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Ensaio sobre “Maçã”

Análise

1.Olhar e Facínio

Olhar: olhar sem observar


simplicidade dada pelo objeto
distanciamento.
Facínio: observar minuciosamente
sublime dado pela subjetividade do “eu”
aproximação

Movimento do poema:
Interior  Exterior
Visão do autor  Visão da maioria

- Equivale ao olhar e facínio instigado pela pintura, onde olhar o todo demonstra
simplicidade e o percorrer com o olhar traz o sublime.
- “Cada verso equivale literalmente a um retorno” – olha o mesmo objeto de
diferentes formas.
- Quarto – “reduto da interioridade do sujeito... espaço lírico de onde o poeta olha o
mundo e se debruça sobre a vida.” (limita o olhar físico e amplia o olhar
subjetivo)
- “Eu” se dirige diretamente ao objeto (maçã), dando-lhe um traço de humanidade
(animismo, prosopopéia – dado em associações com o corpo feminino e em
caracterizar o interior subjetivamente). Visto em: “...te vejo...” – 1º verso, “És
vermelha...” – 3º verso, “Dentro de ti...” – 4º verso, “E quedas...” – 7º verso. Esse
caráter dialógico (função apelativa) dá ao poema um aspecto dramático.

- Descrição da associação da maçã com o fruto proibido, baseada em estereotipo


cristão, numa interpretação alegórica de uma cena de amor furtivo e fugas. A maçã
passa a personificar a mulher a partir de sua conotação erótica, mulher caída.
Leitura espiritualizada do resgate da degradação pecaminosa pelo sublime amor
divino, tento a poesia como um meio de elevar o baixo ao sublime. Não dá conta
da real complexidade do texto. Não percebe o essencial: a força de revelação e
conhecimento da forma nova.
- O poema é um registro de um momento de reflexão sobre uma cena exteriormente
estática, inclusa num instante atemporal, demarcado pela subjetividade.
- Foco: Alumbramento, instante de iluminação em chão profano. A poesia dá a ver,
desentranha os interiores da maçã, do quarto e da consciência, num único instante
lúcido e fixo.
- A maçã nos põe diante do mistério da simplicidade com que oculta naturalmente o
sublime.
2. Evocação de Cézanne
- Analogia entre a arte poética e a arte pictórica. (maçã  natureza-morta)
- Paul Cézanne foi um grande pintor que se utilizou muito da maçã como tema de
suas obras.
- Pobres e poéticas, com fundo erótico e grande poder de sedução, difíceis de
entender e explicar. Na complexidade da forma despojada, dispostas no espaço com
tal simplicidade que chega a exprimir a mais ampla gama de estados de espírito , os
sentimentos mais sutis e até o mistério vibrante de sua imóvel presença.
- A natureza-morta aparece como um espaço privilegiado para a reflexão sobre as
complexas relações entre arte e realidade, entre estilização e natureza. Propicia uma
permanente oscilação de ênfase:
Aspecto formal da convenção pictórica X Semelhança mimética com o tema representado

- Um quadro de natureza-morta quebra a ordem de sucessão linear da realidade


empírica e reorganiza arbitrariamente o espaço. Profundo nível de abstração.
- “volumes mais primordiais” correspondem à necessidade de concentração do pintor,
à “densidade concreta”, à “estabilidade”. (Jean Leymarie)
- Harmonia paralela à natureza - arte X natureza (Cézanne)
- Domínio dos meios no exemplo da impessoalidade da matéria, a concentração na
sóbria objetividade das coisas e o despojamento nos humildes objetos à nossa volta.
- As maçãs de Cézanne surgem com a beleza da plenitude artística, fruto amadurecido
da experiência no confronto com a natureza.
- “Maçã” de Bandeira traz na simplicidade das palavras um caminho semelhante às
pinturas de Cézanne: o encanto ainda vivo das imagens já vistas, abrindo para um
mistério comum na iminência de uma análoga revelação.
- 3. Método

Manuel Bandeira:
- revela em sua arte uma poderosa tendência para a composição na forma de
natureza-morta
- reorganiza arbitrariamente o espaço poético, retirando coisas de seu contexto
habitua e passando a configurar num contexto diverso
- O procedimento implica uma redução drástica ao essencial. (só pronunciar as
palavras essenciais)
- estrutura concentrada, coerente e poeticamente eficaz (incorpora, reúne, elementos
significativos num espaço novo)
- técnica que lembra o fracionamento cubista (visão por lados diversos) e a técnica
surrealista de montagem (retoma elementos anteriores num novo contexto) poesia
onírica (q se assemelha a sonhos), ilógica, absurda, nonsense.

Método que implica um acentuado trabalho pessoal do poeta, sua longa


aprendizagem das palavras e das relações de sua poesia com outras artes e esferas da
realidade.
Selecionando, depurando, evitando ponto morto e reorganizando num todo coeso os
elementos poéticos, Bandeira forjou um método de construção que consistia em
desentranhar a poesia.

- Método de desentranhar a poesia do mundo. (“tira do íntimo ou do coração”, dá a


conhecer, traz à luz, revela o oculto)
 “tirar do íntimo” – aflora a noção de poesia como expressão. (Bandeira –
poeta de “circunstâncias e desabafos”)
 poesia como forma de conhecimento – significado mais sutil
Movimento de penetração até a entranha  Movimento de saída à luz

- “Os elementos desentranhados são produtos de um trabalho de busca e,


simultaneamente, partes de um todo que se constrói.”
ATO DO POETA:
- percepção penetrante do outro
- “habitar as coisas”
- desvelamento de sua natureza mais profunda do que são
- mimesis – como forma de conhecer a realidade
- “ao falar do outro, o poeta fala de si mesmo; ao falar do mundo, a poesia de algum
modo fala também de si mesma.”

Como Cézanne disse:


“Sinto-me colorido de todos os martizes do infinito. Nesse momento, eu e o meu
quadro somos um só. Somos um caos irisado. Vou ao encontro do meu motivo, perco-me
nele.”
4. Construção

a) Assimetria (1ª estrofe – 1-2 vv.):


- espaço como elemento significativo na estrutura do poema (por esta
equivaler a uma pintura – analogamente)
- “ritmo todo de ângulos, incisivo, em versos espetados, entradas bruscas,
sentimentos em lascas, gestos quebrados, nenhuma ondulação.” Mário de
Andrade, referindo-se à obra de Bandeira
- “Maçã” chama atenção pelo perfil anguloso dos versos livres, muito
discrepantes na extensão, logo no início (1º par de vv.), recorte irregular,
dependente do número aleatório de sílabas de cada verso, parece
materializar outro contraste, no plano semântico: is versos contrastantes
contêm visões contrastadas da maçã.
- Ligação interna (Por um lado/Pelo outro);
- idêntica construção sintática e literária: a comparação introduzida pela
conjunção como, que constitui uma comparação com força metafórica
(capaz de aproximar seres de esferas diferentes do conhecimento, vinculados
pelo nexo explícito da conjunção comparativa.
- Oposição semântica forte de murcho (adjetivo) que conota a vida que se
extingue com a oração (adjetiva) em contraste que sugere o nascimento
recente.
- Murcho – não se liga diretamente a partes do corpo humano, quase sempre
se prende a seres do reino vegetal. Parece implicar a destruição que vem
naturalmente com a passagem do tempo (sugere a morte como fase do ciclo
natural). Considerado com o corpo humano, constitui uma assimetria dentro
do contraste fundado em semelhança.
- Como um seio murcho parece insinuar um contraste entre o substantivo seio
e sua qualificação (oposição assimétrica). Murcho se destaca em meio à
linguagem figurada do símile, que coloca a maçã num plano humano,
reaproximando a maçã humanizada à natureza.
- Comparação metafórica – baseia-se numa qualidade física, a redondez
assimétrica da maçã, que permite a analogia com seio e depois com ventre.
(a palavra seio se associa facilmente à idéia de desejo, de maternidade, de
vida, e unido ao adjetivo murcho, aparece como algo que definha a caminho
da destruição)
- A maçã surge com grande complexidade, materializada numa assimetria
formal da fruta, dos versos e dos componentes lingüísticos (queda da forma
redonda que parece funcionar como índice de destruição natural)
- Através maçã o olhar capta, no limite mais abstrato, os movimentos das
formas naturalizadas (assimiladas no processo da natureza) como no mito (o
conteúdo natural toma forma humana na figura do deus).
- A imobilidade e a assimetria da fruta são meios simbólicos de exprimir
abstratamente a generalidade do conteúdo temático.
b) Arquétipos (modelo ou exemplo em estudos comparativos / de seres criados):
- O terceiro verso se impõe como um juízo abrangente é genérico, baseado na
plenitude da cor, nos dá uma visão totalizadora da maçã, através do símile.
- A sugestão erótica se torna ostensiva (evidente), ao ligar o vermelho da cor
ao amor, dando-se a este a dimensão transcendente do sagrado (amor
divino).
- Tensão entre aspecto sensível da imagem e sua dimensão exemplar de
arquétipo: o erótico na concretude da cor chamejante (aspecto sensorial e
sedutor da figura) e um fundo oculto, sacralizado na expressão amor divino.
- Ênfase na afirmação plena da dimensão arquetípica. (A fruta, imagem
sensual, se faz suporte do desejo sacralizado).
- A profundidade mítica da maçã é atualizada no facínio erótico da cor.
- A maçã, agora em sua totalidade, contrasta com a visão fragmentadora do
dístico inicial, nos faz concentrar sobre ela toda a atenção, realçando suas
relações com o passado mítico. Ao surgir por inteiro como fruto tentador
faz ecoar um fundo arquetípico. (evocando outras maçãs da história da
pintura e da literatura)
- Nos primeiros versos havia a tendência a encará-la como um motivo natural
de reprodução da vida, agora está ligada ao amor (dádiva de amor, oferenda
de amor - rodeada de ressonâncias bíblicas e clássicas).
- Construção artificial de um desejo de proximidade da natureza, perpassado
por um imaginário perto do mito.
- Organização do complexo no simples (modo recorrente de dar forma:
amplos e intrincados problemas contextuais articulados num padrão textual
simples)
- Simples e portador da maior complexidade.
- A duplicidade a linguagem (ambigüidade) tem a peculiaridade de sugerir,
neste caso, que o melhor ainda não está à mostra (o maior valor é o que se
oculta).
- Esse ocultamento do sentido mostra uma função potencial na estrutura da
obra como fator de despojamento da linguagem, trazendo consigo um
modelo de tratamento, como parte de uma tradição cultural e histórica.
Imagem de duplo sentido, envolta no fascínio do mistério e da revelação: do
que atrai, por se esconder.
- A duplicidade erótica da maçã serve ao desígnio da verdade espiritual, uma
verdade elevada que se esconde no coração de uma simples fruta: na maçã
humilde se oculta o sublime. (transformação cristã dum tópico clássico –
discurso humilde [mais acessível a todos])
- Sugestão de identificação com a imagem do coração de Cristo.
- No chão humilde do imaginário popular o poeta parece ter ido colher a
sugestão de metáfora visual, dando à maçã a cor de sangue da paixão e a
dimensão elevada do divino.
c) Entranha:
- Base material da imagem reforçada desde o início (apesar do vínculo
espiritual explícito ao amor divino) pela comparação da maçã ao corpo
feminino e pelo procedimento geral de apresentação da fruta (imagens
diferentes e justapostas), armando um jogo metonímico entre ocultamento
e revelação.
- A maçã nos atrai pela totalidade sugerida pelo jogo das partes.
- Tensão entre o exterior e o interior, o ostensivo e o latente, a poesia e o
conhecimento.
- Convite à penetração (sedução do olhar  entranha mais íntima).
- Aparece por dentro no meio da construção, no “coração do poema” que são
os três versos centrais, no momento de maior concentração do texto.
- Chama a atenção a diminuição progressiva do número de sílabas poéticas
dos versos livres, muito discrepantes no tamanho, como se reproduzissem
em pequeno o aspecto de todo o poema.
- 1º verso – 10 sílabas; 3º verso – 5 sílabas; o do meio se equilibra entre
ambos e constitui um eixo de simetria de toda a composição, representando
também o centro mais íntimo da fruta.
- Geometrismo implícito, repetindo o princípio de organização geral, como
embrião ou semente do organismo total a que pertence (alinhamento dado
pela flutuação dos versos livres no branco da página – disposição e cortadas
para esse fim geométrico). A importância dos cortes aliam vigorosamente a
sintaxe, o ritmo e o sentido. A disposição se torna um elo significativo.
- Nessa estrofe, os versos de fora coincidem quanto à função de adjuntos
adverbiais, enquanto o verso central reúne os componentes também centrais
da oração, assim retalhada para realce de suas partes. (Palpita – predicativo
verbal destacado enfaticamente pela inversão sintática à testa da linha. vida
– sujeito. Prodigiosa – adjunto adnominal de vida). vida mostra-se como
termo essencial da entranha da maçã e destacando-se mais no centro do
verso do centro, recebendo o acento central do ritmo do verso por conter a
quarta sílaba de um verso de oito.
- No terceiro verso, Bandeira (com sua sabedoria construtiva) pôs em realce o
advérbio infinitamente, constituindo o verso mais curto do poema e, com ele,
a estrutura toda encontra seu ponto máximo de concentração e a máxima
expansão do sentido. Paradoxo do pequeno que contém o maior.
- Esse paralelismo analógico faz a dimensão física do espaço ter força
significativa, capaz de transpor metaforicamente a expansão absoluta e
abstrata do significado de forma significante e concreta. O maior de todos
os mistérios (o da vida) se concentra numa parte ínfima da fruta.
- Ao contrário dos versos anteriores, estes se distinguem pela sonoridade: o
movimento da vida aparece marcado na aliteração da consoantes (oclusivas
dentais surdas e sonoras – t e d; oclusiva bilabial surda – p.) e na corrente
assonância das vogais que recebem o apoio rítmico (como os ii).
- Coerência orgânica do poema dado pela cerrada coesão dos elementos
lingüísticos significativos no momento central do texto (tI, pevIdes, palpIta,
vIda, prodIgIosa e InfInItamente).
- O lento caminhar para a morte (dado pela primeira estrofe) é superado, no
mais íntimo da maçã pelas pequenas pevides.
- Na maçã as pontas da morte e da vida se unem naturalmente, com toda a
simplicidade.

d) Desentranhar a poesia:
- A última estrofe sugere regularidade incomum dos versos (certa simetria
final).
- O número de sílabas varia de cinco a sete, mas sem grande alteração rítmica,
já que todos começam por um tempo forte na segunda sílaba.
- Disposição dos elementos sintáticos obedece à ordem de importância na
frase: sujeito, predicado, adjuntos adverbiais. Completa o quadro imóvel de
vida tranqüila ou silenciosa da fruta (mais concreta na estrofe final e na
mudança de direção do olhar [que não mais enfoca a maçã] que nela se dá).
- Em quedar-se é dada a atemporariedade, como se a maçã se fizesse uma
dádiva eterna em sua quietude de objeto que se entrega humildemente à
necessidade humana, sem ostentar o bem mais precioso que traz em si.
- O contraste entre a revelação do valor extraordinário da maçã e sua
simplicidade é a assimetria maior do texto e também o paradoxo essencial
do modo de ser da fruta, o que a torna exemplar aos olhos de quem a
observa.
- Seguimento decisivo para a compreensão do poema, pois passa de um
instante de máxima intensidade (estrofe do meio) para a tranqüilidade (na
última estrofe).
- Contraste:
Momento sublime de paixão X Aparente indiferença do dia a dia
Instante de alumbramento X Humildade cotidiana
- Estilo humilde parece ser a única forma de expressão possível para uma
natureza que se realimenta da fonte escondida do sublime
- O fruto sagrado desce à condição cotidiana de fruta. Deixa de ser o objeto de
uma representação estilizada, abstrata e idealista para ser representada de
forma realista.
- A colocação final integra também a maçã à dimensão subjetiva do olhar,
revelando a atitude do “Eu” lírico, com ela identificado e que por ela se
exprime. Surgindo como objeto de imitação da natureza e como símbolo de
uma emoção pessoal.
- No modo de ser humilde da maçã pode se reconhecer uma ética para a qual
o valor mais algo é o que não se mostra ostensivamente.
- Na maçã se encerra uma lição de vida e poesia, pois imitando-a, se
reconhece um ideal de estilo na simplicidade natural e por ela se entende que
a poesia (como a natureza) ama ocultar-se.

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