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JUVENTUDE, PROCESSOS EDUCATIVOS E ESCOLA

GRUPOS JUVENIS E ESCOLA: CONFLITOS E POSSIBILIDADES


FRANCISCA LIDIANE ARAÚJO DE SOUZA/UFC
CELECINA DE MARIA VERAS SALES/UFC
JAIANE ARAÚJO DE OLIVEIRA/UFC

GRUPOS JUVENIS E ESCOLA: CONFLITOS E POSSIBILIDADES


Francisca Lidiane Araújo de Souza 1
Celecina de Maria Veras Sales 2
Jaiane Araújo de Oliveira 3

1 INTRODUÇÃO

Existem muitos trabalhos escritos e algumas pesquisas realizadas sobre a


importância que os grupos e a relação entre pares desempenham na vida dos jovens, bem
como do pouco interesse da escola por essas atividades que não estão relacionadas
diretamente com os conteúdos propostos no seu programa político pedagógico. Autores como
Sposito, Dayrell, Carrano, Abramovay, Damasceno, entre outros, apontam em seus estudos
para a necessidade de diálogo entre as culturas juvenis e a escola.
Neste trabalho, proponho-me a realizar uma discussão sobre os grupos juvenis e a
sua relação com a escola no contexto de uma escola profissionalizante em Fortaleza/CE. O
enfoque desse trabalho está nas relações entre os grupos juvenis e a escola, considerando que
esta é o espaço de encontro da juventude e, portanto, propicia a formação de diversos grupos.

1
Graduada em Economia Doméstica e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da
Universidade Federal do Ceará.
2
Profª. Dra. do Departamento de Economia Doméstica e do Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal do Ceará.
3
Graduada em Economia Doméstica pela Universidade Federal do Ceará.
A juventude é compreendida no plural, como forma de enfatizar a diversidade dos
modos de ser dos jovens, a partir de suas experiências vividas nos diferentes contextos
sociais. Propõe-se a realizar uma discussão sobre os grupos juvenis e a sua relação com a
escola no contexto de uma escola profissionalizante em Fortaleza/CE.
O objetivo principal é analisar como, na relação entre os grupos e a escola, os
jovens são compreendidos pela instituição e como criam seus espaços de lazer e
sociabilidades no ambiente escolar.
A pesquisa foi realizada na Escola Profissionalizante Paulo Petrola, localizada na
Barra do Ceará. Os sujeitos da pesquisa são os jovens e as jovens de duas turmas de segundo
ano, sendo uma de Turismo e a outra de Informática. E têm idades entre 14 e 17 anos e são,
em sua maioria, moradores do próprio bairro onde fica localizada a escola.
Optei por utilizar metodologia de pesquisa qualitativa por entender que essa é a
que mais se adéqua aos meus objetivos e ao meu modo de compreender os sujeitos da
pesquisa, uma vez que a pesquisa qualitativa valoriza a integração entre os pesquisadores e os
pesquisados, reconhecendo que os sujeitos possuem desejos, conflitos e experiências que são
importantes e contribuem na produção do conhecimento, numa verdadeira troca de saberes. A
metodologia utilizada incluiu observações, grupos focais, entrevista com alunos/as e a
coordenação e diário de campo.
A participação em grupos possibilita aos/as jovens constituir seus espaços de
formação e sociabilidade, e que são pouco valorizados pela escola que não reconhece a
dimensão educativa vivida nos grupos juvenis. Os grupos, assim como a escola, é um espaço
educativo, pois é um local privilegiado de construção e trocas de saberes, valores e referências
identitárias.

2 O grupo como espaço de lazer e de amizades

Para os jovens, agrupar-se é uma necessidade. As relações entre pares são de


extrema importância para a vida destes indivíduos que estão em processo de construção de
suas identidades. Os jovens se encontram em diversos espaços, quase nunca estando sós.
“Esses grupos tem suas variações, e, na sua heterogeneidade, há sempre experimentações de
sociabilidade, em que afetam seus pares e são afetados por eles” (SALES, 2010, p.25). De
acordo com Pais (2003), as redes grupais estão associadas às identidades juvenis que são
definidas nas relações entre si.
Desde o primeiro encontro, vários/as jovens fizeram referências ao grupo de
amigos. Para eles/elas o grupo é o local onde eles se sentem bem, seguros e sabem que têm
sempre com quem contar. O grupo de amigos é, muitas vezes, considerado pelos/as jovens
mais próximo do que a própria família pelo fato de, no grupo, poderem falar sobre tudo,
contar os segredos e ser compreendidos, o que, muitas vezes, não ocorre no ambiente familiar.
Dos/as jovens que participaram da pesquisa, 50% participa de grupos religiosos;
38,8% participam de grupo de amigos; 24,4% participam de grupos de esporte e em
porcentagens menores apareceram jovens que participam de grupos de teatro, de música e de
dança.
O grupo de pares, o lazer e a diversão aparecem como elementos importantes para
a construção da singularidade da condição juvenil, sendo em torno dessas atividades que se
desenvolvem preferencialmente as relações de sociabilidade e a busca de novas referências na
estruturação de identidades individuais e coletivas (DAYRELL, 2005).
A participação dos/das jovens em grupos e redes de amizades expressa as
potencialidades do viver e agir coletivamente, buscando alternativas criativas para a sua
existência.
São gestos, símbolos, formas lúdicas de sociabilidade, redes de relacionamento,
canções e múltiplas formas de utilizar e representar o corpo aparentemente sem
sentido para os “de fora”, mas que dão a liga da experiência comunitária de vivência
da juventude neste nosso tempo histórico (CARRANO, 2009, p. 163).

O lazer é uma das atividades que os/as jovens mais gostam de fazer quando estão
juntos. Muitas vezes só o fato de estarem juntos já se constitui uma atividade de lazer. Bater
papo, ouvir música, fazer molecagem, são atividades que independente da intenção e do lugar
do encontro são motivos de diversão.
Simmel (2006), na sociabilidade, o falar se torna um fim em si mesmo. As
conversas não possuem um interesse pré-estabelecido, a interação é o seu conteúdo mais
significativo.
Os grupos estão sempre reunidos e realizam todas as atividades juntos. Estudam,
almoçam, conversam durante os intervalos e se encontram nos finais de semana e feriados,
muitas vezes para estudar, mas também para sair. Muitos/as falaram que sempre que é
possível se reúnem na casa de um deles, vão à praia e ao cinema. Os jovens se reúnem
também para jogar futebol. “No sábado, de vez em quando, a gente marca uns rachas aqui na
escola pra gente vir. Aí, daqui a gente desce pra praia, ai a gente marca qualquer coisinha pra
gente sempre tá junto” (Aluno de turismo, 15 anos).
Na escola profissionalizante, os grupos possuem uma configuração diferente,
porque os/as jovens ficam muito tempo juntos/as, o que intensifica a convivência grupal e
fortalece as relações entre eles/as. Outro fator é que, por ficar muito tempo na escola, o tempo
para o lazer e para ficarem com os amigos fora da escola é muito restrito, o que leva os jovens
a se distanciarem de outros grupos que não sejam da escola. “O nosso grupo de amigos é
nossa segunda família, porque passamos mais tempo na escola do que com nossa própria
família” (Aluna de turismo, 16 anos).
Para Pais (2008), os grupos afirmam-se por comportamentos, numa luta pela
significação. Com efeito, as identidades grupais entrecruzam-se com identidades pessoais em
processos de identificação que refletem a intersecção de um “eu” com um “nós”, em
contraposição com outros, olhados como “eles” (p.209).
Assumir identidades é uma forma da juventude se afirmar, ao mesmo tempo em
que a formação de grupos que se constroem através dessas identificações facilita a
sociabilidade dos jovens perante a sociedade, o que facilita tanto a reprodução de valores da
sociedade em que vivem quanto a produção de valores, ideias e visões de mundo próprias do
grupo.
No caso do grupo de futsal, além do esporte, a relação da amizade entre os
componentes é muito forte. Todos ressaltaram a importância que este tem nas suas vidas. O
grupo, além de ser um local de interação e diversão, é também um espaço de solidariedade e
de formação. Os/as jovens se preocupam com os membros do grupo, estão sempre dispostos a
ajudar, mesmo que seja ouvindo e conversando. Ajudam-se com os trabalhos e tarefas
escolares e sempre que falam de futuro, de vestibular, de conseguir um bom trabalho, fazem
referência ao grupo, querem entrar numa universidade, ter uma vida melhor, mas não
sozinhos, desejam para os/as amigos/as do grupo as realizações que desejam para si.
“A convivência em grupos possibilita a criação de relações de confiança, desse
modo, a aprendizagem das relações sociais servem também de espelho para a construção de
identidades coletivas e individuais” (BRENNER et all, 2005, p.177). Os/as jovens consideram
o grupo também como um espaço de formação e de aprendizagens.

[...] “é o momento também de formação da gente, porque é o momento da gente


debater temas que está acontecendo por aqui, tanto aqui quanto no mundo inteiro
[...] aí vai formando várias ideias” (Aluno de turismo, 16 anos). “Os amigos da gente
têm novas experiências, a gente compartilha novas experiências com eles” (Aluna de
turismo, 17 anos).

Os grupos, assim como a escola, são um espaço educativo, pois é um local


privilegiado de construção e trocas de saberes, valores e referências identitárias. Os jovens
consideram que o grupo tem um papel importante nas suas vidas, pois é com os amigos do
grupo que eles passam a maior parte do tempo, e é com quem eles “batem papo”, “trocam
ideias”, saem para se divertir e constroem suas relações de amizades e afetos, representando,
desse modo, um espaço importante de sociabilidades, lazer e aprendizagens.

3. Espaços de sociabilidades

A escola é o local propício ao encontro e a formação de grupos, sendo, desse


modo, o lugar onde os/as alunos/as gostam de estar, sendo para eles, “um espaço importante
de sociabilidade, porque possibilita encontro, relação entre pares” (SALES, 2011, p.7). De
acordo com Damasceno (2001), para os/as jovens, uma das funções mais importantes na
escola reside na possibilidade do encontro, na relação entre pares, ou seja, a escola é
considerada o local propício para fazer amizades.
Na escola Paulo Petrola, não existem espaços formais de interação e sociabilidade,
como grupos culturais ou eventos que sejam realizados pelos/as próprios/as jovens. Em
entrevista à coordenadora, perguntei se a escola realiza eventos culturais ou se existe algum
grupo cultural na escola. Ela reconheceu que era uma falha, mas que não havia uma
preocupação da escola com relação a estes aspectos, visto que os alunos dispõem de pouco
tempo, e para realizar atividades extracurriculares teriam que perder aula para realizar ensaios
ou mesmo para organização dos eventos. Ou seja, a escola não reconhece a importância
desses momentos, de modo que, não permite que os/as alunos/as percam um horário de aula
para se envolverem em outras atividades. Para a escola, as aulas e os conteúdos é que são
realmente importantes, em detrimento da socialização entre os alunos.
A escola não reconhece os momentos de lazer e de interação como importantes
para a formação dos/as jovens. Considera que eles/as estariam “perdendo tempo” que poderia
ser dedicado aos conteúdos.

Imersos nessa visão estreita da educação, dos processos educativos, do seu papel
como educador e, sobretudo do aluno, o professor não percebe a dimensão do
conjunto das relações que se estabelecem ali na sua frente, na sala de aula. Deixa,
assim, de potencializar a aprendizagem, já em curso, de uma das dimensões
humanas, ou seja, do grupo, das relações sociais e seus conflitos (DAYRELL, 1996,
p. 155.

Os únicos espaços formais de lazer e sociabilidades presentes na escola são os


campeonatos interclasses, as amostras profissionais, que embora sejam momentos de muito
estudo e preparação para a apresentação das atividades do curso profissionalizante pelos/as
alunos/as, são consideradas por eles/as como uma atividade de lazer, bem como as aulas de
Educação Física que são consideradas como a principal atividade de lazer oferecida pela
escola. Portanto, qualquer atividade que é realizada fora da sala de aula, que foge um pouco às
regras, é considerada como um momento de lazer.
A Educação Física é a aula preferida dos/as alunos/as das duas turmas
investigadas. Eles/as afirmaram que é o momento em que podem extravasar e ficar livre das
regras e rigidez da sala de aula. “A aula de Educação Física é a melhor, porque é o momento
que a gente extravasa, fica livre. É também a única aula que não tem dever. Na sala é tudo
muito regrado” (Aluno de informática, 16 anos); “é o único momento de lazer que a gente tem
na escola” (Aluna de Turismo, 15 anos).
Mesmo sendo a aula preferida dos/as alunos/as, a Educação Física é cortada por
qualquer motivo, desde a falta do professores até a reposição de aulas. Quando precisa de um
horário de aula, usa-se o da Educação Física porque é o que não é considerado importante
pela escola
Dentro da escola e fora dela, os/as jovens possuem redes próprias de
sociabilidades. Eles/as se apropriam e ressignificam os espaços institucionais da escola,
recriando outros sentidos para eles e criando formas de sociabilidades próprias. Assim, os
corredores, as mesas do almoço, as escadas, a quadra, tornam-se locais de encontro, bate
papos e paqueras. Essa reapropriação dos espaços pelos jovens expressa a sua forma de
compreender a escola e as relações, a importância que eles/as atribuem ao encontro e a
relação entre pares.
Damasceno (2001) mostra em seus estudos que a escola é considerada relevante
pelos/as jovens quando possibilita o encontro com os amigos. Sendo assim, os pátios, os
corredores, os espaços externos da escola são lugares mais agradáveis e interessantes.
Durante os intervalos, nos corredores, na quadra, os diversos grupos se reúnem
para conversarem, ouvirem músicas, namorarem (embora seja proibido pela escola). São os
momentos em que ficam mais livres das normas.
Outros espaços que os/as jovens gostam de frequentar na hora dos intervalos,
como a biblioteca (onde tem uma TV) e sala de informática, não podem ser utilizados da
forma como eles gostariam. A biblioteca dispõe de poucos livros, a internet é muito lenta e a
TV tem que ficar sempre nos canais em que estão passando telejornais, os/as alunos/as não
podem escolher os programas que querem assistir. “Um dia a gente tava assistindo o desenho
animado, ai a diretora chegou e mudou de canal, disse que tinha que ficar no jornal” (Aluno
de turismo, 15 anos).
Sposito (1994) afirma que as relações autoritárias entre os educadores e os/as
alunos/as dificultam o estabelecimento de uma interação entre esses segmentos por não haver
espaço livre de debate de ideias e de concepções.
Além disso, esses espaços são bastante “monitorados”, há um olhar de vigilância
sobre os espaços/ momentos em que os jovens “estão livres”, ou seja, em que não estão na
sala de aula. Há câmeras nos corredores, na biblioteca e no pátio.
Apesar do pouco incentivo aos momentos de interação e do pouco tempo livre que
os/as jovens têm na escola, visto que estudam os dois turnos e tem muitas disciplinas para
estudar, esse modelo de escola em tempo integral intensifica as relações de sociabilidades,
uma vez que os/as alunos/as ficam muito tempo juntos. Há uma relação de amizade muito
forte entre os/as jovens, pois a escola é o espaço onde eles ficam a maior parte do tempo, o
que os levam a considerá-la como a “segunda casa” e os amigos e professores como a
“segunda família”.
A sala de aula também é um espaço de encontro, embora com características
próprias. É a convivência rotineira de pessoas com trajetórias, culturas, interesses diferentes
que passam a dividir um mesmo território durante três anos. Formam-se subgrupos por
afinidades e interesses comuns. Para Dayrell (1996), a sala de aula é um espaço potencial de
debates de ideias, confrontos de valores e visões de mundo que interfere no processo de
formação e educação dos alunos. É também um espaço de aprendizagem de convivência
grupal, onde as pessoas estão lidando constantemente com as normas, os limites e a
transgressão.
Nas duas turmas, informática e turismo, os/as jovens relataram que as turmas são
divididas por grupinhos de afinidades. Dentro da mesma turma, há aqueles que são
considerados colegas e aqueles que são considerados amigos. Os grupinhos que se consideram
“amigos de verdade” estão sempre juntos, almoçam, estudam, conversam durante os
intervalos, fazem todas as atividades juntos.
Esse pertencimento não ocorre de forma fixa, e sim de formas múltiplas e
variáveis, exatamente porque as identificações e afinidades também não são fixas. Como
afirma Melucci (1997), a maneira pela qual os jovens constroem suas experiências é cada vez
mais e mais fragmentada, podendo estes pertencer a uma pluralidade de redes e de grupos.
Carrano (2003) colabora com essa ideia. Para ele, as identidades juvenis são múltiplas, “o
“eu” é relacional e móvel, se redefinindo continuamente como resposta a uma dinâmica social
que existe uma multiplicidade de linguagens e relações para a produção das identidades” (p.
124).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pesquisar a relações entre grupos juvenis e escola exigiu um aprofundamento
tanto no que diz respeito à dinâmica do cotidiano escolar, quanto ao significado dos grupos
juvenis para os jovens. Ambos se apresentam como importantes para a formação juvenil, uma
vez que mobilizam processos educativos significativos tanto para o presente quanto para o
futuro dos jovens. No entanto, quando tratamos da constituição de grupos juvenis no espaço
escolar, uma série de conflitos emerge em virtude das diferenças que permeiam essas práticas
educativas.
Enquanto a escola é instituição oficialmente reconhecida pela sociedade como o
espaço de formação dos jovens, os grupos juvenis são, muitas vezes, entendidos como
espaços restritos ao lazer e à sociabilidade, estando a dimensão educativa e formativa
invisibilizadas pelo entendimento restrito de educação juvenil.
A dinâmica educativa vivida na escola insiste em não olhar os jovens como
sujeitos ativos de sua aprendizagem, restringindo-os a meros receptores de conhecimentos
pré-definidos por terceiros e se negando a ouvi-los nos espaços de definição e escolha do
processo educativo. Dessa maneira, as relações entre os sujeitos nos processos de
aprendizagens da escola são permeadas por hierarquizações em que os jovens estão
subordinados ao que os adultos definem como importantes e necessários a esta aprendizagem.
Os grupos juvenis, por sua vez, têm os jovens como sujeitos centrais da prática educativa, da
vivência interativa, uma vez que se constituem pelos jovens e para os jovens, na dinâmica da
vida cotidiana, utilizando-se dos seus saberes, em uma relação que tem como referência a
horizontalidade dos sujeitos envolvidos.
Outro diferencial significativo está em como esses espaços educativos articulam a
relação tempo/juventude. Isso é perceptível quando observamos que a escola, e aqui a escola
profissionalizante, concentra-se em preparar o jovem para o futuro longínquo, ignorando as
vivências e necessidades emergentes do presente juvenil. Os grupos, na contramão dessa
perspectiva, mobilizam os saberes e vivências da vida juvenil, numa dinâmica de interação do
vivido no presente, possibilitando descobertas e mobilização de relações entre iguais.
Apesar dessas diferenças, ambos, a escola e os grupos juvenis, são espaços de
encontros, de interações e vivências cotidianas. Isso permite que ocorram simultaneamente,
ou melhor, possibilita a escola tornar-se um lócus para a constituição de grupos juvenis.
Esse contexto de diferenças que ocorrem nas práticas educativas se entrecruza no
ambiente escolar e gera conflitos, no entanto, permite que pensemos em possibilidades de
uma escola que reconheça a importância da amizade e da sociabilidade vivida nos grupos
juvenis. Demonstra, também, a capacidade juvenil de ressignificar os espaços vividos
atribuindo-lhes novas apropriações e novos contornos. Isso porque, foi perceptível, que
mesmo à revelia da escola, os jovens interagem, encontram-se e constroem laços de
afetividades entre pares na escola.
Acredito que as questões levantadas nesse trabalho possam contribuir na
elaboração de práticas educativas que valorizem os estudantes enquanto sujeitos, procurando
compreender o universo cultural juvenil e entendendo-o como parte constituinte do universo
escolar.
Somos sabedores/as da necessidade de diálogo entre os/as jovens e a escola, e esse
é um tema bastante recorrente. Os grupos dos quais os/as jovens fazem parte devem ser
reconhecidos para que possam sentir-se parte da escola e do processo educativo. Essa é uma
questão importante a ser considerada para que da ação educativa da escola seja mais
significativa para esses sujeitos.
A escola se apresenta de forma ambígua para os/as jovens, ao mesmo tempo em
que não reconhece a diversidade dos modos de ser juvenis e a importância da participação
destes nos grupos. No entanto, é um dos locais onde os grupos se formam e se articulam.
Embora os jovens reconheçam que a escola é de boa qualidade e que os prepara para o futuro,
reclamam da sua rigidez, do pouco espaço de lazer, da falta de atividades culturais e das
muitas tarefas e normas que eles têm que cumprir.
Proporcionar espaços de sociabilidade e de lazer não significa abdicar dos
conteúdos e das normas que fazem parte da dinâmica escolar, mas significa compreender a
escola não apenas como o espaço onde os/as jovens aprendem conteúdos e matérias, mas
também o local onde eles/as vão para se relacionar, para aprender a conviver com as
diferenças, a se relacionar com o outro, se expressar, se divertir. Enfim, se constituir enquanto
sujeito, sujeito este que é múltiplo e que possui múltiplas dimensões dentro e fora da escola.

REFERÊNCIAS

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