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Invasão da Sicília

Vitória ou Derrota?

A estratégia definitiva dos Aliados na Sicília seria, em última


análise, função do comportamento do inimigo, isto é, se ia haver, por
parte dele, resistência feroz ou colapso total. Os Aliados conseguiram
seu objetivo, a conquista da ilha, mas um punhado de tropas alemães e
italianas opôs tremenda resistência a dois exércitos Aliados.

O primeiro ataque à Europa

A invasão da Sicília, em julho de 1943, assinalou o retorno dos


Aliados à Europa e foi o primeiro passo que deram no sentido de
libertar o continente europeu das garras de Hitler. O fato se deu três
anos após haver ele entrado na posse, por assim dizer, da Europa
ocidental, com a queda da França e a expulsão dos britânicos do
continente.

Em retrospecto, a carga sobre a grande ilha da Itália, que se


constituiu num êxito expressivo, pois em cinco dias ficou inteiramente
livre de tropas alemães e italianas, foi na realidade um salto arriscado
e cercado de incertezas.

Embora o desembarque dos Aliados no Noroeste da África - África


do Norte Francesa - no mês de novembro anterior houvesse
encontrado, no início, considerável oposição por parte de tropas
francesas, o desembarque na Sicília foi o primeiro, à parte as
incursões marítimas, em que os Aliados tiveram de enfrentar e vencer
forças inimigas reais. O êxito do empreendimento deveu-se em grande
parte à série de erros e dissidências havidos no lado oposto, entre os
líderes do inimigo. Um deles foi a relutância de Mussolini em
consentir que os alemães desempenhassem papel importante na defesa
do território italiano, por medo e inveja do célebre comparsa que
tinha. Outro foi a crença de Hitler, contrariamente à de Mussolini, de
que a Sicília não seria, naquele momento, o objetivo dos Aliados - e
para isso muito concorreu o "plano de despistamento" posto em
execução pelos britânicos. O terceiro e mais importante dos erros
cometidos foi o orgulho demonstrado por Mussolini e Hitler no
esforço por manter a África do Norte dominada por tempo excessivo -
Segunda Guerra Mundial 2

decisão basicamente apoiada no desejo de "salvar as aparências", sem


a devida consideração das conseqüências estratégicas.

Isto foi mais surpreendente por parte de Hitler, pois ele e seu
Estado-Maior-Geral sempre hesitaram em empenhar-se em expedições
ultramarinas ao alcance do poderio marítimo britânico, discrepando
desse procedimento quando enviaram uma pequena força sob o
comando de Rommel para evitar o colapso dos italianos em fevereiro
de 1941 e, posteriormente, abstiveram-se de lhe enviar reforços
suficientes para prosseguir na série notável de vitórias sobre os
britânicos. Mas, na última fase da campanha norte-africana, Hitler e
seu Estado-Maior, de acordo com Mussolini, despejaram muitas
tropas na Tunísia, sacrificando assim as chances de defesa da Europa.

Não fosse o fato de essas forças, num total de quase 250.000


homens, ficarem retidas na Tunísia - e de costas para o mar, poderiam
ter-se constituído numa defesa muito poderosa da Sicília - e as
chances de os Aliados lograrem sucesso na invasão se teriam
esvaziado. Mesmo assim, as tropas italianas ali reunidas chegavam a
quase dois mil - mas de moral baixo quando os invasores chegaram. A
maior parte das melhores tropas italianas tinha-se perdido na África. O
fardo principal da defesa da Sicília recaiu sobre o pequeno número de
soldados alemães que haviam sido mandados para lá como reforço,
que chegaram a somar sessenta mil homens quando a batalha se
aproximava do fim, que demorou mais a chegar devido à tenacidade
com que se bateram para tentar eliminar o efeito catastrófico dos
primeiros dias da campanha.

Seria difícil encontrar alguém mais bem qualificado para escrever


a história da campanha siciliana do que Martin Blumenson. Durante a
última década ele fez um estudo profundo e prolongado das operações
anfíbias. Após haver-se saído bem ao narrar a história da campanha
coreana no começo dos anos 50, incumbiram-no de escrever a história
oficial do Exército Americano no segundo estágio da campanha da
Normandia, registrada no volume intitulado.Breakout and Pursuit, e
posteriormente escreveu um livro bastante esclarecedor sobre o
mesmo assunto, The Duel for France. Desde então, passou a dedicar-
se principalmente às campanhas do Mediterrâneo e escreveu livros
importantes sobre Anzio e o Passo de Kasserine, demonstrando de
modo notável que é possível um historiador oficial mesclar
meticulosidade e narrativa vívida.
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Ele inicia o livro com um capítulo muito interessante sobre os


contratempos do desembarque aerotransportado preliminar e a seguir
passa a um exame lúcido da "Estratégia Aliada" e dos motivos que
levaram à decisão de invadir a Europa pela Sicília - e não pela
Sardenha e Córsega - como inicialmente preferiam os planejadores
americanos e britânicos. O terceiro capítulo focaliza "A Situação do
Eixo". O quarto, mais longo, descreve e analisa os desembarques
marítimos, tratando o quinto da "Reação do Eixo". Estes capítulos
expõem de maneira esclarecedora os riscos e as incertezas da invasão.
O capítulo seguinte, o sexto, retorna aos problemas e dificuldades que
o transporte aéreo da força invasora criou para a operação, enquanto
que o sétimo se prende à brecha surgida na aliança do Eixo. O
Capítulo 8 então delineia o desenvolvimento da invasão, sobretudo o
avanço dos americanos, pelo 7° Exército de Patton, para o lado oeste
da ilha. Seguem-se os capítulos sobre a tomada alemã da chefia das
operações, as mudanças de plano feitas pelos Aliados e a queda de
Mussolini.

A seguir vem um capítulo sobre a linha do Etna e a vigorosíssima


resistência dos alemães ali, à medida que recuavam para o ângulo
nordeste da Sicília, e o longo capítulo 13 sobre "A Evacuação". Segue-
se um breve "à parte" sobre "O Incidente da Bofetada" que pôs em
perigo a carreira de Patton. O último capítulo, o 15, é um bom sumário
sobre a campanha e discute se ela deve ser considerada "Vitória ou
Derrota?" Estrategicamente, foi uma vitória aliada, mas, taticamente,
o inimigo saiu-se tão bem, em circunstâncias extremamente adversas,
e resistiu tão prolongadamente, após o colapso inicial, que, na opinião
do autor, a "vitória moral" lhe coube.

O livro de Martin Blumenson é um relato extraordinariamente


claro de uma campanha complexa, um episódio-chave da guerra. Ele
dá às questões sobre as quais diferiam americanos e britânicos um
tratamento bastante equilibrado. Contudo, não infere que o
prolongamento da campanha, e suas momentosas conseqüências em
atrair os Aliados para uma campanha muito mais prolongada na Itália,
se deveu a qualquer defeito de planejamento por parte do Alto
Comando Britânico.

O começo
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O céu estava límpido, com aquele azul-claro característico dos


céus da África do Norte no verão, mas o sol ardia como aço derretido
e o calor era opressivo nos aeródromos, onde pesados aviões de carga,
alguns atados a esguios planadores, estavam passivamente alinhados,
recebendo as atenções de suarentas turmas de inspeção de último
momento.

Nas proximidades, na agradável sombra oferecida por grupos de


árvores ou pelas paredes dos prédios, soldados arrumavam seu
equipamento, limpavam e examinavam suas armas. Reunidos em
torno de tenentes, grupos de soldados recebiam instruções finais. Cada
homem usava uma braçadeira branca, ostentando uma pequena
bandeira americana ou britânica, para identificação. Não se brincava.
Todos observavam os caminhões que partiam para os campos de
pouso no fim da tarde e os soldados que embarcavam nos planadores e
colocavam seu equipamento nos lugares reservados à bagagem.

Com a aproximação da noite, os soldados aerotransportados


britânicos, sobrecarregados com seus equipamentos e armas
individuais, partiram para os aeródromos, tomando lugar nos
planadores. Os pilotos dos aviões deram partida aos motores e às
18h45, simultaneamente de vários aeródromos, os primeiros dos 109
C-47, americanos, e, 35 Albemarles, britânicos, começaram a
percorrer a pista, ganhando o ar, cada qual rebocando um planador,
Waco ou Horsa, repleto de soldados.

Sete aviões e planadores, por uma razão ou por outra, não


conseguiram chegar à costa norte-africana e retornaram. Os demais,
reuniram-se sobre as ilhas Kuriate e rumaram para Malta. O sol
estava-se pondo quando os aviões se aproximaram da ilha, mas o farol
de sinalização era visível para todos os pilotos, exceto alguns que iam
na retaguarda da coluna.

Enquanto anoitecia sobre o Mediterrâneo, sombreando a cor do


mar, o vento aumentou, encrespando as águas e desviando do rumo,
aviões e planadores, fazendo-os sacudir muito. Uma corda de reboque
partiu-se e um planador mergulhou no Mediterrâneo.

Os pilotos lutavam por manter-se em posição, mas as formações se


abriram. Alguns esquadrões foram empurrados bem para leste da rota
estabelecida; outros, na retaguarda, foram impelidos para a frente,
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ultrapassando as unidades de vanguarda. Dois pilotos perderam o


caminho sobre o mar e voltaram para o sul, retornando à África do
Norte. Um terceiro soltou acidentalmente o planador que rebocava e
este caiu ao mar. Os outros, 133 aviões e planadores, ao todo,
chegaram ao Cabo Passero, ponto de verificação, situado na
extremidade sudeste da Sicília. Os pilotos mal podiam distinguir a
massa escura de terra, que era de tonalidade pouco mais acentuada do
que o escuro do mar. Dois deles não puderam orientar-se no sentido da
terra e retornaram à África do Norte.

Os restantes, agora muito misturados, desviaram-se para o norte do


Cabo Passero e depois rumaram para nordeste, procurando os pilotos,
ansiosamente, o ponto de soltura dos planadores, ao largo da costa
leste e logo ao sul de Siracusa, mas o vento os fustigava. O curso em
ziguezague que lhes fora designado, e que tentavam seguir, fez que a
maioria deles fossem lançados fora do rumo. Quando a noite envolveu
a Sicília, os pilotos dos transportes dificilmente identificavam o ponto
certo de soltura. Cerca de 25 retornaram à África e os restantes, uns
115, soltaram os planadores que rebocavam.

Os planadores que foram soltos transportavam cerca de 1.200


homens. Isto estaria bem, pois os que haviam planejado a operação
esperavam a ocorrência de acidentes, admitindo que 1.200, ou mesmo
1.000, soldados sobre a área do alvo seriam suficientes para realizar a
missão a eles designada. Mas, dos 115 planadores que foram soltos
mais ou menos nas proximidades do ponto demarcado, mais de
metade caiu ao mar. Apenas 54 planadores pousaram na Sicília.
Destes, somente 12 estavam nas zonas de pouso corretas ou próximo
delas. A maioria dos que caíram no mar se perdeu por afogamento;
muitos dos que se encontravam nos planadores que pousaram em terra
ficaram feridos no pouso. Alguns dos que escaparam aos riscos do
pouso em terra estranha e durante as horas da noite toparam com
unidades inimigas e foram mortos, feridos ou capturados.

Diante disso, em lugar de pelo menos 1.000 homens, como se


esperava, apenas um punhado de soldados aerotransportados, menos
de 100, conseguiu chegar ao solo em segurança e próximo do local
designado para o pouso; mas eles se reuniram, orientaram-se e
puseram-se a caminho nas primeiras horas do dia 10 de julho de 1943,
quando ainda escuro, na direção do seu objetivo, a Ponte Grande, logo
ao sul de Siracusa.
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Duas horas depois que as tropas aerotransportadas começaram a


deixar os aeródromos na África do Norte, com o sol se pondo, os
primeiros dos 222 C-47, carregando 3.400 pára-quedistas americanos,
decolaram. O vento soprava a cerca de 48 km/h e, desde o começo, os
grupos aéreos perderam a coesão; uma lua em quarto-crescente surgiu,
mas dava pouca visibilidade aos pilotos. Suas luzes de formação
noturna eram fracas e ajudavam apenas a promover o contato visual
entre os aviões e, no vôo baixo sobre o Mediterrâneo, pouco acima da
superfície das águas, os pilotos tiveram seus pára-brisas obscurecidos
pelas partículas de água salgada lançadas pelo mar agitado.
Inexperientes em vôo noturno, eles se desgarraram, perderam a
direção, erraram pontos de verificação e se aproximaram da Sicília de
todas as direções. Dois pilotos desistiram e retornaram à África com
seus pára-quedistas. Um terceiro caiu ao mar.

Apenas uns poucos pilotos tiveram a sorte suficiente para seguir a


rota planejada e alcançar e reconhecer os pontos de verificação em
Linoso, Malta e na costa sudeste da Sicília - mas até mesmo eles
descobriram que as características finais estavam obscurecidas pela
névoa, poeira e fumaça. A foz do rio Acate e o lago Biviere, tão claros
nos mapas, mal podiam ser vistos, quanto mais identificados.
Enquanto os pilotos se esforçavam para evitar colisões, devido ao
vento e ao escuro, e trabalhavam para resolver o problema da
orientação, granadas antiaéreas foram disparadas de Gala, Ponte
Olivo, Niscemi - oito aviões seriam derrubados depois de lançarem
seus pára-quedistas. As poucas formações que vinham mantendo uma
estrutura precária, separaram-se completamente.

O problema dos pilotos passou então a ser outro. Eles não estavam
mais preocupados em lançar seus pára-quedistas sobre as zonas
corretas de salto; em vez disso, esforçavam-se febrilmente para levar
seus aviões a qualquer ponto da ilha, para que os soldados que
carregavam não viessem a saltar no mar, pelo risco de afogamentos.

Como conseqüência, os pára-quedistas foram dispersados aos


quatro ventos. Várias centenas de homens de um batalhão chegaram
ao solo relativamente intactos, mas a 40 km da zona certa de salto.
Apenas partes de três companhias tocaram o solo próximo do alvo. O
resto foi espalhado pelo sudeste da Sicília.

Em lugar da força considerável que os planejadores esperavam que


viesse a ocupar as elevações chamadas Piano Lupo, escolhidas devido
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ao importante entroncamento rodoviário ali existente, menos de 200


homens tomaram o objetivo ao amanhecer do dia 10 de julho.

A estratégia aliada

A decisão de invadir a Sicília foi um meio-termo a que chegaram,


depois de muito discutirem, americanos e britânicos sobre a melhor
maneira de dobrarem as potências européias do Eixo, Alemanha e
Itália. O acordo não era inteiramente satisfatório para nenhum dos
dois parceiros aliados - mas diversos interesses nacionais tornavam
impossível um acordo melhor e mais completo. Os Aliados estavam
trabalhando nos termos da estratégia "Europa Primeiro" - o que
significava que contra o Japão seriam tomadas posições defensivas,
até que fosse alcançada a vitória na Europa. Mas a maneira de
alcançar o triunfo na principal área operacional era uma questão
discutida.

A estratégia que os americanos defendiam consistia em buscar uma


demonstração de força diante da Alemanha. Com este objetivo, seus
líderes militares queriam concentrar grandes forças no Reino Unido,
cruzar o Canal da Mancha e invadir o noroeste europeu, e então
enfrentar o grosso das forças inimigas ao longo dos caminhos que
levavam ao território alemão. Isso, no entanto, dependia de uma
concentração maciça de recursos na Grã-Bretanha, impondo assim um
adiamento de pelo menos um ano - talvez mais - antes que se pudesse
iniciar uma invasão através do Canal.

Para empenhar o mais rapidamente possível tropas americanas em


combate na arena européia, a fim de ajudar as forças britânicas que
suportavam extrema pressão por parte do Eixo no Egito, e para desviar
forças do inimigo da frente russa, os americanos concordaram com a
invasão da África Noroeste Francesa. Mas eles então verificaram que
os desembarques na África do Norte, em novembro de 1942, e a
campanha subseqüente que esperavam terminar logo, desviara para lá
tão grande quantidade de recursos aliados a ponto de pôr em risco os
preparativos para uma operação através do Canal da Mancha, em
1943. Isto perturbou seriamente os americanos. Os britânicos, no
entanto, estavam menos preocupados; prevendo uma eventual
expulsão das forças do Eixo de toda a África do Norte, eles visavam a
explorar a vitória prosseguindo nas operações na área do
Mediterrâneo, especificamente pela invasão da Sicília, da Sardenha,
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da Itália continental ou do sul da França. Esperavam também que a


ação militar na região leste do Mediterrâneo induzisse a Turquia a
entrar na guerra do lado aliado.

Assim procedendo, os britânicos desenvolveriam o que mais tarde


seria chamada de estratégia periférica - estirando as forças do Eixo por
toda a periferia da Europa ocupada, ameaçando invadir a costa do
Canal da Mancha e mordiscando os acessos meridionais do
continente. Basicamente, eles queriam eliminar a Itália da guerra,
isolando e enfraquecendo, assim, os alemães, tornando-os mais
vulneráveis à derrota pela eventual invasão através do Canal da
Mancha, que os britânicos encaravam como o ponto culminante da
guerra - desembarques que teriam de ser indubitavelmente bem
sucedidos.

Em contraste, pelo final de 1942 os americanos propuseram uma


estratégia decorrente de três elementos básicos: uma concentração de
homens e material no Reino Unido para uma invasão pelo Canal da
Mancha em 1943; uma grande ofensiva aérea contra a Alemanha a
partir de bases na Grã-Bretanha, África do Norte e Oriente Médio; e
maior bombardeio aéreo da Itália, para pôr no chão o moral do italiano
e eliminar aquela nação da guerra. Eles não desejavam ampliar nem
mesmo prosseguir a guerra na área do Mediterrâneo; ao contrário
disso, queriam uma ação direta contra a Alemanha, desfechando
poderoso ataque através do Canal o mais depressa possível.

A divergência que se estabeleceu entre os dois aliados, divergência


de ordem estratégica, deu origem a uma conferência de alto nível
realizada em janeiro de 1943. O Presidente Roosevelt e o Primeiro-
Ministro Churchill, juntamente com seus conselheiros militares, se
reuniram em Casablanca, Marrocos, para determinar o que fazer assim
que a campanha africana terminasse. Que se deveria fazer com as
consideráveis forças na África do Norte para impedi-las de ficar na
ociosidade? Onde os Aliados deveriam atacar a seguir?

Os Chefes de Estado-Maior Conjuntos americanos, liderados pelo


General George Marshall, receavam que os britânicos insistissem, em
invadir a Sardenha, pois os americanos preferiam transferir os
recursos do Mediterrâneo imediatamente para o Reino Unido, para um
esforço através do Canal da Mancha. Ironicamente, os Chefes do
Estado-Maior britânicos, liderados pelo General Sir Alan Brooke,
estavam apreensivos quanto a virem os americanos a insistir na
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invasão da Sardenha, pois os britânicos preferiam tomar a Sicília, que,


segundo acreditavam, eliminaria a Itália da guerra e obrigaria os
alemães a estenderem-se mais, em substituição aos italianos na
ocupação e defesa da costa da Itália.

Considerando que a campanha norte-africana, durando mais do


que o esperado, tornava claramente impossível um esforço pelo Canal
da Mancha em 1943, Marshall concordou com a invasão da Sicília.
Mas, depois, perguntou ele: "Era a operação contra a Sicília apenas
um meio para se atingir um fim, ou um fim em si? Deveria ser ela
parte de um plano para vencer a guerra, ou simplesmente o
aproveitamento de uma oportunidade?"

Não havia resposta possível, pois os parceiros estavam divididos


quanto aos métodos a aplicar. Como Churchill observara, os
americanos tinham um "gosto exagerado por decisões lógicas
definidas", ao passo que os britânicos inclinavam-se por uma
abordagem oportunista da estratégia. Portanto, decidiu-se apenas
invadir a Sicília após o término da campanha norte-africana - a fim de,
com o grande número de soldados disponíveis na África do Norte,
tentar a eliminação da Itália da guerra, obrigando, desse modo, a
Alemanha a desdobrar-se para cobrir as posições defendidas pelos
italianos.

Para realizar a invasão da Sicília, os Chefes de Estado Maior


Combinados - os chefes americanos e britânicos reunidos - nomearam
o General Dwight Eisenhower, o Comandante Supremo Aliado na área
do Mediterrâneo, para comandante-geral. Abaixo dele, o General Sir
Harold Alexander dirigiria as forças de terra; o Almirante Sir Andrew
Cunningham, as forças navais, e o Marechal-do-Ar Sir Arthur Tedder,
as forças aéreas.

Mas não se pôde determinar se a campanha da Sicília seria a


última campanha no Mediterrâneo ou o início de uma ação mais
ampla naquela região. Os americanos não desejavam envolver-se em
"operações intermináveis no Mediterrâneo", enquanto que os
britânicos achavam "impossível dizer exatamente onde devemos
parar".

Quatro meses depois, em maio, os líderes aliados reuniram-se em


Washington, e uma vez mais, numa conferência formal, tentaram
aplainar suas diferenças. A pergunta principal a que procuravam
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responder era o que fazer depois de terem conquistado a Sicília - pois


a campanha norte-africana terminara com êxito e os Aliados
dominavam toda a costa sul do Mediterrâneo e se voltavam para a
Sicília e mais além. Se a campanha da Sicília provocasse o colapso
das forças italianas, como os Aliados esperavam, ou se isso não se
verificasse, de que maneira se moldaria o curso da guerra?

As alternativas pareciam claras. Os americanos eram por uma


operação através do Canal da Mancha; os britânicos preferiam
continuar mantendo o impulso ofensivo e a pressão na área do
Mediterrâneo.

Especificamente no Mediterrâneo, os Aliados poderiam deslocar-


se da Sicília para uma série de lugares, mas cada um deles tinha
desvantagens. Um ataque ao sul da França, por exemplo, só daria
resultado se empreendido em conjunção com uma carga pelo Canal da
Mancha; à Sardenha e à Córsega dificilmente poderia redundar no
colapso da Itália, sem a conquista da Sicília que, uma vez feita,
derrubaria naturalmente as duas, isto é, a Sardenha e a Córsega. A
Itália continental, cheia de problemas de segurança interna e de
natureza política, era uma área perigosa e conduzia somente até a
barreira formidável dos Alpes; o terreno dos Bálcãs era ainda menos
convidativo para forças militares mecanizadas como as dos Aliados.

Os planejadores de Eisenhower voltaram-se para a tomada da


Sardenha e da Córsega, para obter mais aeródromos a fim de dar
cobertura a operações anfíbias desfechadas próximo de Gênova ou
Roma, enquanto que Eisenhower optava pela invasão da Itália
continental imediatamente após o término da campanha da Sicília, a
menos que isto interferisse nos preparativos para um ataque através do
Canal da Mancha. Os chefes militares britânicos, tendo-se
concentrado nas operações pós-Sicília, recomendavam uma descida à
"ponta da bota" italiana, seguida de um ataque ao "tacão" e,
finalmente, um avanço "bota" acima. Isto implicava o adia mento da
carga pelo Canal da Mancha para um futuro indefinido.

Os americanos, que não simpatizavam com o adiamento do ataque


através do Canal, achavam também que a penetração na Itália levaria
os Aliados a empenhar quantidades cada vez maiores de homens e
materiais no que logo se transformaria numa grande campanha,
localizada num campo de operações apenas secundário.
Invasão da Sicília 11

Os dois grandes Aliados concordaram então em que considerariam


as operações subseqüentes à tomada da Sicília somente em termos de
se estas facilitariam e acelerariam a invasão do noroeste europeu pelo
Canal da Mancha. Com base nisto, os americanos aceitaram afinal a
eliminação da Itália da guerra como requisito prévio para o retorno à
parte noroeste do continente; embora insistissem para que as
operações mediterrâneas em geral fossem limitadas, em âmbito e no
número de tropas empregadas.

Dali, os Aliados passaram a um meio-termo. Decidiram desfechar


um ataque pelo Canal da Mancha em maio de 1944, tentando,
entrementes, eliminar a Itália da guerra com os recursos disponíveis
no Teatro do Mediterrâneo, menos sete divisões, que seriam
transferidas para a Inglaterra por volta de novembro de 1943.

Mas a maneira como se daria a eliminação da Itália como


beligerante e para onde ir após a campanha siciliana não puderam ser
solucionadas. O melhor que os Chefes de Estado-Maior Combinados
puderam fazer foi ordenar a Eisenhower que planejasse a operação
contra a Sicília como lhe parecesse melhor, "eliminar a Itália da
guerra" e "conter o máximo de forças alemães".

Isto estava longe de ser uma orientação firme. Numa tentativa para
encontrar uma base melhor para operações pós-Sicília, Churchill,
acompanhado de Marshall e Brooke, foi a Argel, ao término da
conferência de Washington, para uma entrevista com Eisenhower.

O Comandante Supremo Aliado estava inclinado a partir da Sicília


para a Itália continental através da Calábria - isto é, pelo Estreito de
Messina - mas quando Marshall sugeriu a Sardenha e a Córsega como
alvos alternativos adequados, os conferencistas chegaram a uma
decisão preliminar. Eisenhower instalaria dois Q-Gs de planejamento
separados, um para preparar a invasão da Sardenha e da Córsega e
outro para aprontar uma invasão da Itália continental. Depois que os
Aliados invadissem realmente a Sicília e se defrontassem com a força
- ou a fraqueza - da oposição é que seria tomada a decisão final. Só
então, e à luz dos critérios estabelecidos pelos Chefes Combinados -
eliminar a Itália da guerra e conter o máximo de tropas alemães - é
que Eisenhower recomendaria a operação, ou operações, que julgasse
mais vantajosa e os Chefes Combinados dariam então a palavra final.
Segunda Guerra Mundial 12

Assim, em última análise, a estratégia aliada dependeria em grande


parte de uma coisa: resistiria ou não o inimigo ao ataque à Sicília.

Situada a 144 km do Cabo Bon, na Tunísia, a uns três quilômetros


ao largo da Calábria, na Itália continental, menor do que o Estado de
Sergipe a Sicília sempre teve importância estratégica, desde a
antiguidade. Um trampolim para invasores romanos, cartagineses,
mouros, vikings e normandos, a Sicília, por volta dos anos 40, fora
transformada - pelo menos na opinião de Mussolini - num gigantesco
"porta-aviões estacionário". Esquadrilhas de aviões italianos e
alemães, operando de aeródromos sicilianos, haviam obrigado os
britânicos a abandonar sua rota marítima tradicional entre Gibraltar e
Alexandria, e somente Malta, a 80 km de distância - sitiada,
bombardeada e virtualmente isolada - ainda desfraldava a bandeira
britânica. Uma invasão bem sucedida da Sicília exigiria primeiro uma
redução considerável dos efetivos aéreos do Eixo baseados na ilha.

Sendo uma ilha triangular, chamada Trinacria pelos gregos, o solo


da Sicília é acidentado e montanhoso. As Montanhas Caronie, situadas
a nordeste, são as mais altas, culminando com o Monte Etna, que tem
um sopé de 32 km de diâmetro e ergue-se a 3.300 m de altura. Toda a
costa norte consiste de rochedos íngremes e alcantilados, voltados
para o mar. A única região plana e de tamanho considerável da ilha
situa-se em torno de Catânia, e nessa região, bem como nas estreitas
planícies ao longo das costas leste e sul, é que se situavam os
aeródromos - 19 ao todo, mais 10 pistas de pouso, situados a 24 km da
costa, no máximo. Eles seriam um alvo importante para os invasores
aliados.

Ao longo da área costeira as estradas eram boas, mas as situadas


no interior eram mal revestidas e estreitas, com curvas fechadas e
greides íngremes, pois as aldeias e pequenas cidades - fundadas nos
tempos medievais, ou antes - ocupam os altos das colinas, para
facilitar a defesa, e os acessos sinuosos que vão até elas, bem como
suas ruas, estreitas, foram planejados para pedestres e carroças. A
maioria dos 4 milhões de sicilianos vivia nessas cidades e aldeias.

Há na costa numerosas praias de areia e cascalho, bem como


vários portos importantes - Messina, próximo da ponta nordeste da
ilha, Catânia e Siracusa, na costa leste, e Palermo, a cidade maior, ao
norte, perto do lado ocidental. Messina, o maior porto e terminal do
serviço de barcas para o continente, era claramente, do ponto de vista
Invasão da Sicília 13

estratégico, o principal objetivo, pois, se rapidamente conquistada,


isolaria os defensores da Sicília e bloquearia qualquer reforço ou fuga.
Mas as poderosas fortificações sabidamente existentes no Estreito de
Messina eliminavam a idéia de um ataque direto ali, e defesas
idênticas circundavam Siracusa, a base naval de Augusta, e Palermo.

Os Aliados teriam de desembarcar nos trechos não-fortificados da


costa. Mas, como a técnica do desembarque de suprimentos pelas
praias não havia sido ainda sequer experimentada, a preocupação
girava em torno da tomada de pelo menos um porto. Também
influenciando a escolha dos locais de desembarque estava o alcance
dos aviões Aliados, pois a distância das bases situadas em Malta e na
África do Norte dificultava aos caças fornecer adequada proteção aos
ataques anfíbios em várias outras praias, sob muitos aspectos
favoráveis.

Os Chefes Combinados haviam destacado duas forças-tarefas para


a invasão da Sicília, uma britânica e uma americana, e para o comando
das forças de terra britânicas Eisenhower nomeou o General Sir
Bernard Montgomery, comandante do 8° Exército, que fez recuar o
exército ítalo-germânico do Feldmarechal Rommel 2.400 km, desde o
Egito, para o oeste, através da Líbia, à Tunísia, sem conseguir, no
entanto, enredar Rommel. Para liderar as forças americanas,
Eisenhower escolheu o Major-General George Patton, que comandara
a Força-Tarefa Ocidental na invasão da África do Norte, e mais tarde o
II Corpo, na Tunísia, e dirigiria o 7° Exército na Sicília.

É difícil imaginar-se dois comandantes mais contrastantes.


Montgomery gostava da coisa "arrumadinha", era meticuloso e
cauteloso; Patton era do tipo "despachado", arrojado e exuberante.

Imediatamente acima deles estava Alexander, que comandara as


forças britânicas na Birmânia e servira como comandante de grupo de
exércitos na Tunísia. Seu Estado-Maior de planejamento chamava-se
Força 141, por causa do número do quarto do Hotel Saint George, em
Argel, onde oficiais americanos e britânicos se haviam reunido para
planejar a invasão da Sicília. Este Estado-Maior se tornaria o QG do
15° Grupo de Exércitos, de que se valeria Alexander para dirigir a
guerra terrestre na ilha.

Os Chefes de Estado-Maior Combinados sugeriram uma invasão


por meio de dois ataques simultâneos, um próximo de Palermo, o
Segunda Guerra Mundial 14

outro próximo de Catânia. Isto daria aos aliados dois dos principais
portos e acesso fácil à maioria dos aeródromos, também
subentendendo um duplo avanço, tendo como ponto de convergência a
cidade de Messina: um ao longo da costa norte e o outro na costa
leste. O plano envolvia algumas desvantagens - o número de soldados
e embarcações necessários aos dois desembarques seria muito maior
do que para um único ataque concentrado; e duas forças de invasão
muito separadas não se poderiam apoiar mutuamente; isto é, uma ação
inimiga dirigida contra um desembarque poderia repeli-lo para o mar,
sem que a outra força de desembarque pudesse ajudá-la.
Alexander examinou a possibilidade de desembarcar as tropas de
Montgomery e as de Patton, concentradas no canto sudeste da Sicília,
mas seu Estado-Maior entendia que os portos de Catânia, Siracusa e
Augusta, mesmo que fossem capturados imediatamente, seriam
inadequados para escoar as forças aliadas exigidas para a operação.
Em vez disso, procurando instalações portuárias e a eliminação da
maioria dos aeródromos inimigos, os planejadores recomendaram dois
ataques simultâneos, um pelos americanos, na parte ocidental da
Sicília, e o outro pelos britânicos, no sudeste, ambos desembarcando
em largos trechos de praia, para não oferecer alvos tentadores a aviões
e artilharia inimigos. Isto coincidia, de modo geral, com o conceito
dos Chefes de Estado-Maior Combinados e, em fevereiro, Alexander
emitiu um esboço experimental do plano, de acordo com essas
diretrizes.

Montgomery objetou, por ser contrário a que seu exército


desembarcasse disperso pela ponta sudeste da Sicília, numa distância
considerável - uns 160 km - de Gela até Catânia. Os soldados, disse
ele, estariam tão espalhados que seriam vulneráveis a qualquer contra-
ação. E sugeriu: por que não esquecer os desembarques em Gela e
Licata, na costa sul e, em vez disso, manter o exército forte e unido no
lado leste? Isto importaria em deixar de lado alguns aeródromos, mas,
na sua opinião, valia a pena abrir mão da possibilidade de capturar
alguns aeródromos em favor de um ataque anfíbio fortalecido.

Cunningham e Tedder ficaram escandalizados. Os desembarques


concentrados, disse Tedder, "afetariam gravemente toda a situação
aérea no canto sudeste da Sicília" e "aumentariam seriamente o perigo
de perda dos grandes navios envolvidos nalguns desses ataques". Ele
considerava vital a superioridade aérea, para garantir portos
adequados, e importantíssima, para debilitar a oposição, a captura dos
aeródromos, embora planejasse pegar-se com as forças aéreas
Invasão da Sicília 15

inimigas. Concordando com Tedder, Cunningham advogava o


desembarque de forças bem dispersas, em vez de concentradas, mais
vulneráveis, enfrentando a parte mais fortemente defendida da ilha.

Aceitando tais objeções, mas também sensível ao ponto de vista de


Montgomery, Alexander colocou uma divisão americana no setor
britânico - sob o controle de Montgomery - para realizar os
desembarques em Gela e Licata, permitindo assim que Montgomery
mantivesse suas outras forças concentradas. Para compensar a retirada
de uma divisão de Patton e, desse modo, enfraquecendo a força-tarefa
americana, Alexander propôs que os americanos desembarcassem
vários dias mais tarde, depois que os britânicos estivessem bem
instalados em terra.

Patton objetou. Os mesmos argumentos, disse ele, se aplicavam


aos seus desembarques próximo de Palermo. Se uma divisão
americana fosse desviada para o setor britânico, ele ficaria
impossibilitado de tomar vários aeródromos, que acabariam por
interferir em seu próprio ataque. Seu ponto de vista, embora válido,
foi ignorado. Apesar da insatisfação que se generalizou por todos os
lados, Eisenhower aceitou o novo plano de Alexander, devido ao fato
de ser vital para todo o projeto o êxito inicial no sudeste", disse ele.

Então os britânicos receberam outra divisão e os navios


necessários para reforçar o ataque de Montgomery, e Alexander
devolveu a divisão americana a Patton, mantendo, porém, as
características dos desembarques escalonados, com os britânicos na
frente.

Ninguém estava satisfeito.

Pelo final de abril, Montgomery enviou uma mensagem a


Alexander, abrindo de novo a questão. "O planejamento até agora",
escreveu ele, "tem sido baseado na suposição de que a oposição será
fraca e que a Sicília será capturada com facilidade. Nunca houve erro
maior. Os alemães e os italianos estão lutando desesperadamente
agora na Tunísia e farão o mesmo na Itália".

Ele ainda queria confinar os desembarques britânicos num espaço


menor, ao longo da linha costeira, para fortalecer seu ataque.
Especificamente, ele defendia a idéia de restringir os desembarques
britânicos ao Golfo de Noto, ao sul de Siracusa, e a ambos os lados da
Segunda Guerra Mundial 16

Península de Pachino, na ponta sudeste. Estas praias estavam dentro


do raio de ação dos caças baseados em Malta e, dali, ele poderia
capturar o porto de Siracusa rapidamente, em seguida estender-se para
o norte, a fim de tomar Augusta e Catânia, avançando finalmente para
Messina. Assim, os desembarques concentrados poderiam ser
desenvolvidos facilmente para tomar os portos necessários.

"E quanto aos aeródromos?" - perguntaram Cunningham e Tedder.


Eles apontaram para os aeródromos perto de Gela e Comiso, que
haviam sido ignorados no plano de Montgomery. Os aviões desses
aeródromos, disseram eles, poderiam causar devastação entre as forças
de desembarque.

Para resolver os problemas, Eisenhower convocou uma


conferência dos chefes, em Argel, a 29 de abril, quando um oficial que
representava Montgomery apresentou o que parecia ser uma nova
idéia. Por que não fazer com que as forças americanas e britânicas
ataquem juntas o canto sudeste, desembarcando os britânicos ao longo
do Golfo de Noto e os americanos, de ambos os lados da Península de
Pachino?

Cunningham protestou. As técnicas anfíbias, disse ele, exigiam que


as forças de desembarque se dispersassem e que fossem tomados
imediatamente todos os aeródromos inimigos, a fim de proteger os
navios ancorados ao largo das praias - e Tedder o apoiou.

Não chegando eles a decisão que parecesse ideal, Eisenhower


convocou outra reunião, para 2 de maio. Alexander não pôde
comparecer, mas Montgomery foi pessoalmente, usou de persuasão,
argumentou interminavelmente e tornou-se cansativo, chegando
mesmo a seguir o Major-General Bedell Smith, chefe de Estado-Maior
de Eisenhower, até o banheiro e, parado perto do mictório, continuou
a falar, tentando convencê-lo de que um ataque concentrado excluiria
a possibilidade de derrota.

No fim, Montgomery conseguiu o que queria. No dia seguinte,


Eisenhower anunciou que a invasão da Sicília seria feita através de um
ataque concentrado à parte sudeste da ilha, tirando de cogitação
qualquer investida independente perto do canto ocidental. Tampouco
haveria assaltos escalonados. Num movimento único e simultâneo, os
americanos desembarcariam ao longo do Golfo de Gela, de Licata à
Invasão da Sicília 17

Península de Pachino, e os britânicos chegariam a terra na costa leste,


desde a Península Pachino até quase Siracusa.

Isto anulava a afirmação dos Chefes de Estado-Maior Combinados


de que era necessário tomar rapidamente os portos e aeródromos
importantes. Os americanos não teriam nenhuma baía importante ao
longo de todo o seu trecho de costa e ficariam na dependência das
operações de descarga na praia para obter suprimentos. Além disso,
não haveria nenhum movimento imediato para tomar os agrupamentos
importantes de aeródromos no sudoeste de Catânia e arredores. E,
finalmente, a campanha subseqüente teria de ser improvisada assim
que as forças de desembarque estivessem em terra.

Tedder e Cunningham permaneceram perturbados - e de tal forma


que Eisenhower teve que procurar uma forma de contornar as
objeções que faziam e a insatisfação em que se encontravam; ele a
encontrou na ilha de Pantelleria. Se pudesse tomar Pantelleria no que
chamava de "experiência de laboratório", que exigiria o investimento
de relativamente poucos recursos, isso talvez se constituísse num
reforço do plano de invasão.

A situação do Eixo

Pantelleria é uma ilha que mede 8 km por 13, de solo muito


acidentado, com rochedos íngremes erguendo-se do mar. Situada a uns
192 km a sudoeste de Palermo, a mesma distância que Malta está de
Catânia, ela possuía uma população civil de 12.000 pessoas, uma
guarnição de 12.000 soldados, um comandante competente e um
aeródromo que podia receber cerca de 80 aviões monomotores. Os
hangares subterrâneos eram abertos na rocha, onde funcionavam
oficinas de reparo à prova de bombardeios, e o núcleo de sua defesa
consistia de uma força de cinco batalhões de infantaria italianos, a
maioria sem qualquer experiência de combate, apoiados por baterias
antiaéreas guarnecidas por reservistas.

Quando Eisenhower se decidiu pela invasão concentrada da Sicília


pelo canto sudeste, resolveu tomar Pantelleria primeiro. Esta, em mãos
aliadas, resultaria em muitas vantagens - eliminaria a séria ameaça que
os aviões italianos ali baseados ofereciam aos desembarques aliados
na Sicília, negaria a ilha como base de reabastecimento a navios de
superfície e submarinos italianos e alemães, eliminaria os
Segunda Guerra Mundial 18

radiogoniômetros do Eixo e as estações de observação de navios,


proporcionaria aos Aliados excelentes estações de ajuda à navegação e
uma base soberba de salvamento aeronaval e, principalmente, tornaria
possível uma melhor cobertura aérea aos desembarques americanos e,
desse modo, maior oposição aos aviões inimigos baseados nos
aeródromos sicilianos que não seriam tomados de imediato.

Eisenhower pretendia tomar Pantelleria por meio de uma operação


que, segundo dizia, seria "uma espécie de experiência de laboratório
para determinar o efeito dos bombardeios concentrados sobre uma
linha costeira defendida". Ele ordenou a Tedder que "concentrasse
tudo" - todos os bombardeiros disponíveis - e martelasse fortemente a
ilha, até que os danos causados à guarnição, ao equipamento e ao
moral dos defensores da ilha fossem "tão sérios que tornassem o
desembarque uma coisa muito simples". A 1a Divisão de Infantaria
britânica faria esse desembarque e ocuparia não só Pantelleria como
também as ilhas menores que lhe ficavam próximas, de Lampedusa,
Linoso e Lampione.

A idéia era arrojada, pois a propaganda fascista proclamava que


Pantelleria era uma fortaleza inexpugnável. E parecia sê-lo. Mas,
apesar do que afirmavam os fascistas, os bombardeios aéreos cada vez
mais violentos e um poderoso bombardeio naval logo reduziram
Pantelleria a escombros. As baixas italianas foram pequenas, mas os
danos causados às casas, estradas e comunicações foram amplos. Por
volta de 1° de junho, o porto estava em ruínas, a cidade destruída e a
usina elétrica danificada. Escassez de água, munição e suprimentos,
além das incessantes explosões, começavam a afetar o moral da
população e dos soldados da ilha.

Durante os dez primeiros dias de junho, mais de 3.500 aviões


despejaram quase 5.000 toneladas de bombas sobre Pantelleria,
folhetos instando-a a render-se e, finalmente, um ultimato de rendição.
O comandante da ilha, Almirante Gino Pavasi, nesse tempo possuía
apenas uma única estação de rádio em funcionamento, e através dela
informou Roma que não se daria ao trabalho de responder ao ultimato
aliado. Alguns dias depois, comunicou-se com o comando italiano, em
Roma, informando haver recebido outro ultimato e que se recusaria a
lhe dar resposta. "Apesar de tudo", Pavasi assegurou: "Pantelleria
continuará resistindo".
Invasão da Sicília 19

Mensagens sucessivas davam conta de que a resistência era cada


vez menor em Pantelleria, mas Pavasi não falava em render-se.

Na manhã de 11 de junho, com bom tempo, mar calmo e céu claro,


a frota Aliada, tendo a bordo a 1a Divisão Britânica, colocou-se a cerca
de 13 km da entrada do porto de Pantelleria. Ali, os navios baixaram
as barcaças de desembarque, embora praticamente não pudessem ver
Pantelleria, pois a ilha estava envolta numa nuvem de poeira
provocada por um bombardeio aéreo realizado cerca de uma hora
antes.

Naquela manhã, Pavasi informou ao comando italiano que os


bombardeiros aliados haviam lançado Pantelleria "num furacão de
fogo e fumaça", acrescentando: "a situação é desesperadora; todas as
possibilidades de resistência eficaz esgotaram-se".

Apesar disso, Pavasi não quebrou a rotina diária. Ao dirigir-se ao


local em que diariamente se reunia com seu Estado-Maior, fez uma
breve inspeção para ver o que se passava ao redor da ilha, não dando
com a presença da esquadra aliada em virtude da grossa nuvem de
poeira e fumaça formada pelo bombardeio.

Pavasi e seu Estado-Maior, depois de muito discutirem, chegaram


à conclusão de que a defesa da ilha, devido à falta de água, ao perigo
de doença e à escassez de munição, era impossível. Não restava um só
avião do Eixo em Pantelleria - todos haviam sido derrubados ou
levados para lugar mais seguro. Sem poder esperar qualquer ajuda
externa, todos, civis e militares, estavam chegando ao fim da
resistência.

Pavasi ordenou então ao comandante da esquadra aérea da ilha que


desfraldasse uma grande bandeira branca no aeródromo para indicar
capitulação. Como a notícia da sua decisão de render-se demoraria
cerca de duas horas para chegar a todos os postos, Pavasi fixou para as
11h00 o momento da cessação das hostilidades. Depois disso, ele
subiu à superfície da ilha. As nuvens de pó e fumaça, tendo-se
esgarçado bastante, ele viu os navios aliados ao largo.

Era mais ou menos o momento em que as barcaças de


desembarque iniciavam a corrida para as praias. Havia um silêncio
estranho, quase tranqüilizador, quebrado apenas pelo ruído dos
motores das barcaças de assalto e o ronco de uma esquadrilha de
Segunda Guerra Mundial 20

caças; mas o silêncio não demorou muito. Às 11h00, os cruzadores


aliados abriram fogo contra as posições de bateria de costa e, 30
minutos depois, os destróieres também começaram a disparar.

Não houve resposta da ilha, nem qualquer comunicação de que seu


comandante decidira render-se. Às 11h35 a bandeira branca ainda não
aparecera no aeródromo, e as Fortalezas-Voadoras americanas fizeram
o que um observador chamou de "o mais perfeito bombardeio de
precisão, de intensidade inimaginável".

Dez minutos depois disso, o comandante da esquadra de invasão


liberou as barcaças de desembarque; ao meio-dia, as tropas britânicas
estavam em terra, sem encontrar oposição. Bandeiras brancas
tremulavam em alguns prédios da administração da ilha e lençóis
igualmente brancos desciam das janelas das poucas residências que
não sofreram danos.

Em Lampedusa, o comandante não deu atenção ao ultimato de


rendição dos aliados, limitando-se a comunicar ao comando italiano:
"Os bombardeios prosseguem quase que sem interrupção, tanto aéreos
como navais. Necessitamos urgentemente de apoio aéreo" - mas a
resposta que recebeu foi uma estimulante exortação. "Estamos
convencidos", radiografou Roma, "que vocês infligirão o maior dano
possível ao inimigo. Viva a Itália!"

Ressentido com a reação de Roma à sua mensagem, sentindo,


como Pavasi, que cumprira seu dever, dentro das suas limitações, o
comandante da ilha mandou que fossem hasteadas as bandeiras de
rendição.

Linoso caiu no dia seguinte. Lampione estava desocupada.

Apesar das afirmações da propaganda fascista, as ilhas haviam


sido defendidas por soldados inexperientes, muitos dos quais eram
dali mesmo e que, quando os Aliados atacaram, preferiram cuidar das
suas famílias. De qualquer modo, eles praticamente não poderiam
fazer nada, contra o poderio dos navios e aviões aliados, com o
equipamento inadequado e obsoleto que tinham à disposição.

A 20 de junho, os aviões britânicos principiaram a operar de


Lampedusa e, seis dias depois, um grupo de P-40 americanos foi
baseado em Pantelleria.
Invasão da Sicília 21

A "experiência de laboratório" de Eisenhower fora um sucesso,


resultando na obtenção de um canal mais seguro para os navios no
Mediterrâneo Central e de valiosos aeródromos mais próximos da
Sicília.

No dia seguinte à queda de Pantelleria, Mussolini pronunciou um


discurso, em Roma, em que explicou que a perda da ilha deveu-se à
carga que desencadearam contra ela, com bombardeios aéreos e navais
que permitiram que a infantaria o ocupasse. O que ele não disse, por
não se sentir obrigado a ser explícito, é que os Aliados tinham
superioridade esmagadora em artilharia, aviões e outras armas e
equipamento, e que, se Pantelleria representava o início da batalha
pela pátria italiana, o início dessa batalha fora ruim para ela. Quer os
Aliados se voltassem a seguir para a Sicília, a Sardenha ou a Itália
continental, a possibilidade de contê-los era muita pequena.

Para o povo italiano, há muito cansado da guerra e ansiando pelo


fim dos bombardeios, das agruras, sofrimentos e dores, aflições que
Mussolini prometia fazer desaparecer, afirmando que a vitória não
demorava, a queda de Pantelleria foi um choque. Até as forças
militares perderam a confiança e a esperança no triunfo. O prestígio de
Mussolini entre seus aliados alemães, no seu próprio estabelecimento
militar, entre seus colegas políticos e, sobretudo, no seio do povo, já
totalmente farto de tudo, declinou. Tornava-se cada vez mais claro que
as promessas e garantias dos fascistas não passavam de um grande
blefe.

Com a propagação do derrotismo, o Rei Vitório Emanuel III disse


a Mussolini que terminasse a aliança com a Alemanha e fizesse a paz
com os Aliados; mas ele queria fazê-lo honrosamente, apenas com o
consentimento alemão, pois estava preocupado não só com as medidas
protocolares, mas também em evitar que os alemães reagissem com
violência contra o que considerariam defecção traiçoeira. Ele
acreditava que ninguém na Itália; melhor que Mussolini, pudesse
solucionar o problema enormemente difícil e delicado de pôr fim à
aliança e retirar-se da guerra.

A aliança, um pacto entre os regimes nacional-socialista e fascista,


na realidade era uma união pessoal dos dois ditadores, Hitler e
Mussolini, cada qual dirigindo o governo e as forças armadas das
respectivas pátrias. Mas a estreita cooperação e assistência mútua
Segunda Guerra Mundial 22

concertadas naquilo que Mussolini chamara de suas guerras paralelas


transformara-se numa via de mão única - os alemães dando, e os
italianos recebendo, armas, equipamento, combustível e unidades de
tropas.

A concentração de forças alemães na Itália coincidiu com o


crescimento de poder e influência do Feldmarechal Albert Kesselring.
Enviado à Itália, à frente do Segundo Corpo Aéreo Alemão, em
dezembro de 1941, nomeado comandante de todas as forças armadas
alemães na Itália em outubro de 1942, quando os alemães sentiram o
começo de maior atividade aliada na área do Mediterrâneo, seu
controle foi ampliado em janeiro de 1943, para incluir os dois
exércitos alemães na Tunísia. Kesselring era o "comandante do teatro
de operações" o representante de Hitler junto a Mussolini e o ponto de
contato com o Alto Comando das Forças Armadas Italianas.

Como Hitler admirava Mussolini, ele se submetera ao fingimento


de respeitar a hegemonia italiana na área do Mediterrâneo. Por
conseguinte, os soldados alemães foram colocados sob o comando
nominal dos italianos, mas a presença de Kesselring assegurava a
proteção dos interesses alemães; e os italianos aceitavam que era
melhor obter a cooperação alemã do que impor rigidamente a
autoridade italiana.

À medida que aumentava a influência dos alemães na Itália,


Mussolini duvidava cada vez mais da possibilidade de vitória militar.
Por isso, sugeriu a Hitler que as potências do Eixo fizessem uma paz
em separado com a União Soviética, ou pelo menos retirasse suas
forças para uma linha mais curta e defensável na URSS, a fim de
concentrarem efetivos contra os anglos-americanos. Mas Hitler não
toleraria qualquer interferência em sua "guerra santa" contra o
bolchevismo.

Desencantado, Mussolini nomeou o Generale d'Armata Vittorio


Ambrosio chefe do Comando Supremo, em fevereiro de 1943. A dupla
tarefa de Ambrosio, especificou Mussolini, seria trazer de volta o
maior número possível de divisões italianas comprometidas na Rússia
e nos Bálcãs e enfrentar os alemães. As estreitas e cordiais relações
pessoais e oficiais que haviam orientado a cooperação entre os
militares alemães e italianos terminaram.
Invasão da Sicília 23

Em fevereiro e março, as tensões entre os parceiros do Eixo se


agravaram, quando Mussolini insistiu para que Hitler terminasse a
guerra no leste, com Ambrosio e o Alto Comando das Forças Armadas
alemão (OKW) discutindo sobre a divisão de deveres militares nos
Bálcãs; enquanto isso, a máquina de guerra italiana começava a
enguiçar por falta de suprimentos alemães.

Parte da dificuldade resultava do fato de o Eixo encontrar-se na


defensiva e sem qualquer estratégia clara que pudesse levar à vitória.
A guerra submarina era a única atividade ofensiva que os germânicos
sustentavam. Até mesmo a Luftwaffe deixara de ser uma força
importante na guerra. Por volta de maio, as forças aéreas combinadas
alemã e italiana, na área do Mediterrâneo, tinham menos de 1.000
aviões, muitos dos quais caminhando para o obsoletismo. Centenas
deles haviam sido destruídos em terra, por não terem sido dispersados
ou camuflados e devido à ineficácia das armas antiaéreas. Até mesmo
a poderosa esquadra de batalha italiana estava imobilizada em La
Spezia, por falta de combustível.

Ambrosio só via esperança para a Itália se Mussolini pudesse


romper a aliança com a Alemanha. Mas o regime fascista se manteria
firme enquanto houvesse possibilidade de vitória e, sem os alemães, a
vitória era impossível. Se Mussolini quisesse romper com os alemães,
quanto menos soldados germânicos houvesse na Itália, melhor; se
desejasse opor-se à invasão aliada, então quanto mais alemães,
melhor.

Ambrosio, Mussolini e o estado fascista estavam num dilema.

À medida que a popularidade de Mussolini diminuía, o mesmo


acontecia com o moral italiano. Partidos políticos clandestinos
tornaram-se mais vigorosos e a primeira greve franca, desde o
estabelecimento do estado fascista, teve lugar em março, enquanto que
os sindicatos realizavam abertamente demonstrações no Dia do
Trabalho.

Os alemães não tinham ilusões quanto à força italiana. Um


relatório sobre a eficiência de combate das forças armadas italianas,
preparado em maio, foi brutalmente franco. Os italianos, disse o
OKW, "até agora não cumpriram as missões que lhes foram entregues
nesta guerra e, na realidade, tem falhado por toda parte, devido à
inadequação e insuficiência de suas armas e equipamento, mau
Segunda Guerra Mundial 24

treinamento de oficiais e falta de entusiasmo no seio das tropas,


resultante da certeza da derrota".

Mas os alemães não abandonariam os italianos, pois custaria


menos suportá-los e fortalecê-los do que preencher o vácuo que eles
criariam se se retirassem de vez do conflito.

Portanto, em junho, Hitler declarou que estava disposto a enviar


mais aviões, tanques, canhões autopropulsados e corpos de tropa para
ajudar os italianos a defender seu país. E, embora o número adicional
de soldados alemães estacionados na Itália a fizesse parecer um
território ocupado, a queda de Pantelleria convenceu Ambrosio, com a
concordância de Mussolini, da necessidade de aceitar mais assistência.
Pelo fim de junho, havia cinco divisões alemães na Itália; duas delas
na Sicília.

O QG do 6° Exército Italiano, incumbido da defesa costeira, estava


na Sicília desde o outono de 1941, mas na primavera de 1943, quando
a campanha tunisiana terminou, suas responsabilidades foram
ampliadas. O Comandante do exército também foi nomeado
Comandante das Forças Armadas na Sicília, a ele entregue todo o
controle tático de elementos do exército, marinha, aeronáutica
italianos e das tropas terrestres alemães ali estacionadas. Através de
um alto comissário para assuntos civis, o comandante controlava
também a administração de nove prefeitos provinciais. Os elementos
aeronavais germânicos continuariam separados e sob controle alemão.

Em maio de 1943 nomeou-se novo comandante. Era o Generale


d'Armata Alfre do Guzzoni, então com 66 anos de idade e havia dois
anos já na reforma. Ele jamais; estivera na Sicília nem demonstrara o
menor interesse pela ilha, mas era um soldado dedicado e altamente
profissional. Seu chefe de Estado-Maior, Coronel Emílio Faldello, era
jovem e capaz, mas também não conhecia a Sicília. Contrariamente à
doutrina italiana que orientava a seleção de comandante e chefe de
Estado-Maior, Guzzoni e Faldello não haviam servido juntos antes,
mas na Sicília eles fariam uma boa dupla.

Quando Guzzoni examinou o estado de coisas na Sicília, ficou


chocado. Ele tinha uns poucos canhões antinavais, apenas um canhão
antitanque para cada 8 km de costa e deficiências em todos os tipos de
artilharia. Verificou que precisava de 8.000 toneladas diárias de
suprimentos para atender as necessidades civis e militares, mas estava
Invasão da Sicília 25

recebendo entre 1.500 e 2.000 toneladas. O moral do povo estava


baixo, por causa dos bombardeios aéreos aliados, das restrições no
suprimento de alimentos e das atividades generalizadas do mercado-
negro. Tanto quanto Guzzoni podia ver, todos queriam apenas o fim da
guerra.

As forças italianas sob seu comando contavam cerca de 200.000


homens, organizados em quatro divisões de infantaria, e uma
variedade de unidades, costeiras, totalizando, talvez, o equivalente de
oito divisões. Os batalhões costeiros, que tinham a missão de repelir
invasores à beira-mar, eram formados de homens mais velhos e em
geral mal comandados. Freqüentemente lhes atribuíam
responsabilidades por setores grandes demais para a capacidade que
tinham - em alguns casos, uma linha costeira de 40 km de
comprimento. Não tinham virtualmente transporte algum e, na
maioria, seus canhões e equipamento eram antiquados. Mesmo as
divisões de infantaria, um pouco mais fortes, não eram muito boas. As
Divisões Aosta e Napoli estavam mal treinadas e, juntamente com a
Divisão Assietta, operavam com efetivo e equipamento
organizacionais reduzidos. Somente a Divisão Livorno dispunha de
efetivos autorizados e tinha um complemento total de transportes. Mas
em todas as quatro divisões não havia munição de artilharia ou,
quando havia, era escassa e as comunicações variavam de medíocres a
totalmente inadequadas.

As três bases navais da Sicília contavam com artilharia antinaval e


antiaérea e suas defesas marítimas eram eficazmente organizadas.
Mas, reservistas inseguros, por falta de adequado adestramento,
guarneciam muitos canhões, na maioria peças antigas, de pequeno
calibre e reduzido alcance. Não houve muitos preparativos para a
defesa contra um ataque por terra.

Excetuando-se as bases navais, não havia nenhum sistema


contínuo de defesas costeiras. Obstáculos, campos minados,
trincheiras antitanques e fortificações de concreto estavam muito
separados uns dos outros. Vários postos de defesa careciam de
guarnições, armas e abrigos, que, quando existiam, eram mal
camuflados. No interior, apenas uns poucos obstáculos haviam sido
erguidos, quase todos ineficientes. Uma linha interna de bloqueio,
atrás das fortificações costeiras, e que devia ser uma poderosa
barreira, consistia de um traço feito cuidadosamente com lápis de cor
sobre o mapa.
Segunda Guerra Mundial 26

Os 30.000 soldados alemães que se encontravam na ilha eram


outra coisa. A 15a Divisão Panzergrenadier, comandada pelo Major-
General Eberhard Rodt, e a Divisão Hermann Göring, sob o comando
do Major-General Paul Conrath, estavam bem treinadas e equipadas.
Elas operavam sob o comando de Guzzoni, mas o QG do 14 o Corpo
Panzer, do General de Panzers Hans Valentine Hube, localizado no sul
da Itália, os administrava e abastecia. O Tenente-General Fridolin von
Senger und Etterlin era o oficial de ligação com o 6 o Exército para
coordenar o emprego das tropas alemães.

Um único QG unificado, conhecido como Comando do Estreito de


Messina, sob a direção do Coronel Ernest Günther Baade, reunia as
instalações do exército, da marinha e da força aérea alemães naquela
área e era responsável pelo transporte, um serviço de barcas do
continente, depósitos e por cerca de 70 baterias antiaéreas situadas em
ambos os lados do Estreito.

Guzzoni não podia esperar assistência das forças navais do Eixo.


Era duvidoso que Mussolini se atrevesse a empenhar a esquadra de
batalha e, mesmo que o fizesse, as belonaves levariam um dia para
cobrir a distância entre La Spezia e as águas sicilianas. Os alemães só
tinham uma flotilha de barcos pequenos em Messina.

Guzzoni tampouco podia esperar muita ajuda aérea. A força aérea


italiana estava apenas dotada de aviões já obsoletos que, após a queda
da Tunísia, em maio, se retiraram da Sicília para o continente. Os
alemães assumiram a proteção aérea da Sicília a partir de seus
próprios aeródromos, mas sofreram pesadas baixas, em maio e junho,
devido à inferioridade numérica e técnica dos seus.aviões.

A fraqueza das forças aérea e naval do Eixo depositou nos ombros


das forças de terra todo o fardo da defesa da Sicília. Como as unidades
italianas careciam de mobilidade, em comparação com as formações
alemães, Guzzoni decidiu fazer que as forças italianas enfrentassem e
resistissem aos invasores próximo das praias, até que se identificassem
os locais dos principais ataques aliados; então as divisões alemães
contra-atacariam e repeliriam os invasores para o mar.

Portanto, Guzzoni estabeleceu seu QG próximo de Enna, no centro


da ilha. O 16o Corpo, sob o comando do Generale di Corpo d'Armata
Caeto Rossi, defenderia a metade oriental da ilha, com as Divisões
Invasão da Sicília 27

Napoli e Livorno. O 12o Corpo, sob o Generale di Corpo d'Armata


Francesco Zingales, cuidaria da metade ocidental, com as Divisões
Aosta e Assietta. A 15a Divisão Panzergrenadier foi dividida em três
forças-tarefas, com o grosso dos seus efetivos no oeste. A Divisão
Hermann Göring, dividida em dois grupamentos de combate, foi
orientada para o sul e leste.

Esperando que os Aliados atacassem em meados de julho, Guzzoni


faria o melhor que pudesse; mas ele tinha dúvidas sobre o resultado da
batalha, pois estava plenamente de acordo com um colega, que
dissera: "Podemos fazer uma defesa honrosa contra um desembarque
em grande escala, mas não temos chance de repelir o inimigo". A
menos, é claro, que os alemães enviassem ajuda maciça.

Os desembarques

Os alemães poderiam ter mandado mais de duas divisões para a


Sicília, se não tivessem sido iludidos e desorientados pelas operações
dissimuladoras aliadas, destinadas a disfarçar a intenção de invadir a
Sicília e levar à expectativa alemã de desembarques na Sardenha e na
Grécia. Um elemento importante da dissimulação foi "o homem que
nunca existiu", inventado pelo Serviço de Inteligência britânico. Um
soldado que morrera de pneumonia e cujos pulmões apresentavam
características de morte por afogamento, foi vestido como oficial
portador de documentos com uma valise oficial atada ao pulso por
uma corrente, foi lançado à água, por um submarino, ao largo da costa
da Espanha, que era neutra, onde as correntes marítimas o levariam à
praia. Ostensivamente, ele fora vítima de um acidente aéreo ocorrido
no mar. Três dias depois, Londres foi informada de que o corpo fora
entregue ao Adido Naval Britânico em Madri, mas não antes que uma
carta fictícia contida na valise tivesse sido aberta e lida pela polícia
espanhola e comunicada aos alemães. A carta dava instruções a
Alexander para fazer um ataque simulado na Sicília, enquanto se
preparava para invadir a Sardenha; ela também "mandava" o General
Sir H. Maitland Wilson, comandante do Oriente Médio, disfarçar seu
ataque à Grécia mediante uma ação simulada contra as ilhas do
Dodecaneso. Aceitando como autênticas tais medidas, os alemães
reforçaram suas defesas costeiras na Sardenha e na Grécia.

Entrementes, na África do Norte, os Aliados preparavam a invasão


da Sicília. Um ataque concentrado à parte sudeste da ilha não
Segunda Guerra Mundial 28

significava que as tropas desembarcariam amontoadas. Significava,


antes, que mais de sete divisões, precedidas por partes de duas
divisões aeroterrestres que saltariam sobre a ilha, desembarcariam
simultaneamente ao longo de 160 km de costa. As forças de
Montgomery em 48 km de praia, as de Patton numa frente de 11 km.
Em termos de tamanho de frente e de forças de ataque iniciais, a
invasão da Sicília foi muito maior e muito mais dispersada do que os
desembarques na Normandia, um ano mais tarde.

O 8o Exército de Montgomery iniciaria seu ataque com


desembarques de tropas transportadas em planadores, para tomar
Ponte Grande, a fim de facilitar a ocupação de Siracusa; se possível,
elas também capturariam as baterias costeiras das proximidades e uma
base de hidraviões. Isto porque, quatro dias depois, tropas de
Comandos chegariam por mar, para eliminar uma grande bateria
costeira situada no Cabo Murro di Porci, a vários quilômetros ao sul
de Siracusa, e só então é que se daria o assalto principal.

O 13o Corpo, do Tenente-General Sir Miles Dempsey, mandaria a


a
5 Divisão para terra, para atacar Cassibile, e depois rumaria para o
norte, a fim de apoderar-se de Siracusa; a 59 a Divisão tomaria Avola e
protegeria o flanco esquerdo do corpo. O 30 o Corpo, do Tenente-
General Sir Oliver Leese, enviaria o 231o Grupo de Brigada de
Infantaria, a 51a Divisão, e a 1a Divisão Canadense contra a Península
de Pachino. Após travar contato com os americanos, perto de Ragusa,
Leese deveria avançar para Palazzolo e depois para Vizzini; ele
também deveria ampliar sua frente, deslocando-se ao longo da costa
leste, a fim de permitir a Dempsey carregar com o grosso dos seus
efetivos contra Augusta e, depois, Catânia. O 7 o Exército, de Patton,
começaria a atacar com os pára-quedistas de um regimento, reforçado
da 82a Divisão Aeroterrestre, saltando sobre Piano Lupo, mais ou
menos no meio da frente que o exército estenderia na praia e a vários
quilômetros para o interior de Gela. Os pára-quedistas deviam
bloquear a passagem do inimigo em direção às praias durante as
primeiras horas dos desembarques, momento em que as tropas
anfíbias estariam particularmente vulneráveis. Então viriam três
assaltos navais simultâneos. Os dois da direita sob o controle do 2 o
Corpo, do Major-General Omar Bradley - a 45a Divisão deveria
desembarcar próximo da aldeia de pescadores de Scoglitti, e a 1 a
Divisão, em Gela. À esquerda, para operar independentemente,
desceria a 3a Divisão, reforçada, que desembarcaria em Licata.
Invasão da Sicília 29

Os britânicos esperavam tomar três grandes portos rapidamente -


Siracusa, Augusta e Catânia; aos americanos caberiam somente os
portos menores, de Licata e Gela. Mas o que fazia com que a descarga
nas praias parecesse viável era um novo veículo chamado DUKW, um
caminhão anfíbio de 2 ½ toneladas, que podia trazer suprimentos e
equipamento dos navios, ancorados alguns quilômetros ao largo,
diretamente para os depósitos, nas praias.

Mais importante ainda para o ataque anfíbio seria o uso em grande


escala, pela primeira vez numa operação real, de uma nova série de
navios e barcaças de desembarque. Barcos de fundo chato, com proa
articulada, que arriava para a frente, formando uma rampa. Esses
barcos chegavam às praias, descarregavam homens, tanques e veículos
com rapidez, e diretamente na praia. Britânicos e americanos,
combinando esforço e trabalho, conseguiram essa maravilha de barco
que lhes permitiria a solução de um dos problemas mais complicados
da técnica militar, um ataque anfíbio contra uma costa hostil.

Depois que as tropas chegassem à Sicília e tivessem dominado os


seus primeiros objetivos, o que se faria? Alexander não planejou nada
de definitivo para depois dos desembarques, mas esperava que
Montgomery fizesse o esforço principal e avançasse rapidamente, por
Catânia, até Messina. A Patton seria distribuída uma tarefa claramente
secundária, ou seja, a de proteger o flanco e a retaguarda de
Montgomery.

Esta divisão de responsabilidades refletia a estimativa de eficiência


apenas relativa das unidades britânicas e americanas. Tendo-se
familiarizado com as forças de terra americanas na Tunísia, durante a
desastrosa batalha do Passo de Kasserine, onde ficara decepcionado
com a inexperiência e inépcia geral dos americanos, ele preferia ter as
tropas veteranas do exército de Montgomery no esforço mais
importante - chegar até Messina.

Cunningham informou que alguns dos americanos estavam, como


disse ele, "muito irritados por serem relegados a um papel secundário
na campanha", e era verdade - os comandantes se sentiam um tanto
humilhados. Embora vários colegas insistissem para que Patton
protestasse, este se recusou, dizendo que ordem é ordem e que ele
"faria o diabo para cumpri-la", gostasse ou não.
Segunda Guerra Mundial 30

Quando a campanha tunisiana terminou, em meados de maio,


Eisenhower escolheu o momento e a data para a invasão da Sicília e
sua escolha foi ditada sobretudo pela fase da lua, pois as tropas
aerotransportadas precisavam de alguma luz para que pudessem
operar, ao passo que as forças navais exigiam escuridão total para que
seus comboios se aproximassem das áreas do alvo. A noite de 9 de
julho satisfazia a ambas. Os elementos aeroterrestres desembarcariam
na Sicília pouco depois da meia-noite de 9 de julho e os elementos
navais chegariam às praias às 02h45 de 10 de julho.

Assim que a campanha tunisiana terminou, as forças aéreas aliadas


começaram a atacar a Sicília, bombardeando alvos militares por toda a
ilha e concentrando-se nos grupos de aeródromos reunidos na parte
oeste. Então, durante a semana que precedeu a invasão, eles passaram
para os campos do leste; os pilotos verificaram que a oposição aérea
inimiga era surpreendentemente fraca.

Para a invasão propriamente dita, as forças aéreas reuniram 670


aviões de primeira linha, baseados nas ilhas de Pantelleria, Gozo e
Malta e em 12 aeródromos na península do Cabo Bon, na Tunísia.
Eles forneceriam uma cobertura aérea constante, colocando
esquadrilhas sobre os pontos de desembarque, mantendo, no entanto, o
grosso dos seus efetivos pronto para ser lançado contra o inimigo onde
quer que fosse necessário.

No transporte de tropas de assalto para a Sicília havia cerca de


3.500 vasos de todos os tipos, organizados em duas forças-tarefas,
uma comandada pelo Vice-Almirante Henry Hewitt e a outra pelo
Vice-Almirante Sir Bertram Ramsay. Os navios zarparam de vários
portos da África do Norte, em horários diferentes, segundo um
programa meticuloso, que levava em conta as diferentes velocidades
dos navios e barcos, as exigências da segurança e o desejo de fazer
com que os soldados viajassem o mais confortavelmente possível.

Os navios chegaram ao local de encontro na manhã de 9 de julho,


no momento em que o vento começava a agitar as águas; soprando à
velocidade de 16 km horários, inicialmente, o vento oeste aumentou,
ao entardecer, para rajadas de cerca de 64 km. Os navios arfavam e
muitos soldados, especialmente os que estavam apinhados nas
barcaças de desembarque, ficaram mareados e sem condições para
combater.
Invasão da Sicília 31

No fim daquela tarde, quando os navios se desviaram para o norte,


para fazerem aproximação final, eles passaram a receber o vento e as
ondas pelo costado. Colunas e formações se dispersaram, cargas
mudavam de lugar, rumos e velocidades tiveram de ser alterados.
Assim, todos os comboios sofreram atrasos de até uma hora na viagem
para as respectivas áreas, e muitos navios estacionaram de maneira
inadequada.

Eisenhower e Alexander haviam ido para Malta, a fim de aguardar


os relatórios da operação no QG subterrâneo de Cunningham. Eles
discutiram se deviam ou não adiar os desembarques por mais 24
horas, devido ao tempo, mas no fim decidiram prosseguir. Talvez a
ventania levasse o inimigo a crer na impossibilidade da invasão.
Talvez, como resultado disso, o ataque os surpreendesse inteiramente,
e qualquer vantagem seria bem-vinda.

Embora alguns planejadores aliados admitissem que não haveria


problemas muito grandes com os italianos, porque suas armas e
equipamento estavam muito aquém dos padrões alemães, a maioria
esperava que eles resistissem vigorosamente, por dois motivos:
primeiro porque os alemães foram reforçá-los, segundo porque a luta
seria em defesa da sua pátria.

Sobretudo por encontrar-se o tempo muito apropriado para


operações anfíbias, durante os dez primeiros dias de julho, os alemães
e italianos, na Sicília e em Roma, começaram a sentir, quase que por
intuição - mas cada vez mais forte - que os Aliados estavam tramando
alguma coisa. Quando os informes do Serviço de Inteligência davam
que enorme quantidade de barcaças de desembarque e aviões aliados
estava em posições que ameaçavam a Sardenha, Sicília e a parte sul da
Itália continental, suas desconfianças pareciam confirmar-se. Por volta
de 5 de julho os comandantes e os Estados-Maiores estavam nervosos.
Incêndios provocados por bombardeios aliados eram confundidos com
desembarques, e grande quantidade de mensagens comunicando
invasões imaginárias mantinha o QG ocupado e em perpétuo estado de
alarma. A espera tornou-se insuportável.

No dia 8, quando Guzzoni mandou que os portos de Licata, Porto


Empedocle e Sciacca, na costa sul, fossem preparados para demolição,
as autoridades em Roma ordenaram que se lançassem terra e pedras
nas baías de Trapani e Marsala e que se destruíssem as suas docas.
Segunda Guerra Mundial 32

O nervosismo provocado pelo desconhecido se dissipou um pouco


na manhã de 9 de julho, quando as patrulhas de reconhecimento da
Luftwaffe comunicaram a presença, no Mediterrâneo, de comboios
formados de barcaças de desembarque e transportes. Eles estavam
viajando a grande velocidade em águas próximas de Pantelleria, e,
embora a direção em que iam não precisasse o destino que levavam,
Guzzoni concluiu que a invasão da Sicília estava próxima. Ele tornou-
se ainda mais seguro disso à tarde, quando recebeu uma mensagem
informando sobre o movimento de comboios adicionais.

Às 19h00, embora Guzzoni não pudesse saber que aviões que


rebocavam os planadores estavam-se reunindo na costa da África do
Norte, ele ordenou que as tropas, na Sicília, ficassem alerta.

Pouco depois, aviões aliados bombardearam Caltanissetta,


Siracusa, Palazzolo Acreide e Catânia, causando-lhes danos sérios.
Quando os aviões se retiraram, as belonaves aliadas atacaram
Siracusa, Catânia, Taormina, Trapani e Augusta com artilharia naval
de longo alcance. Não era mais possível haver dúvida de que estava
iminente a invasão. Às 22h00, embora não pudesse saber que os pára-
quedistas americanos haviam deixado a África do Norte uma hora
antes, Guzzoni colocou suas unidades em alerta permanente.

Durante a noite, as águas ao largo das costas sicilianas pareciam


desertas. O vento continuava forte e o mar, agitado - mas havia todos
os indícios de que a invasão estava iminente. Quando é que os Aliados
tentariam desembarcar? Estariam as forças ítalo-germânicas em
condições de rechaçá-los?

Estas perguntas provocavam em Guzzoni e no Alto Comando


italiano forte ansiedade. Chegou-lhes, porém, uma boa noticia. Ao ser
informado da iminência dos desembarques, Hitler mandou que a 1a
Divisão de Pára-quedistas, estacionada na França, se aprontasse para
transferência imediata para a Sicília, por avião. Se ordenada, toda a
divisão poderia ser transferida em cinco dias, mas a presteza com que
Hitler reagiu no sentido de reforçar as defesas da Sicília significava
que outras forças alemães, talvez a 29a Divisão Panzergrenadier, que
estava no sul da Itália, se tornasse disponível mais cedo ainda.

À primeira hora de 10 de julho, Guzzoni foi informado de


desembarques aerotransportados. O informe era vago. Não precisava
áreas, número de soldados e forma de ataque. Mas, certo de que a
Invasão da Sicília 33

invasão começara, Guzzoni emitiu uma proclamação exortando


soldados e civis, na Sicília, a repelir os desembarques. Ao mesmo
tempo, ordenou que se destruísse o cais de Gela. Por volta de 01h45,
haviam chegado a Guzzoni informes de tantos desembarques de tropas
aerotransportadas e em tantos lugares diferentes, que ele advertiu a
seus comandantes de corpo que esperassem desembarques ao longo de
toda a linha costeira sul e leste da ilha.

O que acontecia é que a maioria dos pára-quedistas americanos,


bem como os planadores britânicos que haviam pousado ilesos,
estavam espalhados por uma área muito extensa. Reunindo-se em
pequenos grupos, eles vagavam pela retaguarda das unidades costeiras
italianas, cortando comunicações, emboscando pequenos grupos de
reconhecimento e criando tremenda confusão. A maioria desses
soldados não tinha idéia de onde estava - por algum tempo, o General-
de-Brigada James Gavin, comandante americano de regimento, nem
sequer tinha certeza de que estava na Sicília. Mas eles dominaram
casamatas que guardavam encruzilhadas, tomaram pontes, deixando a
impressão de que o volume de tropa era muito maior do que na
realidade.

O vento e as ondas no Golfo de Noto eram bem menos


perturbadores do que noutros pontos da Sicília, e a maioria das
primeiras unidades atacantes do exército britânico chegou às praias no
tempo calculado. As pequenas barcaças de desembarque que levavam
soldados para o ataque eram seguidas de barcaças maiores e de navios
de desembarque, que transportavam a artilharia de apoio e os tanques.
Belonaves estavam ancoradas ao largo, prontas para martelar as
defesas costeiras italianas até vencê-las. Nos céus, caças se
deslocavam para dar cobertura aos desembarques e repelir os
esperados ataques aéreos contra as embarcações aliadas e os locais de
desembarque. Começando com o clarear do dia, a cada meia hora, dai
por diante, formações de caças-bombardeiros atacavam as estradas
principais que conduziam às praias, a fim de desestimular contra-
ataques.

Os desembarques navais de Montgomery foram todos bem


sucedidos. As primeiras levas conseguiram a surpresa tática e
varreram a maioria das unidades de defesa costeira antes mesmo de se
certificarem do que estava acontecendo, não havendo, por isso, quase
nenhuma oposição coordenada. Quando as baterias costeiras e as
peças de artilharia instaladas no interior atacaram as pontos de
Segunda Guerra Mundial 34

invasão, a artilharia naval, juntamente com os movimentos rápidos de


tropas, para o interior, logo as silenciaram.

Às 04h00, Guzzoni recebeu um telefonema do comandante da


Base Naval de Messina, comunicando-lhe que uma mensagem
enviada pela estação de rádio alemã em Siracusa dava conta de que
tropas aliadas, desembarcadas de planadores, haviam afluído à costa
leste e estavam atacando a base de hidraviões de Siracusa. Guzzoni
imediatamente mandou o comandante do 16 o Corpo, Rossi, despachar
tropas de terra para a área de Augusta-Siracusa.

Esta notícia e a informação anteriormente dada por aviões de


reconhecimento de que navios aliados estavam ao largo da costa sul
também levaram Guzzoni a concluir que os Aliados desembarcariam
ou estavam desembarcando simultaneamente em muitos lugares.
Incapaz de enfrentar todos os desembarques, ele lançou suas reservas
disponíveis nos locais que considerava mais perigosos para a defesa
geral da ilha - Siracusa, Gela e Licarta. Siracusa era decididamente o
mais importante, pois dava acesso a Catânia e, por último, a Messina,
mas Guzzoni calculou que o regimento alemão reforçado (chamado
Grupo Schmalz), e a Divisão Napoli, que estava nas proximidades,
juntamente com as poderosas defesas da base naval, provavelmente
impediriam uma penetração aliada na planície de Catânia. Portanto,
ele ordenou que o grosso da Divisão Hermann Göring se reunisse
contra os invasores que desembarcassem próximo de Gela.

Os desembarques do 7° Exército no Golfo de Gela foram muito


dificultados pelos fortes ventos de oeste, o que atrasou as forças-
tarefas navais que abriam caminho pelos mares agitados até os pontos
onde lançariam suas barcaças de desembarque. Ao chegarem, os
navios estavam um tanto desorganizados, em conseqüência do que os
desembarques da 45a Divisão perto de Scoglitti foram adiados por
uma hora; mas os desembarques das 3 a e 1a Divisões, em Licata e
Gela, respectivamente, foram realizados mais ou menos dentro da
hora marcada, embora fosse extremamente difícil içar e lançar as
barcaças de desembarque que conduziriam as levas de assalto até a
praia.

A princípio, o fogo partido de terra foi constante, mas as unidades


navais responderam com bastante firmeza à interferência. No molhe
de Licata, uma bateria ferroviária, montando quatro canhões num trem
blindado, foi um sério obstáculo, até que uma série de rajadas
Invasão da Sicília 35

disparadas pelos navios destruíram o trem e os canhões. Quando um


holofote iluminou as barcaças de desembarque que rumavam para
Gela, um destróier o arrasou com cinco granadas e, depois, mais
outro, com três granadas. Em Scoglitti, o mar, bastante agitado, fazia
os navios arfar fortemente, desorganizando as levas de assalto: mas os
soldados que chegaram à praia só encontraram resistência dispersa,
por parte de unidades que já haviam sofrido danos nas mãos de bandos
errantes de pára-quedistas.

Os artilheiros costeiros italianos ficaram junto dos seus canhões


muito mais tempo do que esperavam os atacantes, dada a relativa
impotência das suas armas, em comparação com o poder de fogo
aliado. O cais de Gela fora demolido, em obediência à ordem de
Guzzoni - com o grande clarão e a violenta explosão ocorrendo
quando dois batalhões de Rangers navegavam na sua direção - mas, de
um modo geral, os americanos chegaram à Sicília com muito menos
dificuldades do que esperavam. Embora as granadas italianas
continuassem caindo sobre algumas praias de invasão muito depois do
pôr-do-sol, e, embora os primeiros aviões do Eixo aparecessem sobre
os navios reunidos diante dessas praias às 04h30, e afundassem dois
deles, o crescente número de soldados americanos e o volumoso
suprimento que já se encontravam em terra atestavam o sucesso dos
primeiros desembarques.

Ninguém ainda sabia que a importante elevação situada na frente


de Gela, Piano Lupo e seu estratégico entroncamento rodoviário não
estavam na posse dos pára-quedistas americanos. E foi ali que
Guzzoni mandou as tropas se concentrarem para um ataque à cabeça-
de-praia americana.

A reação do Eixo

Ao clarear o dia 10 de julho, quando o âmbito e os efetivos dos


desembarques aliados se tornaram evidentes, Guzzoni convenceu-se
de que não seriam grandes as possibilidades de os Aliados realizarem
operações anfíbias adicionais na parte oeste da ilha. Mesmo que o
fizessem, as forças que defendiam a Sicília tinham, condições de fazer
frente a tais operações na região sudeste - primeiro, para contê-las até
a possível chegada de reforços do continente; segundo, para repeli-las
para o mar, e terceiro, para no mínimo manter aberto o caminho de
fuga através de Messina. Assim, Guzzoni mandou que a 1 a Divisão
Segunda Guerra Mundial 36

Panzergrenadier, que se deslocara para oeste dias antes da invasão,


retrocedesse para o centro da ilha, onde estaria em boa posição para
combate em qualquer setor. Ele também instruiu a Divisão Hermann
Göring (exceto o Grupo Schmalz, que tinha muito o que fazer na área
de Siracusa), ao QG de Corpo e a Divisão Livorno para que contra-
atacassem os americanos antes que pudessem demarcar, consolidar e
fortificar uma cabeça-de-praia.

Infelizmente para Guzzoni, ele não podia ter certeza de que todas
as unidades que comandava receberiam suas instruções. Para começar,
as comunicações telefônicas estavam ruins, pois muitos fios haviam
sido cortados pelos pára-quedistas americanos e pelas bombas aliadas.
Por conseqüência, algumas unidades não conseguiram receber ordens
específicas e passaram a agir por iniciativa própria, de acordo com a
doutrina defensiva geralmente estabelecida para a ilha. Em lugar de
um avanço maciço contra os americanos, haveria ataques pequenos,
descoordenados e em grande parte independentes. Mas mesmo estes
se mostrariam perigosos.

Conrath, o comandante da Divisão Hermann Göring, soubera dos


desembarques americanos nas primeiras horas daquela manhã, não por
Guzzoni, mas pelo QG de Kesselring, próximo de Roma. A notícia foi
confirmada quando várias das suas patrulhas de reconhecimento
encontraram e travaram combate com pára-quedistas americanos perto
de Niscemi. Mais tarde ainda, quando informado de que a Schmalz
estava avançando contra os desembarques britânicos, Conrath decidiu
que chegara o momento de executar o plano defensivo. Ele
desfecharia um contra-ataque em Gela. Como suas comunicações
telefônicas com o 6o Exército e com o 16o Corpo haviam sido cortadas
naquela manhã, Conrath usou a rede alemã independente para chamar
von Senger, o oficial-de-ligação no QG de Guzzoni. Comunicou-lhe o
plano que traçara e disse-lhe que o iniciaria sem delongas; von Senger
aprovou, acrescentando que notificaria Guzzoni.

Às 04h00, Conrath iniciou seu movimento, quando dois


regimentos reforçados, um de infantaria e um de tanques, partiram por
três estradas do interior da área de Caltagirone para se reunirem em
pontos ao sul de Biscari e Niscemi, de onde atacariam Gela pelo leste.
A marcha mostrou-se difícil - as estradas eram extremamente ruins, os
ataques aéreos interferiam e os onipresentes pára-quedistas
americanos criavam obstáculos. Houve confusões e repetidos atrasos.
Invasão da Sicília 37

Cinco horas após iniciarem o movimento, as colunas ainda se


esforçavam por chegar às áreas de reunião.

Rossi, o comandante do 16o Corpo, saiu-se bem melhor. Ele


mandou um regimento italiano, o Grupo Móvel E, de Niscemi para
Piano Lupo, em duas colunas. Uma a dessas colunas, chamada Grupo
Centro, atacaria Gela pelo nordeste. A meio caminho de Piano Lupo,
na Casa del Priolo, o Grupo Móvel E encontrou cerca de 100 pára-
quedistas americanos que naquela manhã haviam dominado um ponto
fortificado, instalando nele uma posição de bloqueio.

Os americanos permitiram que a ponta de uma coluna, três


pequenos veículos, penetrassem suas linhas antes de abrirem fogo. O
som dos disparos fez deter o corpo principal do Grupo Móvel E.

Trinta minutos mais tarde, duas companhias de infantaria italianas


avançaram, em formação de ataque, na direção dos americanos, que
esperaram até que os italianos estivessem a 200 m de distância, para
então abrir devastador fogo de fuzis, engrossado pelas balas de
numerosas metralhadoras que haviam capturado no ponto fortificado.
A fuzilaria reteve os italianos, excetuando uns poucos, da retaguarda,
que conseguiram retornar à coluna principal.

Como o fogo revelou que os americanos não tinham canhões, os


italianos levaram uma peça de artilharia para uma colina situada fora
do alcance das armas dos pára-quedistas. Quando este canhão abriu
fogo, uma patrulha americana, anteriormente despachada para Piano
Lupo, retornou, informando não existir nenhuma força inimiga
poderosa defendendo o entroncamento. Havia ali apenas uns poucos
italianos, armados de metralhadoras, em trincheiras protegidas por
alambrado.

Incapazes de superar o ataque do canhão que os italianos


instalaram na mencionada colina, os americanos decidiram recuar para
o Piano Lupo, onde estariam mais próximos das forças que
desembarcariam nas praias. Mas, ao saírem da Casa del Priolo,
granadas da artilharia naval começaram a cair sobre a coluna italiana,
disparadas a pedido dos soldados postados próximo de Gela, que
haviam avistado o Grupo Móvel E. Como os pára-quedistas não
tinham meios de controlar ou dirigir o fogo da artilharia naval, eles se
desviaram para o sul numa ampla retirada de contorno.
Segunda Guerra Mundial 38

Com a saída dos americanos, os italianos avançaram para Piano


Lupo, chegando ali minutos antes dos pára-quedistas, que haviam
permanecido ocultos. Atravessando a área batida pela artilharia naval,
cerca de 20 tanques italianos cruzaram o entroncamento rodoviário e
desceram a colina na direção de Gela, enquanto o Grupo Móvel E
permanecia instalado em Piano Lupo. Os tanques encontraram os
americanos que subiam das praias de Gela e os dois primeiros logo
foram destruídos, o que atrapalhou o movimento da coluna, que se
deteve. Sem apoio de infantaria e sob um volume de fogo cada vez
maior, disparado das belonaves, os italianos recuaram e reuniram-se à
infantaria em Piano Lupo. Depois, toda a força recuou e tomou
posições no sopé da colina à beira da planície de Gela.

Com a saída dos italianos, os pára-quedistas dominaram a pequena


posição italiana em Piano Lupo e travaram contato com os soldados
que avançavam das praias.

Entrementes, a Divisão Livorno desfechava um ataque de duas


pontas contra Gela, vindo do noroeste. Cerca de 20 tanques desceram
a estrada de Butera e, embora sete ou oito deles fossem destruídos
pela artilharia naval, invadiram a cidade, onde houve um jogo
mortífero de esconde-esconde. Soldados de assalto americanos
saltavam de prédio em prédio, lançando granadas de mão e disparando
foguetes contra os tanques, que se viam em desvantagem, não só
devido à estreiteza das ruas mas também por causa dos soldados de
infantaria que os acompanhavam. Depois de cerca de meia hora, os
tanques se retiraram da cidade e todos conseguiram escapar para
Butera, levando grande porção de feridos.

Só então é que cerca de 600 soldados de infantaria da Divisão


Livorno avançaram para Gela, num ataque corajoso mas absurdo. Em
formação de parada, quase normal, eles avançaram com decisão,
apesar das terríveis baixas causadas em suas fileiras pelo fogo dos
fuzis, metralhadoras e morteiros americanos. Nem um só soldado
chegou a Gela e, depois de sofrerem baixas enormes, os sobreviventes
recuaram.

Do outro lado de Gela, os soldados de Conrath chegaram, às


14h00, ao sul de Niscemi e desfecharam um ataque contra Gela, mas
seu movimento de avanço foi detido pelos soldados de infantaria
americana apoiados pela artilharia naval. Embora Conrath tentasse
Invasão da Sicília 39

pessoalmente reiniciar o ataque às 15h00, não teve êxito. Uma hora


depois ele cancelou o esforço e recuou.

Por volta das 18h00, os americanos que haviam detido a Divisão


Hermann Göring informaram entusiasticamente: "Os tanques estão
recuando; parece que somos demasiado fortes para eles".

Aqui e ali, pela zona americana, houve luta durante toda a tarde,
mas ao anoitecer os americanos tinham Licata, Gela e Scoglitti
firmemente nas mãos e sua cabeça-de-praia estava bem estabelecida,
com mais soldados, artilharia, tanques e suprimentos chegando às
praias num fluxo constante. Ao que parecia, as ações italianas e
alemães, no primeiro dia, tinham sido pouco mais que sondagens para
localizar os invasores. Era inevitável que houvesse outras tentativas
mais fortes e melhor concatenadas, para repelir os americanos.

Os soldados britânicos desembarcaram facilmente na costa leste da


Sicília. Eles mal trataram seriamente a Divisão Napoli, que estava
muito dispersa, e avançaram na direção dos seus objetivos, contra
resistência cada vez menor. A descarga nas praia prosseguia, lenta mas
sistematicamente, apesar dos ataques aéreos inimigos, que
perturbavam mais do que causavam danos.

Na parte norte da cabeça-de-praia, a 5 a Divisão dominou Cassibili,


na rodovia costeira, por volta das 08h00, embora as operações de
limpeza e consolidação tomassem o resto da manhã e parte da tarde.
Somente por volta das 15h00 é que a divisão pôde rumar para o norte,
na direção da Ponte Grande, onde 8 oficiais e 65 soldados da Brigada
Aeroterrestre tomaram e defendiam a ponte.

Mas, já então os valorosos soldados aeroterrestres britânicos


estavam em dificuldades desesperadas. Eles haviam combatido
soldados, fuzileiros navais e marinheiros italianos, lançados contra
eles da base naval de Augusta-Siracusa durante todo o dia, e só 15 não
estavam feridos. Por volta das 15h30, quase que completamente sem
munição, mas ainda resistindo, foram dominados. Oito homens
escaparam à captura, deslocaram-se para o sul e entraram em contato
com a 5a Divisão, que subia a estrada costeira.
Uma coluna de soldados de infantaria, tanques e artilharia
britânicos avançou contra a ponte e a força italiana não pôde resistir
aos veículos blindados. Quando os defensores se dispersaram, os
britânicos recapturaram a Ponte Grande intacta e a coluna prosseguiu
Segunda Guerra Mundial 40

na direção de Siracusa, entrando na cidade sem oposição. Depois de


uma pequena pausa, os soldados continuaram para o norte, rumo a
Augusta. Ao anoitecer, eles encontraram contingentes do Grupo
Schmalz, que haviam vindo às pressas de Catânia e cavado boas
posições defensivas em Priolo, a meio caminho de Augusta. Os
britânicos pararam.

No final do primeiro dia da invasão, a cabeça-de-praia britânica,


de Priolo a Pozzalo, estava firmemente estabelecida e todos os
indícios prometiam um avanço fácil para o norte, passando por
Augusta e Catânia, até Messina.

Pelo menos assim parecia.

Tendo apenas um conhecimento incompleto da situação na noite


de 10 de julho, Guzzoni tomava como exageros os relatórios
informando-o que tropas britânicas haviam dominado Siracusa. Mas
sabia que todos os contra-ataques a Gela haviam fracassado, o que o
transtornava.

Às 20h00 ele ordenou ao QG do 16 o Corpo de Rossi que


mantivesse o Grupo Schmalz e a Divisão Napoli na contenção dos
britânicos em torno de Siracusa e que lançasse as Divisões Hermann
Göring e Livorno num vigoroso contra-ataque contra Gela, desta feita
mais coordenadamente, para eliminar a cabeça-de-praia americana.

Kesselring, não tendo comunicações com Guzzoni, recebendo suas


informações através das estações da Luftwaffe em Catânia e
Taormina, ignorava a intenção de Guzzoni de contra-atacar a 11 de
julho. Mas quando soube da queda de Siracusa, não teve dúvidas
quanto à autenticidade da mensagem e prontamente notificou as
autoridades italianas em Roma.

Essa notícia, mais o colapso geral das defesas costeiras italianas,


deram a Kesselring a certeza de que os italianos não seria capazes de
uma resistência eficaz. Convencido de que somente unidades alemães
estariam à altura das exigências da batalha, ele mandou uma
mensagem a Conrath, pelo canais da Luftwaffe, ordenando-lhe que
contra-atacasse, com a Divisão Hermann Göring, em Gela, pela
manhã.
Invasão da Sicília 41

Conrath estava com o General-de-Divisão Domenico Chirieleison,


comandante da Divisão Livorno, no QG de Corpo de Ross recebendo
as ordens de Guzzoni. Ross mandou que se fizesse um ataque às
06h00 com os alemães convergindo sobre Gela pelo nordeste, em três
colunas, e os italianos atacando pelo noroeste, também em três
colunas. Quando Conrath retornou ao se posto de comando, recebeu
de Kesselrin palavras de incentivo para que contra-atacasse com vigor.

Às 03h00, Guzzoni soube por intermédio de von Senger que


Siracusa caíra definitivamente. Preocupado com a necessidade
premente de impedir que os britânicos chegassem à planície de
Catânia e dali rapidamente para Messina - pois isso conteria todas as
forças do Eixo na Sicilia - Guzzoni modificou seus planos. Ele
comunicou Rossi que tão logo o ataque da Divisão Hermann Göring
mostrasse sinais de sucesso, os alemães deveriam ser deslocados para
leste, contra os britânicos, enquanto que a Divisão Livorno, após
tomar Gela, se dirigiria para oeste, contra Licata.

Isto, evidentemente, enfraquecia o contra-ataque em Gela, pois em


lugar de concentrarem seis colunas contra o objetivo, os dois
comandantes teriam a possibilidade de sentir a necessidade de passar
de um ataque, convergente para um movimento divergente.

Contudo, Conrath e Chirieleison prosseguiram em seus


preparativos, embora Conrath só ficasse pronto para iniciar seu ataque
15 minutos depois do tempo concordado. Na impossibilidade de travar
contato com Chirieleison, pelo rádio ou telefone, às 06h15, ele supôs
que os italianos desfechariam seu ataque simultaneamente, conforme
concordado, de modo que despachou três forças-tarefas da sua
divisão.

Ao mesmo tempo, uma das colunas de Chirieleison, uma força-


tarefa italiana formada em torno do Grupo Móvel E, talvez por verem
os alemães se porem em movimento, iniciou seu ataque. Mais ou
menos nesse momento, fortuitamente, aviões alemães e italianos
atacaram as praias de Gela e os navios ancorados ao largo.

O Grupo Móvel E rumou direto para Gela, pegando fogo intenso,


mas apesar de terem avançado corajosamente, os italianos tiveram de
parar e cancelar o ataque, depois de duas horas, pois seu material não
podia resistir ao martelar dos canhões dos americanos, inclusive da
artilharia naval.
Segunda Guerra Mundial 42

Os tanques e a infantaria de Conrath logo se envolveram numa


série de batalhas, esparsas e a curta distância, e o ataque parou; mas
Conrath, pessoalmente, reagrupou suas unidades e tornou a mandá-las
à frente. Dominando ou flanqueando algumas das posições avançadas
americanas, o ataque da Divisão Hermann Göring prosseguia
implacável por volta das 09h00, quando foi atingida no flanco, pelo
leste, por um grupo de pára-quedistas americanos dirigidos por Gavin.

Conrath respondeu, desviando parte de suas tropas contra Gavin,


mantendo o restante em pressão contra as praias próximas de Gela.

Mais ou menos nesse instante, a Divisão Livorno atacava na


direção da parte ocidental da cidade e toda a área da 1 a Divisão
Americana irrompeu em chamas quando soldados de infantaria, tropas
de assalto, sapadores, tanques e artilheiros, apoiados por belonaves,
despejaram pesado fogo defensivo. As operações de descarga pararam
quando os soldados improvisaram linhas de fogo, apressadamente, na
cidade e ao longo das dunas.

Patton apareceu no posto de comando em Gela, num prédio de


dois pavimentos, e observou o ataque italiano durante alguns minutos.
Então, quando ia saindo gritou para os soldados: "Matem todos
aqueles malditos!"

Por pouco isto não aconteceu. As granadas de 6 pol. da artilharia


naval disparadas contra as colunas italianas foram particularmente
eficazes. Em meio a densas nuvens de poeira e fumaça, os americanos
viam os soldados italianos vacilar atordoados. À medida que as baixas
aumentavam, o ataque da Divisão Livorno foi diminuindo de
intensidade. As tropas de assalto e de infantaria então atacaram para
pôr fim à batalha, aprisionando 400 italianos quando as unidades da
Livorno recuavam.

Os golpes sofridos pela Divisão Livorno a eliminaram


temporariamente como unidade de combate.

Entrementes, à medida que a maior parte dos tanques de Conrath


rumava para as praias, a planície de Gela transformou-se e num
verdadeiro inferno de fogo e fumaça. Os primeiros tanques alemães
chegaram a uns 2.000 m da praia e varreram a granadas os depósitos
de suprimentos e barcaças de desembarque, e, com a vitória parecendo
Invasão da Sicília 43

estar ao seu alcance, o QG da divisão informou a Guzzoni: "A pressão


aplicada pela Divisão Hermann Göring obrigou o inimigo a
reembarcar temporariamente".

Guzzoni alegrou-se. Após breve conferência com von Senger, ele


mandou que Rossi executasse o plano revisto, isto é, conduzir a
divisão alemã, naquela tarde, para o leste, no sentido de Vittoria, e,
durante a noite, deslocá-la para Palazzolo Acreide e Siracusa.

Mas a Divisão Hermann Göring não chegou às praias a leste de


Gela, nem os americanos pensaram absolutamente em reembarcar. A
artilharia duelou com os tanques; grupos de sapadores estabeleceram
uma linha de fogo, e os soldados de infantaria combatiam à queima-
roupa com bazucas e granadas. Dessa vez os canhões navais
permaneceram calados, para não colocarem em risco a vida dos
americanos, pois os contendores duelavam muito próximos um do
outro.

Martelados pelo pesado volume de fogo e desanimados por não


haver o menor sinal de pânico entre os americanos, os tanques
avançados alemães não conseguiram atravessar a rodovia costeira.
Atrás deles, outros moviam-se em confusão até que, finalmente,
recuaram, a princípio lentamente, depois bem mais depressa, quando
os canhões navais abriram fogo contra eles. Dezesseis tanques
alemães ficaram ardendo na planície de Gela e outros mais foram
destruídos noutros pontos. Com um terço dos tanques destruídos ou
incapacitados, Conrath suspendeu o ataque pouco depois das 14h00,
embora os disparos prosseguissem até bem dentro da noite.

Guzzoni tornou a introduzir modificações em seus planos. A feroz


e obstinada resistência americana, a chegada de mais unidades aliadas
à Sicília e a pressão na área de Vittoria-Comiso indicavam que seria
difícil levar a Divisão Hermann Göring até a costa leste, através de
Palazzolo Acrede. Naquela tarde, ele mandou que o 16o Corpo
suspendesse toda a ação ofensiva na área de Gela e retirasse a divisão
alemã para Caltagirone, como primeira etapa no deslocamento das
tropas de Conrath, no dia seguinte, para Vizzini, a fim de combater os
britânicos. Rossi deveria consolidar a Divisão Livorno na área de
Caltagirone para cobrir o movimento alemão.

Antes que as instruções de Guzzoni chegassem a Conrath, von


Senger visitou a divisão. Desapontado porque os tanques não haviam
Segunda Guerra Mundial 44

penetrado até a praia, von Senger achou que Conrath poderia,


contudo, deslocar-se para leste, através de Vittoria, porque, segundo
julgava, os americanos estavam tão maltratados, após dois dias de
contra-ataques, que seriam incapazes de enfrentar o movimento.

Mas, quando Conrath tentou voltar a atacar na direção de Vittoria,


seus tanques foram de tal modo atacados por uma força integrada por
pára-quedistas e soldados de infantaria, dirigidos por Gavin, que o
ataque nem sequer começou. Ignorando as instruções de von Senger e
obedecendo, em vez disso, as ordens de Guzzoni, Conrath recuou para
o sopé da colina situada ao sul de Niscemi como a primeira etapa de
uma retirada para Caltagirone - movimento este que faria em várias
etapas.

Naquele anoitecer, apesar das pesadas perdas sofridas pela 1 a


Divisão na área de Gela, os americanos tinham razões de estar
satisfeitos. Dos 60 tanques que se lançaram contra eles nos arredores
de Gela, mais de 40 foram destruídos; a 45 a Divisão, à direita, havia
tomado Comiso e seu aeródromo naquele dia, capturando 125 aviões
alemães (20 deles operacionais), 200.000 galões de gasolina de
aviação e 500 bombas. Uma companhia de fuzileiros, ignorando a
linha fronteiriça do exército, entrou em Ragusa, capturou o prefeito e
o chefe de polícia e tomou a mesa telefônica; alguns americanos de
ascendência italiana se divertiram em responder a chamados de
guarnições que, ansiosas, queriam saber o que estava acontecendo. De
Licata, a 3a Divisão ampliara sua cabeça-de-praia original e ocupara
considerável porção de território, com tropas, em alguns casos,
tomando posições a 22 km de Licata, num amplo semicírculo através
de Palma de Montechiaro, Naro e Campbello.

Com firme contato entre unidades adjacentes estabelecido ao


longo de toda a frente; com parte da 2a Divisão Blindada em terra e
em ação à esquerda; com belonaves ainda a postos para dar apoio, e
com suprimentos e equipamentos sendo trazidos sistematicamente
para terra, a invasão tinha todas as características de sucesso.

Mas Patton nem sequer pensava em deitar-se sobre os louros


conquistados. Ele ordenou ao Major-General Terry de la Mesa Allen,
comandante da 1a Divisão, para que tomasse Ponte Olivo e Niscemi,
que, segundo os planos pré-invasão, deveriam ter sido dominados
naquele dia (11 de julho), o segundo dia do desembarque.
Invasão da Sicília 45

Como Patton esperara os sérios contra-ataques inimigos que se


haviam realizado, ele agira, naquela manhã bem cedo, para reforçar as
tropas em torno de Gela, mandando que um regimento aeroterrestre
fosse lançado na cabeça-de-praia da 1a Divisão durante a noite de 11
de julho. Com aqueles efetivos adicionais, os americanos poderiam
tomar os próximos objetivos facilmente - as elevações que orlavam as
praias do assalto anfíbio e que dariam proteção e segurança à cabeça-
de-praia.

A idéia de reforçar as tropas da cabeça-de-praia por meio de saltos


de pára-quedistas era excelente; ninguém, no entanto, desconfiava de
que seria tão trágica a sua execução.

Reforço aeroterrestre

O lançamento de pára-quedistas numa cabeça-de-praia era a


maneira mais rápida possível de se obter reforços. Por isso, muito
antes da invasão, Patton pedira ao Major-General Matthew Ridgway
que examinasse a idéia. O comandante da 82 a Divisão Aeroterrestre
achou a possibilidade extremamente viável. Mas havia um perigo -
que as belonaves aliadas pudessem atirar contra os aviões que
transportavam os pára-quedistas para a ilha. Assim, ele tentou
repetidamente obter das autoridades navais a garantia de que seria
mantido um corredor aéreo desimpedido até a Sicília. Os comandantes
navais relutaram em garantir esse tipo de acesso, porque o repentino
aparecimento de aviões, sobretudo voando a baixa altitude,
representava uma ameaça que os navios tinham de enfrentar
rapidamente. Os artilheiros antiaéreos navais, embora treinados na
identificação de aviões, tinham de ser rápidos na resposta à ameaça.

Dias antes dos desembarques, os representantes de Cunningham


comunicaram finalmente a Ridgway que as forças navais cooperariam,
mas somente se os aviões obedecessem rigidamente a um caminho
designado, na última etapa do vôo sobre a terra.

Com essa promessa, Ridgway, juntamente com o pessoal de


Estado-Maior do QG de transporte aéreo e do comando naval,
elaboraram um rumo específico. Percorrendo um corredor de 3 km de
largura e à altitude de 300 m, os aviões deveriam procurar atingir
Sampieri, a 48 km a leste de Gela e na extremidade oriental da zona
do 7° Exército, rumando para o interior, até um ponto estabelecido, e
Segunda Guerra Mundial 46

se desviarem para noroeste, a fim de cumprir a etapa final do vôo


sobre a Sicília.

Quando, a 11 de julho, Patton pediu que se realizasse a operação,


ele sugeriu que as tropas aeroterrestres saltassem sobre a pista de
pouso Gela-Farello, que estava em poder dos germânicos. Isto se
encaixava perfeitamente no plano anterior, segundo o qual os aviões
chegariam a Sampieri e depois se desviariam para o norte, na
aproximação final. Os pilotos estariam voando sobre território aliado
até o fim, sem se preocuparem com fogo antiaéreo inimigo.

Às 08h45 de 11 de julho, assim que Patton foi informado, por


Ridgway, que os soldados saltariam naquela noite, ele enviou
mensagens aos comandos navais e aos seus principais comandantes
subordinados, informando que se daria o salto aeroterrestre, mandou
que notificassem a todas as suas unidades, especialmente os batalhões
antiaéreos, de que pára-quedistas americanos estariam saltando pouco
antes da meia-noite.

Tendo iniciado os preparativos necessários na África do Norte,


Ridgway voou para a Sicília naquela tarde, dirigindo-se ao QG do 7°
Exército, para se certificar que este mandara avisar a todas as unidades
antiaéreas e depois visitou várias guarnições antiaéreas próximas do
posto de comando da 1a Divisão para ver se elas haviam recebido a
informação; descobriu que cinco guarnições haviam-na recebido, mas
a sexta, não. Quando ele informou a um oficial do Estado-Maior do
QG do exército a respeito disso, este lhe disse que os oficiais de todas
as unidades antiaéreas das vizinhanças seriam instruídas numa reunião
a ser realiza da naquela tarde sobre o salto de pára-quedistas daquela
noite, ficando todos perfeitamente a par do que ocorreria.

Acontece que os artilheiros antiaéreos tiveram um dia muito


atarefado, com a Luftwaffe e a força aérea italiana realizando juntas
quase 500 surtidas contra a cabeça-de-praia aliada no dia 11 de julho,
a maioria delas na área do 7° Exército. Um violento ataque aéreo, feito
ao amanhecer, atingira as praias e os navios. Às 06h35, 12 aviões
italianos sobrevoaram a área dos transportes, ao largo da costa de
Gela, e obrigaram os navios a levantar âncora dispersarem-se e tomar
posição de evasiva; dois transportes quase foram atingidos e um deles
teve um rombo aberto em seu costado. Novamente às 14h00, quatro
aviões metralharam as praias de Gela e um bombardeiro, a grande
altitude, despejou cinco bombas na área de ancoragem. Meia hora
Invasão da Sicília 47

mais tarde, quatro bombardeiros apareceram sobre a área de Scoglitti


e um pouco depois das 15h30, 30 Junkers 88 atacaram a área de Gela;
uma bomba atingiu um barco carregado de munição, que explodiu e
afundou em águas rasas. Com a proa exposta e fumaça saindo do
casco, o navio destruído era um farol perfeito.

Na Tunísia, o regimento de infantaria pára-quedista do Coronel


Reuben Tucker, com pouco mais de 2.000 homens, levantou vôo às
19h00 em 144 aviões. Os pilotos voavam na formação básica, em
grupos de nove aviões em V, cada grupo voando mais abaixo que o
precedente, para que os pilotos pudessem ver melhor a silhueta dos
aviões dianteiros contra o céu. O ar estava calmo e uma lua em quarto
crescente dava certa iluminação. Os pilotos confiavam em que a coisa
não seria mais que uma operação de rotina.

Seguindo o rumo prescrito, os pilotos contornaram o canto de


Malta e se dirigiram para a Sicília, com todas as formações intactas.
Alguns navios aliados, ao norte de Malta, dispararam leves rajadas de
fogo antiaéreo contra os aviões, sem lhes causar qualquer dano.
Dentro dos aviões, os pára-quedistas cochilavam ou permaneciam
quietos.

Às 21h45, quando os aviões se aproximavam da Sicília, aviões


alemães apareceram em grandes números sobre Gela e desfecharam
um ataque maciço. Os aviões aliados meteram-se na refrega e o céu
escuro sobre Gela transformou-se num louco calidoscópio de
aparelhos aliados e do Eixo desviando-se por entre explosões e pufes
de fogo antiaéreo negro. O pandemônio durou quase uma hora,
enquanto os navios levantavam âncoras e se dispersavam para escapar
às bombas.

Os aviões atacantes já tinham partido quando os transportes aéreos


que traziam os pára-quedistas cruzaram a linha costeira perto de
Sampieri. A esquadrilha dianteira voava pacificamente na direção do
campo de pouso de Gela-Farello e às 22h40 os primeiros pára-
quedistas saltaram; a segunda esquadrilha estava avistando o Lago
Biviere, o último ponto de verificação, quando uma metralhadora em
terra abriu fogo contra a formação.

Era uma metralhadora americana e, em poucos minutos, parecia


que todos os canhões antiaéreos aliados colocados na cabeça-de-praia
e ao largo estavam atacando as majestosas colunas de aviões,
Segunda Guerra Mundial 48

derrubando alguns deles. Ridgway, que aguardava no campo de pouso


de Gela-Farello os pára-quedistas, ficou assombrado e furiosamente
impotente.

Os esquadrões separaram-se imediatamente, tentaram reformar-se


e se dispersaram. Oito pilotos deram meia volta e retornaram à África
do Norte com seus pára-quedistas, mas a maioria lançou suas cargas
humanas onde pôde, e, inevitavelmente, alguns homens caíram no
mar. Seis aviões receberam tiros certeiros quando os pára-quedistas
estavam tentando saltar de seu interior. Alguns deles foram mortos
antes que pudessem sair, outros foram atingidos durante a descida em
pára-quedas, e outros ainda encontraram a morte depois de tocarem
em terra.

Um piloto voou através do intenso fogo antiaéreo e sentiu seu


aparelho tremer ao impacto de uma granada certeira, no momento em
que os pára-quedistas estavam saltando. Tão logo estes saltaram, o
avião foi novamente atingido. Com o leme destruído e os motores
falhando, o piloto abandonou o avião, quando então um destróier
americano abriu fogo contra ele, durante vários segundos, com seus
canhões de 20 mm, antes que as guarnições compreendessem que o
aparelho era americano. O destróier mandou um pequeno barco buscar
os sobreviventes.

A histeria varrera a área de Gela, e quando tudo acabou e se


somaram as perdas, os resultados foram trágicos. Dos 144 aviões que
haviam partido da Tunísia, 23 não retornaram - dos quais seis foram
derrubados antes que os pára-quedistas pudessem saltar, e 37 ficaram
seriamente avariados. Ao todo, os pára-quedistas sofreram 229 baixas
- 82 mortos, 131 feridos e 16 desaparecidos. O regimento aeroterrestre
fora dispersado por larga área e a maioria dos sobreviventes jamais
esqueceria - ou perdoaria - a experiência.

Um dos pilotos consignou tristemente em seu relatório, após a


missão: "Estaríamos bem mais seguros se estivéssemos, nesta noite
terrível, sobre território inimigo".

Ordenou-se imediatamente uma completa investigação, que não


chegou, afinal de contas, a conclusão alguma. O comando dos
transportes de tropas culpou à falta de coordenação entre as três armas
- Exército, Marinha e Forças Aéreas - pelo acidente; o comandante das
forças aéreas americanas pôs a culpa na má disciplina das unidades
Invasão da Sicília 49

antiaéreas e o comandante da força aérea aliada, Tedder, disse que a


missão fora inadequadamente planejada, além de insensata, porque os
aviões tiveram de percorrer 56 km de frente de batalha. "Mesmo que
fosse possível advertir plenamente todas as tropas e navios, o que é
duvidoso", disse ele, "qualquer disparo feito por engano ou contra
qualquer avião inimigo por certo seria seguido de muitos outros, das
demais tropas do setor. O fogo antiaéreo à noite é infeccioso e é quase
impossível controlá-lo". Cunningham pôs a culpa no caminho errado
ou na navegação falha das tripulações dos aviões. Algumas unidades
antiaéreas alegaram que não receberam qualquer aviso, enquanto
outras disseram que os transportes aéreos apareceram enquanto os
aviões inimigos ainda atacavam o local.

Parece que Ridgway foi quem melhor resumiu a questão: "A


responsabilidade pela perda de vidas e material resultante dessa
operação é tão dividida, tão difícil de determinar", escreveu ele, "que a
aplicação de qualquer medida disciplinar é de sensatez muito
duvidosa. Ainda que seja deplorável a perda de vidas ocorrida,
acredito que isto servirá de lição, de base para que não se repitam,
jamais, desastres dessa natureza".

Mas sua previsão, mesmo depois do que aconteceu, se mostraria


demasiado otimista.

A brecha na aliança do Eixo

Por volta de julho de 1943, o sistema de propaganda fascista se


tornara vítima da sua própria efluência, a ponto mesmo de iludir o
próprio Mussolini. Tantas vezes o tema da defesa apaixonada da pátria
pelas forças armadas e pelos civis fora repetido, que a maioria dos
italianos esperava que a eficiência e o moral melhorariam quando a
guerra chegasse ao solo pátrio. Por mais indiferentes que os italianos
se mostrassem na luta no além-mar, acreditava-se que eles reagiriam
com firmeza e determinação contra os invasores.

Os primeiros boletins baixados após a invasão da Sicília


confirmaram isso. Relatórios otimistas, seguidos de noticias
veiculadas pelo rádio, anunciando bem sucedidos contra-ataques,
provocaram festejos nas cidades da Itália, fazendo esquecer a queda
de Pantelleria.
Segunda Guerra Mundial 50

O boletim divulgado a 12 de julho foi bem diferente. Embora


louvasse a resistência das unidades costeiras, elogiando as qualidades
de combate das Divisões Livorno e Napoli, ele reconhecia que os
Aliados haviam ocupado a faixa costeira que ia de Licata a Augusta e
falava em conter, em lugar de eliminar, as cabeças-de-praia aliadas.
Entretanto, o colapso da base naval em Augusta-Siracusa era
incompreensível para o povo italiano e para Mussolini, constituindo-
se no alfinete que furou o balão do entusiasmo e da fé em que sé
apoiava o moral do povo.

Hitler não alimentava ilusões. Já no segundo dia da invasão, 11 de


julho, ele estava convicto de que devia reforçar os defensores da
Sicília. O que mais o preocupava era a expectativa de uma penetração
aliada nos Bálcãs como conseqüência da conquista da Sicília. Menos
importante era, para ele, o fato de a Sicília poder dar ao adversário
bases de bombardeiros mais próximas das cidades industriais da Itália
Setentrional e da Alemanha. E como Hitler só poderia manter a Sicília
e a Itália continental como um baluarte contra qualquer ataque aos
Bálcãs com a cooperação italiana sua primeira providência foi dar
combate ao desencorajamento italiano. Ele sabia que os italianos
estavam cansados da guerra e, a menos que os estimulasse, eles
poderiam retirar-se completamente do conflito.

Desse modo, Hitler ordenou a Kesselring que transferisse a 1 a


Divisão de Pára-quedistas da França para a Sicília por via aérea, a 29 a
Divisão Panzergrenadier, da Calábria, através do Estreito de Messina,
e o QG do 14o Corpo Panzer, para dirigir, da ilha todas as unidades
alemães empenhadas na luta.

Voando para a Sicília, a 12 de julho, para coordenar estas


providências, Kesselring encontrou Guzzoni e von Senger pessimistas
sobre as possibilidades de impedir a invasão e Kesselring teve de
concordar. Todos o interessados estavam confusos, diante da chegada
das duas divisões à ilha, temendo que estas tropas adicionais exigiriam
demais em termos de transporte e suprimento. Pessoalmente, von
Senger estava inclinado opor-se à introdução de mais unidades
alemães na Sicília, por acreditar que a evacuação imediata da ilha
seria a melhor maneira de assegurar fortes preparativos para a defesa
da Itália continental.

Os três oficiais viam claramente que os outros contra-ataques


dirigidos às cabeças-de-praia aliadas não poderiam ser desfechados.
Invasão da Sicília 51

Até que chegassem reforços, o Eixo teria de passar inteiramente para a


defensiva, é o único caminho viável era encurtar a frente, montando
uma linha de defesa no canto nordeste da Sicília, movendo-se para lá
por etapas, atrasar os aliados ao máximo possível e resistir
indefinidamente - ou até que alguma decisão, desenvolvimento ou
mudança repentina dos acontecimentos possibilitasse outra estratégia.

Evidentemente, a primeira coisa a fazer seria impedir a penetração


dos britânicos até Catânia, o que o Grupo Schmalz até então fizera
com brilhantismo. Mas o Grupo Schmalz - ajudado pela maltratada
Divisão Napoli - estava resistindo a forças muitíssimo superiores, e
precisava de ajuda. Guzzoni mandou então a Divisão Hermann Göring
em socorro do Grupo, com a Divisão Livorno protegendo a área entre
aquela divisão alemã e a 15 a Divisão Panzergrenadier, que vinha do
oeste.

Após uma discussão franca e cordial com Guzzoni, Kesselring e


von Senger voaram para Catânia e falaram com Schmalz, a quem
cumprimentaram. Dois batalhões de infantaria haviam cruzado o
Estreito para reforçá-lo e um regimento de pára-quedistas deveria
chegar de avião naquela noite.

Às 18h00, quando Kesselring se preparava para decolar de volta a


Roma, ele viu um regimento da 1a Divisão de Pára-quedistas chegar,
protegido por uma escolta de caças, e saltar sobre o aeródromo de
Catânia. A operação realizou-se sem qualquer dificuldade e os pára-
quedistas logo embarcaram em caminhões do Grupo Schmalz.

Na noite de 12 de julho, o Comando Supremo estava decidindo


sobre se seria possível repelir os desembarques aliados. As defesas
costeiras haviam sofrido colapso e a inferioridade do Eixo em efetivos
navais e aéreos permitira aos Aliados desembarcar na Sicília
quantidade de tropa muito maior do que o Eixo podia deslocar para lá.
Como os contra-ataques haviam falhado, a única defesa eficaz seria,
combatendo nas rotas marítimas aliadas, impedir a chegada à ilha dos
reforços que vinham da África do Norte. As forças aéreas que
defendiam a Sicília teriam então que ser aumentadas. Como a Itália
não dispunha de reservas de aviões, Mussolini teria de pedir ajuda a
Hitler.

E Ambrosio disse isto a Hitler, na manhã de 13 de julho.


Segunda Guerra Mundial 52

Ao mesmo tempo, Kesselring telefonava ao Coronel-General


Alfred Jodl, no OKW, para dar-lhe suas impressões. Considerou
crítica a situação da ilha, salientando que não havia chance de se
montar qualquer ataque significativo contra as cabeças-de-praia. O
melhor que o Eixo podia fazer era lutar para ganhar tempo, o que seria
importante, se se quisesse manter e fortalecer o moral italiano. Ele
propôs que o restante da 1a Divisão de Pára-quedistas e toda a 29a
Divisão Panzergrenadier fossem deslocados para a Sicília, que a
Luftwaffe fosse reforçada e que os submarinos e torpedeiras
operassem mais ativamente contra os comboios aliados.

Depois, Kesselring foi avistar-se com Mussolini, encontrando-o


chocado com os acontecimentos. Mussolini disse-lhe que estava
telegrafando para Hitler pedindo ajuda. Num telegrama enviado
naquele dia, o Duce informava que precisava de mais aviões
imediatamente, mas apenas por breve período. Uma vez superada a
crise da Sicília, ele os devolveria. "Se não repelirmos os invasores
imediatamente", disse Mussolini a Hitler, "será tarde demais".

Nesse momento, o OKW discutia com Hitler sobre se se devia ou


não reforçar a defesa da Sicília. Jodl achava que, em vista dos
acontecimentos, a Sicília não poderia ser defendida por muito tempo,
de modo que talvez fosse melhor renunciar totalmente à Sicília em
favor dos preparativos da defesa da Itália continental e da Alemanha.
Hitler sugeriu que se consultasse Kesselring e este, pelo telefone,
recomendou que se continuasse defendendo a Sicília, alegando
sobretudo a necessidade de levantar o moral dos italianos.

Hitler então decidiu ajudar Mussolini, aprovando a transferência


do resto da 1a Divisão de Pára-quedistas para a Sicília; a da 29 a
Divisão Panzergrenadier para a extremidade da Calábria, para possível
transferência para a Sicília, se houvesse suprimentos suficientes para
sustentá-la; a transferência do QG do 16o Corpo Panzer, de Hube, para
a Sicília, imediatamente, a fim de assumir o controle das forças
alemães, e o reforço do 2° Corpo Aéreo alemão na Sicília e na Itália
Meridional. A tarefa das tropas alemães na Sicília, definiu ele, era
"retardar ao máximo o avanço aliado e detê-lo diante do Etna, ao
longo de uma linha defensiva que iria de aproximadamente San
Stefano a Catânia, passando por Adrano"

Ele também deu instruções especiais que não deveriam ser


reveladas aos italianos. Hube deveria excluir Guzzoni e outros
Invasão da Sicília 53

escalões de comando italianos do planejamento alemão. Assumir a


completa direção das operações na Sicília, estendendo seu comando às
unidades italianas ainda úteis em combate.

Jodl ampliou as ordens secretas de Hitler, orientando Hube para


que conduzisse as operações na Sicília com o objetivo de poupar
tantos alemães quanto possível.

Kesselring informou a Ambrosio, a 14 de julho, que o canto


nordeste da Sicília era, segundo os alemães, defensável e que o QG do
14o Corpo Panzer, de Hube, seria transferido da Itália Meridional para
a ilha. Hube ajudaria Guzzoni a defender a "Linha do Etna"
assumindo o comando das forças alemães.

Naquele dia, Ambrosio avistou-se com Mussolini e lhe disse que


não havia esperanças de se vencer a guerra, que não havia justificativa
militar de se prosseguir na luta e instou-o a retirar a Itália do conflito.
Ele apresentou um memorando formal ao Duce em que deixava clara
a posição do Comando Supremo.

"O destino da Sicília", escreveu Ambrosio, "estará selado dentro de


um período mais ou menos breve. As razões do colapso que se dará
rapidamente - são: a absoluta falta de oposição naval e a fraca
oposição aérea durante a aproximação da costa, o desembarque e a
penetração do adversário no decorrer das nossas reações contra-
ofensivas; a inadequação do armamento e da distribuição das nossas
divisões costeiras; a escassez de efetivos nas nossas instalações
defensivas; a ligeira eficiência (de armamento e mobilidade) das
divisões de reserva italianas. É inútil procurar remediar este terrível
estado de coisas, que é o resultado de três anos de guerra iniciados
com poucos recursos e durante os quais esses poucos recursos foram
esgotados na África, na Rússia e nos Bálcãs".

Ambrosio concluiu seu apelo pedindo "as mais altas autoridades" -


quer dizer, Mussolini - "que considerassem se não seria sensato
poupar ao país mais luta e mais derrota antecipando o fim do conflito,
dado que o resultado final será sem dúvida pior, e não irá muito além
de mais um ano".

Os militares queriam que Mussolini revelasse os fatos a Hitler, que


se rompesse a aliança e se fizesse a paz com os Aliados.
Segunda Guerra Mundial 54

Mussolini prometeu-lhes pensar no assunto.

Os consultores militares de Hitler no OKW também esperavam


uma revelação dos fatos. Eles estavam desiludidos com a resistência
oferecida pelos italianos, que consideravam decepcionante, com a
inépcia do governo de Mussolini, com a perpétua rixa com o
Comando Supremo. A 14 de julho eles atualizaram os planos que
haviam traçado há algum tempo - se Mussolini e seu governo
sofressem colapso ou procurassem sair da guerra, tropas alemães
invadiriam a Itália Setentrional, em grande número, e ocupariam
aquela parte do país.

A invasão da Sicília, nos seus primeiros dias, abriu uma brecha na


aliança ítalo-germânica, brecha que pôs à mostra a lastimável fraqueza
do estado italiano.

A campanha se desenvolve

Montgomery estava satisfeito com os resultados dos dois primeiros


dias da invasão, muito embora o tempo e o terreno montanhoso da
Sicília estivessem exaurindo suas tropas mais depressa do que ele
esperava. A temperatura era elevada durante o dia, havia escassez de
água, e as estradas, extremamente poeirentas e por toda a parte havia
colinas a serem galgadas. As tropas já mostravam sinais de cansaço.

Entretanto, as condições do inimigo não eram melhores e o


momento não permitia pensar em repouso. Ele apressava seus dois
comandantes de corpo.

O 13o Corpo encontrou dificuldade em ir além de Siracusa no dia


12 de julho e teve de passar temporariamente para a defensiva, quando
o Grupo Schmalz e a Divisão Napoli desfecharam um contra-ataque
bastante sério. Na realidade, o contra-ataque fora feito para cobrir a
retirada que o adversário fazia para Lentini, onde melhor se
defenderia. A cidade de Augusta ficou assim desprotegida, porque o
golpe de Schmalz visava apenas a permitir o deslocamento da tropa
para Lentini, e, uma vez contido, os britânicos, com a ajuda das forças
aérea e naval, avançaram em direção à cidade portuária de Augusta,
onde a 5a Divisão penetrou na noite daquele dia. Com isto,
Montgomery achava que os aliados dominavam firmemente a parte
sudeste da ilha.
Invasão da Sicília 55

A 13 de julho, o 13 o Corpo de Dempsey deu com as posições de


Lentini, na estrada costeira que leva para Catânia, e recuou.

Reconhecendo a força das defesas de Schmalz, Montgomery


recorreu ao setor esquerdo de suas tropas e ao 30 o Corpo para avançar.
Se pudesse levar as tropas de Leese rapidamente para Caltagirone,
Enna e Leonforte, ele poderia contornar a encosta oeste do Monte
Etna e ir para trás das tropas inimigas, bloqueando o acesso para
Catânia, no leste. Havia um problema. A Rodovia 124, por onde seria
mais rápido ganhar o interior e contornar o Monte Etna, estava
reservada ao uso dos americanos, segundo as instruções pré-invasão
de Alexander.

Montgomery simplesmente ignorou as ordens de Alexander.


Ordenou a Leese que atacasse ao longo da rodovia e, assim fazendo,
violou as fronteiras entre exércitos, negou aos americanos uma estrada
que estes contavam usar e, o pior de tudo, mandou o 30 o Corpo
diretamente através do lado direito da linha de avanço do 7° Exército.
O resultado deste ato provavelmente prolongou a campanha.

Mais tarde, Montgomery explicou as razões de sua atitude: "Havia


o perigo de sobreposição dos dois exércitos na área Vizzini-
Caltagirone, perigo que foi superado pela ordem dada ao 15° Grupo de
Exércitos por Alexander, que tornou à estrada... inclusive para o 8°
Exército" - explicação não de todo verídica, nem franca.

A série de acontecimentos que culminou com a arbitrariedade


começou a 12 de julho, quando Patton, como Montgomery, se
mostrava alegre com o desenrolar da invasão e otimista quanto às
futuras possibilidades. A 1a Divisão tomara o aeródromo de Ponte
Olivo, atingindo ainda mais a Divisão Livorno durante o ataque; a 45 a
Divisão capturara Biscari e a 3a Divisão dominava firmemente Licata,
que protegia o flanco esquerdo.

Além disso, Patton não tinha instruções específicas de Alexander


quanto à fase seguinte da operação. Seu exército tomara os objetivos
que lhe foram designados e se encontrava numa posição capaz de,
como Alexander mandara, "impedir que reservas inimigas se
deslocassem para leste, contra o flanco esquerdo do 8° Exército". Mas,
como era naturalmente agressivo e avesso à inatividade, Patton
recomendou ao Major-General Truscott que fizesse com sua 3 a
Segunda Guerra Mundial 56

Divisão um reconhecimento ao longo da costa, até Agrigento. Instruiu


a Bradley que continuasse avançando as 1a e 45a Divisões, na direção
de Caltagirone.

Alexander visitou Patton na manhã de 13 de julho e aprovou suas


providências. Patton explicou que se pudesse tomar Agrigento e seu
porto-satélite, Porto Empedocle, facilitaria seus problemas logísticos;
observou também que o 2o Corpo de Bradley, tomando Caltagirone,
Enna e Leonforte, talvez pudesse impedir que a 15 a Divisão
Panzergrenadier se ligasse à Divisão Hermann Göring, que
evidentemente estava avançando para reforçar o obstáculo contra
Montgomery na frente de Catânia. Então, talvez Bradley pudesse
contornar a encosta oeste do Monte Etna, até Randazzo e mais além,
realizando um avanço que complementaria o de Montgomery, através
de Catânia, até Messina.

Alexander pareceu concordar. Especificamente, disse que estava


certo tomar Agrigento, se Patton pudesse fazê-lo sem grande sacrifício
de potencial humano ou material, mas ponderou que preferia manter a
3a Divisão à esquerda, como uma parede sólida contra os
consideráveis movimentos inimigos do oeste - ou seja, da 15 a Divisão
Panzergrenadier - que os pilotos de reconhecimento comunicavam
estar-se realizando.

Deixando Patton, Alexander visitou Montgomery, que o convenceu


a fazer a mudança de fronteira que lhe daria a Rodovia 124.

A 45a Divisão, à esquerda do 7o Exército, embora tomando


Niscemi, já estava encostada no 30o Corpo do 8o Exército, que tomava
posição para iniciar o novo ataque projetado por Montgomery, e o
Major-General Troy Middleton, comandante da 45a Divisão, temia que
a aproximação de suas tropas com os britânicos, em deslocamento,
pudesse provocar trocas acidentais de tiros. Acontece que mesmo
antes de Alexander concordar com o pedido de Montgomery, este deu
ordens para iniciar um grande ataque naquela noite.

Várias horas após o começo do ataque de Montgomery, Alexander


radiografou uma diretiva a Patton confirmando a validade do
movimento de Montgomery, de modo que foi somente pouco antes da
meia-noite de 13 de julho que Patton recebeu a mensagem. Ele devia
entregar a Rodovia 124 a Montgomery.
Invasão da Sicília 57

Mas a mensagem também dizia que o 7° Exército passaria a um


papel passivo na campanha. Montgomery receberia todas as estradas
que conduziam a Messina, o prêmio da campanha da Sicília.

Patton "engoliu o sapo", mas telefonou a Bradley informando-o de


que a entrega da Rodovia 124 exigia que a 45 a Divisão se deslocasse
para oeste, colocando-se ao lado da 1 a Divisão, e que o 2 o Corpo
parasse o avanço que fazia para o norte, voltando-se também para
oeste.

"Isto nos infernará", disse Bradley. "Eu contava com a estrada."

O pior, no entanto, foi que o deslocamento da 45 a Divisão aliviou a


pressão sobre a Divisão Hermann Göring, que se movimentava em
direção a Montgomery, para enfrentá-lo na entrada da planície de
Catânia, permitindo também que a 15a Divisão Panzergrenadier, que
estava vindo da parte ocidental da ilha para o centro, e se envolvendo
nos tentáculos estendidos em torno de Licata pela 3 a Divisão
americana, se juntasse à Divisão Hermann Göring. Se Bradley tivesse
podido manter a pressão, os Aliados poderiam ter penetrado numa
brecha protegida apenas pelos remanescentes da destroçada Divisão
Livorno e, assim, talvez tivessem impedido que as duas divisões
alemães - as duas mais fortes unidades da Sicília - preparassem uma
sólida linha defensiva em torno do Monte Etna.

O principal ataque de Montgomery, marcado para a noite de 13 de


julho, foi uma tentativa de penetração na planície de Catânia pela área
de Lentini. Para ajudar a forçar a garganta entre Carlentini e Lentini,
ele planejava fazer com que uma brigada de pára-quedistas saltasse à
noite e uma unidade de Comandos desembarcasse na praia para tomar
duas pontes importantes, os pára-quedistas tomando a ponte de
Primasole, sobre o rio Simeto, a 11 km ao sul de Catânia, e os
Comandos, após desembarcarem próximo de Agnoe, incumbindo-se
da ponte de Lentini. Com forte apoio naval, a 50 a Divisão, com uma
brigada blindada à frente, deveria fazer o ataque principal, para juntar-
se aos Comandos e às tropas aeroterrestres.

Pouco depois do anoitecer de 13 de julho, unidades de Comandos


desembarcaram e tomaram a ponte de Lentini. Os alemães haviam
colocado cargas de demolição em todas as pontes, como medida de
precaução, caso fossem obrigados a recuar, pretendendo detonar as
cargas de dinamite para negar aos britânicos o uso da ponte. Os
Segunda Guerra Mundial 58

Comandos removeram as cargas explosivas da ponte e instalaram


defesas ao redor dela, mas não puderam mantê-las. Um forte
contingente de tropas alemães logo apareceu e repeliu os incursores
britânicos, que estavam levemente armados.

A operação aeroterrestre, empreendimento mais complicado,


enfrentou as mesmas dificuldades das anteriores. Os pilotos dos
transportes de tropas encontraram pesado fogo antiaéreo, dos navios
aliados, ao longo da costa leste da Sicília - muito embora uma rota
aérea especificamente designada deveria estar livre de navios. Na
verdade, desde quando os aviões circundaram Malta começaram a
pegar fogo antiaéreo. Ao largo do Cabo Passero, encontraram
dificuldades muito sérias. Mais de metade dos pilotos informou ter
recebido tiros certeiros de navios aliados; dois aviões foram
derrubados e nove retornaram, com os pilotos feridos ou os aviões
danificados.

E os que prosseguiram, encontraram sólida muralha de granadas


antiaéreas, de baterias alemães e italianas, assim que cruzaram a linha
costeira. Muitos pilotos saíram de formação e sobrevoaram em
círculos, buscando um caminho livre de fogo que os levasse às quatro
zonas de salto. Dez outros retornaram, todos carregados de pára-
quedistas britânicos.

Dos 126 aviões que decolaram, 87 retornaram em virtude das


dificuldades encontradas e 39 lançaram seus pára-quedistas, descendo
uns bem perto da zona de salto, a maioria tocando o solo a 16 km de
distância da ponte de Primasole e nas encostas do Monte Etna, a 32
km de distância.

Dos 1.900 membros da Brigada de Pára-quedistas britânicos


despachados para a Sicília, só uns 200 homens e três canhões
antitanques chegaram à ponte de Primasole e tomaram-na. Eles
prontamente removeram as cargas de demolição colocadas pelos
alemães e instalaram um perímetro defensivo; mas eram muito poucos
para poderem resistir até a chegada das forças de terra.

Lamentavelmente, a ponte situava-se próximo ao aeródromo de


Catânia, onde o regimento da 1 a Divisão de Pára-quedistas alemã - o
primeiro contingente da divisão a chegar à Sicília - havia saltado horas
antes, observado por Kesselring. Os pára-quedistas alemães reagiram
furiosamente à intrusão dos pára-quedistas britânicos, e uma feroz
Invasão da Sicília 59

batalha, iniciada ao clarear de 14 de julho, durou o dia inteiro. Ao


anoitecer, tendo resistido bastante, apesar de grandes baixas, os
britânicos sobreviventes abandonaram a ponte, recuando para uma
elevação, de onde puderam impedir que os alemães a danificassem.

Entrementes, o ataque desfechado pela 50a Divisão não progredira


muito, pois Schmalz estava já reforçado não só por pára-quedistas
como também por dois batalhões de infantaria independentes, que
haviam sido transportados, pelo Estreito de Messina, de barca.
Durante a tarde de 14 de julho, quando alguns tanques britânicos
finalmente chegaram à linha defensiva alemã, Schmalz, como
estivesse apreensivo ante a possibilidade de ser flanqueado e ter
obstruída sua rota de retirada, decidiu deixar as posições de Lentini e
recuar. Protegido por pequenas forças de retardamento, Schmalz
retirou suas tropas em dois grupos, o primeiro para 13 km da margem
norte do rio Gornalunga, o segundo, no dia 15 de julho, bem cedo,
para 5 km depois do rio Simeto.

Quando os alemães se retiraram, os britânicos avançaram e se


juntaram aos pára-quedistas que ainda resistiam na extremidade sul da
ponte de Primasole. Um ataque ao norte do rio, a 15 de julho, não lhes
deu terreno algum, pois o grosso da Divisão Hermann Göring estava
chegando para reforçar as defesas de Schmalz, mas a 16 de julho um
ataque britânico mais violento rendeu-lhes uma cabeça-de-ponte
pouco profunda sobre o Simeto. No dia seguinte, os britânicos
ampliaram-na para 3.000 metros de profundidade. Um ataque
realizado durante a noite de 17 de julho não conseguiu resultado
algum.

Tornou-se óbvio que a linha defensiva que cobria Catânia era forte
demais para ser rompida, pelo menos no momento. O esforço de
Montgomery por alcançar Messina pela estrada da costa leste foi
anulado.

Tendo a diretiva de Alexander, de 13 de julho, excluído Patton de


participar da captura de Messina e, desse modo, limitado o 7° Exército
a um papel passivo na campanha, o comandante deste voltou seus
olhos para Palermo, a maior cidade da Sicília. Já que lhe haviam
negado qualquer atividade em Messina, ele talvez pudesse tomar toda
Palermo - e a primeira etapa para isto seria a captura de Agrigento e
Porto Empedocle; como Alexander autorizara um reconhecimento em
larga escala daqueles objetivos, Patton disse a Truscott que fosse em
Segunda Guerra Mundial 60

frente. Agrigento representava a porta para a Sicília ocidental, e Porto


Empedocle aumentaria as limitadas capacidades portuárias de Gela e
Licata.

Enquanto Truscott avançava para tomar Agrigento, a 40 km de


Licata, Patton pôs-se a planejar medidas que propiciassem o domínio
da Sicília. Estabeleceu duas zonas de atuação para os dois corpos de
seu exército, uma para o 2o Corpo, de Bradley, e a outra para um novo
Corpo Provisório, dirigido pelo seu subcomandante de exército,
Major-General Geoffrey Keyes, ampliando também a linha fronteiriça
entre as duas forças para a costa norte da Sicília. A leste da linha,
Bradley teria as 1a e 45a Divisões. Quando a 45a mudasse de posição,
da direita para a esquerda da 1 a Divisão, as duas divisões deveriam
avançar para noroeste, na direção de Caltanissetta, prosseguindo
depois para a costa norte e dividir a ilha em duas partes. Keyes
receberia a 3a Divisão, depois que esta tomasse Agrigento, a 82 a
Divisão Aeroterrestre e a parte da 9a Divisão que desembarcara após a
invasão. A 2a Divisão Blindada, na reserva do exército, estaria alerta
para explorar qualquer oportunidade ofensiva, possivelmente na parte
ocidental da Sicília, onde o terreno é menos montanhoso e mais
favorável ao avanço em direção a Palermo.

Pelo começo da tarde de 16 de julho, as forças de Truscott haviam


cercado Agrigento e calado toda a artilharia italiana. Havia muitos
incêndios na cidade e, quando as tropas americanas penetraram suas
defesas externas e chegaram às ruas da cidade, o comandante italiano
se rendeu. Porto Empedocle já caíra nas mãos dos Rangers, a nova
tropa americana equivalente aos Comandos britânicos.

Naquele dia, Alexander baixou nova diretiva, modificando as


ordens que dera três dias antes. Montgomery deveria avançar para
Messina, enquanto Patton protegia seu flanco, avançando para a costa
norte da Sicília, à esquerda dos britânicos. Alexander autorizou a
tomada de Agrigento e Porto Empedocle, que já estavam nas mãos dos
americanos. Ele nada disse sobre Palermo.

Tendo aceito a primeira diretiva sem comentário ou reclamação,


Patton irritou-se diante da segunda, por entender que ela envolvia um
menosprezo a seu exército. Defender a retaguarda de Montgomery não
era nada compatível com o conceito de divisão igual das
oportunidades a serem compartilhadas pelas forças britânicas e
americanas. Conferenciando com seus consultores mais íntimos, ele
Invasão da Sicília 61

verificou que entre os comandantes americanos havia um mal-estar


generalizado quanto ao papel atribuído ao 7° Exército na campanha.

Como Bradley disse, o 7° Exército estaria confinado à metade


ocidental da ilha, "onde não havia muito a fazer", e "não havia glória
alguma em capturar colinas, camponeses dóceis e soldados
desalentados. Depois de chegarmos à costa norte, podemos sentar-nos
confortavelmente e esperar, enquanto Monty acaba esse diabo de
guerra". O que os americanos queriam era atacar Messina. Mas,
sendo-lhes negado isto, aceitariam Palermo.

Patton decidiu protestar. E o fez pedindo para avistar-se com


Alexander na África do Norte, com a finalidade de apresentar um
plano alternativo.

A 17 de julho, reunindo-se com Alexander em La Marsa, Tunísia,


Patton pediu-lhe permissão para atacar Palermo. Depois de muita
discussão, Alexander concordou e, retornando alegre à Sicília, Patton
emitiu uma diretiva indicando Palermo como principal objetivo do 7°
Exército. Ele queria que Bradley atacasse em direção à costa norte da
Sicília com a 1a Divisão, enquanto a 45a Divisão se desviava para
noroeste, indo diretamente para Palermo, tendo à esquerda o Corpo
Provisório de Keyes, com a 82a Divisão Aeroterrestre e a 3a Divisão
carregando sobre Palermo pelo sul e pelo sudoeste. Ele esperava usar
a 2a Divisão Blindada no ataque final, dentro da cidade.

Os oficiais do Serviço, de Inteligência americano acreditavam que


os italianos, que formavam a maior parte das tropas inimigas na parte
ocidental da Sicília, só eram capazes de limitada ação defensiva. E
estavam certos, pois quando Guzzoni soube da queda de Agrigento,
verificou que teria de deslocar o 12o Corpo Italiano do oeste para leste,
senão, provavelmente, perderia essas tropas. Como o principal esforço
do Eixo seria feito no canto nordeste da ilha, ele mandou, a 17 de
julho, que Zingales mudasse seu QG e as Divisões Aosta e Assietta
para leste, para Nicósia, deixando duas divisões costeiras para repelir
possíveis ataques anfíbios aliados na costa oeste. Para defender
Palermo, Guzzoni nomeou o General-de-Divisão Giovanni Marciani
para encarregar-se de todas as unidades costeiras. Isto deixaria pouco
mais de 60.000 soldados na parte ocidental da Sicília, incluindo
unidades das bases navais de Palermo e Marsala; mas, na maioria,
estas unidades eram de segunda categoria - mal equipadas e mal
treinadas.
Segunda Guerra Mundial 62

Quatro horas após haver Patton ordenado o avanço para Palermo, o


QG do 7o Exército recebeu a confirmação, por escrito, da aprovação
de Alexander. Mas o chefe do Estado-Maior de Patton, General-de-
Brigada Hobart Gay, que primeiro se inteirou do texto da mensagem,
ficou um tanto chocado com ela. Em lugar de dar rédeas livres a
Patton, Alexander impôs-lhe certas restrições - condições que não
apresentara a Patton durante a conferência que manteve com este -
ordenando-lhe que avançasse para a costa norte - a fim de dar proteção
ao flanco e à retaguarda do 8° Exército, antes de rumar para Palermo.

Ofendido, Gay fez alguma prestidigitação. Ele usou a primeira


parte da mensagem de Alexander para modificar ligeiramente a
missão de Bradley, ignorando o resto do texto. Cuidou para que os
trabalhos de decifração se atrasassem e depois, fingindo que o original
fora truncado na transmissão, pediu ao QG de grupo de exércitos que
enviasse outra mensagem. Quando esta foi repetida, já o 7 o Exército
tinha soldados nos arredores de Palermo.

A razão para que Alexander modificasse a diretiva dada ao 7 o


Exército repousava no fato de Montgomery ter-lhe reclamado que não
dispunha de efetivos para cercar o Monte Etna e penetrar na direção
de Catânia, ao mesmo tempo. Quando o avanço do 13 o Corpo pela
costa leste da Sicília parou no rio Simeto, Montgomery mandou que o
30o Corpo, à esquerda, avançasse "a toda velocidade" para o interior.
Mas logo tornou-se evidente que Leese teria de encurtar o arco que
suas tropas abriram para cercar o inimigo, mas, ao fazê-lo, desviando
um pouco suas forças para a direita, ele deixou Enna desprotegida.
Bradley, após coordenar com Leese, tomou Enna com a 1 a Divisão e
em seguida desviou suas forças para nordeste, a fim de proteger o
flanco britânico, deixando assim à 45a Divisão a tarefa de cortar a
Sicília em dois. A 45a, na tarde de 18 de julho, já se encontrava pronta
para percorrer os 130 km até a costa norte. O Corpo Provisório estava,
na manhã seguinte, em condições de rumar para Palermo.

Os avanços americanos foram apenas pouco mais que uma grande


marcha de estrada. As tropas de reconhecimento que defendiam os
corpos principais de tropas repeliam os poucos italianos que os
atacavam, porque vários disparos de canhão eram normalmente o
bastante para convencer os italianos que defendiam os obstáculos
rodoviários ou pontes de que não tinham qualquer chance de deter o
movimento dos americanos.
Invasão da Sicília 63

Na manhã de 22 de julho, a 45 a Divisão avançava na direção da


costa norte, a cerca de 48 km a leste de Palermo, enquanto a 3 a
Divisão e parte da 2a Divisão Blindada se moviam diretamente para a
cidade portuária. No fim daquela tarde, a 45 a Divisão chegou à costa,
próximo de Termini Imerese, e as duas outras já estavam nos arredores
de Palermo e prontas para desfechar o assalto. Mas a guarnição e a
população civil já estavam fartas da guerra e ficaram felizes em se
entregarem. Como o General Marciani, comandante das forças
defensivas italianas, havia sido aprisionado, a cerimônia coube ao
General-de-Brigada Giuseppe Molinere, que ofereceu sua capitulação
a Keyes pouco depois de preso por uma patrulha que entrou na cidade
aí pelo fim da tarde. Por volta das 19h00, nas escadarias do palácio
real, Keyes aceitou formalmente a rendição.

No dia seguinte, os americanos fizeram a limpeza dos portos


isolados no oeste - Trapani, Marsala e Castellammare.

Estrategicamente, a captura da Sicília ocidental não tinha grande


significação. Mas foi um feito espetacular, que resultou em benefícios
importantes, pois pelo custo de 272 baixas em batalha - 57 mortos,
170 feridos e 45 desaparecidos - os americanos haviam feito 53.000
prisioneiros, embora a maioria fosse de reservistas, milicianos e
policiais. Eles também ganharam o porto de Palermo, que se tornaria o
principal ponto de entrada de suprimentos para o 7° Exército, embora
as praias do assalto original, a mais de 160 km de distância,
continuassem operando.

O resultado mais importante talvez fosse a demonstração de poder


e mobilidade táticos dada pelos americanos. Transformou-se em
procedimento-padrão o transporte de soldados de infantaria sobre os
tanques. Espalhando-se bem e avançando agressivamente, os soldados
do 7° Exército haviam mostrado equilíbrio e maturidade. O único
grande problema foram os ataques dos aviões aliados contra os
tanques americanos - os pilotos pensaram que os veículos
pertencessem à 15a Divisão Panzergrenadier, que se deslocara para o
centro da ilha a fim de estabilizar a "Linha do Etna".

As forças de terra americanas, em seu avanço para oeste, foram


manchetes nos Estados Unidos, e impressionaram Alexander, que
passou a pensar em dar a Patton uma participação maior nas ações
mais importantes.
Segunda Guerra Mundial 64

Os alemães tomam a direção

A 15 de julho, quando Hube e o QG do seu 14 o Corpo Panzer


chegaram à Sicília, para se encarregarem da direção das forças
alemães que se encontravam na ilha, Kesselring falou a Baade da
importância do seu serviço de barcas em Messina. Se os alemães
conseguiriam reforçar as tropas na Sicília ou evacuá-las - o curso de
ação seria ditado pela decisão de Hitler - iria depender em grande
parte da capacidade de Baade poder manter as barcas em
funcionamento regular. E Baade dirigia o serviço com a eficiência e
frieza de uma máquina, totalmente separado da operação dirigida
pelas autoridades militares italianas.

Os italianos mostravam-se muito humanos na orientação do


serviço de barcas. Freqüentemente davam passagem de ida ou volta
para a Sicília a pessoal militar de licença e até mesmo a civis - pelas
razões mais obscuras e diante das mais esfarrapadas desculpas.

Antes que Hube assumisse o controle formal de um setor da frente,


ele, Kesselring e Guzzoni passaram quase dois dias inteiros discutindo
a situação e uma variedade de planos. A intenção de Guzzoni de
defender a "Linha do Etna" fazia sentido, e Kesselring prometeu
enviar mais tropas para a Sicília, a fim de ajudá-lo a defendê-la. Os
três oficiais concordavam em que era melhor manter a Sicília do que
abandoná-la.

Guzzoni deu a Hube a responsabilidade pela parte leste da "Linha


do Etna", o importante setor de Catânia, constantemente ameaçado.
Conservou o 12o Corpo, de Zingales, já de volta da parte oeste da ilha,
na metade norte, colocando o QG do 16 o Corpo, de Rossi, no canto
nordeste da ilha, - para receber e processar as unidades vindas do
continente - esperava-se a chegada da 29a Divisão Panzergrenadier
assim que se w tivesse reunido suprimentos suficientes para sustentá-
la. A 18 de julho, Hube assumiu o comando da sua área e o controle
das Divisões Hermann Göring, 15a Panzergrenadier e Livorno.

Em contraste com os arranjos de comando feitos na Sicília,


empreendidos com muita cordialidade e boa vontade, Hitler admitiu
cinicamente a um grupo de oficiais do mais alto escalão germânico, a
17 de julho, que não defenderia a Sicília indefinidamente. Ele não
Invasão da Sicília 65

queria que a tropa que estivesse na ilha ficasse sem suprimentos ou


apoio, mas desejava que o OKW se cientificasse de que, em última
análise, todas as tropas seriam dali retiradas. No momento, ele queria
adiar o deslocamento da 29a Divisão Panzergrenadier para a Sicília,
pois numa perspectiva mais ampla, a instabilidade do governo de
Mussolini impunha que fosse levada em linha de conta a possibilidade
de ocorrer o colapso da Itália, com todas as suas implicações. Se isso
se desse, os alemães teriam de assumir a defesa da Itália - mas Hitler
acreditava que os alemães teriam então de recuar para uma linha mais
curta, em algum lugar ao norte do país. Pois sem o exército italiano",
disse ele, "não podemos defender toda a península itálica"

Por outro lado, se não houvesse colapso político, se tivesse todo o


apoio de Mussolini, Hitler poderia defender a Itália inteira.

Uma mensagem de Mussolini, enviada no dia seguinte, esclareceu


as questões. Num longo telegrama, que tornava sua posição bem clara,
o Duce assustou o Führer.

"Os sacrifícios impostos a meu país", escrevera Mussolini, "não


podem ter como finalidade principal o adiamento de um ataque direto
à Alemanha. A Alemanha é econômica e militarmente mais forte que a
Itália. Meu país, que entrou na guerra três anos antes do momento
previsto, e depois de ter-se já empenhado em duas guerras (Etiópia e
Grécia), vem-se esgotando passo a passo, queimando recursos na
África, na Rússia e nos Bálcãs. Acredito, Führer, que chegou o
momento de examinarmos, juntos e com atenção, as conseqüências de
tudo isso, tendo em vista os nossos interesses e os de nossos
respectivos paises."

Pondo de lado seus temores de ser envenenado se deixasse a


Alemanha, Hitler imediatamente concordou em avistar-se com
Mussolini, em algum lugar da Itália, para pô-lo novamente nos trilhos.
Ele preparou-se para tratar Mussolini com deferência, instilar nele a fé
na vitória final do Eixo e oferecer-lhe o que fosse possível no tocante
a reforços.

Os ditadores reuniram-se na Itália Setentrional, em Feltre, a 19 de


julho. Ambrosio e o Comando Supremo esperavam que Mussolini
resistisse aos argumentos de Hitler e pusesse fim à aliança - mas
ficaram desapontados. A conferência consistiu sobretudo de uma
arenga por parte de Hitler que durou várias horas e deixou todos,
Segunda Guerra Mundial 66

exceto ele próprio, exaustos. Seu argumento principal era que a


batalha decisiva deveria ser travada ali mesmo na Sicília, e não no
território metropolitano da Itália. Para esse fim, prometeu enviar mais
tropas, especificamente a 29a Divisão Panzergrenadier, autorizando a
sua transferência naquele dia.

Enquanto os dois chefes de governo se reuniam em Feltre,


receberam a agourenta notícia de que 500 bombardeiros pesados
aliados estavam atacando os pátios ferroviários de Roma. Esta era a
primeira vez que os Aliados bombardeavam a capital italiana e, ao
retornar àquela cidade a 20 de julho, Mussolini chamou Ambrosio e
disse-lhe que decidira escrever uma carta a Hitler terminando a
aliança.

Certo de que Mussolini não seria capaz de enfrentar o Führer,


Ambrosio perguntou com rispidez por que Mussolini não dissera isto
pessoalmente a Hitler, em Feltre; apresentou em seguida seu pedido de
demissão, mas o Duce recusou-se a aceitá-lo e despediu-se dele.

Ambrosio e o Comando Supremo realizaram a seguir uma série de


conferências e, a 21 de julho, decidiram que, como provavelmente
Mussolini não romperia a aliança com a Alemanha, eles não tinham
outra alternativa senão lutar até o fim na Sicília e, portanto, pediram
ao OKW mais duas divisões. Este respondeu que a 29 a Divisão
Panzergrenadier estava sendo despachada para Messina, devendo
chegar tão rapidamente quanto possível, e que outra divisão a seguiria
no futuro próximo.

À medida que contingentes da 29 a Divisão Panzergrenadier


chegavam à Sicilia, Hube as colocava na linha contígua à costa norte.
Como resultado, ele dispunha de tropas alemães dignas de confiança
ao longo de toda a frente, e como as unidades alemães passaram a ser
o ponto de apoio da defesa, pois as forças italianas haviam perdido em
grande parte a capacidade de combate, Hube comunicou a Guzzoni
que desejava estender seu controle tático a todas as forças de terra na
Sicília - italianas e alemães.

Guzzoni recusou. A passagem do controle aos alemães seria um


golpe violento no prestígio do exército italiano. Além do mais,
Guzzoni desconfiava de que Hube não tinha realmente a intenção de
montar um grande contra-ataque. Sem passar para a ofensiva, o Eixo,
Invasão da Sicília 67

independente do tempo que defendesse o ângulo nordeste da Sicília,


não poderia vencer a campanha.

Acreditando que os Aliados invadiriam a Itália continental, mas


somente depois que conquistassem a Sicília, Guzzoni considerava de
seu dever adiar ao máximo a conquista da ilha. Se recebesse reforços
suficientes, ele talvez pudesse retornar à ofensiva e infligir reveses aos
Aliados, se não derrotá-los. Isto adiaria,a invasão da Itália continental
por muito tempo. Se ele pudesse mesmo resistir na Sicília até o
término do outono, o inverno talvez impossibilitasse aos Aliados, até
pelo menos a primavera, o salto à Itália continental. Valia a pena lutar
por isso.

A idéia era atraente, mas seria apenas um sonho. Os aviões do


Eixo já não operavam dos aeródromos sicilianos - todos se haviam
retirado para o continente. Ao contrário disso, os caças-bombardeiros
e os bombardeiros leves aliados haviam-se apoderado de pelo menos
seis excelentes pistas de pouso na Sicília. Além disso, exceto nos
arredores de Messina, forças-tarefas das marinhas americana e
britânica encontravam-se ao largo das costas sicilianas e não podiam
ser desafiadas ou desalojadas.

Quando Guzzoni constatou que o Comando Supremo italiano,


apesar da declaração de intenções que fizera, não estava enviando
reforço algum à Sicilia, ele curvou-se à evidência dos fatos; em vista
da preponderância de efetivos alemães, concordou em permitir que
Hube conduzisse a batalha de terra, embora ele, Guzzoni, conservasse
o comando-geral.

Hube foi de certa maneira atencioso para com o general italiano,


discutindo com ele seus planos e decisões, diretamente ou através de
von Senger o oficial-de-ligação alemão junto ao QG de Guzzoni.
Embora Hube tentasse manter a impressão de que os alemães
pretendiam lutar até o fim na Sicília, não iludiu a Guzzoni. Impotente,
este nada disse.

A verdadeira missão confiada a Hube era não desfechar grandes


contra-ataques, procurar ganhar tempo, executar retiradas organizadas
e poupar o potencial humano alemão para as grandes batalhas que
esperavam ocorreriam na Itália continental.
Segunda Guerra Mundial 68

A questão ainda aberta era a escolha do momento. Enquanto


Mussolini se mantivesse ligado a Hitler, enquanto a Itália
permanecesse na aliança, enquanto a aparência de unidade
predominasse, Hitler nada faria que embaraçasse Mussolini ou fizesse
os italianos voltarem-se francamente contra os alemães. Mas, por
quanto tempo Mussolini conservaria o poder político era questão de
conjeturas e preocupações. Hitler acreditava que os italianos eram
capazes não só de "deserção" mas também de "traição", e se
concertassem qualquer acordo com os Aliados e se voltassem contra
os alemães, poderiam isolar e pôr em perigo as consideráveis forças
germânicas que se encontravam na Sicília e na Itália Meridional. Com
o potencial humano alemão muito escasso, depois de fortemente
solapado em Stalingrado e na Tunísia, Hitler não podia dar-se ao luxo
de permitir descuidos em sua "diplomacia" militar.

Mudanças aliadas

Os líderes aliados chegaram a surpreender-se com a facilidade com


que invadiram a Sicília, e isto os pegou despreparados para explorar
imediatamente a relativa fraqueza do Eixo.

No último dia de junho, dez dias antes dos desembarques, ao


resumir seu raciocínio estratégico perante os Chefes Combinados,
Eisenhower afirmou-lhes que as operações subseqüentes à conquista
da Sicília iriam depender da maneira como se desenvolvessem as
primeiras fases da campanha. A reação do inimigo seria uma das
determinantes principais de suas decisões. Se a invasão da Sicília não
levasse a Itália a render-se, ele via duas alternativas: atacar a "ponta"
do continente, ou invadir a Sardenha - e o que serviria de base para a
escolha da operação mais adequada seriam os efetivos e a localização
das forças alemães, e o moral do exército italiano. Se lhe parecesse
improvável resistência prolongada do Eixo, ele talvez se inclinasse
pela invasão do continente; caso contrário, a Sardenha seria escolhida.

A 9 de julho (dia anterior à invasão da Sicília), Eisenhower tinha


por companheira da angústia - que domina os comandantes às
vésperas de operações muito arriscadas - a dúvida se iriam ou não
encontrar suas forças oposição muito forte na ilha. Ele informou que
"nossos recursos" para operações pós-sicilianas são "realmente muito
escassos".
Invasão da Sicília 69

A realidade foi um grande alívio. As perdas em navios e barcaças


de desembarque - os principais fatores no planejamento estratégico
para o teatro do Mediterrâneo - foram insignificantes e as forças
italianas pareciam estar-se derretendo. Mesmo os alemães estavam
reforçando suas tropas na ilha muito menos do que os Aliados
esperavam.

Por conseguinte, Marshall sugeriu aos Chefes de Estado-Maior


Combinados, a 16 de julho, que eles deveriam pensar seriamente na
possibilidade de se invadir a Itália continental. Para evitar o terreno
montanhoso na "ponta da bota", ele achava que talvez fosse possível
desembarcar mais acima da "bota" - por exemplo, na área de Nápoles;
isto porque, se a campanha siciliana terminasse bem cedo, seria
possível fazerem-se desembarques próximo de Nápoles antes do
começo do inverno, pois este poria em risco as operações de descarga
nas praias.

Os Chefes Combinados, preocupados com a sugestão de Marshall,


perguntaram a Eisenhower se acreditava na viabilidade de
desembarques nas proximidades de Nápoles.

Eisenhower achava que os riscos eram grandes demais. Os navios


que se encontravam naquele teatro de operações ainda eram escassos
e, para os caças monomotores Aliados baseados nos aeródromos
sicilianos, Nápoles ficava no limite, ou além do limite, do seu raio de
ação operacional efetivo. Ele preferia desembarcar na "ponta da bota",
do outro lado do Estreito de Messina e, a 18 de julho, pediu a
aprovação dos Chefes Combinados para levar a guerra ao continente
daquela maneira. Dois dias depois, os Chefes Combinados aprovaram-
lhe o pedido, sugerindo-lhe, no entanto, que considerasse as vantagens
de a invasão ser feita mais ao norte.

Três dias depois, a 23 de julho, eles foram mais categóricos.


Embora, na realidade, não o instruíssem a ir em frente e executasse os
desembarques, pediram-lhe que preparasse um plano para um ataque
direto a Nápoles, pois ainda não haviam chegado a decisão que
pudesse ser considerada final sobre as possibilidades pós-Sicília. Eles
não eliminaram nem a Sardenha nem a "ponta da bota", mas queriam
que Eisenhower estivesse a postos, se houvesse a oportunidade, para ir
diretamente para Nápoles, evitando, assim, o terreno difícil da
Calábria na parte inferior da "bota" italiana. Um movimento direto
Segunda Guerra Mundial 70

contra Nápoles lhes daria imediatamente - além de um grande porto -


valiosos aeródromos nas proximidades.

A rapidez com que Patton venceu a parte ocidental da ilha


autorizava as autoridades aliadas a supor que a campanha na Sicília
terminaria logo. Isto levou a falar-se em Argel que a invasão da Itália
continental seria feita através do Estreito de Messina - antes mesmo
que a Sicília estivesse totalmente conquistada - mas, embora todo o
planejamento preliminar obedecesse a essas diretrizes, Montgomery
via a situação por um prisma bem diferente. Conservava-se pessimista
quanto a um término rápido da campanha; trouxera três divisões para
forçar uma passagem para a Catânia, mas a forte pressão exercida
pelas 5a, 50a e 51a Divisões não lhe permitiu, apesar disso, progredir
ao longo da estrada da costa leste contra as poderosas defesas da
Divisão Hermann Göring. À esquerda do 8° Exército, a 1a Divisão
Canadense estava avançando contra Leonforte, para tentar flanquear o
lado leste do Monte Etna, mas essa penetração se fazia lentamente,
por causa do terreno acidentado e da obstinada oposição que vinha
encontrando.

Montgomery estava ciente de que a topografia da ilha favorecia


aos alemães, que haviam organizado uma série de posições muito
fortes para bloquear o acesso a Messina. Nos vales profundos, nas
montanhas intransponíveis não havia como fazer valer a superioridade
que os Aliados tinham em tanques e artilharia, e a guerra, ali,
transformou-se numa série de combates entre pequenas unidades,
realizados sob um sol abrasador.

Não esperando qualquer penetração repentina das defesas


germânicas nem o rápido colapso das forças alemães, Montgomery
preocupava-se com os efetivos das forças adversárias dos Aliados. A
29a Divisão Panzergrenadier estava no norte, a 15a Panzergrenadier, no
centro; a Divisão Hermann Göring, no leste, e a 1 a Divisão de Pára-
quedistas dera unidades que sustentavam pontos importantes,
enquanto que os remanescentes de quatro divisões italianas - as
Divisões Aosta e Assietta se haviam juntado às Divisões Livorno e
Napoli no ângulo de Messina - estavam disponíveis para cobrir
brechas, conter penetrações de contra-ataque, fazer ação de
retardamento e dar apoio geral.

Reconhecendo que não podia desfechar duas penetrações ao redor


do Monte Etna que fossem suficientemente fortes para superar a
Invasão da Sicília 71

oposição, Montgomery solicitou que se trouxesse a 78a Divisão de


Sousse, na Tunísia, decidindo mudar seu esforço principal da direita
para a esquerda. Assim que a 78a Divisão chegasse à Sicília e
participasse da frente - ele esperava que isto ocorresse por volta de 1°
de agosto - Montgomery faria outro grande esforço para chegar a
Messina. Nesse meio tempo, suas unidades da direita deveriam passar
para uma posição agressivo-defensiva e os canadenses avançar na
direção de Adrano, que Montgomery concebia como a chave para a
"Linha do Etna" alemã.

Quando Montgomery admitiu sua incapacidade de tomar Messina


sem ajuda, Alexander incluiu Patton no esquema por meio de uma
diretiva emitida a 20 de julho. Assim que o 7° Exército chegasse à
costa norte da ilha, Patton deveria enviar fortes patrulhas de
reconhecimento para leste, pelas duas principais rodovias leste-oeste
da Sicília - a Rodovia 113, ao longo da costa, e a Rodovia 120, a cerca
de 32 km para o interior. Isto estenderia as defesas alemãse e, mais
importante, protegeria o flanco do 8° Exército.

Três dias depois, quando o 7° Exército chegara à costa norte e


tomara Palermo, Alexander mudou suas instruções, solicitando a
Patton que lançasse o máximo de efetivos contra as duas rodovias,
colocando assim o 7° Exército em pé de igualdade com o 8° Exército
no tocante à chegada a Messina.

Como a 2a Divisão Blindada não teria tanta utilidade no terreno


acidentado do ângulo nordeste da Sicília, e como a 82 a Divisão
Aeroterrestre e a 45a Divisão haviam sido designadas para as
operações subseqüentes à tomada da ilha, tendo que ser retiradas dali
para se prepararem, Patton pediu que o restante da 9a Divisão lhe fosse
mandado da África do Norte.

Entrementes, a 45a Divisão avançava rapidamente para leste,


partindo de Termini Imerese pela rodovia costeira, colocando-se lado
a lado com a 1a Divisão, que Bradley desviara para leste pela rodovia
interna.

Dois dias depois, a 25 de julho, os principais comandantes de terra


aliados, Alexander, Montgomery e Patton, reuniram-se em Cassibile
para estudar a melhor maneira de dobrar os alemães - os italianos já
não eram mais considerados eficientes - e expulsá-los da Sicília. O
plano que formularam punha em pé de igualdade os dois exércitos.
Segunda Guerra Mundial 72

Patton deveria prosseguir para leste, pelas duas rodovias a ele


atribuídas, num "avanço continuado e implacável até que o inimigo
fosse decisivamente derrotado". Bradley continuaria controlando as
operações de terra por essas rodovias e ele planejava substituir a 45 a
pela 3a Divisão por volta de fins de julho e a 1 a pela 9a Divisão, assim
que esta chegasse em número suficiente para assumir a tarefa -
provavelmente no começo de agosto. Apesar das mudanças
introduzidas no esquema, os americanos continuariam avançando
vigorosamente.

Montgomery faria seu grande esforço à esquerda, com a 78 a


Divisão, depois que esta chegasse à Sicília, avançando de Centuripe
para o norte, até Adrano, enquanto que a 1a Divisão Canadense
avançaria pela Rodovia 121, passando por Regalbuto. Entrementes, o
13o Corpo, à direita, deveria simular um ataque na direção de Catânia,
para levar os alemães a pensar que este era o principal ataque
britânico. Após a queda de Adrano para as tropas britânicas,
Montgomery esperava que os alemães saíssem de Catânia.

Ao mesmo tempo, forças navais britânicas, ao longo da costa leste,


estavam completando os preparativos para uma operação anfíbia em
torno de Catânia, a fim de levar rapidamente tropas para Messina.
Talvez os britânicos pudessem isolar e prender parte considerável das
forças inimigas em retirada. Isto seria uma presa de guerra de alto
significado.

Enquanto os comandantes aliados preparavam estes planos, no 16°


dia da invasão da Sicília, acontecimentos momentosos ocorriam em
Roma.

A queda de Mussolini

Por essa época, o prestígio de Mussolini estava tão debilitado, que


pelo menos três grupos na Itália tramavam derrubá-lo - os fascistas
dissidentes, insatisfeitos com o curso da guerra e inquietos quanto aos
fracassos e fragilidades do regime; os políticos antifascistas e os
militares desiludidos. Todos motivados pela necessidade da remoção
do Duce do poder, como primeira e essencial etapa da retirada da
Itália da guerra. O bombardeio de Roma foi o melhor aviso de que se
avizinhava a bancarrota do fascismo.
Invasão da Sicília 73

Quem sabe sentindo o enfraquecimento de sua influência no país,


Mussolini agiu no sentido de obter um voto de confiança no segundo
dia após o retorno da conferência que teve com Hitler. Convocou o
Grande Conselho Fascista, que havia mais de três anos não se reunia,
para uma reunião a 24 de julho; mas no dia seguinte à convocação, ele
visitou o Rei Vitório Emanuel para pô-lo a par do que estava
providenciando. O rei sugeriu-lhe, ainda que indiretamente, que se
demitisse do cargo e que a reunião do Grande Conselho seria a
ocasião adequada para tornar conhecida a sua demissão. Mussolini
fingiu não entender.

Imediatamente após a partida do Duce, Vitório Emanuel tomou a


decisão que há muito hesitava em tomar. Tendo consultado
previamente o Marechal Pietro Badoglio, herói de guerra e ex-chefe
do Comando Supremo, que lhe garantira que faria tudo o que o
monarca desejasse, este decidiu nomear Badoglio sucessor de
Mussolini. A tarefa de Badoglio seria romper a aliança com a
Alemanha e promover a paz com os Aliados.

Dois dias depois, a 24 de julho, o Grande Conselho, de 28


membros, reuniu-se em sessão formal às 17h00. Uma resolução foi
imediatamente apresentada, para que o rei substituísse Mussolini
como comandante supremo das forças armadas, e o debate que
suscitou parecia interminável: durou nove horas. Por volta das 03h00
de 25 de julho, Mussolini, finalmente, cedeu à exigência para que
fosse posta em votação - e 19 membros votaram favoravelmente à
resolução: contra ele.

Mais tarde, ainda naquele dia, Mussolini visitou o rei para


informá-lo do que acontecera. Discutiu com o soberano o resultado da
votação, procurando convencê-lo de que a votação não exigia a sua
demissão, mas Vitório Emanuel não concordava com essa
interpretação. Friamente, o rei informou a Mussolini que teria de
demitir-se para que Badoglio lhe ocupasse o lugar.

Quando Mussolini deixou o palácio, não encontrou seu carro.


Aceitando a solicitude de um oficial de carabineiros, foi escoltado
para uma ambulância que o levou para um esconderijo. Foi então que
descobriu que estava preso.

A notícia da demissão de Mussolini varreu toda a Roma,


provocando enorme alegria. Estranhos se abraçavam e dançavam nas
Segunda Guerra Mundial 74

ruas, cidadãos desfilaram espontaneamente diante do palácio do rei,


em sinal de apoio à decisão tomada. Multidões atacaram os escritórios
do partido fascista, rasgaram bandeiras do partido e derrubaram
símbolos.

Às 17h00, em meio aos festejos, o rei convocou Badoglio e


informou ao idoso feldmarechal que a ele caberia a função de chefe do
governo, em substituição a Mussolini. Vitório Emanuel entregou-lhe
uma relação de funcionários públicos sem vinculação ou apoio
partidário, que Badoglio deveria nomear para integrar o seu Gabinete.
Armado do mandato real, Badoglio anunciou as nomeações para seu
Gabinete, dissolveu o partido fascista e advertiu ao povo italiano para
que não fizesse manifestações em favor de mudança política e de paz
imediata.

"A guerra continua", proclamou ele, embora seu objetivo primeiro,


em obediência aos desejos do monarca, fosse encontrar um modo de
pôr fim à participação da Itália na guerra - medida que não tornou
pública, pois desejava evitar um conflito aberto com os alemães.

A notícia da derrubada de Mussolini enraiveceu Hitler. Sua reação


imediata, produto da ira que dele se apossou, foi fulminar contra os
traiçoeiros italianos, ameaçando que tomaria Roma e aprisionaria o
rei, o príncipe-herdeiro, Badoglio e os oficiais de alto escalão. Ele
então levaria uma poderosa força militar para a Itália Setentrional e a
trataria como território ocupado, encontraria e libertaria Mussolini e o
recolocaria no poder; em seguida, retiraria imediatamente todas as
tropas alemães da Sicília e da Itália Meridional, mesmo que tivessem
de largar ali seu equipamento pesado e suas armas.

Jodl ponderou que seria difícil evacuar a Sicília num gigantesco


movimento de massa, pois o serviço de barcas de Messina só podia
escoar 17.000 homens por dia.

"Bem", - retrucou Hitler - "eles terão de se amontoar. Você se


lembra como foi em Dunquerque?"

Assim, Jodl enviou uma mensagem a Kesselring ordenando-lhe


que retirasse da ilha as tropas alemães - mas, antes de ordenar a
medida, Kesselring procurou Badoglio a 26 de julho. E ouviu dele
protestos de que não estava em cogitação qualquer mudança na
política, e a reafirmação de que os italianos estavam decididos a
Invasão da Sicília 75

continuar lutando lado a lado com os alemães. Quando Kesselring


observou que era necessário superar a sensação de fadiga
predominante nas tropas italianas e eliminar certos empecilhos ao
prosseguimento do esforço militar criados pela administração civil,
Badoglio apressou-se em assegurar-lhe que faria todo o possível para
remover esses empecilhos e facilitar o desenvolvimento da guerra.

Kesselring avistou-se com Ambrosio, que repetiu as afirmações de


Badoglio, salientando que os italianos estavam dispostos a continuar
na guerra e a receber reforços adicionais.

Kesselring então enviou uma recomendação a Hitler, sugerindo


que os alemães explorassem a disposição em que se encontravam os
italianos de receber mais unidades germânicas. Quanto mais tropas
alemães na Itália, tanto mais fácil a sua defesa, caso Badoglio e os
italianos desertassem.

Hitler concordou com a sugestão de Kesselring e, raciocinando


mais calmamente, achou melhor não precipitar a ruptura da aliança
que, segundo manifestou, só vantagens daria aos Aliados. Melhor seria
fingir que tudo estava bem, aceitar as declarações dos italianos de que
a aliança seria mantida e afastar os bombardeiros aliados para o mais
longe possível da Alemanha.

Ele ordenou que duas divisões fossem transferidas do sul da


França para a fronteira italiana, onde se preparariam para entrar na
Itália Setentrional, se se verificasse o que ele chamava de "traição
italiana". Hitler também enviou vários oficiais a Roma, com a missão
secreta de localizar e resgatar Mussolini; mandou que Kesselring
fizesse cessar o envio de mais tropas para a Sicília e que se preparasse
para a eventual evacuação de todas as unidades alemães não só da
Sicília mas também da Sardenha e da Córsega.

Para que os italianos não tomassem conhecimento de tais medidas,


Kesselring reuniu a 27 de julho os comandantes alemães graduados,
informando-os de que, se os italianos fugissem à aliança, o 14 o Corpo
Panzer deveria imediatamente romper contato com o inimigo e partir
da Sicília, procurando, no entanto, através de ações de retardamento,
conservar ao máximo os recursos que dispusesse. Entrementes, eles
deveriam começar a preparar o detalhamento dos planos para
abandonar a ilha. O movimento de tropas seria coordenado pelo QG
do 14o Corpo Panzer, na Sicília, e pelo QG do 76 o Corpo Panzer,
Segunda Guerra Mundial 76

localizado na Itália Meridional. Naquela noite, Hube instruiu Baade


para que este estivesse pronto para a evacuação em massa, assim que
saísse a ordem de pô-la em ação.

A 2 de agosto, já de posse do plano detalhado de evacuação, Hube


o submeteu à aprovação de Kesselring. Segundo as estimativas, todas
as tropas e materiais alemães poderiam ser transferidos para a Itália
Continental em cinco noites sucessivas - de modo que, depois de
aprovar o plano, Kesselring disse a Hube que o poria a par do
momento em que deveria começar a executá-lo e informou ao OKW
que tudo estava pronto.

Já então, um punhado de autoridades políticas e militares italianas,


sob a orientação de Badoglio, procurava entrar em contato com os
Aliados para conseguir um armistício.

Também nessa época, a maioria dos italianos esperava que


Badoglio pusesse fim à guerra. A resistência italiana na Sicília
virtualmente ruíra. Em geral os soldados simplesmente fingiam
obedecer as ordens e procuravam deixar-se aprisionar. Segundo um
relatório do Serviço de Inteligência aliado, publicado a 27 de julho, "O
cansaço da guerra e a desesperança na vitória haviam tomado conta do
exército, destruindo-lhe o vigor e o ânimo

O mesmo não acontecia com os alemães, que procuravam infligir


às forças aliadas o maior dano possível no difícil terreno do norte da
Sicília, mesmo enquanto recuavam lentamente. Subsistiam, no
entanto, duas perguntas: Quando ordenaria Hitler o início do
movimento para o continente? Poderiam os alemães impedir que os
Aliados os expulsassem da ilha numa debandada geral?

A 26 de julho, no dia seguinte à demissão e prisão de Mussolini, os


Chefes de Estado-Maior Combinados reuniram-se em Washington,
enquanto os principais subordinados de Eisenhower se reuniam com
ele em Argel, para examinar a possibilidade de exploração dessa
repentina mudança de situação e qual a melhor maneira de fazê-lo. As
perspectivas nas duas cidades eram de otimismo. Uma invasão do
continente, nos arredores de Nápolis, parecia a todos bastante viável.
A medida, além do mais, fortaleceria o novo governo italiano e
constrangeria os alemães - mas, infelizmente, não se podia fazer
nenhum movimento imediato, porque a maioria das barcaças de
desembarque que haviam participado da invasão da Sicília estava
Invasão da Sicília 77

sendo reparada e reequipada. Foi principalmente por essa razão que os


líderes aliados decidiram adiar a escolha definitiva da área-alvo para
depois do término da campanha siciliana.

Mas todos concordavam em que um desembarque perto de


Nápoles, agora cristalizando-se numa invasão ao longo das praias de
Salerno, parecia bom, mas admitia-se também uma investida contra o
Estreito de Messina com o objetivo de secundar o esforço principal,
tornando-o mais fácil pela bipartição das preocupações dos
defensores. A 2 de agosto, depois de muito ponderar e discutir,
Eisenhower, por fim, decidiu: ele lançaria uma invasão dupla do
continente, mandando parte do 8° Exército cruzar o estreito quando
terminasse a campanha da Sicília, disparando concomitantemente a
operação em Salerno.

Os Chefes Combinados concordaram. Uma semana depois, a 10 de


agosto, Eisenhower suspendeu o plano de ataque através do Estreito
de Messina, elaborado meio de improviso, salientando que as
operações deveriam ser muito bem preparadas, não só aquela como a
dirigida contra Salerno. Ainda assim, não se propôs nenhuma decisão
final, que sairia depois da conquista de toda a Sicília.

Quanto à campanha na Sicília, a queda de Mussolini não resultara


em nenhum impacto importante sobre as tropas aliadas nem na
conduta das operações. O fim da guerra de repente pareceu bem mais
próximo, mas não houve mudança no método adotado para conquistar
a Sicília.

A Linha do Etna

Já a 22 de julho o Serviço de Inteligência aliado forneceu


informações precisas da "Linha do Etna", de Hube. Não lhe foi
possível apenas adivinhar que os alemães recuariam para outras
posições, mais bem organizadas, que estavam construindo atrás das
defesas do Etna. Os comandantes aliados acreditavam que essa outra
linha defensiva serviria de trampolim para um vigoroso contra-ataque
alemão, ou de proteção à retirada em ordem para o continente.

Na realidade, Hube não tinha nenhum conceito de linha defensiva


final. O canto noroeste da Sicília oferecia-lhe condições excelentes
para estabelecer o número de pontos fortificados que desejasse, onde
Segunda Guerra Mundial 78

pequenas guarnições poderiam ser altamente eficazes, defendendo


cidades no alto de colinas ou desfiladeiros, bloqueando assim os
avanços frontais aliados e obrigando os atacantes a tortuosos
movimentos de flanqueio através de terreno acidentado e quase
intransponível. Quando flanqueado ou ameaçado de cerco, o pequeno
grupo retardador poderia apenas recuar, normalmente durante a noite,
para outra posição de bloqueio já preparada.

Foi isto que o 2o Corpo, de Bradley, encontrou quando suas duas


divisões se deslocaram pelas duas rodovias da parte norte da ilha - a
Rodovia 113, ao longo da costa, e a Rodovia 120, que passava por
Nicósia, Troina, Cesaro e Randazzo. As duas estradas eram estreitas e
tortuosas, com aclives íngremes e curvas fechadas, pontes e túneis que
poderiam ser facilmente destruídos por cargas de demolição. Entre as
duas rodovias, e paralela a elas, corria a cadeia das Montanhas
Caronie com muito poucas estradas laterais a cortá-la. Os soldados
tinham a sensação de estar andando sobre uma tábua de lavar roupa,
enrugada por rios que, a intervalos freqüentes, corriam do alto das
montanhas para o mar.

Além disso, a 45a Divisão, percorrendo a estrada costeira, e a 1 a


Divisão, no caminho interno, estavam muito separadas, não podendo,
portanto, auxiliarem-se mutuamente, de modo que cada divisão tinha
de arranjar-se sozinha. Não demorou para que a guerra se
transformasse para ambas em breves marchas de flanco por sobre
colinas muito acidentadas, castigo terrivelmente pesado para os
soldados. Mas a alternativa era pior - como Allen disse: "Se saíssemos
para ataques frontais, todos teríamos o nariz sangrando em cada
colina".

A 45a Divisão, de Middleton, desviando-se para leste em Termini


Imerese, ficou lado a lado com a 1a Divisão a 24 de julho, apesar das
pontes destruídas e dos campos minados preparados como obstáculos
pelas tropas alemães. Como Hube estivesse erguendo suas defesas
naquele setor, a 45a Divisão progrediu de modo excelente, parando
repentinamente a 25 de julho, quando 14 belonaves não-identificadas
apareceram ao largo da costa norte. Temendo tratar-se de navios do
Eixo trazendo tropas para um desembarque anfíbio, Bradley deteve o
avanço de Middleton e fez a divisão voltar-se para o mar.

Hube viu também os navios e ficou temeroso de que estivessem


transportando forças anfíbias aliadas para um desembarque atrás da
Invasão da Sicília 79

sua linha. Ele alertou unidades do Eixo até a Calábria para que se
aprontassem a fim de repelir qualquer desembarque - mas os navios
eram apenas destróieres e caça-minas americanos, em missão
rotineira, que nada tinha que ver com a guerra terrestre.

A ameaça de desembarques anfíbios - nesse caso apenas


imaginária - fez que Hube acelerasse o trabalho de consolidação de
suas defesas. Quando seu chefe de Estado-Maior retornou à Sicília -
de volta da reunião que Kesselring convocara, próximo de Roma, a 27
de julho, para discutir a reação de Hitler à demissão de Mussolini e o
curso da ação alemã após a queda do Duce - Hube retirou suas forças
de Nicósia.

Guzzoni protestou, pois Nicósia era um ponto altamente


defensável. Quando Hube lhe explicou que a sua missão básica
consistia então em garantir as unidades germânicas na ilha e prepará-
las para uma possível evacuação, Guzzoni percebeu que o Eixo não
poderia mais defender a ilha com as tropas ora empenhadas em
combate. A reforçada Divisão Hermann Göring estava conseguindo
bloquear, na área de Catânia, o avanço dos britânicos para Messina,
mas as 15a e 29a Divisões Panzergrenadier, embora aumentadas pela 1a
Divisão de Pára-quedistas e pelo que restara das divisões italianas,
encontravam dificuldades em resistir à pressão dos americanos e
canadenses nos setores norte e central. Guzzoni compreendeu que se
impunha recuar para uma frente mais curta.

A retirada alemã, durante a noite de 27 de julho, deu Nicósia aos


americanos, que capturaram 700 soldados italianos ávidos por se
renderem, e Agira, aos canadenses.

Para os oficiais do Serviço de Inteligência americano que estavam


procurando a linha de defesa final alemã, a retirada de Nicósia parecia
indicar que os alemães se preparavam para uma resistência final. "A
bem sucedida defesa de Catânia e da Planície da Catânia elevaram
(sic) o moral e as esperanças das tropas alemães a ponto de se
mostrarem dispostas a arriscar mais duas ou três divisões para
defender uma cabeça-de-ponte", rezava um relatório datado de 28 de
julho. Outro, de dois dias mais tarde, dizia que "As indicações são de
que o inimigo está recuando para aquela área".

O raciocínio dominante era de que Hitler tentaria firmar-se com


uma cabeça-de-ponte permanente na Sicília - como a de Salônica,
Segunda Guerra Mundial 80

mantida pelas Potências Aliadas na Primeira Guerra Mundial, ou a da


Tunísia, que Hitler esperava manter. Portanto, na opinião dos oficiais
do Serviço de Inteligência americano, tudo o que estava à frente da
imaginária linha final de defesa teria de ser abandonado.

Este parecia ser o caso de Troina. O oficial do Serviço de


Inteligência da 1a Divisão informou, a 29 de julho, que "Os alemães
estão muito cansados, sofreram muitas baixas, têm pouca munição e
estão com o moral baixo". Dois dias depois: "Há indícios de que
Troina está levemente defendida".

Os pilotos de reconhecimento também não encontraram evidências


de fortes defesas em torno de Troina. Anotaram apenas a presença de
tráfego leve atravessando a cidade - que parecia possuir apenas uma
pequena guarnição para travar ação de retardamento antes de recuar.

Assim, no último dia de julho, um regimento de infantaria da 1 a


Divisão partiu, de madrugada, de Nicósia para Cerami, esperando,
dali, alcançar Troina, situada a 11 km de distância. Por volta das
09h00 o regimento alcançou Cerami quase que sem encontrar
dificuldade, e o otimismo aumentou ainda mais. Os civis disseram que
a guarnição de Troina contava poucos soldados, apenas uns poucos
canhões antitanques e uma única bateria antiaérea, e como todos
pensavam que Troina caísse facilmente, Allen, que deveria entregar
sua frente de divisão para a 9a Divisão, depois que capturasse Troina,
achou que deveria dar à divisão que chegava o que mais tarde chamou
de "um setor cerrado".

Além de Cerami, o contingente empenhado encontrou dificuldades


e Allen se viu obrigado a lançar em combate forças cada vez maiores.
"Acho que há um bocado de coisas ali perto do nosso objetivo", disse
um comandante de regimento a 1o de agosto. Outro fez referência a
"uma defesa muito forte" e perguntou se "temos efetivos suficientes
para a tarefa". Outro, ainda, telefonou ao QG de divisão dizendo que
seus homens estavam "caindo bem nas garras do inimigo".

Antes que Troina caísse, cinco regimentos americanos - os três da


1a Divisão e dois da 9 a seriam empenhados em combate contra os
defensores de Troina.

A questão é que Troina, cidade de 12.000 habitantes, construída


sobre um elevado penhasco, era por natureza facilmente defensável.
Invasão da Sicília 81

Além disso, Troina tinha grande importância para a integridade de


toda a "Linha do Etna", pois a perda da cidade ameaçaria os pontos-
chaves de Regalbuto, Adrano e Catânia.

Por essa razão, Hube estudou Troina cuidadosamente, dando


também muita atenção ao setor imediatamente ao sul, onde soldados
canadenses avançavam pela Rodovia 121. No dia 30 de julho, de
manhã cedo, os canadenses atacaram vigorosamente e tomaram
Catenanuova, e o Major-General Simons, comandante da 1 a Divisão
Canadense, então cedeu parte da sua cabeça-de-ponte para a recém-
chegada 78a Divisão, possibilitando, assim, um ataque na direção de
Regalbuto, à esquerda, e de Centuripe, à direita. Regalbuto caiu em
mãos canadenses na noite de 2 de agosto; Centuripe, construída no
topo de uma montanha alta, atingida por uma única estrada sinuosa,
foi invadida pela 78a Divisão na manhã de 3 de agosto.

Isto colocou dois importantes postos avançados de Adrano em


mãos britânicas e, Adrano, como Troina, era uma posição-chave na
"Linha do Etna". Se as divisões canadenses fossem mais longe, o
caminho de fuga do grosso da 15 a Divisão Panzergrenadier de Rodt,
que defendia Troina, talvez fosse cortado - e pelo final do dia 3 de
agosto a 15a sofrera pelo menos 1.600 baixas. Naquela noite, Hube
deu a Rodt o restante de suas reservas de corpo, para lhe permitir
manter aberta uma rota de fuga a leste da cidade. Mas, como
Kesselring ainda não ordenara formalmente o início da evacuação da
Sicília, Hube decidiu defender a "Linha do Etna" enquanto pudesse. E
disse a Rodt para resistir.

Na manhã de 4 de agosto, dois grandes ataques aéreos aliados


foram desfechados contra Troina. As reações das tropas terrestres
americanas que rumavam dificultosamente para lá foram muito
entusiásticas. "Bombardeio aéreo artístico, encantador", informou uma
unidade. "O inimigo está completamente desalentado", informou
outra. "Capturamos alguns alemães e eles estão assustados", disse uma
terceira.

Mas os ganhos em terra foram pequenos. Na verdade, a reação dos


canadenses ao ataque aéreo foi um furioso protesto, pois dois aviões
haviam lançado suas bombas sobre tropas suas em Regalbuto, por
engano, e Leese pediu a Bradley que mantivesse os aviões americanos
longe da frente britânica.
Segunda Guerra Mundial 82

Já então, a 9a Divisão, sob o comando do Major-General Manton


Eddy, estava entrando em Nicósia, atrás da 1a Divisão. Para deixar a 9a
passar e esmagar a linha defensiva alemã seguinte (que se esperava
estivesse na área de Cesaro), a 1a Divisão tinha, antes, de tomar
Troina, e ninguém estava mais otimista quanto a um triunfo rápido.

Entrementes, Montgomery mudara um pouco a direção dos seus


ataques. Como parecia acertada a decisão de fazer os britânicos
atravessar o Estreito de Messina e invadir a ponta da "bota" da Itália
no fim da campanha siciliana, Montgomery começou a dedicar
atenção à melhor maneira de reagrupar forças para facilitar a travessia.
Ele decidiu mandar o 13o Corpo, de Dempsey, para o outro lado do
Estreito, o que significava que o 30 o Corpo, de Leese, terminaria a luta
na Sicília, e assim que os dois ataques ao redor do Monte Etna se
encontrassem, ele planejava dar descanso à 1 a Divisão Canadense e à
5a Divisão do 13o Corpo e preparar-se para o assalto à Itália
continental. O 30o Corpo, com as 50a, 51a e 78a Divisões, completaria
a campanha siciliana.

Assim, ele mandou que Leese fizesse seu esforço principal na


direção de Adrano, enquanto Dempsey ficava de alerta, ao longo da
costa leste, pronto para tomar Catânia logo que se oferecesse a
oportunidade.

Esta surgiu a 3 de agosto, depois que Hube comunicou a Conrath


para que começasse a reduzir suas defesas na frente de Catânia, em
preparação para a retirada. Observando movimentos, Dempsey
mandou a 5a Divisão Britânica atacar naquela noite, mas a poderosa
retaguarda da Divisão Hermann Göring enfrentou o avanço britânico,
e somente na tarde de 4 de agosto é que a 5a Divisão conseguiu
avançar 6 km, até os arredores sul de Catânia. Depois de uma batalha
que se prolongou por toda a noite, e após a retirada da retaguarda de
Conrath, os britânicos se aproximaram da entrada da cidade.

O avanço para Adrano continuara, mas lentamente, devido ao


grande número de minas e de cargas de demolição deixado pelos
alemães para atrasar a progressão do ataque. Era difícil deslocar
unidades de tropas fora de estradas, já de si ruins, pois o terreno eram
amplos cinturões de lava, mas os britânicos e canadenses
prosseguiram, apesar de tudo, e Adrano, por fim, caiu. Com isto, a
"Linha do Etna" foi rompida. Embora Rodt ainda defendesse os
altiplanos vitais de Troina no fim do dia 5 de agosto, era evidente que
Invasão da Sicília 83

não o poderia fazer por muito tempo. Suas unidades estavam


esgotadas, à beira da exaustão, e Rodt pediu a Hube permissão para
recuar 5 km, para uma nova linha defensiva. A princípio este recusou;
mais tarde, entretanto, cedeu. A reduzida eficiência de combate da
divisão de Rodt, a falta de reservas alemães, o perigo de penetração
aliada no setor Troina-Cesaro e a possibilidade de desembarques
anfíbios na retaguarda levaram Hube a permitir que Rodt recuasse
para o que Guzzoni chamou de "Linha Tortorici" - uma série de
posições defensivas que iam de Cabo Orlando, na costa norte, a
Giarre, na costa leste, passando por Poggio del Moro, Randazzo e
Monte Etna.

Naquela noite de 5 de agosto, enquanto Rodt recuava suas forças


de Troina, Conrath, cumprindo as instruções de Hube, retirava sua
Divisão Hermann Göring de Catânia.

Assim, após quase um mês de esforços, as tropas britânicas


entraram em Catânia e as americanas entraram nas ruínas de Troina,
depois de seis dias de ataque. As duas cidades estavam arrasadas e por
toda parte o odor da morte. Em Troina, os americanos encontraram
150 civis e soldados, alemães e italianos, mortos nas ruas; escombros
bloqueavam as estradas, a rua principal desaparecera e uma bomba
aérea que falhara estava no centro da igreja.

Entrementes, a Divisão Hermann Göring ocupava novas posições


defensivas ao norte de Catânia e a 15a Divisão Panzer se entrincheirara
ao longo de uma nova linha fortificada, perto de Cesaro, embora
grande parte do equipamento pesado das duas divisões estivesse a
caminho de Messina, para atravessar para o outro lado do Estreito.

O mesmo tipo de acontecimentos, mas com variações, ocorrera na


estrada costeira dó norte, onde a 3 a Divisão de Truscott, tendo
substituído a 45a, podia fazer seu esforço principal ao longo da
rodovia ou através das encostas norte das Montanhas Caronie, para
flanquear os defensores alemães. Estes contavam, entretanto, com a
possibilidade de impedir a utilização da rodovia, por meio de
artilharia, cargas de demolição e minas, e poderiam ainda atrasar a
marcha do inimigo, no interior, com suas posições defensivas nas
linhas de cristas bem definidas, atrás de cursos de água profundos, nas
montanhas. Mas os americanos tinham um trunfo - o meio de fazer
corridas de barcos anfíbios flanqueando as defesas alemães.
Segunda Guerra Mundial 84

Por volta do começo de agosto, compreendendo claramente que as


difíceis montanhas do nordeste da Sicília não lhe permitiriam
reproduzir os vigorosos ataques blindados que desencadeara no oeste,
contra Palermo, Patton voltou-se para a técnica do desembarque
marítimo para levar suas tropas ao ataque. Messina, a culminação
estratégica, o clímax tático da campanha, estava à frente, e quanto
mais pensava em chegar a Messina, mais ele se excitava e se obcecava
com a idéia de alcançá-la na frente de Montgomery.

A 2 de agosto, Patton decidiu definitivamente que empregaria


desembarques anfíbios para apressar o golpe contra Messina. Havia
muitas praias boas para desembarque. A dificuldade é que as barcaças
de desembarque disponíveis podiam transportar apenas um batalhão
de infantaria reforçado, o que não era suficiente para tomar posição
atrás das forças alemães que, em retirada, não permitiriam que nada
lhe atrapalhasse a fuga.

Patton teria, entretanto, que se arranjar com as barcaças que


possuía. Seu Estado-Maior levantou quatro locais com possibilidade
de ser utilizados, todos atrás de linhas defensivas previsíveis, onde um
batalhão poderia desembarcar para soltar a "âncora costeira" das
posições defensivas, próximas de Sant'Agata, Brolo, Patti e Barcelona;
mas Bradley, temendo que Patton, na ânsia de o mais rapidamente
possível alcançar Messina, se precipitasse e tentasse fazê-lo com um
desembarque marítimo, levou-o a concordar em que as operações
anfíbias seriam estreitamente coordenadas com os avanços por terra
da maior parte da divisão, para garantir o contato rápido das duas
forças. Do contrário, a força anfíbia poderia ser isolada e destruída.

A 3a Divisão partiu para o ataque na manhã de 4 de agosto, mas foi


detida. Houve 103 baixas sem que terreno algum fosse tomado, pois a
divisão atingira a "Linha San Fratello", defendida pela 29 a Divisão
Panzergrenadier, comandada pelo Majo-rGeneral Walter Fries.
Assediado pela artilharia do exército, pelo fogo naval americano e por
ataques aéreos, Fries construíra uma poderosa linha de defesa, repleta
de casamatas, trincheiras e embasamentos de canhões, difíceis de
erradicar porque o terreno se prestava à defesa. As tropas de Truscott
tornaram a atacar, na manhã de 5 de agosto, e novamente os alemães
se recusaram a ser desalojados.

Fries defendia-se com tenacidade e eficiência, explorando bem a


favorabilidade do terreno, para garantir uma retirada ordenada da
Invasão da Sicília 85

crista de San Fratello quando recebesse a ordem para abandoná-la.


Assim que se inteirou de que Rodt estava prestes a ceder Troina, o que
desprotegeria seu flanco esquerdo, que a 78a Divisão se aproximava de
Adrano e que a Divisão Hermann Göring estava cedendo Catânia, ele
começou a enviar destacamentos para a retaguarda, enquanto resistia
firmemente na crista de San Fratello.

A 6 de agosto, não vendo resultados no incessante martelar da sua


artilharia, sustentada por fogo de artilharia naval, Truscott decidiu que
o flanqueamento da "Linha San Fratello" pelo mar era a maneira
menos dispendiosa de eliminar as posições defensivas. Assim,
ordenou que a operação se realizasse naquela noite.

Ao cair da tarde, quando o batalhão designado para o desembarque


anfíbio rumava para o ponto de embarque, perto de Santo Stefano,
quatro aviões alemães bombardearam e metralharam a área. Dois
deles foram derrubados por fogo antiaéreo, mas uma barcaça
importante no projetado ataque anfíbio, uma LST, foi destruída, de
modo que Truscott adiou a operação por 24 horas, e as autoridades
navais mandaram-lhe outra LST, às pressas, de Palermo.

Durante o dia 7 de agosto, a pressão exercida pela 3 a Divisão


balançou as posições em San Fratello, e Fries ficou pronto para recuar
durante a noite. Naquela tarde, quando o batalhão escalado para o
ataque anfíbio rumava novamente para as praias de Santo Stefano,
houve outro ataque aéreo alemão, de que resultou danos na recém-
chegada LST e num navio de escolta, mas a LST foi rapidamente
colocada de novo em condições de navegar. Ao anoitecer, protegidas
por dois cruzadores e seis destróieres, as 10 barcaças de desembarque
deixaram as praias de Santo Stefano em direção aos pontos de ataque.
Ao mesmo tempo, embora as belonaves americanas estivessem
bombardeando a crista de San Fratello quase que sem interrupção,
Fries retirou o restante da divisão que comandava, deixando a Divisão
Assietta na crista para cobrir sua retirada.

Assim, quando o batalhão de infantaria americano desceu em terra,


logo a leste de Sant'Agata, às 03h15 de 8 de agosto, os alemães já
tinham ido embora. O ataque da 3a Divisão à crista San Fratello, ao
amanhecer, não esbarrou em resistência muito forte por parte da
Divisão Assietta. Sentindo-se abandonados pelos alemães, esgotados
pelo cansaço da luta, os soldados italianos renderam-se aos bandos.
Segunda Guerra Mundial 86

Entrementes, a divisão de Fries rumava para outro conjunto de


posições fortificadas.

A evacuação

Pelo começo de agosto, a aliança ítalo-germânica não passava de


mero fingimento. Enquanto o Comando Supremo se mantinha em
cooperação cautelosa com os alemães, emissários do governo de
Badoglio se reuniam secretamente com representantes dos Aliados,
em Lisboa e Tânger, para arranjar a rendição. Os alemães afetavam,
no seu relacionamento com os italianos, uma cordialidade forçada,
nitidamente falsa, ao mesmo tempo que observavam tudo, à procura
de qualquer indício de traição ou capitulação. Tendo feito estacionar
ao redor de Roma forças suficientes para garantir a sua captura, se se
tornasse necessária a medida, o OKW, a 5 de agosto, dava-se por
satisfeito em apenas manter-se alerta. O QG, sobretudo porque os
alemães ainda não haviam conseguido descobrir o paradeiro de
Mussolini, pois o sempre útil serviço de contra-espionagem italiano
estava fornecendo uma variedade de pistas falsas, cancelou os planos
que havia preparado para a tomada de Roma e a prisão dos membros
do governo italiano.

Kesselring ajudara a convencer o OKW a adiar a ocupação efetiva


de Roma, por achar que os italianos se voltariam todos contra os
alemães, que se veriam então obrigados a retirar todas as suas
unidades da Sicília e da Itália Meridional. Acreditando que os italianos
estivessem verdadeiramente dispostos a cooperar, ele esperava
manter-se na Sicília enquanto pudesse, a fim de reter as doze ou mais
divisões aliadas ali empenhadas em combate.

Jodl, ao contrário, achava que os Aliados é que retinham divisões


alemãs na Sicília. Se os Aliados desembarcassem na Itália Meridional
antes que os alemães saíssem da Sicília, prenderiam todo o 14 o Corpo
Panzer na ilha, e poderiam avançar sem muita oposição para os
Apeninos Setentrionais, pois as poucas unidades germânicas que se
encontravam na Itália Meridional eram fracas demais para impedir
uma ofensiva em grande escala. Por isso, defendia a retirada imediata
da Sicília e da Itália Meridional.

Hitler não se decidia. Estava na disposição de não enviar mais


reforços para a Sicília ou para a Itália Meridional, mas não conseguia
Invasão da Sicília 87

aceitar a retirada. Primeiro ele queria encontrar Mussolini. Enquanto


os agentes especiais enviados a Roma procuravam libertar Mussolini,
Hitler instruiu Kesselring para que observasse as atitudes do governo
de Badoglio.

Um dos primeiros atos do novo governo da Itália foi o pedido de


um encontro pessoal com Hitler. Como Badoglio proclamara que os
italianos continuariam na guerra ao lado dos alemães, Hitler não via
razão para uma conferência, embora concordasse numa reunião dos
ministros de Relações Exteriores e dos chefes de Estado-Maior
alemães e italianos.

Essa reunião realizou-se em Treviso, junto da fronteira italiana, a 6


de agosto. Os participantes, de ambos os lados, fizeram declarações
solenes e inexpressivas, focalizando mais a melhor maneira de dar
continuidade à guerra do que a melhor maneira de fazer a paz. Ambos
estavam ganhando tempo - os italianos, aguardando resposta dos
Aliados às suas propostas de capitulação; os alemães, esperando o
salvamento de Mussolini. O resultado da reunião foi apenas o
aumento da desconfiança mútua.

Hitler convenceu-se de que os italianos não demorariam a desertar;


segundo suas próprias palavras, "eles estavam planejando a traição", e
ordenou a preparação de uma variedade de planos e ações para
enfrentar uma variedade de alternativas. Quando os italianos
capitulariam? Os Aliados invadiriam a Itália Meridional? Será que
eles o fariam após a promessa de ajuda italiana?

Embora Kesselring fizesse grandes esforços por impedir que uma


atitude rude e suspeita por parte dos alemães alienasse por completo
os italianos, o OKW foi em frente com os planos para tomar a
esquadra italiana, tomar Roma e converter a península itálica num
campo de batalha para a defesa da Alemanha. Já então, tantas tropas
alemães haviam entrado na Itália Setentrional que a região parecia
ocupada.

De sua parte, os italianos enviaram, a 10 de agosto, uma ordem


secreta a todas as suas principais forças e instalações militares; os
comandantes foram advertidos de que deveriam resistir a qualquer ato
de violência dos alemães.
Segunda Guerra Mundial 88

Entrementes, a 5 de agosto, Hube insistira para que Guzzoni


transferisse o QG do seu 6° Exército para o continente, pois queria
estar completamente livre para arranjar a defesa final e a evacuação
definitiva das tropas da ilha. Contudo, embora os italianos já tivessem
começado uma retirada limitada da Sicília dois dias antes, Guzzoni
recusou-se a sair por completo; ele permaneceu para salvaguardar os
interesses italianos.

Ainda estava por ser fixado o momento exato em que os alemães


cederiam a Sicília, e a questão do momento preocupava Kesselring.
Como Hitler habitualmente relutava em ceder terreno, Kesselring
temia que o Führer só tarde demais viesse a ordenar a evacuação da
Sicília, tal como sucedeu na Tunísia. Lembrando-se das conseqüências
que disso resultaram, Kesselring decidiu dar ele próprio a ordem de
evacuação.

A 8 de agosto parecia haver chegado o momento dessa decisão.


Fries retirara-se de San Fratello, para evitar ser isolado pelo
desembarque anfíbio; Rodt retirara-se de Cesaro; a cidade de Bronte
caíra na manhã daquele dia em poder da 78 a Divisão e o 13o Corpo
britânico estava a 13 km além de Catânia, pressionando fortemente a
divisão de Conrath. Naquele dia, von Senger foi ao QG de Kesselring,
informando-o de que a situação na Sicília era séria, se não muito
crítica. Todas as forças ainda resistiam, mas não poderiam fazê-lo por
muito tempo.

Sem informar Hitler ou pedir permissão do OKW, Kesselring


mandou que Hube fosse em frente com a evacuação da ilha.

O OKW soube da ordem de Kesselring no dia seguinte, e Jodl, "à


sua maneira calma", como lembrou o substituto de Jodl, depois da
guerra, "conseguiu aquietar Hitler diante de decisões desagradáveis
mas necessárias" - quer dizer, levá-lo a aprovar a medida.

Quando Guzzoni soube, a 9 de agosto, da ordem de Kesselring,


examinou a possibilidade de prosseguir na defesa da ilha apenas com
forças italianas, mas logo concluiu que isto não seria possível. Suas
tropas talvez conseguissem adiar por alguns dias a ocupação da ilha
pelas forças aliadas, mas por preço, em termos de sacrifício humano,
desproporcional às vantagens que disso pudessem resultar.
Invasão da Sicília 89

Ele simplesmente informou o Comando Supremo da decisão,


tendo o órgão dado instruções a Guzzoni para que deixasse a ilha e
assumisse a defesa da Calábria. Ele deveria acelerar a evacuação das
forças italianas e iniciar sem demora o movimento de retaguarda.

No fim da tarde de 10 de agosto, quando Guzzoni e seu QG do 6°


Exército estavam atravessando o Estreito de Messina, Hube deu a
ordem formal de evacuação. A retirada da Sicília começaria durante a
noite de 11 de agosto e prosseguiria por mais quatro noites.

Se os alemães conseguiriam deixar a Sicília, dependeria da


disciplina dos comandantes em todos os escalões, da sua capacidade
de obedecer horários rígidos em ordem, sem pânico, e, por último, da
certeza de que todos estariam sincronizando suas atividades, no
sentido de seguir os arranjos preparados para a retirada.

Mas, em última análise, a responsabilidade do sucesso ou do


fracasso caberia em grande parte a um só homem, Baade, que exercia
controle sobre ambos os lados do Estreito de Messina. Sob seu
comando estavam todas as unidades alemães de engenharia, artilharia,
antiaéreas e navais da área - em suma, todas as unidades de transporte
e segurança para um movimento em massa envolvendo milhares de
soldados e seu equipamento.

Para defender o Estreito contra investidas aéreas e navais, Baade


dispunha de cerca de 500 canhões, a maioria dos quais preparados
também para disparar contra alvos terrestres. O que os oficiais aliados
haviam caracterizado, em 1942 e começos de 1943, como uma das
áreas mais fortemente defendidas da Europa, provavelmente se
tornara, em agosto, a mais bem protegida. Segundo um experimentado
oficial de Estado-Maior da força aérea aliada, o fogo antiaéreo foi "o
mais intenso já encontrado no Mediterrâneo" - mais forte do que o
enfrentado no "Beco Antiaéreo", entre Bizerta e Túnis, e maior do que
a artilharia interna de Londres.

Sob essa formidável barreira de fogo, Baade tinha três flotilhas


navais, um batalhão de sapadores de desembarque, dois ou três
batalhões de engenheiros de fortificações e duas companhias de
manutenção de portos. Todos eles trabalhavam para operar 32
barcaças navais semelhantes às barcaças de desembarque de tanques
dos Aliados, 12 barcas Siebel - transportadoras de tropas e
suprimentos de 10 toneladas, fundo chato - dois batelões de artilharia
Segunda Guerra Mundial 90

naval, 11 barcaças, usadas para desembarque de engenheiros, e 76


lanchas a motor.

Baade preparou seis rotas para as barcas, tendo cada uma vários
locais de desembarque, nas duas costas. Hube escolheu quatro rotas
como as mais práticas - todas ficavam ao norte de Messina - e uma
quinta rota, ao sul de Messina, que só seria usada em caso de
emergência.

Hube reservou as duas rotas mais setentrionais; na ponta da Sicília,


para uso exclusivo das 15a e 29a Divisões Panzergrenadier, nessa
ordem, uma terceira rota, 3 km ao norte de Messina, para ser usada
pelo QG do 14o Corpo Panzer, excedentes de formações e outras. A
quarta, a 1.600 m ao norte de Messina, seria para a Divisão Hermann
Göring e os elementos ligados à 1 a Divisão de Pára-quedistas. Outras
unidades alemães cruzariam em qualquer rota, de acordo com as
disponibilidades de vagas nas barcaças.

Baade estabeleceu que os soldados só atravessariam durante a


noite. Armas e equipamento seriam transportados para o outro lado dia
e noite, segundo prioridade rígida - armas antitanques, peças de
artilharia, armas autopropulsadas, caminhões e veículos motorizados,
nessa ordem, e todo o material que não pudesse ser retirado da ilha
seria destruído. O Tenente-General Richard Heidrich, comandante da
1a Divisão de Pára-quedistas, deveria organizar instalações de
recepção na Calábria. Os barcos disponíveis podiam transportar cerca
de 8.000 homens cada noite e, para evitar congestionamentos, o
número certo de homens deveria estar nos pontos de embarque
adequados no momento certo.

Hube planejava defender a linha Tortorici até 12 de agosto, depois


do que ele recuaria suas forças em três etapas, barrando o avanço dos
Aliados através de sucessivas linhas de defesa, dispostas na
extremidade nordeste da ilha, até que todos tivessem saído. A 15 a
Divisão Panzer começaria a passar por Randazzo a 10 de agosto, em
direção a duas rotas de barcas situadas na. extremidade da ilha,
completando a partida até 15 de agosto. A 29a Divisão Panzergrenadier
iria em seguida, e, ao mesmo tempo, a Divisão Hermann Göring
recuaria pelos dois lados do Monte Etna. Todo o movimento
obedeceria a horário rigidamente fixado para o fluxo de homens e
material através do Estreito, para que não sofresse o movimento
interrupções e atrasos.
Invasão da Sicília 91

De igual modo, os italianos organizaram quatro rotas de barcas -


duas do porto de Messina e duas de pontos situados ao norte da
cidade. Eles tinham um comboio de barcas capaz de transportar 3.000
homens por viagem, dois pequenos barcos a vapor e quatro lanchas a
motor. Não podiam transportar equipamento pesado, mas Hube,
generosamente, ofereceu-se para levar o que pudesse, de acordo com o
espaço disponível nos barcos alemães.

Os Aliados estavam cientes das intenções do Eixo de evacuar a


Sicília. Já a 3 de agosto, Alexander acreditava que os alemães
começariam a voltar a qualquer momento, e pediu a Cunningham e
Tedder que coordenassem esforços navais e aéreos para atacar as
embarcações do inimigo. Dois dias depois, o G-2 do 7° Exército,
notando limitados movimentos italianos, anunciou que, "com toda
probabilidade, a evacuação está ocorrendo". A 9 de agosto, o Serviço
de Inteligência britânico informou, um tanto prematuramente: "Daqui
por diante, a questão, ao que parece, se resumirá em saber quem
voltará mais depressa. Os alemães estão claramente retirando tudo o
que podem".

Apesar de estarem no conhecimento de que as tropas do Eixo se


retiravam, os líderes aliados não apresentaram nenhum plano
realmente capaz de frustrá-las. Em resposta ao pedido de Alexander
para que coordenassem a ação aérea e naval, Cunningham disse que
tinha pequenos barcos operando à noite no Estreito para atacar o
movimento de tropas e material do Eixo, mas não podia, acrescentou,
empregar belonaves maiores até que as forças aéreas destruíssem as
poderosas baterias costeiras da área. Entretanto, prometia que as
atividades dos pequenos barcos seriam "intensificadas" e que, tão logo
as baterias fossem eliminadas por bombardeios aéreos, mandaria
consideráveis "forças de superfície para operarem no Estreito".

Tedder pôs as forças aéreas imediatamente a trabalhar, mas o


esforço não foi maciço. As tripulações estavam cansadas, as defesas
antiaéreas eram terríveis e as unidades aéreas já estavam atacando
aeródromos, ferrovias e pontes na Itália continental, como medida
preliminar da invasão da Itália Meridional. Entre 5 e 9 de agosto,
bombardeiros médios Wellington, britânicos, atacaram as praias ao
norte de Messina todas as noites, e várias B-17, americanas, fizeram
três missões diurnas diretamente contra a cidade de Messina, mas os
resultados dessas operações convenceram os comandantes da força
Segunda Guerra Mundial 92

aérea de que, a menos que as belonaves pudessem proporcionar uma


"barreira física positiva", à noite, através do Estreito, o ataque aéreo
não poderia impedir a evacuação.

Cunningham tornou a "pensar cuidadosamente no caso". E, no fim,


achou que não havia "método eficaz" para deter a evacuação por "mar
ou ar". Sua surpreendente conclusão foi de que a única maneira
positiva de interferir, atrapalhar ou impedir o movimento das forças do
Eixo pelo Estreito seria através de ação terrestre - as forças de terra
tinham de chegar às praias por onde escapavam as forças do Eixo
antes de terem elas partido.

A 8 de agosto, quando Kesselring deu o sinal verde para que Hube


evacuasse a Sicília, o 8° Exército de Montgomery estava a 83 km de
Messina e o 7o Exército, de Patton, a 120 km. Opondo-se a eles
encontravam-se as forças que lutavam obstinadamente por preservar
suas rotas de fuga no terreno acidentado que oferecia poucos canais
naturais de avanço até Messina, e o estreitamento cada vez maior da
frente, à medida que os alemães recuavam para o canto da Sicília,
permitia que as tropas inimigas fossem retiradas sem enfraquecer as
linhas defensivas. Para interromper a retirada em massa, as forças de
terra aliadas tinham de chegar a Messina antes que os soldados do
Eixo estivessem prontos para partir, e como um ataque frontal contra
os tenazes defensores era custoso e não prometia nenhum progresso
rápido, os comandantes aliados se voltaram para dois outros métodos
de avanço - desembarques anfíbios ou saltos de pára-quedistas atrás da
frente inimiga, para fechar as poucas rotas de retirada que ainda
restavam.

Aliás, Montgomery havia realmente embarcado uma grande força


de Comandos, por duas vezes, em barcaças de desembarque, para
subir rapidamente a costa leste e enredar os alemães, mas cancelara as
duas operações por considerá-las demasiado arriscadas. Ele também
executara quatro pequenas operações aeroterrestres destinadas a
hostilizar a retirada inimiga, mas foram pequenas demais para
interferir de modo considerável no movimento dos alemães e italianos.

Talvez já preocupado com a próxima invasão da Calábria, que teria


lugar tão logo terminasse a campanha siciliana, Montgomery preferia
avançar lenta e meticulosamente, flanqueando o Monte Etna, seguindo
mais ou menos o mesmo plano que desenvolvera quatro dias após a
invasão.
Invasão da Sicília 93

Patton mantivera intacta a força-tarefa, de batalhão, que fizera o


ataque anfíbio a Sant'Agata e planejava usá-la sempre que houvesse
oportunidade favorável. Além disso, preparou um batalhão de pára-
quedistas para saltar nas rotas de retirada alemães - mas já então o
desejo de vencer Montgomery na corrida contra Messina havia
tomado conta não só de Patton mas também da maioria dos
americanos. A BBC de Londres, a principal estação de rádio ouvida
pelos soldados americanos na Sicília, fizera uma comparação infeliz
entre as operações dos dois exércitos aliados, afirmando que o 8 o
Exército britânico estava lutando arduamente, ao passo que o 7°
Exército americano vivia tão folgado que seus integrantes comiam
uvas e nadavam num mar de águas tépidas. Enfurecidos com isso, os
americanos, que ainda se ressentiam por terem sido, anteriormente,
colocados por Alexander em situação de força subordinada, ansiavam
por chegar a Messina em primeiro lugar.

A 9 de agosto, Patton mandou que se fizesse outra investida


anfíbia; esta seria realizada à noite, mas, infelizmente, uma incursão
da Luftwaffe afundou uma das barcaças destacadas para o transporte
da força-tarefa do batalhão. No dia seguinte, depois que outra barcaça
LST veio de Palermo, Patton ordenou a Bradley que se incumbisse da
execução do ataque anfíbio a ser feito naquela noite.

As tropas anfíbias deveriam desembarcar em Brolo, 16 km à frente


das forças de Vanguarda da 3a Divisão e, quando Bradley informou a
Truscott do desejo de Patton, Truscott concordou. Porém mais tarde,
quando soube que sua divisão não avançara o que se esperava naquele
dia, ele quis adiar a operação por mais 24 horas, que permitiria que
seus soldados se aproximassem mais do local de desembarque e
tornaria viável uma ligação rápida. Como a rota costeira era
obviamente a principal rota de fuga da 29a Divisão Panzergrenadier, os
alemães talvez fizessem recuar e aniquilassem a pequena força-tarefa,
composta de pouco mais de 1.000 homens.

Enquanto Truscott discutia a questão com seu Estado-Maior, o


representante de Patton, o Capitão-de-Fragata Keyes, chegou ao posto
de comando para ver como ia o planejamento da operação anfibia.
Truscott disse-lhe que desejava adiar o desembarque, mas Keyes não
acreditava que Patton concordasse com o adiamento, pois
providenciara para que os correspondentes de guerra de diversos
órgãos de comunicação acompanhassem a força de desembarque, e
Segunda Guerra Mundial 94

detestaria ter de dizer-lhes que o ataque anfíbio, já adiado uma vez,


porque uma LST fora afundada, sofreria novo adiamento.

Truscott então telefonou ao 2 o Corpo e explicou a situação a


Bradley que, concordando em que a cautela de Truscott era justificada,
disse-lhes que telefonaria a Patton para tentar levá-lo a consentir em
novo adiamento. Quando telefonou para Truscott, Bradley disse que
Patton insistia na realização da operação, quando então Keyes ligou
para Patton, do QG de Truscott, apoiando o adiamento.

Patton solicitou a Keyes que passasse o telefone a Truscott.


Quando este pegou o fone, Patton disse asperamente: "Que diabos, a
operação será realizada".

Não havia outra alternativa senão transmitir a ordem à força-tarefa


e, ao fazê-lo, Truscott instruiu cada unidade de combate da divisão
que seria empenhada no ataque na manhã seguinte para que penetrasse
as defesas alemães e se juntasse rapidamente à força-tarefa anfíbia.

A divisão tinha pela frente a crista Naso, onde Fries colocara a sua
29a Divisão Panzergrenadier muito bem entrincheirada. A 16 km para
a retaguarda, próximo de Brolo, onde o batalhão americano
desembarcaria, Fries estacionara uma força relativamente poderosa,
próximo de um regimento com todos os seus efetivos, para se proteger
exatamente contra o tipo de desembarque realizado em Sant'Agata. O
QG alemão foi postado no Monte Cipolla, próximo a Brolo. O Monte
Cipolla era uma saliência das Montanhas Caronie, situada a várias
centenas de metros para o interior e subia abruptamente logo a seguir
a uma pequena planície costeira. Essa elevação dominava a planície, a
rodovia costeira e a praia e, na verdade, era o objetivo da força-tarefa
anfíbia.

A força-tarefa americana foi embarcada numa LST, em duas


barcaças de desembarque para infantaria (LCI) e seis para tanques, por
volta das 18h00 de 10 de agosto e a flotilha fez-se ao mar sob a
proteção do couraçado Philadelphia e seis destróieres. Chegando a
3.000 m ao largo da costa, próximo de Brolo, à 01h00 de 11 de agosto,
os homens embarcaram nos LCVP e DUKW para a corrida até a praia,
onde desembarcaram por volta das 02h30. Não houve oposição.

Os primeiros soldados abriram passagem pela rede de arame


farpado, cruzaram a rodovia e a ferrovia, capturaram 10 alemães sem
Invasão da Sicília 95

disparar um só tiro, e colocaram obstáculos nas pontes rodoviária e


ferroviária que cruzavam o Rio Brolo. Por volta das 04h00, as outras
levas, incluindo vários tanques e quatro peças de artilharia, já tinham
desembarcado, embora os tanques e canhões tivessem alguma
dificuldade em manobrar para atravessar o leito da ferrovia. Então, o
grosso da força começou a subir a encosta do Monte Cipolla.

Os americanos ainda não haviam sido descobertos quando um


estafeta alemão, em motocicleta, desceu barulhentamente a rodovia.
Os homens ficaram imóveis e deixaram-no passar. Mas, pouco depois,
um meia-lagarta alemão aproximou-se, o motorista notou a presença
de soldados ao longo da estrada e parou seu veículo. Ao se levantar do
banco para ver quem eram, cerca de 20 americanos abriram fogo e o
mataram; segundos depois, um sedan militar alemão aproximou-se e
parou. Um oficial saltou para investigar a origem dos disparos, e um
americano disparou com precisão a sua bazuca, destruindo o carro,
matando o oficial e ferindo o motorista.

O barulho chamou a atenção dos alemães que se encontravam nas


vizinhanças e não demorou para que houvesse disparos de todas as
direções contra os americanos, mas estes continuaram subindo o
Monte Cipolla, onde o QG alemão consistia de 15 homens, número
evidentemente pequeno demais para disputar a colina. Eles desceram
correndo uma vertente que havia na retaguarda e o comandante
chegou a pequena distância de Brolo, de onde se comunicou, por
telefone, com Fries. Com sua principal rota de fuga ameaçada, Fries
agiu para eliminar a pequena força americana.

Excetuando os tanques e as peças de artilharia, que não


conseguiram subir a encosta, a maioria dos americanos estava no alto
do Monte Cipolla e entrincheirados por volta das 05h30. E foi bem a
tempo, pois os canhões alemães começaram a martelá-los e, embora o
couraçado Philadelphia atirasse contra alvos previamente marcados e
isto ajudasse, às 10h30, tendo completado as missões de fogo
planejadas e tendo perdido contato pelo rádio com o batalhão
desembarcado, a belonave zarpou para Palermo, a fim de não ser alvo
tentador para a Luftwaffe.

Truscott, cujo ataque principal com todas as unidades empenhadas


contra a crista Naso estava sendo muito lento, recebeu notícias do
batalhão no Monte Cipolla aí pelo meio da manhã. Um aparelho de
rádio de alta potência o informou que Fries organizara um ataque
Segunda Guerra Mundial 96

destinado a fazer recuar os defensores da colina, mas as mensagens


urgentes de Truscott às autoridades navais pedindo que as belonaves
retornassem a Brolo foram recebidas e, às 14h00, um cruzador e dois
destróieres estavam de volta a Brolo, disparando contra as posições
alemães. Truscott também chamara Bradley, pedindo ataques aéreos
para ajudar o batalhão sitiado; assim, pelo meio da tarde, 12 aviões
apareceram e lançaram bombas sobre Brólo. Pouco depois,
apareceram outros 12 aparelhos. Já então, Truscott também levara
suas peças de artilharia médias para um ponto de onde as granadas,
disparadas no alcance máximo, podiam atingir Brolo.

Com o auxílio que lhe prestaram, o batalhão resistiu, embora sua


situação piorasse à medida que número cada vez maior de soldados
alemães chegava à área, pelo menos para conter, e se possível
eliminar, essa pequena força que ameaçava sua rota de retirada.

Então, às 16h00, sete aviões aliados sobrevoaram Brolo,


metralhando e bombardeando as áreas; duas bombas caíram sobre os
americanos, ferindo ou matando 19 homens e destruindo todas as
quatro peças de artilharia. O comandante do batalhão então consolidou
suas tropas num perímetro cerrado no Monte Cipolla e preparou-se
para resistir até o fim.

Pouco depois, o Philadelphia retornou às proximidades de Brolo e


arrasou a região, mas pouco antes das 17h00, oito aviões alemães
atacaram as belonaves americanas, causando poucos danos aos navios,
que derrubaram vários deles; mas o ataque foi o bastante para que o
comandante da frota naval se retirasse. Pouco antes do anoitecer,
julgando não haver muito mais o que fazer para ajudar o batalhão que
se encontrava na colina, ele zarpou com seus navios de volta a
Palermo.

Já então, os soldados americanos, comprimidos num perímetro


defensivo reduzido, estavam ficando sem munição. Mas, felizmente,
os alemães não lhes estavam dando muita atenção, porque, tendo-os
forçado a permanecer numa posição de onde não podiam interferir na
retirada, os alemães se retiraram da crista Naso e foram para a linha
retardadora seguinte, passando por Brolo.

A 3a Divisão então avançou e, às 07h30 de 12 de agosto, uma


patrulha entrou em contato com os que se encontravam no Monte
Invasão da Sicília 97

Cipolla. Embora tivessem perdido 177 soldados, entre mortos, feridos


e desaparecidos, eles ainda estavam resistindo.

Patton por pouco não enredara parte considerável da divisão de


Fries e talvez tivesse feito recuar todo o setor norte da frente de Hube,
mas o batalhão despachado para desembarcar fora pequeno demais
para a tarefa. Se lhe tivessem dado mais barcaças, com melhor apoio
aéreo e naval, Patton talvez tivesse infernado bastante a retirada
alemã.

Embora a "Linha Tortorici", de Hube, estivesse sendo pressionada


na extremidade dos flancos, o comandante alemão não estava
apreensivo, pois suas tropas ocupavam posições extremamente
favoráveis, em terreno que lhes era também favorável, mas que
poderia ser facilmente bloqueado pelo largo uso de minas e cargas de
demolição. A evacuação em grande escala pelo Estreito de Messina
começou durante a noite de 11 de agosto, no horário aprazado e a
única preocupação de Hube era a necessidade de defender Randazzo
por mais um dia. Ameaçado pela 9a Divisão americana e pela 78a
Divisão britânica, Randazzo era um ponto crítico, pois tinha de ser
defendida, para permitir a retirada da 15a Divisão Panzergrenadier, de
Rodt; e parte da Divisão Hermann Göring, de Conrath, por uma única
saída.

Durante os 13 primeiros dias de agosto, Randazzo foi atacada por


aviões aliados que fizeram 756 surtidas - 425 bombardeiros médios,
249 bombardeiros leves e 72 caças-bombardeiros - mas sem resultado
algum. Os bombardeios não passaram de estorvo e não houve
qualquer alteração no horário dos alemães. Na noite de 12 de agosto,
quando Hube retirou suas forças da primeira das suas três últimas
linhas defensivas, Rodt tirou seus homens de Randazzo e escaparam
sem problemas. Na manhã de 13 de agosto, quando patrulhas
americanas e britânicas entraram na cidade, encontraram-na bastante
danificada e em abandono.

Patton tornou a alinhar a 1a Divisão a 12 de agosto. A respeito do


grande esforço ofensivo das três divisões americanas - 1a, 3a e 9a -
Hube recuou sem dificuldades durante a noite de 14 de agosto para
sua segunda linha de defesa temporária. No anoitecer desse dia,
somente um único batalhão de infantaria reforçado defendia a frente
da 29a Divisão Panzergrenadier.
Segunda Guerra Mundial 98

Entrementes, Conrath travava mais ou menos calma batalha de


retirada, repelindo os britânicos com parte da sua Divisão Hermann
Göring enquanto despachava o resto para Messina, para atravessar o
Estreito. Na noite de 13 de agosto ele cedeu Taormina, a 46 km de
Messina, e recuou para a segunda linha de defesa, onde, deixando
poderosa força de retaguarda, continuou recuando sua divisão para os
pontos das barcas.

A 14 de agosto a evacuação estava indo tão bem que Hube decidiu


estender a retirada em massa por uma noite. Confiante de que poderia
manter uma retirada organizada, ele se decidiu a tirar da ilha tanto
equipamento quanto possível e, para cumprir o horário, ordenou que
se inserisse mais uma noite entre as terceira e quarta noites
previamente combinadas. Assim, a noite de 16 de agosto ainda seria
conhecida como a quinta noite, embora fosse, na realidade, a sexta e o
período final da retirada.

A 15 de agosto, com a 15a Divisão Panzergrenadier, de Rodt, a


salvo do outro lado do Estreito, as pequenas forças restantes das duas
outras divisões alemães estavam em grande parte sem contato com as
forças aliadas e agora lutavam mais contra o terreno e as cargas de
demolição do que contra o inimigo que avançava. Quando Conrath e
Fries informaram que os Aliados haviam recuperado contato, no fim
daquele dia, Hube ficou satisfeito com o fato de que poderia manter a
terceira linha de defesa temporária e tirar todo o mundo da ilha.

As operações de transporte começaram a sério na noite de 11 de


agosto, mas os barcos só operaram em sua capacidade total por pouco
tempo - pois desde o anoitecer até as 20h45 diminuíram e pararam
temporariamente, porque os Wellingtons britânicos bombardearam o
Estreito e porque alguns soldados demoraram a chegar aos pontos de
embarque. Embora as barcas transportassem menos que o permitido
por sua capacidade e fizessem viagens intermitentes durante o resto da
noite, a operação tomou impulso na manhã de 12 de agosto, e durante
todo o dia, a intervalos regulares, as barcas transportavam armas e
equipamento para a outra margem.

Naquela noite, quando os homens reapareceram ao norte de


Messina e esperavam pacientes pelas barcas, uma falha temporária nas
comunicações telefônicas entre Messina e o continente interrompeu a
operação e causou algum contratempo. Várias barcas esperaram num
ponto de embarque durante três horas e depois partiram pouco antes
Invasão da Sicília 99

que as tropas, atrasadas, chegassem. Às 02h00 de 13 de agosto, as


barcas movimentaram-se novamente. Quando os ataques aliados
interferiram no esquema de transporte, na parte menor do Estreito,
Baade, apesar das instruções de Hube, transportou homens para o
outro lado durante as horas diurnas de 13 de agosto. Ao anoitecer
daquele dia, ele já transferira um total de 15.000 homens, 1.300
veículos, 21 tanques e 22 canhões de assalto para o continente.

Quando, a 13 de agosto, os alemães passaram a operação de


transporte de homens para as horas do dia, a força aérea aliada
empenhava 106 B-17, 102 B-26, 66 B-25 e 135 P-38 numa enorme
incursão próximo de Roma - em lugar de concentrar essas forças
contra a área do Estreito de Messina. A razão apresentada para essa
operação aérea no continente foi, segundo um relatório do QG da
força aérea: "a batalha terrestre (na Sicília) estava indo muito bem".

Os italianos faziam o melhor que podiam com o seu equipamento


obsoleto e limitado. Seu comboio de barcas pegou fogo a 12 de agosto
e ficou fora de serviço durante 48 horas, mas as barcas a motor,
transportando cerca de 1.000 homens por viagem, fizeram um total de
20. Tendo reparado o comboio de barcas, os italianos então
carregaram-no com peças de artilharia pesada, pretendendo rebocá-lo
pelo Estreito, mas não conseguindo encontrar um rebocador,
afundaram-no, para que a artilharia não caísse em mãos aliadas.

Mas Hube veio em seu auxílio e os alemães recolheram armas e


equipamento, levando-os para a outra margem do Estreito em suas
barcas. Muitas peças de artilharia escaparam aos Aliados, mas os
italianos também perderam a maioria das suas, pois os alemães
simplesmente acrescentavam-nas aos seus próprios estoques.

Alexander só percebeu que a evacuação realmente começara no


dia 14 de agosto, quando os britânicos perderam contato, em toda a
frente, com as tropas adversárias, que lhes haviam escapado. Naquele
dia, ele enviou uma mensagem, pelo rádio, a Tedder dizendo acreditar
que os alemães e italianos estavam atravessando o Estreito em grande
número, sugerindo-lhe então que as forças aéreas montassem contra
eles vigorosos ataques. Porém, já comprometido com incursões em
grande número contra alvos no continente, Tedder só podia liberar
alguns bombardeiros médios e leves e alguns caças-bombardeiros para
martelar a área de Messina. Os pilotos destacados para atender à
solicitação de Alexander encontraram dificuldades sérias: era difícil
Segunda Guerra Mundial 100

penetrar as defesas antiaéreas. "A imensa concentração de fogo


antiaéreo, de ambos os lados do Estreito", informou um piloto no dia
seguinte, "torna impossível descer para procurar os alvos com
cuidado".

Os pequenos danos que os pilotos aliados causavam aos pontos de


embarque e desembarque, os alemães e italianos logo reparavam.

A 15 de agosto, considerando que os esforços aéreos e navais


pouco podiam fazer para cortar a retirada do Eixo, os comandantes de
terra aliados tentaram algo espetacular no sentido de impedi-la. Três
dias antes, Patton iniciou planejamentos para desembarques anfíbios e
aeroterrestres, cada qual contando com um regimento, e devendo
desembarcar bem atrás dos defensores alemães, a qualquer momento
entre os dias 14 e 18 de agosto. Ele designou um grupamento de
combate regimental para treinar para o ataque anfíbio e, depois de
extenuantes esforços, reuniu embarcações suficientes para transportá-
lo.

Na manhã de 15 de agosto, quando a 3 a Divisão se aproximava da


curva da estrada que conduz a Messina, a 24 km de distância, Patton
telefonou para Bradley e disse-lhe para embarcar o regimento
designado para o desembarque marítimo. Ele queria que as tropas
desembarcassem não em Bivio Salica, como originalmente planejado,
mas em Spadafora, a 16 km mais a leste; porém, não poderia haver
nenhuma operação aeroterrestre, pois a 3 a Divisão já estava além das
zonas programadas de salto, próximo de Barcelona. Patton estava
então inteiramente preocupado em acelerar seu avanço para entrar em
Messina antes de Montgomery.

Bradley respondeu-lhe que a operação anfíbia seria inútil. A 3 a


Divisão só estava encontrando leve resistência de retaguarda e teria
soldados esperando em Spadafora pela força anfíbia que
desembarcaria, mas Patton insistiu na necessidade de se fazer realizar
a operação, mandando Keyes ao posto de comando de Truscott para
coordenar a preparação das forças naval e de terra.

Infelizmente, devido a uma falta fatal de comunicação, o


regimento desembarcou em Bivio Salica às primeiras horas de 16 de
agosto, quando então a 3a Divisão estava passando por Spadafora, e,
ao anoitecer, suas unidades avançadas aproximaram-se da
encruzilhada de Casazza, perto de Messina e da crista que domina a
Invasão da Sicília 101

cidade. Também nesse momento já Truscott tinha sua artilharia de


longo alcance disparando, através do Estreito, contra a Itália
continental; Bradley estava certo, a operação anfíbia fora inútil.

Também Montgomery, finalmente, decidira lançar uma operação


anfíbia, talvez estimulado pelo esforço que Patton realizava por entrar
em Messina na sua frente. No dia 13 de agosto, Cunningham
perguntara a Montgomery por que se recusava a utilizar o que aquele
chamava de "o bem inestimável do poderio marítimo", que lhe daria
"flexibilidade de manobra", mas Montgomery não via necessidade de
sair para empreendimento tão arriscado, pois a campanha estava
praticamente terminada.

Porém, dois dias depois ele decidiu o inverso. Solicitou que uma
unidade de Comandos, reforçada por tanques da 4a Brigada Blindada
britânica, desembarcasse em Cabo d'Ali na manhã de 16 de agosto,
cortasse a retirada dos alemães que ainda estivessem na ilha e rumasse
rapidamente para Messina.

Naquela noite, 15 de agosto, as retaguardas de Conrath saíram e se


dirigiram para a terceira linha de defesa de Hube, a 5 km além do
Cabo d'Ali, de modo que os 400 soldados britânicos que
desembarcaram surpreenderam o fim da unidade de retaguarda, que
parou, voltou-se e deteve as tropas anfíbias logo ao norte de Scaletta.
Depois que escureceu, no dia 16 de agosto, quando as retaguardas de
Conrath finalmente rumaram para Messina, os 400 soldados
avançaram, passando por Tremestieri, a 3 km ao sul de Messina, ao
alvorecer de 17 de agosto, mas ali foram detidos, pois a ponte que
existia sobre uma ravina profunda havia sido destruída.

Já então, a evacuação do Eixo estava praticamente terminada.


Hube e Fries haviam deixado a Sicília às 17h30 de 16 de agosto e,
naquela noite, a última unidade da retaguarda alemã partiu - 200
homens da 29a Divisão Panzergrenadier que estiveram defendendo a
encruzilhada de Casazza, 6 km a oeste de Messina, bem como a
entrada norte da cidade. O General-de-Brigada Ettore Monacci,
comandante das tropas do exército italiano lotadas na Base Naval de
Messina, foi o último oficial graduado a deixar a cidade, fazendo-o
depois de instalar as minas para destruir as instalações portuárias.

Às 06h35 de 17 de agosto, Hube informou a Kesselring que a


operação de retirada estava cumprida. Uma hora depois, um barco de
Segunda Guerra Mundial 102

patrulha alemão recolheu oito soldados italianos que cruzavam o


Estreito numa balsa impelida a remo.

Horas antes de terminar o dia 16 de agosto, um pelotão reforçado


da 3a Divisão passou pela encruzilhada de Casazza e entrou em
Messina; na manhã seguinte, bem cedo, outros soldados chegaram;
não houve resistência.

Às 07h00, na crista que dominava Messina, Truscott recebeu os


dignitários civis da cidade, que fizeram uma visita rápida aos
conquistadores, e uma hora mais tarde o Coronel Michele Tomasello
apareceu e ofereceu-se para fazer uma rendição militar formal. Como
Keyes mandara que Truscott aguardasse na entrada de Messina pela
chegada de Patton, Truscott mandou seu assistente no comando da
Divisão, General-de-Brigada William Eagles, à cidade com
Tomasello, para preparar o ato de rendição e supervisionar os soldados
americanos que vagavam curiosos pelas ruas e, como Eagles disse,
mais tarde: "para cuidar que os britânicos não nos tomassem a cidade
depois de a termos capturado".

Às 08h15, o líder da unidade de Comandos parada em Tremestieri,


junto da ponte destruída sobre a ravina, decidiu contornar o obstáculo
num jipe e correr para Messina, numa tentativa de lá chegar antes dos
americanos; mas ele ao entrar em Messina, já lá se encontrava Eagles.
Travou então contato com ele e soube, para seu desapontamento, que
os americanos haviam tomado a cidade.

Às 10h00 Patton chegou à crista que domina Messina. "Que diabos


vocês todos estão fazendo aqui?" bradou. Tomando lugar num carro à
frente de uma coluna de veículos, ele entrou ruidosamente na cidade
(acompanhado, todo o tempo, pelo estrondear dos canhões de Baade
embasados do outro lado do Estreito), onde aceitou formalmente a
capitulação de Messina e, por conseqüência, da Sicília.

Nesse momento, a coluna blindada britânica que Montgomery


mandara à frente para ligar-se aos Comandos entrara em contato com
estes, reparara a ponte e se dirigira para Messina. As tripulações dos
tanques e os Comandos chegaram pouco depois da cerimônia de
rendição. O oficial britânico que comandava o grupo foi até Patton,
apertou-lhe a mão e disse: "Foi uma corrida e tanto, meus
cumprimentos".
Invasão da Sicília 103

Na verdade, os cumprimentos pertenciam a outros.

Os alemães haviam evacuado pouco menos de 40.000 homens (dos


quais 4.500 feridos), 9.600 veículos, 94 canhões, 47 tanques, 1.000
toneladas de munição, 970 toneladas de combustível, 15.700 toneladas
de equipamentos diversos, incluindo muito material italiano. Os
italianos, cujos registros não eram tão organizados, transportaram
entre 70.000 e 75.000 soldados, cerca de 500 veículos, entre 75 e 100
peças de artilharia e 12 mulas.

Assim, após 38 dias de luta, terminou a campanha da Sicília com


um tom alegre de ambos os lados. Mas a triunfante entrada das tropas
aliadas em Messina pareceu um tanto vazia, comparada com o feito
dos soldados do Eixo, que retiraram da ilha 125.000 homens.

O incidente da bofetada

O mais controvertido assunto surgido na campanha da Sicília foi o


chamado incidente da bofetada, que envolveu Patton. Enérgico, ativo
e soldado na mais completa expressão da palavra; o general se fez
digno do respeito e da admiração do combatente e do povo americano
pelas qualidades que demonstrou nas operações da Sicília, qualidades
que o transformaram numa figura por assim dizer lendária, situando-o
à frente dos líderes de combate americanos. Mas o fato de esbofetear
dois soldados que desconfiava estarem fingindo-se de doentes quase
lhe destruiu a reputação e a brilhante participação que teve na guerra.
Na realidade, houve dois incidentes.

O primeiro ocorreu a 3 de agosto, perto de Nicósia. Acompanhado


do Major-General John Lucas (um observador do Departamento da
Guerra enviado por Marshall para ser seus olhos e ouvidos no teatro
de operações do Mediterrâneo) e escoltado pelo comandante do
hospital e vários oficiais médicos, Patton entrou na barraca de
recepção do 15° Hospital de Evacuação. Ele falou com os feridos que
se encontravam na barraca aguardando tratamento, chegando a
comover-se com a coragem e resignação demonstradas por tantos que
ali se encontravam. Falou com todos de forma muito carinhosa,
parecendo algumas vezes à beira das lágrimas.

Foi então que se aproximou de um soldado recém-chegado ao


hospital que não apresentava qualquer marca de ferimento, mas estava
Segunda Guerra Mundial 104

mergulhado na desesperança e depressão. Um médico do setor de


triagem, situado logo atrás da frente de batalha, e que o mandara
recolher-se ao hospital, fizera um diagnóstico de "ansiedade
psiconeurótica; estado - moderadamente sério".

Patton leu a etiqueta médica afixada à roupa do soldado e


perguntou-lhe o que estava acontecendo:
"Não agüento mais isto", respondeu o soldado.

Patton ficou irritado. Praguejando contra o soldado com sua voz


aguda, ele o esbofeteou com suas luvas e o atirou para fora da barraca.

Acalmando-se um pouco, Patton terminou a inspeção que fazia ao


hospital, dirigiu-se à linha de frente, retornando ao seu QG, onde
preparou um memorando endereçado aos comandantes de unidades:
"Verifiquei", dizia o memorando, "que alguns soldados, embora
poucos, estão baixando hospital sob o pretexto de não terem condições
nervosas de combater. Esses homens, na realidade uns covardes,
enxovalham o Exército e envergonham seus camaradas... Os senhores
providenciarão para que tais casos não sejam enviados ao hospital mas
tratados em suas próprias unidades. Os que não estão dispostos a lutar
serão julgados por um Conselho de Guerra por covardia diante do
inimigo".

Patton acreditava ter ajudado o homem. Em seu diário, ele


escreveu: "arrasei-o, esbofeteei-o com minhas luvas e o chutei para
fora do hospital... A gente às vezes bate no bebê para fazê-lo voltar a
si".

No hospital, um enfermeiro pegou o soldado e o levou para uma


enfermaria, onde ficou constatado que o homem tinha febre alta e
diarréia incoercível. Dois dias depois os médicos fizeram o
diagnóstico definitivo do caso: disenteria crônica e malária; a 9 de
agosto ele foi mandado para a África do Norte, para tratamento, que
seria prolongado.

Um dia depois, a 10 de agosto, Patton apareceu inesperadamente


no 93° Hospital de Evacuação. Um oficial médico o recebeu e o
acompanhou à barraca de recepção, onde 15 pacientes acabavam de
chegar da frente e aguardavam, uns sentados, outros deitados, exame
médico.
Invasão da Sicília 105

Uma vez mais, Patton percorreu a fileira de camas falando com


cada um deles, perguntando-lhes onde e como foram feridos. As
respostas pareciam afetá-lo visivelmente, e a cada um deles Patton
dirigiu elogios à bravura com que se portaram.

Sentado a um canto encontrava-se um artilheiro que tremia


violentamente.

Patton perguntou qual era o seu problema.

"São meus nervos", e começou a soluçar. O general então lhe


perguntou aos berros: "O que é que você disse?" Ele respondeu: "São
meus nervos, não suporto mais o bombardeio". O homem ainda
soluçava. O general então berrou. "Seus nervos, diabos, você não
passa de um covarde, seu filho da p.!"

Esbofeteou o homem e gritou: "Pare com essa choradeira! Não


quero que esses bravos, que foram feridos, vejam chorar um covarde".
E ao tornar a agredir o homem, sua atitude foi tão violenta que o
revestimento interno do capacete do soldado foi parar na barraca
próxima. Ele então voltou-se para o Oficial de Recebimento: "Mande
esse covarde embora, ele não tem coisa alguma. Não permito que os
hospitais fiquem abarrotados com esses filhos da p. que não tem
coragem de lutar". E voltou-se novamente para o homem, que
conseguira ficar em posição de sentido, embora todo o corpo
tremendo, e disse-lhe: "Você vai voltar para a linha de frente e talvez
seja ferido e morto, mas você vai lutar. Se não lutar, eu mesmo
mandarei fuzilá-lo".

Patton saiu furioso da barraca.

O comandante do hospital o seguiu. Fora da barraca, Patton disse-


lhe. "Não retiro nada do que disse lá dentro sobre a retirada daquele
covarde daqui. Não quero esses covardes filhos da p. em nossos
hospitais. Provavelmente teremos de fuzilá-lo algum dia, do contrário
estaremos criando uma raça de degenerados.

Algum tempo depois, o psiquiatra do hospital confirmou o


diagnóstico preliminar feito no setor de triagem: "neurose de guerra
aguda".
Segunda Guerra Mundial 106

Patton mencionou o incidente numa conversa casual com Bradley,


que não lhe deu muita atenção, mas, entrementes, o oficial médico
encarregado do hospital escrevera um relatório completo do incidente,
entregando-o ao Médico do 2o Corpo. Ele protestava não só contra o
comportamento de Patton como também contra sua interferência nos
trabalhos médicos.

O Médico do Corpo levou o relatório ao Chefe do Estado-Maior de


Bradley, que o levou a este. Bradley leu o relatório e então disse ao
Chefe de seu Estado-Maior que o trancasse num cofre e não fizesse
mais nada - e é evidente que Bradley não poderia ter feito outra coisa,
pois o trâmite do relatório pela cadeia de comando acima te-lo-ia
levado até Patton. A única alternativa de Bradley, uma vez que Patton
era o seu superior imediato, seria enviar o relatório diretamente a
Eisenhower, mas isto implicaria quebra de disciplina militar.

Contudo, a noticia das ocorrências se havia propagado pela


maioria dos soldados americanos na Sicília. Como chegou ao
conhecimento de todos, três correspondentes de guerra americanos
ouviram a história e a discutiram entre si, mas nenhum deles quis
mandá-la para publicação, pois compreendiam o impacto que a notícia
teria sobre o público, sobre a carreira de Patton e a importância dele
no esforço de guerra.

Eisenhower soube dos dois incidentes através dos relatórios do


Serviço Médico. Seu próprio médico fez-lhe um relato detalhado do
ocorrido a 16 de agosto, no dia anterior ao término da campanha, e
apesar do choque que isto causou em Eisenhower, ele decidiu dar a
Patton uma chance de se explicar. No dia seguinte, Eisenhower
escreveu-lhe uma carta oferecendo a oportunidade de negar as
alegações; mas advertiu que se estas tivessem algum fundo de
verdade, Patton teria de ser formal e seriamente advertido. Ele
mandou que a carta fosse entregue pessoalmente por um oficial-
general.

"Estou certo", escrevera Eisenhower, "da necessidade de dureza e


inflexibilidade no campo de batalha e compreendo claramente que às
vezes são necessárias medidas firmes e drásticas para se garantir os
objetivos desejados. Mas isto não desculpa a brutalidade, o mau trato
de doentes, nem a exibição de temperamento incontrolável diante de
subordinados... se são realmente verdadeiras as alegações contidas
neste relatório, tenho de duvidar seriamente do seu bom discernimento
Invasão da Sicília 107

e da sua autodisciplina, a ponto de ter também sérias dúvidas quanto à


sua utilidade, no futuro".

Se qualquer parte da história fosse verdade, Eisenhower disse que


Patton teria de retratar-se, "pedir desculpas ou coisa semelhante", às
pessoas envolvidas.

Disciplinadamente, Patton concordou em fazer tudo o que


Eisenhower considerava necessário e pôs-se a retratar-se. Ele falou
com os dois soldados implicados, explicou seus motivos e pediu
desculpas. "Em ambos os casos", escreveu ele, mais tarde. a
Eisenhower, "declarei que gostaria de lhes apertar a mão e ambos
aceitaram".

A seguir, ele procurou os médicos que presenciaram as cenas,


expressando-lhes arrependimento "pelas minhas ações impulsivas". E,
finalmente, falou a todas as divisões do 7° Exército, uma de cada vez,
e pediu desculpas "por quaisquer ocasiões em que eu possa ter
criticado duramente as pessoas".

Na carta enviada a Eisenhower a 29 de agosto, Patton assegurou ao


Comandante Supremo Aliado que não tivera a intenção de "ser rude
ou cruel com os soldados em apreço. Minha única finalidade era
devolver-lhes o ânimo e mostrar-lhes as obrigações que tinham como
homens e como soldados". Ele relembrou um incidente, havido
durante a Primeira Guerra Mundial, em que um amigo íntimo perdera
a coragem "de um modo exatamente análogo", e esse oficial sofreu
anos de angústia, até que, finalmente, suicidou-se. "Tanto meu amigo,
quanto os médicos com que discuti seu caso, asseguraram-me que se o
tivessem dominado na primeira manifestação do choque, ele teria
recuperado o estado normal". Eis por que ele fez o que fez e "acho que
provavelmente salvei uma alma imortal da condenação eterna que o
suicídio traz".

Satisfeito com a explicação e as atitudes de Patton, Eisenhower


chamou um grupo de repórteres que tinham ouvido a história e os
informou das desculpas de Patton. Ele disse que decidira manter
Patton, em vez de demiti-lo, por considerá-lo valioso demais nessa
guerra. Os correspondentes simpatizaram com o ato e não publicaram
a história das bofetadas.
Segunda Guerra Mundial 108

O incidente poderia ter acabado aí, se um repórter que chegou dos


Estados Unidos à frente de combate em novembro não tivesse ouvido
a história e a divulgado pelo rádio. Apesar do clamor público que se
seguiu, Eisenhower recusou-se a mudar a decisão tomada.

A liderança de Patton em combate, durante as campanhas


européias de 1944 e 1945, justificou perfeitamente a decisão de
Eisenhower.

Vitória ou derrota

A controvérsia sobre Patton, gerada pelo episódio das bofetadas,


obscurecera uma questão mais ampla e mais importante: quem venceu
a batalha da Sicília?

Os Aliados, evidentemente. Eles realizaram o que se haviam


proposto fazer - conquistar a ilha. Com isso, proporcionaram maior
segurança a seus navios mercantes do Mediterrâneo, obtiveram
aeródromos mais perto dos alvos básicos de bombardeios na
Alemanha, romperam a aliança ítalo-germânica, provocaram a queda
de Mussolini, quase fizeram os italianos capitular e, pela bem
sucedida execução dos aspectos terrivelmente complexos dos
desembarques anfíbios, fizeram que os alemães percebessem o que se
tornaria a marcha inexorável para a vitória.

Além disso, as forças de terra americanas chegaram à maturidade e


conquistaram prestígio igual ao dos britânicos, enquanto que Patton
subia à berlinda como o equivalente americano de Montgomery.
Bradley demonstrara sua reconhecida competência, assim como
comandantes-de-divisão como Truscott, Middleton e Eddy receberiam
responsabilidades mais importantes. Simonds, mais tarde, comandaria
um corpo, e Dempsey e Leese passariam de comandantes de corpo a
comandantes de exércitos britânicos, um no noroeste europeu, o outro
na Itália.

Eisenhower mostrou-se, ainda uma vez, à altura das


complexidades das ramificações do alto comando aliado, o mesmo
acontecendo com Alexander, que sempre teve um efeito
extraordinariamente estimulante sobre os soldados britânicos, e cuja
liderança, compreensiva e indulgente, funcionara bem na Sicília e na
Tunísia. "Às vezes", escreveu Eisenhower, "parece que ele
Invasão da Sicília 109

(Alexander) altera seus próprios planos e idéias apenas para satisfazer


a um subordinado que tenha feito qualquer objeção, de modo a evitar
métodos de comando inflexíveis" - mas, como Eisenhower, Alexander
deu robustez à coalizão anglo-americana, e sua hábil manipulação dos
dois subordinados mais difíceis - Montgomery e Patton - foi um feito
digno de registro.

Como resultado do triunfo da Sicília, Eisenhower tomou sua


decisão final sobre as operações pós-sicilianas a 16 de agosto. Ele
mandaria o 8° Exército através do Estreito de Messina para invadir a
ponta da Itália o mais breve possível, provavelmente por volta de 1°
de setembro, e despacharia um novo e inexperiente 5° Exército
americano para invadir as praias de Salerno a 9 de setembro. Se esta
decisão foi sensata ou não, não cabe aqui discuti-la.

Mas, o que dizer das táticas aliadas durante a Batalha da Sicília?


Todo o plano aliado fora feito dentro da suposição de que seria
encontrada vigorosa oposição, daí ter sido tão cauteloso e
conservador. Os Aliados evitaram o jogo e os riscos, acautelando-se.
E, em última análise, fizeram um avanço poderoso - um ataque
frontal, indesculpável no terreno acidentado da Sicília.

Certamente, a supremacia das forças aéreas e navais aliadas


poderiam ter sido melhor empregadas em operações maciças de
flanqueio, para enredar as forças do Eixo - e o que é pior, não se
preparou nenhum plano conjunto para impedir a evacuação do Eixo.
Até certo ponto isto foi resultante da separação dos comandantes
superiores (Eisenhower estava em Argel, Cunningham em Malta,
Tedder perto de Túnis e Alexander em Cassibile) e da preocupação
com o que aconteceria depois da Sicília, uma concentração na
esperada ação estratégica, e não no assunto em pauta: o extermínio
implacável do adversário.

Contudo, os Aliados infligiram perdas consideráveis às forças do


Eixo, cujas baixas, em mortos e capturados, totalizaram cerca de
12.000 alemães e de 145.000 italianos.

Os Aliados perderam menos de 20.000 homens - uns 7.500


americanos e 11.500 britânicos, e fizeram cerca de 120.000
prisioneiros, enviando uns 80.000 para a África do Norte e dando
liberdade condicional, na ilha, ao restante.
Segunda Guerra Mundial 110

Além dos capturados e dos mortos, uns 20.000 soldados do Eixo


foram transportados para o continente, durante a campanha, por
motivos de ferimentos e outros, o que leva a supor-se que havia cerca
de 250.000 soldados do Eixo na Sicília: 200.000 italianos e 50.000
alemães. Estes haviam resistido a dois exércitos aliados - o 7 o, com
efetivos máximos de uns 200.000 homens, e o 8°, com efetivos
máximos de 250.000.

Contando os efetivos de combate aliados como um terço dos


efetivos totais - constituindo o restante tropas de apoio e logísticas - os
Aliados lutaram com 150.000 homens, três vezes mais que os
alemães, e se os soldados italianos, como às vezes diziam os alemães,
atrapalhavam mais do que ajudavam, os Aliados deveriam ter
dominado os germânicos com muito mais rapidez. O fato de não o
terem conseguido talvez se deva a dois motivos: as tropas do Eixo
mostraram-se eminentemente hábeis na luta defensiva que travaram
no acidentado terreno da Sicília; segundo, os italianos, a despeito do
antiquado equipamento que possuíam e do seu arruinado sistema
político e militar, foram muito mais combativos do que normalmente
se reconhece.

Dada a deterioração da aliança ítalo-germânica e a decisão, tomada


quase no começo da campanha da Sicília, de abandonar-se a ilha, as
tropas alemães e italianas conquistaram uma vitória moral. Batendo-se
numa gigantesca ação retardadora, um punhado de tropas de terra, sem
apoio naval e com ajuda aérea apenas intermitente e relativamente
fraca, manteve dois exércitos aliados em xeque.

Embora se tenham sacrificado em defesa de uma tirania nefanda,


não se pode deixar de reconhecer que esses homens foram
personagens de uma passagem militar valorosa e hábil.

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