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CALVINISMO – UM SISTEMA QUE ELEVA A FAMÍLIA AO SEU LUGAR

CORRETO

Por

SAMUEL SANTOS BEZERRA

Ensayo académico presentado al Prof. Dr. Valdeci Silva como


requisito parcial del Modulo de Cosmovisión Reformada del
post grado en Teología Pastoral del Centro Presbiteriano
Andrew Jamper.

SEMINARIO TEOLÓGICO
IGLESIA PRESBITERIANA DE CHILE

Santiago-Chile
2005
2

ÍNDICE

INTRODUCCIÓN......................................................................................................................3

I- O CALVINISMO E A NORMATIVIDADE DA PALAVRA PARA A FAMÍLIA..................5

II – O CALVINISMO E O CENÁRIO PACTUAL DA FAMÍLIA..........................................21

CONCLUSÃO..........................................................................................................................28

BIBLIOGRAFIA......................................................................................................................30
3

INTRODUCCIÓN

A família tem sido em nossos dias, ferrenhamente atacada, por instrumentos

alheios à verdade de Deus, e ao seu propósito de satisfação e glória. Estes ataques procedem

de duas direções cuja base é comum.

A primeira, de dentro da própria família. Onde se nota distorções no campo dos

desejos mútuos, da fidelidade, comunicação, prioridades, submissão, respeito e outros mais. O

que era para ser uma amizade que espelha contentamento e alegria (marido e mulher) torna-se

um campo de guerra de quem “pode mais”. O que era para ser um exercício da

responsabilidade (pais e filhos) e o prazer pela honra devida (filhos e pais), apresenta-se como

um terreno de provocação da ira e a atrevida desobediência.

A segunda direção procede de fora da família. É vociferado o ataque da sociedade

e seus meios de comunicação que tentam menosprezar os valores familiares. A mídia conduz

as pessoas à “torcida” por um relacionamento adúltero; o “não preconceito sexual” (discurso

em voga: preferência de sexo é particular e livre) é a bandeira erguida pelos autodenominados

“maduros e mente aberta”; a educação dos filhos recebe uma roupagem impositora da

neutralidade em nome da neutralidade.

É nessa “faixa de gaza” que encontramos a família. Ainda tendo que lutar contra a

base comum que une as duas linhas de ataque: A própria inclinação do coração, que Kris

Lundgaard, chama de “O mal que habita em mim.” 1 E nesse tortuoso caminho é quase comum

sermos “testemunhas” de matrimonios despedaçados, filhos indisciplinados, cujo princípio de

1
Kris Lundgaard, O mal que habita em mim, Editora Cultura Cristã.
4

uma disciplina psicologizada é defendida arduamente como um progresso intelectual e

moderno.

Diante dessa dura realidade, duas básicas inevitáveis perguntas são: Existe uma

mensagem de socorro? Em que direção podemos olhar para restabelecer o lugar correto da

família e suas implicações?

Pretendo neste breve ensaio apresentar que:

1) Há esperança;

2) O Calvinismo é o sistema que eleva a família ao seu lugar correto;

3) É imprescindível o regresso à Palavra de Deus, como manual da vida;

4) Sendo a Bíblia a base e norte para toda felicidade do matrimonio, o que ela diz

acerca desse tema? Como se caracteriza a família que deseja usufruir de todas as riquezas

desse relacionamento instituído por Deus?;

À luz dessas necessidades e desafios pretendo nesse ensaio estabecer minha

discussão sobre três pilares fundamentais que os intitulo como:

I) O Calvinismo e a normatividade da Palavra para a família; e

II) O Calvinismo e a relação pactual na família

Que Deus me abençoe nesta tarefa. Amém.


5

I- O CALVINISMO E A NORMATIVIDADE DA PALAVRA PARA A


FAMÍLIA

“... Sendo, pois, notório que Deus, cada vez que desejou ensinar aos homens com

algum fruto, se utilizou da Palavra, porque via que sua imagem, que havia impresso na

formosura da obra neste mundo, não era nem eficaz nem suficiente, se desejamos contemplar

a Deus perfeitamente é necessário que sigamos por este mesmo caminho. É mister, digo, que

busquemos a Sua Palavra, na qual, deveras, nos mostra Deus e o descreve em Suas obras,

quando, as consideramos como convém, não conforme a perversidade do nosso juízo, senão

segundo a regra da verdade que é imutável. Se nos apartamos da Palavra, como já tenho dito,

mesmo que nos esforcemos com grande empenho - pelo fato de a corrida ser fora da pista -

jamais conseguiremos atingir a meta.”2

O Calvinismo entende que a Palavra de Deus é a norma de vida para o ser humano.

Como ser criado, portanto, finito, necessita de direção e ninguém melhor que o seu Criador

pode proporcionar-la. Além de tratar-se de indicação para a melhor maneira de viver, também

se apresenta como um refúgio de consolo e promessa, quando somos como família, atacados

por toda sorte de propostas que ferem o verdadeiro sentido de sua existência. Estou sendo

categórico, pois vivemos dias, em que tudo se baseia no ataque aos absolutos, uma atitude que

denomino: covardia em nome do relativismo. Pois, quando alguém afirma que tudo é relativo,

na verdade está defendendo uma afirmação cujo caráter é simplesmente “absoluto” (“tudo é

relativo”). E ainda mais, está invalidando a própria postulação, pois, se tudo é relativo, até

2
Juan Calvino, Institución de La Religión Cristiana, Libro 1, cap. VI, localizada em:
http://www.iglesiareformada.com/Calvino_Institucion_1_6.html acessada em 13.07.2005.
6

esta suposta base também é relativa, e assim perde completamente qualquer suposta

confiabilidade.

Um periodista inglês chamado Steve Turner, escreveu um poema satírico

intitulado: Credd, que exibe bem esta disposição incoerente e enganosa da mente moderna.3

Cremos em Marx Freud Darwin.

Cremos que tudo está bem

enquanto você não machuque a ninguém,

em sua melhor definição de machucar,

e no melhor do seu conhecimento.

Cremos no sexo antes, durante

e depois do casamento.

Cremos na terapia do pecado.

Cremos que o adúlterio é divertido.

Cremos que a sodomia é boa.

Cremos que os tabús son tabús.

Cremos que tudo melhorará

pese as evidencias o contrário.

A evidência deve ser investigada

e você pode provar tudo com evidencia.

Cremos que há algo nos horóscopos,

OVNIS e colheres torcidas;

3
Steve Turner, Creed, localizado em: http://www.poemhunter.com/p/m/poem.asp?poet=6839&poem=33665,
acessado em 24.08.2005.
7

Jesus foi um bom homem tal como Buda,

Maomé ou nós mesmos.

Foi um bom mestre da moral ainda que pensemos que suas boas obras foram más.

Cremos que todas as religiões são basicamente iguais—

ao menos aquela que leíamos o era.

Todas crêem no amor e na bondade.

Somente diferem em temas de criação, pecado, céu, inferno, Deus e salvação.

Cremos que após a morte vem o nada,

porque quando preguntamos aos mortos o que passa não dizem nada.

Se a morte não é o fim, se os mortos mentirão,

logo o céu é obrigatório para todos.

Exceto, tal vez

Hitler, Stalin e Gengis Khan.

Cremos em Masters e Johnson.

O selecionado é o médio.

O médio é normal.

O normal é bom.

Cremos no desarme total.

Cremos que há vínculos diretos entre a guerra e a matança.

Os norte americanos devem transformar suas armas em tratores E

os rusos certamente fariam o mesmo.

Cremos que o homem é essencialmente bueno.

Apenas sua conduta é o que falha.


8

Esta é a falha da sociedade.

A sociedade é a falha das condições.

As condições são as falhas da sociedade.

Creemos que todo homem deve buscar a verdade

que seja boa para ele.

A realidade se adaptará de acordo com ele.

O universo será reajustado

a história se alterará.

Cremos que não há verdade absoluta

exceto a verdade

de que não há verdade absoluta.

Cremos na rejeição dos credos,

e no florecer do pensamento individual.

Como me referi essa é uma critica à tentativa das pessoas de serem arquitetas de

suas supostas “verdades” particulares. Qual o critério de definição? O bem particular. E

quantos bens existem? Quem define? Todas as respostas são evasivas e desprovidas de

coerência. É este o terreno falso em que se fundamenta nossa sociedade. Todavia, o

calvinismo tem uma resposta sólida e segura aos nossos tempos de sede pela verdade. Uma

vez, que se entende “que não é Deus quem existe por causa de sua criação, mas a criação é

que existe por causa de Deus,”4 conclui-se que qualquer elaboração deve partir do pressuposto

de que nEle, por Ele e para Ele são todas as coisas. Sua Palavra é a diretriz para toda família,

4
Conforme Abraham Kuyper, Calvinismo, p. 55, Editora Cultura Cristã, 2004.
9

pois, por meio dessa conhecemos a riqueza de Sua vontade. 5 Calvino enfatiza: “...pois não há

vida permanente a não ser em Deus, e que esta nos é comunicada pela Palavra.”6

Aqui se faz propicia a declaração de Cambridge: “A Escritura deve nos levar além

de nossas necessidades percebidas para nossas necessidades reais, e libertar-nos do hábito de

nos enxergar por meio das imagens sedutoras, clichês, promessas e prioridades da cultura

massificada. É só à luz da verdade de Deus que nós nos entendemos corretamente e abrimos

os olhos para a provisão de Deus para a nossa sociedade.”7

Calvino também enfatiza: “Mas, para que a verdadeira religião resplandeça em

nós, é preciso que ela seja o ponto de partida da doutrina celeste, pois não pode provar se quer

o mais leve gosto da reta e sã doutrina, senão aquele que se tornar discípulo da Escritura. Pois

o princípio do verdadeiro entendimento vem do fato de abraçar-mos, reverentemente, o Deus

que testifica de Si mesmo na Escritura. Da obediência à Palavra de Deus nascem não somente

a fé consumada e completa, em todos os seus aspectos, mas também todo reto conhecimento

de Deus. E neste aspecto, sem dúvida alguma, Deus, com singular providência, levou em

5
A Confissão de Fé de Westminster, 1:1 nos diz: “Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da
providência manifestam de tal modo a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam
inescusáveis, todavia não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade, necessário à
salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos revelar-se e declarar à sua Igreja
aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro
estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi
igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna a Escritura Sagrada indispensável, tendo cessado aqueles
antigos modos de Deus revelar a sua vontade ao seu povo.” Warfield enfatizou da seguinte maneira: “Nenhum
homem pode compreender, intelectualmente, todo o significado das revelações da autoridade, salvo como
resultado de experimentá las na sua vida. Por isso, para que as verdades concernentes às coisas divinas possam
ser compreendidas de tal forma, que se unam com um verdadeiro conjunto de verdade divina, elas devem ser:
Primeiro, reveladas em uma palavra autoritativa; segundo, experimentadas num coração santo; e terceira,
formuladas por um intelecto santificado. Somente quando estes três se unem, então, podemos ter uma verdadeira
teologia. E, igualmente, para que estas mesmas verdades possam ser recebidas de forma a produzir em nós uma
religião viva, elas devem ser: primeiro, reveladas em uma palavra autoritativa; segundo, apreendidas por um
intelecto sadio; e terceiro, experimentadas num coração instruído. Somente nesta união, portanto, podemos ter
uma religião vital.” (Benjamin B. Warfield, Autoridade, Intelecto, Coração, localizado em
http://www.geocities.com/arpav/biblioteca/autoridade_itelecto_razao.html , acessado em 18.08.2005.
6
John Calvin, Calvin’s Bible Commentaries, I Peter 2.25, p. 51, The Ages Digital Library, 1998.
7
Declaração de Cambridge, localizada em:
http://www.christianity.com/partner/Article_Display_Page/0,,PTID307086%7CCHID581262%7CCIID1411378,
00.html, acessado em 23.08.2005.
10

conta os mortais em todos os tempos.” 8 E ainda: “Portanto, por mais que ao homem sério

convenha levar em conta as obras de Deus - uma vez que foi ele colocado no belíssimo teatro

do mundo para ser expectador da obra divina -, contudo, para ele poder aproveitá-la melhor,

precisa dar ouvidos à Palavra.”9

A família deve imprescindivelmente estar apegada à Palavra 10, pois é esta quem

definirá as relações mútuas entre esposo/esposa, pais/filhos, seus critérios de bom ou mal, e

seus alvos de felicidade. Comentando Efésios 5.26, Calvino afirma: “Certamente que, quando

olhamos para tudo, menos para a Palavra, não vemos nada saudável, não vemos nada puro.” 11

É este espírito cativo de obediência à Palavra que nos remete à conclusão de que o

transcendente Deus criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis, foi quem instituiu a

família, e é quem concede a vida e a preserva. Assim, sendo transcendente também é

imanente e se relaciona com o homem. Todo este conhecimento apenas se tornou possível,

porque de maneira maravilhosa e providencial esse Deus quis se revelar ordinariamente por

meio de Sua Palavra, rejeitá-la como norma é rejeitar o próprio Deus. Vejamos brevemente o

que diz a Bíblia desta relação.12

1. Missão

Cabe aquí a comovente descrição de Longman: “Os três primeiros capítulos da

Bíblia contam uma história dramática. É a história de uma criação perfeita, a oferta de gozo

8
Juan Calvino, Institución de la Religión Cristiana, Libro 1, cap. VI, localizada em:
http://www.iglesiareformada.com/Calvino_Institucion_1_6.html
9
Ibidem, I, VI.
10
“O Calvinista insiste que os princípios da Palavra de Deus são válidos não somente para si mesmo, mas
também para todos os cidadãos. Posto que Deus deve ser considerado como Soberano por todos, quer queriam
ou não, da mesma maneira a Biblia deveria ser a regra determinante para todos (e em todas as áreas).” (H. Henry
Meeter, Las Ideas Básicas del Calvinismo, 5ª edición revisada (Grand Rapids: Baker Book House, [1939]
1956), 99-100.
11
João Calvino, Efésios, p. 170, Edições Paracletos, 1998.
12
Reconheço que muitas vezes a Bíblia tem sido usada para justificar muitos equívocos. Desde o “feminismo
radical” até o “domínio masculino inflexível”. Porém, me sinto seguro em razão do princípio defendido pelo
sistema reformado de uma séria interpretação bíblica, alicerçada por uma fiel exegese e correta aplicação
hermenêutica, este é o nosso compromisso: fidelidade à Palavra de Deus.
11

inconcebível, o encontro selvagem de duas pessoas –, outrora um, que se tornaram dois e que

ansiavam por juntar-se novamente em união –, uma queda devastadora rumo ao mal, um

resgate divino e a provisão para a restauração.”13

Os reformados compreendiam que o matrimonio era algo nobre, “divinamente

ordenado como o único contexto em que a sexualidade podia ser praticada sem pecado”. E

este entendimento foi claramente aplicado tanto em “sua teologia quanto em sua vida

pessoal.”14

A Bíblia nos relata que Deus, por meio de sua sabedoria, fez este mundo bom com

tudo o que há nele, e isto de maneira ordenada e harmonizada. A narrativa no capítulo 2

enfoca a criação do homem. Dentre toda a criação de Deus, somente o homem (ser humano)

foi feito à sua imagem e semelhança (“E viu Deus que era muito bom, Gn 1.31). Esta verdade

é tão marcante e determinante na estrutura do homem que mesmo após a queda, ele não a

perdeu. Mesmo pecador, é mais do que um animal, é maravilhosamente um ser criado à

imagem e semelhança de Deus15. Como bem expressou Longman: “Não somos resultados do

acaso nem de nossa própria invenção. Não somos mero resultados da criação: somos o deleite

13
Tremper Longman & D.A. Allender, Aliados Íntimos, p. 33, Editora Mundo Cristão, 1999.
14
Podemos, por exemplo, pensar em Calvino, que conforme pesquisa realizada pelo Rev. Dr. Alderi de Souza
Matos (Artigo intitulado: Herdeiros da Mesma Graça de Vida: A Família na Experiência dos Reformadores,
localizado em: http://www.monergismo.com, acessado em 23.08.2005) , casou-se em agosto de 1540 com a
viúva Idelette de Bure, uma de suas paroquianas na pequena igreja de refugiados que pastoreou por 3 anos em
Estrasburgo. O casamento foi oficiado pelo colega e amigo Guilherme Farel, que, escrevendo a outro pastor,
disse que Calvino havia se casado com uma mulher íntegra e honesta, e até mesmo bonita. Idelette veio da atual
província holandesa de Gelderland. Seu primeiro marido, o comerciante Jean Stordeur, um ex-anabatista que
havia abraçado as idéias de Calvino, faleceu vitimado pela peste, deixando-a com dois filhos, um menino e uma
menina. Em suas cartas a amigos, Calvino disse que nunca imaginou ser possível tamanha felicidade. Idelette
mostrou-se uma companheira exemplar e seu marido se orgulhava do seu bom senso, da sua coragem e da sua
espiritualidade calorosa e comunicativa. O relacionamento quase perfeito foi, contudo, sombreado por algumas
provações. Os dois cônjuges tinham muitos problemas de saúde e seu único filhinho, Jacques, morreu pouco
depois de nascer em 28 de julho de 1542. Após quase 10 anos de harmoniosa vida conjugal, a própria Idelette
veio a falecer no dia 29 de março de 1549. Escrevendo pouco depois ao colega Pierre Viret, Calvino afirmou:
“Choro a perda da minha melhor companheira... Durante a sua vida, ela foi a fiel auxiliadora do meu ministério”.
Nos 15 anos que ainda viveu, o reformador não tornou a casar-se, mas não viveu só, moravam com ele seus
irmãos, suas famílias, estudantes e hóspedes freqüentes. Maiores informações acessar: www.the-
highway.com/Idelette.html
15
Calvino, comentando a passagem de Isaías 43.7, conclui que a razão da existência e confiança do povo estava
em refletir a glória de Deus. (John Calvin, Calvin’s Bible Commentaries, Isaías 43.7, p. 152, The Ages Digital
Library, 1998).
12

de Sua glória.”16 Piper escreve: “A posição de portador de imagem era para que refletisse a

glória de quem o fez.”17 O salmista Davi quando visualiza a criação, entende quão

privilegiado é o homem, e num assombrado reconhecimento é conduzido à glorificação do

Senhor como responsável por todas essas maravilhas:

“Quando contemplo os teus céus, obra de teus dedos, e a lua e as estrelas que

estabeleceste, que é homem, que dele te lembres? E o filho do homem, que o visites?

Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que Deus e de glória e de honra o coroaste.

Deste-lhe domínio sobre as obras da tua mão e sob seus pés tudo lhe puseste: Ovelhas e bois,

todos, e também os animais do campo. As aves do céu, e os peixes do mar, e tudo o que

percorre as sendas dos mares.” Salmo 8:3-8

A compreensão da missão da família está associada à descoberta do seu ponto de

partida. Diria que esta perspectiva faz parte da seiva que estrutura o calvinismo: Glória de

Deus. O Breve Catecismo de Westminster, começa com a pergunta: Qual é o fim principal do

homem? E responde: O fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre.

Este privilégio destacado de refletir glória é a grande missão da família em todas

as áreas da nossa vida18. O cenário do Éden com a sua ordem comandada pelo Senhor é um

reflexo do Deus que gosta da ordem. 19 Os Cônjuges trabalham20 para refletir glória ao outro

e essa parceria de missão sucede em um cenário que ainda não é perfeito, uma vez que ainda

somos alvos da influência do pecado, todavia, por causa da obra de Cristo me torna possível,

cada dia, ser melhor refletor de glória.

16
Tremper Longman & D.A. Allender, Op. Cit., p. 35.
17
John Piper, Teologia da Alegria, Apêndice, p. 262
18
Anthony Hoekema, Criados à Imagem de Deus, Editora Cultura Cristã, p. 65,73, salientou dois fatores: era
para o homem espelhar a Deus e para representar a Deus. Como tal, o homem, como imagem, tem vários
aspectos estruturais e funcionais.
19
Conf. Willem A. VanGemeren, Lei e Evangelho, O ponto de vista reformado não-teonomico, p. 17,
Organizado por Stanley Gundry, Editora Vida, 2003 .
20
A idéia de grande esforço e dedicação.
13

Concordo com Piper quando relaciona a ordem de Deus registrada em Gn 1.28,

sobre crescer e multiplicar com o propósito direto “de encher a terra dessa glória divina”.21

Numa classe sobre aconselhamentos de casais, Rev. Wadislau Gomes 22 tratando

sobre a nobreza presente na missão de homem e mulher no matrimônio, aplica as

responsabilidades dadas por Deus a Adão e Eva de cultivar e guardar como também

aplicáveis no relacionamento familiar. Deus deu ao homem a proteção, e deu à mulher a

função produtora de relacionamentos. Assim, o homem reflete a guarda e a proteção e a

mulher reflete o para que esta guarda e proteção. E isto tudo acontece em glória, porque é

cumprimento de propósito. “Na presença de Deus em favor da mulher”. Eva cuidava

(auxiliadora) de Adão e Adão (cultivador e guardador) refletia glória a Eva.

2. Relação

Deus não criou o homem para solidão.23 Criando Adão e Eva à sua imagen e

semelhança deixava claro o seu caráter santo e ao mesmo tempo relacional. 24 A normalidade é

o casamento, mas alguém pode contra argumentar: “E o celibato?” Concordo com Adams

quando conclui que o celibato é uma questão de excepcionalidade e necessita de dom

particular.25

Em Gênesis 2.20, depois que Adão começou a cumprir sua missão de cuidar e

nomear, percebeu que apenas ele não tinha uma companheira. Esta apreensão de Adão é muito

interessante, porque é exatamente depois dela que temos a narrativa detalhada da criação da

21
John Piper, Op. Cit, Apêndice, p. 262
22
Wadislau Martins Gomes, Curso de Aconselhamento de Casais, Centro de Pós Graduação Andrew Jumper,
de 03.03.2004- 06.03.2004
23
Em Gn 2:18 encontramos: Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma
auxiliadora que lhe seja idônea
24
Calvino entende que em Gn 9.6, a imagem mencionada por Moisés indica retidão e integridade de toda alma, e
o propósito é exatamente que o homem possa refletir “como espelho”, a sabedoria, retidão e bondade de Deus.
(John Calvin, Calvin’s Bible Commentaries, Colossians 3.10, p. 73, The Ages Digital Library, 1998).
25
Jay E. Adams, Op. Cit., p. 31. Temos o mesmo autor enfatizando: “O estado básico, ordinário e mais natural é
o do casamento.” E mais: “... Deus criou a mulher para o homem porque disse que o celibato não era bom.”
14

mulher. Ou seja, alguma coisa muito significativa e importante estava faltando, e era a

mulher. Então Deus a forma de Adão e temos conforme aplica Adams “a primeira cerimônia

de casamento, onde o celebrante é o próprio Deus.”26

Nesta relação, homem e a mulher são iguais no sentido de que ambos são

portadores da imagem de Deus27 e diferentes no sentido de que são duas pessoas, e, portanto,

diferentes.

3. Função

É salutar o destaque de que uma diferença de função não implica uma diminuição

de caráter, ou de pessoalidade.28 Quando Deus criou Adão e Eva deu funções diferentes a

ambos.

Uma pessoa pode possuir uma função diferente, e, todavia, ser igual em valor. As

mulheres são iguais aos homens, no sentido de que ambos foram criados à imagem de Deus e,

portanto, estão no mesmo nível. Nenhum é inferior ou superior ao outro. Não me refiro a uma

distinção ontológica, ou depreciação de um em detrimento do outro, mas sim a um tema

simples e claro de função na igreja e em casa.

A narrativa de Gênesis 2, nos demonstra que Adão reconheceu a mulher como

tendo sido feita da sua essência (“osso dos meus ossos e carne da minha carne” – Gn 2.23; e

26
Ibidem.
27
Para Calvino imagem é o mesmo que semelhança (ver Commentario de Gn 1.26), inclui verdadeiro
conhecimento, justiça e santidade.
28
O que nos caracteriza com pessoa e não apenas personalidade.
15

por essa razão, “deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só

carne”- v. 24)29 porém, diferente, “será chamada 'ishshâ, pois do 'îsh foi formada.”30.

No casamento, portanto, temos uma unidade de pessoas diferentes que encontra o

seu comum em Cristo. Entendo que foi isto que Calvino se referiu em seu comentário de Ef

5.28, ao afirmar: “O matrimônio foi instituído por Deus com o propósito de que o homem e a

mulher se tornassem um só; e para que essa unidade fosse a mais santa possível, ele diz que

ela é enaltecida pela consideração que Cristo tem por Sua igreja.”31

Uma incorreta conclusão desse princípio traz grandes problemas na relação

familiar. Acompanhando casais no aconselhamento bíblico, tenho percibido que conflitos são

inflamados porque um cônjuge pensa que seu companheiro (a) deve ser a cópia exata de si

mesmo (a). Exige que o senso de organização, comportamentos, gostos, reações diante dos

desafios, etc., do cônjuge devem ser iguais aos seus, e quando isto não sucede (em realidade

nunca sucede, porque ninguém é igual a outro) vêm a frustração, desentendimentos, e cousas

dessa natureza corrompida. O casamento não é uma união egoísta consigo mesmo. É um

disfrutar em graça, num terreno de amadurecimento, onde se dá em glória e se recebe em

amor e fé, numa relação profunda que espelha a relação de Cristo com a sua igreja.

29
Calvino referindo-se a este deixar e unir afirma: “É preferível que ele deixe a seu pai do que não unir-se à sua
esposa. O vínculo matrimonial não despreza os outros deveres de humanidade, nem as determinações divinas são
tão inconsistentes umas com as outras, que um homem não possa ser um bom e fiel esposo sem cessar de ser um
filho dedicado. É uma questão de graus. Moisés esboça a comparação para expressar melhor a justa e sacra união
entre esposo e esposa. Pois a obrigação de um filho para com seu pai é inviolável lei da natureza. E quando os
laços de um esposo para com sua esposa tem a preferência, sua força é melhor entendida. Aquele que quer ser
um bom esposo não cessará de demonstrar que é filho de seu pai; mas preferirá o matrimonio como o mais santo
de todos os laços.” (João Calvino, Comentário de Efésios, p. 175)
30
Entendendo que nomear era uma demonstração de autoridade e responsabilidade, ao chamar sua mulher de
'ishshâ (varoa, mulher) deixa claro que ainda que saia dele, é uma outra pessoa que não ele. G. Van Groningen,
em Criação e Consumação, coloca da seguinte maneira: Eva era “não mais um pouco de pó, mas uma parte do
que Ele (Deus) tinha formado, previamente, como seu agente real.”
31
João Calvino, Comentário de Efésios, p.172.
16

Claramente, vemos este princípio nas Escrituras, onde é dito que Cristo se

submeteu a Deus. E obviamente o papel distinto do Filho não implica que ele é

essencialmente inferior ao Pai.

A) A Perpectiva Homem e Mulher

1. Cultivar – dominar (Autoridade do homem)

O princípio estabelecido por Deus foi que o homem assumiria a responsabilidade

de domínio e governo. Podemos afirmar que o ato de Deus em colocar o homem no jardim

(que Ele mesmo criou, ou literalmente “plantou”) como “sua casa”, “habitat” e outorgar sobre

ele a missão de servir (trabalhar para, cultivar), é uma transmissão de responsabilidade onde a

realização por parte do homem desse chamado, redundaria em glória a Deus. Portanto, a

missão recibida pelo homem, abrange tanto o laborar criativo com a criação geral de Deus

quanto suas relações com Eva. Uma vez que esta foi formada (literalmente construída) a

partir de Adão. É nesse sentido, que Van Groningen refere-se a Adão e Eva como os primeiros

vice-gerentes de Deus.32 E em hipótese alguma este labor é resultado do pecado.

Este papel evidente de responsabilidade para com Deus em relação às coisas

criadas, também se aplica à família, uma vez que, observando a Bíblia como um todo,

concluímos à luz da harmonia dos textos bíblicos, que o princípio de funções estabelecido

pelo criador também norteia o princípio das relações.33

Em Efésios 5.31, o apostólo Paulo relaciona a união espiritual de Cristo com sua

Igreja com o princípio geral do matrimônio, apresentado em Gn 2.24. Da mesma maneira, em

32
Harriet e Gerard van Groningen, A Família da Aliança, p. 58
33
Glorificar a Deus, cultivando a autoridade sábia na família, cuidando da natureza, e estendendo as implicações
de ser mordomo do criador para todo o mundo.
17

I Co 11.18, Paulo nos remete ao princípio do matrimônio mais uma vez: “... Porque foi

formado, Adão e depois Eva”. No versículo 3, o termo utilizado por Paulo para transmitir a

ideia de responsabilidade sobre é “kephale”: cabeça.34 Todos esses textos e mais muitos

outros, como por exemplo: I Tm 2.13-14, I Co 14.34, Ef 5.22-23, Col 3.18-19, I Pe 3:1-7,

destacam um ensinamento supra cultural: a função do marido como liderança familiar/

autoridade sobre sua esposa. Este recurso, de reportar-se ao princípio dos fundamentos e

portanto, diretivo, também foi utilizado por Cristo em Mateus 19.6 quando apresentou o

relacionamento que maridos e esposas deveriam manter um para com o outro.35

1.1. Como? Em amor

Alguém expressou que autoridade “é uma responsabilidade que leva em

consideração o beneficio do outro além do seu próprio.” É nesse espírito de exercício de

domínio/autoridade que o homem labora na e para a família. 36 A advertência do apostólo

Paulo em Efésios 5.25, recai na prática do amor como cumprimento de função. Portanto, a

função de autoridade do homem em relação à mulher, dar-se no amar tendo como paradigma

o amor de Cristo por sua igreja, que “não exitou em morrer por ela”. Calvino assim

expressou: “Todo aquele que considera seriamente o propósito do matrimônio não pode fazer

outra coisa senão amar a sua esposa.”37 Reconhecemos a forte tendência daquele que exerce

34
“Quero, entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça de todo homem, e o homem, o cabeça da mulher, e Deus, o
cabeça de Cristo.”
35
Ver mais abrangentemente desde Mateus 19:4-6.
36
Knight comentando sobre o texto de Ef 5.21-33 afirma: “Esta passagem está repleta de instruções para o
matrimônio. As idéias importantes aparecem no fluxo do argumento: A submissão uns aos outros no temor do
Senhor (v. 21); a submissão da esposa para com seu marido como cabeça, assim como a igreja se submete a
Cristo como seu cabeça (v. 22-24); o amor do marido para com sua esposa, como Cristo amou a igreja (v. 25-30);
a apelação a Gênesis 2:24 (verso 31); e o resumo concluindo (verso 33) com sua ênfase no amor do marido e o
respeito da esposa.” (George W. Knight III, Husbands and Wives as Analogues of Christ and the Church,
Ephesians 5:21 and Colossians 3:18-19, in Recovering Biblical Manhood and Womanhood: A Response to
Evangelical Feminism, Wayne Grudem and John Piper). Em outro trabalho intitulado Homem e mulher e suas
atribuições, Editora Os Puritanos, p. 41, expressou Knight: “Assim como o dar à luz filhos e trabalho foram
estabelecidos antes da Queda e foram corrompidos por ela, também esse relacionamento (esposa sujeitando-se a
seu marido) existia antes da Queda, e foi corrompido por ela. Nem o dar à luz filhos, nem o trabalho, nem o
relacionamento de atribuições de marido e esposa estão sendo introduzidos em Gn 3; todas estas são realidades
previamente existentes que foram afetadas pela Queda. ”
37
Ibidem, p. 173
18

autoridade de, em decorrência do pecado, ser implacável, orgulhoso, soberbo, entretanto, a

propria advertência bíblica é de uma autoridade com discernimento e em amor. Lemos em I

Pedro 3.7: “Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo

consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, porque

sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas

orações.”

2) Auxiliar (responsabilidade da mulher)

Tem sido grande a manifestação na nossa sociedade pela independência de

princípios estabelecidos, principalmente quando falamos sobre o princípio da mulher como

auxiliadora. Lamentavelmente, esse termo tem sido mau utilizado e apreendido.

Evidentemente, que por uma série de fatores contextuais e dentre eles, uma visão equivocada

de missão, temos o surgimento do movimento chamado feminista 38, que nada mais é, que um

grito de autonomia. E sem pretender entrar numa discussão específica sobre o assunto, uma

vez que esta não é nossa proposta nesse ensaio, aclaro que, ainda que motivos interessantes e

até justos, inicialmente tenham sido a causa da manifestação proposta, a idéia fundamental é

de uma superioridade da criatura sobre o criador. O feminismo expressa que a figura

masculina é desnecessária39; conceitualmente está afirmando que sabe mais que Deus. Este

38
“O discurso planificado pelo movimento feminista se desenvolve a partir de uma crítica global à sociedade
patriarcal e se dirige desde a reivindicação da autonomia e independencia das mulheres à defesa de novos
valores associados a feminilidade para propor uma mudança sustantiva nas formas de organização e relação
social. Em 1949 uma mulher chamada Simone de Beauvoir publicó “Le deuxiéme sexe” – O segundo sexo-,
obra inaugural do feminismo da segunda metade do século XX. El 18 de agosto de 1960 se inicia nos Estados
Unidos a comercialização da pílula anticonceptiva, que colocaria nas mãos das mulheres um instrumento básico
no controle de sua sexualidad. Em 1963 Betty Friedan publicava “The feminine mystique” - La mística de la
feminidad-, obra básica com a de Beauvoir na fundamentação do discurso feminista; en años posteriores le
seguirán The dialectic of sex -La dialéctica del sexo- de Shulamith Firestone (1970)”, tudo isso culmina em uma
série de aprovações que trazem até hoje sérias conseqüências para o bem estar da sociedade, como: legalização
do aborto (Em abril de 1971 várias -entre as quais se encontravan Simone de Beauvoir, Jeanne Moreau y
Marguerite Duras- firman um manifesto na França em que declaravam haver abortado e reinvidicavam a
legalização do aborto, em junho 374 mulheres fazem o mesmo na Alemanha Federal, depois nasce o movimento
Aktion 218 em favor da legalização do aborto) igualdade absoluta entre os sexos, defesa do homossexualismo,
etc.Para maiores detalhes ver: http://www.artehistoria.com/frames.htm?
http://www.artehistoria.com/historia/contextos/3672.htm acessado em: 13.09.2005
39
Expressão implicativa do feminismo: “Deus eu não necessito de ti nem dos teus princípios criativos, não estou
de acordo com o teu modo de agir, e, portanto, o homem é um ser dispensável, sei viver sozinha.”
19

princípio errôneo nos remete novamente a Gênesis 3, ao foco da tentação sofrida por Eva,

onde a Palavra do Senhor é questionada: ([v. 4] “Então, a serpente disse à mulher: É certo

que não morrereis. [v.5] Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os

olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal”).

“Verdadeiramente, para Calvino, a Palavra de Deus não deveria permanecer

enclausurada no coração humano. Suas energias eram para irradiar-se para fora, para o

mundo, para o todo da vida, incluindo o domínio da cultura.” 40 É sobre esta sólida plataforma,

da perspectiva calvinista, porque não dizer bíblica, em que somos radicados à Palavra de

Deus, entendemos que há razões sábias e melhores no estabelecimento das funções. Deus

perfeitamente sabia o que estava fazendo. Apresentando a Adão uma auxiliadora, Ele estava

permitindo que o homem fosse abençoado com uma característica Sua, de cuidado, e

companhia. Van Groningen trabalha este princípio de maneira muito sóbria, ao dizer que “foi

dado à mulher um papel magnífico; ela espelha a Deus em vida. Isso certamente significa que

o homem necessita de auxílio, não somente de Deus, mas também de alguém que represente

Deus.” Há aqui evidente a multiplicidade de reflexos, enquanto “o homem reflete um pouco

mais o caráter de Deus de legislar e fazer justiça, a mulher reflete um pouco mais o caráter de

Deus de mistério, graça e misericórdia. Um sem o outro é grave distorção - o macho tende à

violência e a fêmea absorve-se em contemplação. Ordem sem misericórdia é autoritarismo,

mistério sem forma é hedonismo”.41 Calvino ainda nos instrui: “...nada é mais proveitoso ou

saudável para a esposa do que sujeitar-se ela a seu esposo”.42

Vemos que em cada passagem bíblica que trata da relação entre marido e mulher, o

princípio da submissão não é omitido. 43 O verbo usado nas passagens do Novo Testamento

40
Robert D. Knudsen, “Calvinismo como una Fuerza Cultural”, Juan Calvino: Su Influencia en el Mundo
Occidental, ed. W. Stanford Reid (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1982), 28.
41
Conforme Tremper Longman & D.A. Allender, Op. Cit., p. 151.
42
João Calvino, Comentário de Efésios, p.167. Ver também comentário de Colossenses 3.18-25.
43
Trace uma relação, por exemplo, entre Efésios 5:22; Colossenses 3:18; 1 Pedro 3:1; Tito 2:4
20

para submeter-se é hupotasso. Esse verbo aparece sempre na voz média/passiva podendo

indicar tanto o sujeitar-se a si mesmo ou o permitir a si mesmo estar em sujeição. 44 Ser

auxiliadora é estar de acordo com o princípio estabelecido pelo Criador e sentir gozo no

exercício de tal ordem. Corroborando essa perspectiva Van Groningen ainda afirma: “Que

papel importante Deus dá a mulher: Ela se coloca ao lado do seu marido como auxiliadora,

assim como Deus se coloca ao lado de Seu povo. Ela se torna a grande portadora do fruto e

seu marido é chamado a se colocar ao seu lado, para apóiá-la e reinvindicar juntamente com

ela a benção de se tornarem pais. ”45

É coerente com tudo que dissemos até aqui, que Deus ao criar o homem,

estabeleceu uma relação pactual de amor, e ao instituir a família, deu-lhe responsabilidades

que implicavam desenvolvimento, conservação e governo (Gen. 1:26-28); o cumprimento

dessas atividades deveria ser em glória, para manifestar a glória do criador e esta maneira de

viver redundaria em fidelidade ao documento pactual: A Palavra de Deus. Este pressuposto

vital nos permite terreno firme para o que vamos tratar no segundo tópico deste ensaio.

44
Conforme George W. Knight III, Husbands and Wives as Analogues of Christ and the Church: Eph. 5:21-
33 and Col. 3:18-19, Recovering Biblical Manhood and Womanhood.
45
Harriet e Gerard van Groningen, Op. Cit, p.99.
21

II – O CALVINISMO E O CENÁRIO PACTUAL DA FAMÍLIA

Lendo parte dos escritos de Calvino, podemos dizer que ele não abordou

extensivamente sobre o assunto do pacto conforme encontramos na Confissão de Fé de

Westminster e os catecismos, porém, não é justo dizer que ele não se interessou por este tema.

Por exemplo, nas Institutas livro 3 cap. VII, Calvino tratou sobre as responsabilidades

pactuais, ao referir-se: “ Deus nos deu na Sua Palavra regras excelentes para ordenar nossas

vidas. Mas a fim de que possa moldar-nos à obediências às mesmas.46

Muitos têm dito que Calvino não era um teólogo do Pacto, outros se atrevem a

dizer que a Confissão de Fé de Westminster (que também apresenta uma perspectiva pactual)

não emite uma perspectiva calvinista47, todavia, estas não são afirmativas coerentes com a

verdade histórica. A perspectiva pactual de Calvino era tanta que fundamentava suas

atividades em Genebra. A realidade das conseqüências da obediência e desobediência estavam

em suas formulações e manifestava em cada área de Genebra, a atuação ativa na história

daquele que iniciara o pacto enchia sua teologia. Esta pregação vívida da estrutura pactual em

nossa vida necessita novamente ser enfatizada. É neste cenário pactual que estamos com

nossa família.

46
John Calvin, Institutes of The Christian Religion, Livro 3, cap. XX, The Ages Digital Library, 1998.
47
Como é o caso de R. T. Kendall, em seu trabalho intitulado: Uma Modificação Puritana da Teologia de
Calvino, criticado por Paulo R. B. Anglada, localizado em:
http://www.thirdmill.org/files/portuguese/54763~9_19_01_11-22-36_AM~Uma_Avalia%C3%A7%C3%A3o_Cr
%C3%ADtica_de.html, acessado em 14.08.2005.
22

Fazendo uma exposição do livro de Deuteronômio, 48 Calvino destacou que Deus

estabeleceu um pacto com o Seu povo. E é ele mesmo quem o sustenta. Quanto trabalha o

tema da oração do Pai Nosso49 vemos sinais pactuais entre a relação Pai - Filho e as

promessas divinas. Ainda no livro 2, desta vez, capítulo XI, onde apresenta as diferenças entre

o Antigo e o Novo testamentos, Calvino sobriamente defende que não existe disparidade ou

choque entre os respectivos testamentos, ao contrário, há uma perfeita unidade entre o

fundamento: Cristo e as promessas.50 As diferenças existentes ocorrem no “método da

administração, e não à substância das bençãos administradas.” 51 Podemos observar que o que

permite essa perspectiva uníssona de Calvino é a sua visão de que existe um pacto de Deus

com o Seu povo e isto o leva a afirmar: “...O Antigo e o Novo Testamentos efetivamente são

uma só e a mesmíssima revelação da graça de Deus.”52

Outro aspecto interessante é lembrado pelo Dr. Mauro Maister, quando se refere

que o “que veio a ser conhecido como teologia calvinista não tem base somente nos ensinos

de Calvino, mas também no ensino de outros teólogos que foram influenciados por Calvino e

desenvolveram essa teologia.”53 Portanto, entendemos claramente, a partir de uma leitura

conjunta de Calvino e dos que desenvolveram a teologia chamada calvinista, que a

perspectiva pactual percorre na estrutura do calvinismo. Assim, é nesse cenário pactual que

se desenvolve a família e cumpre seu papel para glória dAquele que iniciou essa relação. O

casamento, um vínculo entre um macho e uma fêmea, é considerado um pacto.

48
Em Genebra, começando em março de 1555, e encerrando em julho de 1556, ao todo 200 sermões. Estes,
foram publicados em inglés em 1580, e tiveram 3 edições. Conforme James B. Jordan, Covenant Enforced,
localizado em: http://www.freebooks.com/docs/2212_47e.htm, acessado em 24.08.2005.
49
John Calvin, Institutes of The Christian Religion, Livro 3, cap. VII, p. 161, The Ages Digital Library, 1998.
50
John Calvin, Institutes of The Christian Religion Livro 2, cap. XI, p. 216, The Ages Digital Library, 1998.
51
Ibidem.
52
Ibidem.
53
Mauro Maister, Uma Breve Introdução ao Estudo do Pacto, localizado em:
http://www.thirdmill.org/files/portuguese/63346~9_19_01_10-35-
35_AM~breve_introducao_ao_estudo_do_pacto.htm , acessado em 15.08.2005
23

Como bem se expressou Robertson: “O casamento é um laço (vínculo, pacto54)

entre duas pessoas, misterioso e ordenado por Deus, que não deveria jamais ser quebrado

enquanto as duas pessoas viverem. Há algo sobre a união física, os compromissos sociais e a

vinculação dessas duas almas que desafia uma simples separação. O casamento é uma

maravilha, um mistério, uma beleza que apenas o Deus Criador poderia ter desenhado, e

ninguém deveria separar aquilo que Deus uniu (Mateus 19:6).”55

Aliança ou pacto vem da raiz hebraica bara. Ainda que admitamos que a

etimologia da palavra seja incerta, e pode ser relacionada à palavra acadiana burru, que

significa, “estabelecer uma situação legal por meio de testemunho acompanhado de


56
“juramento” , o sentido de relacionamento entre duas partes é intrínsico. E é com este

sentido que entendemos o que Deus estabeleceu com o homem: um vínculo sólido e

duradouro, isto é, “um vínculo que juntou dois grupos vivos onde a vida foi assegurada e o

amor deveria ser um aspecto essencial daquele vínculo vivo. Este vínculo de vida e amor

incluía promessas, certezas, obrigações (mandatos, leis), e avisos (maldições), que atuavam

para preservar o vínculo e serviam para fazê-lo, de fato, um relacionamento eficaz. O vínculo

foi validado e assegurado através da palavra solene (ou juramento) de YAHWEH, que é

imutável..”57 Fundamentalmente através das Escrituras, essa Aliança não pode ser revogada

(anulada). Firmados na crença da imutabilidade de Deus entendemos que é Ele mesmo que a

“preserva a despeito das atitudes e atividades da humanidade.” 58 Em outras palavras, “Deus


54
O negrito é meu.
55
O. Palmer Robertson, Com Quem Me Casarei?, localizado em:
http://www.monergismo.com/textos/familia_casamento/com_quem_casarei.htm, acessado em 25.08.2005.
56
R. Laird Harris, Archer Jr., Bruce Waltke, Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São
Paulo, Edições Vida Nova, 1998, p.288
57
Gerard Van Gronigen, Criação e Consumação, Editora Cultura Cristã.
58
Ibidem. Entendo que essa abordagem é mais coerente com o todo das Escrituras Sagradas. Sempre lembrando
que uma correta hermenêutica, parte da pressuposição de que a Bíblia interpreta a si mesma. Portanto, a aliança
(pacto) iniciada por YAHWEH com Adão e Eva no Éden, foi mantida pelo SENHOR, a despeito de ter sido
violada em razão da desobediência humana. O que Deus fez foi renovar essa aliança com as gerações futuras.
Por isso observamos constantes declarações sobre o estabelecimento de uma nova (renovada) aliança. Em
Gênesis 6:18 encontramos a afirmação de YAHWEH dizendo que estabeleceria com Noé Seu pacto (aliança). O
tempo verbal de “estabelecer” é freqüentemente entendido por “continuar a ser estabelecido”. O verbo está no
grau Hifil, e este normalmente se comporta como causativo ativo. A tradução que seria “causar colocar de pé’’, é
24

não quebra alianças. Repetimos, Ele mantém a Aliança, mesmo quando executa sua maldição

trazendo separação, julgamento e, finalmente, morte eterna.”59

Pierre Marcel, aplicando esta verdade a todas as gerações afirma: “Em todos os

tempos, os crentes tem confiado neste pacto de graça e suas promessas, cujo eco ressoa

através de toda a Escritura, e no qual Deus também continua agindo, dando-lhe um desenrolar

progressivo.”60 Compartilhando do mesmo foco afirma Peter Bloomfield: “Todos que

pertenceram a esta Aliança tiveram Deus como o seu Deus, e se tornaram o Seu povo por

aliança. É dito que ela é uma aliança PERPÉTUA. Isto é digno de nota. Significa que se

qualquer um, em qualquer ponto na história, entrar em união e comunhão com o Deus vivo,

então a mesma Aliança Abraâmica estará em vigor.” 61

Este é o cenário no qual está o povo do Senhor, e é este estilo de vida que deve

conduzir todas as suas atitudes e relacionamentos, como vimos nos princípios normativos para

a família, apresentados no capítulo anterior. Os que foram alcançados e trazidos para esse

relacionamento com Deus, graças a Jesus, também são chamados de participantes da Aliança.

Nessa compreensão temos:

freqüentemente associada a ‘’causar estabelecer’’, como paralelo a ‘’causar colocar de pé’’, e daí, ele
desenvolve-se para ‘’causar manter’’. Temos a idéia, através da análise desse verbo (estabelecer) de um forte
sentido legal. Em outras palavras, Deus está garantindo o cumprimento da Sua Palavra. Veja, por exemplo
Números 23:19: “Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa.
Porventura, tendo ele prometido, não o fará? Ou, tendo falado, não o cumprirá?” Essa aplicação causativa
ativa também é usada, curiosamente, em outros textos que tratam de requisitos pactuais como: Dt 27.26
(confirmar); 1 Reis 8:20 (confirmou) ; 2 Rs. 23.3 (confirmando); e 2 Rs. 23.24 (confirmar), ou na fidelidade
de Deus à Sua própria palavra, como em Neemias 9.8, Portanto, o próprio Deus está afirmando que manteria
( só pode ser mantido o que já existe) a Sua aliança com Noé. Sobre isso afirma Van Gronigen:
“Consequentemente, os mandatos, maldições e bênçãos, garantias de vida, e a ação redentora de Yahweh
continuariam com Noé. Yahweh, tendo falado do julgamento próximo através das águas do dilúvio (Gn 6.17) e
sua intenção de salvar Noé e sua família da morte através da arca (Gn 6.14-16), garantiu a Noé de que o pacto
continuaria a estar presente e a operar (Gn 6.18)”. Quando em Gn 6.18 menciona o estabelecimento do pacto
com Noé, no está se referindo a um outro pacto que não existia, pelo contrário, está indicando, que um pacto
existente está sendo conservado. (William J. Dumbrell, Covenant and Creation: A Theology of Old Testament
Covenants, Nashville: Thomas Nelson, 1984), pp. 15-26.
59
Harriet e G.Van Groningen, Op. Cit., p. 48.
60
Pierre Marcel, El Bautismo: Sacramento do Pacto da Graça, p.69, Espanha Felire, 1968.
61
Peter Bloomfield, O Batismo da Aliança, localizado em:
http://www.ipcb.org.br/Publicacoes/batismo_da_alianca.htm, acessado em 14.06.2005.
25

1) O caráter pactual dirigindo nossas atitudes como família

O Calvinismo e sua perspectiva integral da vida é uma marca singular, Kuyper

expressou com muita propriedade: “... Eu sustento que é a interpretação de nossa relação com

Deus que domina todo sistema de vida em geral, e que para nós esta concepção é dada pelo

Calvinismo, graças à sua interpretação fundamental de uma comunhão imediata de Deus com

o homem e do homem com Deus. A isto adiciono que o Calvinismo não inventou nem

imaginou esta interpretação fundamental, mas que o próprio Deus a implantou no coração de

seus heróis e de seus arautos. Nós não encaramos aqui o produto de um intelectualismo

engenhoso, mas o fruto de uma obra de Deus no coração, ou se vocês preferem, uma

inspiração da História.”62

O pacto relaciona toda a vida à vida toda. O que fazemos, os motivos pelos quais

fazemos e a forma como fazemos devem ser respaudadas pela caráter do pacto. Não é a idéia

da vida dividida em pequenas gavetas, onde em cada seção guardamos uma área.

Absolutamente! Articular nossos movimentos fundamentados no caráter pactual significa que

vemos tudo sob as lentes da incomparável graça de Deus e de Sua relação com o Seu povo.

De maneira que, ainda que não conheçamos todos os detalhe desse reger especial e diretivo

para a vida, podemos confiar, descansando em sua perfeita vontade. Como bem disse Jó:

“Mas eu sei que o Meu Redentor vive.”

Pensar ou agir pactualmente é ver a Bíblia aplicada em todas as áreas da vida. “É

compreender o propósito, a harmonia, e as interligações da Escritura e isto dá coesão, relação

e harmonização com o todo da vida.”

São os pais que vêem numa simples viajem de férias à praia, uma rica

oportunidade de (observando a formosura do mar, o azul vivo do céu, a brisa maravilhosa, e


62
Abraham kuyper, Calvinismo, p. 32, Editora Cultura Cristã.
26

tantas coisas ricas criadas e mantidas por Deus) transmitir aos seus filhos, o cuidado do

Senhor do pacto, a manutenção das coisas criadas, e a benção de poder participar de um plano

e de uma beleza que será incomparável no céu. Estou me referindo à repercusões para a vida,

onde em suas relações familiares ou interpessoais, pais, filhos, cônjuges, são dirigidos por um

caráter integrativo, onde cada circunstância é momento de expressar/ ensinar o gozo de ser

participante e de estar bem cuidado sob as mãos do fiel YAHWEH.

2) O caráter pactual dirigindo nossa instrução como família

Antes da entrada de Israel na terra prometida, Moisés fez algumas recomendações

ao povo, quanto aos filhos. Em Dt 6:4-9 encontramos: “Ouve, Israel, o SENHOR, nosso

Deus, é o único SENHOR. Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de

toda a tua alma e de toda a tua força. Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu

coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo

caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão

por frontal entre os olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas.”

As ordenanças da vontade do Senhor teriam que ser ensinadas pelos pais aos filhos

e deveriam ser praticadas pelos próprios pais (“também as atarás como sinal na tua mão, e te

serão por frontal entre os olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas”).

Aqui temos uma metodologia de ensino que jamais falha: “impressão através do constante

contato”. Observe os verbos: inculcarás63... falarás assentado... andando... ao deitar-te e ao

levantar-te... atarás... serão por frontal...escreverás nos umbrais (da casa e das portas).

63
O termo hebreu que geralmente é traduzido como “imprimir” ou “gravar”, segundo G.Van Groningen também
pode ser entendido por modelar. Temos aqui um mandamento! Está na forma imperativa. “Dentro da aliança
existe um alvo, um propósito, um método e um resultado. O método é o seguinte: modelem os seus filhos. Dê-
lhes a forma correta. Forme-os coração, alma e mente.” (Harriet & G.Van Groningen, Op.Cit., p. 134.). e ainda:
“Deus nos confia as realidades mais importantes da vida. Ele nos confia aqueles que irão representá-lo em sua
imagem, que serão seus agentes, seus trabalhadores, seus servos, por gerações e gerações.” (p. 126). Ver outros
textos bíblicos como: Deut 6:4-8; 11:18-21; Salmo 78:1-8; Mt 19:13-15; Ef 6:1-4; 2 Tm 1:3-6;
27

Mas qual seria o propósito desse ensinamento maciço? No v.20 temos: “Quando

teu filho, no futuro, te perguntar, dizendo: Que significam os testemunhos, e estatutos, e juízos

que o SENHOR, nosso Deus, vos ordenou?” O objetivo era levar o conhecimento de

YAHWEH - Senhor da Aliança - aos seus filhos para que quando eles tivessem a idade para

crer, expressassem sua fé, para assim como Abraão, a justiça lhe fosse imputada.

Tratando sobre a importância da instrução catequética, Alexander destaca: “As

instruções de natureza catequéticas podem ser definidas como oralmente, a comunicação

familiar do conhecimento. Contanto que este dever se realize fielmente por seus pais, a

obscuridade da ignorância e idolatria é prevenida. Porém, o abandono, traz como

conseqüência o erro e o vicio.”64

Não há um terreno tão sólido para firmar nossa casa (família), trabalhar nossas

relações com Deus, conosco, com o próximo, e com a obra da criação que o solo do pacto.

Aqui temos, uma fonte inesgotável onde podemos cumprir nosso propósito de existência com

deleite e regozijo, conforme preceitua o salmo 100.2: “Servi ao Senhor com Alegria e

apresentai-vos diante dele com gozo.”

64
Archibald Alexander, Catechetical Instruction, localizado em: http://www.glenwoodhills.org/article.asp?
ID=695/, acessado em: 17.08.2005
28

CONCLUSÃO

O Calvinismo defende que o Conhecimento genuíno de qualquer assunto começa

com reverência e submissão a Deus (temor: Prov. 1:7). A palavra de Deus é quem guia o Seu

povo à verdade (Jo 17:17). Para a família que conhece o Senhor (sendo enfático), a

normatividade da Palavra não é uma opção. Nem tampouco a chamada “neutralidade” é

possível, pelo contrário é explicitamente imoral. Neste cenário de deveres e privilégios, toda a

família é encorajada a submeter-se à vontade de Deus expressa em Sua Palavra. Busquei,

neste ensaio, demonstrar isto veementemente.

Aqui temos um desafio em nossos dias, onde as pessoas agem conforme aquilo

que acham que está certo. Assim, o que deve dirigir o esposo, a esposa, os filhos, tios, etc, é a

Palavra de Deus. Como bem afirmou Tileston: “Tudo quanto se opõe a Deus transforma nossa

vontade em intolerável tormento. Enquanto queremos uma coisa e Deus outra, continuaremos

nos atravessando de lado a lado como uma ferida perpétua, e a vontade de Deus vai

avançando, passando adiante com santidade e majestade, esmagando a nossa até o pó.” 65

Lembremo-nos sempre: Deus é infinito em tempo, conhecimento, presença e poder. Além

disso, é santo e soberano. Por isso é declarado que Seus caminhos e pensamentos não são os

nossos (Is 55:8,9). A aplicação prática é que, uma vez que é Sua Palavra que nos dá a diretriz

sobre como agradar-lhe, e viver o incomparável projeto de vida que Ele deseja para nós e para

todas as nossas relações, não temos outra atitude que não a de submissão. Portanto, paremos

de buscar saídas alternativas sem solução. Paremos de permitir que o orgulho e nossos

65
Mary Wilder Tileston, Daily strenght for daily needs, p.298, Whitaker House, 1997.
29

“achismos” dirigam nossas atitudes e compreendamos que o melhor é conhecido pelo criador

e ele se quis revelar de maneira especial por meio de Sua Palavra.

Também vimos é o conceito pactual que dirige nossas atitudes e nossa instrução.

Neste cenário Deus expressa seu amor ao Seu povo, propiciando todas as condições

necessárias para uma relação feliz e desta maneira, compreendemos o ponto de partida das

bençãos divinas e suas devidas implicações para a família.

Conscientes de que Deus tem desejado restaurar a família, o sistema calvinista

eleva esta instituição tão especial ao seu lugar correto. E fundamentado neste ideal conclama

a todos a uma posição reflexiva e prática à luz de tudo que aqui vimos. Que o Senhor da

família nos abençoe. Amém.


30

BIBLIOGRAFIA

1. ALEXANDER, Archibald, Catechetical Instruction,

http://www.glenwoodhills.org/article.asp?ID=695/

2. ARCHER, Laird Harris, Jr., Bruce Waltke, Dicionário Internacional

de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo, Edições Vida Nova,

1998.

3. CALVIN, Jhon. Institutes of The Christian Religion, Livro 3, cap.

XX, The Ages Digital Library, 1998

4. CALVIN, John. Calvin’s Bible Commentaries, Colossians, The

Ages Digital Library, 1998

5. CALVIN, John. Calvin’s Bible Commentaries, I Peter 2.25, p. 51,

The Ages Digital Library,1998.

6. CALVIN,John.Calvin’s Bible Commentaries, Isaías 43.7, p. 152,

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