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O IMPACTO DO NEOLIBERALISMO NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Filinto Jorge Eisenbach Neto 1 - PUCPR


Gabriela Ribeiro de Campos 2 - PUCPR

Eixo – Sociologia da Educação


Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

Ao longo do século XIX, o liberalismo se disseminou pela Europa, Estados Unidos e


países de capitalismo periférico. Seus ideais de liberdade e individualismo penetraram nas
principais estruturas socioeconômicas e político-culturais dos países cujos reflexos atingiram
sobremaneira a educação. No século XXI, o modelo neoliberal na condução do sistema
econômico global foi outra importante força de impacto na educação. Observou-se que o
sistema educacional nacional foi influenciado por ocasião da utilização de diretrizes
educacionais de ordem universal, razão pela qual a legitimidade da ação do Estado-nação foi
significativa e alterada. O presente estudo busca interpretar como estas forças econômicas
neoliberais de âmbito global impactaram na educação. Utilizou-se da hermenêutica para a
interpretação das mudanças e da revisão bibliográfica como método de pesquisa. Os autores
referenciados foram: Cardozo (2006), Dale (2001), Gentili (1995), Mesquida (1994), Neves
(2009), Sampaio (2002), Santos (2011), Saviani (2008), entre outros. Os resultados desta
investigação interpretativa dos fenômenos econômicos, políticos, sociais e culturais,
apontaram para a universalização do processo de ensino, centralização do processo
educacional à uma perspectiva econômica universal, na qual o aluno – cidadão – é
considerado um importante fator de produção, portanto, um ser econômico de produção.
Observa-se importante metamorfose na relação Estado-nação e cidadania, que implica
diretamente na essência do processo educacional. O cidadão que deveria ser educado para
uma visão de interesse geral, referenciada com direitos humanos na limitação de suas ações, é
educado pelo interesse do Estado, hoje referenciado pelo modelo neoliberal, individualista de
interesse particular. O resultado do estudo responde à questão – será que os conceitos de
cidadania e educação são convergentes neste cenário globalizado? – ao retirar do cidadão,
sujeito, a oportunidade de aprender a pensar e imputar-lhe o papel de um ser econômico
apenas, ao tempo em que essa convergência não se consubstancia, também retira-lhe da
condição de cidadão seus direitos.

Palavras chave: Globalização; Neoliberalismo; Educação.

1
Doutorando em Educação pelo programa PPGE – Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná – PUCPR. E-mail: filinto.neto@pucpr.br.
2
Mestre em Educação pelo programa PPGE – Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná – PUCPR. E-mail: gabriela.campos3@gmail.com.

ISSN 2176-1396
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INTRODUÇÃO

A dispersão dos ideais liberais como uma ideologia dominante, muito além de um
liberalismo utópico da burguesia revolucionária do século XVIII, se deu no século XIX e tais
ideais penetraram nas instituições jurídicas, educacionais, religiosas e familiares europeias,
norte-americanas e dos países de capitalismo periférico.
Segundo Mesquida (1994), foi nos Estados Unidos, contudo, “que os dois postulados
fundamentais do liberalismo, a liberdade e o individualismo, penetraram mais
profundamente” (p. 70). Para o autor, é na civilização norte-americana dos cem últimos anos
que a liberdade (principalmente a liberdade de mercado) e os ideais individualistas atingiram
sua mais alta expressão.
Nessa direção, a visão de mundo liberal foi usada como justificativa para o
expansionismo dos Estados Unidos e sua ampla presença nas esferas da vida política,
econômica, social e cultural de outras nações, como o Brasil.
Nessa direção, conforme Almeida et. al. (2015), depreende-se que o mundo social se
apresenta através de duas ideias concorrentes: uma que representa o projeto da expansão das
relações econômicas a partir de uma lógica capitalista liberal; e outra que valoriza as
perspectivas sobre as diferenças e as singularidades sociais.
Almeida et. al. (2015) pressupõe que “na contemporaneidade, destitui-se o
absolutismo da verdade técnica como parâmetro, apresentando-se ao lado do Estado e [...] dos
agentes definidores de políticas públicas, trazendo ao debate novas lutas sociais, como é o
caso do resgate do sujeito e das identidades sociais”
Diante desse cenário dinâmico, se faz indispensável aguçar o debate acadêmico
centrado na função precípua da educação com sua respectiva relação social, cultural, política e
econômica. A educação, em seu papel singular de destaque no desenvolvimento social,
cultural, não pode ser subjugada predominantemente ao domínio da lógica de mercado, muito
menos às diretrizes universais que o modelo neoliberal impõe, principalmente, aos países
periféricos do mundo.
A questão norteadora do presente estudo refere-se aos impactos da globalização na
educação. Para esse fim, utilizou-se da pesquisa bibliográfica e da hermenêutica para a
interpretação dos fenômenos políticos, econômicos, culturais e sociais. A bibliografia
utilizada foi de autores de referência sobre os temas centrais do estudo: globalização,
neoliberalismo e educação.
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O referencial teórico norteador para o desenvolvimento do presente estudo de pesquisa


é apresentado em três tópicos centrais. O primeiro aborda o conceito de educação e sua
relação com a noção de cidadania. O segundo trata sobre globalização e neoliberalismo. O
terceiro discorre sobre os impactos da globalização sobre a educação.

Educação e cidadania

Desde as comunidades humanas mais primitivas, a educação configura-se como


elemento fundamental no processo de formação do grupo e na manutenção de suas estruturas
sociais. É por meio dela que as culturas são construídas e modificadas com o passar dos anos.
Nesse sentido, Sampaio et. al. (2002) é enfático ao dizer que a educação “democratiza
saberes, inclui atores, rememora a história, mitos e ritos e projeta sinais da sociedade futura
que ela ajuda a edificar, costurando atos e pactos no tecido social” (p. 166).
No seio dessa realidade encontra-se a relação intrínseca entre educação e cidadania, a
qual se modifica de acordo com as transformações nas configurações sociais, políticas e
econômicas das sociedades. Na conformação social anterior aos períodos históricos definidos
como modernidade (pós Revolução Industrial) e pós-modernidade (final do século XX), os
pensadores convergiam para a ideia de que educar para a cidadania era buscar a proximidade
do aluno consigo mesmo.
Nesse sentido, de acordo com Ghiraldelli P. (2009), Platão acreditava que a
espontaneidade do ato de aprender parecia remeter a uma dimensão interior do espírito e não
ao efeito de um ensinamento exterior. Rousseau (2004), por sua vez, acreditava que o homem
devia ser educado por meio da natureza, valorizando a liberdade e buscando sempre a
proximidade com o interior do ser.
Para Kant (2005), a educação não deveria ter como princípio básico o treinamento das
crianças e sim o objetivo de ensiná-las a pensar. Na visão do autor, o aluno deveria ser
educado para tornar-se um cidadão crítico e autônomo, capaz de pensar e refletir sobre a
realidade.
Pestalozzi (1946) também entendia que a educação devia acontecer em harmonia com
a natureza, a liberdade e a bondade inata ao sujeito. Acreditava em um ensino individualizado
e voltado para as aptidões dos alunos. Segundo Azevedo (1972), Pestalozzi afirmou que “[...]
a educação da humanidade se consubstancia em reconhecer, manter e promover em cada um
dos indivíduos a dignidade da pessoa humana”
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A partir das intensas mudanças ao longo da transição do feudalismo para o


capitalismo, contudo, essas visões sobre a associação entre educação e cidadania vão ser
colocadas em cheque pois, conforme Neves (2009), “transformações no mundo do trabalho
vão repor a relação entre educação e formação da mão de obra necessária ao desenvolvimento
econômico do país em outros termos”
Pensada na modernidade, a cidadania, como noção chave entre Estado-nação e
cidadão, está se metamorfoseando em virtude de mudanças importantes no nível de
legitimidade dos Estados em um mundo cada vez mais globalizado.
Nesse sentido, cada vez mais – em um ambiente global de fluxos de capitais, de
informações e de populações, a emergência de um espaço público mundial com demandas
simbólicas e legais com alcance além das fronteiras nacionais –, as políticas de integração
econômicas deixam entrever a possibilidade de políticas cosmopolitas em um futuro próximo.
Os estudos sobre a relação entre educação e cidadania devem dar conta das
transformações que estão ocorrendo nas ideias de cidadania em nível mundial e das
especificidades da questão.
Charlot (2016), ao questionar a relação educação-cidadania recorrente nestas últimas
décadas, procura mostrar como essa discussão, de busca por maior eficiência, poderia
contribuir e responder aos anseios globais. Argumenta que “a cidadania é um conceito
político e que a educação é um meio de estabelecimento de elos sociais”. O autor destaca que
é preciso, além de educar o cidadão para a defesa do Estado, educá-lo para incorporar os
direitos humanos como limite da ação.
A cidadania conecta-se à concepção de respeito ao interesse geral. Portanto, requer a
instrução do povo em escolas com gestão pública. A pergunta capital sobre educação nos
tempos atuais é: será que os conceitos de cidadania e educação são convergentes neste
cenário globalizado?
O neoliberalismo que impera no mundo com maior expressão a partir dos anos 1990
desempenha uma influência direta sobre a educação, colocando-a, como diz Pacievitch et. al.
(2008) “em uma posição estratégica em seu projeto de hegemonia para a regulação e o
controle social”.
Para Silva (1994):
nesse projeto, a intervenção na educação com vistas a servir os propósitos
empresarias e industriais tem duas dimensões principais. De um lado, é central, na
reestruturação buscada pelos ideológicos neoliberais, atrelar a educação
institucionalizada aos objetivos estreitos de preparação para o local de trabalho. No
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léxico liberal, trata-se de fazer com que as escolas preparem melhor seus alunos para
a competitividade do mercado nacional e internacional. De outro, é importante
também utilizar a educação como veículo de transmissão das idéias [sic] que
proclamam as excelências do livre mercado e da livre iniciativa. Há um esforço de
alteração do currículo não apenas com o objetivo de dirigi-lo a uma preparação
estreita para o local de trabalho, mas também com o objetivo de preparar os
estudantes para aceitar os postulados do credo liberal (p. 12).

Na sua tentativa de compreender melhor como a globalização afeta, em todos os


Estados-nações, a forma e o conteúdo de pelo menos alguns dos procedimentos e resultados
da elaboração e implantação de políticas educativas, Dale (2001) destaca duas concepções:
“cultura educacional mundial comum (CEMC)” e “agenda de educação globalmente
estruturada (AGEE)”. Ainda, Dale (2001) defende que “o desenvolvimento dos sistemas
educativos e das categorias curriculares nacionais” são compreendidos através “da utilização
de modelos universais de educação, Estado e sociedade e, sustenta que é a natureza da
economia capitalista mundial que constitui a força principal da globalização e que procura
influenciar os sistemas educativos nacionais”.
Boneti (2015) vai além e define que “o ideário neoliberal alia a premissa das
liberdades individuais à diminuição da função do Estado”. Sob essa premissa, o indivíduo
deixa de ser um elemento social sob a proteção do Estado e passa a ser responsável por suas
capacidades e responsabilidades individuais. Conforme Boneti (2015), “o ser cidadão não
mais significa ter direitos, mas possuir um conjunto de habilidades e/ou capital que o faz ser,
nunca de responsabilidade do Estado, mas do indivíduo”.

Globalização e Neoliberalismo

O grande debate dos últimos 40 anos sobre política externa mundial focaliza duas
ordens de ideias: o equilíbrio do poder assentado na soberania nacional e o internacionalismo
liberal que objetiva o desaparecimento do Estado-nação. Ao longo deste período, forças
transnacionais foram configurando arranjos federativos de ordem política, social, cultural e
econômica.
No final da década de 90, um grupo de neoliberais representativos dos países centrais
do capitalismo reuniu-se em Washington com representantes do Banco Mundial, do FMI e do
BID e com representantes da América Latina. A reunião foi promovida pelo Institute from
Internactional Economics e visava avaliar as reformas econômicas realizadas em países da
América Latina.
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O documento oficial do encontro recebeu o nome de “Consenso de Washington”, com


o decálogo: disciplina fiscal; priorização dos gastos públicos; reforma tributária; liberalização
financeira; regime cambial; liberalização comercial; investimento direto estrangeiro;
privatização; desregulamentação e propriedade intelectual (BURKI; PERRY, 1998).
Para Chomsky, citado por Sampaio et. al. (2002), “o objetivo do consenso” era o de
eliminar toda a concorrência estrangeira da América Latina, a fim de manter a área como um
mercado importante para a superprodução industrial norte-americana e seus investimentos
privados, inclusive no setor educacional.
Em decorrência disso, vive-se uma tendência à internacionalização do Estado
Nacional, que se expressa no impacto direto do contexto internacional na atuação do Estado.
No novo panorama apresentado, pode-se afirmar que estamos diante de um processo de
desnacionalização do Estado, ou seja, o esvaziamento do aparelho do Estado Nacional em
virtude da necessidade de reorganização funcional exigida neste processo de globalização.
Nesse contexto, Santos et. al. (2011) destacam que “nas três últimas décadas, as
interações transnacionais conheceram uma intensificação dramática, desde a globalização dos
sistemas de produção e das transferências financeiras, à disseminação, a uma escala mundial,
de informações e imagens através dos meios de comunicação social [...]” (p. 25).
Este movimento de interação mundial, transnacional, levou alguns autores a
reconhecerem um movimento de ruptura em relação às formas anteriores de interações e
relações transfronteiriças, para o qual denominaram fenômeno da globalização.
A revisão dos estudos sobre o processo de globalização mostra-nos que estamos diante
de um fenômeno multidimensional de ordem econômica, social, política, cultural, religiosa e
jurídica, formando, assim, um conjunto fenomênico dinâmico e complexo.
De acordo com Santos et. al. (2011, p.25), vários autores nomeiam esse fenômeno de
formas diversas. O autor faz referência a termos como globalização, formação global, cultura
global, sistema global, processo global, culturas da globalização, cidades globais, etc.
Observa-se com essas designações que o processo da globalização é multidimensional, para o
qual pode-se destacar três características comuns entre eles: a de ser um processo, a de estar
configurada em um sistema global, mundial e a de contemplar a dimensão cultural.
Torna-se importante destacar a diferença entre os termos globalização e
mundialização, que não possuem o mesmo significado. A globalização refere-se ao processo
de avanço transfronteiriço sem a adesão do Estado-nação aos ideais liberais, enquanto a
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mundialização refere-se à adesão, por parte do estado-nação, às diretrizes das políticas


internacionais.
Nesta direção, Dale (2001) destaca a diferença relevante entre elas: a mundialização
conota uma sociedade, ou política internacional constituída por Estados-nações individuais
autônomos – comunidade internacional -, e a globalização implica, especialmente, forças
econômicas operando supra e transnacionalmente para romper, ou ultrapassar, as fronteiras
nacionais ao mesmo tempo que constroem as relações entre as nações.
Para que o modelo de desenvolvimento neoliberal pudesse se solidificar, foram criados
requisitos normativos e institucionais que envolvem a destruição institucional e normativa do
papel do Estado na economia, derrubando sua legitimidade global para organizar a sociedade.
Sob o olhar de Santos et. al. (2011) “[...] o Estado-nação parece ter perdido sua centralidade
tradicional enquanto unidade privilegiada de iniciativa econômica e política” (p. 36).
São muitas e evidentes as interpretações, as propostas, as reinvindicações que se
sintetizam na ideologia neoliberal: reforma do estado; desestatização da economia;
privatização das empresas produtivas e lucrativas governamentais; abertura dos mercados;
redução dos encargos sociais relativos aos trabalhadores por parte do poder público e das
empresas ou corporações privadas; informatização dos processos decisórios produtivos de
comercialização e outros; busca da qualidade total; intensificação da produtividade e da
lucratividade da empresa ou corporação nacional ou transnacional.
Sob o discurso neoliberal reiteram-se as contradições estruturais - o trabalho
subordinado ao capital, o trabalhador à máquina ou computador, o consumidor à mercadoria;
o bem-estar à eficácia, a qualidade à quantidade, a coletividade à lucratividade.
A rigor, o neoliberalismo no dizer de Ianni (1996) articula prática e ideologicamente
os interesses dos grupos, classes e blocos de poder organizados em âmbito mundial.
Ficam facilmente identificados os valores e propósitos do modelo de gestão adotado, a
partir das características comparativas apontadas por Prates (1995): o homem neste projeto é
reconhecido como objeto e não sujeito desse processo, já que a centralidade fica na técnica e
no capital; a sociedade é identificada como espaço recriador da exclusão; os processos sociais
são construídos por interesse da “minoria”.
A educação, vista como estratégica a qualquer projeto de poder, também passa a
funcionar de acordo com esses mecanismos a fim de servir aos ideais dessa configuração
social.
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Impacto da Globalização na Educação

A nova economia global trouxe mudanças de largo alcance para a educação.


Diferenças no sistema de educação pública, entre o antigo capitalismo e o neoliberalismo, são
identificadas. No antigo capitalismo, o sistema educacional focalizava a formação de sujeitos
disciplinados, com força de trabalho qualificado e de confiança. Hoje, na nova ordem
econômica neoliberal, o sistema educacional focaliza trabalhadores com capacidade de
resposta, com rápida capacidade de aprendizagem, que saibam trabalhar em equipe, que sejam
competitivos, criativos e, pela abundância de mão de obra, os indivíduos ficam sem condições
de reivindicar melhores remunerações e condições de trabalho.
Equacionando esse contexto, Gentili (1995) considera que “a lógica do planejamento
em educação está intimamente vinculada ao modelo de ciência social normal, dominada pelo
paradigma epistemológico do positivismo”.
O Consenso de Washington não se limitou somente à economia, suas diretrizes
afetaram o campo das políticas educacionais por meio de políticas que promoveram reformas
suporte para que os governos pudessem legitimá-las.
Para Gentili (1995), a escola, de acordo com as falácias neoliberais, “está em crise
porque nela não se institucionalizaram os critérios competitivos que garantem uma
distribuição diferencial do serviço, que se fundamente no mérito e no esforço individual dos
usuários do sistema”.
A palavra de ordem deste discurso, segundo Ghiraldelli J. (1996), pode ser traduzida
da seguinte maneira “qualidade total, adequação do ensino à competitividade do mercado
internacional, incorporação das técnicas e linguagens da informática, abertura das
universidades aos financiamentos empresariais, pesquisas práticas, utilitárias e
produtividade”.
No sentido da produtividade, Neves (2009) destaca que “o reforço às competências e
habilidades para o mercado de trabalho, a eficiência e a eficácia via autonomia da escola em
que o Estado desenvolve a política do Estado mínimo operando pela descentralização dos
recursos, [...] a terceirização e a precarização dos serviços também aumentam”.
O grande pano de fundo, dando tom ao modelo de Estado da sociedade de produção e
da sua política, foi analisado por Foucault (1999): “a centralidade dos corpos como objeto de
poder, a importância que adquire o manejo, qualificação e distribuição, dão o tom da função
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educativa na sociedade moderna, um tom com a inusitada característica de se destinar a todos


os corpos, a todos os segmentos sociais, calcada em um único valor, o trabalho)”.
Os estados, sendo alvo direto destas transformações, devem ter seus setores
empresariais privatizados, reduzindo-se a regulação estatal da economia, bem como reduzindo
o peso das políticas sociais no orçamento de Estado. Desta forma, retira-se a autonomia do
Estado e este passa a submeter-se aos ditames do poder econômico mundial. Santos et. al.
(2011) menciona que “o Estado-nação parece ter perdido sua centralidade tradicional
enquanto unidade privilegiada de iniciativa econômica, social e política”.
Com relação as mudanças ao papel do estado, Gentilli (1995) acredita que elas
“podem refletir em novas visões e novas características para a educação e as políticas
educacionais, na globalização mundial do capitalismo”. O autor destaca ainda que o Banco
Mundial se configura como o principal defensor das políticas educacionais, constituindo-se
em agente preponderante nas políticas de reestruturação econômica e educacional.
Neste sentido, o Estado neoliberal é explicitamente focalizado ao mundo dos negócios
e os reflexos na educação passam à submissão à lógica do mercado. Segundo ressalta Alves
(1998), “apesar do discurso pelo livre mercado, é cada vez mais necessária a intervenção
política de instituições supranacionais, tais como o FMI e o Banco Mundial, voltadas para
evitar os cataclismos financeiros intrínsecos à ordem da globalização sob a égide do capital”
(p. 118).
Para Saviani (2008), a educação passa a ser entendida como:

[...] um investimento em capital humano individual que habilita as pessoas para a


competição pelos empregos disponíveis. O acesso a diferentes graus de escolaridade
amplia as condições de empregabilidade do indivíduo, o que, entretanto, não lhe
garante emprego, pelo simples fato de que, na forma atual do desenvolvimento
capitalista, não há emprego para todos: a economia pode crescer convivendo com
altas taxas de desemprego e com grandes contingentes populacionais excluídos do
processo (p. 430).

Como efeito, o governo, em resposta às influencias neoliberais, equipa-se para avaliar


o desempenho da educação com instrumentos de avaliação dos produtos, como se fosse
possível pensar a educação sob essa equação mercadológica.
Segundo Maia (2004), em 1996, sob o título Relatório Jacques Delors, a UNESCO se
pronuncia por meio da Comissão Internacional sobre Educação, que o redige, sobre a
Educação para o século XXI. De acordo com o documento, “a mais nova tarefa da escola é
introjetar no aluno o gosto pelo aprender a aprender, ligado à necessidade de sua constante
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qualificação / atualização ao longo de toda a vida para satisfazer às exigências do atual


momento de acumulação do capital”.
Neste sentido, Cardozo (2006) enfatiza as implicações na educação resultantes desse
momento de vivência em um ambiente mundializado, global, neoliberal:
[...] priorizar a formação de mão-de-obra; realocar verbas públicas do Ensino
Superior para a Educação Básica; tornar os direitos universais em educação em bens
semi-públicos; estimular a iniciativa privada; estimular a participação dos pais e da
comunidade nas escolas; capacitar o corpo docente em serviço e, se possível, a
distância; incentivar a concorrência entre as escolas; avaliar a educação em termos
do aprendizado dos alunos; cobrir certos déficits que possam afetar o aprendizado,
através de ações no pré-escolar, assim como em programas de saúde e nutrição
(CARDOZO, 2006).

A educação orientada pelas diretrizes neoliberais, de mercado, desloca-se do campo


social para o político econômico.
Neste sentido, Marrach (1996) ressalta três objetivos relacionados à retórica neoliberal
referente ao papel estratégico da educação:

1. Atrelar a educação escolar à preparação para o trabalho e a pesquisa acadêmica ao


imperativo do mercado ou às necessidades da livre iniciativa. Assegura que o mundo
empresarial tem interesse na educação porque deseja uma força de trabalho
qualificada, apta para a competição no mercado nacional e internacional. [...]
2. Tornar a escola um meio de transmissão dos seus princípios doutrinários. O que
está em questão é a adequação da escola à ideologia dominante. [...]
3. Fazer da escola um mercado para os produtos da indústria cultural e da
informática, o que, aliás, é coerente com a ideia de fazer a escola funcionar de forma
semelhante ao mercado, mas é contraditório porque, enquanto, no discurso, os
neoliberais condenam a participação direta do Estado no financiamento da educação,
na prática, não hesitam em aproveitar os subsídios estatais para divulgar seus
produtos didáticos e paradidáticos no mercado escolar (MARRACH, 1996, p. 46-
48).

A política neoliberal de privatização representa a liberação do Estado para com seus


compromissos no campo social, nele inserida as políticas educacionais.
Finalmente, para Sampaio et. al. (2002) o neoliberalismo indicaria que:

1. Os indivíduos são responsáveis, pois são agentes morais, daí a individualidade, a


racionalidade, o egoísmo. 2. Administração para o gerenciamento = liberdade para
gerenciar. 3.Desgovernamentalização do Estado, o governo estaria atrelado ao
mercado. 4. Nova relação entre governo e conhecimento: governo à distância
(ministérios, secretarias de Estado de educação à distância, etc.). 5. Mercantilização
da democracia (venda de candidatos como produtos da imagem; eleitores tornam-se
consumidores individuais passivos). 6. Socialização das perdas. 7. Desenvolvimento
de uma sociedade empresa: privatização do público, mercantilização da educação e
da saúde. 8. Baixa consciência ecológica, pois o que determina as ações econômicas
é o lucro máximo, não havendo qualquer limite para o crescimento – soluções de
mercado para problemas ecológicos. 9. Nenhum controle nacional sobre o capital.
Este estaria sendo monitorado pelas agências internacionais ‘Globalizadas’: FMI,
BM, Organização Mundial do Comércio. (SAMPAIO et. al., 2002, p. 165-178)
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Assim, os reflexos neoliberais sobre a educação a transforma em uma mercadoria de


mercado. A educação passa a ser um negócio, altamente rentável. Portanto, o direito à
educação passa a ser considerado, na visão de Freitas (1992), “como um serviço definido pelo
mercado”.

Considerações Finais

Na contemporaneidade, o equilíbrio do poder assentado na soberania nacional e o


internacionalismo liberal objetiva o desaparecimento do Estado-nação. Nesta direção, forças
políticas, sociais, econômicas e culturais emergem na direção da promoção de profundas
mudanças culturais dentro dos Estados nacionais, por meio dos quais, os ideais neoliberais na
economia global avançam, não só nas sociedades locais, mas na sociedade mundial.
Com efeito, este movimento mundial caracteriza-se particularmente por um processo
autoritário, absoluto e totalitário, retirando do Estado-nação sua função de agente organizador
das políticas socioeconômicas, bem como sua precípua função de protetor dos interesses
sociais e culturais de sua sociedade.
O processo de desnacionalização do Estado-nação, expresso pelo seu esvaziamento
como agente organizador socioeconômico, político e cultural propiciou impactos e conflitos
multifacetados. As políticas neoliberais de privatização representaram a liberação do Estado
para com seu compromisso no campo social, nele inserida as políticas educacionais.
A educação deixou de ser compreendida como algo espontâneo e inato ao ser humano
e de olhar para o sujeito e a natureza. Passou a ser vista como importante ferramenta para
formar cidadãos como trabalhadores, adaptados aos valores e às formas de organização social
do novo modelo cultural importado dos Estados Unidos.
A partir do surgimento de um novo tipo de Estado no século XIX, pautado nos ideais
liberais, cidadania passa a ter íntima vinculação com o relacionamento entre a sociedade
política e seus membros. O ideário neoliberal diminui a função do Estado. Nesta direção,
reduz sua capacidade de promoção da defesa do indivíduo, bem como, de garantir-lhe uma
vida próspera e com dignidade. O cidadão deixa de ter direitos e passa a ser o agente
responsável por seu desenvolvimento e progresso. Os indivíduos como agentes morais,
expressam o ideário da individualidade, da racionalidade e do egoísmo, fundamentos liberais.
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Observou-se no presente estudo que a responsabilidade de desenvolvimento de uma


vida digna transfere-se do Estado para o cidadão e, por conseguinte, o esvaziamento dos seus
direitos.
Como afirma Bauman (2014): “[...] a recusa a participar do jogo nas novas regras
globais é o crime a ser mais impiedosamente punido, crime que o poder do Estado, preso ao
solo por sua própria soberania territorialmente definida, deve impedir-se de cometer e evitar a
qualquer custo” (p. 231).
Dessa maneira, o processo de internacionalização do Estado Nacional corre solto e as
forças transnacionais que configuraram arranjos federativos de ordem política, social, cultural
e econômica também “ditam o jogo” na educação.
Ao examinar os documentos das instituições internacionais, por meio dos quais são
estabelecidas as diretrizes para a educação, pode-se observar e afirmar que a educação passa a
ser um instrumento político econômico.
Observou-se que o discurso do Banco mundial para com a educação alinha-se ao
discurso neoliberal e como impacto direto a transforma em um instrumento para ajudar a
aumentar a produtividade do mercado de trabalho, sob a falácia de desenvolvimento, redução
da pobreza, paz e estabilidade.
Ainda na perspectiva das instituições internacionais, a Organização Mundial do
Trabalho (OMT), a educação ocupa um lugar central devido ao seu impacto sobre as
capacidades individuais para se adaptar as mudanças e tirar vantagem das oportunidades
trazidas pela globalização.
Conforme o documento “Education policies to make globalization more inclusive”,
pesquisas empíricas mostram que as habilidades cognitivas da população em áreas básicas
como matemática, ciências e leitura são essenciais para o crescimento econômico a longo
prazo. Ainda nesse sentido, defende que o fator das habilidades cognitivas é fundamental para
entender porque alguns países conseguiram prosperar economicamente em tempos de
globalização e outros não. Visando o desenvolvimento econômico, o documento propõe uma
educação de alta qualidade e menos desigual, que atinja os resultados previstos pelos órgãos
internacionais, mensurados por meios de avaliações globais.
À primeira vista é possível achar que educação e cidadania convergem no ideal
neoliberal que se impõe sobre a educação. Porém, uma leitura mais crítica e aguçada permite
inferir que esses documentos enfatizam a importância da educação como ferramenta para o
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desenvolvimento do mercado de trabalho e o progresso da economia; defendem a qualidade


da educação para que os alunos aprendam as competências necessárias para o mercado;
clamam pela igualdade visando atingir as metas colocadas pelos próprios órgãos
internacionais por meio de resultados obtidos em avaliações globais, mas defendem a
meritocracia e o reconhecimento; decorrente disso, continuam falando em criar cada vez mais
sistemas de avaliação; discursam sobre autonomia e participação da sociedade, mas não
questionam o formato da escola tradicional.
Finalmente pode-se concluir que o debate sobre educação e mercado deve continuar
efervescente em busca novos modelos de cidadania, novas ações públicas que resgatem o
sujeito e as identidades sociais, novos modelos de educação que venham de encontro às
necessidades preeminentes na atualidade.
O cidadão, que deveria ser educado para uma visão de interesse geral, referenciada
com direitos humanos na limitação de suas ações, é educado pelo interesse do Estado, hoje
referenciado pelo modelo neoliberal, individualista de interesse particular.
De acordo com Arendt (2013), cabe ao educador cuidar da educação por meio de uma
atitude cuidadosa e diligente, na responsabilidade de ser capaz de – muito mais do que ensinar
conhecimentos – cuidar do mundo. Para tal, mister um olhar crítico às intenções neoliberais
para a manutenção do ideal maior do despertar consciências para a vida de relação e o
desenvolvimento social humano, papel precípuo da educação.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, M. L. P.; BONETI, L. W.; PACIEVITCH, T. Políticas Educacionais e docência


na contemporaneidade: uma análise para além do espaço pedagógico. 1 ed. Curitiba, PR:
CRM, 2015.

ALVES, G. Nova ofensiva do capital, crise do sindicalismo e as perspectivas do trabalho. In:


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