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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Anthony Perevalo Wendler


Celso Turra
Idanir Serigheli Junior

ESTUDO DE FISSURAÇÃO TÉRMICA

DO CONCRETO EM BARRAGENS

CURITIBA
2007
ESTUDO DE FISSURAÇÃO TÉRMICA

DO CONCRETO EM BARRAGENS

CURITIBA
2007
Anthony Perevalo Wendler
Celso Turra
Idanir Serigheli Junior

ESTUDO DE FISSURAÇÃO TÉRMICA

DO CONCRETO EM BARRAGENS

Trabalho de monografia apresentada ao Curso de


Patologias em Construção Civil da Universidade Tuiuti
do Paraná, como requisito parcial para obtenção do
grau de Especialista.
Orientador: Dr. Jose Marques Filho

CURITIBA
2007
TERMO DE APROVAÇÃO
Anthony Perevalo Wendler
Celso Turra
Idanir Serigheli Junior

ESTUDO DE FISSURAÇÃO TÉRMICA DO

CONCRETO EM BARRAGENS

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do grau de Especialista em


Patologias em Obras Civis no Programa de Pós Graduação da Universidade Tuiuti
do Paraná.

Curitiba, 14 de Setembro de 2007.

Orientador: Prof. Dr. José Marques Filho


Departamento de Construção Civil, UFPR, Copel
Prof. convidado do Curso de Pós Graduação em
Patologias em Obras Civis

Coordenadores: Eng. Prof. Luis César S. De Luca, M.Sc. - Consultor Técnico


Coordenador Pós-Graduação Patologia nas Obras Civis
Departamento de Engenharia Civil, UTP

Eng. Prof. César Henrique Sato Daher, Esp.


Coordenador Pós-Graduação Patologia nas Obras Civis
Departamento de Engenharia Civil, UTP
iii

SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................1

1.1. OBJETIVOS .....................................................................................................3


1.1.1. Objetivo Geral.........................................................................................3
1.1.2. Objetivo Específico .................................................................................3
1.2 JUSTIFICATIVAS ..............................................................................................4
1.2.1 Justificativa Tecnológica..........................................................................4
1.2.2 Justificativa Econômica ...........................................................................5
1.2.3 Justificativa Social ...................................................................................6
1.2.4 Justificativa Ambiental .............................................................................7
1.3. ESTRUTURA DO TRABALHO .........................................................................7

2. RETRAÇÃO TÉRMICA EM BARRAGENS DE CONCRETO...............................9

2.1. BARRAGENS DE CONCRETO ........................................................................9


2.1.1. Conceito .................................................................................................9
2.1.2. Histórico e Evolução do Concreto Massa .............................................13
2.1.3. Causas da Fissuração em Barragens...................................................16
2.2. RETRAÇÃO TÉRMICA ...................................................................................18
2.2.1. Conceito ...............................................................................................18
2.2.2. Determinação das Tensões Térmicas ..................................................20
2.2.3. Fatores que Influenciam o Fenômeno ..................................................22
2.2.3.1. Restrição ................................................................................23
2.2.3.2. Propriedades Térmicas...........................................................24
2.2.3.3. Capacidade de AlongamentO .................................................26
2.2.3.4. Temperaturas .........................................................................26
2.2.3.5. Dimensões da Estrutura .........................................................28
2.2.3.6. Dissipação do Calor................................................................29
2.2.4. Medidas de Controle da Elevação da Temperatura .............................29
2.2.4.1. Pré-resfriamento do Concreto.................................................29
2.2.4.2. Pós-resfriamento do Concreto ................................................31
2.2.4.3. Redução da Quantidade de Aglomerante (cimento)...............31
2.2.4.4. Camadas de Concretagem .....................................................32
2.2.4.5. Seleção do Aglomerante ........................................................33
2.2.5. Medidas Minimizadoras do Efeito Térmico ...........................................34
2.2.5.1. Juntas de Contração...............................................................34
2.2.5.2. Redução da Restrição ............................................................35
2.2.5.3. Aproveitar as Condições Ambientais ......................................35
2.2.5.4. Redução da Velocidade de Dissipação de Calor....................35

3. TRATAMENTO DE FISSURAS DE ORIGEM TÉRMICA ...................................37

3.1. DETECÇÃO DE FISSURAS DE ORIGEM TÉRMICA.....................................38


3.2. TÉCNICAS CONVENCIONAIS DE REPARO.................................................47
3.2.1. Injeção de Fissuras...............................................................................47
3.2.2. Impermeabilização da face montante ...................................................48
3.2.2.1. Manta .......................................................................................49
iv

3.2.2.2. Argamassa Projetada ...............................................................50


3.2.2.3. Concreto a Montante ................................................................52
3.2.3. Pós-tensionamento ...............................................................................52
3.3. MATERIAIS USUAIS DE REPARO ................................................................53
3.3.1. Injeção de fissuras ................................................................................53
3.3.1.1. Materiais à Base Cimentícia .....................................................54
3.3.1.2. Resinas Epóxis.........................................................................55
3.3.1.3. Resinas Poliuretanas................................................................56
3.3.2. Impermeabilização da face Montante ....................................................57
3.3.2.1. Manta .......................................................................................57
3.3.2.2. Argamassa Projetada ...............................................................57
3.3.2.3. Concretamento a Montante ......................................................58
3.3.3. Pós-tensionamento................................................................................58
3.4. EQUIPAMENTOS PARA INJEÇÃO ................................................................58
3.4.1. Equipamentos para Injeção de resina epóxi .........................................59
3.4.2. Equipamentos para Injeção de resina poliuretanas ..............................60

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................63

4.1. CLASSIFICAÇÃO DAS FISSURAS DE ORIGEM TÉRMICAS ........................63

4.2. SUGESTÃO PARA TRABALHOS FUTUROS .................................................66

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................68
v

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 2.1 PLANTA E CORTE LONGITUDINAL DE BARRAGEM DE


CONCRETO À GRAVIDADE ....................................................................................10

FIGURA 2.2 BARRAGEM DE DERIVAÇÃO DO RIO JORDÃO.............................10

FIGURA 2.3 SEÇÃO ESQUEMÁTICA DE BARRAGEM DE CONCRETO À


GRAVIDADE .............................................................................................................12

FIGURA 2.4 BARRAGEM DE SAN MATEO ..........................................................13

FIGURA 2.5 BARRAGEM DE CRYSTAL SPRINGS..............................................14

FIGURA 2.6 DIFERENCIAL DE TEMPERATURA .................................................19

FIGURA 2.7 DISSIPAÇÃO DE CALOR NO CONCRETO ......................................20

FIGURA 2.8 COEFICIENTE DE RESTRIÇÃO PARA FUNDAÇÃO


INFINITAMENTE RÍGIDA..........................................................................................23

FIGURA 2.9 INFLUÊNCIA DA DIFUSIVIDADE DO AGREGADO..........................25

FIGURA 2.10 INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE LANÇAMENTO ....................28

FIGURA 2.11 CONDUTOS NO CONSCRETO PARA PÓS-RESFRIAMENTO .......31

FIGURA 2.12 ELEVAÇÃO DE TEMPERATURA COM INTERVALO DE


CONCRETAGEM ......................................................................................................33

FIGURA 2.13 ELEVAÇÃO DE TEMPERATURA COM TIPO DE CIMENTO............34

FIGURA 3.1 USINA HIDRELÉTRICA DE SALTO CAXIAS NA FACE JUSANTE ..38

FIGURA 3.2 FISSURAS EM GALERIA COM PERCOLAÇÃO DE ÁGUA ..............38

FIGURA 3.3 FISSUARAS MAPEADAS EM BARRAGENS ....................................39

FIGURA 3.4 ESQUEMA DE INSTRUMENTAÇÃO DE U H DE SALTO CAXIAS...44

FIGURA 3.5 INSTRUMENTAÇÃO DA USINA SALTO CAXIAS.............................44

FIGURA 3.6 INSTRUMENTAÇÃO DA USINA SALTO CAXIAS.............................45

FIGURA 3.7 MONITORAMENTO DE FISSURAS COM MEDIDOR DE JUNTA ....45

FIGURA 3.8 EXEMPLO DE INJEÇÃO DE FISSURAS ..........................................48

FIGURA 3.9 EQUIPAMENTO PARA PROJEÇÃO DE ARGAMASSA ...................50

FIGURA 3.10 EQUIPAMENTO PARA PROJEÇÃO DE ARGAMASSA ...................51


vi

FIGURA 3.11 EXECUÇÃO DE ARGAMASSA PROJETADA...................................51

FIGURA 3.12 EXECUÇÃO DE ARGAMASSA PROJETADA...................................51

FIGURA 3.13 EQUIPAMENTO PARA INJEÇÃO DE RESINA EPÓXI ...................59

FIGURA 3.14 EQUIPAMENTO COMERCIAL PARA INJEÇÃO DE RESINA


POLIURETANA .........................................................................................................60

FIGURA 3.15 EQUIPAMENTO PARA INJEÇÃO DE RESINA POLIURETANA EM


GRANDE ESCALA....................................................................................................61

FIGURA 3.16 BICOS PARA LIMPEZA COM ÁGUA PRESSURIZADA E INJEÇÃO


COM RESINAS .........................................................................................................61

FIGURA 3.17 BICOS PARA LIMPEZA COM ÁGUA PRESSURIZADA E INJEÇÃO


COM RESINAS .........................................................................................................62
vii

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 EVOLUÇÃO DOS CONSUMOS DE CIMENTO NO TEMPO................15

TABELA 2 INFLUÊNCIA DO VOLUME DE AGREGADO (BASALTO) NO


COEFICIÊNTE DE DILATAÇÃO TÉRMICA ..............................................................24

TABELA 3 INFLUÊNCIA DOS CONSTITUINTES DO CIMENTO NA GERAÇÃO


DE CALOR ................................................................................................................25

TABELA 4 COEFICIENTE DE TRANSMISSÃO SUPERFICIAL ...........................36


1

1. INTRODUÇÃO

Desde as primeiras aplicações em obras civis o concreto tem apresentado

problemas de fissuração, causados por variações volumétricas de diversas origens:

ciclos de molhagem e secagem, variações de temperatura, reações químicas,

reações minerais, dentre outras (IBRACON, 2005).

O estudo dos efeitos das variações volumétricas de origem térmica é uma das

principais preocupações em barragens de aproveitamentos hidráulicos e suas

estruturas complementares, que possuem grandes volumes de material, cujo calor

gerado pela hidratação do cimento é um importante indutor de fissuras (id., 2005).

A fissuração em tais estruturas está diretamente relacionado à vida útil das

mesmas, pois podem alterar as condições de permeabilidade da face de montante

ou gerar fenômenos de deterioração do material em seu interior (MARQUES FILHO,

2005). Sua presença gera cuidados especiais durante a vida útil através de

monitoração constante, ou pode indicar a necessidade de intervenções nos maciços

de concreto (ICOLD-CIGB, 1997).

O fenômeno térmico no concreto é explicado pelo aumento de temperatura e,

conseqüente, variação volumétrica, gerados pela hidratação do aglomerante. Com o

fluxo de calor do interior da massa de concreto para o exterior, nos períodos

subseqüentes à construção, o concreto contrai-se até equilibrar as temperaturas

com o meio ambiente, mas nessa fase o mesmo ganha rapidamente tanto

resistência como rigidez, gerando tensões de tração que se ultrapassarem sua

resistência à tração, levam à fissuração (IBRACON, 2005).

Se o concreto possuísse a capacidade de deformar-se livremente, as

variações de volume pouco interfeririam, mas o concreto sofre restrições ao

movimento, seja pela fundação, pela geometria da estrutura ou pela armadura. A


2

combinação dos dois, variações volumétricas e restrição, gera tensões que se

maiores que aquelas as quais o material pode suportar, resulta em fissuras

(PAULON, 1987).

Segundo FURNAS (1997) e IBRACON (2005), os principais fatores que

influenciam a retração térmica são: condições climáticas durante a execução,

temperaturas médias da região, temperatura lançamento, quantidade e tipo de

materiais empregados, geometria da estrutura, propriedades do concreto

endurecido, propriedades térmicas e elásticas da rocha de fundação, tipo de cura,

altura das camadas de lançamento e seus intervalos de execução, dimensionamento

de juntas de contração.

Conforme conclusão dos autores, devido a sua importância técnica e

econômica, é fundamental o controle de tais manifestações patológicas, através de

monitoramento e instrumentação adequados, bem como intervenção reparadora

utilizando técnica e produtos que melhor se adaptem a cada caso.

Conforme manual de reparos do BUREAU OF RECLAMATION (1947), para

um sistema de reparo eficiente deve-se: identificar precisamente a causa do

problema, avaliar sua extensão, a necessidade da intervenção, seleção do método

de reparo, preparação do substrato, aplicação do reparo e cura. Algumas fissuras

podem simplesmente ser ignoradas, por manifestarem-se há muito tempo, em

estruturas muito antigas que nada sofreram ou localizadas em partes da estrutura

menos importantes, sem apresentarem indícios de deterioração do material.

Vale lembrar que o fenômeno térmico não é instantâneo, pelo contrário,

dependendo das dimensões e condições de execução, pode levar semanas ou anos

para se manifestar por completo (ICOLD-CIGB, 1997). Conforme conclusão dos

autores, quando detectado um quadro de fissuração que pode ou não ser reparado,
3

a experiência nos mostra que se deve aplicar instrumentação e monitoramento

também nas regiões de fissuração e reparo, verificando se esses são especificados

incorretamente ou implantados em condições desfavoráveis ( superfície seca,

molhada, suja, exposição solar).

Pela grande quantidade de obras de concreto existentes, e pelo elevado

número em construção e planejamento, a questão fissuração técnica é, portanto, um

assunto ainda contemporâneo, do qual depende a manutenção do parque de

barragens existente e é fundamental para a minimização de não-conformidades nos

futuros aproveitamentos hidráulicos.

1.1. OBJETIVOS

1.1.1. Objetivo Geral

Abordar o fenômeno de aparecimento de fissuras de origem térmica em

maciços de concreto destinados a obras de aproveitamentos hidráulicos,

possibilitando ao usuário um roteiro prático, em um primeiro momento, para

identificação e tratamento do problema, baseado em um levantamento bibliográfico

substancial.

1.1.2. Objetivos Específicos

1. Conceituar o fenômeno da fissuração térmica, abordando causas e origens,

mecanismo, fatores que influenciam a retração térmica, medidas de controle;

2. Apresentar os métodos de identificação e monitoramento de fissuras,

técnicas e tipos de instrumentação em maciços, finalidades, aplicabilidade no Brasil;

3. Apresentar as técnicas de reparo disponíveis atualmente, procedimentos,

materiais disponíveis, características técnicas, aplicabilidade no Brasil;


4

1.2 JUSTIFICATIVAS

1.2.1 Justificativa Tecnológica

Conforme estudos da ELETROBRÁS (2002), especialistas do ministério

das Minas e Energia prevêem que deve ser realizado um aumento na capacidade de

geração de energia de aproximadamente 45 % entre os anos de 2000 – 2009 com

relação à capacidade de geração instalada em 1999. Considerando que nos

mesmos estudos realizados pela ELETROBRÁS (2002) consta a informação de que

90 % da energia gerada no país provém de usinas hidrelétricas, conclui-se que deve

ser realizado um aumento proporcional no número de barragens (ICOLD-CIGB,

1997).

Porém, como é de conhecimento geral, o Brasil não vem executando

investimentos significativos em infra-estrutura, inclusive no setor de energia

conforme obras e licitações apresentadas pela ANEEL (2006), onde se pode

comprovar a desaceleração de novas obras de usinas hidrelétricas, apesar de sua

importância para o desenvolvimento do país. Nos últimos anos estamos encontrando

dificuldades com o abastecimento de energia, onde empresas e fábricas são

obrigadas a possuir grupos geradores para complementar a energia necessária para

seu funcionamento em horários de pico. Caso este quadro de estagnação não sofra

uma drástica mudança, o país sofre um sério risco de sofrer racionamento de

energia nos próximos anos, como em 2001 (ANEEL, 2006).

Portanto, manter em operação o parque gerador existente com o máximo

da sua capacidade e eficiência é essencial para o futuro do país.

Devido à grande competitividade do concreto, seja devido ao seu preço, ao

seu rendimento, à sua eficiência ou à sua durabilidade, este material vem sendo

muito utilizado na execução de barragens nas últimas décadas, através de


5

diferentes tecnologias, porém na maioria utilizando o conceito de “concreto massa”.

Devido ao grande calor de hidratação do cimento utilizado no concreto,

principalmente quando utilizado em grandes quantidades, é muito comum o

surgimento de fissuras por retração nas peças (ICOLD-CIGB, 1997).

O fenômeno da fissuração térmica já é muito conhecido e estudado,

inclusive pode e deve ser levado em consideração no momento do cálculo estrutural,

da definição da técnica construtiva e da dosagem do concreto em obras com grande

consumo de cimento. Em estruturas convencionais de edificações o fenômeno

também deve ser levado em consideração em peças com volumes expressivos

como sapatas e blocos de grandes dimensões, radiers, paredes de grande porte

(IBRACON, 2005).

Entretanto, ultimamente, o controle destas manifestações patológicas está

sendo relegada a segundo plano, inclusive na formação de novos engenheiros,

sendo o assunto pouco abordado na maioria dos cursos de graduação (id.,2005).

1.2.2 Justificativa Econômica

O estudo e o conhecimento do mecanismo de manifestação das fissuras

térmicas, assim como a instrumentação e monitoramento das barragens e criteriosa

avaliação dos resultados, têm significância econômica devido à otimização da

aplicação dos recursos do poder público, principalmente quando os problemas

estruturais são detectados em idades precoces, sendo realizadas intervenções

programadas segundo um cronograma físico-financeiro nos momentos apropriados,

diminuindo os custos de manutenção das barragens e o risco de uma ruína (ICOLD-

CIGB, 1997).

Outra justificativa econômica destacável é a possibilidade de ser

necessário diminuir ou até paralisar a operação das barragens caso a fissuração


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térmica chegue a ponto de ameaçar sua estabilidade estrutural. Neste caso, todo o

sistema nacional de geração de energia necessitaria, provavelmente, ser

reorganizado para suprir a demanda que deixou de ser produzida, com risco de não

ser possível esta manobra, podendo ocorrer racionamento de energia. Além disto, o

poder público terá que arcar com o custo de uma grande intervenção para

restabelecer as condições de estabilidade da estrutura ou até de reconstrução

parcial em um caso extremo ruína (id., 1997).

Também não dever ser menosprezado o custo econômico da água

passante pelas fissuras, que poderia agregar valor pela geração de energia ou pelo

fornecimento para consumo humano, industrial ou agro-pecuário.

1.2.3 Justificativa Social

Várias barragens utilizando “concreto massa” no Brasil são construídas em

regiões mais pobres como, por exemplo, a região Nordeste, sendo que muitas delas

são planejadas para armazenamento de água para utilização em períodos de

estiagem, e outras tantas são utilizadas para armazenar água para gerar energia e

conseqüentemente alimentar as residências, comércios, empresas e indústrias,

gerando conforto e empregos para a população.

A redução de custos com manutenção da infra-estrutura pública

propiciada pelo melhor monitoramento e estudo das fissuras térmicas reverte em

benefícios sociais, pois o valor economizado com manutenção pode ser aplicado

em outras prioridades públicas de cunho relevante, ou ainda, para aumentar o

parque gerador, suprindo as necessidades sócio-econômicas do país..

Outra justificativa social é o desconforto e a desconfiança gerada entre a

administração do empreendimento, o poder público e a população caso o

aparecimento de fissuras térmicas sejam veiculados na mídia, ainda que as


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mesmas estejam controladas, muitas vezes podem gerar sensação de insegurança

na comunidade.

1.2.4 Justificativa Ambiental

A implantação de uma barragem em um determinado local, apesar de

todos os estudos, planejamentos, projetos, precauções e medidas mitigadoras

tomadas, sempre causa impactos ao meio ambiente, que normalmente são

calculados e absorvidos pela natureza no decorrer do tempo de sua construção e

operação, ou compensado adequadamente com a anuência da sociedade

organizada.

Uma barragem onde haja manifestação de fissuras térmicas pode chegar

à ruína caso estas não sejam identificadas, monitoradas e tratadas quando

necessário. Na realização dos estudos dos impactos ambientais devem ser

adotadas medidas preventivas para a hipótese da ruína da estrutura e caso esta

venha à ocorrer os danos ao entorno serão enormes.

Dentre a mitigação do impacto sócio-ambiental, é necessário fornecer à

sociedade a certeza de existência de monitoramento e controle adequado das

possíveis patologias, diminuindo o risco percebido pela comunidade envolvida.

1.3. ESTRUTURA DO TRABALHO

A presente monografia é estruturada em quatro capítulos, conforme segue:

Capítulo 1: Apresenta de maneira abrangente o assunto a ser abordado, cita

os objetivos geral e específico, as justificativas e estrutura do trabalho.

Capítulo 2: Fenômeno da retração térmica em barragens de concreto massa,

detalhado em duas etapas, iniciando com conceito de barragens, histórico e

evolução do concreto massa, causas de fissuração, e após a conceituação do


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fenômeno térmico, variações volumétricas e tensões geradas, fatores influentes,

medidas de controle de elevação de temperatura e medidas mitigadoras.

Capítulo 3: Tratamento de fissuras de origem térmica em tais estruturas de

concreto, iniciando por métodos de identificação do problema, através de

mapeamento e instrumentação, principais técnicas de reparo e materiais

empregados, monitoramento do reparo.

Capítulo 4: Considerações finais, apresenta uma classificação das fissuras

de origem térmica segundo sua relevância e sugestões para trabalhos futuros.


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2. RETRAÇÃO TÉRMICA EM BARRAGENS DE CONCRETO

Este item apresenta, através de conceitos gerais e breve levantamento

histórico, as barragens de concreto, como as principais estruturas em obras de

aproveitamentos hidráulicos e também as mais suscetíveis à fissuração térmica.

Na seqüência, aborda-se detalhadamente o fenômeno da retração térmica,

seu mecanismo, noções das tensões atuantes, fatores influentes e medidas para

seu controle e minimização.

2.1. BARRAGENS DE CONCRETO

2.1.1. Conceito

As barragens de concreto possuem grande aplicação em aproveitamentos

hidráulicos para geração de energia. No Brasil, em virtude da topografia e materiais

disponíveis, existem vários arranjos onde as barragens de concreto à gravidade se

mostraram competitivos. Tais empreendimentos caracterizam-se por possuírem

grandes volumes de material, custo elevado, tempo de realização extenso,

planejamento e dimensionamento complexos e interferências com o meio ambiente.

As Figuras 2.1 e 2.2, exemplificam o conceito de barragens de concreto a

gravidade, mostrando, respectivamente, projeto contendo planta e corte longitudinal,

e foto.
10

FIGURA 2.1: PLANTA E CORTE LONGITUDINAL DE BARRAGEM DE


CONCRETO À GRAVIDADE

FONTE: Projeto executivo da derivação do Rio Jordão (COPEL), apud MARQUES FILHO, 2005

FIGURA 2.2: BARRAGEM DE DERIVAÇÃO DO RIO JORDÃO

FONTE: MARQUES FILHO, 2005

Dentre as principais solicitações atuantes nesse tipo de estrutura, destacam-

se: peso próprio, empuxos de água, percolação de água, variações volumétricas

oriundas da hidratação do aglomerante e condições ambientais, e efeitos sísmicos

(MARQUES FILHO, 2005).


11

Seu comportamento estrutural é simulado através do estudo de seções

transversais em regime elástico, considerando-as com deformações planas, ou,

estudo de blocos em regime elástico, via método dos elementos finitos. Os modelos

de comportamento são bem conhecidos, balizados pela instrumentação e

monitoramento de obras existentes. (CBGB, 1989; CBGB, 1999; SHARMA, 1981;

CREAGER et al., 1965; GRISHIN, 1982; SCHREIBER, 1981; VARLET, 1972;

HANSEN e REINHARDT, 1991; ANDRIOLO, 1998; e PACELLI DE ANDRADE et al.,

1997 apud MARQUES FILHO, 2005). Os critérios de segurança envolvem

verificações quanto à flutuação, tombamento, deslizamento e tensões atuantes.

No desenvolvimento desses empreendimentos deve-se considerar

(MARQUES FILHO, 2005):

• Controle dos efeitos térmicos de hidratação do cimento, através da

redução do consumo de aglomerante, redução de temperatura do

material e colocação de juntas de contração.

• Cuidados com a geometria da estrutura e da fundação, a fim de evitar

fissuras que possam ser potencializadas pelo efeito térmico (ICOLD-

CIGB, 1997).

• Controle de percolação pelo maciço de concreto e suas fundações.

Pode ser feito por cortina de drenagem a montante (furos espaçados

de 2 a 4 m), e cortina de injeção de cimento a montante, na rocha de

fundação, interligada com galerias de drenagem no maciço. Ressalta-

se que a rocha de fundação geralmente é caracterizada como um

material fraturado, face limpeza utilizando-se explosivos.


12

• Estudos de fluência em regiões com variações abruptas das alturas de

concreto colocadas em um mesmo bloco, ou em defasagem

prolongada de altura do topo concretado de blocos adjacentes.

• Estudo dos materiais componentes do concreto para evitar reações

deletérias, destacando as reações álcali-agregado.

• Cuidados com as juntas de concretagem e interface com a rocha, para

se garantir a continuidade das propriedades do concreto e evitar

caminhos preferenciais de percolação. As superfícies que receberão

nova camada de concreto, devem estar livres de impurezas e,

especificamente para a fundação, livre de material degradado e blocos

fraturados soltos. Segundo USBR (1975), pode-se utilizar argamassa

de berço ou concreto fluido para melhorar o contato.

A figura 2.3 apresenta de forma simplificada, uma seção esquemática de uma

barragem de concreto à gravidade, onde pode-se observar os principais

componentes e carregamentos hidráulicos gerados pelo reservatório.

FIGURA 2.3: SEÇÃO ESQUEMÁTICA DE BARRAGEM DE CONCRETO À GRAVIDADE

FONTE: MARQUES FILHO, 2005


13

2.1.2. Histórico e Evolução do Concreto Massa

As primeiras barragens utilizadas na história da humanidade eram executadas

em alvenaria, enrocamento e mistas, mas com a descoberta do cimento portland por

Joseph Aspdin em 1824 (ABCP, 2006), o concreto passou a ser empregado na

construção de barragens. Suas primeiras aplicações foram feitas através de

métodos empíricos baseados em estruturas semelhantes em alvenaria, sem

cuidados especiais quanto ao controle tecnológico do material (MARQUES FILHO,

2005).

A primeira barragem executada unicamente de concreto que se tem registro é

a barragem de San Mateo, nos Estados Unidos da América, construída entre 1887 e

1889, conforme Figura 2.4, porém, a primeira a apresentar dados de controle

tecnológico, especificando-se o tamanho dos blocos e limitando-se a relação a/c, foi

a barragem de Crystal Springs, com 46,2 m de altura, na Califórnia, em 1888

(CBGB, 1989), conforme Figura 2.5.

FIGURA 2.4: BARRAGEM DE SAN MATEO

FONTE: MARQUES FILHO, 2005


14

FIGURA 2.5: BARRAGEM DE CRYSTAL SPRINGS

FONTE: MARQUES FILHO, 2005

Assim, com o desenvolvimento da tecnologia e dos critérios de cálculo, as

barragens quer seja de terra, enrocamento, concreto ou mistas passaram a atingir

alturas e volumes cada vez maiores (CBGB, 1989 apud MARQUES FILHO, 2005).

No Brasil a grande seca vivida no nordeste no final do século XIX levou o

governo imperial a constituir comissão composta por engenheiros para planejar a

construção de barragens. Sendo que a primeira barragem que se tem notícia no

Brasil foi construída em 1884, havendo um incremento muito grande na construção

de barragens destinadas à produção de energia, irrigação e abastecimento de água,

até 1930 (id.,2005).

A construção da Hidrelétrica de Paulo Afonso em 1948 marca o início da

construção de grandes barragens em empreendimentos hidrelétricos, que tem seu

ponto culminante com a construção entre 1975 a 1984, da Usina Hidrelétrica de

Itaipu, a tecnologia na construção de barragens de concreto foi gradativamente

evoluindo, com o desenvolvimento de materiais e aperfeiçoamento da técnica, e

também estudos quanto a permeabilidade e fissuração térmica. O crescente

conhecimento levou ao aprofundamento em estudos sobre a moagem do cimento,

controle de produtos do clínquer, influência da petrografia e granulometria dos

agregados, e processos de cura (ibid.,2005).


15

A evolução do concreto aplicado à obras de grande porte trouxe o conceito de

concreto massa, sendo definido por aquele lançado em grandes volumes e que

necessite de meios especiais para combater a geração de calor e às variações

volumétricas (MEHTA e MONTEIRO, 1994).

TABELA 2.1: EVOLUÇÃO DOS CONSUMOS DE CIMENTO NO TEMPO

DATA APROVEITAMENTO CONSUMO DE CIMENTO (kg/m3)

1900-1930 Média de várias 350


1936 Norris Dam (EUA) 225
1940 Hiwasee Dam (EUA) 168
1954 Pine Flat Dam (EUA) 130
1970 Ilha Solteira (Brasil) 100
1978 Água Vermelha 90
FONTE: MARQUES FILHO, 2005

Houve uma grande preocupação quanto à dosagem do concreto, visando

minimizar a quantidade de aglomerante a fim de coibir o efeito térmico, juntamente

com outras medidas, conforme ilustrado na Tabela 2.1.

Vários materiais cimentícios foram desenvolvidos, como: cinzas volantes,

pozolanas naturais e artificiais, escória de alto forno moída, sílica ativa e agregado

pulverizado, com destaque especial às pozolanas que reagem muito bem com o

hidróxido de cálcio, reduzindo o teor de cimento, a porosidade do maciço e

neutralizando as reações álcali-agregado (MARQUES FILHO, 2005).

Importante marco quanto à evolução do concreto massa no Brasil, foi a

construção da UHE Ilha Solteira. Inúmeras inovações a partir daí surgiram, como a

utilização de cimentos com baixos teores de álcalis e com pozolanas, pozolana

obtida de argila caulinítica, utilização de centrais de resfriamento e produção de

gelo, estudos térmicos utilizando ensaios para caracterização térmica dos materiais

aplicando o método dos elementos finitos (id., 2005).


16

2.1.3. Causas da Fissuração em Barragens

A presença de fissuras em barragens não é incomum, porém é indesejável,

podendo ou não estarem associadas à percolação de água. Sua presença gera

cuidados especiais durante a vida útil através da monitoração constante, ou pode

indicar a necessidade de intervenções nos maciços (ICOLD-CIGB, 1997).

Segundo ICOLD-CIGB (1997), as causas da fissuração podem ser atribuídas

a falhas ou ocorrências na fase de projeto, execução e operação da barragem, e

dosagem do concreto, envolvendo para tanto uma série de fatores a seguir:

• Juntas de contração, hidratação do aglomerante, altura das camadas de

concretagem, restrição, mudanças de seção, assentamentos da fundação,

temperaturas (projeto);

• Tipo e quantidade de cimento, tipo e dimensão máxima do agregado, teor de

água, aditivos (dosagem);

• Temperatura de lançamento do concreto, elevação da temperatura e

resfriamento, velocidade de execução, gradiente de temperatura com o meio,

cura e isolamento, fundação, temperatura do ar e velocidade do vento

(execução);

• Carregamentos hidráulicos, temperatura e composição da água do

reservatório, assentamentos da fundação, reação álcali-agregado,

congelamento-degelo, ação do gelo, ação sísmica, carregamentos térmicos

(operação).

Os principais tipos de fissuras em barragens de concreto são: fissuras devidas à

retração plástica, ataque de sulfatos, reações álcali-agregado e similares, corrosão

da armadura, assentamento do concreto, erros de acabamento, congelamento e

degelo, concretagem em rampa, movimentos da formas, assentamento das


17

fundações, fissuras geradas por carregamentos excessivos ou induzidas

dinamicamente, formação de etringita tardia, alterações volumétricas gerada pelos

fenômenos de origem térmica no concreto (ICOLD-CIGB, 1997; MEHTA e

MONTEIRO, 1994; PAULON, 1987, PACELLI DE ANDRADE et al., 1997).

Segundo IBRACON (2005) entre as fissuras que surgem antes do

endurecimento, ou seja no estado plástico do concreto, destacam-se:

• Assentamento do concreto: os materiais mais finos começam a assentar,

expulsando água e ar, mas os agregados maiores e as armaduras

oferecem restrição a esse deslocamento da massa, resultando em

fissuras;

• Retração plástica: a fissuração é causada pela perda rápida de água na

superfície do concreto, em função da evaporação por altas temperatura e

baixa umidade relativa, ou absorção do agregado, forma ou fundação;

Dentre as fissuras que surgem após do endurecimento, destacam-se:

• Congelamento e degelo: ocorre em climas frios, quando no congelamento

a água nos poros aumenta de volume, criando um panorama de fissuração

e destacamentos de material;

• Retração por secagem ou hidráulica: o concreto perde água de

amassamento por evaporação para o ambiente, em uma velocidade mais

lenta que a retração plástica;

• Reação álcali-agregado: ocorrem reações expansivas entre alguns

agregados reativos e os álcalis do cimento (Na2O e K2O), podendo ser do

tipo álcali-sílica, álcali-silicato ou álcali-carbonato;

• Corrosão das armaduras: fenômeno eletroquímico em que a armadura

expande seu volume. É causado pela despassivação da armadura


18

mediante carbonatação ou ataque de cloretos, cujo mecanismo de

penetração no concreto depende diretamente da sua permeabilidade;

• Retração térmica: será detalhada adiante.

A fissuração em tais estruturas está diretamente relacionada à vida útil das

mesmas, pois podem alterar as condições de permeabilidade da face de montante

ou gerar fenômenos de deterioração do material em seu interior (MARQUES FILHO,

2005).

As manifestações patológicas mais comuns, oriundas da fissuração são:

lixiviação do concreto, podendo reduzir sua resistência; e corrosão das armaduras

através da penetração de agentes agressivos (IBRACON, 2005).

2.2. RETRAÇÃO TÉRMICA

2.2.1. Conceito

O concreto massa está sujeito à elevações consideráveis de temperatura nas

primeiras idades, quando seu módulo de deformação é baixo, em virtude das

reações exotérmicas de hidratação do aglomerante.

A retração térmica ocorre quando após atingir um pico máximo de

temperatura e, expandir seu volume, o concreto contrai-se até equilibrar as

temperaturas com o meio ambiente, atingindo assim a temperatura de equilíbrio.

Mas nessa fase o mesmo ganha rapidamente tanto resistência como rigidez,

gerando tensões de tração que se ultrapassarem sua resistência

à tração, levam à fissuração (IBRACON, 2005).

O diferencial de temperatura pode ser melhor observado na figura 6.


19

FIGURA 2.6: DIFERENCIAL DE TEMPERATURA

temperatura máxima

resfriamento

temperatura média
elevação
anual

temperatura do concreto fresco

FONTE: MARQUES FILHO, 2005

A hidratação segue três processos básicos: a nucleação e crescimento dos

cristais, a interação entre as vizinhanças das fases e a difusão; e pode provocar um

aumento de temperatura, dependendo do tipo de cimento empregado, de até 50º a

60º em condições adiabáticas (IBRACON, 2005).

Em barragens de concreto, na construção ou uso, suas partes estruturais

encontram-se permanentemente em uma situação de troca de energia calorífica por

meio das superfícies de seu contorno (CALMON, 1995 apud IBRACON, 2005). Logo,

o fenômeno está ligado basicamente às restrições quanto às variações volumétricas

de origem térmica e por variações das condições ambientais.

Se o concreto possuísse a capacidade de deformar-se livremente, as

variações de volume pouco interfeririam, mas o concreto sofre restrições ao

movimento, seja pela fundação, geometria da estrutura, concreto das camadas

anteriores colocadas ou armadura, gerando um campo de tensões no concreto, que

pode gerar um panorama de fissuração (PAULON, 1987; CARLSON et al., 1979

apud MARQUES FILHO, 2005).

Tal mecanismo, possui várias propriedades relacionadas: mecânicas, como

resistência à tração, elásticas, como módulo de deformação e coeficiente de


20

Poisson, fluência e capacidade de deformação; e térmicas, como coeficiente de

dilatação térmica, elevação adiabática de temperatura, calor específico, difusividade

térmica e condutividade térmica (MEHTA E MONTEIRO, 1994; FURNAS, 1997;

NEVILLE, 1982).

O processo construtivo de barragens de concreto é complexo, tendo

cronogramas de execução em geral superiores a um ano. Nesse, cada lançamento

efetuado inicia durante o processo de endurecimento o desencadeamento da

geração de calor pela reação de hidratação, recebendo restrições das camadas

anteriores, cada uma com sua característica de resistência, módulo de elasticidade,

coeficientes de fluência que variam com o tempo; e também, gerando continuamente

calor. Como o crescimento da obra, incluem-se novas porções de concreto que

geram calor, bem como as camadas anteriores continuam com calor gerado que

necessita ser dissipado, em sistema cujas condições de contorno mudam

continuamente devido à execução (MARQUES FILHO, 2005).

2.2.2. Determinação das Tensões Térmicas

A avaliação do fenômeno térmico em obras de concreto massa é importante

para que se evite fissuração indesejável, que potencialmente possa modificar as

condições de permeabilidade da face de montante da barragem, ou gerar

fenômenos de deterioração do material em seu interior (MARQUES FILHO, 2005).

FIGURA 2.7: DISSIPAÇÃO DE CALOR NO CONCRETO

ϕ •
ϕ
ϕ

FONTE: PAULON, 1987

Imaginando-se um cubo de volume unitário no interior do maciço de concreto,

em um primeiro estágio, ocorre a elevação da temperatura, quando o concreto ainda


21

é deformável, e esse cubo tende a expandir-se mas é contido pela massa que o

envolve, gerando tensões de compressão.

Em um segundo estágio, ao atingir o pico de temperatura, inicia-se o

resfriamento, quando o concreto é mais resistente e menos deformável, e o cubo

hipotético irá retraindo-se, e havendo qualquer restrição, surgem tensões de tração.

As deformações volumétricas devidas ao efeito térmico podem ser previstas

em cálculos e devem fazer parte do projeto estrutural (PAULON, 1987). Tais

deformações térmicas, causadoras de fissuras, podem ser calculadas pela seguinte

equação:

εF = KA . α . (υL + ∆υeh – υA ) (1)

Onde:

KA = Condição de restrição;

υL = Temperatura de lançamento do concreto;

∆υeh = Elevação adiabática de temperatura;

υA = Temperatura ambiente;

α = coeficiente de expansão térmica do concreto;

εF = capacidade de alongamento do concreto;

Sendo εmáx o alongamento máximo de tração, a condição suportável do

concreto será superada quando εF > εmáx .

εmáx = σmáx / Ec (2)

Sendo σmáx a resistência à tração simples do concreto e Ec o módulo de

elasticidade do concreto.
22

Conforme PAULON (1987), o exame inicial das expressões acima permite

concluir que a tendência de fissuração é minimizada quando:

• A diferença entre o pico de temperatura do concreto e a média anual

for pequena;

• Os valores do coeficiente de expansão térmica do concreto, do módulo

de elasticidade do concreto e o grau de restrição, forem baixos;

• A resistência à tração do concreto for elevada.

O cálculo da temperatura geralmente é feito para a região de máxima

temperatura, porém outras regiões podem ser consideradas, quando a distância da

fundação é muito próxima e o nível de restrição é elevado (IBRACON, 2005).

Em condições reais, há uma redução no valor da elevação adiabática devido

a troca de calor com o ambiente, quando então é considerada a difusividade do

concreto e dissipação pelas faces da estrutura, podendo interferir na velocidade de

troca de calor (ANDRIOLO e SKWARCZYNSKI, 1988).

Os aditivos retardadores de pega diminuem a velocidade de geração de calor,

mas seu efeito é desprezável no cálculo das tensões térmicas (PAULON, 1987).

De maneira geral as fissuras de origem térmica originam-se a partir de

camadas junto à fundação, ou a partir de camadas lançadas sobre concretos antigos

(elevado módulo de elasticidade) (ANDRIOLO e SKWARCZYNSKI, 1988).

2.2.3. Fatores que Influenciam o Fenômeno

Segundo FURNAS (1997) e IBRACON (2005), os principais fatores que

influenciam a retração térmica são: condições climáticas durante a execução,

temperaturas médias da região, temperatura lançamento, quantidade e tipo de

materiais empregados, geometria da estrutura, propriedades do concreto

endurecido, propriedades térmicas e elásticas da rocha de fundação, tipo de cura,


23

altura das camadas de lançamento e seus intervalos de execução, dimensionamento

de juntas de contração.

2.2.3.1. Restrição

As condições de restrição podem ser expressas pelo coeficiente de restrição

(Ka), obtido diretamente da figura 2.8, segundo critério estabelecido pelo ACI 207 .

FIGURA 2.8: COEFICIENTE DE RESTRIÇÃO PARA FUNDAÇÃO INFINITAMENTE RÍGIDA

C
L

Restrição Contínua da Base

1.00 H
Altura Proporcional Acima da Base

90
L/H = 20
10
80
8 6
7 5 4
70
3
60

2
50

40
L/H = 10

30

20

10

0
1.0 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0
Restrição, ka (1.0 100%)

FONTE: MEHTA E MONTEIRO, 1994

O coeficiente de restrição representa a parte de deformação que é impedida

pela fundação ou concretos já endurecidos, e é função da altura H do monolito e seu

comprimento L (PAULON, 1987).


24

2.2.3.2. Propriedades Térmicas

I . Coeficiente de expansão térmica

É a relação entre a variação volumétrica de uma massa de concreto e a

correspondente variação de temperatura, obtido pela resultante de dois coeficientes

de expansão: do agregado e da argamassa.

Como a proporção de agregado em relação à massa de concreto é bastante

grande, cerca de 70%, o coeficiente de expansão depende praticamente do tipo e

quantidade de agregado, conforme ilustrado na tabela 2.2.

TABELA 2.2: INFLUÊNCIA DO VOLUME DE AGREGADO (BASALTO) NO COEFICIENTE DE

DILATAÇÃO TÉRMICA

Relação Coeficiente de dilatação

Cimento/agregado térmica após 2 anos (10-6 / °C)

Pasta pura 18,5

1:1 13,5

1:3 11,2

1:6 10,1

FONTE: PAULON, 1987

II. Elevação adiabática de temperatura

É a elevação de temperatura do concreto em virtude da hidratação do

aglomerante, sem influência de qualquer fator externo (LU, SWADDIWUDHIPONG &

WEE, 2000 apud IBRACON, 2005). Segundo PAULON (1987), depende da

quantidade e tipo de aglomerante, sua composição química e adições.

Os teores de água e cimento, por sua vez, vão depender da resistência

requerida no projeto, agressividade do meio, critérios de durabilidade, características

dos agregados e execução do concreto (ANDRIOLO e SKWARCZYNSKI, 1988).


25

A importância da composição química do aglomerante é atestada na tabela

2.3, em que percentuais maiores de C3S e C3A resultam em maior calor de

hidratação.

TABELA 2.3: INFLUÊNCIA DOS CONSTITUINTES DO CIMENTO NA GERAÇÃO DE CALOR

Constituintes Participação de cada constituinte na

mineralógicos geração de calor (cal/g)

do cimento 3 dias 7 dias 28 dias

C3S 0,98 1,10 1,14


C2S 0,19 0,28 0,44
C3A 1,70 1,88 2,02
C4AF 0,29 0,43 0348
FONTE: PAULON, 1987

Outro fator que afeta a elevação de temperatura está relacionado à finura do

cimento, sendo que quanto mais finas as partículas, mais rápidas serão as reações

de hidratação, considerando não apenas a maior superfície específica, mas a maior

reatividade das pequenas partículas (IBRACON, 2005).

III. Difusividade

Indica a velocidade de dissipação de calor para o ambiente. Depende do tipo

e dimensão máxima do agregado, de acordo com a Figura 2.9.

FIGURA 2.9: INFLUÊNCIA DA DIFUSIVIDADE DO AGREGADO

INFLUÊNCIA DA DIFUSIBILIDADE
25
Elevação de Temperatura (°C)

€ Basalto

23
€ Gnaise

€ Granito
21
Diferença € Quartzito
Temp. Concreto –
Contorno: 0 °C

19 € Cascalho
Intervalo entre (Sílex)
Lançamentos:
7 dias
Cascalho (Quartzo) €
17
0,06 0,09 0,12 0,15 0,18
2
Difusibilidade Térmica (m /dia)

FONTE: MARQUES FILHO, 2005


26

Concretos com maior difusividade iniciam a queda de temperatura em idades

menores e conseqüentemente tendem a apresentar maior tendência à fissuração

(ANDRIOLO e SKWARCZYNSKI, 1988).

2.2.3.3. Capacidade de Alongamento

A capacidade de alongamento ou deformação do concreto é a máxima

deformação que o mesmo apresenta, quando submetido à solicitação de tração

(ANDRIOLO e SKWARCZYNSKI, 1988).

Porém, o concreto possui a característica da fluência que é a capacidade de

deformar-se ao longo do tempo sob carga constante. Esta ocorre com resfriamento

da massa de concreto, logo a capacidade de alongamento é superior a obtida por

uma solicitação rápida.

Segundo o mesmo autor a capacidade de alongamento deverá ser acrescida

por uma parcela devido à fluência.

2.2.3.4. Temperaturas

I. Temperatura de Equilíbrio

Entende-se como temperatura de equilíbrio, de contorno ou do

ambiente, a média das temperaturas de uma certa localização, considerando

variações anuais e diárias (PAULON, 1987).

Para barragens de concreto, na face de montante haverá uma parte submersa,

sujeita ás temperaturas da água, e na face de jusante a incidência da temperatura

do ambiente (id., 1987).


27

Para regiões mais quentes, diminui-se o diferencial térmico entre o pico de

temperatura atingido pelo concreto e a temperatura de equilíbrio, considerando

mesma temperatura de lançamento e elevação adiabática (ibid., 1987).

Logo, em regiões mais quentes reduz-se a necessidade de medidas

minimizadoras de problemas relativos à fissuração térmica. Segundo ANDRIOLO e

SKWARCZYNSKI (1988), o acréscimo de 6º no diferencial térmico equivale a um

incremento de aproximadamente 60 µstrain na solicitação de alongamento de

tração.

Conforme ANDRIOLO e SKWARCZYNSKI (1988), o clima quente pode

causar efeitos indesejáveis no concreto, tanto no estado fresco como no estado

endurecido.

• Aumento do teor de água;

• Perda da trabalhabilidade e adição de água;

• Aumento da velocidade de pega, causando dificuldades no manuseio e

aumentando a possibilidade de juntas frias;

• Aumento de fissuração plástica;

• Redução da resistência face ao aumento do teor de água e nível de

temperatura;

• Aumento de retração hidráulica;

• Redução da durabilidade;

II. Temperatura de Lançamento

Para uma mesma elevação adiabática, temperaturas de lançamento menores,

geram picos de temperatura menores, reduzindo, portanto, o diferencial de

temperatura (PAULON, 1987).


28

A figura 2.10, mostra a diferença entre os gradientes de temperatura em

função da temperatura de lançamento, para um bloco hipotético de concreto sob

duas condições: concretagem diurna (vermelho) e noturna (azul).

FIGURA 2.10: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE LANÇAMENTO

T (˚C)
T máx1

T máx2

∆T1 ∆T2

TL = T1

TL = T2

Idade (dia)

FONTE: IBRACON, 2005

2.2.3.5. Dimensões da Estrutura

Enquanto a estrutura de concreto possuir dimensões reduzidas, o calor de

hidratação dissipa-se facilmente para o ambiente e o pico térmico pode não ser

elevado. Mas aumentando-se as dimensões, dificulta-se a dissipação do calor e

eleva-se o pico térmico, aumentando, portanto, o diferencial de temperatura

(ANDRIOLO e SKWARCZYNSKI, 1988).

O mesmo ocorre com a altura das camadas de concretagem, que resultarão

em maiores picos de temperatura quanto maiores elas forem (ANDRIOLO e

SKWARCZYNSKI, 1988; PAULON, 1987; MARQUES FILHO, 2005).


29

2.2.3.6. Dissipação do Calor

A implementação de galerias de dissipação nos maciços permite uma maior

dissipação do calor para o ambiente, reduzindo portanto o pico térmico. Para efeito

de cálculo, os blocos são considerados com dimensões menores e após cumprir sua

função, as galerias são preenchidas com concretos de enchimento bastante pobres

(PAULON, 1987).

Dependendo da difusividade do concreto, recomendam-se o isolamento

térmico durante a cura para reduzir as velocidades de dissipação de calor e evitar o

choque térmico (IBRACON, 2005).

2.2.4. Medidas de Controle da Elevação da Temperatura

Levando-se em consideração os principais fatores influentes sobre a

fissuração térmica no concreto, nota-se que o pico máximo de temperatura , função

da temperatura de lançamento e elevação de temperatura, é diretamente

proporcional à intensidade das tensões e deformações. Daí a relevância quanto a

sua limitação, interferindo no processo de fissuração e conseqüentemente

durabilidade da estrutura (MARQUES FILHO, 2005)

Os próximos itens apresentam as práticas mais difundidas para o controle de

temperatura:

2.2.4.1. Pré-resfriamento do Concreto

Pode ser obtido, geralmente, por: resfriamento da água de mistura,

substituição de parte da água de mistura por gelo em escamas, ou resfriamento dos


30

agregados graúdos. Estes podem se refrigerados utilizando nitrogênio ou gás

amoníaco (ANDRIOLO e SKWARCZYNSKI, 1988; MARQUES FILHO, 2005).

O sistema de resfriamento utilizando nitrogênio é bastante simplificado, pois

não há muitos componentes como nas instalações frigoríficas usuais. Porém, devido

ao seu alto custo e cuidados para o manuseio, sua aplicação fica restrita a pequenas

produções de concreto (ANDRIOLO e SKWARCZYNSKI, 1988).

Assim, como principal solução para o pré-resfriamento, mantêm-se a

utilização de instalações frigoríficas convencionais, usando somente o gás amoníaco

como refrigerante, o resfriamento de pequenas partículas, como areia, cimento ou

material pozolânico, não possuem aplicabilidade prática, em virtude de dificuldades

técnicas e alto custo (id., 1988).

Conforme PAULON (1987) e (ANDRIOLO e SKWARCZYNSKI, 1988), o pré-

resfriamento pode trazer diversas vantagens:

• O concreto torna-se mais fluido, permitindo redução no teor de água

mantendo a mesma trabalhabilidade, e conseqüentemente diminuindo

o consumo de cimento;

• Maior uniformidade na mistura e minimização dos problemas de clima

quente;

• Aumento de tempos de início e fim de pega, face hidratação mais lenta,

evitando ocorrência de juntas frias e proporcionando economia de

aditivos retardadores de pega;

• Reduções do cronograma devido a possibilidade de camadas de maior

altura e menor quantidade de juntas.


31

2.2.4.2. Pós-resfriamento do Concreto

É obtido através da circulação de um líquido em baixa temperatura

(geralmente água), por meio de tubulações embutidas, foto 2.11, no interior da

massa de concreto. O sistema acelera a remoção do calor nas primeiras idades,

quando o módulo de elasticidade é relativamente baixo (ANDRIOLO e

SKWARCZYNSKI, 1988).

FIGURA 2.11: CONDUTOS NO CONCRETO PARA PÓS-RESFRIAMENTO

FONTE: MARQUES FILHO, 2005

2.2.4.3. Redução da Quantidade de Aglomerante (cimento)

Uma das alternativas é a substituição de parte do cimento por material

pozolânico adequado. Os efeitos de redução de geração de calor podem ser

observados em concretos com diâmetro máximo do agregado de 152 mm, onde a

substituição de 0%, 30% e 50% de cimento, resultou em temperaturas máximas de

23,2º, 19,1º e 16,0º (PAULON, 1987).

Segundo o mesmo autor, minimizar a quantidade do aglomerante,

substituindo-o em parte por material pozolânico, pode levar a redução de

aproximadamente 50% do calor de hidratação.


32

Segundo IBRACON (2005), o uso de sílica ativa é uma das medidas mais

viáveis para redução da temperatura de hidratação, além de reduzir a

permeabilidade e, conseqüentemente, prolongar a durabilidade.

Pode-se também dosar o concreto empregando a dimensão máxima dos

agregados, reduzindo o consumo de aglomerante, devido ao menor teor de água

requerido na mistura.

Segundo MARQUES FILHO (2005), como essas estruturas possuem um

tempo de execução longo, permite que se trabalhe com idades de controle

avançadas entre 90 e 180 dias, propiciando concretos com menor consumo de

cimento.

2.2.4.4. Camadas de Concretagem

Reduzindo-se a altura das camadas de concretagem, obtêm-se reduções na

elevação de temperatura.

Para uma mesma altura de camada, as elevações máximas e diferencial de

temperatura diminuem com o aumento do intervalo de lançamento, mas a partir de

certo valor, o aumento não trará mudanças significativas (PAULON, 1987).

A Figura 2.12 mostra a elevação de temperatura em função da altura das

camadas e intervalo de concretagem, segundo estudo técnico da ABCP 2006, para

concretos não refrigerados.


33

FIGURA 2.12: ELEVAÇÃO DE TEMPERATURA COM INTERVALO DE CONCRETAGEM


16

14 H = 2,250 m

12

∆θ máx (˚C)
10

8 H = 1,125 m

6
H = 0,750 m
4

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
IL (dias)
FONTE: PAULON, 1987

Logo, o intervalo mínimo entre concretagens deve ser aquele suficiente para o

preparo de formas e juntas de concretagem, e o máximo, correspondente àquele

cujo aumento não trará mais benefícios ao controle térmico (MARQUES FILHO,

2005).

Conforme mesmo autor, muitas das especificações de concreto adotam,

quando da ausência de dados ou estudos, para barragens usuais com alturas entre

30m e 120m, camadas de concretagem com altura entre 1,5m e 2,0m, com

intervalos de lançamento ao redor de 3 dias (IBRACON, 1986; IBRACON 1989;

USBR, 1975).

2.2.4.5. Seleção do Aglomerante

Como já visto na Tabela 2.3, o emprego de cimentos com baixos teores de

C3A e C3S, e limitação quanto à sua finura, reduz significativamente o calor de

hidratação.

A Figura 2.13 ressalta a importância de cimentos com baixo calor de

hidratação e pozolânicos na elevação da temperatura.


34

FIGURA 2.13: ELEVAÇÃO DE TEMPERATURA COM TIPO DE CIMENTO

INFLUÊNCIA DO TIPO DE CIMENTO


40
Comum

Elevação de Temperatura (°C)


30
Pozolâmico

20
Baixo calor

10

0
0 2 4 6 8 10 12
Idade (dias)

FONTE: MARQUES FILHO, 2005

2.2.5. Medidas Minimizadoras do Efeito Térmico

2.2.5.1. Juntas de Contração

Como as barragens de concreto são construídas em estruturas monolíticas,

faz-se necessário a introdução de juntas de concretagem (horizontais) e

principalmente juntas de contração (verticais), a fim de acomodar as variações

volumétricas oriundas do resfriamento ou secagem, e facilitar o processo de

execução (ICOLD-CIGB, 1997).

Segundo o mesmo autor, a localização e o espaçamento das juntas depende

das características físicas da estrutura, dos resultados de estudo de temperatura,

métodos de concretagem e tipo de concreto utilizado. Um espaçamento de 12m a

18m tem se mostrado um valor satisfatório para a maioria das barragens

(MARQUES FILHO, 2005).


35

2.2.5.2. Redução da Restrição

É uma medida teoricamente possível mas pouco viável na prática, devido à

natureza do material de fundação, com grande dureza e módulo de elasticidade

semelhante ao concreto (PACELLI DE ANDRADE et al., 1997).

2.2.5.3. Aproveitamento as Condições Ambientais

Pode-se baixar o pico de temperatura através de alterações no cronograma

da obra quanto aos lançamentos do concreto, fazendo-as coincidir com as épocas

de temperaturas mais baixas, como por exemplo, no inverno ou à noite (ANDRIOLO

e SKWARCZYNSKI, 1988).

2.2.5.4. Redução da Velocidade de Dissipação de Calor

Como já visto na tabela 2.2, o emprego de agregados adequados, tanto

petrograficamente quanto em sua granulometria, minimiza consideravelmente a taxa

de dissipação de calor.

No emprego de concretos com alta difusividade, por limitações impostas pela

matéria-prima disponível, faz-se necessário o uso de isolamento para evitar o

choque térmico. Esse vai desde a manutenção das formas de madeira ou de metal,

até a aplicação de materiais como cortiça ou ensolite ou similar à base de borracha

(PAULON, 1987).

A Tabela 2.4 mostra o coeficiente de transmissão superficial para os casos

mais comuns.
36

TABELA 2.4: COEFICIENTE DE TRANSMISSÃO SUPERFICIAL

Coeficiente de transmissão
Tipo de isolamento
Superficial (kcal/m3 .h ˚C)
Concreto - ar 11,6
Concreto – água de cura 300,0
Concreto – madeira - ar 2,6
Concreto – metal - ar 11,6
Concreto – isolante - ar 2,0
FONTE: PAULON, 1987
37

3. TRATAMENTO DE FISSURAS DE ORIGEM TÉRMICA

Este item apresenta levantamento bibliográfico de procedimentos técnicos

utilizados na eventualidade do aparecimento de fissuras de origem térmica em

maciços de concreto destinados a obras de aproveitamentos hidráulicos e suas

estruturas complementares, iniciando pela detecção, passando pelas técnicas

convencionais de reparo e pelos materiais usualmente utilizados, concluindo com as

formas de instrumentação e monitoramento. Este estudo se aplica à situações

genéricas, consistindo em um roteiro prático para o tratamento de fissuras de origem

térmica, que serve como orientação para o início das análises e serviços.

O manual de reparos do Bureau of Reclamation (1996), que vem estudando,

acompanhando e avaliando reparos executados em concreto desde a primeira obra

em concreto realizada nos Estados Unidos em 1903, diz que uma sistemática

apropriada de reparo, que obtém uma solução mais adequada e econômica, deve

conter os seguintes itens:

- determinar a(s) causa(s) do dano;

- avaliar a extensão do dano;

- avaliar a necessidade de reparo;

- selecionar o método de reparo;

- preparar o concreto antigo para receber o reparo;

- aplicar o método de reparo;

- curar o reparo adequadamente.


38

3.1. Detecção de Fissuras de Origem Térmica

O concreto é um material que usualmente apresenta fissuras, geradas

durante a construção, pelos fenômenos termogênicos da hidratação do cimento, por

reações deletérias ou pela aplicação de esforços estruturais (IBRACON, 2005).

As figuras 3.1, 3.2 e 3.3 mostram alguns tipos de fissuras que são comumente

encontradas em estruturas de concreto de barragens.

FIGURA 3.1 - USINA HIDROELÉTRICA DE SALTO CAXIAS – FISSURAS NA FACE DE JUSANTE

FONTE: MARQUES FILHO, 2005

FIGURA 3.2 FISSURAS EM GALERIA COM PERCOLAÇÃO DE ÁGUA

FONTE: MARQUES FILHO, 2005


39

FIGURA 3.3 - FISSURAS MAPEADAS EM BARRAGEM

FONTE: MARQUES FILHO, 2005

Segundo ICOLD-CIGB (1997) uma fissura é a separação do concreto em

duas ou mais partes, e, geralmente, é o primeiro sinal de que a estrutura de concreto

pode estar sendo danificada, s fissuras podem ser individuais, quando ocorrem em

número limitado e podem ser individualmente mensuradas e cadastradas durante

uma inspeção, ou se apresentarem de forma mapeada, quando numerosas fissuras

são visualizadas em uma determinada região de concreto. Uma fissuração

generalizada normalmente significa uma deterioração do concreto.

Segundo ACI Commitee 201 (1980), uma inspeção de fissuras é uma vistoria

da estrutura de concreto com o propósito de localizar, marcar e identificar fissuras, e

de relacionar as fissuras com outras manifestações patológicas existentes a

inspeção deve incluir a descrição dos procedimentos utilizados na mensuração das

fissuras, bem como as condições associadas com a fissuração, como p. ex:

quantidade de água percolada, lixiviação, eflorescência.

Para averiguar a extensão dos danos causados pela fissuração, o manual de

reparos do Bureau of Reclamation (1996) recomenda que seja utilizado um martelo

de geólogo por um experiente profissional que, passando o mesmo sobre a

superfície do concreto e combinando com uma cuidadosa inspeção visual,

facilmente consegue determinar a área comprometida, que deve ser então


40

demarcada. Em alguns casos podem e/ou devem ser utilizados ensaios mais

aprimorados e precisos como medida da velocidade de propagação de ondas ultra-

sônicas.

O mapeamento das fissuras é importante para permitir a análise de possíveis

causas, e para o monitoramento durante os processos de operação da estrutura ao

longo do tempo. Fissuras superficiais podem ser mapeadas utilizando croquis

detalhados, fotografias e projetos fotogramétricos. É importante colocar nas fotos um

objeto com tamanho conhecido para servir de comparação na avaliação das

dimensões das fissuras. Estas informações devem ser guardadas para servir de

base para subseqüentes inspeções. Pode ser traçada uma fina linha ao lado das

fissuras para facilitar a verificação da evolução das mesmas no futuro.

Em áreas submersas, por exemplo, para inspecionar a face de montante

abaixo do nível do reservatório, pode ser utilizada, câmera fotográfica ou de vídeo à

prova de água, ou ainda equipamentos que possam detectar a passagem de fluxo

pelas fissuras (Bureau of Reclamation, 1996).

Segundo ICOLD-CIGB (1997) quando fissuras são detectadas,

inspecionadas, estudadas, mapeadas e monitoradas, a principal questão é: “O que

faremos agora?”.

A resposta para a pergunta depende das conclusões chegadas a respeito de

como e em que velocidades as fissuras estão progredindo, se elas estão

estabilizadas, ou sobre as conseqüências de sua presença na segurança e

durabilidade da estrutura (ICOLD-CIGB,1997).

A segurança de uma obra pode ser afetada pelo aparecimento de fissuras

individuais, porém nem todas as fissuras são determinantes para a presença de não-

conformidades no comportamento estrutural e diminuição da vida útil. Nesta situação


41

deve-se estudar objetivamente, primeiramente do ponto de vista da segurança, que

ação deve ser tomada para, de acordo com ICOLD-CIGB (1997):

- eliminação, se possível, das causas da fissura;

- restaurar as condições de projeto;

- remover e repor o concreto rompido e desagregado;

- impermeabilizar e proteger áreas expostas.

Porém antes de decidir qual o tipo de reparo, o mecanismo da fissuração e as

características e o comportamento das fissuras devem ser completamente

compreendidos. Para auxiliar na decisão são necessários estudos detalhados e

monitoramento das fissuras, assim como de toda a estrutura.

Entretanto, para um monitoramento eficaz da estrutura é necessária que seja

prevista uma adequada instrumentação já na fase de projeto do empreendimento,

uma vez que ROSSO e PIASENTIM (1996) destacam que a função da

instrumentação é estimar a segurança das estruturas e prever possíveis regiões de

risco durante a construção e operação.

CBGB (1996) cita que no período operacional, mesmo após alguns anos de

operação, a instrumentação permite:

- verificar do desempenho geral da barragem comparando com aquele

previsto no projeto;

- caracterizar o comportamento do solo e/ou do maciço rochoso da

fundação e das estruturas de barramento no tempo;

- caracterizar o comportamento das estruturas da barragem em função

da carga hidráulica, condições térmicas ambientais e fator tempo.

Ainda segundo o CBGB (1996), a instrumentação da barragem está

intimamente ligada a vários fatores importantes para construção, operação e


42

manutenção de barragens, sendo que um dos principais é o monitoramento da

segurança da barragem.

Conforme CBGB (1996), da mesma forma que no período de construção,

pode-se dizer que a barragem dotada de projeto bem elaborado será tão mais

segura, em termos construtivos quanto mais próxima estiver das condições

preconizadas em projeto após a execução, durante a fase de manutenção/operação

a segurança estará relacionada à adequada inspeção, ao monitoramento pelos

instrumentos de auscultação apropriados e a operação sendo feita por equipe

treinada para situações de emergência.

A mesma referência cita que os instrumentos utilizados em uma barragem

buscam responder perguntas de projeto e monitorar as condições específicas

desejadas, de forma que existem diversos tipos de instrumentos para a medida das

grandezas físicas necessárias aos estudos.

CBGB (1996) lista como instrumentos que atuam apenas na estrutura de

concreto:

a) pêndulos - mede variações na verticalidade da seção medida;

b) inclinômetros - mede variações na inclinação em determinado ponto do

maciço de concreto;

c) medidores de junta –mede variações na posição relativa entre dois

blocos adjacentes do maciço de concreto;

d) deformímetros - mede variação na deformação de determinado ponto

do maciço de concreto;

e) tensômetros - mede variações na tensão de determinado ponto do

maciço de concreto;
43

f) termômetros - mede variações na temperatura de determinado ponto

do maciço de concreto;

g) medidores de vazão - mede a vazão passante de determinado ponto

do maciço de concreto;

h) células de pressão dinâmica - mede a pressão dinâmica aplicada de

determinado ponto do maciço de concreto;

i) piezômetros de maciço - mede a pressão hidrostática de determinado

ponto do maciço de concreto.

Nesta mesma publicação é sugerida uma combinação de vários instrumentos

para medir cada manifestação patológica entre as mais importantes que devem ser

monitoradas em barragens de concreto, entre elas está a fissuração térmica, onde

se recomenda que seja detectada por termômetros, medidores de junta e

deformímetros, uma vez que a importância no monitoramento deste tipo de

manifestação patológica em barragens de concreto consiste principalmente na

avaliação e verificação do campo de temperaturas no seu interior e em medir a

movimentação das fissuras.

Atualmente são disponíveis e utilizados diversos sistemas de instrumentação

de barragens, podendo ser destacados:

- sistema de medição por princípio elétrico, como por exemplo, o tipo

Carlson (ROSSO e PIASENTIM, 1996);

- sistema de medição por corda vibrante (MUSSI et al. 1999);

- sistema de instrumentação por medição topográfica e ou geodésica

(DONGJIE et al.1999);

- sistema de instrumentação por medição direta (CBGB, 1996);


44

- sistema de instrumentação por fibra ótica (AUFLEGER et al.1999, e

MOSER, 2006).

As figuras 3.4, 3.5 e 3.6 mostram um esquema da instrumentação realizada

na Usina Hidroelétrica se Salto Caxias e fotos da instrumentação.

FIGURA 3.4 ESQUEMA DE INSTRUMENTAÇÃO DA U H DE SALTO CAXIAS

FONTE: MARQUES FILHO, 2005

FIGURA 3.5 INSTRUMENTAÇÃO DA USINA HIDRELÉTRICA DE SALTO CAXIAS

FONTE: MARQUE FILHO, 2005


45

FIGURA 3.6 INSTRUMENTAÇÃO DA USINA HIDROELÉTRICA DE SALTO CAXIAS

FONTE: MARQUE FILHO, 2005

Para o caso das fissuras de origem térmica, além da instrumentação prevista

em projeto, é necessária a instalação de novos instrumentos em pontos

determinados para monitoramento específico do comportamento destas fissuras ao

longo do tempo.

A figura 3.7 mostra um exemplo instrumento de monitoramento instalado em

uma fissura.

FIGURA 3.7 - MONITORAMENTO DE FISSURA COM MEDIDOR DE JUNTA

FONTE: Manual de Reparos do Bureau of Reclamation (1996)


46

Segundo o manual de reparos do Bureau of Reclamation (1996), nem todas

as fissuras devem ser imediatamente reparadas. Muitos fatores necessitam ser

considerados antes que seja tomada a decisão de proceder reparos na estrutura.

Obviamente é necessário o reparo se for afetada a segurança ou a operação segura

da estrutura. Semelhantemente, deve-se realizar reparos se o estado de

deterioração ou a forma como este se agrava reduza a servicibilidade da estrutura

no futuro.

Os serviços que não sejam julgados urgentes devem ser agendados para

datas oportunas, considerando, por exemplo, o nível do reservatório, a necessidade

e capacidade de operação do empreendimento, os fatores climáticos.

Segundo ICOLD-CIGB (1997) se for considerado que a fissuração pode afetar

a estabilidade estrutural da obra deve ser criado um modelo de elementos finitos da

barragem, introduzindo a geometria (localização, comprimento, profundidade e

espessura) e rugosidade das fissuras. Assim o comportamento da estrutura

fissurada poderá ser analisado. Concentrações de tensões e determinadas regiões

escolhidas poderão ser checadas, se os resultados levarem a uma situação crítica,

deve-se escolher uma solução de recuperação ou reforço da estrutura, como injeção

das fissuras com epóxi ou outro composto químico.

Outrossim, se a estabilidade estrutural não está sendo afetada, as fissuras

apenas criaram novas juntas de dilatação que podem ser deixadas livres para

permitir deformações. Nestes casos é conveniente injetar as fissuras com material

elasto-plástico que veda a passagem de água pelo maciço, mas permite relativo

trabalho da estrutura (ICOLD-CIGB, 1997).

Fissuras em barragens em arco são objetos de estudos à parte, pois qualquer

serviço de recuperação das condições de projeto deve ser cuidadosamente


47

analisado em um modelo matemático devido à alta hiperestaticidade de sua

estrutura. Entretanto, nestes tipos de barragens, o fenômeno de aparecimento de

fissuras de origem térmica é pouco observado devido ao relativo pequeno volume de

concreto utilizado em sua construção com relação às suas dimensões, bem como

aos cuidados tomados durante a execução, como construção dividida em blocos,

utilização de pré ou pós-resfriamento, concretagem planejada em períodos

adequados do ano (ICOLD-CIGB, 1997).

Se aparecerem fissuras nas ombreiras da barragem, porém localizadas acima

do limite superior da rocha e que não afetem a segurança da estrutura, estas não

precisam ser reparadas. As fissuras que ciclicamente se abrem e fecham somente

devem ser injetadas se possuírem efeito nocivo à estrutura. Apenas um eficiente

monitoramento com periódicas inspeções normalmente são o suficiente.

Diferentemente, se as fissuras são progressivas e tendem à dividir a estrutura em

duas ou mais partes, é necessário reforço da barragem com concreto estrutural

adicional ou outra medida conveniente (ICOLD-CIGB, 1997).

3.2. TÉCNICAS CONVENCIONAIS DE REPARO

3.2.1. Injeção de fissuras

De acordo com ICOLD-CIGB (1997) a injeção é uma técnica extensamente

utilizada para preencher fissuras em barragens e em casos onde o reservatório não

pode ser rebaixado a injeção pode ser o único método possível de utilização.

O maior propósito das injeções é impedir a passagem de água pelas fissuras

e assim proteger a estrutura da erosão, com o mínimo de desperdiçio e sem precisar

secar ou drenar as fissuras.


48

A figura 3.8 mostra um exemplo de injeção de fissuras.

FIGURA 3.8 EXEMPLO DE INJEÇÃO DE FISSURAS

FONTE: MARQUES FILHO, 2005

As fissuras a serem injetadas devem ser limpas, tendo-se que remover toda a

contaminação e a matéria orgânica possível. Várias técnicas são usadas para

realizar a limpeza, cada uma com um grau de sucesso. A mais utilizada segundo o

manual de reparos do Bureau of Reclamation (1996) é injetar ciclos alternados de ar

comprimido e água até a limpeza. Existem vários relatos de grande sucesso na

limpeza adicionando-se sabão à água a ser injetada, entretanto, a completa

remoção deste produto do interior da fissura pode ser muito penoso e criar mais

problemas do que a sua não adição à água. A utilização de ácidos para a limpeza

interior de fissuras não é recomendada pelo Bureau of Reclamation.

Também, segundo o manual de reparos do Bureau of Reclamation (1996),

quando uma fissura será submetida à injeção de epóxi com função estrutural

normalmente não é utilizada água em sua limpeza. As resinas epóxis aderem ao

concreto úmido, porém a aderência com o concreto seco é muito superior.

3.2.2. Impermeabilização da face à montante

Segundo ICOLD-CIGB (1997) a fissuração do concreto da barragem pode

causar problemas na impermeabilização da face de montante, que podem provocar


49

infiltração de água do reservatório no maciço. Com o tempo isto pode causar

carreamento dos finos do concreto e infiltração no interior da estrutura, afetando a

resistência da mesma. O aparecimento de eflorescências calcárias na face de

jusante pode ser uma indicação disto, não existem alternativas para executar

apenas um selamento ou reparo localizado para solucionar o problema de infiltração

em barragens. A solução então é aplicar uma camada de material impermeabilizante

sobre toda a face de montante. Para isto existem vários materiais que podem ser

utilizados, como os citados nos itens abaixo (ICOLD-CIGB, 1997).

Este método somente pode ser aplicado se a segurança de operação e a

estabilidade estrutural da barragem não foram comprometidas pelas fissuras

existentes, pois ele não tem a capacidade de restaurar as condições originais de

projeto, somente de impermeabilizar a face de montante da barragem para evitar a

percolação de água do reservatório pelo maciço de concreto para que não sejam

causados maiores danos à estrutura (ICOLD-CIGB, 1997).

3.2.2.1. Manta

Segundo ICOLD-CIGB (1997), este método de reparo consiste em aplicar

uma manta flexível na face de montante da barragem para impermeabilizá-la. Neste

caso a manta não deve ser colada diretamente sobre a superfície do concreto.

Normalmente são utilizados perfis de aço colados com resina na face da barragem

na vertical com espaçamento entre 1,50m à 2,00m. Os perfis são providos de

mecanismo contínuo para fixação da manta sob pressão. Elas também funcionam

como drenagens verticais. É executado um coletor perimetral de drenagem que é

conectado com a galeria de drenagem.


50

3.2.2.2. Argamassa projetada

De acordo com ICOLD-CIGB (1997), antes de executar uma argamassa

projetada a face do concreto da barragem deve ser muito bem limpa com martelete

pneumático ou com jato de água pressurizada, o que normalmente é executado, a

espessura camada da argamassa projetada deve ser determinada em função do

carregamento, durabilidade e impermeabilização necessária e pode ser reforçada

com armadura de aço ou com fibras. Algumas vezes torna-se necessário instalar

perfis de aço para proporcionar aderência entre a argamassa e a superfície do

concreto da barragem.

As figuras 3.9 e 3.10 apresentam exemplos de equipamentos utilizados na

projeção de argamassa enquanto as figuras 3.11 e 3.12 exemplificam a aplicação de

argamassa projetada.

FIGURA 3.9 EQUIPAMENTO PARA PROJEÇÃO DE ARGAMASSA

FONTE: Manual de Reparos do Bureau of Reclamation (1996)


51

FIGURA 3.10 EQUIPAMENTO PARA PROJEÇÃO DE ARGAMASSA

FONTE: Manual de Reparos do Bureau of Reclamation (1996)

FIGURA 3.11 EXECUÇÃO DE ARGAMASSA PROJETADA

FONTE: Manual de Reparos do Bureau of Reclamation (1996)

FIGURA 3.12 EXECUÇÃO DE ARGAMASSA PROJETADA

FONTE: Manual de Reparos do Bureau of Reclamation (1996)


52

3.2.2.3. Concreto à montante

De acordo com ICOLD-CIGB (1997), uma nova face de concreto pode ser

executada à montante da existente e fixada a esta com barras de aço. A espessura

da camada de concreto deve ser determinada levando-se em consideração o

método de fixação, o carregamento, a durabilidade e a impermeabilização

necessária. Geralmente o concreto necessita ser reforçado com armadura de aço. O

concreto normalmente é denso e resistente o suficiente para evitar a infiltração de

água na barragem e sua deterioração prematura. O projeto deve prever juntas

verticais para evitar fissuras devido à movimentação térmica. Deve-se considerar

também que o comportamento do concreto da barragem e o novo concreto

executado são significativamente diferentes.

3.2.3. Pós-tencionamento

De acordo com ICOLD-CIGB (1997) barragens que tenham sofrido fissuração

ou deterioração do concreto a ponto de apresentar instabilidade ou infiltrações

excessivas podem ser às vezes reparadas rápida e economicamente usando

tirantes. A técnica de pós-tencionamento é efetivamente utilizada para rápidos e

temporários reparos necessários para evitar uma situação de potencial catástrofe.

Sempre que forem aplicadas altas tenções concentradas em barragens antigas

deve-se considerar a possibilidade de existir defeitos construtivos e que os materiais

empregados na construção não sejam da mesma qualidade dos disponíveis

atualmente..
53

A idéia de ancorar a barragem em sua própria fundação com tirantes foi

sugerida a primeira vez por M. Andre Coyne, um eminente engenheiro francês, em

1932. O princípio consiste em aplicar uma força no topo da barragem, utilizando o

seu peso próprio, em determinadas posições e com determinada amplitude, de

modo a comprimir a estrutura da barragem, transformando-a em bi-apoiada e

diminuindo o módulo do momento fletor aplicado pela água de forma simples e com

a vantagem de ter execução econômica e rápida (BUREAU OF RECLAMATION,

1996).

Originalmente o uso de tirantes em barragens foi desenvolvido com a

intenção de conferir capacidade adicional às mesmas. Após a técnica foi passou a

ser utilizada para recuperação das condições originais de projeto (BUREAU OF

RECLAMATION, 1996).

3.3. MATERIAIS USUAIS DE REPARO

3.3.1. Injeção de fissuras

Segundo ICOLD-CIGB (1997) a seleção do material a ser utilizado na injeção

de fissuras pode ser influenciada pelos fatores a seguir:

- se é uma fissura ou uma junta de dilatação;

- se está se movimentando, qual a amplitude do movimento e qual

a sua freqüência;

- que quantidade e qual a velocidade da água que percola pela

fissura;

- a agressividade da água do reservatório;


54

- a geometria da estrutura, incluindo a espessura do concreto e a

localização de juntas e impermeabilizações;

- a textura do interior da fissura;

- o tamanho da fissura e o tempo de injeção;

- a geometria da fissura, incluindo seu comprimento e sua

inclinação;

- condições ambientais;

- a umidade relativa da fissura e se ela é constante ou variável.

Na teoria não existem razões para as técnicas e materiais utilizados em

injeção de fissuras em concreto não sejam as mesmas utilizadas em injeção de

fissuras em rochas, porém na prática, os materiais utilizados geralmente são à base

de cimentos, silicatos e resinas (BUREAU OF RECLAMATION, 1996).

Materiais à base cimentícia são rígidos e frágeis e não possuem uma garantia

de adesão às paredes da fissura, pois apresentam grande retração e baixa

resistência à tração. Sua alta resistência à compressão nos casos de injeção

normalmente não é solicitada (BUREAU OF RECLAMATION, 1996).

3.3.1.1. Materiais à base cimentícia

Segundo ICOLD-CIGB (1997), materiais cimentícios puros penetram em

fissuras da ordem de 0,2 ou 0,3 mm de espessura, entretanto com adições é

possível reduzir a espessura mínima, porém em casos de espessuras

significativamente pequenas é necessária a utilização de silicatos ou resinas. Muitos

tipos de cimentos podem ser utilizados para injeção, incluindo os micro-cimentos que

vem sendo utilizados com muito sucesso.


55

Existem vários materiais orgânicos que podem ser utilizados em injeções de

fissuras. Eles possuem maior expansividade do que os materiais cimentícios, mas

podem apresentar propriedades não encontradas nos cimentos (BUREAU OF

RECLAMATION, 1996).

3.3.1.2. Resinas epóxis

Segundo o manual de reparos do Bureau of Reclamation (1996), as resinas

epóxis, no processo de cura apresentam uma violenta expansão e um módulo de

elasticidade relativamente alto. Este material prontamente adere com o concreto e

tem a capacidade, quando apropriadamente aplicado, de restaurar as condições

originais da estrutura. Fissuras entre 0,005” (0,127mm) e 0,25” (6,350mm) podem

ser injetadas com epóxis. É difícil ou praticamente impossível injetar fissuras

inferiores a 0,005” (0,127mm) com epóxi, assim como é difícil conter o epóxi em

fissuras superiores à 0,25” (6,350mm) devido a viscosidade em que deve ser

utilizado. Se a resina epóxi é utilizada para restabelecer as condições de projeto da

estrutura e a mesma for submetida a tensões superiores às admissíveis é esperado

que reapareçam fissuras adjacentes à injetada com o epóxi. Em outras palavras, o

epóxi não deve ser aplicado em juntas de dilatação ou trabalho.

Ainda de acordo com o manual de reparos do Bureau of Reclamation (1996)

as injeções de fissuras com resinas epóxis em concreto seco possuem grande

sucesso, e existem várias técnicas especiais sendo desenvolvidas e aplicadas para

a utilização de resinas epóxis como selante e mesmo estruturalmente em fissuras

com presença de água. Estas técnicas e procedimentos especiais são altamente

especializados, e na maioria dos casos tornam-se inviáveis. Em aplicações nos


56

projetos da Reclamation após análise verificou-se que a resina epóxi não se igualou

a outros métodos convencionais com relação à performance ou ao custo

efetivamente.

3.3.1.3. Resinas poliuretanas

De acordo com o manual de reparos do Bureau of Reclamation (1996) as

resinas poliuretanas são usadas para selar e eliminar ou reduzir a infiltração de água

em fissuras e juntas. Elas podem ser injetadas também em fissuras que apresentam

pequenas movimentações. Porém este tipo de material apresenta resistência

relativamente baixa e não pode ser utilizado estruturalmente, com exceção ao

sistema de resina poliuretana com duas partes sólidas. Fissuras com largura inferior

à 0,005” (0,127 mm) não podem ser injetadas com resinas poliuretanas. Até a data

do início da publicação de 1996 a Reclamation não possuía informação de um limite

superior para a utilização de resinas poliuretanas em fissuras em barragens de

concreto. Várias resinas poliuretanas curam em formas flexíveis. Outros sistemas

poliuretanos curam em formas semi-rígidas, com alta densidade e podem ser

utilizados para fins estruturais em determinadas fissuras submetidas à

movimentação. A maioria das resinas poliuretanas necessitam da presença de

alguma forma de água para iniciar a reação de cura e, assim, surge a classificação

de poliuretanos para uso em reparos em concretos com presença de água ou em

ambiente seco.
57

3.3.2. Impermeabilização da face à montante

3.3.2.1. Manta

Segundo ICOLD-CIGB (1997), as mantas normalmente são constituídas de

material a base de PVC e possuem entre 2 e 3 mm de espessura e durante sua

fabricação por extrusão são adicionados entre 100 à 800 g/m² de fibra de poliéster.

As mantas são resistentes à perfuração e ao laceramento e podem ser utilizadas em

comprimentos superiores a 200 m. A maioria das mantas possui boa resistência aos

raios ultravioletas. Existem registros de mantas aplicadas em barragens com

durabilidade superior a vinte anos. A vida útil estimada fica entre 20 e 40 anos,

dependendo do tipo de sistema.

3.3.2.2. Argamassa projetada

Segundo o manual de reparos do Bureau of Reclamation (1996), as

argamassas possuem água, cimento portland e areia. O cimento deve ser do mesmo

tipo do utilizado no concreto a ser reparado. A água e a areia devem ser as com

condições de serem utilizadas em concreto, sendo que a areia deve passar na

peneira nº 16. O traço do cimento e da areia deve ficar entre 1:2 e 1:4, dependendo

da técnica de aplicação. A água a ser adicionada deve ser a mínima para permitir a

aplicação da argamassa, reduzindo a retração.


58

3.3.2.3. Concreto à montante

De acordo com ICOLD-CIGB (1997), o concreto à montante, assim como a

argamassa projetada, não necessita ter características especiais. A sua

especificação depende mais do método de fixação, do carregamento, da

durabilidade e da impermeabilização necessária, levando-se em consideração que

geralmente o concreto necessita se reforçado com adição de armaduras de aço e

que se deve tentar minimizar a diferença de comportamento entre o concreto a ser

executado e o concreto existente na barragem.

3.3.3. Pós-tencionamento

Segundo ICOLD-CIGB (1997) a escolha do sistema de ancoramento dos

tirantes vai depender do carregamento estático e dinâmico necessários para

estabilizar a barragem. A verificação das condições da fundação da barragem e uma

investigação detalhada das condições geológicas e naturais do terreno são

fundamentais na determinação da ancoragem a ser utilizada, os tirantes do sistema

podem ser barras de aço, porém o material mais usual é o cabo de aço. Este é

flexível e tem a vantagem de ser facilmente transportado, armazenado e instalado.

3.4. EQUIPAMENTOS PARA INJEÇÃO

De acordo com o manual de reparos do Bureau of Reclamation (1996), as

resinas podem ser injetadas com vários tipos de equipamentos e podem ser

classificados pelo tipo de material que será injetado.


59

3.4.1. Equipamentos para Injeção de resina epóxi

Em pequenos serviços de reparo podem ser utilizados vários equipamentos

com grande sucesso. Geralmente os dois componentes da resina epóxi são

colocados em um recipiente e misturados antes do início da injeção que é realizada

com equipamentos para pintura com baixa pressão. Como o “tempo em aberto” da

resina epóxi é relativamente curto, este tipo de técnica torna-se crítica a medida que

aumenta o tamanho da fissura a ser injetada (Bureau of Reclamation,1996).

Para grandes serviços de injeção de resina epóxi é necessário equipamento

mais sofisticado onde os dois componentes possam ser depositados separadamente

em reservatórios e insuflados independentemente até o bico de aplicação com

misturador onde os componentes são misturados e injetados. O epóxi utilizado nesta

técnica possui uma baixa viscosidade inicial e um tempo de aplicação rigorosamente

controlado (Bureau of Reclamation,1996).

A figura 3.13 mostra um equipamento para injeção de resina epóxi, onde se

observam dois recipientes para serem depositados os componentes separadamente.

FIGURA 3.13 EQUIPAMENTO PARA INJEÇÃO DE RESINA EPÓXI

FONTE: Manual de Reparos do Bureau of Reclamation (1996)


60

3.4.2. Equipamentos para Injeção de resina poliuretana

Ainda segundo o manual de reparos do Bureau of Reclamation (1996), as

resinas poliuretanas possuem um “tempo em aberto” muito curto após a mistura e

são sempre preparadas e injetadas com múltiplos componentes similarmente com o

equipamento de injeção de resinas epóxis em grande escala. As recomendações do

Reclamation não permitem a injeção que um produto monocomponente puro.

Sempre é necessária uma mistura múltiplo-componentes, seja água + resina ou

resina (componente A) + resina (componente B) que é a mais usada. Os

equipamentos de injeção de poliuretano variam desde os de pequeno porte até aos

de grande capacidade de injeção.

A figura 3.14 exemplifica um equipamento comercial para injeção de resina

poliuretana e a figura 3.15 mostra um equipamento para injeção de resina

poliuretana em grande escala.

FIGURA 3.14 EQUIPAMENTO COMERCIAL PARA INJEÇÃO DE RESINA POLIURETANA

FONTE: Manual de Reparos do Bureau of Reclamation (1996)


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FIGURA 3.15 EQUIPAMENTO PARA INJEÇÃO DE RESINA POLIURETANA EM GRANDE ESCALA

FONTE: Manual de Reparos do Bureau of Reclamation (1996)

Os bicos para injeção existentes comercialmente podem ser utilizados tanto

para resinas epóxis quanto para resinas poliuretanas, assim como para limpeza de

fissuras com água. As figuras 3.16 e 3.17 apresentam alguns tipos de bicos

utilizados em limpeza com água e injeção de resinas.

FIGURA 3.16 BICOS PARA LIMPEZA COM ÁGUA PRESSURIZADA E INJEÇÃO COM RESINAS

FONTE: Manual de Reparos do Bureau of Reclamation (1996)


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FIGURA 3.17 BICOS PARA LIMPEZA COM ÁGUA PRESSURIZADA E INJEÇÃO COM RESINAS

FONTE: Manual de Reparos do Bureau of Reclamation (1996)


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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como visto, a precisa identificação do panorama de fissuração e origem do

problema, neste caso a fissuração térmica, pode determinar o tipo adequado de

intervenção, seja apenas para reduzir a percolação de água pelo maciço ou garantir

sua estabilidade.

Porém, deve-se levar em consideração a necessidade de realização do

tratamento em função da extensão do dano, podendo-se classificar as fissuras

quanto à sua relevância, o que propõe-se neste item final.

4.1. CLASSIFICAÇÃO DAS FISSURAS DE ORIGEM TÉRMICA

Falhas em barragens têm impacto catastrófico em aglomerados populacionais,

propriedades privadas e públicas, localizadas à jusante. Mesmo as barragens de

pequenas proporções devem ser cuidadosamente analisadas e monitoradas, pois

eventuais cenários de instabilidade podem levar à fatalidades ou extensos danos

em propriedades (IDNR, 2003).

Segundo o mesmo autor, baseado nas potenciais conseqüências geradas pelo

colapso de tais estruturas, em áreas a serem inundadas à jusante, pode-se criar

uma classificação de riscos para barragens, conforme escala abaixo:

• Alto risco: colapso resulta em mortes, sérios danos a edifícios residenciais,

comerciais e industriais, serviços públicos, vias de acesso e estradas;

• Significante risco: colapso resulta em danos isolados em edifícios ou

estradas, e interrupção temporária de serviços públicos;

• Baixo risco: colapso resulta em danos a fazendas, áreas agrícolas e vias

locais.
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Após o aparecimento de fissuras de origem térmica, a segurança e integridade

da barragem podem ser afetadas, uma vez que esta sofre ações de pressão de

água, penetração de agentes agressivos, ciclos de congelamento-degelo. Fissuras

abaixo do nível d’água merecem destaque especial, pois sofrem diretamente os

efeitos da percolação de água, podendo ocorrer a retirada dos componentes dos

materiais integrantes do maciço, o que pode leva-lo à ruptura (IDNR, 2003).

Previamente à escolha do tratamento, deve-se realizar uma análise cuidadosa

quanto à estabilidade e integridade da barragem. Os fatores de segurança da

estrutura podem mostrar-se suficientes ou não, gerando várias alternativas como

(ICOLD-CIGB, 1997):

• Simples injeção de fissuras para restaurar a integridade da estrutura;

• Redução das cargas atuantes;

• Redução das solicitações térmicas, através de isolamento;

• Reparo da barragem e modificações de concepção do projeto;

• Descomissionamento da barragem.

Algumas fissuras podem simplesmente ser ignoradas, por manifestarem-se há

muito tempo, em estruturas muito antigas que nada sofreram ou localizadas em

partes da estrutura menos importantes, sem apresentarem indícios de deterioração

do material (ICOLD-CIGB, 1997).

As fissuras de origem térmica surgem aproximadamente em ângulo reto em

relação ao plano da fundação, inicialmente em pequeno número, e podem atingir

profundidades elevadas, chegando até 100 vezes a profundidade da fissura de

retração hidráulica, inclusive secionando toda a estrutura (IBRACON, 2005).


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Considerando-se a complexidade das obras de barragens de concreto,

envolvendo principalmente alto investimento financeiro, pode-se criar uma

classificação das fissuras de origem térmica, quanto à sua relevância.

Tal classificação visa determinar a relevância da fissura sobre a estrutura, no

tocante à segurança, ou seja, integridade do maciço e estabilidade, dependendo

fundamentalmente de sua localização e profundidade. Assim, em condições

financeiras limitadas, pode-se priorizar aquelas fissuras que realmente necessitam

de intervenção.

A exemplo do Manual de Segurança de Barragens (IDNR), as fissuras de origem

térmica em uma barragem podem ser classificadas em níveis, tomando como o de

maior relevância aquele cuja localização da fissura esteja abaixo do nível d’água, na

face de montante, com grande profundidade ou até mesmo passante.

Porém, outros fatores podem ser considerados a fim de se obter uma

classificação mais consistente, entre eles:

• Análise quanto à ocorrência de problemas estruturais face divisão do bloco,

pelo surgimento de fissuras térmicas;

• Abertura das fissuras térmicas, influenciando diretamente a vazão de água

que passa através da mesma. Quanto maior for esta vazão, maior será a

possibilidade de penetração de agentes agressivos e a própria pressão de

água no interior da estrutura;

• Natureza da água do reservatório;

• Análise quanto à integridade do maciço, verificando se há carreamento dos

componentes de material do concreto;

• Evolução das fissuras térmicas com o tempo;

• Avaliação das conseqüências devido a um possível colapso;


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Logo, pode-se complementar a proposta inicial, apresentando a seguinte

classificação de fissuras térmicas quanto à relevância:

• Nível 1: fissuras térmicas localizadas abaixo do nível d’água, na face de

montante, profundidade gera comprometimento estrutural (muito

profundas ou passantes), grande abertura (vazão), colapso resulta em

danos generalizados e mortes;

• Nível 2: fissuras térmicas localizadas abaixo do nível d’água, na face de

montante , grande abertura (vazão), existência de agentes agressivos na

água do reservatório, ocorrência de carreamento dos componentes do

concreto, grande evolução com o tempo;

• Nível 3: fissuras térmicas localizadas abaixo do nível d’água, na face de

montante ou jusante, pequena abertura (vazão), inexistência de agentes

agressivos na água do reservatório, pequena evolução com o tempo;

• Nível 4: fissuras térmicas localizadas acima do nível d’água.

4.2. SUGESTÃO PARA TRABALHOS FUTUROS

Após abordagem geral sobre o fenômeno de fissuração térmica em barragens

de concreto, surgem possibilidades para a realização de futuros trabalhos, entre

elas:

• Levantamento de caso de fissuras com a origem e as medidas tomadas,

verificando eficiência, fornecendo banco de dados dinâmicos para a

comunidade técnica nacional;

• Estudo de eficiência de produtos para injeção;

• Análise de parâmetros mecânicos da interface tratada de fissuras;


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• Detalhamento da classificação proposta, quantificando os fatores

considerados.
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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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