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“Vocês poderiam retirar todas estas cadeiras e encher de areia o pavimento, para
confortável sedentarismo.” Ele talvez nem se recorde já, mas, desde aí, isso ficou-me na
cabeça e tenho contado muitas vezes esta história, embora, confesso, mais como repto a
Depois aconteceu isto: há muito tempo que na Capela do Rato, onde fui estes anos
capelão, se vinha pensando aproveitar o habitual fecho estivo da capela para lançar um
convite a artistas que nos ajudassem, com outras linguagens e até outros pontos de vista,
aceitou ficar como curadora deste projeto e propôs uma dupla para iniciá-lo: Carlos
Nogueira, que criaria uma instalação, e o poeta Manuel de Freitas, que teria à sua
responsabilidade a elaboração dos textos. Ora, logo nas primeiras conversas, e sem
atual e forçando a que, no caminhar, tomemos maior consciência da forma e do som dos
nossos próprios passos (coisa tão necessária, mas afinal tão pouco frequente). Este
verão, quem entrar na capela escutará antes de tudo a marcha dos seus passos através da
escuridão. E não é fácil caminhar sobre a gravilha irregular ali colocada: é como se o
esse? E ainda: como se faz? É como se o nosso corpo fosse implicado num processo de
como uma mesa aberta ou um sepulcro vazio. O impacto do branco é obtido por uma
coesa camada de sal sobre a qual recai uma luz que acentua o cromatismo. Um branco
assim pode ser lido como um signo cristológico, pois recorda a passagem do Evangelho
brancas como nenhum lavadeiro sobre a terra as poderia branquear” (Mc. 9,3). E se
novo envio a Jesus, que disse aos seus discípulos: “Vós sois o sal da terra” (Mt. 5,13).
celebrante repetia: “Deus dos nossos pais, Deus, autor de toda a verdade,
encarecidamente vos pedimos, olhai com bondade para o vosso servo que acaba de
provar este primeiro alimento, o sal. Saciai-o quanto antes com o pão celeste.” Talvez
não seja despropositada esta referência ao batismo, pois Carlos Nogueira pontua
também o silêncio da capela com o som da água que corre — na gramática cristã, uma
“num silêncio cada vez maior... oferece-nos um chão perdoável”. Acho que é