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V Encontro de Economia do Espírito Santo

Vitória, 3 e 4 de novembro de 2014

Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB):


Resultados e Críticas1
Adriana F. CAMPOS2, Jaqueline CAROLINO3, Luan T. dos SANTOS4
Victor Hugo A. de SOUZA5, Sabrina F. CAROLINO6

Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

RESUMO: As políticas energéticas brasileiras implementadas a partir de meados da década de 1970,


com o objetivo de fomentar o uso dos biocombustíveis como fontes de energia limpa e renovável,
representaram um grande avanço no que se refere à inserção, num primeiro momento, do álcool, e
décadas depois, do biodiesel, na matriz energética brasileira. Contudo, a análise do Programa Nacional
de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) permitiu identificar que o programa obteve resultados aquém
do esperado. Os objetivos de inclusão da agricultura familiar e de diversificação regional e de
matérias-primas para a produção do biocombustível não foram plenamente alcançados. Sob essa
perspectiva, este texto buscou identificar os principais problemas enfrentados pelo programa e avaliar
o seu impacto no atual cenário brasileiro.

PALAVRAS-CHAVE: PNPB; Política Energética; Biodiesel

JEL CLASSIFICATION: O13, P28, Q42

ABSTRACT: The Brazilian energy policies implemented between the mid-1970s, aiming to
promote the use of biofuels as sources of renewable and clean energy, represent a huge progress in
regard of the insertion, at first of alcohol and decades after, the biodiesel, in the Brazilian energy
matrix. However, the analysis of the National Biodiesel Program (PNPB) permitted to identify that the
program had results below expectations. The objectives of the inclusion of familiar agriculture,
regional diversification and raw materials for the biodiesel production were not fully achieved. Under
that perspective, this article aims to identify the problems faced by the program and assess its impact
on the current Brazilian scenario.

KEY-WORKS: PNPB, Energy Policy; Biodiesel

JEL CLASSIFICATION: O13, P28, Q42

1
Artigo submetido à área de Economia Agrícola, Meio-Ambiente e Energia do V Encontro de Economia do Espírito Santo.
2
Professora da Universidade Federal do Espírito Santo. Doutora em Planejamento Energético pelo PPE/COPPE/UFRJ. E-
mail: afiorotti@yahoo.com.
3
Professora da Universidade Federal do Espírito Santo. Mestre em Economia pela UFES. E-mail: jqcarolino@yahoo.com.br.
4
Aluno do curso de Administração da Universidade Federal do Espírito Santo. E-mail: luantolentino@hotmail.com.
5
Aluno do curso de Administração da Universidade Federal do Espírito Santo. E-mail: victor_hugodesouza@hotmail.com
6
Aluna do curso de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Espírito Santo. E-mail: sabrina.fiorotti@yahoo.com.br

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1. Introdução

A busca por fontes alternativas de energia, como reforço para a diminuição da


dependência de derivados de petróleo e, sobretudo, para a redução da emissão de gases
poluentes, tem sido constante foco de discussão no Brasil. No que se refere aos
biocombustíveis derivados de óleos vegetais ou gorduras animais, com especial destaque para
o biodiesel7, pretende-se levantar e criticar os principais aspectos sociais e econômicos do
Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), mais especificamente as
questões relacionadas à inclusão social, ao desenvolvimento regional e diversificação de
matérias-primas contidas no plano.
Uma das principais características abordadas no programa se refere à sua potencialidade
de geração de renda, por meio da inclusão da agricultura familiar, e do aproveitamento de
oleaginosas para a produção de biodiesel, de acordo com as diversidades regionais. Diante
deste cenário, são apresentados dados estatísticos de demanda, produção, distribuição regional
e uso do biocombustível, que não condizem com as propostas e expectativas do programa. Em
contrapartida, entretanto, os objetivos de inserção do biodiesel e de redução dos gases
poluentes têm sido satisfatórios e os esforços tecnológicos, ainda que incipientes, estão sendo
primordiais para a execução do programa.
Desse modo, apresenta-se, num primeiro momento, o PNPB e os objetivos
governamentais à época de sua criação. Ainda no segundo item são analisados cada um dos
objetivos do PNPB e os seus resultados. Já no terceiro item, verifica-se a importância da
tecnologia e da infraestrutura logística para a ampliação e adequação do programa. Por fim,
são feitas algumas considerações preliminares.

2. Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel: Principais Resultados e Críticas

O PNPB foi criado em 2004 com o intuito de inserir o biodiesel na matriz energética
brasileira, o que, de certa forma, atendia ao proposto pelas políticas internacionais de redução
de emissão de gases de efeito estufa (GEE). Além disso, o objetivo do Governo Federal8 era
promover a inclusão social, garantir preços competitivos, qualidade e suprimento do
biodiesel, e produzir tal biocombustível a partir de diferentes fontes oleaginosas e em regiões
diversas (MME, 2014), estimulando, dessa maneira, a agricultura familiar. Na Figura 1,
observa-se o mapa das potencialidades brasileiras de produção e consumo de combustíveis
vegetais.

7
O Art. 6º, inciso XXIV da Lei nº 11.097/2005 define Biodiesel como “biocombustível derivado de biomassa
renovável para uso em motores a combustão interna com ignição por compressão ou conforme regulamento, para
geração de outro tipo de energia, que possa substituir parcial ou totalmente combustíveis de origem fóssil”.
8
“Ao lançar o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), em 06.12.2004, o Governo Federal
apoiou-se na crescente demanda por combustíveis de fontes renováveis e no potencial brasileiro para atender
parte expressiva dessas necessidades, gerando empregos e renda na agricultura familiar, reduzindo
disparidades regionais e contribuindo para a economia de divisas e melhorar as condições ambientais.”
(EMBRAPA, s/d, p. 2).

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Figura 1 - Mapa do Biodiesel - Potencialidades Brasileiras para Produção e Consumo de


Combustíveis Vegetais
Fonte: BIODIESELBR (s/d).

Para uma melhor análise de resultados do PNPB, este item será dividido por temas, a
saber: (1) criação de mercado; e (2) inclusão social, diversificação de matéria-prima e
desconcentração regional da produção de oleaginosas.

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2.1. Criação do Mercado de Biodiesel no Brasil

As principais ações de estruturação de demanda e oferta de mercado, com o objetivo


de formação do mercado de biodiesel, foram, do lado da demanda a Lei nº 11.097/2005 e, do
lado da oferta, os incentivos fiscais à produção de biodiesel, os desembolsos do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de outras instituições
financeiras, o PNPB e o Plano Nacional de Agroenergia (PNA).
Quanto à Lei nº 11.097/2005, que tinha por objetivo introduzir o biodiesel na matriz
energética brasileira, salienta-se o seu ponto principal que foi fixar em 5% o percentual
mínimo obrigatório de adição do biodiesel ao óleo diesel comercializado ao consumidor final,
em qualquer parte do território nacional em 2013 e um valor intermediário de 2% em 2008.
Cabe destacar que, já em meados de 2008, este percentual passou a ser de 3% e, no ano de
2010, a meta que havia sido planejada para 2013, de 5%, foi antecipada. No Gráfico 1,
apresenta-se o cronograma de implantação do percentual obrigatório de mistura do biodiesel
ao óleo diesel e a projeção do mercado de crescimento deste percentual para 7%9.

Gráfico 1 - Cronograma de Implantação do Percentual Obrigatório de Mistura de


Biodiesel ao Óleo Diesel e Projeção
Fonte: Adaptado de LIMA (2010) e PORTAL DO AGRONEGÓCIO (2014).

No caso da oferta, foram concedidos benefícios fiscais de acesso a alíquotas de


PIS/PASEP e COFINS com coeficientes de redução diferenciados de acordo com a região e o
vegetal, conforme pode ser observado na Tabela 1. No entanto, mesmo com tais incentivos, a
principal matéria-prima para a produção do biodiesel ainda é a soja. Isto ocorre por questões
tecnológicas, de logística e de viabilidade econômico-financeira da produção.

9
Segundo Daniel Furlan, gerente de economia da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais
(ABIOVE), o aumento do percentual da mistura de biodiesel no diesel de 5% para 7%, esperado para o ano de
2014, promoveria a absorção do atual excesso da oferta, aumentando o consumo em 1,2 bilhões de litros por ano,
equilibrando assim, a relação entre a oferta e a demanda e contribuindo para a economia de R$ 2,3 bi para a
Petrobras (PORTAL DO AGRONEGÓCIO, 2014).

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Tabela 1 - Tratamento Tributário: Biodiesel versus Diesel do Petróleo


Tributos Federais BIODIESEL DIESEL DE
AGRICULTURA AGRICULTURA NORTE, REGRA PETRÓLEO
FAMILIAR NO NORTE, FAMILIAR NORDESTE E GERAL
NORDESTE, E SEMI- SEMI-ÁRIDO COM
ÁRIDO COM MAMONA MAMONA OU
OU PALMA PALMA
IPI Alíquota zero Alíquota zero Alíquota zero Alíquota zero Alíquota zero
Cide Inexistente Inexistente Inexistente Inexistente R$ 0,07
PIS/COFINS Redução de 100% Redução de 68% Redução de 31% R$ 0,22 R$ 0,15
Total de Tributos R$/litro R$/litro R$/litro R$/litro R$/litro
Federais R$ 0,00 R$ 0,07 R$ 0,15 R$ 0,22 R$ 0,22
Fonte: PRATES; PIEROBON & COSTA (2007, p. 54).

Além da desoneração de tributos, o desembolso financeiro de bancos (como o


BNDES) e de outras instituições governamentais como, por exemplo, a Financiadora de
Estudos e Projetos (FINEP), foi fundamental. Deve-se salientar que, o Selo de Combustível
Social10 permitiria aos produtores de biodiesel a obtenção de melhores condições de
financiamento junto ao BNDES11, que subsidiava o Setor do Biodiesel (Gráfico 2).

Gráfico 2 – Desembolso BNDES para o Setor de Biodiesel


Fonte: BNDES. In: IPEA (2010).

Ainda com a finalidade de gerar mercado e estimular a sua produção, desde 2005
têm sido realizados leilões de biodiesel. Entretanto, várias críticas são feitas
especialmente quanto ao descompasso entre a oferta e a demanda, uma vez que há uma
capacidade ociosa setorial muito grande. De acordo com dados da Agência Nacional de
Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) (2014), a produção efetiva do biodiesel,
no Brasil, não conseguiu alcançar ao menos 50% da capacidade produtiva entre os anos
de 2007 e 2012, fato que pode ser observado no Gráfico 3.

10
O Selo Combustível Social é concedido ao produtor de biodiesel que promover a inclusão social dos
agricultores familiares enquadrados no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
(PRONAF), que lhes forneçam matéria-prima e, também, que comprovar regularidade perante o Sistema de
Cadastramento Único de Fornecedores (SICAF). O Selo Combustível Social poderá conferir ao produtor direito
a benefícios de políticas públicas específicas, e ser utilizado para fins de promoção comercial de sua produção
(CAMPOS; MORAES, 2008).
11
A Resolução nº 1.135/2004 do BNDES instituiu o Programa de Apoio Financeiro a Investimentos em
Biodiesel. Neste documento ficou estabelecido que aqueles empreendimentos com Selo Combustível Social
teriam até 90% de seu projeto financiado pelo banco, enquanto que para aqueles sem tal característica o
financiamento seria restrito a 80% do valor total.

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Gráfico 3 – Estimativa da capacidade nominal e efetiva da produção do biodiesel


Fonte: Elaboração própria a partir dos dads da ANP (2014).

Complementando-se a informação do Gráfico 3, verifica-se, no Gráfico 4, a


existência de um significativo aumento da oferta não acompanhada necessariamente
pela demanda, fato que poderá ocasionar sérios problemas, especialmente àqueles que
utilizam oleaginosas que não tem outro uso imediato – como o pinhão manso no estado
do Espírito Santo.

Gráfico 4 – Demanda X Oferta nos Leilões de Biodiesel


Fonte: Elaboração própria a partir de dados da ANP (2014).

2.2. Objetivos de Inclusão Social, de Diversificação de Matéria-Prima e de


Desconcentração Regional da Produção de Oleaginosas

Dentre os principais objetivos do PNPB, como foi mencionado anteriormente, havia


um forte apelo à inclusão social de agricultores familiares, incentivada por meio da criação do
Selo Combustível Social, e a diversificação regional e de matérias-primas, entre elas o pinhão
manso, o dendê, a mamona e a amêndoa de coco. Entretanto, o que se observou foi a primazia
da soja como o principal insumo utilizado na produção de biodiesel no Brasil (Gráfico 5),
motivada pelo fato de ser ainda a única oleaginosa a ter escala suficiente para atender a
demanda a curto e médio prazos, o que representa vantagem competitiva em relação às de
menor escala provenientes da agricultura familiar.

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Gráfico 5 – Produção de Biodiesel por Matéria-prima em 2013


Fonte: Elaboração própria a partir de dados da ABIOVE (2014).

Desde o lançamento do PNPB, e da utilização da soja para produção de biodiesel,


houve um acréscimo expressivo da demanda por este insumo. Tal aumento impactou
diretamente na oferta de soja para outros fins (alimentação humana, rações) e para a
exportação. A crítica a este ponto é a da disputa da produção de alimentos e de
biocombustíveis, principalmente no caso da soja; além também, é claro, de questões relativas
à possível ampliação do desmatamento nas áreas de fronteira agrícola.
Segundo Alvarenga (2012), uma indústria de biocombustíveis bastante diversificada
em processos de produção e matérias-primas, requer a adequação e/ou a superação de diversas
limitações presentes aos biocombustíveis, tais como: a competição direta e indireta12 com
alimentos, a utilização de matérias primas com qualidade, disponibilidade e preço
incompatíveis com a viabilidade econômica, dentre outros. No Gráfico 6, mostra-se a
evolução dos diferentes usos da soja ao longo dos anos. Observa-se uma crescente escala no
uso do grão para produção de biodiesel.

Gráfico 6 – Biodiesel: Impactos na Agroindústria de Soja


Fonte: FÉRES (2012).

12
“A competição direta ocorre quando culturas que servem para finalidades tanto energéticas quanto
alimentícias passam a alternar o seu destino de acordo com os preços dos dois mercados. Já a competição
indireta refere-se à luta que os mercados energético e alimentício travam entre si pelos fatores de produção.”
(ALVARENGA, 2012, p. 22).

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Outro fator importante se refere ao alto nível de mecanização da agricultura na


produção de soja, que como consequência substitui significativamente a mão de obra rural por
máquinas, indo de encontro ao objetivo de geração de renda13 proposto. Por conta de aspectos
tecnológicos, como será visto no próximo item, até o momento, poucas oleaginosas
conseguiram obter viabilidade econômico-financeira para a sua utilização na produção de
biodiesel.14 Existem, porém, casos em que a agricultura familiar conseguiu obter resultados
satisfatórios (por exemplo, ver MONTEIRO, et al. (2013)).
Uma grande vantagem desse programa seria a possibilidade da inserção de famílias de
agricultores das regiões Norte e Nordeste, em especial, no processo produtivo. A ideia do
Selo Combustível Social era propiciar às empresas que produzissem o biocombustível a
isenção de alguns tributos e garantir o índice de 80% do combustível leiloado publicamente
proveniente dessa classe de produtores. No Gráfico 7, apresenta-se a evolução da aquisição de
matérias-primas da agricultura familiar. Apesar dos números serem expressivos, os resultados
estão muito abaixo do proposto pelo programa na ocasião de sua elaboração.

Gráfico 7 - Evolução da Aquisição de Matérias-Primas da Agricultura Familiar


Fonte: MDA (s/d, 12).

Os subsídios dados mediante o Selo Combustível Social não foram suficientes para
viabilizar a produção de óleo de mamona e outras oleaginosas, que têm pouca viabilidade
econômica com a tecnologia atual. Tal selo, que deveria beneficiar os produtores familiares de
mamona, etc., na prática, somente permitiu às indústrias de soja a isenção de tributos e
menores taxas de juros nos empréstimos. Isto possibilitou que críticas pertinentes fossem
feitas a tais subsídios direcionados aos produtores familiares de soja, uma vez que estes
possuem uma logística adequada e não precisariam ter subsídios governamentais para ampliar
a sua margem operacional. Na tabela 2, mostra-se que grande parte das aquisições da
agricultura familiar no PNPB provém da soja.

13
Segundo as estimativas do Governo Federal, o potencial de criação de inclusão social da soja pode chegar a 1
emprego a cada 100 hectares, dependendo do grau de mecanização e do tamanho da propriedade (GTI. In:
ALVARENGA, 2012).
14
A soja, em 2010, ainda representava 94,06% do total de aquisições da agricultura familiar, e as demais
oleaginosas representavam menos de 6% da aquisição de matérias-primas (MDA, s/d, p.15).

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Tabela 2 - Aquisições da Agricultura Familiar no PNPB, em milhões de R$, por Matéria


Prima - 2008-2010
Matéria-prima 2008 2009 2010
TOTAL R$ 276,54 R$ 677,34 R$ 1.058,70
Soja R$ 256,06 R$ 640,76 R$ 955,86
Mamona R$ 5,14 R$ 26,79 R$ 46,36
Óleo de Soja R$ 10,20 R$ 4,39 R$ 5,37
Gergelim R$ 0,00 R$ 0,18 R$ 4,17
Dendê R$ 2,45 R$ 2,50 R$ 3,35
Girassol R$ 1,95 R$ 1,12 R$ 1,18
Canola R$ 0,62 R$ 0,35 R$ 1,17
Amendoim R$ 0,11 R$ 1,22 R$ 1,05
Outras R$ 0,02 R$ 0,19
Fonte: MDA (s/d, p. 15).

No início do PNPB, os principais produtores eram da região Norte (69%) e da região


Nordeste (21%). Quando se começa a exigir escala de produção para cobrir a demanda
obrigatória de mistura do biodiesel ao diesel (ver Gráfico 1), verifica-se a ampliação da
produção mediante a soja e, consequentemente, a modificação das principais regiões
produtoras. Embora um dos propósitos iniciais do programa tenha sido a desregionalização
(ver Figura 1), no Gráfico 8, evidencia-se o oposto do esperado: concentração regional muito
forte da produção de biodiesel, que totaliza, no ano de 2013, 42% e 38%, nas regiões Centro-
Oeste e Sul, respectivamente.

Gráfico 8 - Biodiesel: Evolução da Concentração Regional


Fonte: ABIOVE (2014).

Não obstante, apesar dos problemas citados, há dois importantes aspectos positivos
dessa inovação no campo da produção de biocombustíveis, a saber: (1) a diminuição do
volume de importações de óleo diesel, contribuindo para o equilíbrio da balança comercial

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brasileira e diminuição da dependência externa de derivados de petróleo; e (2) a contenção da


emissão de GEE15 através do seu uso (gráfico 9).

Gráfico 9 – Emissões Evitadas com o Biocombustível em 2012 - Brasil


Fonte: EPE (2013).

Por fim, observa-se que o PNPB formou a indústria de biodiesel no Brasil, como pode
ser visto na Figura 2, apesar de vários aspectos a serem resolvidos.

Figura 2 - Indústria do Biodiesel no Brasil


Fonte: DORNELLES, 2013.

15
“[...] analisando-se apenas as emissões de gases de efeito estufa geradas pelo ciclo de vida do insumo álcool
(desconsiderando as emissões de gases de efeito estufa do ciclo de vida da matéria graxa), o uso do biodiesel
metílico reduz a emissão de gases causadores do citado efeito em 95%. Quanto ao biodiesel etílico, a redução é
de 96,2%, havendo, portanto, diferença pouco significativa (1,2%) entre os dois ésteres.” (GTI, 2003, p.11).

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Dentre tais aspectos a serem mitigados encontram-se a necessidade de uma melhoria


na infraestrutura logística que atenderá aos agricultores familiares de oleaginosas que não
sejam a soja e, principalmente, o desenvolvimento tecnológico, tanto da produção de insumos
(conseguir a viabilidade técnico-econômica da mamona, dendê, etc.), quanto dos motores dos
veículos. Quanto à logística, alguns autores sugerem o uso da infraestrutura dos combustíveis
fósseis já existente, entretanto, não se poder olvidar que grande parte destes recursos são de
propriedade da Petrobras (cabe aqui pensar se deve a estatal ser ou não novamente a
responsável pela execução de grande parte da política pública destinada à formação da
indústria do biodiesel). Já quanto à adaptação dos motores a diesel, deve-se destacar a
iniciativa do Governo do Estado do Rio de Janeiro mediante o programa". O Rio de Janeiro
Sai na Frente - Biodiesel 5% na Frota de Ônibus" e a participação direta das principais
montadoras de motores e das distribuidoras de combustível.

4. Aspectos Tecnológicos e de Inovação do PNPB

Apesar do foco ser a análise da produção de biodiesel a partir de oleaginosas, ele pode
ser obtido mediante outras matérias-primas16 (Tabela 3). Assim, deve-se ao menos comentar a
importância de recursos privados e/ou públicos destinados ao desenvolvimento de tecnologias
de produção de biodiesel a partir de resíduos agrícolas, industriais (esgoto de um modo geral)
e óleos de fritura. No caso dos resíduos, o benefício ambiental proveniente deste reuso é
inegável, indo além das emissões de gases do efeito estufa (GEE) evitadas com o
biocombustível.

Tabela 3: Matéria-prima para Produção de Biodiesel


Matérias Matéria-Prima Origem
Graxas
Tipo I Óleos e Óleos de dendê, mamona, girassol, Agricultura familiar e
Gorduras amendoim, babaçu, soja, pinhão agronegócios
Vegetais manso e nabo forrageiro
Óleos e Sebo bovino Matadouros e
Gorduras frigoríficos
Animais
Tipo II Óleos de fritura usados resultantes de processamento Redes de "fast-food",
comercial e industrial indústria alimentícia.
"Nata sobrenadante" ou escuma Estações de tratamento
de esgotos
Resíduos agrícolas e industriais de natureza graxa Agroindústrias
(borras)
Fonte: SECTI. In: FETRANSPOR, 2008. p. 14.

Na área tecnológica, algumas iniciativas são fundamentais para eliminar os gargalos


tecnológicos existentes e os que venham a surgir com a ampliação do PNPB: (1) o fomento ao
setor por parte dos organismos governamentais (BNDES, FINEP, CNPq, Fundações estaduais
de pesquisa) e por parte das instituições privadas; (2) a competência da Embrapa Agroenergia
e de outros centros de pesquisa (Universidades, por exemplo); e (3) o incentivo à articulação

16
Segundo LIMA et al. (2013, p. 447), “o biodiesel pode ser obtido a partir de óleos vegetais, gorduras animais
ou óleos residuais por meio de reação com etanol ou metanol”.

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dos agentes envolvidos por meio da Rede Brasileira de Tecnologia de Biodiesel. As políticas
públicas nesta área são fundamentais, especialmente por conta do baixo interesse do setor
privado na utilização de biodiesel, motivados pelos altos custos envolvidos na sua produção,
se comparados aos custos do óleo diesel mineral.
Até o momento, grande parte do sucesso do PNPB advém do uso da soja. Todavia,
para que ocorra uma mais ampla diversificação da produção de oleaginosas, tem-se que
conseguir a viabilidade econômica da produção de mamona, pinhão manso, girassol dentre
outras oleaginosas depende de pesquisas e avanços tecnológicos. Mas como conseguir tal
diversificação se o ritmo de P&P ainda é muito lento, como pode ser visto no Gráfico 1017.
Além disso, para que a exportação de biodiesel cresça e permita ampliar a produção brasileira
de biodiesel, tal biocombustível terá que atender às especificações estrangeiras. Neste sentido,
por exemplo, há pesquisas em andamento para estudar misturas de biodiesel para atender às
especificações europeias.

Gráfico 10 - Número de Patentes na Área de Produção do Biodiesel


Fonte: Elaboração própria a partir de FÉRES (2012) e MENDES (2012).

Monteiro et al (2013) afirmam que a relação contratual entre o agricultor familiar e a


agroindústria, com o patrocínio do Governo Federal é uma grande inovação organizacional, e
como tal, tem permitido a obtenção de sucessos na agricultura familiar na Amazônia (Pará).
Tal ideia pode ser vista no trecho abaixo:
Os ganhos reais destes sistemas produtigos com palma de óleo estão relacionados à
inclusão de novas tecnologias, com preços, prazos e condições de comercialização

17
"Na relação completa dos pedidos de patente selecionados para este Alerta (Tabela 2) há, 17 pedidos com
prioridade brasileira, cujos depositantes são: Petrobrás, Almir Gonçalves Pereira, Paulo Roberto de Oliveira,
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - Senai/Ba e Universidade Federal da Bahia – UFBA com 2
pedidos cada e Alexandra dos Santos Machado, Biotechnos Projetos Autosustentáveis Ltda, Ciência e
Tecnologia da Bahia, Companhia Petroquímica do Nordeste, Darci Humberto Fracari, Departamento Regional
da Bahia, Emily Karle dos Santos Conceição, Fundação de Ciência e Tecnologia, Glykem Plásticos Ambiental
Ltda, IFBA - Instituto Federal de Educação, João Ferreira Bezerra de Souza, José Sérgio Pereira Brito, Laila
Nogueira dos Santos, Luiz Fernando Lopes de Souza, Luiz Guilherme da Costa Marques, Marcelo Gonçalves
Martins, Marcos Vinicios Marques Fagundes; Luciano Bastos Oliveira, Rogério da Conceição Rodrigues, Steen
Hedetoft, Storck do Brasil Ltda, Sylvio Luiz de Souza Wanderley, Universidade Estadual de Campinas -
Unicamp, Universidade Federal de Sergipe, Universidade Federal do Paraná, Walmor Almeida Barreto Filho,
com 1 pedido cada" (MENDES, 2012, p. 10).

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definidos em contrato. No que concerne aos ganos econômicos, estes são


responsáveis por um acréscimo de até 80% na renda dos agricultores familiares.
Percebem-se, ainda, ganhos na melhoria do quadro ambiental e na relação
comercial, pois deixam de adotar a prática histórica de derrubada e queima, além de
extinguir a figura do atravessador, que quase sempre está presente nas relações
comerciais de extrativistas e da agricultura familiar na Amazônia, em especial,
naquelas áreas onde o mercado de oleaginosas já está estabelecido na região
(MONTEIRO et al, 2013).

5. Considerações Finais

O Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel conseguiu atender, em parte,


alguns de seus principais objetivos. Inicialmente, além de introduzir o biodiesel como recurso
energético no Brasil, manteve a sua capacidade de abastecimento dos mercados, e alcançou o
percentual de 5% de biodiesel, na mistura com o diesel, pretendido para 2013, em 2010.
Entretanto, no que se refere à inclusão social, a ausência de investimentos em tecnologia,
além da baixa qualificação, entre outros fatores, prejudicaram a capacidade de produção
familiar, comprometendo a capacidade de produção de matéria-prima em grandes escalas.
Atualmente, os incentivos governamentais e as políticas públicas relativas ao fomento de
P&D têm aumentado, mas ainda em passos muito lentos. Por fim, sugere-se, então, uma
releitura do setor e uma remodelação da política do biodiesel.

6. Referências Bibliográficas

ABIOVE [Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais]. Dados de utilização de


matérias-primas na produção de biodiesel. Disponível em:
<http://www.abiove.org.br/site/index.php?page=estatistica&area=NC0yLTE=>. Acesso em:
março de 2014.

ALVARENGA JUNIOR, M. O Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel: Uma


Análise Crítica. Rio de Janeiro: IE/UFRJ, 2012 (Monografia de Final de Curso de Economia).

ANP [Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis]. Leilões de Biodiesel.


Resultado de Todos os Leilões Realizados. Rio de Janeiro: ANP, 2014. Disponível em:
<www.anp.gov.br/?dw=58013>. Acesso em: março de 2014.

BIODIESELBR. Proálcool – Programa Brasileiro de Álcool. Disponível em:


<http://www.biodieselbr.com/proalcool/pro-alcool/programa-etanol.htm>. Acesso em: março
de 2014.
_________. Regiões e Oleaginosas. Disponível em:
<http://www.biodieselbr.com/biodiesel/brasil/regioes.htm>. Acesso em: abril de 2014.

CAMPOS, A. F.; MORAES, N. G. Proálcool e Programa Nacional de Produção e Uso do


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