele. — Você não pode continuar morto, você tem
muito pelo que pagar!
— Kitten, pare.
Bones me agarrou quando eu estava prestes a chutar o corpo de Madigan
no silo novamente.
— Quem nós estamos enganando? Já faz três horas. Ele não vai voltar.
Bones olhou para a luz do sol desaparecendo, que coloria os silos em vários
tons de laranja, rosa e lilás, antes de falar.
— Talvez não, mas nós ficaremos com ele essa noite, para ter certeza. Tate.
Ele levantou a cabeça, olhar azul índigo cheio de nojo mal contido. — O
quê?
Tate encontrou o olhar dele sem ressentimento dessa vez. — Porque nas
últimas duas semanas, ela ficou boa o suficiente para arrancar minha cabeça,
e, ainda assim, ela não fez. E ela escondeu isso de Madigan.
Meus olhos queimaram por mais lágrimas não derramadas. A pobre garota
esteve no cativeiro mais impiedoso desde que era um bebê. Tate deve ter sido
a coisa mais próxima que ela já teve de um amigo.
— Então se ela vir você, — Bones continuou, — pode ser que ela não corra.
Ou tente te matar, como ela fez com Denise.
Spade ficou tenso com aquilo. Denise olhou para longe, culpada. Acho que
ela não contou para ele quem a sangrou tanto.
— Pare-o! Ele está feliz sobre isso porque pretende matar o Tate!
Bones me deu um olhar cínico. — Não é por isso, amor. Ian coleciona coisas
raras e incomuns, e aquela criança é a pessoa mais rara e incomum no mundo
agora. Ele vai vasculhar o planeta todo com Tate e Fabian procurando por ela.
— Depois do que Madigan fez com você, nós não podemos arriscar ter levar
a um hospital, — eu disse, pensando. — Mas Bones conhece alguns médicos
clandestinos…
— Chega de médicos.
— Você não precisa pedir, — meu marido respondeu. — Você tem sido um
dos meus por anos. Está na hora de você receber todos os benefícios disso.
Ah, ele quer dizer esse tipo de morte. Minha tensão sumiu. Madigan pode
ser comida de verme, mas parece que vamos trazer alguém de volta da
sepultura essa noite, afinal.
— Kitten, peça a Charles para ligar para Mencheres e dizer a ele que nós
precisamos de um veículo seguro para transportar um vampiro novo. — Bones
disse, já que nenhum de nós estava com um celular.
Então ele puxou Cooper, empurrando a cabeça dele para trás quase
casualmente antes de enfiar as presas na garganta do outro homem.
O interior simples estava bem para mim. Bones e eu não tínhamos nada em
que focar exceto um no outro, embora eu estivesse o mais longe possível dele
quanto o espaço estreito permitia. Da parte dele, Bones trancou sua aura até
eu não sentir nada dele exceto um leve poder no ar. Sua expressão estava
igualmente impenetrável. Apenas manchas de sangue atrapalhavam suas
feições perfeitas, a cor em um contraste vívido contra sua cremosa pele de
cristal.
— Você estava planejando me aprisionar com eles? — Não pude evitar meu
bufar de raiva. — Qual era o seu plano para quando você me libertasse? Correr
como o inferno?
Essa conversa não estava sendo nem um pouco como eu achei que ela
seria. Eu esperava que Bones pedisse perdão pela sua terrível farsa. Ao invés
disso, parecia que ele estava julgando as minhas ações.
Ele. Esteve. Praticando. Por alguns segundos, eu fiquei tão aturdida que
fiquei sem fala. Então falei as palavras que estavam queimando dentro de mim
desde que eu percebi que sua degeneração até um cadáver foi um truque.
— Você sabia que eu pensaria que era real, mas você fez isso mesmo
assim!
Ele agarrou meus ombros, mas eu bati as mãos dele para longe com um
sibilo incoerente. Bones não tentou me tocar novamente. Apenas o seu olhar
sustentou o meu enquanto ele falava.
— Você mesma disse isso: que você é uma lutadora, e eu não posso
esperar que você mude. Não importa as minhas objeções ou o perigo, você iria
usar a si mesma como isca para pegar Madigan porque ele é um cretino
maligno que precisava ser abatido. Essa é quem você é, Kitten. É quem você
sempre foi.
Ele tentou me alcançar novamente, mas meu olhar o deteve. O que ele fez
machucou muito para que eu pudesse suportar sentir as mãos dele em mim.
Horror cruzou suas feições, e ele me agarrou rápido demais para que eu
pudesse impedir. — Você me prometeu que nunca faria isso, Kitten!
— Para citar o Ian, “eu mudei de ideia, Crispin!” — Eu rosnei de volta. Então
passei por baixo do braço dele, empurrando-o quando ele tentou me agarrar
novamente.
Ele ficou onde estava, mãos ainda estendidas, como se estivesse agarrando
carne fantasma. Então ele as baixou e, dessa vez, seus escudos caíram com
elas.
Emoções explodiram dentro de mim com tanta força que eu tropecei até a
parede me deter. Então não havia para onde ir enquanto um jorro de angústia
atormentada me inundava, afogando a minha raiva sob sua profundidade.
Aquilo se transformou em uma geleira de determinação implacável, que
congelou meu sentimento de traição até ele se partir. Finalmente, um inferno
de amor varreu os cacos, queimando toda a minha mágoa com suas chamas
causticantes e dolorosamente belas.
— Eu te amo, Kitten.
Eu não disse para ele que isso era impossível. Ele sabe que nossas vidas
são perigosas mesmo em um dia bom. Ele é Mestre de uma enorme linhagem
de vampiros; a qualquer momento pode ser chamado para arriscar sua vida por
alguém do seu povo. Algo pode acontecer com Tate ou Ian essa noite, e eu
teria que arriscar a minha, também, mas agora eu sabia que não havia limites
para o que Bones faria para evitar isso. Ele estava certo; é quem ele é, e eu
não posso esperar que ele mude, quando eu também não posso mudar quem
eu sou.
Isso significa que nós teremos mais brigas e mágoas afrente, mas esse é o
preço que eu pagarei para ficar com o homem que eu amo mais que a vida.
Eu poderia ter dito isso a ele, mas nós dois já sabíamos. Além disso, nós
sempre fomos mais de ação do que de palavras. Então eu não disse nada
quando puxei a cabeça dele, esmagando meus lábios nos dele e enfiando as
mãos por baixo das suas roupas, subitamente desesperada para sentir sua
pele sob meus dedos.
Então senti seu peso quando o corpo dele esmagou o meu. Gemendo contra
sua boca com seu beijo intenso o suficiente para machucar. Minha língua
escovou a dele até o gosto sangue sumir, e não sobrar nada exceto seu sabor.
Eu só o afastei para inalar até seu cheiro estar profundamente dentro de mim,
e quando ele inclinou a boca de volta sobre a minha, eu bebi dele como se
estivesse tentando me afogar.
Um puxão forte tirou meu colete à prova de balas e abriu meu jaleco,
revelando minha nudez. Suas roupas arruinadas foram fáceis de rasgar, e
então não havia nada entre nós. Sentir o atrito do seu corpo duro e suave
quase me levou ao orgasmo, e eu arqueei contra ele com um choro incoerente
por mais. Ele me puxou contra ele, me tocando como se precisasse sentir cada
centímetro de mim agora, ou nunca teria outra chance. Quando ele abaixou e
segurou meus quadris, eu me ergui para ele em uma necessidade primitiva.
Sua boca estava fria, camuflando o calor que disparava através de mim a
cada golpe faminto da sua língua. Gemidos viraram gritos que ecoaram à
nossa volta, unindo-se aos sons guturais que ele fazia enquanto colocava
minhas coxas sobre seus ombros e mergulhava mais fundo em mim. Minhas
mãos corriam sobre seus cabelos de forma febril, mas se eu estava tentando
puxá-lo para cima ou empurrá-lo para mais perto, eu não sabia. Eu queria que
ele parasse, para que eu pudesse sentir ele dentro de mim, e eu nunca queria
que ele parasse, porque o prazer estava devastador.
Um som bruto vibrou contra minha boca. Seu sangue, ainda morno pela
alimentação recente, estava intenso e doce. Como caramelo salgado. Engoli,
tremendo com a sacudida instantânea que ele causava em meu sistema. Cada
sentido subitamente aumentou, cristalizando as sensações que fizeram eu me
contorcer contra ele e afastar minha boca para gemer de uma forma que soava
como gritos. Então tudo se apertou tão forte que quase doía antes que êxtase
me inundasse, pulsando em ondas que eu senti duas vezes quando o clímax
do Bones invadiu meu subconsciente com prazer feroz.
Ele não me soltou após o último tremor fazer seus músculos se contraírem
da forma mais deliciosa. Ao invés disso, ele nos rolou de lado, usando seu
braço como um travesseiro para minha cabeça. Sua outra mão deslizou para
baixo em meu corpo de uma forma que eu chamaria de preguiçosa, exceto
pelo seu olhar. Nada lânguido se ocultava naquelas profundezas. Eles
brilhavam com uma intensidade objetiva, me fazendo tremer. Por um segundo,
eu soube o que uma presa sente logo antes de ser devorada. Se eu não
estivesse queimando com um desejo igualmente urgente de ser consumida, eu
poderia estar assustada.
— Crispin.
E u desejei nunca vestir aquilo de novo, mas, sem opção, coloquei o jaleco
encharcado de sangue. Pelo menos ele tinha um cinto, já que Bones arrancou
os botões. Suas roupas, entretanto, já eram. Sendo um vampiro com séculos
de idade, que passou seus anos humanos como um gigolô, ele não se
importava. Ele saiu do silo vestido da forma como nasceu. Embora eu
lamentasse sua falta de pudor, ainda tinha que admirar sua coragem. Se eu
fosse um cara, eu não colocaria as minhas partes balançando perto de um
ghoul maligno recém-nascido.
Porque levei alguns momentos para me vestir, eu ainda estava dentro do silo
quando ouvi alguém gritar em uma voz monótona.
— Fome… Fome…
Eu parei. Madigan? Tinha que ser, embora ele soasse quase infantil. Não
berrando de ódio como eu esperava que ele estivesse quando acordasse e
percebesse que ele não tinha escapado de nós, afinal.
—… não estou brincando com você. — Bones estava dizendo, em uma voz
severa. — Quanto antes você perceber, menos doloroso isso será.
Eu forcei meu caminho através do grupo para ver Madigan. Quando vi, eu o
encarei em descrença.
Não foi sua aparência desgrenhada – a frase “nem morto” faz sentido porque
ninguém acorda da sepultura parecendo fabuloso. Madigan até parecia melhor
que a maioria, já que ele morreu de envenenamento, ao invés de algo mais
bagunçado. Então não era seu peito manchado de vermelho, camisa aberta ou
roupa suja que me congelou no lugar.
Foi o olhar dele. Eu estava acostumada a ver tantas coisas nos seus olhos
azuis: desprezo, arrogância, crueldade, satisfação fria, ambição cega… Agora,
tudo o que eu vi foi confusão e curiosidade, como se ele não soubesse quem
nós éramos, mas estivesse levemente interessado em descobrir.
Ele acariciou meu braço, mas não respondeu. Para Madigan, ele disse. —
Muito bem, companheiro. Muito esperto da sua parte fingir insanidade, mas eu
faço isso há centenas de anos, então eu sei que você não está louco. Você
está assustado pra cacete, e deveria estar, porque se você não parar de fingir,
eu vou te machucar de formas que você não pode nem imaginar.
Bones o socou tão forte que a cabeça do Madigan deixou uma mancha
vermelha onde se chocou contra o silo. Então o homem grisalho ficou frouxo
quando Bones o ergueu pela sua jaqueta esfarrapada.
Com aquilo, ele começou a espancar Madigan como o inferno. Uma hora
atrás, eu juraria que amaria assistir algo assim, mas à medida que os golpes
aumentavam e ficavam mais pesados, e Madigan não parava de choramingar
em uma confusão dolorosa, eu comecei a me sentir mal. Denise também. Ela
se afastou, e não de uma forma que sugeria constrangimento por Bones dar a
surra pelado. Ou Madigan era o melhor ator do mundo, ou ele não estava
fingindo. Quanto mais eu observava, mais eu me convencia de que esse não
era o mesmo agente do governo frio que planejou por uma década um plano
para unir três espécies distintas em uma arma invencível. Isso era um
garotinho preso no corpo de um velho, e ele não tinha ideia de por que o
homem mau não parava de machucá-lo.
Eu meio que esperava que ele fosse me afastar e continuar. Ao invés disso,
ele abaixou o punho e soltou Madigan, que caiu em uma pilha perto do pé dele.
Agora eu não sabia se ele estava fingindo, mas eu não disse nada. Bones
presenciou centenas de renascimentos ghouls. Se eu estivesse sendo
enganada por um ator brilhante, eu não queria mostrar mais do que já tinha
que eu tinha caído na atuação dele.
Então Bones se afastou. Eu fui atrás dele, assim como Dave. Atrás de nós,
Madigan fez pequenos sons de lamúria.
Bones entrou no silo em que fizemos amor. Suas roupas ainda estavam em
pedaços no chão, mas ele parecia indiferente a elas enquanto caminhava de
um lado para o outro. Se sua nudez incomodava Dave, o outro homem não
demonstrou quando nos seguiu para dentro e fechou a porta.
Eu assimilei aquilo. O fato de que aquilo não iniciou uma raiva ardente me
mostrou o quão cansada eu devia estar. Nosso inimigo nos venceu, não
deixando nenhuma migalha de pão para seguirmos, para minimizar os danos
que ele deixou para trás. Essa era a realidade, ainda assim, tudo o que eu
sentia era uma onda de rancor porque o Madigan que nós queríamos trazer de
volta tinha partido para sempre.
Claro, isso também levantava a questão, o que nós faríamos com o Madigan
que tínhamos? Eu não queria ficar com o Madigan Maluco, mas também
parecia cruel executá-lo por crimes que ele – estritamente falando – não
cometeu.
Bones correu uma mão pelos cabelos. Por um breve momento, seus
escudos caíram, e uma névoa de exaustão passou pelas minhas emoções. Se
eu ainda fosse humana, teria desmaiado, de tão forte que era. Qualquer que
seja a reserva de energia que ele tinha, ele a esgotou dando aquela surra.
Nós três saímos do silo. Lá fora, vimos que Spade ainda não tinha levado
Madigan. Quando o antigo agente da CIA viu Bones, ele agarrou as pernas de
Spade como se fosse uma corda de salvamento. Spade tentou sacudi-lo, mas
Madigan o agarrou como um macaco demente, pressionando o rosto entre as
coxas do Spade para evitar olhar para o Bones.
— Não, por favor, não, por favor, — Ele começou a entoar em uma voz
estridente.
Talvez o mais gentil seja matá-lo. Na sua condição, Madigan não pode
sobreviver no mundo morto-vivo, e como ghoul, o mundo humano não poderá
lidar com ele, também. Com sua nova fome sobrenatural, não vai demorar
muito antes que ele tente comer a pessoa mais próxima.
Aquilo me fez sorrir. Kira era como eu; ainda humana no raciocínio, o
suficiente para se preocupar com coisas como essa.
Spade subiu primeiro, um pouco sem jeito já que Madigan ainda estava
grudado na perna dele. Denise seguiu atrás dele, balançando a cabeça para a
cena. Dave foi em seguida, se esticando para fora para me estender uma pilha
de roupas dobradas. Grata, vesti uma calça sob meu jaleco, então o tirei e vesti
uma camiseta grande. Mas eu não deixei o jaleco ensanguentado no chão.
Tinha muita muito DNA como evidência. Assim como as roupas arruinadas do
Bones, e foi por isso que eu voltei para o silo e as peguei. Então eu coloquei a
pilha de roupas sujas no helicóptero, enfiando-as no canto mais afastado.
Bones, carregando o corpo inerte de Cooper, foi o último a subir. Ele rolou
os olhos para a calça que eu deixei deliberadamente pendurada na porta do
helicóptero, mas colocou o Cooper no chão e a vestiu.
Madigan ignorou aquilo, agarrando-se a ele com toda a sua nova força.
Denise foi para os assentos do outro lado, para evitar ser atingida quando
Spade empurrou Madigan para trás, apenas para ter o ghoul grisalho voltando
para o colo dele mais rápido que aderência estática. Spade deu um olhar
frustrado ao redor do interior apertado, sem dúvida percebendo que se ele
jogasse Madigan para longe com força suficiente para ser efetivo, ele
danificaria a aeronave. Finalmente, seu olhar parou no Bones.
— Uma ajudinha? — Ele falou entre os dentes.
fosse coberta com uma língua cumprida e molhada. Aquilo me fez sentar, e foi
quando eu percebi que (a) eu estava deitada em uma cama e (b) essa cama
deve estar na casa do Mencheres. Só ele tinha um mastiff* de noventa quilos
vagando como se fosse o dono do lugar.
*Raça de cachorro.
Como eu ainda estava ensanguentada e suja por baixo das minhas roupas
emprestadas, minha primeira missão era tomar um banho. Se eu pudesse ficar
sob o delicioso jato quente por horas, eu ficaria, mas depois de me limpar eu
saí e fui procurar outra coisa para vestir. Mencheres sempre mantinha seus
quartos de hóspedes abastecidos. Depois de me vestir, saí do quarto, surpresa
em ver o luar atravessando uma das muitas janelas desse andar. Eu dormi
mais do que percebi.
Mencheres estava com ele, seu longo cabelo negro puxado para trás em
uma única trança. Sem surpresa, outro mastiff estava enrolado em seus pés.
Obviamente, ninguém falou para ele que os Egípcios da era dele preferiam
gatos.
— Como o Cooper está? — Foi minha primeira pergunta. Por favor, que
nada de errado tenha acontecido com a transformação dele…
— Ian ligou algumas horas atrás, disse que eles ainda não a encontraram.
— Bones acariciou meu braço, pensativo. — Tate não estava surpreso. Disse
que ela iria evitar as pessoas e se esconder até avaliar totalmente a situação
dela.
Ele soava como se estivesse citando Tate. Mais uma vez, fiquei furiosa
enquanto pensava em tudo o que foi feito a ela. Katie não deveria estar sozinha
e agindo com precaução militar. Na idade dela, suas maiores preocupações
deveriam ser decidir entre brincar com bonecas ou bonecos de ação.
Como se a dureza em sua voz não fosse pista suficiente, as carícias suaves
no meu braço pararam. Claramente, Bones não era fã dessa ideia.
Ele deu de ombros, elegante. — Não esse tipo de estímulo. O com mais
sucesso é interagir com uma pessoa que ele conhece há muito tempo.
— Don.
Bones cuspiu o nome do meu tio como se tivesse um gosto ruim. — Embora
eles não fossem amigos, Mencheres crê que a associação deles é longa o
suficiente e notavelmente significante para talvez ativar memórias.
Eu não sabia se ficaria furiosa com o meu tio para sempre, mas eu
certamente não estava pronta para vê-lo tão cedo. Então, novamente, quando
foi que “estar pronta” já decidiu alguma coisa?
dirigir até D.C. Tivemos que parar uma vez para abastecer e outra vez fora da
cidade porque era uma zona de identificação da defesa área. Nós não
queríamos anunciar nossa chegada para nenhum oficial do governo
interessado. Então, cinco horas depois, após decidirmos envolver meu tio,
estacionamos perto da parte de trás do prédio de Tyler, na Avenida Macarthur.
— Entrem. Quero acabar isso logo para poder voltar para a cama.
Pela sua calça de pijama e robe, isso era óbvio. Dexter foi mais
entusiasmado na saudação. Ele dançou ao redor do meu pé, fungando
loucamente onde o mastiff do Mencheres se esfregou em mim.
Eu fiz carinho nele, sentindo falta do meu gato outra vez. Um dos sócios do
Bones estava com Helsing, já que meu gato não gostaria de viver perto do
Dexter. Então nos sentamos no chão, diante de um tabuleiro Ouija montado na
mesa de café dele. Como a maioria dos apartamentos da cidade, o de Tyler era
feito em estilo estúdio, com a cozinha, quarto e sala todos ocupando o mesmo
espaço pequeno.
Então nós movemos a peça sobre o tabuleiro enquanto Tyler começava sua
invocação. Já que eu não tinha nenhum objeto pessoal do meu tio dessa vez,
nós precisamos procurar através de alguns espíritos aleatórios antes que Don
se materializasse na sala.
Don nem mesmo olhou para o Bones; o que era bom, já que o olhar dele era
frio o bastante para congelar vapor. Tirei meus dedos da peça de madeira para
tocar o tabuleiro Ouija.
O queixo do Tyler caiu após ouvir isso. Talvez ele tenha pensado que eu
queria que ele invocasse meu tio apenas para que eu pudesse brigar com ele
de novo. A expressão do Don não mudou, embora eu esboço tenha oscilado
por um momento.
Don virou, olhando uma vez para o Bones antes de seu olhar voltar para
mim.
— Esse nunca foi o país dele, mas é o seu, Cat. Você vai mesmo assassinar
quem quer que esteja por trás disso, não importando quem seja?
Mesmo morto, a lealdade do Don com sua nação era inabalável; uma
qualidade admirável. Seria bom se ele mostrasse a mesma lealdade a sua
família.
Ele sorriu. Triste, cínico e tão cansado que culpa me atingiu novamente.
Humanos, vampiros e ghouls podem encontrar um breve descanso no sono,
mas fantasmas podem? Ou a experiência deles é um dia sem fim que se
estendia impiedosamente até a eternidade?
Mesmo que não fosse assim, enquanto eu olhava para Don, simpatia
começou a sobrepujar minha raiva. Ele mentiu para mim, me manipulou e
permitiu que um burocrata cruel usasse meu DNA em experimentos secretos,
mas havia mais nele do que isso. Don protegeu os soldados que trabalhavam
para ele, não fez experimentos e os matou como Madigan. Depois que o Brams
foi inventado, Don gastou milhões em patentes farmacêuticas porque ele se
recusava a liberar a droga para o público. Quando Madigan veio com sua ideia
de reprodução forçada, Don o demitiu e o manteve longe de mim. Anos depois,
quando eu revelei que estava apaixonada por um vampiro, Don permitiu que
Bones se juntasse a equipe. Então ele mentiu para os seus superiores sobre o
meu acordo de tempo de serviço, então eu pude me demitir quando minha vida
tomou uma direção diferente, para não mencionar em todas as vezes que ele
usou sua influência quando conflitos com vampiros me colocou do lado errado
da lei.
Suas boas ações podem não superar as ruins, mas as piores coisas que
Don fez ocorreram quando ele ainda estava sob a concepção errônea de que
todos os vampiros são maus. Da minha adolescência até os vinte e poucos
anos, eu também fiz coisas horríveis sob essa concepção. Nos anos seguintes,
eu tentei compensar por isso, e, do jeito dele, Don também.
Mesmo que não tivesse tentado, ele não merece esse destino. Um dia eu
terei partido, mas ele ainda estará preso entre um mundo no qual nunca poderá
entrar e outro para o qual nunca poderá retornar. Sem querer ou não, isso era
por minha culpa – uma punição que superava e muito seus crimes.
Acima de tudo isso, Don era família. Falho ao ponto de estar quebrado, mas
ainda assim família. Eu posso não ser capaz de perdoá-lo hoje, mas,
eventualmente, serei. Família é algo muito precioso para se jogar fora se há
uma chance de reconciliação.
— Não se incomode em apelar para o meu patriotismo, Cat. Meu país está
perdido para mim agora, mas se isso te ajuda com algo que você está
determinada a fazer de qualquer forma… bem, então leve-me até ele. Verei o
que posso fazer.
Capitulo Vinte e Seis.
M adigan reconheceu Don. Assim que o viu, ele soltou um grito animado
de “Donny!” Meu tio recuou, ou por simpatia pelo que seu inimigo se tornou ou
por aversão ao apelido horroroso.
Não importou. Donny ele era e Donny continuou, dia e noite enquanto
Madigan balbuciava sobre coisas sem sentido, como sobre o quão triste ele
estava porque o sorvete aqui era terrível (não era, acontece que o paladar do
Madigan só amava carne crua, um fato que sua mente ainda não registrou) ou
o quanto ele queria brincar no quintal (não iria acontecer, nós não queríamos
que ele comesse os vizinhos do Mencheres). Após os primeiros dias de
baboseiras insuportáveis, eu nem teria mais me incomodado em ouvir, exceto
que, de vez em quando, como um raio de luz em um quarto escuro, algo lúcido
surgia.
— O dela, também. — Madigan soava irritado. — Mas após sete anos, nada!
Eu não posso deixar todos os meus ovos em uma única cesta… Hehe. Ovos.
Tenho que esperar anos por mais deles…
Apesar de Don tentar levá-lo de volta ao tópico, ele mudou de ovos para
estar com fome novamente, e depois que isso acontecia, nada mais importava.
Então, depois que ele acabava de comer, ele caía no sono. Por tudo o que eu
sabia, ele agora podia dormia chupando o dedo. Eu não tinha certeza, porque
nunca entrei em seu quarto. Eu o fazia se lembrar do Bones, em sua mente
quebrada, e Bones o deixava em um terror inconsciente.
Antes que Don pudesse responder aquilo, Madigan estava jogando Espião.
O jogo não deveria durar muito, já que seu quarto era de concreto e sem
janelas, mas Madigan o esticava por horas. Se Don fosse sólido, ele poderia ter
batido a cabeça contra a parede só para bloquear a tagarelice infinita. Eu
queria, mesmo estando ali só há vinte minutos.
A verdade era que eu não tinha muito mais o que fazer. Tate, Ian e Fabian
ainda não tinham encontrado Katie. Como uma criança sem dinheiro e sem
experiência no mundo normal podia se esquivar de dois vampiros e um
fantasma, eu não tinha ideia, mas ela conseguiu. O pessoal do Mencheres
ainda não tinha conseguido nada dos discos rígidos queimados, então sem
pistas para perseguir ali, também. Bones mal podia suportar estar sob o
mesmo teto que Don, muito menos ouvir ele e Madigan falar sobre bobagens
por horas, então eu não podia pedir a ele para pegar meu turno. Além do mais,
as poucas coisas racionais que Madigan dissesse provavelmente fariam Bones
espancá-lo novamente.
Após seis dias não descobrindo nada além do que já sabíamos, eu estava
de saco cheio. Madigan parecia ser inútil para colher informações sobre o seu
patrocinador secreto, mas talvez houvesse algo mais que nós pudéssemos
fazer para encontrar Katie. Eu conhecia alguém muito bom em rastrear
atividades paranormais, e, como bônus, ele não era membro de nenhuma
linhagem de mortos-vivos.
Dentro do grande complexo multinível, nós tivemos que abrir caminho entre
mais centenas de pessoas vestidas como seus personagens favoritos em
filmes, séries, games ou quadrinhos. Algumas fantasias eram simples, como
pintura corporal, e algumas eram tão elaboradas que tinham acessórios robôs
que funcionavam.
— Timmie! — eu gritei.
Meu vizinho nos dias de faculdade não olhou para cima. Afinal, eu era
apenas uma voz elevada entre milhares. Após alguns minutos de mais alguns
empurrões educados, nós finalmente o alcançamos.
— Mas por que inferno maldito você não nos encontrou lá fora? — Foram as
primeiras palavras do Bones.
Timmie se encolheu pelo tom duro dele. Então ele olhou para mim e ajeitou
os ombros, como se se lembrasse de que eu nunca deixaria o Bones machucá-
lo.
— Sério? — eu me animei.
— Precisamos encontrar uma garota por volta dos dez anos, — Bones disse,
indo direto ao assunto. — Comece com rumores sobre uma criança com olhos
verdes brilhantes, ou corpos de pessoas com pescoços quebrados que foram
vistos pela última vez com uma garotinha.
O queixo de Timmie caiu. Então ele arregalou os olhos para nós. — Vocês
perderam uma vampirinha? — Por que vocês precisaram da MINHA ajuda para
encontrá-la? Passou pela mente dele.
— Nós não podemos pedir para os nossos aliados porque não queremos
que as pessoas no nosso mundo saibam sobre ela, — Eu agarrei o braço dele,
meu sorriso desaparecendo. — Eu não posso explicar o porquê, mas eles a
matariam, Timmie. Ou a usariam para fazer coisas realmente horríveis
acontecerem.
— Nós lhe daremos vinte e cinco mil dólares adiantados, — Bones disse,
congelando os pensamentos do Timmie em um único coro de SIM! — E outros
vinte e cinto se sua informação nos levar até a garotinha.
N ós sabíamos que Timmie era bom. Ele deu muita dor de cabeça ao Don,
e depois ao Tate, quando insistia em expor segredos paranormais ao público
através do seu blog investigativo. Ele também era confiável, como provou há
mais de um ano atrás quando solicitamos a ajuda dele para rastrear ghouls
criminosos. Quando deixamos a Califórnia, eu tinha grandes esperanças de
que ele podia farejar a trilha de Katie eventualmente.
O que eu não esperava era o SMS apenas dois dias depois “Procure a sua
encomenda na região leste de Detroit.”
—Wow. Timmie acha que tem uma pista, e não é nenhum lugar próximo de
onde Ian e Tate têm procurado. — Eu disse ao Bones.
— Por que você está contente por uma garotinha estar sozinha nesse lugar?
Uma análise lógica tão fria. Bones teve que ter centenas de anos lutando por
sua vida para pensar dessa forma. Katie só tinha uma década de idade, ainda
assim, ela estava demonstrando a mesma mentalidade se escolheu Detroit por
aquelas razões ao invés de acabar lá por acidente.
Por vários segundos, eu não pude falar, minha mente rejeitando que ele
realmente disse algo assim.
O olhar que ele me deu foi tão arrepiante, que me lembrou de que Bones foi
um assassino de aluguel por quase dois séculos antes de nos conhecermos.
— O perigo de uma guerra não é reduzido por causa da idade dela. É por
isso que eu estou disposto a deixar Katie viver, se ela nos permitir escondê-la
pelo resto da vida dela. De outra forma, pela nossa mão ou de outra pessoa,
ela terá que morrer.
Minha expressão deve ter indicado minha recusa total, porque ele agarrou
meus ombros e só faltou me sacudir.
— Isso me deixa doente, mas você sabe que eu estou certo! Você se
transformou em vampira por que a mera possibilidade de que você poderia
adicionar características ghoul à sua natureza meio-vampira quase causou
uma guerra. Katie é esse acréscimo, e se isso se tornar de conhecimento
comum, ela vai começar a guerra que todos nós tememos. Ou ser morta para
impedir isso.
— Mas ela não tem que ficar escondida para sempre, — eu sussurrei, ainda
me recuperando do futuro sombrio que Bones traçou para aquela criança. —
Quando ela for velha o suficiente, ela pode escolher se transformar em uma
espécie ou em outra.
Eu não tinha palavras para refutar aquilo. Eu me lembrava muito bem das
centenas que morreram quando ghouls começaram a matar vampiros sem
mestres no início de uma leve agitação entre as espécies. E das outras
centenas, em ambos os lados, que morreram colocando fim naquele conflito.
Bones estava certo, somente minha transformação impediu que aquelas
centenas virassem milhares, já que dez por cento da população mundial é de
mortos vivos. Isso, e nossa incômoda trégua com a nova rainha ghoul, Marie
Leveau, que já disse que se nós não acabássemos com essa nova ameaça,
ela acabaria.
— Você está certo. — Maldito seja você, Madigan! — O melhor que Katie
pode esperar disso é uma vida escondida. Talvez não seja tão horrível. Denise
também vive escondida, por seu sangue demoníacamente melhorado ser uma
drogada para os vampiros.
Bones me soltou, apenas seu olhar sustentando o meu enquanto ele falava.
Katie era uma vida contra milhões. Múltiplos milhões, somando o fato de que
humanos seriam efeito colateral se vampiros e ghouls estiverem envolvidos em
uma guerra geral. Nós não estaríamos lutando apenas com nossos inimigos
tentando mantê-la viva. Estaríamos lutando contra nossos aliados, também. Eu
faria tudo em meu poder para impedir que uma garotinha fosse sacrificada pelo
bem maior, mas, como a minha longa lista de arrependimentos passados
provava, algumas vezes, o meu melhor não era bom o suficiente.
Por favor, Deus, permita que seja bom o suficiente dessa vez.
— Eu tive que remendar isso porque os HDs estavam tão queimados que os
arquivos fragmentaram. Então eu filtrei entre o que M disse que você não
precisava, como mapeamento de genomas e registros de experiências. Havia
muito disso…
Ele riu.
— Agora estão. Enfim, vamos às coisas boas. Eles deviam ter câmeras por
toda parte na sala em que ela lutava, porque esse arquivo — seus dedos
voaram pelo teclado — tem as melhores imagens da sua pequena Godzilla em
ação.
— A qualidade do som está horrível, mas se você ler os lábios dele, ele está
dizendo que não quer atirar nela. — Tai disse.
Eu sabia que ela matou pessoas, mas saber e ver eram duas coisas
diferentes. Ela não hesitou sequer por um segundo, e nada mudou nas
expressões da garotinha quando ela se levantou e ficou em posição de sentido,
indiferente ao corpo agonizando aos pés dela. Que uma criança possa mostrar
tanta indiferença enquanto destrói uma vida me gelou até a alma. Ela parecia
não ter ideia do que fez.
Mas, como ela poderia ter? Tudo o que ela recebeu em resposta foram
algumas poucas palavras curtas de elogio do Madigan pela sua velocidade. Ele
também estava no vídeo, assistindo Katie por trás de uma parede de vidro. Eu
tive que me controlar para não socar a tela quando a imagem ficou nítida o
suficiente para ver sua expressão presunçosamente satisfeita.
Após pesquisar um pouco, Tai descobriu que Trove estaria em New York
nesse fim de semana para um jantar político de arrecadamento de fundos. Nós
não sabíamos onde ele estaria após isso, o que significa que nós teríamos que
escolher entre ir atrás dele ou da Katie. Trove venceu, já que nós já tínhamos
dois vampiros e um fantasma rastreando Katie. Nós mandados para o Ian a
informação que Timmie conseguiu sobre a possível localização dela, então
contribuímos com uma quantidade astronômica de dinheiro para conseguirmos
reservas para o jantar de levantamento de fundos. Finalmente, fomos fazer
compras.
Eu fiquei surpresa por não ter que remover o lindo colar de diamantes e
brincos que Kira me emprestou, ou meu anel de casamento, antes de passar
pela máquina. Entretanto, outro agente do Serviço Secreto me fez esvaziar
minha pequena bolsa carteira, revelando batom, pó compacto e meu celular.
Eu sorri enquanto aceitava a bolsa de volta antes de unir meu braço ao do
Bones.
Claro, nós estávamos aqui para matar alguém, mas nós não seríamos
óbvios sobre isso.
Então, até Trove chegar, eu escolhi focar no meu marido. O terno do Bones
era cinza carvão, e seu cabelo cacheado curto estava de volta ao seu tom
castanho profundo natural. Eu estava contente por ele acabar com aquele
branco chocante; aquilo trazia muitas memórias ruins. Ao invés de estar
totalmente barbeado, ele deixou uma fina camada de barba sombrear seu
queijo e mandíbula, dando uma aparência mais severa as suas feições
perfeitamente esculpidas. Ninguém sabia quem ele era, mas sua maior
desvantagem era ser inesquecível uma vez que era visto.
Nosso plano foi nos misturarmos até chegarmos em Richard Trover quando
ele chegar, levá-lo até um daqueles quartos privados, hipnotizá-lo para fazer
ele nos contar se ele tinha alguma outra instalação secreta, e então Bones
apertaria o coração dele usando a telecine até ele morrer. Simples e limpo, e
uma autópsia mostraria apenas uma parada cardíaca. Acontece todo dia, nada
para ver aqui, pessoal.
O problema era que acabou se revelando mais coisas sobre Trove do que o
vídeo mostrava.
Bones notou. Seu corpo todo ficou tenso logo antes de sua aura se fechar
com tanta força que me chutou para fora das suas emoções.
— Demônio.
Quando segui o olhar do Bones, meu pessimismo não ficou surpreso em
descobrir que estava voltado para Richard Trove. Aquela familiar e nojenta
onda de enxofre penetrou entre os outros cheiros enquanto o educado homem
mais velho com a aparência de Jack Kennedy começou a vir em nossa direção.
As pessoas ao redor de Trover não pareciam estar cientes do cheiro emanando
dele, e ele deve ter escondido os pontos vermelhos em seus olhos com lentes
de contato.
Trove notou meu corpo primeiro. Seus olhos se demorando nele como se
meu vestido tivesse ficado subitamente transparente. Quando ele finalmente
arrastou o olhar para o meu rosto e viu que o que ele estava fazendo não
passou despercebido, ele sorriu de um jeito charmoso que dizia “você me
pegou.”
Crawfield.
Sob aquela pressão terrível em todo o corpo, Trove não deveria ser capaz
nem de respirar, muito menos dar um passo. Ainda assim, ele fez ambos, e sua
expressão estranha se transformou em uma de êxtase.
Meu queixo caiu. Pelo poder fervilhando dele, Bones não estava tendo
problemas de desempenho. Como Trove podia ainda estar vindo em nossa
direção? Bones devia estar se perguntando a mesma coisa. Ele duplicou a
dose que enviava ao Trove.
Como ele está fazendo isso? Minha mente gritou. Bones usou menos poder
quando levitou uma dúzia de guardas através de uma rede de laser!
— Você parece ter levado um tombo feio, minha jovem, — Trove disse em
um tom de bate papo. — Deixe-me ajudar você.
Cada palavra foi sibilada com ódio cru. Pessoas ao nosso redor começaram
a sussurrar por trás das mãos. Homens musculosos com fones nos ouvidos
começaram a abrir caminho pela multidão. Agentes disfarçados do Serviço
Secreto, sem dúvida. Trove sorriu para eles, levantando as mãos tanto quanto
o aperto do Bones permitia.
— Está tudo bem, amigos. Como eu costumava dizer quando era jovem, não
é uma festa até que algo se quebre.
Então ele falou mais baixo para o Bones: — Se você não quer que eu
comece a matar espectadores inocentes, solte-me.
— Bones.
Eu levantei, puxando o garçom comigo sem tirar os olhos dos dois. — Não.
Além de que nem todo político merecia aquele destino, os familiares deles
estavam aqui, também. Assim como funcionários do hotel e, além disso,
repórteres. Se as coisas tomarem um rumo sobrenatural e letal, estaria em
todos os noticiários antes que pudéssemos conter.
Ele estava tão tenso que o corpo dele parecia aço sob meu toque. Eu tentei
puxá-lo discretamente, mas ele não se moveu. Os agentes do Serviço Secreto,
que começaram a se afastar com a declaração tranquilizante de Trove, viraram
de volta. Pelos pensamentos deles, eles estavam prestes a agir.
— Aqui não, — eu sussurrei quando Bones ainda assim não se moveu.
O demônio sorriu, exibindo dentes tão brancos que ele deve pagar para
clareá-los.
— Claro.
Então ele olhou para o aperto que Bones ainda tinha no braço dele,
levantando uma única sobrancelha grisalha. Por fim, Bones o soltou,
mostrando os dentes muito brevemente para aquilo ser chamado de sorriso.
Assim que estávamos longe da maior parte dos olhos curiosos, a máscara
de charme simpático do Trove escorreu, e eu peguei um vislumbre da pessoa
verdadeira por baixo. Dizer que era como olhar nos olhos de uma besta era um
insulto aos animais.
— Você poderia me atingir com mais daquele poder delicioso? — Ele disse
ao Bones. — É tão bom que eu quase gozei.
— É por isso que meu poder não funciona em você. Sua espécie absorve
energia e se alimenta disso.
Eu não sabia que demônios que absorvem poder existiam, mas eu só tive
experiência com alguns. O primeiro marcou Denise, o segundo possuiu e
quase matou Bones, e o terceiro tentou me fazer negociar minha alma em troca
de informação. Dizer que eu não gostava da espécie deles era um eufemismo.
— Por que você ajudou Madigan em sua tentativa de criar super soldados
tri-espécies? Normalmente, nossas espécies não se metem nos negócios um
do outro.
Trove afastou seu olhar cor de âmbar do Bones por tempo suficiente para
passá-lo por mim de uma forma que me fez pensar que surgiria um rastro de
lodo onde ele pousava.
Eu tentei não mostrar meu choque quando finalmente entendi. Madigan não
tinha ideia do que ele estava arriscando ao misturar DNA vampiro e ghoul em
um humano para criar uma nova subespécie. Trove, entretanto, sabia
exatamente o que aconteceria. A guerra resultante foi a intenção dele o tempo
todo.
Eu me perguntei por que ele estava nos contanto isso. Demônios não se
importam se nós entendemos suas motivações. O que ele estava armando?
Foi quando eu percebi que Bones havia nos conduzido para perto de uma
das janelas altas com vista para a cidade. Nossa rota de fuga, se
precisássemos.
Agora eu lembrava quem Brad era. O dia em que Bones o matou também foi
o dia em que ele conheceu Don e revelou para mim que meu chefe era, na
verdade, meu tio. Após aquilo, a morte de um assistente de laboratório traidor
era quase acidental.
— A ambição de Parker levou a melhor sobre ele, mas isso é normal para
gente como ele. Além do mais, ele já tinha servido ao seu propósito.
Eu me encolhi, mesmo que Bones não queira realmente matar Katie. Trove
não parecia acreditar nele também. Seu sorriso aumentou.
— Você não vai matar aquela garotinha. Ela não vai te deixar matar.
— Terminar uma vida para salvar milhões? Sem debate. A garota morre.
— Onde o mundo vai parar quando alguém mataria sua própria filha?
— Eu acho que não. Diferente dos homens, as mulheres meio que sabem
quando têm filhos, com toda aquela coisa da gravidez e trabalho de parto.
B ones o tinha pela garganta antes que eu pudesse reagir, sua mão pálida
apertando até o pescoço do demônio quebrar com um som audível. Tudo que
Trove fez foi se encolher.
— Eu disse solte-o.
Bones o soltou. Trove oscilou antes de estalar o pescoço com força para
colocá-lo no lugar.
— Como eu posso ser a mãe dessa garota se você admite que eu nunca
estive grávida?
Trove passou uma mão pelo seu cabelo espesso, colocando-o de volta no
lugar após o tratamento duro do Bones bagunçá-lo.
— Como eu disse, avanços na ciência. Com toda a patologia que Don pediu
quando você começou com ele, não foi nada difícil para Brad Parker infiltrar
remédios de fertilidade. Foi mais difícil para ele extrair óvulos durante as vezes
em que você voltou inconsciente de uma missão, mas quando ele conseguiu,
você nunca notou as marcas de agulha depois. Com todos os seus outros
ferimentos, por que notaria? No total, Parker extraiu para nós mais de cem
óvulos. Todos foram fertilizados e implantados em barrigas de aluguel, mas
apenas um sobreviveu.
— Você está mentindo. A garotinha que eu vi tem que ter pelo menos dez
anos de idade. Eu comecei a trabalhar para o Don há menos de oito anos
atrás.
Aquele tornado voltou para destruir meu equilíbrio. Cinco meses. Foi esse o
tempo em que minha mãe me carregou no ventre, e eu estava totalmente
desenvolvida no nascimento. Se tivessem me dado hormônios de crescimento
e uma dose adicional de DNA morto-vivo, eu poderia ter parecido anos mais
velha quando tinha sete anos, também.
— É por isso que você está aqui, não é? Para ver se eu sei onde ela está?
Eu não sei, mas não vou te impedir de procurá-la. Na verdade, eu quero que
você a encontre. Assim que encontrar, por favor, faça testes para comprovar
que cada palavra que eu disse é verdade.
Agora que Katie está fora do seu alcance, ele precisava que eu soubesse
que ela é minha filha. É a garantia dele de que eu arriscaria tudo para mantê-la
viva, e perto de mim, Bones e nossos aliados. O demônio quer guerra, e ele
não pode ter uma se ninguém está disposto a lutar. Bem, Trove acabou de me
dar algo pelo que eu mataria e morreria, como queria. Ele provavelmente
esperava que nós fôssemos aparecer essa noite, para que ele pudesse dar
com a língua nos dentes. Se não tivéssemos, ele provavelmente nos
procuraria, sem saber que nós tínhamos meios para matá-lo.
É uma pena que não tenhamos trazido a faca de osso. Nesse momento, não
havia nada que eu amaria mais do que enfiá-la entre os seus olhos por se
vangloriar sobre a forma horrível que ele usou, e ainda pretendia usar, uma
criança que pode ser minha.
Bones estava tão perto, que eu senti seu celular vibrar no bolso. Ele ignorou,
e alguns segundos depois, o meu tocou na minha bolsa.
Mencheres foi até a entrada, sua expressão amarga enquanto ele estendia
um iPad.
Bones pegou o tablete. Uma olhada para a tela explicou a chamada urgente
do Mencheres. Apesar do nosso choque com a revelação do Trove, nós
voamos até estarmos exaustos, então roubamos carros para chegarmos até
aqui. Agora nós sabíamos que Trove não estava meramente esperando que
Bones e eu aparecêssemos na arrecadação de fundos. Ele estava preparado
para isso.
Como os discos rígidos foram queimados, apenas uma pessoa teria essa
informação, embora, é claro, o nome do antigo chefe de gabinete da Casa
Branca não estivesse em nenhum lugar desses documentos.
Mas o problema não eram os humanos, que pensavam que tudo isso era um
trote. Era todo mundo que sabia que não era.
Por fim, Bones entregou o tablete mesmo que eu ainda estivesse lendo com
uma crescente sensação de apocalipse.
Eu não gemi em voz alta, mas foi por pouco. Uma Guardiã da Lei se
metendo? As coisas foram de horríveis para trágicas.
— Veritas, — Mencheres disse, sua voz agora tão suave quanto manteiga
congelada. — Bem-vinda.
Ela deu a ele um olhar que dizia que ela sabia que era tão bem-vinda quanto
um purulento caso de herpes, mas acenou com o cumprimento. A loira bonita
pode parecer ter a mesma idade que Tai, mas ela é mais velha que Mencheres
e quase tão poderosa quanto. Ela também tem todo o peso do conselho
regente de vampiros por trás dela. Para ela aparecer sem aviso apenas
algumas horas após o vazamento significa que eles estavam pirando tanto
quanto Trove esperava.
Não importa o que aconteça, eu tenho que matar aquele demônio por tudo o
que ele fez.
— Você sabe por que eu estou aqui, — ela disse. — O conselho já votou, e
a decisão deles é final. Diga-me onde a criança está. Isso tem que ser
destruído.
— Isso é uma garotinha que não pediu por nada disso! — Eu explodi.
Agora eu tinha certeza sobre a simpatia que passou pelo rosto de Veritas.
Uma nota melancólica tingiu a voz dela antes que isso, e suas feições,
endurecessem mais uma vez.
— Se você ainda não sabe disso, no devido tempo, você aprenderá. Agora,
diga-me onde a criança está.
Mesmo se ela não fosse minha filha, mesmo que tenham feito lavagem-
cerebral nela além de reparos e nós nunca tenhamos sucesso em escondê-la,
eu não podia sentenciá-la a morte respondendo com a verdade.
— Eu não sei.
Katie merecia o que nunca foi dado a ela antes. Uma chance. Eu sabia o
que estava arriscando fazendo isso, mas que escolha eu tinha? Talvez fosse a
fé que me fizesse acreditar que Deus não permitiria que nossas raças
destruíssem uma à outra por não matar uma criança pelo crime de ser
diferente.
Então eu olhei para o Bones, notando o quanto ele tinha fechado sua aura e
o quão rígidas suas expressões estavam. Ele não olhou para mim, também.
Seu olhar era todo para a Guardiã da lei, cujo olhar ficou afiado.
— Se você está procurando pela criança, — ele disse em uma voz calma,
seu poder congelando a minha boca quando eu comecei a interrompê-lo —
comece com Richard Trove. Ele é o demônio que financiou a criação dela.
Quanto a Madigan, leve-o com você quando partir. Nós não colhemos nada útil
dele. Talvez você tenha mais sorte.
Eu ainda não podia falar, já que ele ainda não tinha liberado sua mordaça
telecinética, mas Veritas não sabia disso. Eu virei de costas com ele,
segurando sua mão para transmitir o agradecimento que as palavras não
seriam capazes, de qualquer forma.
— Nada menos que isso, — ela disse. — Se você quer mudar sua resposta,
você pode fazer agora, sem repercussão.
Ele pode ter lido o medo em meus olhos. Ou talvez fosse o meu cheiro que
me traiu. Muito lentamente, ele levou minhas mãos aos lábios e as beijo.
Então ele as largou, virando para olhar duro para a Guardiã da Lei.
V eritas não levou Madigan com ela. Bones queria matá-lo, já que nós não
precisávamos mais dele para descobrir quem era o seu backup, mas eu tinha
algumas perguntas para o meu antigo inimigo. Trove pode ter falsificado os
arquivos que postou, ainda assim, em algum lugar na mente quebrada de
Madigan, ele sabia a verdade sobre a mãe biológica de Katie.
Levou horas para arrancar isso dele. Em adição aos buracos do tamanho do
Grand Canyon nas memórias do Madigan, ele também tinha a atenção de um
furão sob efeito de crack. Pela manhã, entretanto, ele conseguiu se lembrar de
migalhas de informação o suficiente para confirmar as alegações de Trove
sobre Katie ser minha filha. Se fantasmas pudessem desmaiar, Don teria
apagado quando percebeu que era aí que o interrogatório que eu o fiz fazer ao
Madigan levava.
Claro, isso significa que eu sabia tudo o que não fazer. Por exemplo, eu
nunca diria para a minha filha que ser diferente é algo para se envergonhar.
Katie pode ter que se esconder para viver, mas mesmo que isso custe tudo de
mim, ela saberá que sua natureza única não é o problema. O preconceito das
pessoas é que é. E ela nunca, jamais terá que temer que um dia ela fará algo
que a fará me perder. Eu não tive essa segurança enquanto crescia, e eu
posso não saber muito sobre maternidade, mas eu sei o quanto dói quando
parece que se você cometer um erro, perderá sua família.
É por isso que Bones e eu não fomos para Detroit, apesar do meu desejo de
ir direto para lá para encontrar minha filha. Ao invés disso, após dormir
algumas horas para estarmos em nossa melhor condição para lutar, nós fomos
para o Sul.
À distância, o litoral para onde seguíamos não estava tão iluminado como de
costume. A tempestade deve ter derrubado a energia em vários lugares, mas a
queda de energia nunca era a maior preocupação de Nova Orleans. Eram as
represas. A Cidade Crescente estava recebendo um impacto direto, embora,
felizmente, fosse uma tempestade tropical ao invés de um furacão forte o
suficiente para romper as represas.
Don se lembrava dela, também. Só foi preciso uma olhada para a foto online
para ele dizer “É essa,” apontando um dedo transparente para a tela. Ele foi
atraído para a casa de Marie quando estava viajando por linhas de poder
procurando por mim, na época em que eu tinha o poder da sepultura dela. Por
essa razão, a maioria dos fantasmas sabia onde Marie vive. Outros vampiros e
ghouls também sabiam, mas apenas alguém com um desejo de morte
apareceria sem se anunciar.
É por isso que Marie não tinha guardas de prontidão. Sua casa também era
uma das poucas na cidade que não tinha fantasmas vagando ao redor. Don
disse que ela parecida “protegida”, o que significa que Marie a estocou com
sálvia queimando, maconha e alho. Até mesmo a rainha voodoo deve querer
uma pausa do sobrenatural de vez em quando.
Essa noite, ela não conseguiria. Eu saltei sobre a grade cercando sua
propriedade e caminhei para a porta da frente. Ao invés de bater, eu a derrubei
com um chute. Isso deveria ter atraído a atenção dela, mas no improvável caso
de não atrair…
— Se você partir agora, Reaper, eu vou pensar sobre não matar você.
Claro, ela não parecia nem um pouquinho assustada por eu invadir sua
casa. Eu estava sozinha, e desarmada, como minha roupa justa revelava, e ela
podia invocar Remnants o suficiente para me reduzir a uma mancha no carpete
em minutos. Mesmo que Bones tivesse vindo comigo, poderia não equilibrar as
chances. Ele pode ter dominado sua telecinese o suficiente para controlar
humanos e máquinas, mas conseguir usar isso com sucesso contra um dos
ghouls mais poderosos que já existiu? Dificilmente.
Marie ofegou e correu atrás dele. Eu me joguei para frente, pousando nas
costas dela antes que ela chegasse no meio das escadas. Então eu girei até
não estar mais olhando para os pés dela. Aquilo deu a ela a chance de me dar
um soco para trás que parecia ter feito meu cérebro se soltar. Ao invés de me
defender do seu próximo golpe, eu enrolei um braço ao redor do pescoço dela
e enfiei o outro na sua boca aberta.
Ela mordeu com força o suficiente para quebrar o osso, mas mesmo assim
eu o mantive enfiado entre os dentes dela com determinação sombria. Melhor
ela derramar o meu sangue do que o dela. Então eu abaixei a cabeça e enfiei
as presas no seu pescoço, sugando o sangue dela por tudo o que era
importante para mim.
O pequeno corte que aquilo fez foi suficiente. Assim que seu sangue estava
exposto, um uivo ensurdecedor soou, vindo de lugar nenhum e todos os
lugares ao mesmo tempo. Então dor me atingiu em ondas agonizantes. Por
alguns momentos, eu não podia pensar além da angústia enquanto dúzias de
Remnants me dilaceravam com a ferocidade de tubarões em uma frenesia
alimentar. Marie tomou vantagem, me empurrando para trás e soltando meu
aperto em seu pescoço.
Então eu me lembrei de como fazer aquilo parar. Marie deve ter percebido
minhas intenções. Ela me agarrou, tentando enfiar suas mãos na minha boca
como eu fiz com ela. Minha necessidade de fugir da dor me tornou mais forte,
entretanto, e eu afastei a cabeça.
Agora eu nunca seria capaz de dizer a ela o quanto eu sentia por ter perdido
os primeiros sete anos da vida dela. Ou contar a ela que Madigan não podia
mais machucá-la, e que havia mais – muito mais! – nesse mundo do que a
feiura que mostraram a ela. Ou dizer a ela que embora ela esteja sozinha
agora, ela não foi abandonada, e apesar de ela ser diferente de todo mundo,
aos meus olhos, ela era perfeita em todos os sentidos…
Bones.
Eu senti a dor dele antes de vê-lo rolando no chão, coberto pelos mesmos
Remnants que estiveram me rasgando. Rangendo os dentes, eu tentei
arremessar Marie para longe, mas um novo grupo de Remnants apareceu, me
derrubando com um novo ataque.
— Mate-o, — ela rosnou, seu braço livre ainda sangrando pelas minhas
presas.
Eu não tentei afastar Marie dessa vez. Ao invés disso, eu agarrei o braço
que ela enfiou entre meus dentes e o puxei com toda a minha força.
Eu sabia o que era isso. Quando falei novamente, minha voz ecoava com
inúmeras outras que foram emprestadas da sepultura.
— Para. Trás!
dos vizinhos de Marie deve ter ligado para a polícia por causa dos barulhos.
Sem surpresa, os oficiais que vieram investigar eram ghouls. Seu endereço
sendo sinalizado por uma perturbação preocuparia mais do que as autoridades
normais.
Marie chutou seu braço decepado para baixo da cadeira mais próxima e
escondeu o novo que crescia com uma colcha antes de atender a porta. Claro,
Bones ameaçou matá-la a menos que ela cooperasse, mas eu acho que ela fez
isso por outra razão. Pedir ajuda ou mostrar o quanto ela foi ferida seria o
mesmo que admitir que dois vampiros tinham chutado o traseiro dela em sua
própria casa – algo que a rainha ghoul nunca admitiria. Ainda assim, Bones
manteve seu poder em volta do pescoço dela enquanto ela fava com os
oficiais. Após alguns minutos, ela os dispensou, e então cobriu a entrada com a
porta quebrada.
— O que você quer comigo? — ela exigiu quando nos encarou de novo.
O olhar que ela lançou para ele estava cheio de hostilidade. — Não. Quando
estou em casa, eu aprecio minha privacidade.
Nós não esperávamos que ela fosse uma boa perdedora, então eu não
comentei o visual dela. Ou seu tom venenoso.
Marie começou a rir, um som baixo e zombeteiro que ainda conseguia ter
sombras de divertimento real.
Bones caminhou até ela, sua aura crepitando com raiva mal controlada.
Com o punho do Bones apertando tão forte que seus dedos estavam ficando
brancos, ela não podia rir, mas a boca dela se esticou em um sorriso dolorido.
— Ela não pode falar a menos que você a solte, — eu disse uma voz
impaciente.
Ele a soltou com óbvia relutância, apesar de seu poder continuar enrolado
no pescoço dela. Não apertado, frouxo, como uma cobra decidindo se estava
ou não com fome.
Marie esperou seu pescoço curar até a sua forma normal antes de falar.
— Eu sei que ela é sua filha, Reaper, mas você tem que entender que nada
exceto a morte dela impedirá nossas raças de entrarem em guerra.
— É por isso que você dirá a todo mundo que você já a matou, — eu
respondi em uma voz muito mais calma do que eu me sentia. Descrença
apareceu em sua suave pele café com leite.
— Por isso você estará motivada a manter a sua palavra, se sua honra
acabar sendo fraca.
Marie o fuzilou com o olhar por um momento. Então ela soltou um suspiro
profundo.
Eu agarrei o braço dele, insistindo para ele não aumentar aquela pressão
castigadora. Foi quando eu notei o quão quente ele estava. Ele deve ter se
alimentado logo antes de entrar pela janela dela.
— Dê outra chance, — eu disse, tão baixo que ela não seria capaz de me
ouvir. Então olhei para Marie.
— Eu não tenho, mas Katie tem. Até ela fugir, cativeiro foi tudo o que ela
conheceu, também, e agora ela está sentenciada à morte por causa da raça
dela. — Minha voz ficou rude. — Ou você acredita que isso é errado, ou não.
Marie continuou a olhar feito para mim, mas não disse nada.
De uma vez, parecia que a temperatura tinha caído quinze graus. Ao mesmo
tempo, fome surgiu com uma agonia que me lembrava de acordar como uma
nova vampira. Os Remnants começaram a balançar como se ouvissem uma
música que mais ninguém podia ouvir. Eles estavam sendo reativados.
— Kitten. — A voz do Bones estava suave, mas urgente. — Olhe para mim.
Ele segurou meus ombros e eu quase o afastei. Parecia que os dedos deles
estavam escaldantes. Foi só quando seus dedos se apertaram, me segurando
no lugar, que eu percebi que estava balançando como os Remnants.
Marie estava certa. Embora eu não estivesse tendo a mesma reação louca
que tive da primeira vez que bebi o sangue dela, eu estava sendo puxada para
o abraço faminto e gélido da sepultura. Eu forcei aquilo para trás, tentando
esquecer sobre o quão bom aquele frio estava começando a parecer. Então
sacudi a cabeça para me livrar dos sussurros que não vinham dos
pensamentos dos vizinhos. Se eu me perdesse para isso, poderia levar dias
para me recuperar, e nós não tínhamos esse tempo.
Então ele me puxou para perto, seus lábios escovando minha testa
enquanto suas mãos percorriam minhas costas de uma forma que era tão
suave quanto possessiva.
— É por isso que eu não cumpri nosso acordo, Kitten. Se você não pudesse
derrotar Marie para se salvar, eu sabia que você não me deixaria morrer.
Pensar nela, sozinha lá fora, deu-me a força para sufocar aquele canto de
sereia da sepultura. Pronta ou não, agora eu era mãe, e minha filha precisa de
mim. Eu não podia decepcioná-la. Muitas pessoas já fizeram isso. Eu não iria
acrescentar meu nome à lista.
— Se você não quer fazer isso pelas razões certas, faça pelas razões
egoístas. Nós precisamos que você se dedique nisso tanto quanto nós, então,
ou você chama de volta o seu pessoal e diga para todos que você matou Katie,
ou nós vamos te matar.
— Mas a menos que haja uma execução pública, eles vão continuar
caçando-a. Mesmo que eu jure que a matei, eles não ficarão satisfeitos, e
nossas raças eventualmente entrarão em guerra. Eu não posso permitir isso,
então faça o que você precisa.
Com aquilo, eu achei que Bones fosse arrancar a cabeça dela. Uma grande
parte de mim queria que ele fizesse. O que ela desenhou foi um futuro com
nada exceto morte para Katie, e eu não podia aceitar isso.
Pelo olhar sombrio no rosto de Marie, ela também achava que Bones a
mataria. É por isso que nós duas ficamos chocadas quando tudo o que ele fez
foi bater no queixo de forma pensativa.
— Você veio aqui para negociar pela vida da criança. Agora você está
disposto a executá-la?
Marie nos encarava com o mesmo grau de desconfiança, mas também havia
curiosidade em seu olhar.
— Concordo. — Ela disse. Então ela aceitou a faca que Bones estendeu,
cortando a mão com um único movimento brusco. — Eu juro por meu sangue.
Bom para nós. Mau para quem quer que chame esse lugar abandonado da
América de lar.
— Cat!
Fabian flutuou até mim, seu rosto se iluminando com um sorriso lindo. Então
um movimento no topo de um dos prédios mais baixos chamou minha atenção.
Eu fiquei tensa até reconhecer o vampiro caminhando até a borda.
Outra forma apareceu por trás dele. Em algum momento, desde a última vez
em que eu vi Tate, ele barbeou o rosto e cortou o cabelo em seu usual corte
militar.
Sua testa franzida disse que ele notou minha omissão, mas ele respondeu
sem outro comentário.
— Pelo que nós conseguimos, ela fica mudando de lugar, mas o cheiro dela
tem sido mais forte em um antigo depósito de livros, a antiga fábrica de
automóveis Packard, a antiga Estação Central e uma igreja velha na Avenida
East Grand.
— Obrigada.
Meu séquito se dispersou assim que eu terminei de falar. Fabian partiu com
eles antes que eu pudesse especificar que ele não estava incluído naquela
ordem. Tate balançou a cabeça, chocado, mas um olhar conhecedor passou
pelo rosto do Ian.
Bones voou para o teto. Eu o segui, pousando com apenas alguns passos
extras para me equilibrar.
— Sim. — eu disse.
Eu não disse nada enquanto ele contava sobre Richard Trove ser um
demônio e o porquê de ele ter ajudado Madigan por quase uma década. Eu
continuei sem falar enquanto Bones revelava que Katie é minha filha biológica,
e como isso é possível. Apenas após Ian perguntar “Se ela é a mãe, quem é o
pai?” é que eu quebrei meu silêncio.
Então eu pausei. Eu estive em dúvida sobre revelar essa próxima parte, mas
tanto foi escondido de mim que eu não podia fazer o mesmo com outra pessoa.
Especialmente um amigo.
Sua voz sumiu enquanto ele ligava os pontos. Então ele caiu de joelhos
como se estivesse se rendendo sob o peso do entendimento. Eu não estava
tão afetada porque já tinha feito os cálculos. Cerca de duas dúzias de soldados
estavam trabalhando comigo durante meu primeiro ano. Alguns morreram em
missões, alguns se retiraram por causa do estresse, e alguns foram
transferidos para outras divisões, mas apenas um ficou lá o tempo todo.
Aquilo colocou Tate de pé em um segundo. Ian o puxou para trás quando ele
avançou no Bones.
— Você não vai… — Tate começou a falar, antes de sua boca congelar,
junto com o resto do corpo dele.
Eu cortei a distância entre eles e toquei o punho fechado do Tate, que ficou
congelado no meio de um golpe.
— Você tem uma chance em vinte – ou algo assim – de ser o pai biológico
dela, então, se você quiser ser parte da vida da Katie, é claro que você pode.
Bones não vai ficar no seu caminho, mas ele também estará lá por ela. Assim
como eu.
Então eu me inclinei para que Tate não pudesse evitar meu olhar.
— Mas, primeiro, nós temos que tirá-la daqui viva. Isso tem prioridade sobre
qualquer outra coisa, não tem?
De novo não, eu pensei, esperando que ele fosse se jogar no Bones outra
vez. Alívio me inundou quando tudo o que Tate fez foi estender a mão.
— Eu não gosto de você, e provavelmente nunca vou gostar, mas desse dia
em diante, eu estou disposto a uma trégua pelo bem de Katie.
Bones apertou a mão dele com um sorriso breve e sarcástico.
Tate riu. — Eu esqueci que essa trégua inclui a mãe dela. Isso é algum tipo
de carma ruim que nós dois conseguimos.
Fabian voou para o teto, impedindo qualquer que fosse a resposta do Bones.
— Eu vim aqui, antes, quando era novo. Eu amo livros, mas, pra mim, ler é
muito difícil. Eu tenho que flutuar atrás das pessoas enquanto elas viram as
páginas…
Eu me encolhi com o barulho que aquilo fez, o rangido soando como duas
panelas se chocando, de tão esgotados que os meus nervos estavam. Lá
dentro, só foi preciso uma olhada para a escada de metal deteriorada para me
fazer gesticular “nós vamos voar”.
Bones agarrou Tate, segurando-o tão fácil que nem parecia que o outro
vampiro era pesado. Em silêncio, nós descemos a escada, seguindo Fabian,
que flutuava dentro e fora do espaço apartado, até desaparecer através de
outra porta.
O cheiro de fumaça era quase superado pelo fedor de papel podre, urina,
morte e desespero. Livros, revistas e manuscritos forravam o chão em pilhas
de meio metro de altura em alguns lugares, a tinta quase ilegível pelo tempo e
exposição à água. Pequenas criaturas haviam feito ninhos no entulho literário,
algumas delas ainda lá, embora em diferentes estágios de decomposição.
Pelo cheiro, eles não eram os únicos cadáveres nessa sala, mas, quando
Fabian me chamou, eu não parei para verificar o sapato saindo de uma pilha
de pergaminhos destruídos. Essa pessoa estava muito além da minha ajuda,
de qualquer forma.
Sua mão balançou como se ela estivesse acenando para mim. Então algo
queimou em meu peito. Bones soltou Tate e me agarrou, me girando. Aquilo
fez a sensação de fogo piorar, mas eu ainda me estiquei para ver Katie antes
de a intensidade da dor finalmente me fazer olhar para baixo.
Uma faca sobressaia por entre meus seios. O cabo era alguma estranha
combinação de papel e couro antigo, mas, pelo fogo que se alastrou pelo meu
corpo, a lâmina era de prata.
Capitulo Trinta e Três.
maioria dos vampiros só sentia isso uma vez; para minha sorte, essa era a
minha terceira vez. Por mais que a dor fosse horrível, ela não me assustou
tanto quanto a fraqueza que fez cada músculo amolecer em uma paralisia
instantânea. Então vieram a visão borrada e o zumbido no ouvido que fez tudo
parecer muito distante. Apenas a dor estava próxima, queimando o resto dos
meus sentidos sob uma cascada de agonia impiedosa.
— Kitten?
— Por que você não a impediu? — Eu gemi. — Você podia ter congelado
ela com seu poder!
Seu aperto aumentou, a luz no olhar dele ficando mais intensa até banhar
tudo ao nosso redor.
Sua aura rachou enquanto ele falava, acertando minhas emoções com uma
enxurrada de raiva, alívio e medo. Talvez tenha sido bom ele não usar seu
poder na Katie. Se ele a tocasse com isso enquanto estava tão nervoso, ele
poderia ter matado ela acidentalmente.
— Ela não sabe o que está fazendo, Bones. É nosso papel ensinar a ela.
Nossa primeira briga de pais. Típico que isso seja sobre algo de vida ou
morte, ao invés de até que horas ela podia ficar acordada vendo TV.
— Eu devia ter pensado melhor ao invés de voar para ela, quando ela nem
sabe quem eu sou ou se eu estava ali para machucá-la. Não vai acontecer de
novo.
Então eu encostei minha cabeça contra o peito dele, com um riso triste..
Ele fez um som sombrio, mas um pouco da raiva sumiu da sua aura.
Certo. Pode levar dias para eu estar de volta à minha força total, e Katie é
mais rápida e hábil do que eu pensei. Se a parte lógica do meu cérebro não
estivesse três passos atrás dos meus instintos maternos recentemente
acordados, eu agiria com mais prudência.
Bones me deu um beijo rápido e feroz, então passou por mim, estalando os
dedos como se em antecipação.
— Lembre-se: sem punição pelo que ela fez. — Eu o avisei. — Ela é só uma
garotinha.
— Você disse que esse edifício se conecta com a estação de trem abaixo da
rua?
A voz do Ian ecoou pelas paredes antes que eu ouvisse um forte som de
pancada, e então um indignado: “Por que, sua pequena trombadinha?!”
Sua voz tinha distintos tons de surpresa e dor. Apesar de me sentir acabada,
eu sorri. Parece que eu não fui a única cujo traseiro Katie chutou.
— Basta.
Bones não tinha nem uma marca em sua roupa toda preta. Ele estava no
canto da sala, sua mão estendida como se fosse chamar um táxi.
Katie estava suspensa no ar, a uns cinco metros dele, suas pernas chutando
nada, já que o chão estava longe dos seus pés.
Se ela foi criativa com suas roupas emprestadas, aquilo não era nada
comparado à faca que ela apertava naquelas pequenas mãos pálidas. A lâmina
consistia em vidro quebrado afiado ao ponto da precisão, com couro de capa
de livro e fita fazendo o cabo. Prata brilhava nas extremidades da lâmina,
causando outra explosão de orgulho maternal distorcido. Ela quase me matou
com uma de suas facas caseiras, mas que ela era habilidosa, era. Deve ter
custado horas a ela para derreter prata suficiente para cobrir aquelas lâminas,
e apesar de o equilíbrio delas ser prejudicado por causa dos cabos, ela ainda
conseguiu jogar uma bem no meu ponto vital.
Eu cheguei mais perto, desejando saber qual era a cor dos olhos dela. No
momento, eles estavam acesos com o verde vampiro, seu brilho pousando no
meu rosto enquanto eu me aproximava.
O que eu não esperava era o amor que me atingiu bem no coração. Ela
podia muito bem ter me atingido com a flecha do Cupido antes, de tão
repentino e forte que ele era. Eu, que há anos tenho problemas de confiança, e
que me recusei a admitir que amava Bones por vários meses em nosso
relacionamento, agora sabia, com absoluta certeza, que eu amava a pequena
diabinha homicida me olhando. Com aquele conhecimento, um grande e
estúpido sorriso se abriu no meu rosto.
— Oi, — eu disse no que esperava que fosse uma voz neutra. — Meu nome
é Cat. Não se preocupe, ninguém vai te machucar.
Ela olhou para o seu corpo suspenso, e então de volta para mim. Mentirosa,
seu olhar dizia claramente.
Ele saiu do canto, e o coração dela acelerou. Com suas roupas pretas,
casaco longo, cabelo negro e olhar de volta ao seu castanho natural, ele deve
quase ter se fundido com as sombras para ela.
— Eu sou o Bones, — ele disse em um tom rápido. — Foi o meu poder que
te sustentou ali, e eu posso fazer muito pior se quiser.
Foi quando eu notei que não conseguia ouvir os pensamentos dela. Talvez
fosse porque eu ainda estava fraca pelo recente encontro com uma faca a que
ela me forçou. Eu me concentrei mais, mas não consegui nada exceto uma
sólida parede branca. Incrível.
Exceto por seus olhos brilhantes, ela parecia totalmente humana. A pele
dela estava suja demais para ver se tinha a mesma luminescência que a minha
tinha quando eu era mestiça, mas sua respiração, batimento cardíaco e cheiro
gritavam mortal. Não é de admirar que fosse tão fácil esquecer que ela não era.
— Bones! — Eu rosnei.
— Você se cura como eles, mas você não é uma deles, porque seu coração
ainda bate às vezes. Por quê?
— Por que antigamente, — eu disse com a voz rouca, — eu era como você:
parte humana e parte algo mais. Especial.
— Katie.
Tate agachou perto de mim, sorrindo para ela com um brilho nos olhos que
ele não tentou esconder.
Ele riu. — Certo, seis. A única outra garota que chutou meu traseiro tão
rápido assim foi a Cat. Ela me ensinou a lutar, sabe.
Pelo seu tom, a última parte foi um elogio, embora eu não tivesse certeza de
como responder. A pessoa que ela se lembrava de tentar “neutralizar” foi
Denise, transformada para parecer comigo. Na verdade, Katie só tentou me
matar uma vez, e ela quase conseguiu.
Então eu não pude evitar… eu peguei a mão dela. Ela se encolheu, seus
dedos apertando a faca. Após um olhar para o Bones, ela aliviou a pressão.
Então eu entendi, e não pude conter as lágrimas. Katie nunca foi ensinada a
tocar ninguém exceto em violência. Não é de admirar que ela tenha se
encolhido quando eu peguei a mão dela. Ela pensou que eu estava prestes a
machucá-la.
O ronronar de zombaria não veio do Ian, embora, pela expressão dele, ele
estava pensando algo similar. Tensão explodiu pelas minhas emoções
enquanto o poder do Bones disparava em direção à voz, apenas para tê-lo
dissipado como se ele tivesse sido jogado em um vácuo.
Bones abaixou a mão. O demônio só ficaria mais forte com outro golpe
telecinético.
Eu não queria tirar meus olhos do nosso visitante indesejado. Então uma voz
pequena e clara perguntou. — Você realmente é minha mãe? O velho disse
que ela estava morta.
Como eu tinha que fazer aquilo, primeiro, eu encontrei a força para me virar,
encarando meu inimigo ao invés da minha filha.
— O velho mentiu. Eu sou sua mãe, e não vou deixar você de novo. — eu
disse, minha voz forte apesar de paredes emocionais caírem por todo lugar
dentro de mim.
Tate me acotovelou, olhando para o lado. Eu segui seu olhar, vendo uma
porta pequena no canto mais afastado da sala. Trove bloqueava o caminho
pelo qual entramos na sala das caldeiras, mas nós não estávamos presos. Ela
deve levar aos túneis que Bones mencionou. Eu não acho que Bones entrou
bem no caminho de Trove por acidente. Para o renomado político tentar nos
parar, ele terá que passar por Bones primeiro. Mesmo que a telecinese do
Bones seja ineficaz contra ele, ele ainda teria trabalho.
Trove olhou para trás de nós, como se adivinhasse nossa intenção. E então
sorriu.
E isso fica cada vez melhor, eu pensei, cansada. Nós não trouxemos
— Vá se foder, — voou pela minha boca antes que eu percebesse que, (a) e
realmente precisava vigiar minha linguagem agora e, (b) diplomacia seria a
melhor tática. Eu posso ser capaz de varrer o chão com eles se usar meus
poderes emprestados, mas nós estávamos tentando impedir uma guerra, não
começar uma.
Eu não pude resistir em dar um sorriso orgulhoso. — Oh, então você não
estava nos seguindo quando nós fomos ver Marie? Nós chegamos a um
acordo. Tudo o que nós temos que fazer é cumprir a nossa parte, e ela e os
ghouls nos deixarão em paz.
Barnabus olhou para mim, frustração estampada por todo o seu rosto.
Grunhidos dos ghouls concordavam com a declaração dele. Meu bom humor
sumiu. Talvez, apesar de Marie manter sua palavra, isso ainda não tenha
acabado, afinal.
— Eu digo isso desde sempre… se você quer algo feito direito, você tem que
fazer pessoalmente. — Trove continuou, enojado. Então ele se aproximou dos
ghouls enquanto seu braço balançava na direção de Katie.
— Mesmo que sua rainha seja muito cega para ver isso, essa criança é a
destruição de vocês. Vampiros já têm mais habilidades que ghouls, mas vocês
têm impedido que eles os dominem, porque vocês são difícil de matar. Ela
muda isso completamente! Através dela, vampiros podem criar uma nova raça.
Uma leal a eles, com toda a imunidade à prata de vocês e todos os truques
legais deles. Quando isso acontecer, quando tempo vocês acham que vai levar
até o povo de vocês estar em correntes? Um século? Dois?
— Besteira.
— Esse sujeito não daria uma merda pela espécie de vocês. Ele quer que
vocês acreditem que ele está ajudando, mas tudo o que ele quer é que nossas
raças matem uma à outra, começando conosco, aqui.
Oh, merda, eu pensei quando várias facas foram puxada com aquilo. Parece
que Trove conseguiu fazê-los mudar de ideia.
Com um estalo, a rede invisível que Bones tinha jogado sobre os ghouls
quebrou. Eles só ficaram presos por segundos, mas parece ter sido o suficiente
para levá-los de determinação furiosa para ira assassina.
— Venham!
Meu chamado reverberou pela sala das caldeiras, ecoando de volta para
mim com coro novo e assustador. Gelo disparou pelas minhas veias, seu efeito
de tremer os ossos sendo bem-vindo, por causa do que aquilo representava.
Bem no momento em que Ian trocava facadas com Barnabus, Remnants
apareceram do chão e foram para cima dos ghouls.
Os gritos deles se uniram aos uivos que enchiam minha mente, assim como
meus ouvidos. Diferente de antes, eu não tive força suficiente para lutar contra
ser engolida pelo poder envolvente. A parte de mim que ainda podia pensar,
odiava o que estava acontecendo, porque Remnants são invencíveis. Eu
estava ok em deter pessoas que queriam me matar, mas libertar Remnants era
o mesmo que levar uma bomba nuclear para uma briga de facas.
Ian não estava canalizando poder da sepultura, mas, ainda assim, ele
mostrou menos preocupação do que eu pela injustiça da nossa vantagem.
Enquanto os ghouls estavam focados nas sombras tempestuosas que
cortavam através deles, ele arrancava cabeças por todos os lados. Eu queria
dizer a ele para parar, que eu pretendia fazer os Remnants recuarem e dar aos
ghouls outra chance de reconsiderar, mas eu não conseguia falar. Tudo o que
saiu da minha boca foi um longo som de choro que ficava mais alto quanto
mais forte os Remnants ficavam.
O que houve?
Foi quando eu percebi que estava presa em um abraço apertado por trás.
Não por Bones, como uma olhada para baixo mostrou braços grossos e
peludos ao redor da minha cintura ao invés de lisos e pálidos. Era por Richard
Trove.
Mais uma vez, três coisas pareceram acontecer ao mesmo tempo: Bones
partiu para cima do Trove, seus movimentos lentos e desajeitados; Eu mordi o
lábio para chamar os Remnants de volta, mas nada aconteceu exceto outro
tremor de êxtase atrás de mim. E os ghouls que ainda tinham suas cabeças se
levantaram, pegando suas facas de prata e vindo para nós.
— Fodeu, — Ian disse com profunda convicção.
Capitulo Trinta e Cinco.
Aquilo me assustou o suficiente para me fazer lutar com toda a força que eu
ainda tinha, o que acabou sendo assustadoramente inútil. Quando mais força
eu fazia para me libertar, mais Trove vibrava enquanto fazia barulhos felizes. O
demônio era como um Remnant de energia, ficando mais forte enquanto eu
enfraquecia sob o ataque impiedoso da sua fome.
Ian pousou com força suficiente para quebrar o chão. Ele girou, segurando a
cabeça do ghoul que tentou matar Bones. Então ele a jogou para o restante
dos comedores de carne.
Sobraram pelo menos oito ghouls, e todos aceitaram a oferta dele. Facas de
prata voaram na direção dele, mas Ian foi mais rápido, voando para fora do
caminho delas com acrobacias aéreas impressionantes que eu não achei que
ele fosse capaz. De vez em quando, ele usava aquela velocidade incrível para
atingir um ghoul, arrancando a cabeça dele antes que seus companheiros
percebessem que um deles estava sob ataque. Então ele jogava a cabeça no
chão como um jogador de futebol celebrando um touchdown.
Dizer que aquilo enfurecia os ghouls era pouco. Eles chutavam as paredes,
tentando usá-las como trampolim para pegar Ian durante seus ataques no ar.
Gesso, madeira podre e pó de concreto logo encheram o ar, tornando difícil
ver. Logo, somente as provocações do Ian, as ameaçavas do ghouls e
barulhos de quebra-quebra me permitiam saber que a luta continuava.
Entretanto, suas palhaçadas explosivas os levaram para longe do Bones, que
ainda mal podia rastejar.
É melhor que ninguém diga qualquer coisa ruim sobre o Ian perto de mim
depois de hoje. Eu oficialmente amo aquele filho da puta.
Afinal, Marie não foi a única pessoa que nós visitamos antes de vir para
Detroit. Nós paramos na casa da Denise, também.
— Já está vazia? Pensei que você fosse mais resistente. — Trove disse, seu
tom pesado de desapontamento.
Exceto por segurar brevemente a mão da minha filha, sentir a faca entrar no
olho de Trove foi o ponto alto da minha semana.
Parte de mim estava aliviada por ele não ter usado seu truque de
teletransporte e desaparecido. O resto de mim soltou um oh-oh interno porque
eu não estava em condição de lutar. Entretanto, eu tinha que tentar, então
segurei aquela faca com o aperto dos malditos enquanto Trove tentava tirá-la
de mim.
Mesmo com um olho destruído, ele era muito forte. A lâmina começou a
escorregar da minha mão, me cortando pelo quão forte eu tentava segurá-la.
Bem quando ela estava prestes a ser arrancada de mim, algo grande caiu em
cima do Trove.
Bones.
Ele pode ter perdido sua força física, mas seu peso e tamanho foram
suficientes para fazer Trove me soltar. Eu segurei a faca com força, impedindo
que o demônio a tomasse. Trove soltou uma maldição furiosa, tentando
derrubar Bones e agarrar a faca de volta ao mesmo tempo. Ele não drenou
poder de nenhum de nós, entretanto, e isso não podia ser por acidente. Talvez,
com um olho destruído, ele não pudesse mais.
Eu tentei afastar a lâmina para outro golpe, mas o aperto do Trove era muito
forte. Ele também cresceu meio metro durante nossa luta, sua forma agora
superando a do vampiro que se agarrava a ele com determinação cruel.
Não seria suficiente. Nós dois estávamos muito enfraquecidos para prender
Trove por tempo suficiente para enfiar a faca no seu outro olho. Nós
precisávamos tentar outra coisa. Qualquer coisa para ganhar uma vantagem.
Trove uivou outra vez e tentou derrubar Bones. Ele só conseguiu abrir uma
fonte de alimentação maior quando as presas do Bones deslizaram mais fundo
por causa do empurrão. Apesar dos esforços frenéticos do demônio, Bones
segurou firme. Diante dos meus olhos, seus movimentos ficaram menos lentos
e descoordenados. Logo, ele estava agarrando Trove com tanta ferocidade que
o demônio teve que me soltar para impedir que Bones mastigasse sua
garganta inteira.
Foi quando eu entendi. Com todo o seu poder comum drenado, e sem
sangue humano disponível para um refil, Bones se voltou para a única fonte
disponível: Sangue de demônio. Com suas propriedades narcóticas para
vampiros, aquilo deu ao Bones a mesma força artificialmente aumentada que
um humano drogado experimenta.
Ele provavelmente nem sentiu quando Trove os jogou para trás, esmagando
Bones contra o chão com seu novo corpo maior. O concreto rachou ao redor
deles, mas Bones continuou rasgando o pescoço de Trove, engolindo aquele
fluxo vermelho tão rápido quanto ele jorrava. Então seus braços e pernas se
enrolaram ao redor do demônio, não o soltando nem quando Trove começou a
bater contra tudo na tentativa de se libertar.
Nada disso importava. Tudo em que eu focava era naquele único, brilhante
olho vermelho. Eu continuei movendo a faca pela cabeça dele, mas era bem
claro que eu não tinha a força necessária para fazê-la atravessar a maçã o
rosto dele.
— Saia de cima, amor. Eu estou mais alto que uma pipa sangrenta. Não dá
pra saber o que eu posso fazer.
Eu ri. Se Bones estar drogado fosse nosso maior perigo, então esse dia se
transformou no melhor das nossas vidas.
Capitulo Trinta e Seis.
P assos atraíram minha atenção para o outro lado da sala das caldeiras.
Ian apareceu, coberto de sujeira, sangue e muito menos vestido, já que o que
ele usava foi quase tudo rasgado. Ele tinha até mesmo perdido tufos de seu
cabelo castanho-avermelhado. Eu nunca o vi em um estado pior – e eu nunca
estive tão feliz em vê-lo.
— Assim como você, mas isso ainda não acabou. Mencheres está aqui, e
ele trouxe Marie Laveau, Guardiões da Lei e o conselho de vampiros com ele.
Eu corri para ela. Ou tentei. Após os dois primeiros passos, eu fui envolvida
no que parecia um pulso gigante e invisível. Aquilo me espremia do queixo
para baixo, torando impossível escapar e difícil falar.
Então Mencheres apareceu, e ele tinha uma comitiva. Veritas era a única
Guardiã da Lei que eu conhecia por nome, mas eu reconheci os outros três
homens. Anos atrás, eles supervisionaram o duelo do Bones com Gregor, o
que significa que nós já tínhamos uma história. Eu quase fui executada por
interferir naquele duelo, e ainda havia alguns que pensavam que eu devia ter
sido.
Marie era a próxima, sua longa saia preta e jaqueta preta bordada enviando
mais fagulhas de medo através de mim. Parecia que ela estava indo a um
funeral, e embora os três vampiros atrás dela não estivessem vestidos tão
melancolicamente, as expressões deles eram mais sombrias que carvão.
O tom severo do Bones não conseguia esconder sua fala enrolada. Dopado
como ele estava, ele ainda conseguiu se levantar sem cambalear. Ele não foi
muito longe, entretanto. O poder do Mencheres disparou e o parou.
— Estou fazendo o que deve ser feito, — seu amigo e avô respondeu. Então
olhos negros encontraram os meus, uma enorme quantidade de pena em suas
profundezas. — Eu sinto muito, Cat, — Mencheres adicionou, suavemente.
— Não!
Aquilo rasgou através de mim com toda a agonia que a esperança levantou,
e então esmagou. Nós não podíamos ter chegado tão longe, para perder tudo
agora! Trove está morto, Marie jurou nos deixar em paz, e nós encontramos
Katie. Eu tinha olhado nos olhos da minha filha e jurado protegê-la. Ela pode
não acreditar em mim, mas, com o tempo, eu provaria isso a ela. Ela teria todo
o amor e aceitação que foi negado a ela antes, e para cumprir a minha
promessa, tudo o que nós tínhamos que fazer era partir.
Graças ao vampiro Mega Mestre e seus associados mortos vivos, nós não
poderíamos, mesmo que Bones e eu estivéssemos em plena força. Esqueça
sobre Marie, a sala das caldeiras crepitava com o poder vindo dos quatro
Guardiões da Lei e três membros do conselho. A qualquer segundo, poderia
começar a chover faíscas.
Veritas deu um passo à frente, sua túnica branca farfalhando por causa de
toda a energia sobrenatural no ar.
— Mencheres fez o que pôde por vocês. Em troque de entregar a criança
para nós, suas mentiras agora ficarão sem punição.
— Nós não pedimos pela sua maldita ajuda! — Bones disse, sua voz como
um trovão.
— Você não pediu, mas, como co-regente da nossa linhagem, eu não podia
te permitir arrastar nosso povo para uma guerra. É isso que aconteceria, e o
resultado seria o mesmo. Agora ou depois, a criança morreria. Dessa forma,
apenas uma vida será perdida, ao invés de incontáveis milhares.
Minha voz quebrou pelo ódio e medo rolando dentro de mim. Eu queria
massacrar todo mundo, não implorar para eles, mas, com meu corpo
imobilizado e minhas habilidades exauridas, implorar era tudo o que me
restava.
— Por favor. Nós vamos levá-la embora. Vocês nunca terão que vê-la
novamente, e não haverá guerra, eu prometo!
O vampiro removeu uma espada de prata curvada que era mais longa que
meu antebraço. Então ele foi em direção à Katie, agarrando o cabelo dela.
Veritas desviou o olhar, sua boca se comprimindo.
— Não, por favor! — Eu gritei. Meus dentes rasgaram meu lábio inferior,
derramando sangue, mas, embora eu desejasse com todo o meu pânico que
Remnants aparecessem, nada aconteceu. Trove me drenou de mais.
Lágrimas escorreram dos meus olhos, borrando minha visão com rosa que
rapidamente virou vermelho.
Marie veio até mim, secando minhas lágrimas com toques breves, mas
gentis.
— Você não pode chorar, Reaper, — ela disse, com a voz tão baixa que
somente eu poderia ouvir. — Você carrega o meu poder. Se chorar, você
condenará sua filha ao mesmo destino que seu tio. Você deve ser forte agora.
É a única coisa que você pode fazer por ela.
— Kitten.
Meu olhar voou para o Bones. Ele me encarava, sua expressão mostrando
tanto raiva quanto mágoa.
Dor explodiu então, tão envolvente que parecia quase purificadora. Claro
que eu não podia fazer aquilo. Eu estaria sentenciando Katie a um destino pior
que o que esses bastardos impiedosos decretaram, e pior, pela mesma razão.
Egoísmo.
Marie estava certa. Isso era tudo o que eu podia fazer pela minha filha.
Com um som áspero, eu parei minhas lágrimas. Então usei toda a minha
força de vontade para segurar as novas. Quando meus olhos estavam
finalmente secos, eu acenei, tanto quanto podia.
— Certo.
Marie tocou meu rosto. Não para secar qualquer rastro de lágrima; elas se
foram. Mas como um cumprimento.
Nada bloqueava a minha. Eu olhei para Katie, cada célula do meu corpo
gritando com o pesar que eu me recusava a libertar com lágrimas. A garotinha
olhava para a faca sobre ela como se estivesse hipnotizada, suas feições em
uma estranha mistura de medo e determinação. Então, como se ela sentisse
meu olhar, ela olhou para mim.
Confie em mim.
Foi a do Bones.
Uma fração de mim estava admirada por ele ter essa habilidade, mas o resto
de mim estava muito destruído com o luto para me importar. Confiar nele? Ele
estava tão impotente quanto eu para impedir isso!
Confie em mim, sua voz interna repetiu, enfática o suficiente para suprimir
meu agouro mental.
Raiva surgiu em meio ao meu pesar. Confiar em quê? Que nós superaremos
isso juntos? Ou que o tempo curará todas as feridas? Bem, eu não tinha a
menor intenção de me curar. Eu queria sentir essa dor para sempre, por que
isso é tudo o me resta da minha filha-
Confie em mim!
Vermelho.
O olhar da Katie só deveria ser capaz de mudar para uma outra cor. Verde
brilhante de vampiro. Vermelho era a marca de outra raça. Uma que
supostamente a criança não tinha em sua composição genética mista.
A menos que haja uma execução pública, Marie havia dito, eles vão
continuar caçando-a. Ela acreditava tanto nisso, que estava preparada para
morrer por isso.
— Deixe o corpo.
Thonos não a impediu quando ela pegou sua lâmina e pousou aos meus
pés. Quando ela levantou, por um segundo, seu olhar afiado encontrou o meu.
O que eu vi me fez arfar. Sem dizer uma palavra, ela conseguiu mostrar
admiração e um claro aviso. A menos que ela saiba mais que os outros, por
que ela faria isso?
Não foi uma pergunta. Eu arfei em terror absoluto. E se ela quiser enfiar
aquilo entre os olhos da Katie – Denise? –?
Então, para o meu grande alívio, ela passou pelo corpo encolhido de Katie
sem nem olhar, e foi se juntar ao outro Guardião da Lei.
Nenhum deles olhou para mim. Tudo bem. Eu nunca queria ver qualquer um
deles novamente.
— Eu jurei pelo meu sangue co-reger nossas linhagens. Pelo bem do meu
povo, eu não vou rescindir isso, mas minha esposa e eu estamos partindo, e
você não nos verá por muito tempo.
Mencheres ajoelhou perto de nós. Quando ele olhou para o montinho por
baixo do casaco, resignação passou pelas suas feições sombriamente belas.
— Charles? — Ian soou tão irritado quanto confuso. — O que ele tem a ver
com qualquer coisa disso?
Nós voamos entre elas para a noite, não deixando nada para trás no edifício
arruinado exceto sangue e o cheiro de enxofre.
Capitulo Trinta e Sete.
propriedade que ele divide com Kira. Assim que chegamos na periferia da área
metropolitana, nós pousamos nos fundos de uma igreja de dois andares.
Era bem depois da meia noite, então não havia luzes lá dentro. Todo o
barulho vindo dos edifícios vizinhos tornava impossível dizer se ela estava
vazia, entretanto. Pode ser tarde, mas partes de Chicago ainda estavam muito
acordadas, e nós estávamos em frente ao bairro mais movimentado da cidade.
A porta lateral abriu e Mencheres entrou. Bones olhou para trás, para mim,
hesitando.
— Sim.
Ian assobiou baixinho. — Você está certo; Charles vai matar você, e isso só
se ela voltar disso. Se ela não voltar, ele vai te manter vivo para poder te
torturar por décadas.
Foi o medo pela minha melhor amiga que fez minha voz tremer, não
preocupação pela profecia do Ian.
— Ela pode voltar disso? Claro, outros demônios disseram que só ossos dos
irmãos podem matá-los, mas decapitação mata cem por cento do resto da
população.
Aquelas luzes coloridas dançaram sobre o rosto dela quando ela deu um
passo na minha direção, sua cabeça se inclinando para o lado.
— Eu fiquei com eles, como você mandou, — Ela disse na sua voz alta e
musical.
— Katie, — ele arfou com o mesmo sussurro reverente que a maioria das
pessoas usa quando estão na igreja. Então ele caiu de joelhos, seus ombros
começando a tremer com soluços.
Os olhos dela se arregalaram, e ela olhou para trás. Yep, assustada, assim
como eu pensei. Eu cutuquei Tate, sussurrando “Se recomponha, você está
assustando ela,” enquanto mantinha o sorriso no rosto.
— Nathanial, — ele disse, rígido. — Por que ainda não cresceu uma nova
cabeça nela?
Racionalmente, eu sabia que ele estava certo, mas parecia que só haviam
passado minutos desde que nós deixamos o depósito de livros. Emoções agem
como seu próprio tipo de máquina do tempo, desacelerando ou fazendo
avançar rápido, dependendo das circunstâncias.
— Por que isso parece comigo? — Katie perguntou em um tom muito calmo.
Eu reprimi meu gemido. Eu estava tão nervosa sobre Denise que não pensei
em esconder a visão dela. Um dia no trabalho e eu já era uma mãe terrível,
deixando minha criança ver um corpo decapitado.
— Por que ela é minha amiga, e ela sabia que eu não queria que você
morresse.
— Sua atuação foi brilhante. — Ela disse naquele seu vocabulário muito
formal.
Muito rápido, o sorriso dela sumiu. — Mas agora isso está morto, você
deveria jogar isso fora antes que comece a feder.
Eu me encolhi, tanto pelo raciocínio frio quanto pelo medo de que ela possa
estar certa. Querido Deus, por favor, permita que Denise volte disso! O que ela
fez vai muito além da amizade – e da coragem. Eu não podia suportar que ela
possa ter partido para sempre por seu ato generoso. Até mesmo o pensamento
me fazia querer chorar sobre os seus restos até não restar nada em mim.
— Não é “isso”, — eu falei, com a voz rouca. — Ela, Katie. O certo é ela.
Nós tínhamos uma grande batalha pela frente para desprogramar todo o
treinamento sem consciência de Madigan. Katie tem sete, e seu corpo pode
parecer ter dez, mas, em algum lugar dentro dessa superfície militar
prematuramente envelhecida há uma garotinha. Eu só tinha que descascar as
camadas para encontrá-la.
— E Denise não está morta, — eu adicionei com uma rápida prece mental
para estar certa. — Ela vai voltar disso.
— Ela vai voltar, garota, — Nathanial concordou, seu tom confiante sendo
um bálsamo para o meu medo. — A mesma coisa já aconteceu comigo, e aqui
estou, inteiro. Ela vai ficar bem. Você vai ver.
Verdade, mas… — Todo mundo tem que começar de algum lugar, Ian.
Eu não me lembro de ter corrido para ela, mas, de alguma forma, eu estava
de pé na frente do banco, olhando para baixo em descrença enquanto cetim
cor de mogno parecia se derramar do buraco enorme no pescoço dela. Um
globo pálido o seguiu, inflando como um balão. Em outro borrão de movimento,
os traços do rosto ficaram distinguíveis na pele. Bem quando o botão de cima
saiu voando da sua camisa ensanguentada porque seu corpo voltou ao ]
tamanho e curvas normais, cílios escuros abriram, revelando olhos cor de avelã
piscando para mim.
agitadas do Atlântico, presa no lugar pela âncora que nós soltamos horas atrás.
REAPER costumava estar adornado em vermelho ao redor do casco, mas
agora dizia DESCANSO em letras verdes da cor do mar.
Mas ele ainda os fuzilava com o olhar, entretanto, e parecia que seu braço
estava grudado permanentemente ao redor de Denise. Ele não a soltou nem
quando ela me abraçou após Bones e eu sairmos do nosso bote.
Eu sempre seria grata – e maravilhada – pelo que ela fez. Que ela podia
fazer piadas sobre isso agora apenas mostrava o tamanho da sua coragem.
Se eu nunca pensei em ser mãe, ela realmente nunca pensou em ser uma
avó, e ela pareceu assumir como sua missão pessoal compensar os erros que
cometeu comigo dando muito amor para Katie.
— Ela é a minha segunda chance, — ela disse, olhando para mim com
remorso em seus olhos azuis.
— Eu vou sentir sua falta, — Eu falei para Denise, libertando ela do meu
abraço.
Ela sorriu, piscando para afastar o brilho em seus olhos cor de avelã.
— Eu também vou sentir sua falta, mas nós vamos nos ver após você se
estabelecer em algum lugar.
O olhar que ele deu a ela foi tão amoroso que eu não liguei por Spade meio
que nos odiar no momento. Ele era maravilhoso para a minha melhor amiga, e
é isso o que importa. Além disso, eu não podia culpá-lo por estar irritado,
apesar de Denise ter agido por vontade própria. Quando você ama alguém, o
pensamento de quase perdê-lo te faz enlouquecer. Quem era eu para julgá-lo
por isso?
Spade olhou para ela. Então ele a agarrou, usando-a para puxar Bones para
um abraço rápido e firme.
— Oh, Crispin, e vou sentir sua falta terrivelmente, — ela disse quando ele a
envolveu em um abraço.
Seu bufar foi, de alguma forma, elegante. — O que é uma tentativa de matar
uma a outra entre amigas, certo, querida?
— Nós podemos andar logo com isso? — Uma voz entediada falou. — Eu
tenho lugares para estar e pessoas para foder.
Com aquilo, eu dei um tapa nele com força suficiente para jogar a cabeça
dele para o lado. Quando se ajeitou, ele me lançou um sorriso pervertido.
Eu não estava lá para ver. Nem Bones. Mencheres executou nosso antigo
inimigo, arrancando a cabeça dele com uma explosão do seu incrível poder.
Madigan nunca soube o que o atingiu, Don disse. Em um momento, ele estava
tagarelando sobre lápis de cor, no outro, ele não estava mais.
O Madigan que destruiu tantas vidas não merecia um fim tão fácil, mas tudo
o que nos sobrou foi a concha dele. Fazer a concha pagar pelos crimes de
outro não parecia justo. Conceder a misericórdia de uma morte rápida e sem
dor era. Até mesmo a concha sabia demais sobre Katie para ser seguro.
Uma forma escura apareceu no céu turvo sobre nós, afastando aquela linha
de pensamento. Então aquela forma caiu quase mais rápido que a velocidade
do som, pousando com as costas para nós a cerca de quatro metros de
distância.
Eu só precisei ver o longo cabelo negro balançando com o vento para saber
que era Mencheres. Dê crédito ao antigo faraó por saber como fazer uma
entrada.
Quando ele se virou, eu esperei que a mulher abraçada ao seu peito fosse
Kira. Quando eu vi um cabelo negro espesso e um tom de pele decididamente
mais escuro, eu fiquei em choque.
Marie soltou Mencheres com uma graça real, mas ela parecia tão surpresa
em me ver quanto eu fiquei em vê-la.
— Você disse que tinha negócios urgentes comigo, Mencheres, — ela disse,
a voz mais fria do que a temperatura da noite. — Você me trouxe aqui para
vingança, então?
Ele ia contar a ela que Katie está viva? Bom Deus, por quê? Nós já
estávamos quase acabando de dar nossos adeus e a caminho de uma fuga
limpa!
Marie levantou as sobrancelhas como se dissesse você vai dividir isso com o
resto da classe ou não?
— Bones está certo, você não está aqui porque nós queremos vingança, —
Eu disse, — Nós não precisamos. Katie está viva.
O queixo de Marie até mesmo caiu, então ela me olhou de um jeito estranho,
como se estivesse se perguntando se minha mente tinha quebrado pela
tristeza.
— Eu não vejo como isso seja possível, — ela disse em um tom neutro.
Suspeita e descrença competiam nas feições dela antes que elas ficassem
perfeitamente suaves.
— Se a pessoa executada não era a criança, por que você diria a mim?
— Você é a única pessoa que pode nos encontrar sem procurar, — Bones
disse. — Com aqueles seus capangas nebulosos, ninguém pode se esconder
de você.
A boca do Bones se curvou. — E você vai querer fazer isso, por que se uma
palavra sobre ela ter sobrevivido vazar, você será considerada cúmplice de
enganar o conselho vampiro.
— Sim, vamos, — Eu disse de uma vez. — Ao invés disso, por que nós não
tentamos algo que nenhuma das nossas espécies foi capaz de fazer antes?
Vamos confiar uns nos outros.
— Em Nova Orleans, você jurou por seu sangue que se houvesse uma
execução pública, você deixaria Katie e o resto de nós em paz. Você conseguiu
sua execução. Agora, dê-nos nossa paz, e nós prometemos fazer o mesmo por
você e seu povo.
— Você está preparada para escondê-la até ela morrer uma morte natural?
Com a linhagem de sangue dela, isso pode demorar bastante.
Marie olhou para o barco outra vez. Eu também olhei. Tate estava no
convés, Katie de pé ao lado dele. Ela estava com Helsing nos braços, como de
costume. Pare meu deleite, Katie amava ter um animalzinho, e meu gatinho
recebeu o afeto adicional como devia. Já estava quase escuro, mas ainda
assim eu podia ver as novas mechas loiras no cabelo castanho-avermelhado
de Katie. Ela amava a luz do sol, embora nós tivéssemos que emplastrar ela de
protetor solar Fator 50. Talvez ela passe tanto tempo nele agora porque ela
raramente o via antes.
Então Marie olhou de volta para mim. Com uma pitada de sorriso sarcástico,
ela pegou minha mão.
Nós podíamos fazer qualquer coisa juntos. Eu não acreditei nisso antes, mas
acreditava agora.
Agora o sorriso dela foi sagaz. — Nem o de uma mãe, Reaper, como você
logo descobrirá.
Eu olhei para o barco, acenando dessa vez. Tate acenou de volta. Katie
olhou para ele, para mim, e então levantou a mão, balançando ela de forma
hesitante.
— Eu não posso esperar para descobrir, e é por isso que eu vou começar
agora. Bones?
Ele riu. — Eu já estava pronto, amor. É você que estava demorando tanto,
como sempre.
Eu não pude me impedir de sorrir. — Então não vamos esperar mais. Todo
mundo… nós os veremos novamente, alguns mais cedo, outros mais tarde,
mas, como vampiros dizem, até novamente.
Fim!
Nota da Tradutora:
Nossa série principal chegou ao fim :’( Embora ainda tenhamos um livro de
Night Prince para traduzir e, possivelmente, mais alguns contos, o coração fica
apertado em saber que não teremos mais Cat e Bones para nos fazer pirar!
Obrigada a todas as Kittens pelo carinho com o grupo, com nosso trabalho,
e por serem pacientes com os atrasos. Nós bem que gostaríamos de poder
traduzir o dia inteiro, mas infelizmente a vida real chama. E mesmo que a série
mude, seremos Kittens para sempre!
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