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SANTOS, José Luiz dos.O que é Cultura. 14 ed. - São Paulo: Brasiliense, 1994.

– (Coleção primeiros passos; 110)


A cultura expressa a complexidade e a multiplicidade de características dos diversos agrupamentos
humanos. Assim centra a sua análise sobre o tema o autor José Luiz dos Santos em O que é
Cultura, obra aqui resenhada que se divide em quatro partes- a saber: Cultura e diversidade;O que
se entende por cultura; A cultura em nossa sociedade e, finalmente, Cultura e relações de poder.
Como ponto de partida deve-se entender que cultura refere-se, então, à totalidade da humanidade
mas também a cada um dos seus diversos grupos humanos, sendo necessário reconhecer na
contemporaneidade o sentido de cada realidade cultural pra os que nela vivem.
Neste sentido, o estudo da cultura, que busca conhecer os códigos internos de cada realidade
cultural apresenta-se como importante elemento no combate aos preconceitos e na desconstrução de
estereótipos num contexto propiciado pela interação entre essas muitas culturas existentes, de
maneira que a cultura nos faria relacionar melhor com nosso próprio cotidiano, ajudando-nos a
entendermo-nos como seres históricos de uma realidade social.
O autor ressalta aqui que a intensificação do processo de interação entre as culturas é recente. Ao
longo do processo civilizatório foi possível o desenvolvimento de culturas isoladas, portanto muitas
histórias paralelas aos grandes centros políticos e econômicos puderam se desenvolver. Mas destaca
que alguns padrões comuns podem ser observados ao longo do desenvolvimento, como a gradativa
sedentarização de grupos nômades concomitante ao desenvolvimento da agricultura e
domesticação de animais.
Os primórdios da cultura humana estariam centrados naos recursos naturais disponíveis a cada
agrupamento social,à sua exploração, mas também na transposição da barreira destes recursos,
oriunda do sucesso do homem em se organizar em um novo arranjo social que revela a
engenhosidade do pensamento humano mas também sua tendência de poder a partir de modelos de
administração social politicamente centralizados.
De modo que os diversos contrastes existentes nas relações culturais e a complexidade da formação
das diferentes realidades não permite traçar um esquema linear de etapas do desenvolvimento da
cultura, tampouco permite a valorização de uma cultura em detrimento de outra, pois cada uma
deve ser medida segundo seus próprios parâmetros e não em um comparativo com outra. Torna-se
condenável hierarquizar culturas seja sob qual análise for.
Em Cultura e evolução nos encontramos com os estudos da cultura do século XIX, os quais
procuravam hierarquizar em “selvageria, barbárie e civilização” os estágios da cultura, sendo a
Europa burguesa o último estágio, o civilizado. Índios da Amazônia, por exemplo, seriam os
selvagens e reinos em África estariam próximos à barbárie.
Isso parte de uma visão eurocêntrica predominante no pensamento humano e esses estudos
serviriam não só aos interesses da dominação europeia capitalista sobre o mundo, como também
fomentaram teorias e discursos racistas, que inferiorizavam os povos não-europeus.
Em Cultura e Relativismo o autor salienta a necessidade de não se relativizar tudo que seja
referente à cultura pois, embora não haja nenhuma evidência ou lei natural que coloque uma cultura
como superior a outra(o que há são processos históricos que as relacionam), há que se considerar,
no entanto, que a produção material de algumas culturas faz com que a relação com outras seja
desigual, uma vez que muitas culturas foram construídas num contexto de dominação e
sobrepujança da cultura europeia.

Temos então que apenas a linearidade do processo cultural é relativa, o mais deve ser considerado
para fins de análise. Comportamentos humanos que são recorrentes nas diferentes formas de
dominação do humano sobre a natureza, bem como a essencialidade da produção material do
homem em sua história.
Em Cultura e Sociedade, Santos destaca que uma cultura é constituída de variadas influências
originárias e, dentro das próprias culturas nacionais, outras culturas isoladas se desenvolveram e
tudo isso se reflete no plano cultural geral. Assim, deve-se reconhecer que a organização social
vigente tem uma classe dominante, que faz prevalecer seus interesses e estes, por sua vez,
interferem e se relacionam mesmo com as formas sociais mais afastadas.

Os estudos da cultura no século XIX se mostraram necessários na medida em que os contatos, nem
sempre amistosos, entre os diversos povos se intensificaram. No entanto, esses estudos não
alcançaram um consenso sobre a definição de cultura.
O conceito tem alguns sentidos comuns, tratados na segunda parte (O que se entende por cultura)
do livro, normalmente relacionados à educação; ou às manifestações das belas-artes; ou ainda, na
contemporaneidade, à produção dos meios de comunicação. Pode se referir ainda às manifestações
comuns de um determinado povo, suas crenças, festas religiosas, vestuário, idioma.
O autor, contudo, trabalha com apenas duas concepções básicas de cultura: a primeira refletindo a
totalidade dos aspectos de uma realidade social, abarcando desde a concepção de mundo,
perpassando pela organização da vida em grupo até a produção de bens materiais. A
segunda às crenças e ideias específicas de um povo, relacionando-se com as dimensões associadas
ao conhecimento desse povo.
Desse modo a cultura não seria algo estanque, mas sim dinâmico em corrente transformação junto
com a realidade da qual não só faz parte como influencia em seus processos.
A linha temporal do desenvolvimento das preocupações traçada por Santos afere que povos antigos
já se preocupavam com as diversidades existentes nas manifestações culturais de diferentes regiões
do mundo, preocupação, que segundo ele, segue presente e vem sendo cada vez mais
problematizada ao longo da história do pensamento humano.
Desde sua origem no verbo “colere” do latim, que tem significado nas atividades agrícolas, de
cultivo da terra, o termo alargou-se, primeiramente com os romanos antigos que lhe atribuíram a
concepção de refinamento e boa educação pessoal(significado que persiste ainda hoje), passando
pelas particularidades alemãs no século XVIII e tendo no século XIX o auge das preocupações,
frente ao poderio das nações europeias sobre as partes mais pobres do mundo, de modo que a
cultura passa a ser um tema da máxima importância a ser sistematizado pelas ciências humanas.
Da época em questão depreende-se o contexto de laicização da visão de mundo social, onde o
cristianismo não seria mais a régua moral das decisões sociais e as novas teorias biológicas têm uma
ação preponderante na transformação da visão da humanidade sobre si mesma. Os estudos da
cultura foram impulsionados pelas novas formas de conhecimento advindas da ciência e serviram,
também, para legitimar os interesses políticos de poder e dominação da Europa naquele momento
histórico.
No caso da Alemanha do século XVII cultura servia a projeto de unificação de um país que não
tinha unidade política comum. Já no caso das Américas do século XX, cultura busca as relações de
formação cultural de nações forjadas a partir da colonização feita por países de diversas partes da
Europa. O que Santos diz aqui é que a tentativa de criação de uma unidade comum é uma
característica padrão na criação da ideia de nação. A cultura se relaciona, então, com a criação dos
estados nacionais, sempre do ponto de vista das classes dominantes, fazendo-se necessária a
compreensão de que essa cultura nacional é marcada pelo conflito de interesses dominantes e as
manifestações diversas que estão relacionadas a eles.
Cultura é a própria marca do processo civilizatório, uma vez entendida como oposição à selvageria
e à barbárie e, neste caso, é toda forma de existência humana, como é tratado pelas ciências sociais.
A “alta cultura” seria a oposição das classes dominantes ao “iletramento” das massas. Esses e
alguns outros pontos são colocados pelo autor ao tratar das preocupações da cultura.
Durante os séculos XVIII e XIX cultura e civilização seriam de termos de significados muito
próximos, dissociados ao longo do tempo pelos desdobramentos que ambos os termos tomaram. È,
no entanto, matéria comum aos estudos da cultura ba premissa de que se fala da humanidade, e não
de outras espécies animais, e depreende-se de cada contexto suas características próprias. Cultura
seria, neste sentido, a codificação que cada realidade social faz do conhecimento sobre si própria e
sobre as outras realidades com que se relaciona.
O estudo da cultura tenta compreender o sentido de cada manifestação cultural para aqueles que a
vivem e o simbolismo com que expressam seus valores sobre o mundo, sem dissociá-lo do processo
global do qual é parte.
Na tentativa de uma definição geral para cultura, em Então, o que é cultura? o autor assinala que
cultura compreende todos os aspectos da vida social e é parte de todo o processo social. Não é
natural, e sim um produto da coletividade humana. Assim, está vinculada aos movimentos de lutas
sociais, atuando contra a exploração de uma parte por outra, a desigualdade e a opressão.
A diversificação interna nas culturas contemporâneas é marcada pela existência das classes sociais,
que vivem problemas diferentes em sua realidade social e, mesmo dentro da própria classe comum,
não se pode falar em homogeneidade, haja vista as especificidades regionais de cada grupo. Assim
Santos analisa a cultura em nossa sociedade, que também é marcada pela polarização popular x
erudito de que o autor também trata.
No contexto da formação dos estados nacionais, convencionou-se chamar de cultura erudita o
conjunto das produções, sobretudo artísticas, das classes dominantes feito para legitimar essas
identidades, contrapondo-se ao conhecimento acessado e produzido pelas camadas populares, que
só mais tarde seria entendido como uma forma de cultura, a cultura popular.
Sob a ótica das instituições dominantes, transfiguradas na Academia, na Igreja ou na medicina, que
legitimou a “alta cultura” ao longo da história de modo sólido, o popular seria o produzido fora das
instituições, pelas camadas pobres da população, sendo, portanto, as próprias instituições
dominantes as responsáveis por hierarquizar as formas de cultura.
Isso nos colocaria diante da necessidade de entender a cultura popular como uma forma de
resistência contra a opressão das classes dominantes, pois ocorre à revelia das instituições que as
representam, e apesar delas, tendo a cultura popular um caráter revolucionário, à luz da tendência
atual das ciências humanas que trabalham sob a análise da insurgência do oprimido contra seu
opressor. O que ocorre é que os avanços no processo civilizatório, as conquistas da ciência, não são
usufruídos por todos e é neste sentido que a cultura estará intimamente ligada à luta de classe.
Ao tratar d'O popular na cultura, o autor diz que o popular estaria marcado pela forma como as
classes dominadas expressam a sua condição, mas não se reduz a isso: tem dinâmica própria, é
criativa. O que também se aplica, segundo ele, para tratar da questão da Comunicação de Massa.
Sociedades do consumo precisam de um modelo cultural específico, cabe às instituições prover a
homogenização do pensamento e isso é feito por meio da indústria cultural, que tenta neutralizar a
existência das diferenças sociais conflitantes e funciona, ela mesma, como produtora econômica
quando cria demandas específicas à aplicação de suas novas técnicas e responde a determinadas
relações de poder dentro de sua realidade social.
Isso incide profundamente nas culturas modernas, mas não as define, ao contrário, a organização
social é marcada por tensões e conflitos, inclusive em reação a essa massificação pretendida pelos
grandes meios de comunicação.
Assim, na parte final do livro, José Luiz dos Santos empreende uma análise de duas das principais
discussões em torno da cultura: Cultura Nacional e Cultura e Relações de Poder.
Cultura nacional, afirma Santos, não é uma invenção. É o resultado de um processo histórico que
abarca o conjunto das transformações ocorridas num recorte geográfico, as relações de diversidade
dentro desse recorte como parte de um todo que é comum.
Ressalta que se reconheça novamente a visão dominante elitista sobre a cultura, no caso da
brasileira marcada pela marginalização da origem africana e a apropriação da cultura indígena
apenas como elemento de diferenciação das outras nações para efeitos de independência.
As relações de poder, por sua vez, se impõem no debate sobre a cultura porque fazem parte de seu
próprio desenvolvimento, marcando a cultura como uma esfera básica da vida social no âmbito do
saber e poder de que trata o autor, analisando que os movimentos sociais atuais reivindicam a
ampliação da cultura por meio dos serviços públicos a partir da descentralização do saber das mãos
das elites. A cultura na contemporaneidade é também entendida como um direito e os equívocos de
que o autor tratou ao longo da obra servem a interesses dominantes.
Em última análise, Santos assinala ,então, que cultura é o legado comum de toda a humanidade.

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