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Primeiras palavras
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O portal da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) registra 1441
dissertações e teses que utilizaram referenciais freireanos, no período 1987 a 2010.
Paulo Freire como administrador público
(...) Mesmo sem ser mais secretário, continuarei junto de vocês, de outra
forma. Vou ficar mais livre para assumir outro tipo de presença. Não
estou deixando a luta, mas mudando, simplesmente, de frente. Onde quer
que esteja estarei me empenhando, com vocês em favor da escola pública,
popular e democrática. (...). Gosto de escrever e de ler. Escrever e ler
fazem parte, como momentos importantes, da minha luta. Coloquei este
gosto a serviço de um certo desenho de sociedade (...) O fundamental,
neste gosto de que falo é saber a favor de quê e de quem ele se exerce. (...)
É um gosto que tem que ver com a criação de uma sociedade menos
perversa, menos discriminatória, menos racista, menos machista que esta.
Uma sociedade mais aberta, que sirva aos interesses das sempre
desprotegidas e minimizadas classes populares e não apenas aos interesses
dos ricos, dos afortunados, dos chamados‘bem-nascidos. (FREIRE, 1991,
p.143 e 144).
A formação de educadores
O planejamento do semestre
Paulo Freire costumava me chamar para um almoço ou um café em sua casa; depois partíamos
para fazer o planejamento. Ele procurava sempre ouvir o que eu estava pensando em relação ao
próximo semestre; discutíamos bastante antes de chegar a uma proposta. Fazia questão de
ressaltar que os nossos desejos, os nossos sonhos de professores seriam confrontados com os
sonhos dos alunos e por isso propunha que a primeira coisa que faríamos em sala de aula seria
discutir a proposta com os alunos. Considerávamos as possibilidades de tratamento da temática,
as avaliações semestrais e as expectativas dos alunos. Procurávamos discutir os nossos desejos,
sonhos em relação às nossas utopias como professores, como docentes do Programa. Esses
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diálogos com Paulo Freire sempre foram muito produtivos, ricos e fraternos.
Conferir “Uma prática docente inspirada no jeito de ser docente de Paulo Freire”, em Revista Rizoma
Freireano (2012).
o seu “fazer docente”, e as suas proposições politico-pedagógicas no tocante à formação de
educadores.
A presença de Paulo Freire na sala de aula prossegue a professora, sempre foi muito
querida, marcante e significativa. A sua atuação na aula era discreta. Apesar de ele saber
que a sua palavra fazia diferença, com humildade autêntica, raramente era o primeiro a
falar. Exercitava assim um dos saberes que em seu último livro apontou como necessários à
prática educativa: “saber escutar” Ouvia a todos atenta e respeitosamente e, quando se
posicionava, ouvíamos sua voz mansa que revelava, porém, uma postura forte que
convidava a pensar.
Esse modo de “ser” e de “fazer” de Paulo Freire, centrados em proposições
fundamentais de sua obra, como: o respeito ao educando, a dialogicidade, a importância de
partir do conhecimento do aluno no processo de ensino aprendizagem, a defesa da
autoridade do professor e não do autoritarismo, a politicidade da educação, inspiraram as
suas reflexões teóricas e as suas propostas práticas quanto à formação permanente dos
educadores, na Secretaria da Educação da cidade de São Paulo.
A formação de educadores, tema amplamente tratado na obra de Freire, sob
diferentes ângulos deriva-se, ao mesmo tempo, de inspirações de sua prática e de suas
análises e construções sobre a questão da docência. Freire discute a docência no conjunto
de sua obra, em meio a uma trama conceitual na qual várias categorias do seu pensamento
se entrelaçam: diálogo, relação teoria-prática, construção do conhecimento, democratização
e politicidade da educação, entre outras. Todavia é, especialmente, nas publicações: Medo e
ousadia - o cotidiano do professor (l987), Professora sim, tia não - cartas a quem ousa
ensinar (1993), A educação na cidade (1991) e, sobretudo, em Pedagogia da autonomia-
saberes necessários à prática docente (1996), seu último livro publicado enquanto vivia,
que o autor sistematiza suas reflexões sobre o tema da formação de educadores.
Formação permanente, para Paulo Freire, implica a compreensão de que o ser
humano é um ser inconcluso e tem sempre a perspectiva de ser mais. Educação
permanente, portanto, não se destina somente aos educandos em momentos de sua
escolarização, mas a todo o ser humano em qualquer etapa de sua existência. A educação
permanente está aliada à compreensão de que ela incide sobre a realidade concreta, sobre a
realidade prática. Daí ao entendimento de que um programa de formação permanente de
educadores exige que se trabalhe sobre as práticas que os professores têm. Dizia Paulo
Freire (1993): A partir da prática que eles [os educadores] têm é que se deve descobrir qual
é a teoria embutida ou quais são os fragmentos de teoria que estão na prática de cada um
dos educadores mesmo que não se saiba qual é essa teoria.
Em Pedagogia da Autonomia, acrescenta:
(...) que reconhece a presença das classes populares como um sine qua
para a prática realmente democrática da escola pública progressista na
medida em que possibilita o necessário aprendizado daquela prática.
Neste aspecto, mais uma vez, centralmente se contradiz antagonicamente
com as concepções ideológico-autoritárias de direita e de esquerda que,
por motivos diferentes, recusam aquela participação. (FREIRE, 1995, p.
103).
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As redes públicas de ensino acompanhadas pelo pesquisador foram: Angra dos Reis-RJ (1994-2000), Porto
Alegre-RS (1995-2000), Chapecó-SC (1998-2003), Caxias do Sul-RS (1998-2003), Gravataí-RS (1997-1999),
Vitória da Conquista-BA (1998 – 2000), São Paulo-SP (2001-2003), Belém-PA (2000-2002), Maceió-AL
(2000-2003), Dourados-MS (2001-2003), Goiânia-GO (2001-2003), Criciúma-SC (2001-2003), Estado do
Rio Grande do Sul (1998-2001) e Alagoas (2001–2003).
formação permanente dos educadores. A opção dessas Secretarias de Educação sinaliza a
construção de políticas curriculares de resistência que partem da contradição vigente na
sociedade contemporânea para a transformação dialógica das realidades vivenciadas.
Na análise das práticas educacionais dessas redes de ensino e, em especial, do
movimento de reorientação curricular, foram encontrados vários aspectos comuns. Dentre
eles, vale destacar a concepção de ensino-aprendizagem, fundamentada na dialogicidade, e
a gestão pedagógica democrática do tempo-espaço escolar.
Pode-se afirmar, também, que as administrações populares, inspiradas na prática de
Freire, estiveram atentas à necessidade de articular processos reflexivos de formação
permanente de educadores às ações dos movimentos de reorientação curricular, com a
perspectiva de promover influências recíprocas, tanto na criação e construção coletiva do
novo fazer escolar, quanto no espaço escolar, entendido como instância político-reflexiva,
lócus de formação para a prática democrática.
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Conferir “O pensamento de Paulo Freire no campo de forças das políticas públicas de currículo: a
democratização da escola” , revista eletrônica e-Curriculum (2011).
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O Programa de Pós-Graduação em Educação / Currículo da PUC/SP iniciou suas atividades de Mestrado em
1975 e de Doutorado, em 1990.
Na Cátedra desenvolve-se uma pesquisa sobre o pensamento e as repercussões da
proposta de Paulo Freire nos sistemas públicos de ensino do Brasil.
São objetivos centrais da pesquisa:
Referências
FREIRE, Paulo. Professora sim, tia não. Cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Editora
Olho D'água, 1993.
MOREIRA, Antonio Flavio (2010). Propostas curriculares alternativas: limites e avanços.
.In: PARAISO, Marlucy Alves (org.). Antonio Flavio Moreira, pesquisador em currículo.
Belo Horizonte: Autêntica, 2010.
SAUL, Ana Maria e SILVA, Antonio Fernando Gouvêa. O legado de Paulo Freire para as
políticas de currículo e formação de educadores no Brasil. Revista Brasileira de Estudos
Pedagógicos. Brasília, v.90, n.224, p.223-244, jan/abr, 2009.
SAUL, Ana Maria (org.). A construção do currículo na teoria e prática de Paulo Freire. In:
Michel Apple e António Nóvoa (org.). Paulo Freire política e pedagogia. Porto: Porto
Editora, 1998.
SAUL, Ana Maria. Paulo Freire: vida e obra de um educador. In: Danilo Streck e outros
(orgs.). Paulo Freire: ética, utopia e educação. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1999.
SAUL, Ana Maria; SILVA, Antonio Fernando Gouvêa da. O pensamento de Paulo Freire
no campo de forças das políticas de currículo: a democratização da escola. In: Revista e-
Curriculum, São Paulo, v.7, n.3, nov./dez. 2011. Disponível em:
http://revistas.pucsp.br/index.php/curriculum/issue/view/525. Acesso em: 01/03/2012.
SAUL, Ana Maria. Uma prática docente inspirada no “jeito de ser docente” de Paulo
Freire. In: Revista Rizoma Freireano, Espanha, v.12, 2012. Disponível em:
http://www.rizoma-freireano.org/index.php/uma-pratica-docente-inspirada-no-jeito-de-ser-
docente-de-paulo-freire-ana-maria-saul. Acesso em: 20/03/2012.