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1872 1884 1927 Década de 1930

As emoções são As reações causam As emoções causam reações Síndrome da adaptação


adaptativas Charles Darwin emoções William James e Carl corporais Walter Cannon, em geral O endocrinologista Hans
publica Expression of Emotion in Lange, trabalhando contraste com James, argumenta Selye propõe que os estressores
Man and Animais, em que separadamente, afirmam que as que as pessoas experienciam levam a reações corporais e que
argumenta que, para muitas reações físicas podem causar estados emocionais que o estresse prolongado pode
espécies, as emoções são emoções. subseqüentemente levam a levar a deficiências no sistema
adaptativas e são programadas respostas fisiológicas. imune. O trabalho de Selye
pelo processo de seleção lança o campo da psicologia da
natural. saúde.
1937 1962 1963 Décadas de 1970 e Década de 1980
As bases neurais da Teoria dos dois Hipótese do feedback 80 Estilos de coping Susan
emoção James Papez fatores Stanley Schachter e facial Com base nos textos de Folkman e Richard Lazarus
Expressões emocionais
apresenta a hipótese de que a Jerome Singer propõem que as Darwin, Silvan Tomkins propõe propõem que a maneira pela
universais Paul Ekman e seus
expressão emocional é mediada emoções são o resultado da que as expressões faciais qual as pessoas manejam o
colegas descobrem que pessoas
por vários sistemas neurais que excitação tisica e da atribuição, desencadeiam a experiência das estresse determina o seu
de culturas diversas reconhecem
formam um circuito (conhecido ou explicação cognitiva, da emoções. impacto. Eles estabelecem uma
expressões faciais semelhantes.
como o •circuito de Papez"). fonte da excitação. distinção entre as estratégias de
Carroll lzard demonstra que os
coping que focalizam a emoção
bebês também manifestam
e aquelas que focalizam a
emoções básicas em suas
solução de problemas.
expressões faciais.
314 GAZZANIGA e HEATHERTON

lliot estava com pouco ma is de 30 anos quando começou a sofrer de fortes


dores de cabeça. Ele era feliz em seu casamento, um bom pai e estava se
saindo bem profissionalmente. Suas dores de cabeça pioraram a um ponto
em que não conseguia mais se concentrar e, então, resolveu procurar seu médico.
Infelizmente, constatou-se que Elliot tinha um tumor, entre os olhos, do tamanho
de uma pequena laranja. Conforme o tumor crescia, empurrava seus lobos frontais
para cima, contra o topo do crânio. Um grupo de hábeis cirurgiões removeu o
tumor benigno , mas, ao fazer isso, não puderam deixar de remover também parte
do tecido circundante do lobo frontal. Embora a cirurgia parecesse a princípio ter
sido um grande sucesso - sua recuperação física foi rápida e ele continuou sendo
um homem inteligente com uma memória soberba - , Elliot mudou de uma
maneira que deixou pasmos os amigos e a família. Ele não sentia mais emoções.
Superficialmente, Elliot parecia um homem sensato, inteligente e encantador,
mas sua vida se transformou em um caos. Ele perdeu o emprego; contra a opinião
da família, embarcou em uma aventura comercial condenada ao fracasso, com um
sócio incompetente; divorciou-se, casou novamente e logo se divorciou mais uma
vez; e assim por diante. Ele era incapaz de tomar as decisões mais triviais e não
conseguia aprender com seus erros. Antes, um homem carinhoso e compassivo, ele
agora era indiferente aos seus problemas, reagindo a eles como se fossem de uma
pessoa a quem ele não dava a menor importância .
O neurologista Antonio Damasio foi solicitado a examinar Elliot para ver se
seus problemas emocionais eram reais e se poderiam ser devidos à cirurgia.
Damasio observou que Elliot apresentava poucas respostas emocionais: "Eu não
enxerguei sequer um toque de emoção em várias horas de conversa com ele:
nenhuma tristeza, nenhuma impaciência, nenhuma frustração com minhas
perguntas incessantes e repetitivas" (Damasio, 1994, p. 45). A equipe de pesquisa
de Damasio mostrou a Elliot uma série de fotos perturbadoras, como de corpos
gravemente feridos, e descobriu que nenhuma delas eliciava nele uma reação
emocional. Elliot não deixava de perceber sua falta de emoção. Ele dizia ter
consciência de que as fotos eram perturbadoras e que, antes da cirurgia, teria uma
Quais são as funções da emoção?
resposta emocional, mas agora não tinha nenhuma.
Quais são os componentes da Imagine como seria a sua vida se você não tivesse quaisquer sentimentos.
experiência emocional?
Como o personagem andróide de Jornada nas Estrelas: A Próxima Geração, o
Como as pessoas controlam ou comandante Data, você seria um ser racional capaz de sensações, percepção,
modificam suas emoções?
pensamento, memória, tomada de decisão e assim por diante, mas não sentiria
Onde, no corpo, se localizam as nenhuma emoção. Que tipo de vida seria essa? Para os seres humanos, toda ação
emoções?
e todo pensamento são coloridos por reações emocionais. Conforme você leu no
O que é o estresse? último capítulo, as emoções são uma fonte essencial de motivação, na medida em
Quais são os efeitos do estresse? que as pessoas procuram objetos e atividades que fazem com que elas se sintam
Que fatores ajudam as pessoas a bem, e evitam fazer ou dizer coisas que fazem com que se sintam mal. As emoções
lidar com o estresse? permeiam a vida humana enquanto as pessoas se apaixonam, têm sucesso e fazem
am izades, mas também estão presentes em episódios dolorosos de que

Década de 1990 Década de 2000 Década de 2000


As funções interpessoais das O cérebro Neurociência afetiva As
emoções Os pesquisadores emocional Pesquisadores técnicas de imagem cerebral
começam a estudar as emoções como Joseph LeDoux permitem aos pesquisadores
que têm função interpessoal, desenvolvem modelos de como estudar o cérebro emocional em
como a vergonha, a culpa e o o cérebro processa as emoções. ação. As emoções dependem da
embaraço, com a idéia de que as D trabalho de LeDoux atividade de estruturas cerebrais
emoções evoluíram para resolver demonstra que a amidala é inter-relacionadas,
problemas adaptativos. especialmente importante para especialmente o sistema límbico
a experiência e a percepção da e o córtex pré-frontal.
emoção.
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 315

gostaríamos de logo esquecer. Às vezes, as nossas emoções podem nos esmagar,


emoção Sentimentos que
co mo quando nos sentimos estressados pelas demandas da nossa época. Quanto
envolvem avaliação subjetiva,
controle temos sobre os nossos estados emocionais7 Este capítulo explora como as processos psicológicos e crenças
emoções influenciam a experiência humana, incluindo de onde elas vêm e como cognitivas.
são experienciadas, e também como as pessoas lidam com emoções negativas humor Estados emocionais
esmagadoras. difusos e duradouros que
influenciam, em vez de
interromper, o pensamento e o
comportamento.
estresse Um padrão de respostas
As emoções são uma parte fundamental da experiência humana. Elas avisam do perigo, criam laços comportamentais e fisiológicas para
entre as pessoas, trazem alegria à vida. No entanto, elas também podem causar problemas. As pesso- lidar com eventos que condizem
as que se sentem excessivamente ansiosas podem sentir medo de conhecer pessoas novas ou até de com ou excedem as capacidades do
sair de casa. Por milhares de anos, as pessoas refletiram sobre por que temos emoções e o que elas organismo.
fazem por nós. Muitos estudiosos viam a cognição e a emoção como coisas separadas, com a emoção
ocasionalmente dominando a razão e fazendo as pessoas agirem de forma impulsiva ou inadequada.
Foi só recentemente que os cientistas psicológicos se dedicaram a tentar entender as emoções. Pes-
quisas importantes estão sendo realizadas em todos os níveis de análise, e a revolução biológica está
produzindo achados muito interessantes sobre como os processos neurais estão envolvidos na expe-
riência da emoção. Estudos de caso de pessoas como Elliot apresentam amplas evidências do papel
de várias regiões cerebrais na produção e regulação das respostas emocionais, e também de como as
pessoas utilizam as informações emocionais.
Quase todo o mundo tem um senso intuitivo do que significa o termo emoção, mas esse tem se
revelado um conceito difícil de definir precisamente. Para os cientistas psicológicos, a emoção (ou
o afeto) se refere a sentimentos que envolvem avaliação subjetiva, processos fisiológicos e crenças
cognitivas. As emoções são respostas imediatas a eventos ambientais, como ser cortado no trânsito
ou receber um belo presente. Convém distinguir a emoção do humor, uma vez que as duas palavras
são empregadas equivalentemente na linguagem cotidiana. O humor consiste em estados emocio-
nais difusos e duradouros que influenciam, em vez de interromper, o pensamento e o comportamen-
to. Muitas vezes, pessoas que apresentam um humor positivo ou negativo não têm idéia de por que
se sentem como se sentem. De acordo com alguns, o humor reflete a percepção que temos de possuir
ou não os recursos pessoais necessários para atender às demandas ambientais (Morris, 1992). Con-
forme as pessoas começam a se sentir esmagadas pelas demandas da vida, seu humor pode se tornar
negativo e elas podem experienciar estresse. O estresse é definido como um padrão de respostas
comportamentais e fisiológicas a eventos que condizem com ou excedem as capacidades do organismo.
Este capítulo considera primeiro as funções da emoção e depois como a emoção é experiencia-
da e regulada. Nós também examinamos as implicações dos processos emocionais para a vida cotidi-
ana. Como as pessoas lidam com, ou manejam, o estresse (coping) tem implicações para a saúde
física e mental. Essas estratégias de coping são discutidas na seção final do capítulo.

DE QUE MANEIRAS AS EMOÇÕES SÃO


ADAPTATIVAS"
O nosso tema de que a mente ajuda a resolver problemas adaptativos é bem ilustrado pela
pesquisa sobre as emoções. Experiências negativas e positivas orientam comportamentos que au-
mentam a probabilidade de o organismo sobreviver e de se reproduzir. As emoções são adaptativas
porque preparam e orientam comportamentos motivados, como correr quando encontramos ani-
mais perigosos. As emoções fornecem informações sobre a importância de um estímulo para os
objetivos pessoais e preparam as pessoas para ações que ajudam na obtenção desses objetivos (Frij-
da, 1994).
Uma vez que os seres humanos são animais sociais, não deve surpreender o fato de que muitas
emoções envolvem uma dinâmica interpessoal. As pessoas ficam magoadas quando ridicularizadas,
zangadas quando insultadas, felizes quando amadas, orgulhosas quando elogiadas, e assim por di-
ante. Além disso, as pessoas interpretam as expressões faciais de emoção para predizer o comporta-
mento dos outros. As expressões faciais oferecem muitas pistas sobre se o nosso comportamento está
agradando os outros ou se provavelmente fará com que eles nos rejeitem, ataquem ou enganem. Quais são as funções da emoção?
Assim, tanto as emoções como as expressões emocionais fornecem informações adaptativas.
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As expressões faciais comunicam emoção


Em 1872, Charles Darwin escreveu Expression of Emotion in Man and Animais, um livro menos
famoso que o seu trabalho de 1859, A Origem das Espécies, mas com uma tese parecida. Darwin
argumentou que as características expressivas eram adaptativas em todas as formas de vida, do
olhar feroz e dentes expostos do cachorro quando está defendendo seu território à face avermelhada
dos humanos quando se preparam para lutar. Ser capaz de dizer quando as pessoas e outras espécies
são ameaçadoras tem um óbvio valor de sobrevivência.
As expressões emocionais são comunicações não-verbais poderosas. Embora existam mais de
550 palavras na língua inglesa que se referem às emoções (Averill, 1980), os humanos conseguen:
comunicar emoções muito bem sem linguagem verbal. Considere os bebês humanos. Como os bebés
não sabem falar, eles precisam comunicar suas necessidades principalmente por ações não-verbais e
expressões emocionais (Figura 10.1). No nascimento, o bebê é incapaz de expressar alegria, interes-
se, nojo e dor. Por volta dos dois meses de idade, os bebês conseguem expressar raiva e tristeza. Aos
seis meses, eles podem expressar medo (Izard e Malatesta, 1987). A importância social das expres-
sões emocionais pode ser vista em bebês de 10 meses, que se constatou sorrirem mais quando as
mães estão olhando para eles (Jones et al., 1991). Assim, na ausência da expressão verbal, as maru-
festações não-verbais de emoção sinalizam estados internos, humor e necessidades. Interessante-
mente, a metade inferior do rosto talvez seja mais importante que a superior para comunicar emo-
ção. Em um clássico estudo realizado em 1927, Dunlap demonstrou que a boca transmite emoções
melhor do que os olhos, especialmente para o afeto positivo (Figura 10.2).
Amanifestação de emoções altera o comportamento em observadores. Por exemplo, as pessoas
evitam aqueles que parecem zangados e se aproximam dos que parecem felizes ou necessitados de
consolo. Mesmo entre os chimpanzés, o sorriso de um macho subordinado para um dominante pode
evitar um ataque potencial. Assim, as emoções fornecem informações para os outros de como as
pessoas estão se sentindo e, além disso, podem estimulá-las a responder de acordo com os desejos e
as necessidades alheios.

Expressões faciais em diferentes culturas Darwin argumentou que o rosto comunica


naturalmente emoções para os outros e que essas comunicações são compreensíveis para todas as
pessoas, independentemente da cultura. Para testar essa hipótese, Paul Ekman e Wallace Friesen
(1975) foram à Argentina, ao Brasil, ao Chile, ao Japão e aos Estados Unidos e pediram a pessoas
que identificassem respostas emocionais apresentadas
em fotografias de expressões faciais. Eles descobriram
que pessoas de todos esses países reconheciam as ex-
pressões como raiva, medo, nojo, felicidade, tristeza e
surpresa. Entretanto, podia ser argumentado que todas
as pessoas testadas nesses países estão extensivamente
expostas às culturas umas das outras e que a aprendiza-
gem, não a biologia, poderia ser a responsável pela con-
cordância cultural cruzada. Então, os pesquisadores via-
jaram para uma remota área da Nova Guiné, muito pouco
exposta a culturas de fora e onde as pessoas recebiam
uma educação formal apenas mínima. Os nativos da Nova
Guiné foram capazes de identificar muito bem as emo-
(e) (f)
ções vistas nas fotos, embora a concordância não fosse
tão alta como nas outras culturas. Os pesquisadores tam-
bém pediram aos participantes da Nova Guiné que exi-
bissem certas expressões faciais; eles descobriram que
estas foram identificadas por avaliadores de outros paí-
ses num nível melhor que o do acaso (Figura 10.3; Ek-
man e Friesen, 1971). Achados de pesquisas posteriores
apóiam a congruência cultural cruzada na identificação
de algumas expressões faciais, mais no caso da felicida-
FIGURA 10.1 Os bebês manifestam emoções distinguíveis e semelhantes às de e menos com referência ao medo e ao nojo (Elfen-
manifestações faciais dos adultos, como (a) alegria, (b) nojo, (e) surpresa, (d) tristeza, (e) bein e Ambady, 2002). Alguns estudiosos acreditam que
raiva e (f) medo. os resultados de consistência cultural cruzada podem
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 317

sofrer vieses de diferenças culturais pelo uso de pala- (a)


vras de emoção e por como as pessoas são solicitadas
a identificar emoções (Russell, 1994). Entretanto, no
geral, as evidências são suficientemente consistentes
para indicar que algumas expressões faciais são uni-
versais e, portanto, provavelmente têm base biológica.

Regras de manifestação e gênero Embora


as emoções básicas pareçam ser expressas da mesma
forma em diferentes culturas, as situações em que elas
são manifestadas diferem substancialmente. As regras
de manifestação governam como e quando as emo-
ções são exibidas. Elas são aprendidas por meio da
socialização e ditam quais emoções são adequadas
numa dada situação. Diferenças nas regras de mani-
festação ajudam a explicar estereótipos culturais, tais
como os dos estadunidenses como barulhentos e anti-
páticos, os britânicos como frios e sem graça, e os fran- (e)
ceses como refinados e esnobes. Isso também pode
explicar por que a identificação de expressões faciais é
muito melhor dentro da mesma cultura do que entre
culturas (Elfenbein e Ambady, 2002).
Existem diferenças de gênero nas regras de ma-
nifestação que orientam a expressão emocional, es-
pecialmente para sorrir e chorar. Geralmente se acre-
dita que as mulheres manifestam emoções mais
prontamente, freqüentemente, facilmente e intensa-
mente do que os homens (Plant et ai., 2000) e as
evidências atuais sugerem que isso é verdade, exceto
pelas emoções relacionadas à dominação (LaFrance
e Banaji, 1992). Existem razões evolutivas para pen-
sarmos que homens e mulheres podem variar em sua
expressividade emocional: as emoções mais estreita-
mente associadas às mulheres são as referentes a re-
lacionamentos interpessoais e a cuidados prestados
F GUft. 10 2 Com base no clássico estudo de Dunlap das expressões faciais, essas
a outros, enquanto as emoções associadas aos homens fotos mostram que a boca, e não os olhos, transmite melhor as emoções. As duas fotos
se relacionam à competitividade, dominação e defen- superiores mostram o rosto original expressando prazer (a) e tristeza (b). Nas fotos inferiores
sividade. Mas só porque é mais provável que as mu- (c, d) as metades inferiores do rosto foram trocadas uma pela outra.
lheres manifestem emoção isso não significa que elas
experienciam as emoções mais intensamente. Embo-
ra as evidências geralmente indiquem que as mulheres relatam emoções mais intensas, isso talvez
reflita normas societais sobre como as mulheres deveriam se sentir (Grossman e Wood, 1993).
Além disso, na moderna sociedade ocidental, as mulheres tendem a articular suas emoções me-
lhor que os homens (Feldman Barrett et ai., 2000) - talvez devido à sua criação - o que poderia
explicar suas descrições mais intensas.

As emoções atendem funções cognitivas


Os cientistas psicológicos estudaram por muitos anos processos cognitivos sem dar considera-
ção a processos emocionais. Estudos sobre tomada de decisão, memória e assim por diante foram
realizados como se as pessoas estivessem avaliando a informação de uma perspectiva puramente
racional. No entanto, as nossas respostas afetivas imediatas surgem rápida e automaticamente, colo-
rindo as nossas percepções no exato instante em que notamos um objeto. Robert Zajonc salienta:
regras de manifestação Regras
"Não vemos simplesmente 'uma casa', vemos uma casa bonita, uma casa feia ou uma casa 'pretensio- cu lturai s que govern am como e
sa" (1980; p.154). Essas avaliações instantâneas subseqüentemente orientam a tomada de decisão, quando as emoções são exibidas.
a memória e o comportamento.
318 GAZZANIGA e HEATHERTON

Além do mais, o humor das pessoas pode alterar


processos mentais. Quando as pessoas estão com bom
humor, tendem a usar o pensamento heurístico (veja o
Capítulo 8), que lhes permite tomar decisões mais rá-
pida e eficientemente. O humor positivo também faci-
lita respostas criativas, elaboradas, a problemas desa-
fiadores e motiva a persistência (Isen, 1993). Durante
a busca de objetivos, os sentimentos positivos sinali-
zam que está sendo feito um progresso satisfatório,
encorajando assim esforços adicionais. Urna teoria re-
cente propõe que níveis aumentados de dopamina
mediam os efeitos do afeto positivo sobre tarefas cog-
nitivas (Ashby et ai., 1999). Segundo essa visão, o afe-
to positivo leva a níveis mais elevados de produção de
dopamina, o que subseqüentemente leva à maior ati-
vação dos receptores de dopamina em outras áreas do
cérebro. Projeções para o córtex pré-frontal, que regu-
la o planejamento comportamental, e para o cingula-
do anterior, que coordena processos controlados, pa-
recem ser cruciais para os efeitos cognitivos vantajosos
do afeto positivo.

Tomada de decisão Você prefere escalar os Al-


pes ou assistir à apresentação de um pequeno grupo
de bailarinos em Paris? Estados emocionais antecipa-
dos são uma fonte importante de informações que
orientam a tomada de decisão (veja o Capítulo 8). Dian-
F URA .3 Pessoas de culturas diferentes concordam amplamente sobre o
significado de diferentes expressões fa ciais. Esses dados indicam que o reconhecimento de te de situações complexas, multifacetadas, as emoções
expressões facia is pode ser universal e, portanto, ter uma base biológica. Aqui o homem está servem como guias heurísticos, fornecendo feedback
expressando (a) fel icidade, (b) tristeza, (c) raiva e (d) nojo. para tomarmos decisões rapidamente (Slovic et ai., no
prelo). Além disso, a emoção parece ter um efeito di-
reto que não depende de processos cognitivos. Por
exemplo, as pessoas podem decidir cancelar uma viagem de avião logo depois de ficar sabendo de
um acidente de avião, mesmo que essa notícia não modifique suas crenças sobre a probabilidade de
seu avião cair. Eventos recentes ou particularmente vívidos têm uma influência especialmente forte
sobre o comportamento. Assim, julgamentos de risco são fortemente influenciados por sentimentos
correntes e, quando as cognições e emoções estão em conflito, as emoções tipicamente têm maior
impacto sobre as decisões (Loewenstein et ai., 2001 ).
Ateoria do afeto-como-informação propõe que as pessoas utilizam seu estado emocional corren-
te para fazer julgamentos e avaliações, mesmo que não estejam cientes da fonte do seu humor
(Schwarz e Clore, 1983). Por exemplo, os pesquisadores pediram a pessoas para avaliarem sua satis-
fação global com a vida, uma questão que envolve considerar uma vida inteira de situações, expec-
tativas, objetivos pessoais e realizações, além de inúmeros outros fatores. Schwarz e Clore observam
que as pessoas não trabalham todos esses elementos para chegar a uma resposta, mas parecem
depender do seu estado corrente de humor. As pessoas que apresentam humor positivo avaliam sua
vida como satisfatória, enquanto aquelas com humor negativo fazem avaliações piores. Aavaliação
que as pessoas fazem de peças de teatro, palestras, políticos e até de pessoas desconhecidas é influ-
enciada por seu humor, que, por sua vez, é influenciado pelo dia da semana, condições meteorológi-
cas, saúde, e assim por diante. O que é interessante, se as pessoas são conscientizadas da fonte de
seu humor (chama-se sua atenção, por exemplo, para o fato de que seu bom humor pode ser causado
pelo lindo dia de sol), seus sentimentos deixam de influenciar o julgamento.
Da mesma forma, vamos lembrar a hipótese do marcador somático de Damasio, discutida no
capítulo sobre a motivação. O sentimento visceral de intuição que temos enquanto meditamos sobre
um evento reflete o conselho do nosso corpo sobre a decisão a tomar. Como tal, os marcadores
somáticos podem ser adaptativos, dirigindo as pessoas para comportamentos associados a resulta-
dos positivos. A ausência de marcadores somáticos poderia ser um dos problemas que o paciente
Elliot, descrito no início do capítulo, tinha para tomar decisões.
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 319

As emoções capturam a atenção Se as emoções são realmente adaptativas, então as


;iessoas deveriam ser especialmente sensíveis às informações emocionais. Na verdade, pesquisas
utilizando uma versão emocional da tarefa de Stroop mostram que os processos cognitivos apresen-
;:am um viés para estímulos emocionais (Williams et ai., 1996). Nesses estudos, os participantes
devem nomear a cor da tinta em que uma palavra está impressa, o que é difícil porque requer que
ignoremos um desejo habitual de dizer a palavra em si. Tipicamente, palavras que são emocional-
mente excitantes (como "perigo") são mais difíceis de ignorar do que palavras neutras (como "lá-
pis"), o que sugere que existe um viés emocional para codificar estímulos afetivos.

As emoções ajudam a memória As pessoas têm melhor memória para eventos ou estímu-
:os que produzem emoção. Pense em sua infância. Que memórias vêm à mente mais rapidamente?
_.\s pesquisas descobriram que as memórias pessoais mais claras e importantes costumam ser as
altamente emocionais. Além disso, consideráveis pesquisas mostram que uma excitação aumentada
melhora a memória numa variedade de tarefas, em várias espécies animais. Por exemplo, criar es-
;resse ou administrar drogas que produzem excitação em ratos leva à formação de melhores memó-
rias (conforme descrito no Capítulo 6).
O vínculo entre emocionalidade e memória foi diretamente testado em um experimento que
utilizou o procedimento de lembrar/ saber, em que os sujeitos são questionados sobre o reconheci-
mento de um item de um experimento anterior. Os sujeitos devem dizer se sentem que o item é
:amiliar, o que é um julgamento de saber, ou se sua recordação do item é acompanhada por um
detalhe sensorial, semântico ou emocional, o que é um julgamento de lembrar. Esse estudo descobriu
que fotografias altamente negativas tendiam mais a ser identificadas como itens de "lembrar" do que
as fotos neutras ou positivas (Ochsner, 2000).

As emoções fortalecem os relacionamentos interoessoais


Na maior parte do século passado, os psicólogos prestaram pouca atenção às emoções inter-
pessoais. Culpa, vergonha e sentimentos semelhantes eram associados ao pensamento freudiano
e, então, não estudados pela ciência psicológica dominante. Mas teorias recentes reconsideraram
as emoções interpessoais com base na necessidade evolutiva dos humanos de pertencer a grupos
sociais. Dado que a sobrevivência era mais fácil para os que viviam em grupo, os que eram expul-
sos tinham menor probabilidade de sobreviver e transmitir seus genes. Segundo essa visão, as
pessoas eram rejeitadas principalmente por drenarem recursos do grupo ou ameaçarem a sua
estabilidade. Assim, os que tentavam enganar os outros, roubar parceiros sexuais ou levar vanta-
gem eram rejeitados. De acordo com isso, as pessoas ficavam ansiosas quando apresentavam
comportamentos que poderiam fazer com que fossem expulsas do grupo. A ansiedade, então,
serve como um alarme que motiva as pessoas a se comportarem segundo as regras do grupo
(Baumeister e Tice, 1990). Essa nova abordagem vê as emoções interpessoais como mecanismos
evoluídos que facilitam a interação interpessoal, ajudando, por exemplo, a amenizar e reparar
transgressões interpessoais.

A culpa fortalece laços sociais Aculpa é um estado emocional negativo associado à ansie-
dade, tensão e agitação. A experiência de culpa, incluindo sua iniciação, manutenção e evitação,
raramente faz sentido fora do contexto da interação interpessoal. Por exemplo, a experiência de
culpa prototípica ocorre quando alguém sente responsabilidade pelo estado afetivo negativo de ou-
tra pessoa. Assim, quando as pessoas acreditam que algo que fizeram causou danos a alguém, direta
ou indiretamente, elas experienciam ansiedade, tensão e remorso, o que pode ser chamado de culpa.
A culpa, ocasionalmente, pode surgir mesmo quando os indivíduos não se sentem pessoalmente
responsáveis pela situação negativa de alguém (como a culpa do sobrevivente).
Um recente modelo teórico de culpa apresenta os seus benefícios em relacionamentos íntimos.
Roy Baumeister e colaboradores (1994) afirmam que a culpa protege e fortalece relacionamentos
interpessoais por meio de três mecanismos. Primeiro, os sentimentos de culpa impedem que as
pessoas façam coisas que prejudicariam seus relacionamentos, como enganar os parceiros, ao mes- r-:,lpa Um esta do em ociona l
negati vo associado a uma
mo tempo em que estimulam comportamentos que fortalecem relacionamentos, como telefonar para experiência int erna de ansiedade,
a mãe aos domingos. Segundo, as manifestações de culpa demonstram que as pessoas se importam t ensão e agitação.
com os parceiros, confirmando assim laços sociais. Terceiro, a culpa é uma tática de influência que
320 GAZZANIGA e HEATHERTON

pode ser usada para manipular o comportamento dos outros. Por exemplo, você pode tentar fazer
com que seu patrão se sinta culpado, para não precisar trabalhar horas extras.

A socialização é crucial para as emoções interpessoais Evidências recentes indicam


que a socialização é mais importante do que a biologia para a maneira específica da criança experien-
ciar culpa. Um estudo a distância examinou o impacto da socialização sobre o desenvolvimento de
uma variedade de emoções negativas, incluindo a culpa, em gêmeos monozigóticos e dizigóticos aos
14, 20 e 24 meses (Zahn-Waxler e Robinson, 1995). O estudo descobriu que todas as emoções nega-
tivas mostravam considerável influência genética (conforme evidenciado por índices mais elevados
de concordância em gêmeos idênticos), mas a culpa se destacava por ser extremamente influenciada
pelo ambiente social. Com a idade, a influência de um ambiente compartilhado sobre a culpa se
tornava mais forte, enquanto as evidências da influência genética desapareciam. Esses achados apói-
am a hipótese de que a socialização é a influência predominante sobre as emoções morais, como a
culpa. Talvez surpreendentemente, o carinho parental está associado à maior culpa nas crianças,
sugerindo que sentimentos de culpa surgem em relacionamentos sadios e felizes. Assim, conforme as
crianças se tornam cidadãs em um mundo social, desenvolvem a capacidade de sentir empatia e
subseqüentemente experienciam sentimentos de culpa quando transgridem contra os outros.

Embaraço e rubor O embaraço é um estado que ocorre naturalmente, tem base ecológica e
geralmente acontece após eventos sociais como violação de normas culturais, perda da pose física.
trotes e ameaças à auto-imagem (Miller, 1996). Algumas teorias do embaraço sugerem que ele reti-
fica o constrangimento interpessoal e restaura laços sociais após uma transgressão. O embaraço
representa submissão e afiliação ao grupo social e um reconhecimento do erro social involuntário.
As pesquisas apóiam essas proposições ao mostrar que os indivíduos que parecem embaraçados após
uma transgressão eliciam mais simpatia, perdão, divertimento e riso nos espectadores (Cupach e
Metts, 1990). Portanto, como a culpa, o embaraço pode servir para reafirmar relacionamentos estrei-
tos após uma transgressão.
Mark Twain disse, certa vez: "O homem é o único animal que fica ruborizado. Ou deveria ficar".
Darwin, em seu livro de 1872, chamou o rubor de "a mais peculiar e a mais humana de todas as
expressões", separando-o assim das respostas emocionais que considerava necessárias para a sobre-
vivência. Teorias e pesquisas recentes sugerem que o rubor ocorre quando as pessoas acreditam que
os outros as vêem negativamente e que o rubor comunica que a pessoa percebeu um erro interpesso-
al. Essas desculpas não-verbais visam a acalmar e eliciar no outro o perdão, o que restaura e mantém
o relacionamento (Keltner e Anderson, 2000).

Ciúme Em seu livro The Dangerous Passion: Why Jealousy Is as Necessary as Lave and Sex, David
Buss (2000) argumenta que o ciúme tem funções adaptativas. Embora ninguém goste de sentir
ciúme e de se sentir ameaçado, Buss afirma que o ciúme é um componente indispensável de um
relacionamento de longo prazo porque mantém os parceiros juntos ao incitar paixão e comprometi-
mento. Buss teoriza que, quando se depara com a possibilidade de um rival sexual, a pessoa sente e
manifesta ciúme como um sinal de comprometimento com a relação. Essa hipótese é apoiada por
pesquisas mostrando que as pessoas que mais investem no relacionamento muitas vezes provocam
ciúme intencionalmente, como um teste do comprometimento do parceiro. Buss também propõe que
o ciúme reaviva a paixão sexual no parceiro ameaçado. Evidentemente, o ciúme tem um lado nega-
tivo. O ciúme é uma das razões mais comuns de abuso e homicídio do cônjuge/ parceiro e, quando
infundado, pode destruir um relacionamento ao expor a falta de confiança. O ciúme sexual será
examinado com mais detalhes no Capítulo 14.

De que maneira as emoções são adaptativas?


As emoções são adaptativas porque provocam um estado de prontidão comportamental. A base evolutiva das
emoções é confirmada por pesquisas sobre o reconhecimento cultural cruzado de manifestações emocionais. As
expressões faciais comunicam significado aos outros e realçam estados emocionais. As emoções ajudam nos
processos de memória ao perm it ir maior atenção e codificação ma is profunda de eventos emocionalmente
relevantes. Emoções positivas e negativas servem como orientação para a ação. As emoções também servem para
reparar e manter relacionamentos interpessoais estreitos.
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 321

COMO AS PESSOAS EXPERIENCIAM AS


EMOÇÕES?
As emoções são difíceis de definir porque desafiam a linguagem. Imagine tentar descrever o
conceito de emoção para um alienígena de outro planeta. O que você diria? Você poderia dizer que
as emoções nos fazem "sentir'', mas o alienígena não compreende a palavra "sentir". Você poderia
demonstrar os comportamentos que acompanham certas emoções, como sorrir, franzir a testa ou
diorar, mas o alienígena não compreende como a água brotando dos olhos está associada a isso que
::hamamos de "emoções". No final, seria como tentar descrever as cores para um cego.
Os psicólogos geralmente concordam que as emoções consistem em três componentes. Existe o
estado de sentimento que acompanha as emoções - a experiência subjetiva à qual psicólogos e leigos
se referem quando perguntam "O que você está sentindo?". Os psicólogos também consideram as
'T!udanças físicas, como aumento em batimentos cardíacos, temperatura da pele ou ativação cerebral,
como parte integral do que constitui uma emoção. Um terceiro componente, as avaliações cognitivas,
envolve crenças e entendimentos das pessoas sobre por que elas se sentem como se sentem.

Existe um componente subjetivo


As emoções são fenomenológicas, o que significa que são subjetivamente experienciadas. Você
sabe quando está experienciando uma emoção porque a sente. Aintensidade das reações emocionais
·:aria; algumas pessoas relatam muitas emoções distintas todos os dias, enquanto outras relatam
apenas reações emocionais raras e de pouca intensidade. As pessoas que são super ou subemotivas
rendem a apresentar problemas psicológicos. Entre as primeiras estão as pessoas com transtornos do Quais são os componentes da
experiência emocional?
~umor como depressão grave ou ataques de pânico. As pessoas com transtornos de humor experien-
ciam emoções tão fortes que chegam a ficar imobilizadas.
No outro extremo, estão aqueles que sofrem de alexitimia, um transtorno em que a pessoa
não experiencia o componente subjetivo das emoções. Elliot, citado no início deste capítulo, sofria
de alexitimia. Aexplicação para o transtorno é que as mensagens fisiológicas associadas às emoções
não atingem os centros cerebrais que interpretam a emoção. Lesões em certas regiões cerebrais,
especialmente no córtex pré-frontal, estão associadas à perda do componente subjetivo do humor.

Auto-relatos Amaneira mais direta de estudar as emoções é simplesmente perguntar às pesso-


as como elas se sentem. Os cientistas psicológicos utilizam auto-relatos de traço e de estado, em que
as pessoas devem relatar como se sentem em geral ou como se sentem neste momento, respectiva-
mente. Os questionários são o método mais popular de auto-relato porque não requerem nenhum
rreinamento ou habilidade especial e podem ser aplicados rapidamente a muitas pessoas de cada
vez. As entrevistas são outra forma de auto-relato. As entrevistas geralmente são realizadas em
ambientes clínicos porque estes permitem uma análise mais profunda do estado emocional da pes- alexitimia Um transtorno que
soa. Elas são mais úteis quando a amostra total a ser avaliada é pequena e quando os relatos emoci- leva à ausência da experiência
subjetiva da emoção.
onais são obtidos para um propósito específico (como avaliar a possibilidade de suicídio).
emoções primárias Emoções
evolutivamente adaptativas que são
Distinguindo tipos diferentes de emoção Quantas emoções podemos sentir e como compartilhadas por todas as
elas se relacionam umas com as outras? Muitos teóricos da emoção distinguem entre emoções pri- culturas e estão associadas a
márias e secundárias, uma abordagem conceitualmente semelhante a ver a cor como consistindo em estados biológicos e físicos
matizes primários e secundários. As emoções primárias básicas são evolutivamente adaptativas, específicos.
compartilhadas por todas as culturas e associadas a estados biológicos e físicos específicos. Elas emoções secundárias Mistura
incluem raiva, medo, tristeza, nojo e felicidade, assim como possivelmente surpresa e desprezo. As de emoções primárias, incluindo
estados como remorso, culpa,
emoções secundárias são uma mistura de emoções primárias e incluem remorso, culpa, submis- submissão e antecipação.
são e antecipação.
modelo circumplexo Uma
Uma abordagem ao entendimento da experiência da emoção é o modelo circumplexo, em abordagem ao entendimento da
que dois fatores básicos de emoção estão arranjados em um círculo ao redor das intersecções das emoção, em que dois fatores
dimensões nucleares do afeto (Russell, 1980). James Russell e Lisa Feldman Barrett (1990) desen- básicos da emoção estão
volveram um modelo que propõe que as emoções podem ser mapeadas de acordo com sua valência, espacialmente arranjados em um
círculo, formado ao redor das
ou grau de qualidade agradável ou desagradável, e sua ativação, que é o nível de excitação ou mobi- intersecções das dimensões
lização de energia (Figura 10.4). Assim, "excitado" é um estado afetivo que inclui prazer e excitação, nucleares do afeto.
enquanto "deprimido" descreve um estado de baixa excitação (arousal) e afeto negativo. Tem havido
322 GAZZANIGA e HEATHERTO N

Surpresa
certo debate sobre os nomes das dimen-
sões, mas os modelos circumplexos têm-
Medo se mostrado úteis, fornecendo uma ta-
ATIVAÇÃO xonomia básica dos estados de humor.
tenso alerta
Os cientistas psicológicos David
excitado
Raiva Watson, Lee Anna Clark e Auke Tellegen
fizeram uma distinção entre ativação po-
estressado animado
sitiva (afeto agradável) e ativação nega-
Nojo J Felicidade tiva (afeto desagradável), o que pode ser
. . _ _ _ _.J aborrecido fel iz mapeado em um circumplexo. Eles tam-
bém propõem que o afeto negativo e o
DESA-
GRADÁVEL

) triste
.------· AGRADÁVEL

contente
positivo são independentes, de modo que
as pessoas podem senti-los simultanea-
mente. Por exemplo, as pessoas às vezes
sentem prazer com a derrocada alheia.
Tristeza
Quando isso ocorre, elas podem apresen-
~---- deprimido sereno
tar "sentimentos mistos", como felicida-
de (um afeto positivo) combinada com
letárgico re laxado
culpa (um afeto negativo) . Evidências
fa tigado calmo
neuroquímicas sugerem que os estados
DESATI VAÇÃO
de ativação positiva estão associados a
um aumento de dopamina e que os esta-
dos de ativação negativa estão associa-
dos a um aumento de noradrenalina, o
que apóia a probabilidade de que os afe-
IG RA .4 O modelo de emoção de James Russell e Lisa Feldman. A figura descreve um mapa
tos positivos e negativos são independen-
circumplexo da estrutura das emoções.
tes. Além disso, Watson e colaboradores
argumentam que a distinção entre ati-
vação positiva e negativa é adaptativa.
Por exemplo, eles vinculam o afeto a estados motivacionais de aproximação e evitação - a motiva-
ção para buscar alimento, sexo e companhia está tipicamente associada ao prazer, enquanto a moti-
vação para evitar animais perigosos está associada à dor (Watson et ai., 1999).

Existe um componente fisiológico


Um erro desastrado faz com que a maioria das pessoas fique embaraçada e faz subir uma onda de
sangue ao rosto, que aquece as faces. Na verdade, as emoções estão associadas a mudanças físicas. Mas
o que causa o quê? O bom senso sugere que a emoção leva à mudança física. Mas, em 1884, William
James argumentou que era exatamente o oposto. Em uma proposta semelhante à feita por Descartes no
século XVII, James afirmou que é como a pessoa interpreta as mudanças físicas em uma situação o que
a leva a sentir a emoção. Nas palavras de James, "nós ficamos tristes porque choramos, zangados
porque agredimos, com medo porque trememos; não choramos, agredimos ou trememos porque esta-
mos tristes, zangados ou com medo". James acreditava que as mudanças físicas ocorrem em padrões
distintos que se traduzem diretamente numa emoção específica. Mais ou menos na mesma época, uma
teoria semelhante foi proposta independentemente por um psicólogo dinamarquês chamado Carl
Lange. Assim, a idéia de que a emoção sentida é o resultado de perceber padrões específicos de
respostas corporais chama-se a teoria da emoção de James-Lange.
teoria da emoção de James-
Lange Uma teoria que sugere Uma implicação da teoria de James-Lange é que, se você molda os músculos faciais para
que a experiência da emoção é imitar um estado emocional, você ativa a emoção associada. De acordo com a hipótese do
eliciada por uma resposta feedback facial, proposta por Silvan Tomkins em 1963, as expressões faciais desencadeiam a
fisiológica a um determinado experiência da emoção, e não o contrário. James Laird testou essa idéia em 1974 ao fazer com que
estímulo ou situação .
as pessoas segurassem um lápis entre os dentes de uma maneira que produzisse um sorriso ou
hipótese do feedback facial A uma carranca (Figura 10.5). Depois os participantes tinham de avaliar um desenho animado; os
idéia de que as expressões faciais
desencadeiam a experiência da que exibiam o sorriso acharam os desenhos mais engraçados. Outra confirmação foi encontrada
emoção. nos resultados de estudos de Paul Ekman e colaboradores (1983), que pediram a atores profissio-
nais para reviver sentimentos de raiva, angústia, medo, nojo, alegria e surpresa. As mudanças
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 323

fisiológicas registradas durante a dramatização dos


atores foram, de fato, diferentes para várias emoções.
O ritmo cardíaco pouco mudava com surpresa, alegria
e nojo, mas aumentava com angústia, medo e raiva. A
raiva também estava associada a uma temperatura de
pele mais elevada, enquanto as outras emoções resul-
cavam em pouca mudança na temperatura da pele.
Assim, esses resultados apóiam a teoria de James de
que padrões específicos de mudanças físicas são a base
dos estados emocionais. Entretanto, evidências subse-
qüentes sugerem que não existe suficiente especifici-
dade de reações emocionais para explicar inteiramen-
te a experiência subjetiva das emoções.
A teoria contra-intuitiva de James-Lange logo
atraiu críticas. Em 1927, Walter Cannon, da Universi-
dade de Harvard (Figura 10.6), observou que, embora
os humanos sejam rápidos em experienciar emoções, o
corpo é muito mais lento, levando pelo menos um se- FIGURA 10.5 A alteração da expressão facial pode levar a mudanças na experiência
gundo ou dois para responder. Cannon também obser- subjetiva das emoções. É mais provável que a pessoa à esquerda (lápis na boca) relate se
rnu que muitas emoções produzem respostas viscerais sentir feliz do que a pessoa à direita (lápis sobre o lábio).
semelhantes, o que torna difícil para as pessoas deter-
minarem rapidamente qual emoção estão experiencian-
do. Por exemplo, raiva, excitação e interesse sexual produzem mudanças semelhantes
no ritmo cardíaco e na pressão sangüínea. Cannon, juntamente com Philip Bard, pro-
pôs, pelo contrário, que a mente e o corpo operam independentemente quando experi-
enciamos emoções. De acordo com a teoria de Cannon-Bard, a informação de um
estímulo produtor de emoção é processada em estruturas subcorticais, provocando a
experiência de duas coisas separadas aproximadamente ao mesmo tempo: uma emo-
ção e uma reação física. Se nos deparamos com um urso feroz, simultaneamente senti-
mos medo, começamos a suar, sentimos o coração bater forte e saímos correndo (Figura
10.7). Tudo isso acontece junto. Como veremos mais adiante, evidências recentes da
pesquisa sobre o cérebro confirmam a idéia de que existem vias separadas para o pro-
cessamento da informação emocional. Sendo assim, de modo geral há mais apoio para
a teoria de Cannon-Bard do que para a teoria de James-Lange.

Existe um componente cognitivo


FIGURA 10.6 Walter Cannon, um fisiologista de
Stanley Schachter (Figura 10.8) desenvolveu a hipótese de que as emoções são a Harvard, formulou a idéia reguladora da homeostase, o
interação de excitação fisiológica e avaliações cognitivas. Sua teoria de dois fatores papel do corpo na emoção e a resposta autonômica de
da emoção propunha que toda situação evoca tanto uma resposta fisiológica, tal como fuga-ou-luta.
excitação, quanto uma interpretação cognitiva, ou rótulo de emoção . Quando as pessoas
experienciam excitação, elas passam a buscar sua fonte. Embora a busca de uma expli-
cação cognitiva seja geralmente rápida e direta, conforme elas reconhecem qual evento levou ao seu
estado emocional, às vezes as pessoas estão erradas em suas conclusões.
Schachter e seu aluno Jerome Singer (1962) criaram um engenhoso experimento para testar a
teoria de dois fatores. Primeiro, os participantes recebiam uma injeção ou de um estimulante ou de um teoria de Cannon-Bard Uma
placebo. O estimulante era adrenalina, que produz sintomas como palmas das mãos suadas, ritmo teoria da emoção que afirma que
os estímulos ambientais produtores
cardíaco aumentado e calafrios. Eles eram então informados de que a droga recebida faria com que se de emoção eliciam tanto uma
sentissem excitados ou não recebiam nenhuma informação. Finalmente, o participante era deixado rea ção emocional como uma reação
esperando com um cúmplice do experimentador. Na condição eufórica, os participantes eram expostos f ísica .
a um cúmplice que brincava com um bambolê e fazia aviões de papel. Na condição raivosa, eles eram teoria de dois fatores da
expostos a um cúmplice que lhes fazia perguntas pessoais muito íntimas, como "Com quantos homens emoção Uma teoria que propõe
(fora o seu pai) a sua mãe teve relações extraconjugais?". (Tomando a pergunta ainda mais insultante, que toda situação evoca tanto uma
resposta fisiológ ica, como excitação,
havia três escolhas: (a) quatro ou menos, (b) de cinco a nove ou (c) mais de dez!) Observe que os quanto uma interpretação
participantes que receberam adrenalina, mas foram informados do que deveriam esperar, tinham uma cognitiva .
fácil explicação para a sua excitação. Entretanto, os que receberam adrenalina, mas não receberam
324 GAZZANIGA e HEATHERTON

As três teorias da emoção

Estado
Situação fisiológico
de raiva Raiva
distintivo A situação determina o estado
Teoria de f isiológ ico e o estado fisiológico
James-Lange determina completamente a
Estado emoção.
Situação f isiológico
eufórica Euforia
distintivo

Situação
de raiva

A situação determina o estado


Teoria de cognitivo e o estado fisiológico
Cannon-Bard de forma independente.

Sit uação
eufórica

Avaliação
cognitiva Raiva
da raiva
Situação
de raiva
Excitação A situação determina a
Intensidade avaliação cognitiva, que da
fisiológica
Teoria de da raiva raiva determina a emoção.
ambígua
dois fatores de A excitação fisiológica
Schachter-Singer determina a intensidade da
emoção, mas não o tipo de
Avaliação emoção.
cognitiva Euforia
da euforia
Situação
eufórica
Excitação
1ntensidade
fisiológica
da euforia
ambígua

FIGURA 1O.7 As três maiores teorias da emoção diferem não apenas na ênfase relativa na fisiologia e cognição, mas também em termos de quando é
determinad o o estado emocional.

informações ficavam excitados, mas não sabiam por quê. Assim, eles procuravam no ambiente uma
transferência de excitação explicação ou rótulo para o seu humor. Os participantes da condição não-informada relataram senti-
(arousal) Uma forma de
atribuição errônea em que a
rem-se felizes com o cúmplice eufórico, mas menos felizes com o cúmplice raivoso (Figura 10.9).
excitação fisiológica residual
causada por um evento é As pessoas podem errar ao atribuir a fonte dos estados emocionais Uma implica-
transferida para um novo estímulo. ção interessante da teoria de Schachter é que a emoção pode ser erroneamente atribuída a algo que na
estruturação cognitiva A verdade não causou a excitação. Aatribuição errônea da excitação (arousal) é a expressão utilizada quando
maneira pela qual as pessoas um rótulo emocional deriva-se da fonte errada. Numa das mais surpreendentes demonstrações desse
pensam sobre os eventos pode fenômeno, pesquisadores tentaram ver se as pessoas poderiam se apaixonar devido a uma atribuição
contribuir para a intensidade das
respostas emocionais e determinar
errônea (Dutton e Aron, 1974). Pmticipantes do sexo masculino foram solicitados a conversar com uma
os rótulos dados às emoções. entrevistadora numa de duas pontes sobre o rio Capilano, na Colúmbia Britânica. Uma delas era uma
estreita ponte suspensa, com um corrimão baixo, que se balançava oito metros acima de uma correnteza
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 325

veloz cheia de cachoeiras e pedras (veja a Figura 10.10); a outra era uma ponte moderna e
robusta logo acima do rio. Uma bela assistente de pesquisa se aproximava do homem e o
entrevistava no meio da ponte. Ela lhe dava seu número de telefone e se oferecia para lhe
explicar os resultados do estudo em um encontro posterior. De acordo com a teoria da emo-
ção dos dois fatores, a ponte assustadora produziria uma excitação (arousal) que possivel-
mente seria erroneamente atribuída à entrevistadora. Na verdade, foi isso o que aconteceu,
pois os homens que conversaram com a entrevistadora na ponte assustadora apresentaram
mais o comportamento de telefonar para ela e convidá-la para um encontro.
Uma forma semelhante de atribuição errônea é a transferência de excitação
(arousal), durante a qual uma excitação fisiológica residual causada por um evento é
transferida para um novo estímulo. No período posterior a exercícios, por exemplo,
existe um lento retorno a uma linha base, durante o qual a pessoa continua com uma
excitação residual, tal como batimentos cardíacos elevados. Evidentemente, depois de
alguns minutos, as pessoas recuperam o fôlego e não percebem que seu corpo ainda
FIGURA 10.8 Stanley Schachter enfatizou o papel
está excitado. Se um segundo evento ocorrer nesse ínterim, a excitação residual do
das crenças cognitivas na experiência da emoção.
primeiro evento será transferida para o segundo. Isso tem uma aplicação prática impor-
tante. Talvez seja mais indicado levar o/ a namorado/a a um filme que provoque excita-
ção, talvez um filme de amor bem romântico ou uma aventura com muita ação. Sempre existe a
possibilidade de que a excitação residual seja erroneamente atribuída a você.

As emoções são afetadas por uma estruturação cognitiva As emoções não aconte-
cem em um vácuo; elas são parte de um sistema psicológico que inclui outras emoções, cognições e
comportamentos. Aestruturação cog-
nitiva, ou a maneira pela qual pensa-
mos sobre um evento, pode contribuir
para a intensidade de uma resposta emo-
cional, além de influenciar o rótulo que Humm ... coração disparado, Humm ... coração disparado,
mãos trêmulas. Acho que a mãos trêmulas. Acho que a
colocaremos nela. Craig Smith e Phoebe pílula realmente funciona. pílula realmente funciona.
Ellsworth (1985) concluíram que os es-
tados emocionais variam pelo menos em
seis dimensões: (a) desejabilidade do
resultado, (b) nível de esforço antecipa-
do em uma dada situação, (c) certeza
do resultado, (d) atenção dedicada à si-
tuação, (e) controle pessoal sobre a si-
tuação, e (f) controle atribuído a forças 25 5
externas. Como exemplo, se o telhado Situação Situação
de sua casa for arrancado durante uma de euforia de ra iva
20 4
tempestade e você atribuir a situação a
forças externas, provavelmente se senti-
rá triste. No entanto, se você vir o resul- "tJ
Q)
15 "'> 3
º[§
tado como tendo estado sob o seu con- "'
"tJ
·:;
trole pessoal, porque você não trocou o
·.;::; "'o
"tJ

"'
Q) 10 '[3. 2
que sabia ser um telhado defeituoso, vai "tJ
.~
ã:i
sentir culpa e raiva. .2:
z
5
~
Pensamento contrafactual As
pessoas dedicam anos de suas vidas a o o
competir nas Olimpíadas, e cada atleta
olímpico sonha em ganhar uma meda-
lha de ouro. Não surpreende que aque- -5~----------- -1~-----------
Participantes Participantes Participantes Participantes
les que ganham medalhas de ouro fi- informados não-informados informados não-informados
quem imensamente felizes. Mas quem
você acha que seria o próximo mais fe-
liz, o que ganhou a medalha de prata ou FIGURA 10.9 Os resultados do experimento de Schachter e Singer para testar sua teoria da emoção
de bronze? Talvez surpreendentemente, mostraram que a experiência subjetiva de emoção era uma combinação da situação em que a pessoa estava,
os ganhadores das medalhas de bronze da excitação fisiológica da pílula estimulante e de eles saberem ou não dos supostos efeitos da pílula.
326 GAZZANIGA e HEATHERTON

parecem mais felizes do que os ganhadores da meda-


lha de prata (Medvec et ai., 1995). A diferença nas
respostas emocionais dos medalhistas pode ser expli-
cada pelo pensamento contrafactual, que é o ato de ima-
ginar um possível resultado alternativo que não acon-
teceu. Por exemplo, perguntar: "Como seriam os
Estados Unidos se o presidente Kennedy não tivesse
sido assassinado?" é contrafactual, pois baseia-se na
suposição de acontecer alguma coisa que não aconte-
ceu. Para os medalhistas de bronze, o resultado alter-
nativo mais saliente é não ganhar nenhuma medalha.
de modo que, comparando isso com a sua situação.
eles ficam muito felizes. Em contraste, os medalhistas
de prata estão concentrados no ter perdido a medalha
de ouro, não em ter vencido o ganhador da medalha
de bronze. Em geral, as pessoas utilizam o pensamen-
to contrafactual para explicar as emoções negativas que
resultam quando as coisas não acontecem favoravel-
mente.

FIGURA 10.10 Os homens que atravessaram uma ponte estreita e assustadora (como
a Ponte Capilano) revelaram-se mais atra ídos pela experimentadora atraente do que os que As pessoas regulam o seu
atravessaram uma ponte estável. humor
Há diversos processos de regulação emocional
que nós utilizamos inúmeras vezes por dia. Os processos de autocontrole, como um todo, permi-
tem que os indivíduos se ajustem melhor ao seu ambiente. James Gross (1999) organizou as
estratégias da regulação da emoção em cinco categorias. As quatro primeiras, rotuladas como
seleção da situação, modificação da situação, distribuição da atenção e mudança cognitiva, são méto-
Como as pessoas controlam ou dos que focalizam antecedentes, que ocorrem antes de um evento provocador de emoção. A últi-
mod ificam suas emoções?
ma, a modulação da resposta, ocorre depois que a reação foi iniciada. Apesquisa de Gross mostra
que a efetividade de cada método depende das demandas situacionais e dos traços de personali-
dade do indivíduo.
Aseleção da situação envolve saber os tipos de pessoa, local e objeto que alteram o seu estado
emocional e escolher se aproximar deles ou evitá-los. Imagine que você quer ter uma noite tranqüila
com seu/ sua namorado/ a. Você poderia escolher um restaurante em que já teve boas experiências de
jantar. Amodificação da situação se refere a esforços ativos para alterar uma situação, em uma tenta-
tiva de modificar seus efeitos emocionais. Utilizando o mesmo exemplo, se você quiser ter uma
refeição tranqüila, mas não conseguir nem conversar por causa de uma barulhenta mesa de noYe
pessoas ao lado, você poderia pedir para ser transferido para outra mesa. O uso da distribuição da
atenção permite às pessoas isolar certos aspectos da situação e manejar seu estado emocional. As
pessoas que têm medo de voar podem se distrair da ansiedade assistindo ao filme que é exibido nc
avião. A modificação cognitiva é um método de regulação do humor que é útil quando nenhum dos
outros processos é aplicável, pois envolve reconstruir a situação de maneiras alternativas. Por exem-
plo, se o restaurante for um desastre, você poderia escolher reestruturar a situação como engraçada.
Amodulação da resposta se refere a controlar diretamente as respostas emocionais depois de inicia-
das. Você pode tentar aumentar a sua felicidade e diminuir seu desapontamento se a noite romântica
não acontecer conforme o planejado.

Humor O humor é um método simples e efetivo de regular emoções negativas, um método que
apresenta numerosos benefícios mentais e físicos. Da forma mais óbvia, o humor aumenta o afeto
positivo. Quando encontramos algo engraçado, sorrimos, rimos e ficamos num estado de excitação
prazerosa, relaxada. As pesquisas mostram que o riso estimula secreções endócrinas, o sistema imu-
ne e a liberação de hormônios, catecolaminas e endorfinas. Quando as pessoas riem, elas experien-
ciam aumento de circulação, pressão sangüínea, temperatura da pele e batimentos cardíacos, junta-
mente com uma redução na percepção da dor. Todas essas respostas são semelhantes às que resultam
do exercício físico e são consideradas benéficas para a saúde no curto e no longo prazo.
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 327

As pessoas às vezes riem em situações que não parecem engraçadas, tais como velórios ou
ruminação Pensar sobre,
enterros. De acordo com uma teoria, rir nessas situações ajuda as pessoas a se distanciarem de suas elaborar e focalizar pensamentos
emoções negativas e fortalece suas conexões interpessoais com outras pessoas. Dacher Keltner e ou sentimentos indesejados, o que
George Bonanno (1997) entrevistaram 40 pessoas que haviam perdido o cônjuge recentemente. Elas prolonga, em vez de aliviar, o
descobriram que o riso genuíno durante a entrevista estava associado à saúde mental positiva e a humor negativo.
;nenos sentimentos negativos, como o pesar.

Supressão e ruminação As pessoas cometem dois erros comuns quando tentam regular seu
iiumor. O primeiro é a supressão do pensamento, em que tentam não responder ou sentir a emoção.
Pesquisas de Daniel Wegner e colegas demonstraram que suprimir qualquer pensamento é extrema-
:nente difícil e geralmente leva ao efeito rebote, em que a pessoa pensa mais sobre alguma coisa
depois da supressão do que antes. Assim, por exemplo, os que estão tentando não pensar sobre um
urso branco acabam obcecados por pensamentos sobre ursos brancos (Wegner et ai., 1990). Arumi-
nação, o segundo erro, envolve pensar sobre, elaborar e focalizar os pensamentos ou sentimentos
mdesejados, o que prolonga o humor. Além disso, a ruminação impede estratégias bem-sucedidas de
regulação do humor, tais como se concentrar na solução do problema ou na distração (Lyubomirsky
e Nolen-Hoeksema, 1995).
A distração é a melhor maneira de evitar os problemas de supressão ou ruminação, pois ela
absorve a atenção e ajuda temporariamente a pessoa a parar de pensar sobre seus problemas. Mas
algumas distrações saem pela culatra, tais como pensar em outros problemas ou dedicar-se a com-
portamentos desadaptativos. Assistir a um filme que capture a atenção nos ajuda a escapar de nossos
problemas, mas assistir a um filme que nos lembre da nossa situação complicada pode nos levar a
chafurdar em angústia mental.

Como as pessoas experienciam as emoções?


As emoções se compõem de uma experiência subjetiva, mudanças fisiológicas e interpretação cognitiva . Existem

V três teorias principais da emoção, que diferem em sua relativa ênfase nesses componentes. A teoria de James-Lange
afirma que padrões específicos de mudanças físicas dão origem à percepção de emoções associadas. A teoria de
Cannon-Bard afirma que existem duas vias separadas de emoção. A teoria de dois fatores de Schachter enfatiza a
combinação da excitação fisiológica generalizada com avaliações cognitivas na determinação de emoções
específicas. As pessoas também utilizam diversas estratégias para alterar seu humor. Os melhores métodos para
regular o afeto negativo incluem humor e distração.

QUAL É A BASE NEUROFISIOLÓGICA DA


EMOÇÃO?
Como ficou claro nas três teorias mais importantes discutidas na seção precedente, o corpo
desempenha um papel essencial na experiência emocional. As pessoas que sofrem lesão na medula
espinal relatam sentir emoções menos intensas depois da lesão, o que ocorre porque as mensagens
têm dificuldade em atingir o cérebro. Isso dá certo apoio à teoria de James-Lange. Quanto mais perto
do cérebro a lesão, maior a perda de sensação e, conseqüentemente, maior a redução na intensidade
emocional. Como vimos no Capítulo 3, vários hormônios, neurotransmissores e drogas afetam os
estados de humor. Por exemplo, as drogas que aumentam a atividade dos receptores de serotonina
levam à redução do humor deprimido; as drogas que ativam os receptores de dopamina levam a
sentimentos de euforia.
Durante a revolução biológica da última década, os pesquisadores descobriram que estados
emocionais específicos estão associados a padrões singulares de ativação cerebral, embora muitas
das mesmas estruturas cerebrais estejam envolvidas em múltiplas experiências emocionais. Por exem-
plo, estudos com PET mostraram que nojo, tristeza e felicidade ativam o tálamo e o córtex pré-
frontal. Entretanto, podemos distinguir uma ativação diferencial em estruturas circundantes nessas
três emoções: por exemplo, a felicidade e a tristeza aumentam a ativação no hipotálamo, enquanto
o nojo não (Lane et ai., 1997; Figura 10.11). Da mesma forma, examinar rostos mostrando medo e
nojo pode levar a padrões diferenciais de atividade cerebral, com o medo ativando a amígdala e o
328 GAZZANIGA e HEATHERTON

nojo ativando a ínsula. A ínsula foi relacionada a reações gustatórias a


sabores e cheiros desagradáveis (Philips et ai., 1997). Já compreende-
mos muita coisa sobre a neurofisiologia da emoção, mas ainda temos
muito a aprender. Nesta seção, examinaremos algumas questões-cha\-e
referentes ao vínculo entre fisiologia e emoção.

LU
o
<{
o As emoções estão associadas à atividade
o
::J
LU
autonômica
u...

As emoções tendem a se sobrepor em seu padrão de atividade d::


sistema nervoso autonômico (SNA), embora existam algumas diferen-
ças entre os estados emocionais. Por exemplo, quando uma pessoa fie:
excitada, quer devido à raiva, quer devido à atração sexual, o rosto fie:
corado, mas as pupilas se contraem durante a raiva e se dilatam duraI:-
te a excitação sexual. Conforme mencionado, os atores que retratarar::.
essas emoções específicas mostraram padrões diferenciais de batimen-
tos cardíacos e pressão sangüínea. Esses achados foram replicados cor:.
os minangkabaus de Sumatra Ocidental (Levenson et ai., 1992), apesa:
de diferenças dramáticas de cultura, religião, estilo de vida e regras d::
<{
exibição. Os minangkabaus mostraram padrões de excitação do S. --~­
N
LU semelhantes aos dos atores estadunidenses: batimentos cardíacos a:..-
I-
V')

~
mentam com angústia, medo e raiva, a última das quais também erz
1- acompanhada por temperatura da pele mais alta. Entretanto, a sobre-
posição na atividade autonômica entre as emoções é tão grande que, r..::
maioria dos casos, é difícil distinguir emoções com base unicamente er::.
respostas autonômicas (Cacioppo et ai., 1993).
O fato de a atividade do SNA estar associada aos estados emodc-
nais é a base da poligrafia. Conforme discutido em "Utilizando a ciênc:
psicológica: Detecção de mentiras", a idéia geral é que mentir caus.:.
ansiedade, o que pode ser detectado por mudanças na atividade do SK_~_
Robert Zajonc e colaboradores descreveram outro vínculo entre e~
estados fisiológicos e a emoção. Zajonc lançou a hipotese de que as ex-
pressões faciais, por meio da musculatura facial, controlam o fluxo diree
onal do ar para o cérebro, resultando no aquecimento ou resfriamento d:
hipotálamo. Isso, por sua vez, afeta a liberação de neurotransmissor~
que influenciam emoções. Segundo Zajonc, resfriar o cérebro produz emo-
o ções positivas, ao passo que aquecê-lo produz emoções negativas. Par:
o
z testar essa teoria, os participantes permitiram que fosse soprado ar par::
dentro de suas narinas. Confirmando suas predições, Zajonc descobn:..
que as pessoas relatavam mais emoções negativas quando o ar era quemt
e mais emoções positivas quando o ar era fresco (Zajonc et ai., 1989).

A amígdala e o córtex orbitofrontal estão


envolv~dos na emoção
Aumentos significativos na atividade de algumas
regiões do cérebro ocorrem durante a felicidade, a tristeza e o nojo. Observe Em 1937, James Papez propôs que a emoção é mediada por vários
que essas emoções produzem padrões diferentes de ativação cerebral. sistemas neurais, incluindo o hipotálamo, o tálamo, o giro cingulado e::
hipocampo. Em 1952, Paul MacLean acrescentou a essa lista a amígda-
la, o córtex orbitofrontal e porções dos gânglios basais. Ele chamou este
circuito neural ampliado da emoção de sistema límbico. Atualmente sabemos que muitas estruturas
cerebrais que não fazem parte do sistema límbico de MacLean estão envolvidas na emoção, e muitas
de suas estruturas límbicas não parecem ser centrais para a emoção em si. Por exemplo, agora se
Onde, no corpo, se localizam as sabe que o hipocampo é extremamente importante para a memória e o hipotálamo, para a motiva-
emoções? ção. Assim, o termo sistema límbico geralmente é usado de uma maneira descritiva ampla, em vez de
ligar diretamente áreas cerebrais a funções emocionais específicas (Figura 10.13). Em uma irânica
DETECÇÃO DE MENTIRAS
Como parte do processo normal de entrevista para certos tipos de maneiras de enganar no teste. Um método bem conhecido é
emprego, as pessoas são solicitadas a fazer um teste de polígrafo, aumentar a excitação fisiológica nas perguntas-controle e tentar
conhecido informalmente como teste de detector de mentira. Um relaxar nas perguntas críticas, dificultando assim a descoberta de
;JO/ígrafo é um instrumento eletrónico que avalia as respostas uma diferença fisiológica entre as duas. Algumas maneiras de
'isiológicas do corpo a certas perguntas. Ele registra numerosos aumentar a excitação incluem morder a língua, pressionar as
aspectos da excitação, como ritmo da respiração, dos batimentos unhas contra a palma da mão, ou contrair o músculo do esfíncter
cardíacos e assim por diante (Figura 10.12). O uso de polígrafos é por vários segundos para aumentar a pressão sangüínea . Estudos
altamente controverso. A maioria dos tribunais não os permite com universitários que foram ensinados a util izar essas técnicas
como evidência, e a maioria das pessoas não sabe bem o que um revelaram que eles evitaram a detecção por dois peritos em
detector de mentira pode ou não pode fazer. polígrafos 50 % das vezes.
O objetivo do polígrafo é determinar o nível de emotividade Como poderíamos esperar, os pesquisadores estão atualmente
da pessoa quando confrontada com certas perguntas. Por buscando novas estratégias para descobrir fraudes . Por exemplo,
exemplo, criminosos podem ser interrogados sobre atividades pesquisadores que util izaram potenciais cerebrais relacionados a
legais específicas, enquanto candidatos a emprego podem ser eventos descobriram que um padrão de onda cerebral tipicamente
nterrogados sobre prévio uso de drogas ou desempenho associado a estímulos raros, significativos, pode indicar fraude
profissional. Os psicólogos sabem, há muito tempo, que mentir é (Rosenfield, 2001). Em um recente estudo que utilizou IRMf,
estressante. Assim, a excitação autonómica deveria ser maior respostas mentirosas estavam associadas à ativação aumentada de
quanto a pessoa está mentindo do que quando está dizendo a regiões específicas dos lobos frontais, incluindo o cingulado
verdade. Correspondentemente, respostas emocionais intensas a anterior (Langleban et ai., 2002). Entretanto, a tarefa de fraude
respostas incriminadoras supostamente indicam que a pessoa está desse estudo era relativamente trivial, e os sujeitos não relataram
mentindo. sentimentos de ansiedade em relação a mentir. Ainda precisa ser
Não existe nenhuma medida absoluta de excitação determinado se esses achados indicam fraude genuína ou
autonómica que indique a presença ou ausência de mentira, simplesmente refletem respostas inibitórias gerais durante a tarefa
porque o nível de excitação autonómica de cada pessoa é experimental.
diferente. Assim, os polígrafos empregam uma técnica de
oergunta-controle para avaliar a
excitação fisiológica. O examinador
faz diversas perguntas, algumas das
quais são relevantes para a
informação crítica e algumas que não
são. Exemplos de pergunta-controle
são "Qual é o endereço da sua casa?" Ritmo
e "Você já esteve na cadeia?" . As ca rdíaco
perguntas-controle geralmente são
aquelas que provavelmente não
provocarão respostas emocionais
intensas. Perguntas críticas são
aquelas de interesse específico para
os investigadores. A diferença de
resposta fisiológica entre perguntas-
controle e perguntas críticas é a
medida utilizada para determinar se
a pessoa está mentindo.
Qual é o índice de sucesso dos Condutância
polígrafos? Dois pesquisadores da pele
escolheram 50 investigações criminais
em que foi administrado o polígrafo
a dois suspeitos, e depois um deles
confessou o crime (Kleinmuntz e A sua cor favorita Você roubou
O seu nome é Você é Você era amiga
Szucko, 1984). Quando compararam Janet Mills7 musicista? da vítima? é o vermelho? a vítima?
os resultados do polígrafo com a
verdadeira culpa ou inocência dos
suspeitos, os pesquisa dores
descobriram que o polígrafo Pergun t a-
identificou corretamente 76% das control e
vezes, mas também acusou Pergunta relevante
erroneamente 37% das vezes.
Portanto, ele está longe de ser
infalível.
IGURJ\ 10 12 O polígrafo mede sistemas autonômicos como respiração, condutância da pele pelo
O teste não apenas pode acusar
suor e batimentos cardíacos. Diferenças em reações autonômicas a respostas críticas, comparadas com
falsamente a pessoa de mentir, como
pode ser totalmente inútil para perguntas-<:ontrole, indicam excitação, que, por sua vez, pode indicar nervosismo por estar mentindo
aquelas pessoas que não se sentem Infelizmente, a excitação pode ser devido a um nervosismo geral e pode indicar falsamente que a pessoa
ansiosas ao mentir. Também existem está mentindo.
330 GAZZANIGA e HEATHERTON

virada, as duas áreas cerebrais agora reconhecidas como cruciais para a emoção não foram conside-
assimetria cerebral Um padrão
emocional associado à ativação
radas muito importantes por Papez ou MacLean. Elas são a amídala e o córtex orbitofrontal.
desigual dos lobos frontais
esquerdo e direito. Amígdala A amídala processa o significado emocional dos estímulos e gera reações emocionais
e comportamentais imediatas. Segundo Joseph LeDoux (Figura 10.14), o processamento afetivo na
amígdala é um circuito que se desenvolveu ao longo da evolução para proteger os animais do perigo
LeDoux (1996) estabeleceu a amígdala como a estrutura cerebral mais importante para a aprendi-
zagem emocional, tal corno o desenvolvimento de respostas de medo classicamente condicionadas
A remoção da amígdala nos animais produz um transtorno conhecido como a síndrome de Kluver-Buc;
que leva o nome dos cientistas que a identificaram em 1939. Animais com a síndrome de Kluver-Buc.;
apresentam comportamentos incomuns, corno hipersexualidade e colocar objetos dentro da boca, e
não demonstram medo.
Os humanos com lesões na amígdala não desenvolvem os sintomas mais graves associadcr.:
à síndrome de Kluver-Bucy, mas apresentam uma série de déficits ao processar e responder :
deixas emocionais. Mais importante, eles apresentam prejuízo no condicionamento do medo. Ele:;
demonstram medo quando se defrontam com um objeto perigoso, mas não desenvolvem mede
condicionado de objetos associados ao objeto perigoso (veja o Capítulo 6 sobre aprendizagem
Por exemplo, se você aplicar um choque elétrico a uma pessoa sempre que ela vir a figura de tu::
quadrado azul, ela normalmente desenvolverá uma resposta condicionada, evidenciada por rnaia:-
excitação fisiológica quando vir um quadrado azul. Mas as pessoas com lesão na amígdala nàr
apresentam o condicionamento clássico dessas associações de medo. Considere a paciente S.P
que apresentava uma lesão na amígdala (Anderson e Phelps, 2000). S.P. mostrou sinais de défic:-
neurológico por volta dos 3 anos de idade e recebeu mais tarde o diagnóstico de epilepsia. Aos ~
anos, ela teve sua amígdala direita retirada para reduzir a freqüência das convulsões. A cirurgia fo_
razoavelmente bem-sucedida e S.P. manteve a maioria de suas faculdades intelectuais. Ela tinh:
um QI normal, cursara a universidade e apresentava bom desempenho em testes de atençã-
visual. Entretanto, ela não apresenta condicionamento do medo. Estranhamente, S.P. pode nc~
dizer que o quadrado azul está associado ao choque, mas seu corpo não mostra nenhuma evidênci:
fisiológica de ter adquirido a resposta de medo.
A informação atinge a amígdala através de duas vias separadas. A primeira via é um sistem:
rápido, que processa a informação sensorial quase instantaneamente. A informação sensorial via_:
rapidamente pelo tálamo até a amígdala para um processamento prioritário. A segunda via é tc
pouco mais lenta, mas leva a avaliações mais deliberadas e cuidadosas. O material sensorial viaja de
tálamo ao córtex sensorial, onde a informação é escrutinad.2.
mais profundamente antes de ser transmitida para a am1g-
dala. O pensamento contemporâneo é que o sistema rnai:
rápido prepara o animal para responder se a via mais lem.õ.
confirmar a ameaça.
Lembre que os eventos emocionais apresentam maio:
probabilidade de serem armazenados na memória. Larry CahC
e seus colegas argumentam que isso ocorre porque a amíg-
dala interage com horrnônios do estresse liberados duranre
eventos emocionais que facilitam o armazenamento da me-
mória. Estudos com imagens cerebrais demonstram que a
atividade aumentada da amígdala durante um evento emocio-
nal está associada à melhor memória de longo prazo para e
evento. Entretanto, nesse padrão existe urna diferença sexua'.
interessante. Cahill e colaboradores (2001) confirmaram que
Córtex
orbitofrontal a melhor memória para filmes emocionais levava à maior
Hipotálamo
ativação da amígdala esquerda nas mulheres e da amígdala
direita nos homens (Figura 10.15). Interessantemente, dife-
renças sexuais estão começando a ser observadas em vários
estudos com imagens que avaliam a neurobiologia da cogni-
ção. A razão da diferença na ativação cerebral de homens e
FIGURA 10.13 O sistema límbico é importante para avaliar e responder a mulheres ainda é desconhecida.
estímulos emocionalmente relevantes. As duas estruturas mais importantes são a Outro papel da amígdala no processamento da emoção
amígdala e o córtex orbitofrontal. é o seu envolvimento na percepção dos estímulos sociais, tal
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 331

como decifrar o significado afetivo das expressões faciais. Por exemplo, estudos de IRMf
demonstram que a amígdala é especialmente sensível à intensidade de rostos que de-
monstram medo (Dolan, 2000); Figura 10.16). Esse efeito ocorre mesmo que os parti-
cipantes não estejam cientes de terem visto o rosto (Whalen et ai., 1998).
Dado que a amígdala está envolvida no processamento do conteúdo emocional de
expressões faciais, não surpreende que lesões nela levem a déficits sociais. Apessoa com
lesão na amígdala geralmente tem dificuldade para avaliar a intensidade de rostos que
demonstram medo, mesmo que não revele prejuízo no julgamento da intensidade de
outras expressões faciais, como felicidade. Um estudo interessante sugere que as pessoas
com lesão na amígdala não conseguem utilizar as informações contidas nas expressões
faciais para fazer julgamentos interpessoais acurados (Adolphs et ai., 1998).

O córtex orbitofrontal Lembre, do capítulo sobre a motivação, que o córtex


orbitofrontal está envolvido na avaliação do valor potencial de recompensa das situa-
ções e dos objetos. Ele também está envolvido no processamento de deixas emocionais,
especialmente as relacionadas a interações interpessoais. As pessoas com lesão nessa
região muitas vezes agem de forma inadequada e geralmente são insensíveis às expres-
sões emocionais dos outros. Além disso, lesões orbitofrontais às vezes estão associadas FIGURA 10.14 Joseph LeDoux realizou um
à agressão e à violência excessivas, sugerindo dificuldade para controlar as emoções. trabalho valioso mostrando que a amígdala é importante
Antonio Damasio descobriu que pacientes com lesão na região orbitofrontal não para a aprendizagem emocional.
conseguem utilizar marcadores somáticos. Quando essas regiões são lesadas, as pesso-
as ainda conseguem lembrar informações, mas essas informações perderam a maior
parte de seu significado afetivo. Elas podem ser capa-
zes de descrever seus problemas atuais ou falar sobre
a morte de uma pessoa amada, mas o fazem sem expe-
rienciar a dor emocional que normalmente acompa-
nha tais pensamentos.

Os sistemas da emoção estão


lateralizados no cérebro
O cientista psicológico Richard Davidson (Figura
10.17) mostrou que a ativação desigual dos lobos fron-
tais esquerdo e direito está associada a estados emoci-
onais específicos, um padrão conhecido como assi-
metria cerebral. Em uma série de estudos, Davidson e
seus colegas descobriram que a maior ativação do cór-
tex pré-frontal direito está associada ao afeto negati-
vo, enquanto a maior ativação do hemisfério esquerdo
está associada ao afeto positivo. Um estudo de respos-
tas a videoclipes descobriu que as pessoas com hemis-
fério esquerdo dominante apresentavam a resposta
mais positiva a cenas agradáveis, enquanto as pessoas
com hemisfério direito dominante apresentavam as
respostas mais negativas a cenas desagradáveis. Outro
estudo descobriu que as que relatavam a emoção ne-
gativa mais forte apresentavam maior ativação da
amígdala direita em resposta a fotos desagradáveis (Da-
vidson, 2000a; Figura 10.18).
A assimetria cerebral está associada à motivação
geral (Davidson, 2000b). Por exemplo, a maior ativa-
ção do hemisfério esquerdo está associada à maior
confiança e esforço na busca de objetivos. Uma maior FIGURA 10.15 Scans mostram a atividade neural aumentada que acompanha a maior
ativação do hemisfério direito está associada à falta lembrança de filmes emocionais versus neutros em homens e mulheres. O círculo branco
de motivação, um sintoma de depressão clínica. Estu- indica a região aproximada da amígdala. Observe que as mulheres apresentam maior
dos com PET revelam ativação diminuída no hemisfé- ativação da amígdala esquerda, enquanto os homens apresentam maior ativação na direita.
332 GAZZANIGA e HEATHERTON

0% 25% 50% rio esquerdo em pacientes deprimidos, e


a depressão é mais comum naqueles que
apresentam lesão cerebral no hemisfério
esquerdo. Notavelmente, já aos três me-
ses de idade, os filhos de mães deprirru-
das também apresentam ativação cere-
bral assimétrica (Field et ai., 1995
Embora o significado funcional da asSJ-
metria cerebral não seja conhecido, o tra-
balho recente de Davidson e colegas su-
gere que talvez ela tenha a ver com :
regulação de estados emocionais. Po~
exemplo, drogas ansiolíticas reduzem ~
75% 100% 125% comportamento de medo e aumentam :
ativação frontal esquerda em filhotes de
macacos, sugerindo que os estados afe;::-
vos negativos, como a ansiedade, pode;:;:.
suprimir o lobo frontal esquerdo e, assin:..
reduzir a motivação.
As pesquisas demonstram que o h;:-
misfério direito está mais envolvido d:
que o esquerdo na interpretação e cor::.-
preensão do material emocional. Estude_
de neuroimagem descobriram que, er;:-
bora a estimulação emocional ative ac.-
bos os hemisférios, a ativação é mui~=
FIGURA 10.16 Quando os participantes vêem esses rostos, vai aumentando a ativação na amígdala maior no lado direito. O hemisfério C....-
conforme o rosto demonstra mais medo. reito também é mais exato ao detectar =
tom emocional da fala (se a voz soa trs-
te ou feliz) , enquanto o hemisfério es
querdo é mais exato ao decodificar o conteúdo semântico. Como exemplo, considere que quanc -
olhamos para expressões faciais, o lado esquerdo do rosto é projetado para o hemisfério direito ::
o lado direito do rosto é projetado para o hemisfério esquerdo. Os pesquisadores que criam face::
divididas, como a da Figura 10.19, descobriram que a emoção "vista" pelo hemisfério direii:-
influencia pesadamente a interpretação da expressão emocional. Qual rosto parece mais tris::=
para você? Qual parece mais feliz?

Qual é a base neurofisiológica da emoção?


As emoções levam a reações autonômicas específicas, mas
existe uma considerável sobreposição entre as emoções.
Algumas estruturas cerebrais, especialmente a amígdala e
o córtex orbitofrontal, estão envolvidas na emoção e no
julgamento social. As pesquisas indicam que a atividade do
hemisfério esquerdo está relacionada às emoções positivas,
e a atividade do hemisfério direito, às emoções negativas.
FIGURA 10.17 Richard Davidson
propôs que o estilo afetivo é influenciado pela
assimetria cerebral, com o hemisfério direito
associado ao humor negativo e o hemisfério
esquerdo, ao humor positivo.

COMO AS PESSOAS LIDAM COM O


ESTRESSE?
O estresse é um componente comum da vida emocional cotidiana e consiste er;:
O que é o estresse? determinadas respostas emocionais. Embora o estresse tenha conotações negativas, ui:;:
nível moderado de estresse é benéfico. Diferentes níveis de estresse são ótimos para
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 333

diferentes pessoas, e aprender quanto es-


rresse você pode manejar é essencial para L'l 14
·~
y = 2,33 + 0,64x
~econhecer seus efeitos sobre o seu bem- iJ
ro 12 p = 0,63
estar mental, físico e emocional. lõ
-o p = 0,01
O estresse envolve tanto fatores ·º'E 10
físicos como psicológicos. Ele tem efei- ro
ro
·os diretos sobre o corpo, mas quão es- -o 8
o
rressada a pessoa se sente depende de '"'~ 6
certos fatores: como a pessoa percebe ·.;:;
ro
o evento estressante, sua tolerância ao Q)
-o 4
estresse e suas crenças pessoais sobre o
os recursos que tem para lidar com o '"':t 2
:::J
-o
estressor. Um estressor é um evento ~ O+-~-.-~~-,--~-,~~-,..-~~,--~-,-~---,

ou estímulo ambiental que ameaça o 1.9


o 2 4 6 8 10 12 14
organismo e leva a uma resposta de Graduação do escore do afeto negativo (NA)
enfrentamento (coping) , que é Afeto negativo disposicional (PANAS)
(b)
qualquer resposta dada pelo organismo
;iara evitar, escapar de ou minimizar um
FIGURA 10.18 (a) A região da amídala está ampliada na imagem inferior e mostra a maior ativação
estímulo aversivo.
da amídala direita (no lado esquerdo da imagem) durante a visão de fotos desagradáveis. (b) Essa ativação
Conforme faz sentido de um ponto corresponde ao maior afeto negativo.
de vista adaptativo, a resposta fisiológica
que acompanha o estresse ajuda a mobi- estressor Um evento ou estímulo
lizar recursos para ou lutar ou fugir do perigo, facilitando assim a sobrevivência e a reprodução. ambiental que ameaça o
O psicólogo Walter Cannon, de Harvard, cunhou o termo resposta de luta-ou-fuga para organismo.
descrever a preparação fisiológica dos animais para lidar com algum ataque. Essa reação física resposta de enfrentamento
inclui batimentos cardíacos aumentados, contração do baço, redistribuição do suprimento san- (coping) Qualquer resposta dada
güíneo da pele e das vísceras para os músculos e o cérebro, aprofundamento da respiração, pelo organismo para evitar,
escapar de ou minimizar um
dilatação das pupilas, inibição das secreções gástricas e aumento na liberação de glicose do estímulo aversivo.
fígado. Essa resposta a um estressor ocorre em segundos ou minutos e permite que o organismo
resposta de luta-ou-fuga Um
dirija toda a energia ao manejo da ameaça em questão enquanto adia atividades autonômicas termo utilizado para descrever a
:nenos essenciais. Uma análise importante de respostas ao estresse sugere que as fêmeas prontidão fisiológica do animal
tendem mais a "cuidar e ajudar" do que a lutar ou fugir. Essa pesquisa é apresentada em para lidar com o perigo.
":\travessando os níveis de análise: Sexo e estresse: fazer amigos ou brigar com inimigos" (p. 335). cuidar e ajudar O argumento de
que as fêmeas tendem mais a
proteger e cuidar dos filhotes e a
formar alianças sociais do que a fugir
ou lutar em resposta a uma ameaça.
Existe uma síndrome de
adaptação geral
Nos anos de 1930, Hans Selye (Figura 10.20) co-
meçou a estudar os efeitos fisiológicos dos hormônios
sexuais, injetando em ratos amostras de outros animais.
Quando examinou os ratos, ele encontrou glândulas
supra-renais aumentadas, níveis diminuídos de linfóci-
ros no sangue e úlceras estomacais. Selye supôs que os
hormônios forasteiros fossem a causa dessas mudan-
ças, de modo que realizou testes adicionais, utilizando
diferentes tipos de substâncias químicas e inclusive con-
tendo fisicamente os animais. Ele encontrou leves vari-
ações em alguns efeitos fisiológicos, mas cada manipu-
lação produzia esse padrão tripartido de glândulas
supra-renais inchadas, estruturas linfáticas atrofiadas
e úlceras estomacais. Ele concluiu que essas três res-
postas eram a marca registrada de uma resposta de es-
tresse não-específica. Mas essas mudanças reduzem a
capacidade potencial do organismo de resistir a estres- FIGURA 10.19 Rostos divididos permitiram aos psicólogos determinar que o
sores adicionais. Selye tomou emprestado da engenha- hemisfério direito interpreta o significado das expressões faciais.
334 GAZZANIGA e HEATHERTO N

ria o termo estresse, em que é usado para descrever uma força aplicada contra uma resistênc.:..
síndrome de adaptação geral
(SAG) Um padrão de respostas ao
Walter Cannon usara o termo anteriormente como parte de seu modelo de homeostase, mas ·
est resse que co nsiste em t rês Selye que popularizou o termo e contribuiu para a maior parte do nosso conhecimento inicial sob:=
est ágios: est ágio do alarme, estágio a resposta de estresse.
da resist ência e está gio da A síndrome de adaptação geral (SAG), um padrão consistente de respostas identificado
exaustão.
Selye, consiste em três estágios: estágio de alanne, estágioderesistência e estágio de exaustão (Figura 10.22
eixo hipotalâmico-pituitário- A SAG ocorre juntamente com respostas fisiológicas específicas a determinados estressores. :
adrenal (HPA) Um sistema
corporal que é ativado em resposta
primeiro estágio é o estágio de alanne, uma reação de emergência que prepara o corpo para lutar _
ao estresse. fugir. Nesse estágio, as respostas fisiológicas visam a impulsionar capacidades físicas enquak:·
hormônio adrenocorticotrópico
reduzem as atividades que tornam o organismo vulnerável à infecção após ferimentos. Esse e _
(HACT) Um hormônio secretado estágio em que o corpo poderia estar exposto a infecções e doenças. Assim, o sistema imune en:=
pe la glândula pit uitá ria em resposta em cena e o corpo começa a lutar para se defender. Durante o estágio de resistência, as defesas si.;_
ao estresse. preparadas para um ataque mais longo e duradouro contra o estressor; a imunidade a doen
glicocorticóides Um tipo de continua a aumentar um pouco enquanto o corpo maximiza suas defesas. Entretanto, o corpo accê:
hormônio esteróide, muitas vezes entrando no estágio de exaustão, em que vários sistemas fisiológicos e imunes fracassam. Os órgã-
chamado de cortisol, li berado pelas
glândulas supra-rena is du rante uma
corporais que já estavam fracos antes do estresse são os primeiros a falhar. Os princípios gerais • -
resposta de estresse, que produz teoria da SAG foram confirmados por pesquisas científicas.
muitos dos efeitos físicos do Atualmente não se duvida que os estressores levem à ativação do eixo hipotalâmico-
est resse. pituitário-adrenal (HPA) (Figura 10.23). Durante uma resposta de estresse, o hipotálamo E
secreta um hormônio chamado fator liberador de corticotropina (FLC) , que estimula a pituitária (P _
liberar o hormônio adrenocorticotrópico (HACT) na corrente sangüínea. O HACT age so' -=
o córtex adrenal (A) para liberar glicocorticóides (geralmente referidos como cortisol), um u;
de hormônio esteróide, das glândulas adrenais (supra-renais). São os glicocorticóides que proc_
zem muitos dos efeitos corporais do estresse, tal como decompor a proteína e convertê-la e=
glicose, o que ajuda a atender as necessidades imediatas de energia. Quando os níveis de glicocc;
ticóides estão suficientemente altos, o sistema nervoso central interrompe o processo que libera
HACT. Mas, como leva de 15 minutos a uma hora para que os glicocorticóides atinjam um nr::.
suficiente para sinalizar a terminação do HACT, a presença continuada de glicocorticóides na corrE
te sangüínea sustenta seus efeitos por um tempo considerável após a ocorrência do estressor. Ale=
dos glicocorticóides, as glândulas supra-renais também liberam noradrenalina e adrenalina, den:
à ativação do sistema nervoso simpático (veja o Capítulo 3).

Existe estresse na vida cotidiana


O estresse acontece quando o ambiente esmaga as pessoas. Isso é, as pessoas --
sentem estressadas quando se espera demais delas, ou quando os eventos parece::
assustadores ou preocupantes. O estresse acontece quando existe uma discrepânc:
percebida - real ou não - entre as demandas da situação e os recursos dos sisternz.:
biológico, psicológico e social da pessoa. Os psicólogos costumam pensar nos estres_~
res como se encaixando em duas categorias: estressores maiores da vida e dificuldad=.
do dia-a-dia. Os estressores maiores da vida são mudanças ou perturbações que causa::.
tensão em áreas centrais da vida das pessoas. Eventos positivos podem ser tão estre::
santes ou ainda mais estressantes do que eventos negativos. Por exemplo, alguns pa..
relatam que o nascimento do primeiro filho é uma das experiências mais alegres -
mas também uma das mais exigentes - da sua vida. Estressores maiores da vida tar::-
bém podem ser escolhas feitas pela pessoa, não apenas algo que lhe acontece. No e.;;.-
tanto, as pesquisas mostram que os eventos catastróficos imprevisíveis e incontroláve:..
(como um terremoto) são especialmente estressantes. Em geral, mudanças de vida sãr
estressantes, quer seja entrar na faculdade, começar em um novo emprego, casar, se:
despedido, perder um dos pais ou ganhar um prêmio importante. Quanto maior o nL-
mero de mudanças, maior o estresse e mais provável que o estresse tenha um impacr~
sobre o estado fisiológico.
FIGURA 10.20 Hans Selye popularizou o termo As dificuldades do dia-a-dia são pequenas irritações e chateações do cotidiano, ta.
estresse e demonstrou que o estresse podia afetar a como dirigir no trânsito, lidar com patrões ou professores injustos, ou ter de espera:
saúde física. Nascido na Hungria, ele passou a maior para ser atendido. As dificuldades do dia-a-dia são estressantes, e seus efeitos podei:;;.
parte de sua vida profissional em Montreal, Canadá. ser comparáveis aos efeitos das mudanças maiores da vida. Essas pequenas irritações
SEXO E ESTRESSE: FAZER AMIGOS OU BRIGAR COM INIMIGOS
Em 1932, Walter Cannon propôs que a resposta humana de ameaça, tranqüilizar a prole e escondê-la pode ser um meio
estresse seguia um padrão de luta-ou-fuga, em que as energias são efetivo de evitar danos. Em contraste, tentar fugir enquanto está
dirigidas ou a enfrentar e combater rivais e predadores ou a fugir grávida, amamentando ou com um filhote ao colo talvez não seja
deles. Entretanto, Shelley Taylor (Figura 10.21) e colegas particularmente bem-sucedido. Além disso, as fêmeas que se
salientaram, recentemente, que a vasta maioria das pesquisas com associam seletivamente a outros, especialmente outras fêmeas,
animais e humanos foi realizada com machos, o que distorceu o podem obter proteção e apoio adiciona is. Portanto, o grupo de
entendimento científico das respostas ao estresse. A maioria dos Taylor propõe que as mulheres respondem adaptativamente ao
estudos usa ratos machos para evitar ciclos hormonais como o estresse ao se tornarem mais protetoras e ao buscar amizades.
estro (cio). Embora as razões não estejam claras, existe uma Uma grande variedade de evidências apóia a hipótese de
desigualdade semelhante nos estudos com humanos, com as cuidar e ajudar. No nível neuroendócrino, as fêmeas não têm os
mulheres representando menos de 1 em cada 5 participantes de andrógenos que, em muitas espécies, estão envolvidos no
estudos de laboratório sobre o estresse. comportamento agressivo, tal como o necessário para lutar com
Taylor e seus colegas sugerem que as fêmeas respondem ao predadores ou rivais. Em contraste, as fêmeas tendem a
estresse protegendo e cuidando de seus filhotes, assim como apresentar uma resposta de maior ocitocina ao estresse, e os
fo rmando alian ças com grupos sociais para reduzir o risco estrógenos parecem intensificar ainda mais essas propriedades
individual. Eles se referem a esse padrão como cuidar e ajudar. Tais comportamentais. O neuropeptídeo ocitocina recebeu muita
respostas fazem grande sentido do ponto de vista evolutivo. As atenção por seu papel no comportamento maternal,
fêmeas costumam ter maior responsabilidade pelo cuidado da intensificando a sedação e o relaxamento, e promovendo
prole, e as respostas que protegem a prole, assim como a si sentimentos de aceitação social e vínculos interpessoais
mesma, são maximamente adaptativas. Quando aparece uma (Panksepp, 1992). Assim, uma grande liberação de ocitocina
durante o estresse pode acalmar as fêmeas e promover
comportamentos afiliativos em relação à prole. No nível
comportamental, as mães que estão estressadas por seu traba lho
tendem a prestar ma ior atenção aos filhos, ao passo que os pais
estressados tendem a se afastar da família. Na verdade, as
crianças relatam receber mais amor e cuidados das mães nos dias
em que estas relatam os níveis mais elevados de estresse (Repetti,
1997, citado em Taylor et ai., 2000) .
As mulheres são muito mais afiliativas sob estresse do que os
homens, pois tendem muito mais a buscar apoio socia l, a receber
apoio social e a se satisfazer com o apoio social recebido .
lnteressantemente, quando estressadas, as mulheres tendem
especialmente a procurar a companhia de outras mulheres. Assim,
as mulheres são mais conectadas com suas redes sociais do que os
homens. Segundo Roy Baumeister e Kristin Sommer {1997), as
mulheres geralmente são mais amistosas umas com as outras.
Comparadas aos homens, elas se revelam mais, sorriem mais e
prestam ma is atenção às parceiras de interação do mesmo sexo. As
redes de fêmeas-fêmeas são especialmente comuns entre os
primatas não-humanos. Esses grupos de fêmeas podem ser úteis
para controlar os recursos alimentares e proteger as fêmeas dos
machos agressivos. A resposta de cuidar e ajudar, diante do
estresse, é um excelente exemplo de como o pensar sobre
mecanismos psicológicos em termos de sua importância evolutiva
nos leva a questionar antigas suposi ções sobre o funcionamento
da mente. As fêmeas que responderam ao estresse cuidando e
FIGURA 10.21 Shelley Taylor realizou importantes pesquisas sobre a protegendo a prole e formando alianças com outras fêmeas
psicologia da saúde. Ela e seus colegas revolucionaram o pensamento sobre aparentemente tiveram uma vantagem seletiva sobre as que
como os animais reagem a ameaças. tentaram lutar ou fugir.

são ubíquas e, muito importante, são uma ameaça às respostas de manejo ao drenar, lentamente, os
recursos pessoais. Estudos em que as pessoas mantêm diários de suas atividades do cotidiano reve-
lam, consistentemente, que, quanto mais intensas e freqüentes são as incomodações, pior é a saúde
física e mental do sujeito. As pessoas parecem se habituar aos problemas do dia-a-dia, mas alguns
parecem ter um efeito cumulativo sobre a saúde - entre eles as dificuldades interpessoais. Morar ou
trabalhar em uma cidade apinhada ou em uma área com ruído e poluição ambiental também tem
efeitos prejudiciais sobre o bem-estar emocional.
336 GAZZANIGA e HEATHERTON

10.22 A síndrome de adaptação geral de


~ :: ~:::-=e
os três estágios da resposta fisiológica ao
d-~ - - a ~ente a resistência é reduzida conforme o
- s:: pre:;.a·a para lutar ou fugir. Entretanto, o corpo
~ l:ê ~:E:;:a do e a resistência aumenta . Finalmente,
-~= ::: exausto e a resistência cai rapidamente. Nível normal de resistência

Reação de alarme Estágio de resistência Exaustão

O estresse afeta a saúde


Um dos pontos centrais de Selye era que a ação prolongada dos glicocorticóides
como acontece no estresse crônico, tem um impacto negativo sobre a saúde .. --
verdade, embora os glicocorticóides sejam essenciais para a saúde normal, no long:
prazo eles estão associados à hipertensão, doença cardíaca, diabete, menor interes..~
sexual, nanismo e assim por diante. As pessoas com empregos estressantes -
controladores de tráfego aéreo, soldados combatentes, bombeiros - têm numeroso:;
problemas de saúde, presumivelmente em parte devido aos efeitos do estresse
crônico. Robert Sapolsky (1994) descreve os múltiplos problemas de saúde atribu:-
Hipotálamo veis ao estresse crônico, especialmente o estresse psicossocial. Ele observa que ~
estresse crônico pode inclusive levar a déficits de memória, porque os glicocortic01-
des danificam neurônios no hipocampo. Lembre o Capítulo 7, sobre a memória: :
hipocampo é a estrutura cerebral envolvida na consolidação da memória.
Existem evidências esmagadoras de que o estresse está associado à iniciação f:
a progressão de uma ampla variedade de doenças, do câncer à AIOS e à doern;ê.
cardíaca. O estresse não só leva a respostas fisiológicas específicas que afetam :
saúde, como muitas pessoas lidam com o estresse adotando comportamentos preju-
diciais. Por exemplo, a razão número um que os bebedores-problema dão para abusa:
do álcool é lidar com o estresse negativo em sua vida. Quando as pessoas estãc
estressadas, elas fumam, comem mal, usam drogas e assim por diante. A maiori:
dos problemas de saúde da sociedade ocidental pode ser atribuída a comportament05
pouco saudáveis, muitos dos quais ocorrem quando as pessoas estão estressadas.

Desafio versus ameaça James Blascovich e colaboradores estabeleceram uma


distinção central entre situações desafiadoras e ameaçadoras (Blascovich et ai., 1999
Ameaça e desafio são estados motivacionais relevantes para a obtenção de objetivos
eles resultam de avaliações cognitivas e afetivas de demandas situacionais e recursos
pessoais. A ameaça ocorre quando as demandas são percebidas como superando os
recursos, ao passo que o desafio resulta quando os recursos são percebidos como sufiCI-
entes ou superando as demandas. Por exemplo, você pode sentir-se ameaçado por jogar
xadrez com alguém que é melhor do que você, mas desafiado se a pessoa é tão boa
quanto você ou um pouco pior. Grandes desequilíbrios, como competir contra um gran-
de mestre ou uma criança inexperiente, não transmitem informações pessoalmente sig-
nificativas e, portanto, não levam ao desafio ou à ameaça.
FIGURA 10.23 O eixo HPA e a resposta
neuroendócrina . O FLC é secretado pelo hipotálamo para
Blascovich e colaboradores mostraram que existem diferenças cardíacas e vascu-
as pituitárias, que então liberam o HACT na corrente lares associadas ao desafio e à ameaça. O desafio imita o exercício aeróbico, produzin-
sangüínea. Receptores no córtex adrenal, nas glândulas do batimentos cardíacos mais rápidos e menor resistência vascular. Esse padrão repre-
adrenais (supra-renais) perto do fígado, liberam senta a mobilização eficiente de energia para o manejo (coping). A ameaça, todavia.
glicocorticóides, noradrenalina e adrenalina . aumenta os batimentos cardíacos, mas não diminui a resistência vascular, e o resulta·
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 337

do disso é um aumento na pressão sangüínea. A ameaça, portanto, pode produzir problemas de


saúde no longo prazo.

Diferenças de personalidade relacionadas à doença cardíaca Nós tendemos a ver


Jffi vínculo entre raiva e saúde, dizendo coisas como "Eu vou acabar com um vaso sangüíneo reben-
~do!" e "Ele estava fervendo de raiva". Na verdade, os cardiologistas há muito consideram as
;iessoas que são hostis, facilmente irritáveis e agressivas como em risco de ataque cardíaco. Essa
suposição foi testada pela primeira vez em 1960, quando o Westem Collaborative Group começou o Quais são os efeitos do estresse?
~ue seria um estudo de oito anos e meio para examinar os efeitos da personalidade sobre a doença
cardíaca coronariana. Os médicos recrutaram 3.500 homens do norte da Califórnia que estavam
inicialmente livres de sintomas de doença cardíaca e examinaram anualmente sua pressão sangüí-
::iea, batimentos cardíacos, colesterol e práticas de saúde globais. Também foram avaliados detalhes
;iessoais como nível de instrução, história médica e familiar, renda e traços de personalidade. Os
:esultados do estudo indicaram que, ajustando-se a presença de fatores de risco estabelecidos (como
.-tipertensão ou colesterol elevado), um padrão de traços de personalidade predizia a doença cardía-
ca. Esse padrão, chamado de personalidade do Tipo A, inclui competitividade, ser orientado
?ªra a realização, agressividade, hostilidade, urgência temporal (sentir-se constantemente apressa-
jo, inquieto, incapaz de relaxar), ser impaciente e belicoso com os outros. Os homens que apresen-
:avam esses traços tendiam muito mais a desenvolver doença cardíaca coronariana do que seus
?ares rotulados como personalidade do Tipo B, que descreve uma pessoa relaxada, não-compe-
jtiva, conciliadora. De fato, esse estudo descobriu que a personalidade do tipo A doença cardíaca
;à.o fortemente prediz a quanto fumar ou ter colesterol elevado ou hipertensão (Krantz et ai., 1987).
O efeito da personalidade do Tipo A foi questionado posteriormente por outros pesquisadores .
..\lguns investigadores não conseguiram encontrar um efeito preditivo do comportamento do Tipo A,
outros mostraram apenas um pequeno efeito, enquanto outros demonstraram um grande efeito. Exis-
cem várias razões para esses resultados mistos, mas o consenso entre os pesquisadores e médicos é que
JJTI componente do padrão de personalidade do Tipo Aé especialmente nocivo. Altos níveis de hostili-
dade - tanto em relação aos outros como em relação a si mesmo - parecem levar à má saúde.

O estresse afeta o sistema imune


personalidade do Tipo A Um
padrão de traços de personalidade
O estresse altera as funções dos sistemas neuroendócrino e imune. Conforme Esther Stemberg caracterizado por competitividade,
'2000) observou, "o estresse pode nos fazer adoecer porque os hormônios e vias nervosas ativadas orientação para a realização,
por ele modificam a maneira pela qual o sistema imune responde, tomando-o menos capaz de lutar agressividade, hostilidade, urgência
com os invasores" (p. 131). O campo da psiconeuroimunologia estuda as respostas do sistema temporal, inquietude, incapacidade
de relaxar e impaciência com os
imune do corpo às variáveis psicológicas. O sistema imune é o mecanismo corporal para lidar outros.
com microorganismos invasores como alérgenos, bactérias e vírus. Às vezes, o sistema imune ataca o
personalidade do Tipo B Um
próprio corpo, conforme ocorre nos transtornos auto-imunes. padrão de traços de personalidade
O sistema imune é constituído por três tipos de leucócitos especializados conhecidos como caracterizado por um
linfócitos: células B, células Te células natural killer. As células B produzem anticorpos, molécu- comportamento relaxado, não-
las de proteínas que se agarram aos agentes forasteiros e os marcam para destruição. Também exis- competitivo, tranqüilo e conciliador.

tem células B de memória que lembram invasores específicos, tomando mais fácil a identificação no psiconeuroimunologia O
futuro. É por isso que temos imunidade vitalícia para certas doenças depois de termos sido expostos estudo do sistema imune do corpo
em resposta a variáveis psicológicas.
a elas naturalmente ou por inoculação. As células T geralmente estão envolvidas no ataque aos inva-
sores; elas, às vezes, também agem como células auxiliares ao aumentar a ativação da resposta sistema imune O mecanismo
corporal para lidar com
imune. As células natural killer são especialmente potentes para matar os vírus e também ajudam a microorganismos invasores como
atacar tumores. Os efeitos prejudiciais do estresse imediato ou de longo prazo sobre a saúde física são alérgenos, bactérias e vírus.
devidos, em parte, à produção diminuída de linfócitos, o que deixa o corpo menos capaz de lutar contra linfócitos Leucócitos
substâncias forasteiras. Uma idéia recente é que o sistema imune funciona como um sistema sensorial especializados, conhecidos como
o que é discutido em "Estudando a mente: O sistema imune é um sistema sensorial?". células B, células Te células natural
A pesquisa na psiconeuroimunologia descobriu que alguns fatores moderam os efeitos do es- killer, que constituem o sistema
imune.
rresse, incluindo intensidade, novidade e previsibilidade. A intensidade do estressor está positiva-
mente relacionada aos glicocorticosteróides e a respostas autonômicas, indicadores de resposta imu- anticorpos Moléculas de
proteína que se agarram aos
ne. Anovidade está relacionada a reações fisiológicas: pára-quedistas de primeira viagem apresentam agentes "forasteiros" e os marcam
glicocorticosteróides e catecolaminas aumentadas no primeiro pulo, mas essas reações fisiológicas para destruição.
diminuem rapidamente nos pulos subseqüentes. Aprevisibilidade aumenta as respostas adaptativas
338 GAZZANIGA e HEATHERTON

ao estresse. Por exemplo, um ruído aversivo é menos tolerável quando administrado imprevisi\·e -
mente (Glass e Singer, 1972).
Em uma demonstração particularmente clara de que o estresse afeta a saúde, Sheldon Cohen ::
colaboradores (1991) pagaram a voluntários sadios para que se expusessem a um vírus comum <:
resfriado. Os que tinham relatado os níveis mais altos de estresse em um questionário tiveram simn-
mas piores de resfriado e contagem vira! mais alta do que aqueles que relataram estar menos estres-
sados (Figura 10.24). Em outro estudo, os participantes mantiveram um diário por até 12 seman ~'
no qual registravam seu humor e os acontecimentos de sua vida. Os participantes também avalia\·a.-
esses acontecimentos como desejáveis ou indesejáveis. Cada dia, eles tomavam uma nova proteir.;:.
para desafiar seu sistema imune secretor e forneciam uma amostra de saliva para que os pesquisado-
res pudessem examinar as respostas de anticorpo. O estudo revelou que, quanto mais desejáveis ~­
acontecimentos relatados pelo sujeito, maior a produção de anticorpos. Similarmente, quanto ma.:;
eventos indesejáveis eram relatados, mais fraca a produção de anticorpos. O efeito de um even·
desejável sobre os anticorpos durava dois dias (Stone et ai., 1994). Esses e achados subseqüem
fornecem evidências substanciais de que o estresse percebido influencia o sistema imune. Confom:.-
mais pesquisas forem realizadas sobre a natureza bidirecional do bem-estar mental e físico, o cam
da psiconeuroimunologia continuará florescendo.

O manejo (coping) é um processo


As avaliações cognitivas afetam a percepção e as reações das pessoas a estressores potenciais. C
manejo (coping) que ocorre antes do início de um futuro estressor é chamado de manejo antecipar--
rio, tal como quando os pais ensaiam como falarão com os filhos sobre seus planos de divórcio.
psicólogo Richard Lazarus (1993) conceitualizou um processo de avaliação com duas partes ..'-~
Que fatores ajudam as pessoas a avaliações primárias são usadas para decidir se o estímulo é estressante, benigno ou irrelevame
lidar com o estresse?
Se o estímulo for considerado estressante, as avaliações secundárias são usadas para avaliar z...
opções de resposta e escolher os comportamentos de manejo.

Tipos de manejo (coping) Uma taxonomia de estratégias de manejo desenvolvida por Fo · -


mane Lazarus sugere que existem duas categorias gerais de estilo de manejo. O manejo (coping
focado na emoção envolve tentar não dar uma resposta emocional ao estressor. Ele inclui estrare-
gias como evitação, minimizando o problema, tentando se distanciar dos resultados do problema, o.
fazendo coisas como comer ou beber. Essas geralmente são estratégia.:
passivas utilizadas para amortecer o sofrimento. Elas não fazem naC:
para resolver o problema ou impedir que ele aconteça novamente nn
50
futuro. Em contraste, o manejo (coping) focado no problema
envolve dar passos diretos para resolver o problema. As pessoas gerar::
45 soluções alternativas, avaliam-nas em termos de custos e benefícios ~
escolhem entre elas. Os comportamentos focados no problema são ado-
tados quando o estressor é percebido como controlável e existe apena.::
um nível moderado de estresse. Inversamente, os comportamentos fo-
cados na emoção permitem que as pessoas continuem funcionando cli-
ante de um estressor incontrolável ou de um alto nível de estresse.
Amaioria das pessoas relata utilizar ambos, o manejo (coping) fo-
cado no problema e o focado na emoção. Normalmente, as estratégias
baseadas na emoção só são efetivas no curto prazo. Por exemplo, se
alguém que está de mau humor está incomodando você, simplesmente
ignorá-lo pode ser a melhor opção. No entanto, ignorar o problema de
25 bebida do seu parceiro não fará com que ele termine e você acabara
precisando de uma estratégia melhor de manejo (coping) . Todavia, para
3-4 5-6 7-8 9-10 11-12 que as estratégias de manejo (coping) focadas no problema funcionem.
as pessoas precisam ser capazes de fazer alguma coisa em relação a
Índice de estresse psicológico situação. Um estudo fascinante testou a melhor maneira de lidar com
uma situação extremamente ameaçadora (Stremz e Auerbach, 1988).
FIGURA 10.24 As pessoas que relataram os níveis mais elevados Nesse estudo, 57 funcionários de uma companhia de aviação foram fei·
de estresse apresentaram maior probabilidade de pegar resfriados. tos reféns por 5 "terroristas", que na verdade eram agentes do FBI. Mes-
O SISTEMA IMUNE É UM SISTEMA SENSORIAL?
Steven Maier e Linda Watkins (2000) argumentaram que o sistema ocorre? Quando as pessoas são infectadas, substâncias conhecidas
mune opera como um sistema sensorial, pois comunica como interleucinas (que comunicam sinais entre as células
nformações para o cérebro sobre infecções e ferimentos. Por sua sangüíneas brancas, conhecidas como leucócitos) transmitem para
1ez, o cérebro utiliza essas informações para lançar um ataque o cérebro uma mensagem que diz essencialmente: "Eu estou
coordenado contra invasores potencialmente perigosos. O ponto doente". Injeções de certas interleucinas causam fadiga, humor
mportante é que o caminho entre o cérebro e o sistema imune é negativo e atividade mental confusa.
oidirecional, de modo que os processos do sistema imune O interessante é que muitas das mudanças mentais e físicas
rifluenciam o funcionamento psicológico e o estado mental altera causadas por infecção são semelhantes às provocadas por
o func ionamento imune. estressores ambientais. Por exemplo, certos neurotransmissores
Quando somos infectados por um vírus, aproximadamente de são liberados no hipotálamo e no hipocampo. Maier e Watkins
Jma a três horas depois começam a ocorrer ações no cérebro que propõem que o estresse pode ativar o mesmo sistema que é
afetam a cognição, o humor e o comportamento. Conforme as usado para lutar contra a infecção. O vínculo entre as respostas
::iessoas ficam doentes, elas se sentem deprimidas e fatigadas, imunes e de estresse pode ser visto nos relatos de depressão
querem ser deixadas sozinhas e querem deitar. Essas respostas entre as pessoas com doenças imunes, como a artrite.
'azem sentido de um ponto de vista evolutivo. Para lutar contra Compreender vínculos potenciais entre o sistema imune e o
Jma infecção, o corpo precisa dirigir energia para a luta e, cérebro pode ajudar os cientistas a entender a conexão entre
::iortanto, a atividade é limitada para conservar energia. Como isso estresse e doença.

::::io que os sujeitos que se apresentaram voluntariamente para serem reféns tivessem total conheci-
:::iento do que ocorreria, a situação era muito realista e eles ficaram extremamente estressados du-
rante os quatro dias do estudo. Metade das pessoas foram treinadas para usar o manejo baseado na
emoção, enquanto a outra metade foi treinada para usar o manejo baseado no problema. Qual estra-
cégia funcionou melhor? O grupo baseado na emoção experienciou menos estresse porque não havia
:iada que os reféns pudessem fazer que não os colocasse em grande perigo. Entretanto, esse estudo
;oi feito em 1988 e, depois das tragédias do World Trade Center e do Pentágono em 11 de setembro
je 2001, já não está claro se uma resposta passiva ajudaria as pessoas a lidarem com a situação. A
suposição anterior de que é mais seguro cooperar com os seqüestradores talvez não seja verdadeira.
_.\ssim, a melhor maneira de lidar com o estresse depende dos recursos pessoais e da situação. Embo-
avaliação primária Parte do
ca o manejo focado no problema geralmente seja mais efetivo no longo prazo, o manejo focado na processo de manejo (coping) que
emoção pode ser uma estratégia útil a curto prazo em algumas circunstâncias, especialmente quan- envolve tomar decisões sobre se um
do as pessoas têm pouco controle sobre a situação. estímulo é estressante, benigno ou
Susan Folkman e Judith Moskowitz (2000) demonstraram que, além do manejo focado no irrelevante.

problema, duas estratégias podem ajudar as pessoas a usar pensamentos positivos para lidar com o avaliação secundária Parte do
processo de manejo (coping) em
.:stresse. A reavaliação positiva é um processo cognitivo em que as pessoas focalizam possíveis
que as pessoas avaliam suas opções
aspectos bons em sua presente situação, o proverbial "não há mal que não venha para o bem", como e escolhem comportamentos de
quando a pessoa se compara com outras que estão em pior situação. Essas comparações com algo pior manejo.
ajudam as pessoas a lidar com doenças sérias. Acriação de eventos positivos se refere a uma estratégia manejo (coping) focado na
de atribuir significado positivo a eventos comuns. Fazer coisas como perceber um lindo pôr-do-sol, emoção Um tipo de manejo em
<entar ver o lado engraçado das situações ou simplesmente curtir um elogio permite às pessoas focar que as pessoas tentam evitar dar
uma resposta emocional a um
os aspectos positivos de sua vida, o que as ajuda a lidar com seu estresse negativo. Por exemplo, os
estressor.
cuidadores de pessoas com AIOS estão sob enorme estresse. Folkman e Moskowitz descobriram que
manejo (coping) focado no
a avaliação positiva, a criação de eventos positivos e o manejo focado no problema - o que deu aos
problema Um tipo de manejo
cuidadores certo senso de controle - foram essenciais para o manejo (coping) bem-sucedido. (coping) que envolve dar passos
diretos para resolver um problema.
Diferenças individuais de manejo (coping) As pessoas diferem amplamente no grau reavaliação positiva Um
em que percebem os eventos de vida como estressantes. Algumas pessoas poderiam ser chamadas de processo cognitivo em que as
-indivíduos resistentes ao estresse" por sua capacidade de se adaptar às mudanças de vida ao enca- pessoas focalizam possíveis aspectos
bons em sua presente situação.
rar os eventos construtivamente. Uma idéia que demonstra essa característica de personalidade é a
intrepidez (hardiness) , desenvolvida por Suzanne Kobasa (1979), que tem três componentes: intrepidez (hardiness) Um traço
de personalidade que permite às
comprometimento, desafio e controle. As pessoas com alto grau de intrepidez são comprometidas com pessoas perceberem os estressores
suas atividades cotidianas, encaram as ameaças como desafios ou oportunidades de crescimento e como desafios controláveis.
vêem a si mesmas como estando no controle de sua vida. As pessoas com baixo grau de intrepidez
340 GAZZANIGA e HEATHERTON

(hardiness) são tipicamente alienadas, vêem os eventos como sob controle externo e temem mudan-
apoio social Uma rede de
pessoas que podem oferecer ajuda,
ças ou resistem a elas. Numerosos estudos descobriram que as pessoas com alto grau de intrepidez
encorajamento e conselhos. (hardiness) relatam menos respostas negativas a eventos estressantes. Em um experimento de labo-
hipótese protetora Propõe que
ratório em que os participantes recebiam uma tarefa cognitiva difícil, as pessoas com alto grau de
outras pessoas podem fornecer intrepidez (hardiness) apresentavam pressão sangüínea mais elevada durante a tarefa, um indicador
apoio direto para ajudar os fisiológico de manejo ativo. Além disso, um questionário respondido logo após a tarefa revelou que
ind ivíduos a manejar event os os sujeitos com alto grau de intrepidez (hardiness) fomentavam o número de pensamentos positivos
estressantes.
sobre si mesmos em resposta ao estressor.

Apoio social Um dos fatores mais importantes para as pessoas lidarem efetivamente com e
estresse é o nível de apoio social que recebem. O apoio social se refere a ter outras pessoas que
podem oferecer ajuda, encorajamento e conselhos. Ter apoio social é um componente essencial dz
boa saúde mental e física. Pessoas doentes que estão socialmente isoladas apresentam uma probabi-
lidade muito maior de morrer do que as que estão bem conectadas com os outros (House et al
1988), em parte porque o isolamento em si está associado a numerosos problemas de saúde. Rea-
procamente, uma recente revisão de mais de 80 estudos encontrou fortes evidências ligando o apoie
social a menos problemas de saúde (Uchino et ai., 1996) . Por exemplo, Janice Kiecolt-Glaser e Ro-
nald Glaser (1988) descobriram que as pessoas com casamentos perturbados e as pessoas em pro-
cesso de divórcio ou de luto tinham sistemas imunes comprometidos. Em um estudo que categorizot:.
recém-casados com base nas interações observadas, os casais que brigavam mais e se mostravaIL
mais hostis um com o outro apresentavam uma atividade diminuída das células assassinas naturais
nas 24 horas posteriores à interação (Kiecolt-Glaser et al., 1993).
O apoio social é importante para as pessoas de todas as idades. Estudos de crianças que pare-
cem resistentes, significando que se saem bem apesar de terem sido criadas em situações de privaçãc
ou de caos, revelam que a presença de apoio parental ou familiar é especialmente importante (Mas-
ten, 2001) . As pessoas mais velhas são especialmente propensas ao isolamento social e, por ess::
razão, os efeitos do apoio social sobre a saúde são particularmente fortes sobre esse grupo.
Oapoio social ajuda as pessoas a lidarem com o estresse de duas maneiras básicas. Primeiro, a'.:
pessoas com apoio social experienciam menos estresse global. Considere as mães sozinhas que têc
de lidar com as demandas do trabalho e da família em isolamento. Não ter um parceiro coloca ma.::
demandas para elas, o que aumenta a probabilidade de que se sintam estressadas. Segundo, o apoi
social ajuda o manejo porque as outras pessoas diminuem os efeitos negativos do estresse. A hipó-
tese protetora (Cohen e Wills, 1985) propõe que os outros podem oferecer apoio direto par:
ajudar as pessoas a lidar com eventos estressantes. Receber apoio emocional é mais importante d·
que simplesmente ter quem dê informações. O apoio emocional inclui expressões de interesse t
disposição a ouvir os problemas das outras pessoas. O apoio social também pode assumir formas maí::
tangíveis, tal como oferecer awa1io material ou ajudar em tarefas do cotidiano. Mas, para ser efetivo. ~
apoio social precisa deixar claro que a pessoa se importa com aquela que está sendo apoiada.

o
Como as pessoas lidam com o estresse?
O estresse ocorre quando as pessoas se sentem esmagadas pelos desafios que enfrentam, tal como quando
acontecem mudanças importantes em sua vida. Hans Selye propôs a teoria da adaptação geral para conceitualizar
os estágios do manejo (coping) fisiológico. O estresse da vida cotidiana inclui tanto mudanças maiores de vida
quanto incomodações do dia-a-dia. A psiconeuroimunologia está descobrindo o vínculo entre estresse e saúde, tal
como os riscos de uma personalidade hostil. Entretanto, as avaliações cognitivas, tal como determinar a relevância
do estressor ou adotar uma abordagem focada no problema versus focada na emoção, pode aliviar o estresse ou
minimizar seus efeitos prejudiciais. Talvez a maneira mais importante de lidar com o estresse seja pela interação
com outras pessoas que forneçam apoio social
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 341

CONCLUSÃO
Por muitos anos, os cientistas compararam o cérebro a um aparelho de processamento da infor-
mação, como o computador. Os humanos dificilmente funcionam assim. Eles reagem ao input ambien-
tal com reações fisiológicas e cognições, que juntas produzem estados mentais que são percebidos
como positivos ou negativos, ou com tons intermediários. Essa resposta é conhecida como emoção, e
é uma força primária que motiva comportamentos adaptativos e desencoraja comportamentos desa-
daptativos. Pensar sobre as emoções e o estresse de um ponto de vista evolutivo traz novas perspec-
tivas para o seu entendimento. Por exemplo, emoções como vergonha e culpa geralmente são vistas
como uma bagagem emocional desnecessária. Mas culpa, embaraço e emoções parecidas ajudam a
manter e afirmar laços sociais e, portanto, têm função adaptativa. Da mesma forma, a suposição de
que lutar ou fugir era uma resposta uniforme ao estresse não faz sentido do ponto de vista evolutivo.
Recentemente, foi demonstrado que as fêmeas de muitas espécies se comportam de uma maneira
completamente diferente - cuidando e ajudando - que faz muito mais sentido adaptativamente. A
revolução biológica produziu pesquisas baseadas no conhecimento cumulativo sobre as emoções.
Essas pesquisas forneceram amplas evidências de como o cérebro processa informações ameaçado-
ras e produz respostas adaptativas. Agora que os cientistas psicológicos adotaram uma abordagem
mais funcional ao entendimento do estresse e da emoção, novos insights continuarão surgindo.

LEITURAS ADICIONAIS
Damasio, A. R. (1999). The feeling of what happens. New York: Harcourt Brace.
Ekman, P.; Davidson, R. J. (1994). The nature of emotion: Fundamental questions. New York: Oxford University
Press.
Glaser, R.; Kiecolt-Glaser, J. K. (1994). Handbook of human stress and immunity. San Diego: Academic Press.
Jenkins, J. M.; Oatley, K.; Stein, N. L. (1998). Human emotions: A reader. Malden, MA: Blackwell Publishers.
Lane, R. D.; Nadei, L.; Ahern, G. (1999). Cognitive neuroscience of emotion. New York: Oxford University Press.
LeDoux, J. E. (1996). The emotional brain: The mysterious underpinnings of emotional life. New York: Simon &
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Lewis, M.; Haviland, J, M. (1993). Handbook of emotions. New York: Guilford.
Panksepp, J, (1998). Affective neuroscience: The foundations of human and animal emotions. New York: Oxford
University Press.
Sapolsky, R. M. (1994) Why zebras don't get ulcers. New York: Freeman.
Sternberg, E. M. (2000). The balance within. New York: Freeman.
G291c Gazzaniga, Michael S.
Ciência psicológica: mente, cérebro e comportamento /
Michael S. Gazzaniga e Todd F. Heatherton; trad. Maria
Adriana Veríssimo Veronese. - 2. imp. rev. - Porto Alegre:
Artmed, 2005.

ISBN 978-85-363-0432-8

1. Psicologia - Ciência . 1. Heatherton, Todd F. li. Título

CDU 159.9.01/.98

Catalogação na publicação: Mônica Ballejo Canto - CRB 10/1023

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