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1 INTRODUÇÃO
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Graduada em Economia Doméstica e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da
Universidade Federal do Ceará.
2
Profª. Dra. do Departamento de Economia Doméstica e do Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal do Ceará.
3
Graduada em Economia Doméstica pela Universidade Federal do Ceará.
A juventude é compreendida no plural, como forma de enfatizar a diversidade dos
modos de ser dos jovens, a partir de suas experiências vividas nos diferentes contextos
sociais. Propõe-se a realizar uma discussão sobre os grupos juvenis e a sua relação com a
escola no contexto de uma escola profissionalizante em Fortaleza/CE.
O objetivo principal é analisar como, na relação entre os grupos e a escola, os
jovens são compreendidos pela instituição e como criam seus espaços de lazer e
sociabilidades no ambiente escolar.
A pesquisa foi realizada na Escola Profissionalizante Paulo Petrola, localizada na
Barra do Ceará. Os sujeitos da pesquisa são os jovens e as jovens de duas turmas de segundo
ano, sendo uma de Turismo e a outra de Informática. E têm idades entre 14 e 17 anos e são,
em sua maioria, moradores do próprio bairro onde fica localizada a escola.
Optei por utilizar metodologia de pesquisa qualitativa por entender que essa é a
que mais se adéqua aos meus objetivos e ao meu modo de compreender os sujeitos da
pesquisa, uma vez que a pesquisa qualitativa valoriza a integração entre os pesquisadores e os
pesquisados, reconhecendo que os sujeitos possuem desejos, conflitos e experiências que são
importantes e contribuem na produção do conhecimento, numa verdadeira troca de saberes. A
metodologia utilizada incluiu observações, grupos focais, entrevista com alunos/as e a
coordenação e diário de campo.
A participação em grupos possibilita aos/as jovens constituir seus espaços de
formação e sociabilidade, e que são pouco valorizados pela escola que não reconhece a
dimensão educativa vivida nos grupos juvenis. Os grupos, assim como a escola, é um espaço
educativo, pois é um local privilegiado de construção e trocas de saberes, valores e referências
identitárias.
O lazer é uma das atividades que os/as jovens mais gostam de fazer quando estão
juntos. Muitas vezes só o fato de estarem juntos já se constitui uma atividade de lazer. Bater
papo, ouvir música, fazer molecagem, são atividades que independente da intenção e do lugar
do encontro são motivos de diversão.
Simmel (2006), na sociabilidade, o falar se torna um fim em si mesmo. As
conversas não possuem um interesse pré-estabelecido, a interação é o seu conteúdo mais
significativo.
Os grupos estão sempre reunidos e realizam todas as atividades juntos. Estudam,
almoçam, conversam durante os intervalos e se encontram nos finais de semana e feriados,
muitas vezes para estudar, mas também para sair. Muitos/as falaram que sempre que é
possível se reúnem na casa de um deles, vão à praia e ao cinema. Os jovens se reúnem
também para jogar futebol. “No sábado, de vez em quando, a gente marca uns rachas aqui na
escola pra gente vir. Aí, daqui a gente desce pra praia, ai a gente marca qualquer coisinha pra
gente sempre tá junto” (Aluno de turismo, 15 anos).
Na escola profissionalizante, os grupos possuem uma configuração diferente,
porque os/as jovens ficam muito tempo juntos/as, o que intensifica a convivência grupal e
fortalece as relações entre eles/as. Outro fator é que, por ficar muito tempo na escola, o tempo
para o lazer e para ficarem com os amigos fora da escola é muito restrito, o que leva os jovens
a se distanciarem de outros grupos que não sejam da escola. “O nosso grupo de amigos é
nossa segunda família, porque passamos mais tempo na escola do que com nossa própria
família” (Aluna de turismo, 16 anos).
Para Pais (2008), os grupos afirmam-se por comportamentos, numa luta pela
significação. Com efeito, as identidades grupais entrecruzam-se com identidades pessoais em
processos de identificação que refletem a intersecção de um “eu” com um “nós”, em
contraposição com outros, olhados como “eles” (p.209).
Assumir identidades é uma forma da juventude se afirmar, ao mesmo tempo em
que a formação de grupos que se constroem através dessas identificações facilita a
sociabilidade dos jovens perante a sociedade, o que facilita tanto a reprodução de valores da
sociedade em que vivem quanto a produção de valores, ideias e visões de mundo próprias do
grupo.
No caso do grupo de futsal, além do esporte, a relação da amizade entre os
componentes é muito forte. Todos ressaltaram a importância que este tem nas suas vidas. O
grupo, além de ser um local de interação e diversão, é também um espaço de solidariedade e
de formação. Os/as jovens se preocupam com os membros do grupo, estão sempre dispostos a
ajudar, mesmo que seja ouvindo e conversando. Ajudam-se com os trabalhos e tarefas
escolares e sempre que falam de futuro, de vestibular, de conseguir um bom trabalho, fazem
referência ao grupo, querem entrar numa universidade, ter uma vida melhor, mas não
sozinhos, desejam para os/as amigos/as do grupo as realizações que desejam para si.
“A convivência em grupos possibilita a criação de relações de confiança, desse
modo, a aprendizagem das relações sociais servem também de espelho para a construção de
identidades coletivas e individuais” (BRENNER et all, 2005, p.177). Os/as jovens consideram
o grupo também como um espaço de formação e de aprendizagens.
3. Espaços de sociabilidades
Imersos nessa visão estreita da educação, dos processos educativos, do seu papel
como educador e, sobretudo do aluno, o professor não percebe a dimensão do
conjunto das relações que se estabelecem ali na sua frente, na sala de aula. Deixa,
assim, de potencializar a aprendizagem, já em curso, de uma das dimensões
humanas, ou seja, do grupo, das relações sociais e seus conflitos (DAYRELL, 1996,
p. 155.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pesquisar a relações entre grupos juvenis e escola exigiu um aprofundamento
tanto no que diz respeito à dinâmica do cotidiano escolar, quanto ao significado dos grupos
juvenis para os jovens. Ambos se apresentam como importantes para a formação juvenil, uma
vez que mobilizam processos educativos significativos tanto para o presente quanto para o
futuro dos jovens. No entanto, quando tratamos da constituição de grupos juvenis no espaço
escolar, uma série de conflitos emerge em virtude das diferenças que permeiam essas práticas
educativas.
Enquanto a escola é instituição oficialmente reconhecida pela sociedade como o
espaço de formação dos jovens, os grupos juvenis são, muitas vezes, entendidos como
espaços restritos ao lazer e à sociabilidade, estando a dimensão educativa e formativa
invisibilizadas pelo entendimento restrito de educação juvenil.
A dinâmica educativa vivida na escola insiste em não olhar os jovens como
sujeitos ativos de sua aprendizagem, restringindo-os a meros receptores de conhecimentos
pré-definidos por terceiros e se negando a ouvi-los nos espaços de definição e escolha do
processo educativo. Dessa maneira, as relações entre os sujeitos nos processos de
aprendizagens da escola são permeadas por hierarquizações em que os jovens estão
subordinados ao que os adultos definem como importantes e necessários a esta aprendizagem.
Os grupos juvenis, por sua vez, têm os jovens como sujeitos centrais da prática educativa, da
vivência interativa, uma vez que se constituem pelos jovens e para os jovens, na dinâmica da
vida cotidiana, utilizando-se dos seus saberes, em uma relação que tem como referência a
horizontalidade dos sujeitos envolvidos.
Outro diferencial significativo está em como esses espaços educativos articulam a
relação tempo/juventude. Isso é perceptível quando observamos que a escola, e aqui a escola
profissionalizante, concentra-se em preparar o jovem para o futuro longínquo, ignorando as
vivências e necessidades emergentes do presente juvenil. Os grupos, na contramão dessa
perspectiva, mobilizam os saberes e vivências da vida juvenil, numa dinâmica de interação do
vivido no presente, possibilitando descobertas e mobilização de relações entre iguais.
Apesar dessas diferenças, ambos, a escola e os grupos juvenis, são espaços de
encontros, de interações e vivências cotidianas. Isso permite que ocorram simultaneamente,
ou melhor, possibilita a escola tornar-se um lócus para a constituição de grupos juvenis.
Esse contexto de diferenças que ocorrem nas práticas educativas se entrecruza no
ambiente escolar e gera conflitos, no entanto, permite que pensemos em possibilidades de
uma escola que reconheça a importância da amizade e da sociabilidade vivida nos grupos
juvenis. Demonstra, também, a capacidade juvenil de ressignificar os espaços vividos
atribuindo-lhes novas apropriações e novos contornos. Isso porque, foi perceptível, que
mesmo à revelia da escola, os jovens interagem, encontram-se e constroem laços de
afetividades entre pares na escola.
Acredito que as questões levantadas nesse trabalho possam contribuir na
elaboração de práticas educativas que valorizem os estudantes enquanto sujeitos, procurando
compreender o universo cultural juvenil e entendendo-o como parte constituinte do universo
escolar.
Somos sabedores/as da necessidade de diálogo entre os/as jovens e a escola, e esse
é um tema bastante recorrente. Os grupos dos quais os/as jovens fazem parte devem ser
reconhecidos para que possam sentir-se parte da escola e do processo educativo. Essa é uma
questão importante a ser considerada para que da ação educativa da escola seja mais
significativa para esses sujeitos.
A escola se apresenta de forma ambígua para os/as jovens, ao mesmo tempo em
que não reconhece a diversidade dos modos de ser juvenis e a importância da participação
destes nos grupos. No entanto, é um dos locais onde os grupos se formam e se articulam.
Embora os jovens reconheçam que a escola é de boa qualidade e que os prepara para o futuro,
reclamam da sua rigidez, do pouco espaço de lazer, da falta de atividades culturais e das
muitas tarefas e normas que eles têm que cumprir.
Proporcionar espaços de sociabilidade e de lazer não significa abdicar dos
conteúdos e das normas que fazem parte da dinâmica escolar, mas significa compreender a
escola não apenas como o espaço onde os/as jovens aprendem conteúdos e matérias, mas
também o local onde eles/as vão para se relacionar, para aprender a conviver com as
diferenças, a se relacionar com o outro, se expressar, se divertir. Enfim, se constituir enquanto
sujeito, sujeito este que é múltiplo e que possui múltiplas dimensões dentro e fora da escola.
REFERÊNCIAS
BRENNER, Ana Karina et all. Culturas do lazer e do tempo livre dos jovens brasileiros. In:
BRANCO, Paulo Pedro Martoni; ABRAMO, Helena Wendel (Orgs.). Retratos da Juventude
Brasileira: análise de uma pesquisa nacional. São Paulo: Instituto Cidadania e Fundação
Perseu Abramo, 2005.
DAYRELL, Juarez. A escola como espaço sociocultural. In: __________. (Org.) Múltiplos
olhares sobre educação e cultura. Belo Horizonte: UFMG, 1996.
PAIS, José Machado. Culturas de Grupo. In: LAGES, Mário Ferreira; MATOS, Artur Teodoro
de (Coord.). Portugal: Recursos de Interculturalidade (Contextos e Dinâmicas). Vol. II.
Lisboa: Alto-Comissário para a Imigração e Diálogo Intercultural, 2008.
__________. Culturas Juvenis. 2ª edição. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2003.
SPOSITO, Marília Pontes. A sociabilidade juvenil e a rua: novos conflitos e ação coletiva
na cidade. Tempo Social – Revista de Sociologia. Vol. 5. São Paulo: USP, 1994
TOSTA, Sandra Pereira; MAIA, Carla Valéria. Culturas e Saberes Juvenis: um desafio
contemporâneo. Revista Travessias. Vol. 3, nº 2. Pará: Unioeste, 2009.