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CAPA
Euelyn Grumach
PROJETO GRÁFICO
Eve/yn Grumach e João de Souza Leite
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SI DICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.
C974 Cultura política e leituras do passado: historiografia e ensino de
história / Manha Abreu, Rachei Soihet e Rebeca Gontijo (orgs.). - Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-200-0695-5
CDD - 907
06-4642 CDU - 930(072)
Impresso no Brasil
2007
Colônia de povoamento e colônia
de exploração. Reflexões e
questionamentos sobre um mito
Mary Anne Junqueira*
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Partindo das proposições desse autor, é possível sugerir que o nosso olhar
sempre voltado para fora das nossas fronteiras, em direção aos países di-
tos desenvolvidos, faz parte do nosso imaginário, o qual carrega um siste-
ma de valores a partir do qual olhamos com admiração os países chamados
centrais, nos caracterizando, por contraste, de forma deficiente, carente e
incompleta com relação a um modelo difícil de alcançar.
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aos Estados Unidos. Para Hall, não é possível estabelecer separações, pois
a colonização está presente de forma indelével tanto na metrópole quan-
to nos países que foram colonizados, sendo assim histórias que se forma-
ram como transnacionais e transversais."
Com relação à escrita da história, vale lembrar o que propõe Dispesh
Chakrabarty. Para ele é necessário pensarmos sobre a "descolonização do
conhecimento", uma vez que partes do mundo com perspectivas históri-
cas diferentes, temporalidades diversas e concepções próprias do mundo
não devem ser medidas pelo metro europeu, nem ser analisadas a partir
do instrumental e das categorias europeus. Para o autor, o adjetivo mo-
derno - visto como universal e originariamente europeu, já que preten-
de reunir as noções de racionalismo, as várias concepções da ciência e os
significados de progresso - não pode ser entendido como exclusividade
européia, uma vez que foi construído com a participação do mundo con-
siderado não-ocidental. Segundo Chakrabarty, é necessário rever as nar-
rativas das histórias européias e o seu viés nacionalista, uma vez que as
histórias foram construídas de forma transnacional - e estão profunda-
mente entrelaçadas -, embora tenham sido narradas como separadas e
distintas."
A partir da reflexão desses autores é possível sugerir que a formulação
colônia de povoamento e colônia de exploração encontrou a ressonância
que conhecemos devido ao fato de já nos colocarmos em determinada
posição com relação ao centro desenvolvido, sendo que em muitos mo-
mentos essa relação se configurou - e se configura - como de subordina-
ção ou subalternidade, para utilizar um termo mais veiculado recentemente.
Tal dicotomia encontrou um campo fértil, pois caiu sobre uma sociedade
que em muitos momentos olhou para a Europa - e agora para os Esta-
dos Unidos - com admiração e como meta ou modelo a ser alcançado.
Ademais, a dicoto mia colônia de povoamento e colônia de explora-
ção sugere que reavaliemos a escrita da nossa história nacional, que ainda
hoje, muitas vezes dentro da própria academia, vem repetindo o "lugar
de destaque" do Brasil com relação aos outros países da América Latina"
e, por outro lado, indicando a nossa "posição subordinada" com relação
aos Estados Unidos.
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Notas
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17. Ver Bronislaw Baczko, "Imaginação social", em Enciclopédia Einaudi, Lisboa, Im-
prensa Nacional Casa da Moeda, 1985, p. 311-2.
18. Ver Denis Rolland, A crise do modelo francês. A França e a América Latina. Cultura,
política e identidade, Brasília, UnB, 2005.
19. Cf. Edward Said, Orientalismo. O Oriente como invenção do Ocidente, São Paulo,
Companhia das Letras, 1994; idem, Imperialismo e cultura, São Paulo, Companhia
das Letras, 1990; e Mary Louise Pratt, Imperial eyes. Travei writing and transcultu-
ration, Londres/Nova York, Routledge, 1995.
20. Cf. Stuart Hall, "Quando foi o pós-colonial? Pensando no limite", em Da diâspora.
Identidades e mediações culturais, Belo Horizonte, Ed. UFMG, 2003, p. 101-28.
21. Dispesh Chakrabarty, Prouincializing Europe: Postcolonial thought and historical
difference, Princeton, Princeton University Press, 2000.
22. Sobre a visão construída no Brasil com relação aos outros países da América Latina,
ver Rafael Baitz, Um continente em foco: a imagem fotográfica da América Latina
nas revistas semanais brasileiras (1954-1964), São Paulo, Humanitas/FFLCH-USp'
2003. Kátia Gerab Baggio, A "outra" América. A América Latina na visão de intelec-
tuais brasileiros nas primeiras décadas republicanas, tese de doutorado, FFLCHIUSP,
São Paulo, 1999, mimeo.