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Como ocorreu a crise financeira americana

Dez anos este ano

N. do E.: o artigo abaixo foi originalmente publicado em setembro de 2013. Algumas informações
foram acrescentadas para torná-lo ainda mais completo.

Ao contrário do que muitos imaginam, a crise financeira não começou em 2008, mas sim em agosto
de 2007, quando correntistas correram ao banco britânico Northern Rock para sacar seu dinheiro,
levando o banco à falência. Esta foi a primeira corrida bancária em grande escala ocorrida desde
1930.

No entanto, pela narrativa popular, o ano de 2018 marca o décimo ano da crise, pois foi em 2008
que a crise se manifestou de maneira realmente intensa.

São inúmeros os analistas, comentaristas e, principalmente, acadêmicos que já se aventuraram a dar


seus vaticínios sobre a crise financeira americana. No entanto, ausente de todos os comentários está
aquele componente indispensável para toda e qualquer análise econômica minimamente séria e
sensata: a imparcialidade. E presente em todos os comentários está aquele componente do qual, hoje
em dia, ninguém abre mão: a propaganda ideológica.

A melhor maneira de se entender corretamente e de modo fácil todas as nuanças da crise financeira
americana é fazendo uma narração cronológica e desideologizada dos eventos. Caberá ao leitor, no
final, concluir qual dos dois lados tem razão: se aqueles que dizem que tudo foi causado por uma
falta de regulamentação ou se aqueles que dizem que tudo foi causado por excesso de intervenção
estatal.

A tempestade perfeita
A crise financeira americana — a qual foi gerada pelo estouro de uma grande bolha imobiliária —
teve características grandiosas e espetaculares simplesmente porque ela apresentou uma
combinação de elementos até então inédita na história de qualquer economia mundial. Nem mesmo
a colossal crise financeira japonesa do início da década de 1990 — que também foi gerada pelo
estouro de uma bolha imobiliária — apresentou uma conjunção tão harmoniosa de elementos a
ponto de produzir um estrago semelhante.

Comecemos nossa análise com um gráfico que mostra o histórico da evolução dos preços dos
imóveis americanos. Mais especificamente, o gráfico mostra a mediana dos preços de venda de
imóveis novos.

Gráfico 1: mediana dos preços de venda de imóveis novos

O gráfico traz vários detalhes interessantes. Até o início da década de 1970, quando os EUA ainda
viviam sob alguns resquícios de padrão-ouro, os preços dos imóveis permaneceram praticamente
constantes. Durante a década de 1970, os preços praticamente duplicaram, mas isso foi efeito da alta
inflação monetária ocorrida naquela década (que ficou conhecida como a década perdida dos EUA),
e não especificamente de uma bolha.

Já durante a década de 1980 houve um mini-bolha, a qual estourou no início da década de 1990
(aficionados por economia podem pesquisar sobre a retração do mercado imobiliário americano
nesta época).

A partir de 1993, início do governo Clinton, os preços voltaram a subir continuamente. E


aceleraram vertiginosamente a partir de 2001 até entrarem em colapso em 2008.
Logo, partindo-se deste gráfico, dois eventos devem ser analisados:

1) O que gerou a ascensão de preços a partir de 1993?

2) O que gerou a súbita aceleração a partir de 2003?

A década de 1990

Foi na década de 1990 que duas políticas governamentais voltadas exclusivamente para o setor
imobiliário — mais especificamente, para aumentar o número de proprietários de imóveis — foram
intensificadas. Digo "intensificadas" porque estas políticas já existiam desde a década de 1970, mas
foi somente na década de 1990 que elas ganharam poder total.

Quais foram estas políticas?

Fannie Mae e Freddie Mac

De um lado, havia duas empresas nominalmente privadas, mas que atendiam exclusivamente aos
desejos do governo federal. Estas duas empresas se tornaram mundialmente conhecidas em 2008,
quando houve a quebradeira: trata-se da Federal National Mortgage Association (popularmente
conhecida como Fannie Mae) e a Federal Home Loan Mortgage Corporation (popularmente
conhecida como Freddie Mac).

Essas duas empresas foram criadas pelo Congresso americano e são oficialmente conhecidas como
"empresas apadrinhadas pelo governo", pois usufruem vários privilégios concedidos pelo governo.
Primeiro, vamos entender o que elas fazem; depois, veremos por que elas são assim conhecidas.

Fannie Mae e Freddie Mac são empresas voltadas exclusivamente para o mercado imobiliário. Mais
especificamente, elas são empresas que existem para garantir liquidez ao mercado de hipotecas.
Elas não emprestam dinheiro para compradores de imóveis; elas apenas compram estes
empréstimos dos bancos.

Funciona assim: um americano vai a um banco comercial qualquer e pede um empréstimo para
comprar um imóvel. Ato contínuo, o banco cria dinheiro eletrônico e acrescenta estes dígitos
eletrônicos na conta do tomador de empréstimo, que agora utilizará este dinheiro para comprar um
imóvel. Por uma questão de regra contábil, sempre que um banco concede um empréstimo, ele está
criando um ativo e um passivo: o ativo é o valor do empréstimo, o passivo é o dinheiro que ele deu
ao tomador de empréstimo.

Atenção, pois esta parte é crucial: se um banco concede um empréstimo, o valor do seu ativo
aumenta. Quanto mais empréstimos ele concede, maior o valor do seu ativo (e, consequentemente,
do seu passivo). Por uma questão de regulamentação bancária (tanto do Banco Central americano
quanto do Banco da Basileia), há um limite para o crescimento destes ativos. Em termos técnicos,
os ativos têm de manter uma proporção máxima em relação ao patrimônio líquido do banco.
Portanto, um banco não pode sair concedendo empréstimos a rodo, pois ele rapidamente atingiria
este limite determinado.

E é exatamente nesse ponto que Fannie e Freddie entram em cena. A função destas empresas era
comprar dos bancos comerciais exatamente estes empréstimos (títulos hipotecários) que eles
concediam para compradores de imóveis.

Ou seja: quando um banco comercial concedia um empréstimo imobiliário, ele colocava em seus
ativos o valor total do empréstimo. Mas se ele vendesse esse ativo (título hipotecário) para uma
terceira parte, este ativo sairia de seus livros contábeis, ele receberia de volta a quantia que
emprestou (na verdade, receberia um valor mais alto) e, em seguida, estaria livre para voltar a fazer
novos empréstimos sem ultrapassar aquele limite entre ativos e patrimônio líquido estabelecido pelo
Banco Central e por Basiléia.

Em resumo: Fannie e Freddie, ao comprarem as carteiras de empréstimos imobiliários dos bancos,


permitiam que os bancos dessem continuidade aos seus empréstimos. Em outras palavras, após um
banco conceder um empréstimo para um comprador de imóveis, ele podia vender este empréstimo
para Fannie ou Freddie. Ato contínuo, este empréstimo não mais estaria nos livros contábeis do
banco, o qual estaria agora livre para fazer novos empréstimos.

Uma vez em posse dos títulos hipotecários, Fannie e Freddie agora eram as responsáveis pelos
empréstimos. A relação agora era entre elas e os tomadores de empréstimos imobiliários. Enquanto
estes continuassem pagando suas hipotecas, Fannie e Freddie continuariam tendo um fluxo de
caixa. Se os tomadores de empréstimos dessem o calote, Fannie e Freddie teriam enormes prejuízos.
Seus títulos hipotecários seriam remarcados para um valor zero e o patrimônio líquido de ambas
seria severamente afetado.

Observe que os bancos que fizeram os empréstimos originais estão fora da jogada. Eles não mais
são os responsáveis pelo empréstimo e não mais lidam com o tomador do empréstimo. Eles estão
livres para voltar ao mercado imobiliário e conceder novos empréstimos. Era uma espécie de moto-
perpétuo.

Fannie e Freddie tinham duas opções: elas podiam manter em suas carteiras os empréstimos que
compraram dos bancos (e, assim, aufeririam as receitas) ou podiam empacotar esses empréstimos e
vender para investidores ao redor do mundo. Esses empréstimos imobiliários vendidos por Fannie e
Freddie para os investidores ao redor do mundo ficaram conhecidos como "títulos lastreados em
hipotecas" (as famosas mortgage-backed securities).

Tradicionalmente, quando uma pessoa pega um empréstimo para comprar um imóvel, cria-se uma
dívida entre ela e o banco. Se a pessoa irá honrar sua dívida ou não, é problema do banco. No
cenário americano, Freddie e Fannie fizeram com que os bancos não mais se preocupassem com
nada disso, pois eles sabiam que, tão logo concedessem um empréstimo imobiliário, Fannie e
Freddie estavam lá para comprar este empréstimo a um valor acima do montante concedido.

Desnecessário dizer que todo este processo — ao facilitar enormemente a compra de imóveis —
gerou muito mais empréstimos imobiliários do que normalmente ocorreria. Este direcionamento
artificial de recursos para o mercado imobiliário aditivou os preços dos imóveis.

Freddie e Fannie garantiam todas as hipotecas que empacotavam e vendiam no mercado secundário,
pois usufruíam uma linha especial de crédito junto ao Tesouro americano. Isso significa que, em
tese, quem comprasse as hipotecas vendidas por Freddie e Fannie estava segurado pelo governo
americano.

Esta garantia implícita de proteção conseguiu atrair um contínuo financiamento de investidores —


que investiam dinheiro nestas empresas e compravam seus títulos lastreados em hipotecas —, pois
estes investidores sabiam que, caso houvesse calotes nas hipotecas, Fannie e Freddie cobririam
tudo. E caso a coisa degringolasse e Fannie e Freddie quebrassem, ambas seriam socorridas pelo
governo americano.

(Para se ter uma ideia da amplitude destas empresas, em setembro de 2008, quando o governo
americano efetivamente nacionalizou ambas as empresas, elas detinham metade das hipotecas do
país e praticamente 75% das hipotecas recém-concedidas.)

Por fim, vale ressaltar que Fannie e Freddie estavam profundamente envolvidas em politicagem. A
Fannie, mais especificamente, foi utilizada por políticos democratas que queriam diminuir as
exigências que a empresa impunha para conceder empréstimos a pessoas de mais baixa renda. Tudo
em nome de estar ajudando os "necessitados". Em setembro de 1999, ninguém menos que o próprio
The New York Times publicou uma reportagem dizendo que a Fannie Mae estava afrouxando as
exigências de crédito para as hipotecas que ela comprava dos bancos. Segundo o próprio Times, a
iniciativa era perigosa porque iria

estender hipotecas para indivíduos cujo histórico de crédito não são bons o suficiente
para se qualificarem para empréstimos convencionais. [...] Fannie Mae tem estado sob
intensa pressão do governo Clinton para dar sustentação a hipotecas de pessoas de renda
baixa e moderada. [...] [Embora] as novas hipotecas sejam estendidas para todos os
potenciais tomadores de empréstimos, [um dos objetivos do programa é] aumentar o
número de proprietários de imóveis entre as minorias e os indivíduos de baixa renda, os
quais tendem a apresentar um histórico de crédito pior que os dos brancos não-
hispânicos.

Ao se aventurar, mesmo que temporariamente, nesta nova área de empréstimos, a


Fannie Mae está assumindo riscos consideráveis. [...] Esta corporação subsidiada pelo
governo pode vir a enfrentar problemas caso haja uma recessão econômica, o que levará
o governo a socorrê-la.

Ou seja, até mesmo o The New York Times já havia percebido o risco envolvido nessa nova
empreitada.

Não é o intuito deste artigo entrar em detalhes sobre o funcionamento de Freddie e Fannie, pois isso
tomaria o espaço de um livro. Há uma ampla literatura dedicada exclusivamente ao assunto (neste
site há inclusive um artigo dedicado exclusivamente a estas empresas) e nada do que foi dito aqui é
controverso. Políticos democratas utilizaram estas agências para garantir que minorias e pessoas de
baixa renda, sem nenhum histórico de crédito, conseguissem empréstimos para comprar a casa
própria. Estas seriam as mesmas pessoas que, como veremos mais abaixo, começaram a dar calotes
nos empréstimos.

CRA e ações afirmativas

Mas apenas Fannie e Freddie não seriam capazes de estimular todo o mercado imobiliário, e muito
menos o mercado subprime (subprime se refere a tomadores de empréstimo com histórico de
crédito ruim). É aí que entra em cena a segunda política governamental: ação afirmativa para
empréstimos.

Fannie e Freddie não eram as únicas entidades utilizadas para reduzir os padrões de empréstimos.
Agências governamentais de vários tipos começaram a pressionar os bancos a fazerem empréstimos
mais arriscados, e tudo em nome da "igualdade racial". Caso se recusassem a assumir este
comportamento temerário, os bancos poderiam ser legalmente processados por discriminação e
racismo.

Em 1992, um estudo feito pela sucursal do Federal Reserve de Boston afirmou ter encontrado claras
evidências de que, mesmo levando-se em conta as diferenças na capacidade creditícia de cada
indivíduo, as minorias recebiam menos empréstimos do que os brancos. Tal estudo foi considerado
como definitivo por aqueles já dispostos a acreditar em sua conclusão, a saber: que os bancos
americanos discriminavam negros e hispânicos — mas, curiosamente, não discriminavam os
asiáticos, que recebiam ainda mais empréstimos do que os brancos.

Este estudo ressuscitou uma lei conhecida Community Reinvestment Act. Trata-se de uma lei criada
ainda no governo de Jimmy Carter, no final da década de 1970, e que foi plenamente revigorada no
governo Clinton. Esta lei deixou os bancos à mercê de processos por discriminação caso eles não
emprestassem para minorias em um volume suficientemente alto, que satisfizesse as autoridades.

De acordo com as regras do Community Reinvestment Act (CRA), se um banco quisesse fazer
qualquer alteração em suas operações comerciais — fusão, abertura de uma filial, entrada em uma
nova linha de negócios —, ele deveria primeiro provar aos reguladores que ele, o banco, já fez uma
quantidade "suficiente" de empréstimos aos mutuários preferidos do governo — no caso, minorias e
pessoas de baixa renda.

E, a partir de 1995, o governo americano passou a pressionar os bancos para que fizessem
empréstimos sem que pudessem verificar critérios minimamente prudentes, como histórico de
crédito do tomador de empréstimo, seu histórico de poupança e a magnitude do pagamento da
hipoteca em relação à sua renda. Os bancos não podiam nem sequer verificar a renda do mutuário.
Adicionalmente, o Banco Central americano (Fed) havia dito aos bancos que a simples participação
deste mutuário em programas de aconselhamento de crédito, muitos dos quais são financiados com
fundos federais, poderia ser usada como "prova" da capacidade desse mutuário de baixa renda
honrar seus pagamentos hipotecários.

Em outras palavras, os reguladores bancários federais exigiram que os bancos fizessem


empréstimos ruins baseando-se em padrões de crédito inexistentes.

Vale novamente enfatizar que nada do que foi escrito até agora é matéria de controvérsia ou de
dúvidas. Toda a literatura a respeito do CRA e das políticas de ação afirmativa impostas por este
decreto são de conhecimento público. Para detalhes mais profundos sobre o tema, recomendo este
artigo, bem como todas as suas referências bibliográficas.

A década de 2000 — a intensificação de tudo

Até aqui, falamos apenas sobre duas políticas governamentais voltadas para estimular a aquisição
de imóveis: as agências hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mac, e o decreto CRA.

Estas duas políticas governamentais ajudam a explicar por que houve uma bolha imobiliária, mas
elas por si sós não justificam toda a amplitude da bolha imobiliária. Adicionalmente, como
mostrado no gráfico 1, foi só a partir da década de 2000 que os preços dos imóveis realmente
dispararam. Por quê?

Incentivos à especulação
Em primeiro lugar, é crucial entender a questão dos incentivos.

A partir do momento em que os critérios exigidos para se conceder empréstimos imobiliários foram
artificialmente relaxados por imposição do governo americano, e a partir do momento em que o
próprio governo adotou políticas que estimulavam a aquisição de imóveis, foi apenas uma questão
de tempo para que o setor imobiliário se tornasse um território propício à especulação.

O aumento na demanda por imóveis — estimulado pelo acesso artificialmente facilitado aos
financiamentos — gerou um inevitável e contínuo aumento nos preços dos imóveis. Este aumento
contínuo, por sua vez, produziu o "inesperado" efeito de atrair especuladores para o mercado
imobiliário.

Tornou-se extremamente comum um indivíduo adquirir um empréstimo, comprar uma casa, fazer
alguns aprimoramentos nesta casa e, apenas um ano depois, revendê-la a um preço muito maior,
entregando a hipoteca para o novo comprador que, seis meses depois, faria a mesma coisa que seu
antecessor. Ou seja, comprar um imóvel havia virado um investimento altamente rentável e de
ganho certo.

Aqueles que não compravam com a intenção de revender passaram a utilizar suas casas como um
caixa eletrônico: sempre que o imóvel se valorizava, o indivíduo ia ao banco e, utilizando o novo
valor da sua casa como colateral, negociava um novo empréstimo para gastar em bens de consumo,
como carros e televisores de plasma.

Um arranjo como este perdura enquanto os preços dos imóveis estiverem em ascensão. Se os preços
começarem a cair, duas coisas ocorrerão: a revenda do imóvel passará a dar prejuízo e o valor da
hipoteca será maior do que o valor do imóvel, o que impedirá qualquer tipo de renegociação com os
bancos e deixará o mutuário com um patrimônio negativo. Em suma, todo o esquema especulativo
virá abaixo.

E não apenas isso: dar o calote e abandonar o imóvel passará a ser a opção mais racional (e, como
veremos mais abaixo, foi isso o que ocorreu no final da década.)

Agências de classificação de risco

Mas o que tornou possível essa contínua especulação? O que fez com que Fannie e Freddie fossem
capazes de comprar e revender títulos lastreados em hipotecas ininterruptamente?

Como dito acima, em setembro de 2008, ambas as empresas detinham metade das hipotecas do país
e praticamente 75% das hipotecas recém-concedidas. De onde vieram os fundos que permitiram
isso? Resposta: de duas fontes.

Em primeiro lugar, não se pode de modo algum ignorar a função deletéria exercida pelas agências
de classificação de risco, como Moody's, Fitch e Standard & Poor's. Sem elas, a bolha imobiliária
certamente teria sido menor. Qual foi o estrago que elas fizeram?

Para entender, voltemos àquele exemplo prático dado logo no início do artigo. Um americano
típico, John Smith, vai a um banco qualquer e consegue um empréstimo para comprar um imóvel.
Ato contínuo, este banco irá revender este empréstimo (que é um ativo) para Fannie e Freddie.
Ambas terão a opção de ou manter este ativo ou revender este ativo. Na maioria das vezes, como
mostram os números do parágrafo acima, elas mantinham este ativo em suas carteiras.
Porém, em vários casos, elas empacotavam estes ativos e revendiam para investidores de todo o
mundo, em sua esmagadora maioria grandes conglomerados financeiros e grandes bancos de
investimento.

Bear Stearns, Lehman Brothers, Goldman Sachs, JPMorgan Chase, Merril Lynch, Morgan Stanley,
Citibank, Bank of America eram os compradores americanos mais famosos, ao passo que Barclays,
Royal Bank of Scotland e Northern Rock (Reino Unido), BNP Paribas e Société Générale (França),
Credit Suisse e UBS (Suíça), e Deutsche Bank (Alemanha) eram os mais famosos compradores da
Europa.

Esta prática de empacotar ativos e revendê-los é chamada de securitização. O principal problema


com esta securitização é que ela misturava ativos bons (mutuários com bom histórico de crédito)
com ativos ruins (mutuários sem nenhum histórico de crédito) no mesmo pacote. Logo, quem
comprava um pacote contendo ativos bons também acabava por tabela adquirindo ativos ruins.

Esse empacotamento de ativos bons com ativos ruins passou a ser chamado de Collaterized Debt
Obligation (CDO), algo que pode ser traduzido como Obrigação de Dívida Colateralizada.

Qualquer calote dado nos ativos ruins afetaria sobremaneira os balancetes das instituições em posse
destes CDOs.

Portanto, a pergunta inevitável é: como estes grandes bancos foram seduzidos a comprar estes
ativos contaminados? Resposta: porque agências de classificação de risco, como Moody's, Fitch e
Standard & Poor's, deram classificação máxima (AAA) para estes ativos.

O que nos leva à próxima pergunta: por que estas agências cometeram erros tão crassos? As
respostas variam.

Há quem diga que, como durante todo o período os preços dos imóveis só faziam subir e os títulos
lastreados em hipotecas estavam gerando grandes retornos, com pouquíssimos calotes, as agências
optaram pela decisão superficial de classificá-los de maneira extremamente favorável. Há também
quem diga que todos os departamentos do governo federal americano que possuíam ligações com o
setor imobiliário e que estavam incentivando políticas de compra de imóveis fizeram pressão neste
sentido. Neste caso, as agências de classificação de risco simplesmente não quiseram se opor a
iniciativas politicamente populares.

O que realmente se sabe é que estas três agências de classificação de risco são um cartel
estritamente regulado pela SEC (a CVM americana). É a SEC quem permite a existência destas três
agências, e é ela quem regulamenta e decide quem pode e quem não pode entrar neste mercado.

Na prática, isso significa que não pode surgir concorrência externa, pois o governo não deixa. Quem
vai ter cacife para bancar uma agência de classificação de risco que seja genuinamente
independente neste cenário altamente regulamentado? Há um longo e extenuante processo
burocrático-regulatório, de modo que é impossível surgir uma agência para confrontar as
classificações destas três grandes.

Portanto, é perfeitamente plausível imaginar que estas três agências não iriam querer criar
turbulência política e se indispor com o governo americano rebaixando a classificação dos títulos
hipotecários. Isso poderia colocar em risco seu privilegiado cartel (totalmente protegido pelo
governo americano) e, consequentemente, afetar seus portentosos lucros.
O fato é que estas agências merecem toda a culpa que lhes foi atribuída. Elas estavam apenas
fazendo o que o governo lhes mandava.

O principal culpado de tudo

No entanto — e este é o tema desta seção — absolutamente nada disso teria sido possível caso não
houvesse uma entidade com o poder legal de criar dinheiro do nada e injetar este dinheiro no setor
bancário para que os bancos pudessem continuamente criar mais empréstimos.

Sem uma entidade alimentando todo este sistema com dinheiro criado do nada, não teria sido
possível que (1) os empréstimos bancários para a aquisição de imóveis aumentassem continuamente
por 15 anos; (2) que os preços dos imóveis disparassem, alimentando todos os tipos de atividades
especulativas; (3) que Fannie Mae e Freddie Mac fossem capazes de atrair um volume cada vez
maior de dinheiro de investidores por contarem com a proteção implícita do governo; (4) que o
decreto CRA fosse bem-sucedido em obrigar os bancos a continuamente fazer empréstimos para
pessoas com histórico de crédito duvidoso.

Em suma: sem um Banco Central criando dinheiro e dando este dinheiro aos bancos para que estes
concedessem empréstimos — e, com isso, fizessem com que a quantidade de dinheiro na economia
americana aumentasse continuamente —, não teria como haver uma bolha imobiliária. Certamente,
não uma bolha destas proporções.

Todo este novo dinheiro criado pelo Banco Central americano (Fed) e multiplicado pelo sistema
bancário por meio do processo de reservas fracionárias foi majoritariamente canalizado para o setor
imobiliário. E, para intensificar ainda mais as distorções, os critérios excessivamente frouxos para a
concessão de empréstimos — critérios estes gerados por políticas governamentais criadas
exatamente com este propósito — fizeram com que especulações e compras imobiliárias excessivas
parecessem investimentos geniais.

Portanto, eis o resumo: as medidas governamentais visando à redução dos padrões de empréstimos
em conjunto com os privilégios usufruídos pelas para-estatais Fannie Mae e Freddie Mac desviaram
para o setor imobiliário uma fatia extremamente volumosa de todo o dinheiro que o Banco Central e
o sistema bancário do EUA estavam criando. Para tornar a tempestade ainda mais perfeita, as
agências de classificação de risco contribuíram para a bagunça concedendo classificação máxima
para todos os títulos imobiliários oriundos deste arranjo, principalmente aqueles títulos de
emprestadores sem nenhum histórico de crédito. Isso fez com que os grandes bancos americanos, e
também os grandes bancos estrangeiros, comprassem títulos hipotecários em quantias volumosas,
permitindo que Fannie e Freddie continuassem dando liquidez ao mercado imobiliário, perpetuando
a bolha.

Mas foi o Fed, em última instância, quem tornou possível todo o boom artificial do setor
imobiliário, e foi todo o dinheiro por ele criado quem forneceu o principal estímulo à subida
estrondosa dos preços dos imóveis vista na década de 2000.

Anatomia do colapso

Tendo em mente todo este arranjo, e sabendo como tudo funcionava, podemos agora ver como tudo
ocorreu.

A bonança
Todo o processo começou a ser desencadeado no final do ano 2000, quando houve o estouro da
bolha das empresas de tecnologia. Temendo uma iminente recessão, o Fed aumentou suas injeções
de dinheiro no sistema bancário para gerar uma redução nos juros. Estas injeções de dinheiro foram
intensificadas logo após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Durante este período, a
taxa básica de juros da economia americana caiu de 6,5% para 1%. E assim ficou até meados de
2004.

O gráfico abaixo ilustra este período. A linha azul, eixo da esquerda, mostra a evolução da taxa
básica de juros da economia americana. A linha vermelha, eixo da direita, mostra a evolução da
base monetária, que é uma variável sob total controle do Banco Central, e que representa todo o
dinheiro criado pelo Banco Central. Observe a aceleração ocorrida a partir de 2001.

Gráfico 2: evolução da taxa básica de juros (linha azul, eixo da esquerda) e evolução da base
monetária (linha vermelha, eixo da direita).

Este aumento na base monetária deixou os bancos repletos de dinheiro para ser emprestado. E
emprestar foi o que eles fizeram, e majoritariamente para o setor imobiliário.

O gráfico abaixo mostra os empréstimos totais feitos pelo setor bancário (linha azul). E mostra
também os empréstimos exclusivamente voltados para a aquisição de imóveis (linha vermelha).
Observe a evolução desde 1980, e a grande aceleração ocorrida na década de 2000.
Gráfico 3: evolução do crédito total concedido pelo setor bancário (linha azul) e evolução do
crédito total concedido à compra de imóveis (linha vermelha).

Vale observar que, de 2000 a 2008, o crédito total aumenta incríveis 100%, de US$ 3,5 para US$ 7
trilhões. Isso significa que o sistema bancário, estimulado pelo Fed, jogou US$ 3,5 trilhões na
economia americana em apenas 8 anos. Para a aquisição de imóveis foram direcionados "módicos"
US$ 2 trilhões (de US$ 1,5 trilhão para US$ 3,5 trilhões).

Ou seja, dos US$ 3,5 trilhões jogados na economia, US$ 2 trilhões foram para o setor imobiliário.
Acrescente a isso todas as medidas governamentais citadas ao longo deste artigo, e realmente não
há absolutamente nenhum motivo para se estranhar a bolha imobiliária que foi formada.

Isso explica toda aquela elevação de preços observada no gráfico 1. De 1993 a 2006, os preços dos
imóveis se apreciaram acentuadamente. Em alguns mercados específicos, até mesmo os preços das
moradias mais simples se tornaram astronomicamente altos. Esta subida nos preços estimulava
novos investimentos em mais construções de imóveis, o que gerava um aumento na oferta de
imóveis. E este aumento na oferta de imóveis viria, mais à frente, a exercer uma pressão baixista
nos preços dos imóveis.

O colapso

A partir de meados de 2004, com a economia americana já recuperada da recessão de 2001, o Fed
começou a reduzir o ritmo de injeções de dinheiro no sistema bancário. Consequentemente, os juros
começaram a subir.
O gráfico abaixo mostra esta correlação entre desaceleração do crescimento da base monetária e
aumento da taxa básica de juros.

Gráfico 4: evolução da taxa básica de juros (linha azul, eixo da esquerda) e evolução da base
monetária (linha vermelha, eixo da direita).

Este aumento da taxa básica de juros de 1% para 5,25% afetou as taxas de juros dos empréstimos
imobiliários.

Os juros das hipotecas com taxas ajustáveis (linha vermelha) saem de uma mínima de 3,5% no
início de 2004 e vão para quase 6% (aumento de 71%) em meados de 2006. Já os juros das
hipotecas convencionais, de 30 anos (linha azul), vão de 5,5% para quase 7% (aumento de 27%)
neste mesmo período.
Gráfico 5: evolução das taxas de juros das hipotecas com taxas ajustáveis (linha vermelha) e
evolução das taxas de juros das hipotecas convencionais, de 30 anos (linha azul)

Este aumento dos juros não só esfriou a demanda por imóveis como também elevou o número de
calotes nas hipotecas.

Uma redução na demanda por imóveis em conjunto com um acentuado aumento na oferta de
imóveis gerou o inevitável: no final de 2006, os preços começaram a cair. A queda nos preços — na
realidade, a percepção de que os preços não mais iriam aumentar — arrefeceu toda a atividade
especulativa. Pessoas que haviam comprado imóveis para especular viram que a festa havia
acabado. O que elas fizeram? Simplesmente pararam de pagar suas hipotecas. Deram o calote. Por
quê? Porque elas haviam pegado empréstimos extremamente generosos, que não exigiam
absolutamente nenhum pagamento de entrada. Elas simplesmente abandonaram seus imóveis. Não
perderam nada.

Já outras pessoas pararam de pagar suas hipotecas simplesmente porque o aumento dos juros havia
tornado impossível continuar honrando suas prestações. Elas se tornaram inadimplentes.

A combinação destes dois fatores fez com que os calotes totais nos empréstimos imobiliários
disparassem. Começou timidamente em 2006. Disparou em 2007. Foi para a estratosfera em 2008.

De 2005 até o final de 2008, os calotes pularam de US$ 20 bilhões para US$ 170 bilhões. Um
aumento de 750% em 4 anos.
Gráfico 6: Inadimplência total dos empréstimos garantidos por imóveis

A partir daí, o resto é história.

O aumento nos calotes fez com que todos os bancos de investimento que haviam comprados títulos
lastreados em hipotecas repentinamente não mais auferissem essa receita. O valor destes ativos caiu
para zero. Uma redução nos ativos sem uma concomitante redução nos passivos fez com que vários
destes bancos sofressem uma brutal redução em seu capital (patrimônio líquido).

Com o capital afetado, os bancos simplesmente pararam de conceder novos empréstimos, inclusive
entre eles próprios no mercado interbancário. Isso gerou o famoso problema do congelamento do
mercado de crédito. (Veja no gráfico 3 como a linha azul se torna plana no primeiro semestre de
2008). Consequentemente, vários bancos começaram a enfrentar sérios problemas de liquidez.

O estopim

Essa crise começou a se tornar mundialmente visível em agosto de 2007. No dia 9 daquele mês, o
banco francês BNP Paribas anunciou que estava suspendendo saques em dois dos seus fundos que
haviam investido volumosamente em títulos lastreados em hipotecas americanas. Isso afetou o
banco britânico Northern Rock, que dependia exatamente destes fundos de investimento para
conseguir liquidez.

O caso do Northern Rock é interessante porque ele resume perfeitamente o modus operandi de
todos os outros bancos à época: ele tomava empréstimos no mercado financeiro internacional,
utilizava esse dinheiro para conceder empréstimos imobiliários (hipotecas), e então revendia essas
hipotecas no para todos os bancos de investimento do mundo (esse processo era conhecido como
securitização). Em agosto de 2007, quando a demanda dos investidores por hipotecas securitizadas
começou a cair forte, as receitas do Northern Rock desabaram. Essa escassez de dinheiro fez com
que o banco se tornasse incapaz de quitar os empréstimos que pegou no mercado financeiro
internacional.

Logo, sem receitas e sem conseguir um empréstimo de curto prazo no mercado bancário para rolar
suas dívidas, o Northern Rock recorreu ao Banco Central da Inglaterra para pedir um empréstimo de
3 bilhões de libras.

Tudo parecia estar indo bem, exceto por um detalhe: um informante dentro do Banco da
Inglaterra alertou a BBC sobre a operação no dia 13 de setembro de 2007.

A notícia de que o banco estava insolvente se espalhou como fogo na pólvora e, na manhã seguinte,
houve uma corrida bancária ao Northern Rock, com correntistas ávidos para sacar seu dinheiro. Foi
a primeira corrida bancária em larga escala desde 1930. O governo britânico anunciou que iria
garantir todos os depósitos do banco. No dia 17 de fevereiro de 2008, após o governo recusar várias
ofertas de aquisição pelos outros bancos, o Northern Rock foi nacionalizado.

Daí por diante, todo o


castelo de cartas
começou a desabar.

O banco de
investimentos Bear
Stearns se tornou
insolvente em março de
2008. O Tesouro
americano orquestrou
sua aquisição pelo JP
Morgan.

No dia 7 de setembro,
Fannie Mae e Freddie
Mac foram
nacionalizadas
completamente.

Na semana seguinte, o Fed orquestrou a aquisição do Merril Lynch pelo Bank of America.

No dia 15 de setembro, o Lehman Brothers anunciou sua falência. Não houve socorro.

No dia seguinte, a seguradora AIG, de alcance global, também anunciou que estava sem dinheiro. O
caso da AIG é interessante. Ela repentinamente se descobriu sem dinheiro não porque havia
investido em títulos lastreados em hipotecas, mas sim porque havia emitidos seguros contra o
calote de hipotecas (os chamados "credit default swaps"). Sempre que uma instituição era caloteada
por algum devedor, ela recorria à AIG, que havia emitido apólices contra esses calotes
hipotecários.
Com a súbita disparada nos calotes, a AIG repentinamente foi para o vermelho.

E por que a AIG havia emitido tantas apólices de seguro contra calotes de hipotecas? Porque ela
havia sido informada pelo governo de que os preços dos imóveis jamais cairiam, e havia também
sido informada pelas três agências de classificação de risco e que os títulos lastreados em hipotecas
eram AAA — isto é, extremamente confiáveis e seguros.

Ou seja, em troca desta segurança prometida, a AIG emitiu várias apólices e coletou uma boa soma
em prêmios. Até que tudo se reverteu, e todos os bancos foram correndo reclamar suas
indenizações.

No total, até o fim do ano de 2008, o Fed viria a emprestar US$ 125 bilhões para a AIG em troca de
80% da empresa. Segundo o The New York Times, esta foi "a mais radical intervenção no setor
privado em toda a história do Banco Central".

A mudança radical do Fed

Após todas estas intervenções, o Fed assumiu uma postura totalmente inaudita em toda a sua
história: ele simplesmente passou a comprar todos os títulos hipotecários em posse dos bancos. Ou
seja, ele passou a imprimir dinheiro e dar aos bancos em troca dos títulos hipotecários em posse
destes bancos.

Isso limpou o balancete dos bancos e fez com que a base monetária explodisse. No entanto, e
felizmente, todo este aumento da base monetária não se converteu em expansão do crédito. Ou seja,
os bancos não jogaram todo este dinheiro na economia. A oferta monetária continuou crescendo no
mesmo ritmo de antes da crise.

A quase totalidade do aumento da base monetária transformou-se em "reservas em excesso".


"Reservas em excesso" são as reservas que os bancos mantêm voluntariamente depositadas junto ao
Fed, além do volume determinado pelo compulsório.

E por que os bancos fizeram isso? Por que eles preferiram manter o dinheiro no Fed a emprestá-
lo? Porque o Fed passou a pagar juros sobre toda e qualquer quantidade de dinheiro que os bancos
voluntariamente deixarem parada neste mercado. Ou seja, na prática, o Fed passou a pagar para os
bancos não emprestarem esse dinheiro.

Portanto, de um lado o Fed explodiu a base monetária; de outro, ele colocou uma rolha no
mecanismo de transmissão, fazendo de tudo para impedir que essa explosão da base monetária se
transformasse em uma explosão no M1 e no M2. Isso foi uma prática completamente inédita nos
anais da política monetária. Nenhum Banco Central jamais havia feito isso na história do mundo.
Nenhum manual ou livro-texto de macroeconomia jamais discutiu essa possibilidade.

O gráfico abaixo mostra a evolução da base monetária (linha azul) e das reservas em excesso (linha
vermelha), que representa o dinheiro que os bancos não emprestaram ao público porque preferriam
mantê-lo voluntariamente depositado junto ao Fed, que passou a pagar juros sobre este montante.
Gráfico 7: evolução da base monetária (linha azul) e evolução das reservas em excesso (linha
vermelha)

Toda esta nova política adotada pelo Fed resultou em um generoso e gratuito subsídio para o
sistema bancário. No final, não apenas seus lucros dos tempos da bonança foram mantidos, como os
prejuízos ainda foram socializados. Atualmente, os bancos de Wall Street operam em um regime de
risco quase nulo: eles fazem empréstimos hipotecários, revendem os títulos das hipotecas para o
Fed, recebem o dinheiro de volta (com um lucro), e ainda deixam boa parte deste dinheiro recebido
do Fed depositado no próprio Fed, que paga juros sobre este montante.

Por causa de toda a intervenção governamental, toda a lambança acabou valendo a pena para os
bancos.

Conclusão e a diferença para o Brasil

Não é o escopo deste artigo fazer digressões sobre como o governo americano e seu Banco Central
deveriam ter atuado durante a crise. Crises bancárias são um assunto vasto e complexo, e merecem
um artigo à parte (um esboço pode ser visto aqui e um mais completo aqui). Tampouco houve o
intuito de fazer algum juízo de valor. A única intenção foi mostrar, sem ideologias ou partidarismos,
como realmente se desenrolou todo o processo que levou à formação de uma bolha imobiliária,
como se deu seu estouro e como isso afetou todo o sistema bancário.

De posse de todas as informações aqui contidas, o leitor deve se fazer as três seguintes perguntas:
1) Todo este arranjo apresentado configura um sistema totalmente desregulamentado, um genuíno
laissez-faire, ou, ao contrário, representa um sistema fortemente intervencionista, no qual políticos,
burocratas e reguladores determinavam regras e agitavam em prol de suas conveniências?

2) Um sistema bancário que goza de uma garantia implícita dada pelo governo — de que haverá
socorro caso as coisas deem erradas — tende a apresentar comportamentos mais temerários ou mais
prudentes?

3) Sem um Banco Central criando dinheiro e permitindo aos bancos manterem suas expansões
creditícias de modo crescente, será que tudo isso teria sido possível?

As respostas a estas perguntas têm de estar claras antes de se iniciar qualquer debate a respeito da
crise.

Por último, vale uma digressão: isso teria chance de ocorrer no Brasil?

À época, vários defensores do intervencionismo vieram a público, e com grande júbilo, para dizer
que o que havia ocorrido no sistema bancário americano se devia à total falta de regulamentação do
setor. E acrescentavam dizendo que, no Brasil, isso jamais aconteceria, pois aqui o sistema bancário
é extremamente regulado.

Só que a realidade é bem diferente: no Brasil, ao menos oficialmente, não é o governo quem garante
o sistema bancário em caso de quebras, mas sim os recursos do FGC (Fundo Garantidor de
Crédito), que é uma instituição privada e mantida pelos próprios bancos. Já nos EUA, quem garante
os bancos é o próprio governo federal, por meio da Federal Deposit Insurance Corporation, uma
instituição estatal.

Ou seja, no Brasil, os bancos sabem que, se forem imprudentes, é o próprio dinheiro deles que terá
de ser usado para socorrê-los (o PROER da década de 1990 nada tinha a ver com o comportamento
dos bancos, mas sim com a radical mudança do regime monetário, obra do próprio governo).

Já nos EUA, os bancos sabem que, caso algo dê errado, o governo federal está pronto para socorrê-
los, pois esta é exatamente sua auto-declarada função.

Qual arranjo pode ser considerado o mais intervencionista?

70 votos

autor

Leandro Roque
é editor e tradutor do site do Instituto Ludwig von Mises Brasil.

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comentários
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comentários (348)


Pepe Legal 25/09/2013 08:03
Artigo muito bem escrito e claro. Parabéns
RESPONDER


Leandro 25/09/2013 20:06
Obrigado por ser legal comigo, Pepe. Abraço!
RESPONDER


Pedro Ivo 26/09/2013 14:24
Mas elogio do Pepe não conta: ele é Legal
RESPONDER


Júlio César 04/05/2018 19:41
Eu vi o que você fez aí hein Pedro hahahaha
Mas ótimo artigo MESMO!
RESPONDER


Pobre Paulista 25/09/2013 11:50
"...elas detinham metade das hipotecas do país e praticamente 75% das hipotecas recém-
concedidas"""

Qualquer semelhança com a nossa querida CEF é mera coincidência.


RESPONDER


Wilian Delatorre 25/09/2013 18:29
Depois do colapso quem o governo irá culpar?
RESPONDER


Pobre Paulista 26/09/2013 12:17
Irão culpar os "Eles", como sempre
RESPONDER


Pedro Ivo 26/09/2013 19:53
Culparão aos capitalistas gananciosos. Na falta deles aos smurffs, mas nunca ao Gargamel
(Guido Mantega).
RESPONDER


Pedro Ivo 27/08/2014 13:19
Overdose. Para quem não assistiu, fica a recomendação.
RESPONDER

DeusOdeia 18/01/2016 15:52
Irão culpar seus inimigos imaginários, que nem cristão culpam o próprio Satanás (criado por
deus)pelo seus problemas.............
RESPONDER


Flávio 25/09/2013 11:55
Leandro, bom dia,

Este processo brilhantemente explicado por você acabou gerando a bolha imobiliária
americana e consequentemente a crise financeira americana.

Eu estaria certo em dizer que as respostas dadas pelas autoridades americanas a tal crise
gerou e está gerando bolhas em todo o mundo, inclusive o Brasil.

Já se sabe que na Espanha houve um estouro da bolha imobiliária, no brasil penso que ela
ainda não estourou e que só irá de fato estourar após as eleições presidenciais de 2014, visto
que, qualquer que seja o vencedor, terá que necessariamente corrigir o desequilíbrio
existente no setor da construção civil. Você acha que estou pensando de forma correta?

Na certeza de ser atendido, desde já antecipo meus agradecimentos.

Atenciosamente,

Flávio

RESPONDER


Leandro 25/09/2013 19:28
Aqui ela já arrefeceu e o setor já iniciou sua reestruturação. Mas não será absolutamente
nada parecido com o que houve nos EUA. Muito menos no setor bancário.
RESPONDER


Pedro Ivo 26/09/2013 19:59
Leandro, você acha que "não será absolutamente nada parecido com o que houve nos EUA."
por quê? Seria pela magnitude do setor ser menor; de a expansão creditícia ser menor;
porque o governo ainda tentará reflacionar; ou por algum outro motivo?

"Muito menos no setor bancário." - De novo, por quê?


RESPONDER


Leandro 27/09/2013 01:10
Será menor porque a quantidade de crédito direcionada pelo setor bancário para o setor
imobiliário, embora tenha crescido muito, não representa (ainda) uma fatia substantiva da
carteira dos bancos. É claro que um calote generalizado iria deixá-los em situação difícil,
mas não quero especular a probabilidade deste cenário, pois não sei a real situação
financeira dos mutuários. Ademais, se os problemas ocorrerem com a Caixa, o governo irá
socorrê-la, como já o fez nas décadas de 1980 e 1990.
RESPONDER


Pobre Paulista 25/09/2013 12:08
Em tempo, parece claro que essa crise ainda não acabou. Falta o último capítulo: Colocar
essas toneladas de dólares de "reservas em excesso" de volta na economia.
RESPONDER


Pedro Ivo 14/11/2013 12:12
Eu postei um palpite sobre como essa enchurrada vai acontecer num artigo + antigo, do Jim
Rogers, aqui do sítio. Dá uma olhada e me dê sua opinião>É este aqui
RESPONDER


Cleiton 25/09/2013 12:26
Excelente artigo. Finalmente entendi a crise de 2008. Deve ser compartilhado em toda e
qualquer rede social.
RESPONDER


Samir Jorge 25/09/2013 13:07
Realmente. A cronologia de uma medida aparentemente isolada, todavia com implicações
associativas, amplia a capacidade perceptiva. Carter, Clinton, Alan Greenspan, instituições.
Creio que o melhor remédio para a idolatria é o ceticismo.

Parabéns pelo artigo Leandro Roque. Um artigo didático e assimilável.

Atenciosamente,

(a) - Samir Jorge


RESPONDER


anônimo 25/09/2013 13:12
Não se preocupem. O Super-Estado está aí para salvar. O Grande Estadista, Barack Obama,
salvou a economia dos EUA! Graças às internvenções do Estado, os EUA sairam da crise.
RESPONDER


giulia 19/03/2014 17:16
O estado que criou o monstro... Agora está tentando mata-lo usando as mesmas armas que
fizeram com que ele nascesse: embriagando o mercado com liquidez
RESPONDER


Fernando 25/09/2013 13:18
"No entanto, e felizmente, todo este aumento da base monetária não se converteu em
expansão do crédito. "

Em última análise, o Fed queria expandir a Demanda Agregada. Essa é a característica


fundamental de qualquer recessão: Demanda Agregada insuficiente. Isso em princípio não
tem nada a ver com 'bail outs' do setor bancário, problemas de moral hazard ou socialização
de perdas (sim, capitalismo é sobre perdas e ganhos e os taxpayers não devem pagar a conta,
ninguém discute isso).
Portanto, não foi "felizmente" que a expansão da base não se convertou em aumento da
Demanda Agregada Nominal, e sim infelizmente. Mas o Fed já tinha, sem intenção, adotado
as medidas para o próprio fracasso - começou a pagar juros positivos sobre os excess
reserves e ainda prometeu que recuaria em sua política de expansão monetária ao primeiro
sinal de recuperação ou de maior expectativa de inflação.
O Fed foi sim muito tímido e deixou passivamente a Política Monetária contrair na maior
taxa desde os anos 1930. A Grande Recessão de 2008+, assim como a Grande Depressão dos
1930's, não foi causada por uma crise financeira resultante de estouro de bolhas, e sim
causada por uma Política Monetária altamente contracionista por parte do Fed.

A Escola Austríaca é fascinante em muitos aspectos, mas Macro não é o forte dela.

Milton Friedman sobre Austrian Business Cycle:


FRIEDMAN I think the Austrian business-cycle theory has done the world a great deal of
harm. If you go back to the 1930s, which is a key point, here you had the Austrians sitting in
London, Hayek and Lionel Robbins, and saying you just have to let the bottom drop out of
the world. You've just got to let it cure itself. You can't do anything about it. You will only
make it worse. You have Rothbard saying it was a great mistake not to let the whole banking
system collapse. I think by encouraging that kind of do-nothing policy both in Britain and in
the United States, they did harm.
RESPONDER


Leandro 25/09/2013 14:22
"Em última análise, o Fed queria expandir a Demanda Agregada."

Não. Ele queria socorrer os bancos. Tanto é que criou esse programa, totalmente inédito, de
pagar juros sobre reservas em excesso. Isso foi uma forma tanto de dar dinheiro de graça aos
bancos quanto de impedir que eles convertessem em expansão do crédito todo o dinheiro
que lhes foi dado, o que geraria uma hiperinflação à la Zimbábue.

"Essa é a característica fundamental de qualquer recessão: Demanda Agregada


insuficiente."

Errado. Crises e recessões não são causadas por uma misteriosa queda na demanda
agregada. Crise e recessões são causadas por investimentos errôneos e insustentáveis -- pela
expansão do crédito bancário e pela distorção das taxas de juros --, para os quais nunca
houve demanda legítima. Não se trata de um problema de demanda agregada, mas sim de
um problema de capital desviado para aplicações que não são genuinamente demandadas
pelo público.

A causa de uma recessão não é demanda agregada, mas sim a destruição de capital. Recursos
escassos foram aplicados em investimentos para as quais não havia demanda. Quando esta
falta de demanda se torna patente, o valor destes investimentos cai, e os empreendedores que
fizeram tais investimentos se descobrem com um capital valendo bem menos do que
imaginavam valer. Aí então começa a recessão, que nada mais é do que o período de reajuste
desta estrutura de produção que foi distorcida pela expansão do crédito bancário e pela
distorção das taxas de juros.

Portanto, para acabar com uma recessão, é preciso fazer com que este capital mal investido
seja liquidado e que os investimentos sejam voltados para áreas em que haja genuína
demanda dos consumidores. O governo fazer políticas que estimulem a demanda agregada,
de modo a não permitir que haja essa reestruturação do capital, irá apenas prolongar a
recessão. Exatamente como está ocorrendo agora.

"Isso em princípio não tem nada a ver com 'bail outs' do setor bancário, problemas de
moral hazard ou socialização de perdas (sim, capitalismo é sobre perdas e ganhos e os
taxpayers não devem pagar a conta, ninguém discute isso)."

Tem tudo a ver. Não há nenhum burocrata do Fed que negue que tenha ocorrido um bail-out
e que houve problemas de risco moral.

"Portanto, não foi "felizmente" que a expansão da base não se convertou em aumento da
Demanda Agregada Nominal, e sim infelizmente."

Claro que foi "felizmente". Se toda aquela explosão da base monetária houvesse se
convertido em expansão do crédito -- o processo de reservas fracionárias multiplicaria
aquele aumento por 10 --, o dólar não mais existiria. Os EUA virariam a República de
Weimar.

"Mas o Fed já tinha, sem intenção, adotado as medidas para o próprio fracasso - começou
a pagar juros positivos sobre os excess reserve"

Por que sem intenção? Ele sabia exatamente o que estava fazendo. Tanto é que continua
fazendo a mesmíssima coisa até hoje.

"e ainda prometeu que recuaria em sua política de expansão monetária ao primeiro sinal de
recuperação ou de maior expectativa de inflação."

O Fed nunca prometeu isso. Muito pelo contrário: em suas atas ele já deixou claro, umas 25
vezes, que só vai começar a retirar os estímulos quando o desemprego cair abaixo de 6,5% e
quando a inflação de preços ultrapassar os 2,5%. É a imprensa, e unicamente a imprensa,
que fica inventando estas notícias. Você deveria ir à fonte em vez de confiar naquilo que a
Folha de S. Paulo traduz do The New York Times.

"O Fed foi sim muito tímido e deixou passivamente a Política Monetária contrair na maior
taxa desde os anos 1930."

Em momento algum houve contração na base monetária -- variável sob total controle do Fed
-- durante a decada de 1930. Não precisa confiar em mim, não. Pode ir conferir na própria
fonte.

O que houve foi uma quebra generalizada de bancos, o que gerou uma grande deflação
monetária (do M1). Quando bancos que operam com reservas fracionárias quebram, o
dinheiro literalmente some. Como alguns bancos mais alavancados haviam quebrado em
decorrência do crash da bolsa, isso assustou as pessoas, que então correram em massa para
retirar seu dinheiro dos outros bancos. Como o sistema trabalha com reservas fracionárias,
todo o sistema entrou em colapso. Não teve nada a ver com a política monetária do Fed, a
qual, como mostra o gráfico do próprio Fed no link acima, foi extremamente expansionista.

"A Grande Recessão de 2008+, assim como a Grande Depressão dos 1930's, não foi
causada por uma crise financeira resultante de estouro de bolhas, e sim causada por uma
Política Monetária altamente contracionista por parte do Fed."

Política monetária contracionista do Fed a partir de 2008 é uma tirada digna de Ricky
Gervais. Parabéns pelo senso de humor.

"A Escola Austríaca é fascinante em muitos aspectos, mas Macro não é o forte dela."

No seu caso, além de macro não ser o seu forte, dados históricos também parecem não ser.

Abraços!
RESPONDER


Bezerra 25/09/2013 15:28
O irônico foi que pesquisando sobre Milton Friedman cheguei a este site e à maravilhosa
Escola Austríaca. Ao vê-lo sendo usado para justificar o intervencionismo, não me parece
que Mises estava totalmente errado ao chamá-lo de socialista.
RESPONDER


Fernando 26/09/2013 14:55
"Essa é a característica fundamental de qualquer recessão: Demanda Agregada insuficiente."

Tanto keynesianos e monetaristas acreditam que o que explica o fato estilizado de recessões
(por que tanta gente está disposta a trabalhar e não encontra emprego?) é um problema de
Demanda Agregada insuficiente. Aqui ABC ta bem fora do mainstream.
Pra ser rápido (não dá pra ficar falando sobre business cycle theory que aí já foge do
escopo). O modelo que eu tenho em mente é um simples modelo AD/AS com rigidez
nominal. O Fed comanda AD. AS no longo prazo é vertical e depende do estoque de
capital/trabalho, tecnologia e todo o resto. AS no curto prazo é crescente. Recessões são
causadas por choques nominais não antecipados. Já que a maioria dos contratos (de
empréstimos, de salários, entre outros) na economia são denominados em termos nominais,
se de repente você tem um choque nominal negativo na economia, fica muito mais difícil
para os bancos honrarem seus empréstimos e para as empresas contratarem/manterem seus
empregados, e aí você tem a sua recessão.
O famoso slogan do Milton Friedman era "Inflation are always and everywhere a monetary
phenomenon". Já que nós usamos moeda como meio de troca e meio de conta, não dá pra
conceber uma recessão sem estar associada à moeda. Por isso alguns economistas reaplicam
esse slogan do Friedman assim: Recessions are almost always and everywhere a monetary
phenomenon.

"Claro que foi "felizmente". Se toda aquela explosão da base monetária houvesse se
convertido em expansão do crédito -- o processo de reservas fracionárias multiplicaria
aquele aumento por 10 --, o dólar não mais existiria. Os EUA virariam a República de
Weimar."

A meta de inflação do Fed implícita é de 2%. O Fed, como vc bem observou, tem o total
controle da base monetária. O que implica que o Fed tem o total controle sobre a trajetória
da economia nominal. Se os EUA por um acaso tivessem hiperinflação, isso só ocorreria se
o Fed quisesse. Os EUA só virariam uma República de Weimar se o Fed quisesse.

"Por que sem intenção? Ele sabia exatamente o que estava fazendo. Tanto é que continua
fazendo a mesmíssima coisa até hoje."

O Fed, como eu disse, foi tímido. Em ata de reunião do FOMC logo após a quebra do
Lehman Brothers o Fed explicitou que balanceava os riscos de inflação com os riscos de
uma recessão. O FOMC decidiu então deixar o fed funds rate target inalterado (o que se
revelou extremamente errado posteriormente) A política de interests on reserves foi
precaucionária. O Fed é uma instituição muito conservadora e acanhada para fazer políticas
agressivas ou não convencionais. O interests on reserves foi meio que uma maneira do Fed
sinalizar "olha, nós vamos injetar esse monte de liquidez no sistema bancário, mas nós ainda
estamos preocupados com a expectativa de inflação e estamos comprometidos a não deixar
ela sair de controle, ok?"

"O Fed nunca prometeu isso. Muito pelo contrário: em suas atas ele já deixou claro, umas 25
vezes, que só vai começar a retirar os estímulos quando o desemprego cair abaixo de 6,5% e
quando a inflação de preços ultrapassar os 2,5%. É a imprensa, e unicamente a imprensa,
que fica inventando estas notícias. Você deveria ir à fonte em vez de confiar naquilo que a
Folha de S. Paulo traduz do The New York Times."

Eu não leio Folha nem NY Times (não sou fan do Krugman hehe). Mas nesse ponto estamos
de acordo (eu acho!). O Fed de fato fez essa estratégia de comunicação forward-looking,
digamos assim. E ela está certa mesmo, o Fed tem que se comunicar com o público a
respeito do que ele vai fazer não hoje, mas nos períodos a frente. Ora, as expectativas sobre
trajetória futura da política monetária têm impacto vastamente maior sobre a Demanda
Agregada hoje do que o Fed está fazendo hoje. Lars Svensson, entre outros, chegam ao
ponto de reduzir a política monetária à tarefa de "manager of expectations", do tanto que as
expectativas são importantes. Isso é textbook New Keynesian. Mas o que muitos críticos
apontam é que isso simplesmente não foi bom o suficiente. O Fed tinha que ser bem mais
claro e entusiasta nas suas ações. Até Michael Woodford, talvez o mais respeitado
acadêmico sobre política monetária da atualidade, recentemente endorsou Nominal GDP
Level Targeting. macromarketmusings.blogspot.com.br/2012/08/michael-woodford-
endorses-nominal-gdp.html

"Em momento algum houve contração na base monetária -- variável sob total controle do
Fed -- durante a decada de 1930. Não precisa confiar em mim, não. Pode ir conferir na
própria fonte."

A Base Monetária não é um indicador confiável da posição da Política Monetária. Quase


nenhum economista moderno vai dizer que a Política Monetária dos anos 1930 foi
expansionista baseado somente na observação de que a Base Monetária aumentou. Milton
Friedman e Anna Schwartz mostraram que a Grande Depressão foi resultado de um colapso
da Demanda Agregada, causado por uma política monetária extremamente apertada, muito
embora a base tenha aumentado fortemente. Isso é conventional view.

Portanto, é perigoso equacionar aumento de base monetária com política monetária


expansionista. Do mesmo modo que é perigoso equacionar taxas de juros baixas com
política monetária expansionistas. Olhar apenas para a base não diz nada sobre se a política
está frouxa ou apertada. De fato, Milton Friedman conhecidamente, no seu estudo sobre a
política monetária no Japão, alertou que taxas de juros baixas e base monetária inchada são
sinais de que a política monetária tem sido apertada, e não frouxa. No livro texto do Frederic
Mishkin de Monetary Policy encontramos: It is dangerous always to associate the easing or
the tightening of monetary policy with a fall or a rise in short-term nominal interest rates.
Um exemplo de como pensar política monetária em termos de taxas de juros e/ou base pode
ser perigoso é Joan Robinson, keynesiana feroz, que chegou ao ponto de afirmar que a
Alemanha hiperinflacionista não poderia ter sido associada a uma política monetária frouxa
porque as taxas de juros estavam elevadas!

"Política monetária contracionista do Fed a partir de 2008 é uma tirada digna de Ricky
Gervais. Parabéns pelo senso de humor."

Eu sei, a visão convencional é exatamente essa apresentada no artigo. Nesse ponto eu to fora
do mainstream. A história convencional é essa mesmo: A causa da Grande Recessão foi a
crise financeira, que por sua vez foi causada por uma política monetária frouxa vinda lá do
início dos anos 2000. E também foi a história convencional da Grande Depressão. Até
Milton Friedman e Anna Schwartz ensinarem pra profissão a real causa da depressão, todo
mundo acreditava nessa mesma história - a Grande Depressão foi causada pelo stock market
crash de 29. Ora, até nossos livros de história do colégio reproduzem essa visão
convencional.
A minha visão; que na verdade não é minha (sou apenas um estudante de economia), é de
um grupo de economistas de tradição monetarista - Market Monetarists; é que a causalidade
simplesmente foi reversa. A Grande Recessão de 2008+ foi causada por uma política
monetária altamente contracionista, que por sua vez agravou os problemas do housing sector
(subprime) para todos os setores da economia. O que teria sido apenas uma crise de um setor
isolado, sem maiores consequências macroeconômicas, se tornou na maior recessão
americana desde os anos 1930. Tenha em vista que os problemas do housing sector já bem
eram graves desde 2006, e no entanto a taxa de desemprego permaneceu inalterada. Ou seja,
mesmo que a interpretação austríaca dos malinvestiments no housing sector fossem corretas,
isso não é sozinho o suficiente pra gerar uma recessão em larga escala. Já em 2006 ocorreu
forte deslocamento setorial do housing para outros setores da economia, bem como o ABC
descreveria, mas não o suficiente pra explicar 10,7% de desemprego. Sim, RBC também não
explica.

Portanto, a análise inteira da crise do subprime/Housing Sector está correta. Eu mesmo nem
entendo ainda direito como funcionava os Mortgage Backed Securities, etc. Quem teve
culpa do quê, etc É muito intrincado. Mas isso tudo é parcialmente irrelevante pra
macroeconomia da recessão. Não há dúvidas que muita besteira foi cometida, muitos
empréstimos que não deveriam ter sido feitos foram, que os órgãos do governo não deviam
ter se metido a aumentar crédito (sim, eu sou um estudante de economia free market tanto
quanto vocês), e portanto mesmo com uma trajetória mantida estável do NGDP ainda muitas
instituições teriam sofrido bastante. Entretanto, a quebradeira geral forte de 2008+ e o
disparo do desemprego foi um sintoma da queda brusca da quantidade de dólares em
circulação da economia (Nominal GDP), relativo à tendência (trend). Como quem tem o
controle sobre a trajetória do NGDP é o Fed, foi ele o responsável pela recessão, por deixar
passivamente o NGDP despencar.

Abraços e valeu pelos comentários é muito estimulante!


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Leandro 26/09/2013 15:44
"Essa é a característica fundamental de qualquer recessão: Demanda Agregada
insuficiente. [...] O modelo que eu tenho em mente é um simples modelo AD/AS com rigidez
nominal. O Fed comanda AD. AS no longo prazo é vertical e depende [...]"

Bláblá. Dado que sou economista de formação, não é necessário repetir pra mim estas
teorias de manual. Quer acreditar nesta mecanicidade e nesta rigidez econômica? Fique à
vontade. Mas tem de explicar também por que estes modelos não apenas não funcionam,
mas não têm capacidade de prever absolutamente nada.

Dizer que recessão é causada por baixa demanda agregada é confundir causa com
consequência. A demanda é baixa justamente por causa da recessão. Cabe a um economista
explicar o que gerou a recessão e por que a demanda está baixa. Apenas observar que a
demanda está em uma recessão tão impactante quanto dizer que o sol é amarelo.

"se de repente você tem um choque nominal negativo na economia, fica muito mais difícil
para os bancos honrarem seus empréstimos e para as empresas contratarem/manterem seus
empregados, e aí você tem a sua recessão."

Isso é engraçado. Neste seu modelo, a impressão que se tem é que tudo está indo muito bem
com a economia até que, de repente, do nada, todos os consumidores ficam esquisitos,
adotam uma postura totalmente oposta da que vinham adotando, param de gastar e puf!, a
economia entra em recessão. Nonsense total.

"Já que nós usamos moeda como meio de troca e meio de conta, não dá pra conceber uma
recessão sem estar associada à moeda. Por isso alguns economistas reaplicam esse slogan
do Friedman assim: Recessions are almost always and everywhere a monetary
phenomenon."

Ora, mas este é justamente o pilar básico da teoria austríaca. As variações da quantidade de
dinheiro na economia como geradoras dos ciclos econômicos. Há 1.500 artigos sobre isso no
site.

"A meta de inflação do Fed implícita é de 2%. O Fed, como vc bem observou, tem o total
controle da base monetária. O que implica que o Fed tem o total controle sobre a trajetória
da economia nominal."

Errado. E é esse o problema. O Fed não tem controle sobre a trajetória da economia
nominal. E por um motivo muito simples: todo o dinheiro que o Fed cria vai única e
exclusivamente para o sistema bancário.

No atual arranjo financeiro, o Fed (bem como o Banco Central brasileiro) não injeta
dinheiro diretamente na economia; ele injeta dinheiro apenas nos bancos, e os bancos é
que decidem se irão despejar este dinheiro na economia (por meio da criação de crédito)..
Se os bancos não quiserem despejar este dinheiro na economia americana, não há como
estimular a economia nominal.

Quem diz que um Banco Central "tem total controle sobre a trajetória da economia nominal"
não entendeu nada sobre o funcionamento básico de um banco central e do sistema bancário.

"O Fed é uma instituição muito conservadora e acanhada para fazer políticas agressivas ou
não convencionais."

Duplicar a base monetária em dois meses (como ocorreu no final de 2008), e quase triplicar
em 3 anos (como está ocorrendo desde 2010) por acaso é postura de "uma instituição muito
conservadora e acanhada para fazer políticas agressivas ou não convencionais"?

Tenho até medo de perguntar o que seria então uma instituição progressista e desembaraçada
para fazer políticas agressivas e não convencionais.

"O Fed tinha que ser bem mais claro e entusiasta nas suas ações. Até Michael Woodford,
talvez o mais respeitado acadêmico sobre política monetária da atualidade, recentemente
endorsou Nominal GDP Level Targeting"

Estou bem familiarizado com os proponentes de um Nominal GDP Level Targeting. O


problema é que nenhum deles explica claramente como o Banco Central -- que só injeta
dinheiro no sistema bancário -- irá fazer para que os bancos decidam emprestar todo o
dinheiro que o BC lhes dá. Sem isso, não há como fazer Nominal GDP Targeting. É só
espuma.

"A Base Monetária não é um indicador confiável da posição da Política Monetária."

A evolução da base monetária é o único indicador que mostra a real postura adotada pelo
Banco Central. Isso não significa, é claro, que uma expansão da base monetária irá se
traduzir em expansão da oferta monetária, pois isso vai depender dos bancos. Tampouco
significa que uma expansão da base monetária irá gerar um aumento do PIB nominal. Mas a
evolução da base monetária mostra exatamente o que o BC está fazendo.

"Quase nenhum economista moderno vai dizer que a Política Monetária dos anos 1930 foi
expansionista baseado somente na observação de que a Base Monetária aumentou. Milton
Friedman e Anna Schwartz mostraram que a Grande Depressão foi resultado de um colapso
da Demanda Agregada, causado por uma política monetária extremamente apertada, muito
embora a base tenha aumentado fortemente. Isso é conventional view."

Friedman culpa o Fed pela queda do M1. Mas o M1 caiu porque vários bancos quebraram.
No que dependeu do Fed, ele fez o que Friedman pediu: aumentou a base monetária (de
novo, não precisa confiar em mim, não; o gráfico que mostra isso no link acima é do próprio
Fed). O colapso na demanda ocorreu justamente porque o M1 encolheu. Se há uma deflação
monetária, então é o óbvio ululante que a demanda irá cair. Deflação monetária sempre irá
gerar recessão violenta caso preços e salários não sejam reajustados para baixo. Como isso
não ocorreu nos EUA, a depressão foi forte nesse período.

E por que salários e preços não foram reajustados para baixo? Porque o governo não deixou.
Mesmo keynesianos ortodoxos hoje já reconhecem o fracasso do New Deal, que nada mais
foi do que um conjunto de políticas de controle de preços, controle de salários,
arregimentação sindical, cartel de empresários incentivados pelo governo a não reduzirem
seus preços, aumento das tarifas de importação, aumento de impostos, aumento de gastos e
aumento dos déficits.

"Portanto, é perigoso equacionar aumento de base monetária com política monetária


expansionista."

Correto. A política monetária só irá se tornar de fato expansionista se os bancos emprestarem


o dinheiro criado pelo BC. Se os bancos não emprestarem, a política do BC será nula em
termos de expansão monetária efetiva. Mas isso não significa que o BC, ao expandir a base
monetária, não esteja querendo gerar uma expansão monetária. Ele pode muito bem estar
sim querendo que os bancos expandam a oferta monetária; o problema é que ele não tem
como obrigá-los.

"De fato, Milton Friedman conhecidamente, no seu estudo sobre a política monetária no
Japão, alertou que taxas de juros baixas e base monetária inchada são sinais de que a
política monetária tem sido apertada, e não frouxa."

O Japão é um perfeito exemplo de tudo isso que falei aqui. O Banco Central do Japão
entupiu os bancos japoneses de reservas -- o que fez com que a taxa básica de juros fosse
para zero --, mas os bancos simplesmente não emprestarem esse dinheiro. Como o capital
(patrimônio líquido) dos bancos japoneses foi dizimado por causa do estouro da bolha
imobiliária no início da década de 1990, eles não podem expandir o crédito. Por uma
questão contábil, bancos descapitalizados não expandem o crédito. Consequentemente, não
há como haver qualquer inflação monetária.

Obrigado por lembrar o exemplo do Japão, pois ele é o que melhor ilustra tudo isso que
estou querendo dizer.

"Abraços e valeu pelos comentários é muito estimulante!"

Meu conselho: comece a estudar melhor os detalhes de como funciona o sistema bancário.
Havia várias coisas em economia que pareciam não fazer nenhum sentido para mim. No
entanto, quando eu passei a me dedicar com afinco aos estudos sobre o funcionamento do
sistema bancário, tudo repentinamente se esclareceu. No atual arranjo financeiro e
monetário, são os bancos que comandam as oscilações da economia. Economista que não
dedica seus estudos à real operação de um sistema bancário estará completamente perdido,
falando coisas sem sentido como "Banco Central controla PIB nominal e afins".

Grande abraço!
RESPONDER


Fellipe 26/09/2013 16:29
É ótimo ver o Leandro debatendo (massacrando) economistas mainstream.

Fernando, você parece ter uma pessoa bem intencionada, gostaria de te sugerir:

1) Pare de usar a fálácia do argumento de autoridade (Porque Minton Friedman disse isso ou
aquilo, etc). Citar autores não faz parecer a argumentação mais inteligente, é necessário
explicar logicamente sua posição.

2) Sobre a grande depressão, que parece ser um tema que você se interessa, sugiro primeiro
os artigos www.mises.org.br/Subject.aspx?id=37 e depois o livro
www.mises.org.br/Ebook.aspx?id=76 para sua desintoxicação.

Abraços,
RESPONDER


Fernando 26/09/2013 19:36
"A causa de uma recessão não é demanda agregada, mas sim a destruição de capital.
Recursos escassos foram aplicados em investimentos para as quais não havia demanda.
Quando esta falta de demanda se torna patente, o valor destes investimentos cai, e os
empreendedores que fizeram tais investimentos se descobrem com um capital valendo bem
menos do que imaginavam valer. Aí então começa a recessão, que nada mais é do que o
período de reajuste desta estrutura de produção que foi distorcida pela expansão do crédito
bancário e pela distorção das taxas de juros."

ABC sugere que a demanda por trabalho expande no período de boom em projetos de longo
prazo, enquanto a demanda se contrai nos projetos de curto prazo. No período de bust, a
situação se reverte. Mas se você caracteriza como recessão o período em que a economia
está reajustando trabalhadores dos projetos de longo prazo para seus projetos que
prevalereciam caso a taxa de juros estivesse em seu nível de equilíbrio wickselliano, ora,
esse desemprego causado pelo "sectorial shift" deveria aparecer não só no bust, mas no
boom também, e no entanto ninguém diz que período de boom é período associado a maior
desemprego porque você teria toda essa massa de recursos sendo realocados para outros
setores. De 2006 até 2008 estava ocorrendo esse sectorial shift - trabalhadores estavam
sendo realocados do housing sector para outros setores da economia. Mas após 2008, com a
brusca queda das expectativas de futuro NGDP, foi aí que o produto e emprego despencou.

Mudanças setoriais causadas por malinvestments não são suficientes pra explicar 10,7% de
desemprego. Você precisaria de uma mudança setorial extremamente monstra, que fizesse
uma enorme pauta de produção ser alterada na economia, pra vc chegar a um número desses.

Robinson Crusoé não usa moeda. Se Robinson Crusoé erra e investe tempo/recurso demais
numa nova rede de pesca que se revela ser improdutiva, seu PIB vai cair. Com certeza
Robinson Crusoé estará mais pobre. É até concebível que ele venha a trabalhar menos,
porque muito insumo e fator de produção podem ter sido perdidos na produção da rede de
pesca falhada. Robinson Crusoé precisará "corrigir" muita coisa que ele fez de errado.
Introduza Sexta-Feira na ilha e faça os dois efetuarem trocas (escambo) entre si, e a história
não muda. A ilha na qual Robinson Crusoé habita está em Recessão? Você pode até dizer
que sim, mas tem uma coisa que caracteriza recessões que está ausente. Em recessões é mais
difícil trocar coisas por moeda, e é mais fácil trocar moeda por coisas. Mesmo num período
de má colheita com PIB contraído, Robinson Crusoé ainda pode realizar trocas com Sexta-
Feira. Do mesmo jeito em uma economia de escambo a massagista pode oferecer massagem
à cabeleireira em troca de um corte de cabelo.

Em recessões há excesso de demanda por moeda, o que é a contraparte do excesso de oferta


de todos os demais bens da economia. Em uma economia de trocas monetárias todos os
mercados são mercados de moeda. Você compra moeda vendendo um bem e vende moeda
comprando um bem. O excesso de oferta de todos os demais bens que causam a recessão, a
queda do PIB (ou a queda na atividade econômica, na quantidade de trocas efetuadas na
economia) meramente reflete esse excesso de demanda por moeda. Em uma economia
monetária fica difícil a massagista conseguir um corte de cabelo e a cabeleireira conseguir
uma massagem porque as duas estão sitting on cash. É nesse sentido que eu não vejo como
falar de recessões sem falar de política monetária. O que é bem diferente de falar de
recessões em termos de um ciclo misterioso de boom e bust causado por uma ilusão
misteriosa decorrente das taxas de juros artificialmente baixas determinadas pelo Banco
Central.

Por isso, também, ABC vai violar Expectativas Racionais. Taxas de juros artificialmente
baixas confundem os empreendedores, fazendo com que eles realoquem suas escolhas para
investimentos de maior prazo. Quando as taxas de juros voltam ao normal e os
empreendedores virem que seus investimentos foram ruins, então à correção se dá início.
Se os empreendedores são tão inteligentes em relação ao mercado, como podem ser tão
estúpidos em relação às políticas do governo? ABC assume que os empreendedores são
estúpidos por pensarem que as taxas de juros vão permanecer baixas indefinidamente , e vão
basear seus cálculos de valor presente nisso. Claramente viola RE.
Mesmo que os juros baixos temporariamente induzam maiores investimentos , não há nada
insustentável ou intrinsecamente desequilibrante nisso, a menos que os empreendedores
sistematicamente superestimem por quanto tempo as baixas taxas de juros vão continuar.
Mesmo que o ABC não aceite a hipótese de RE, isso ainda sugere que os empreendedores
sistematicamente cometem os piores e custosos erros possíveis ao escolher intensividade em
capital.

Colapso em NGDP e recessões são tão fortemente correlacionados que é às vezes difícil
mesmo enxergar o que está causando o quê.

Crises financeiras não são sempre seguidas por recessões. Credit asset bubbles também não
são sempre seguidas de recessão. Isso também gera confusão. Não é por acaso que a visão
convencional é essa. Eu mesmo acreditava que "ora, é claro que uma crise financeira vai
gerar recessão". Mas isso não é bem assim. Só Exemplo: Em 1987 houve um dos maiores
stock market crashes dos EUA, vários bancos quebraram, e no entanto ... no recession. Por
quê? Porque o Fed manteve o NGDP estável.

"Errado. E é esse o problema. O Fed não tem controle sobre a trajetória da economia
nominal. E por um motivo muito simples: todo o dinheiro que o Fed cria vai única e
exclusivamente para o sistema bancário. "

Errado. Olha seu argumento:


1) O nível de preços é determinado no longo prazo pela oferta de moeda (até aí ok)
2) O Banco Central amplia a oferta de moeda comprando ativos diretamente dos bancos
comerciais ou emprestando aos bancos(ok, em condições normais sim)
3) Portanto quem no fim determina a trajetória da economia nominal não pode ser o Banco
Central, mas os bancos comerciais, porque afinal todo dinheiro vai pra eles. (errado)

Isso é totalmente errado. Não preciso nem ser "mainstream" pra isso.

Basta olhar ao redor.


Não é por acaso que fazemos o Banco Central ser responsável pela meta de inflação. Nós
não fazemos o Banco do Brasil ser responsável pelo nível de preços. Nós não fazemos a
Caixa responsável pelo nível de preços. Nós não fazemos as autoridades fiscais responsáveis
pelo nível de preços. Nós não fazemos o CADE responsável pelo nível de preços (bem, nos
anos 70 muitos economistas acreditavam que inflação era causada por monopólios então ..
nunca se sabe)

Sim, o sistema bancário é muito importante. Se nós usássemos havaianas como meio de
troca e meio de conta, a indústria produtora de havaianas seria muito importante. Porque o
que acontece com a indústria de havaianas afetaria a oferta e demanda de moeda na
economia. Como nós usamos os passivos dos bancos comerciais como meios de troca nas
nossas transações, o que acontece com a indústria bancária é importante porque afeta a
oferta e demanda por moeda na economia.

Bancos são especiais porque seus passivos podem ser usados como meio de troca. Mas se
eles podem criar moeda, por que os bancos não são responsáveis pela política monetária,
pela determinação das taxas de juros, e pela inflação de longo prazo?
Por que só o Banco Central pode determinar o nível de preços de longo prazo?
Porque o banco comercial promete honrar seus passivos com os passivos do Banco Central a
uma taxa fixa, mas o inverso não acontece: O Banco Central não promete honrar seus
passivos com os passivos dos Bancos Comerciais. É essa assimetria de honrabilidade que
torna o Banco Central central. É por isso que as variáveis nominais estão sob controle do
Banco Central.

obs.: enquanto é verdade que sob condições normais o Banco Central só injete liquidez
através do sistema bancário nada impede, em princípio, que o Banco Central imprima
dinheiro e vá direto ao público - eu e você - comprar algum ativo.
obs2.: engraçado ser acusado de usar argumento de autoridade quando o nome do site é o
nome de um economista.

Valeu! Abraços
RESPONDER


Leandro 27/09/2013 02:05
"Mas se você caracteriza como recessão o período em que a economia está reajustando
trabalhadores dos projetos de longo prazo para seus projetos que prevalereciam caso a taxa
de juros estivesse em seu nível de equilíbrio wickselliano, ora, esse desemprego causado
pelo "sectorial shift" deveria aparecer não só no bust, mas no boom também, e no entanto
ninguém diz que período de boom é período associado a maior desemprego porque você
teria toda essa massa de recursos sendo realocados para outros setores."

Não é isso o que diz a teoria. A questão não está na mudança setorial, mas sim na questão de
preços e salários. Na época do boom, a oferta monetária está aumentando, preços e salários
também. Qualquer mudança é rápida. Mais dinheiro na economia faz aumentar a demanda
por mão-de-obra na indústria e na construção civil, mas ao mesmo tempo o setor de serviços
e o de comércio continua precisando de mão-de-obra, pois não houve aumento na poupança
(abstenção de consumo). Assim, começa a haver uma batalha por mão-de-obra. Há
empregos em todos os cantos. Não há dificuldade de realocação nesta etapa.

Já na época da recessão, tudo se inverte. Pessoas e empresas estão endividadas. As receitas


das empresas caem. Como vários sindicatos não aceitam redução de salários, empresários
não reduzem seus preços. As receitas caem, mas os custos continuam os mesmos (podendo
até aumtar). Consequente, não há facilidade de realocação da mão-de-obra e nem grande
disponibilidade de emprego.
A mão-de-obra que foi demitida dos setores sobredimensionados -- os quais haviam atraído
muita mão-de-obra -- não encontra facilmente empregos em outros setores. Ela descobre que
suas habilidades não mais estão sob demanda. Ela perde o emprego e passa a ter de se
reeducar para adquirir novas habilidades para outros empregos, os quais provavelmente
estarão agora no setor de serviços e comércio, e que remuneram menos.

O parágrafo sobre o Robinson Crusoé entrou aqui como Pilatos no Credo. Não entendi.

"Em uma economia monetária fica difícil a massagista conseguir um corte de cabelo e a
cabeleireira conseguir uma massagem porque as duas estão sitting on cash."

Quer dizer então que você acredita na fábula do dinheiro guardado na gaveta? Ora, no atual
arranjo monetário e financeiro, ninguém guarda dinheiro em casa. Ninguém fica sitting on
cash. O dinheiro fica no banco, e o banco empresta esse dinheiro. Quanto mais dinheiro
"parado" nos bancos, menores tendem a ser os juros para emprestar esse dinheiro. Sendo
assim, você, como monetarista, deveria endossar este arranjo como sendo o mais propício a
"estimular" uma recuperação da economia (já que, para vocês, taxa de juros baixa determina
tudo).

"Se os empreendedores são tão inteligentes em relação ao mercado, como podem ser tão
estúpidos em relação às políticas do governo? ABC assume que os empreendedores são
estúpidos por pensarem que as taxas de juros vão permanecer baixas indefinidamente , e
vão basear seus cálculos de valor presente nisso. Claramente viola RE."

É aqui que você prova desconhecer a própria Teoria das Expectativas Racionais. Pelo visto,
para você, empreendedores odeiam dinheiro. Permita-me explicar: mesmo que você seja um
empreendedor totalmente ciente da teoria dos ciclos econômicos, você não poderá se dar ao
luxo de ficar de fora da farra permitida pela expansão do crédito. Você sabe que a coisa vai
dar errado, mas mesmo assim terá de participar, pois, caso fique de fora, você será demolido
pelos seus concorrentes, perderá fatia de mercado, perderá receitas e poderá quebrar antes
deles.

Ou seja, durante uma expansão creditícia, aquele empreendedor que se reprimir e não
embarcar na euforia simplesmente irá perder uma importante fatia de mercado. Logo,
mesmo os empreendedores mais comedidos e totalmente versados na teoria austríaca
acabam sendo obrigados a entrar na farra. Se não o fizerem, seus concorrentes agradecerão,
tomarão seus clientes e, com isso, poderão até tirá-lo do mercado antes da recessão. Você
simplesmente não pode se dar ao luxo de correr este risco.

Esta é a nocividade de uma expansão creditícia. Ela inevitavelmente pune os prudentes, de


um jeito ou de outro.

"Em 1987 houve um dos maiores stock market crashes dos EUA, vários bancos quebraram,
e no entanto ... no recession. Por quê? Porque o Fed manteve o NGDP estável."

Quantos bancos quebraram por causa do crash de 1987? Desconheço alguma grande quebra.
Em 1989, várias caixas de poupança quebraram (sem nenhuma correlação com o crash de
1987), mas o governo deu dinheiro para todas. E houve recessão de 1990 a 1992.
Por favor, não tente sacar para cima de mim sobre estes assuntos. Sou razoavelmente bem
estudado neles.

"Isso é totalmente errado. Não preciso nem ser "mainstream" pra isso. Basta olhar ao redor.
Não é por acaso que fazemos o Banco Central ser responsável pela meta de inflação. Nós
não fazemos o Banco do Brasil ser responsável pelo nível de preços. Nós não fazemos a
Caixa responsável pelo nível de preços. Nós não fazemos as autoridades fiscais
responsáveis pelo nível de preços.[...] Mas se eles podem criar moeda, por que os bancos
não são responsáveis pela política monetária, pela determinação das taxas de juros, e pela
inflação de longo prazo? Por que só o Banco Central pode determinar o nível de preços de
longo prazo?"

A pergunta não é "por que só o Banco Central pode determinar o nível de preços de longo
prazo?", mas sim "por que e como o Banco Central pensa ser capaz de fazer isso?"

Eu alertei sobre a importância de estudar sistema bancário. Pelo exposto acima, você
desconhece o mais básico dos detalhes. O Banco Central injeta dinheiro nas reservas
bancárias e determina a taxa do compulsório. Consequentemente, sabendo o valor total das
reservas bancárias e o valor do compulsório, o Banco Central sabe exatamente qual o
máximo de crédito que o sistema bancário pode expandir naquele momento.

É exatamente por isso que o BC se arvora a capacidade de controlar a expansão do crédito e,


consequentemente, a inflação. Ele sabe qual é o [u]máximo de crédito que os bancos podem
expandir a cada momento[/i]. Ele pensa que está no controle de tudo isso. Isso é básico. É
Macro I. Há até uma fórmula matemática para isso.

"Porque o banco comercial promete honrar seus passivos com os passivos do Banco
Central a uma taxa fixa, mas o inverso não acontece: O Banco Central não promete honrar
seus passivos com os passivos dos Bancos Comerciais. É essa assimetria de honrabilidade
que torna o Banco Central central."

Não entendi. O passivo de um banco comercial são os depósitos de seus clientes (entre
outras coisas). O passivo do BC são as cédulas e as reservas bancárias. O que exatamente
seria o BC honrar seus passivos com os passivos dos bancos comerciais? Não entendi. O
passivo que o BC tem com os bancos comerciais são as reservas bancárias (que funcionam
como uma conta-corrente que os bancos têm junto ao BC). Até onde se sabe, os bancos
podem sacar dinheiro desta conta (e o fazem diariamente) quando quiserem. Desconheço
qualquer desonra do BC neste quesito.

"Enquanto é verdade que sob condições normais o Banco Central só injete liquidez através
do sistema bancário nada impede, em princípio, que o Banco Central imprima dinheiro e vá
direto ao público - eu e você - comprar algum ativo."

Isso acontecia na década de 1980. O BC imprimia dinheiro, dava ao Tesouro e este


repassava aos funcionários públicos como pagamento de salários. De fato, a demanda e o
PIB nominal foram estimuladíssimos naquela época.

"engraçado ser acusado de usar argumento de autoridade quando o nome do site é o nome
de um economista."

Em momento algum eu lhe fiz essa acusação. E, mesmo que houvesse feito, não entendi a
lógica da ironia acima.
RESPONDER


Fellipe 28/09/2013 02:36
"engraçado ser acusado de usar argumento de autoridade quando o nome do site é o nome de
um economista."

Leandro, acho que essa foi pra mim. O engraçado é a tentativa de justificar o argumento de
autoridade com um non sequitur.... O que o nome do site tem a ver com as explicações
lógicas feitas até agora para o camarada?
RESPONDER


anônimo 19/03/2014 21:31
Fiquei um tanto curioso em saber quem é o ABC? É alguma sigla que desconheça?
RESPONDER


Maurício 19/03/2014 21:57
Creio que ele esteja se referindo a Austrian Business Cycle.
RESPONDER


Vitor Garcia 29/12/2016 13:59
Leandro, você possui alguma indicação de artigos ou livros a respeito do funcionamento de
bancos e suas ações sobre a economia?
RESPONDER


Michael Woods 25/09/2013 13:26
realmente fantastico Leandro... mt bom!
RESPONDER


Samir Jorge 25/09/2013 13:27
Excesso de intervenção estatal. Interessante observar o efeito econômico/comportamental de
medidas aparentemente destituídas de propósito econômico.

É a minha conclusão.

Atenciosamente,

(a) - Samir Jorge.


RESPONDER


evandro 25/09/2013 13:41
Tudo bem Leandro? Minha pergunta é meio ''off-topic''... voce saberia ''discriminar'' a dívida
pública brasileira? Gostaria de saber qtos % é dívida externa e interna, e destes percentuais,
quanto são dívidas de empresas, qto são dos governos federais, estaduais e municipais, qto
são de empresas estatais... enfim... gostaria de saber estes numeros para saber qual o
tamanho da dívida criada ''diretamente'' pela UNIÃO... e se possível qto do orçamento
federal é gasto com amortizações e qto com juros da dívida por ano... valeu, abraço !!!
RESPONDER


Leandro 25/09/2013 15:05
Eis aqui o gráfico da dívida externa:

www.tradingeconomics.com/charts/brazil-external-debt.png?
s=brazilextdeb&d1=19800101&d2=20131231&type=line

Para os detalhes da dívida pública interna, como não há um link direto, vá primeiro aqui:

https://www3.bcb.gov.br/sgspub/localizarseries/localizarSeries.do?
method=prepararTelaLocalizarSeries

[Ao clicar no link acima, ele provavelmente vai dar errado. Sendo assim, acrescente dois
pontos ( : ) logo após o https]

Depois clique em "Finanças públicas".

Depois em "Dívida líquida do setor público e dívida do governo geral"

Depois em "Saldos em reais correntes".

Pronto. Há um enorme cardápio ali.

Abraços e boa diversão.


RESPONDER


Corretor 25/09/2013 14:17
No primeiro gráfico, você fala em média. Não seria mediana?

Pelo mesmo gráfico, a "mini-bolha que estourou em 1990", como está no artigo, refere-se a
uma queda nominal de menos de 5% no valor dos imóveis, e a grande bolha de 2008 a uma
queda de 20%. Então as quedas não foram tão grandes assim, só causaram tanto problema
por causa da alavancagem dos bancos.

Podemos concluir que no Brasil não haverá nenhum problema maior, pois mesmo no caso de
uma grande queda de 20%, os bancos não perderão dinheiro (em geral a entrada de um
financiamento é maior que 20% do valor do imóvel), nem há securitização destas dívidas.
Obrigado, você demonstrou que o Brasil não está correndo riscos.

Para concluir, você prometeu um artigo imparcial, mas citou nominalmente os democratas
várias vezes, associando-os a desastrosas políticas sociais, enquanto em nenhum momento
falou do governo Bush, que esteve no poder 8 anos antes da última crise. Todos hão de
concordar que nenhum artigo publicado no Mises.org pode almejar ser chamado de
imparcial.
RESPONDER

Leandro 25/09/2013 14:58
"No primeiro gráfico, você fala em média. Não seria mediana?"

Correto. Corrigido.

"Pelo mesmo gráfico, a "mini-bolha que estourou em 1990", como está no artigo, refere-se
a uma queda nominal de menos de 5% no valor dos imóveis, e a grande bolha de 2008 a
uma queda de 20%. Então as quedas não foram tão grandes assim, só causaram tanto
problema por causa da alavancagem dos bancos."

Exatamente por isso a alcunha de mini-bolha.

"Podemos concluir que no Brasil não haverá nenhum problema maior, pois mesmo no caso
de uma grande queda de 20%, os bancos não perderão dinheiro (em geral a entrada de um
financiamento é maior que 20% do valor do imóvel), nem há securitização destas dívidas.
Obrigado, você demonstrou que o Brasil não está correndo riscos."

Sempre falamos sobre isso neste site. A alavancagem dos bancos brasileiros em termos
imobiliários não se compara.

"Para concluir, você prometeu um artigo imparcial, mas citou nominalmente os democratas
várias vezes, associando-os a desastrosas políticas sociais, enquanto em nenhum momento
falou do governo Bush, que esteve no poder 8 anos antes da última crise."

Disse apenas que eram políticos democratas quem comandavam Fannie e Freddie (pesquise
sobre Barney Frank). O que você queria que eu dissesse? Que eram políticos tucanos? Aliás,
poderia também ter dito que alguns republicanos alertaram sobre problemas nestas agências,
mas foram prontamente silenciados por democratas sob a alcunha de serem burgueses
insensíveis para com os anseios dos mais pobres. O governo Bush pode e deve ser acusado
de leniência: manteve tudo do jeito que recebeu.

Se esses fatos incomodaram você, nada posso fazer.

"Todos hão de concordar que nenhum artigo publicado no Mises.org pode almejar ser
chamado de imparcial."

É mesmo? Cite um artigo que seja parcial a um determinado partido. Nosso único
compromisso aqui é com a verdade e com a defesa de valores relacionados à liberdade. Se
isso é ser parcial, então realmente somos.

Abraços!
RESPONDER


Corretor 25/09/2013 16:19
Quando quis dizer parcial, não foi em relação a afiliação partidária, pois sei que nenhum
partido no Brasil representa vocês, já que são todos de esquerda. Mas a parcialidade é no
sentido de uma afiliação absoluta à desregulação total, para deixar a economia uma terra
sem lei. O modelo econômico do Mises é uma ideologia, e não uma constatação da verdade,
já que nenhum país do mundo é liberal a este ponto. O mais próximo talvez fosse a falida
Islândia.

É necessário notar que a ganância humana produz uma enorme assimetria: quem corre
muitos riscos pode ganhar dez vezes o patrimônio, e no máximo perder o que tem, afinal não
há como obrigar executivos agressivos a pagar dívidas bilionárias com um dinheiro que eles
não têm... No máximo eles vão para a prisão, mas isso não devolve ao mercado o dinheiro
apostado e perdido em ativos de risco. Por isso ninguém que está no poder tem coragem de
adotar a desregulamentação.
RESPONDER


Leandro 26/09/2013 12:11
"O modelo econômico do Mises é uma ideologia, e não uma constatação da verdade, já que
nenhum país do mundo é liberal a este ponto. O mais próximo talvez fosse a falida Islândia"

Esse é o seu critério para definir ideologia? Se nenhum país do mundo adotou uma ideia por
completa, então ela é ideologia? Curioso. Ademais, a Islândia, com sua carga tributária de
40% e moeda de papel sem lastro, está um pouquinho longe da ideologia de Mises. Ainda
assim, quisera eu estar tão falido quanto a Islândia e sua renda per capita de quase US$40
mil.

"É necessário notar que a ganância humana produz uma enorme assimetria: quem corre
muitos riscos pode ganhar dez vezes o patrimônio, e no máximo perder o que tem, afinal
não há como obrigar executivos agressivos a pagar dívidas bilionárias com um dinheiro
que eles não têm..."

Comportamentos arriscados serão tão mais altos quanto forem as proteções e garantias
concedidas pelo governo. Se o governo garante seguros para depósitos bancários e deixa
implícito que não irá permitir a quebra de empresas "grandes demais para quebrar", então
passa a ser um comportamento racional para qualquer banco ou fundo de investimento se
arriscar ao máximo possível. Afinal, praticamente não há o que perder.

"Por isso ninguém que está no poder tem coragem de adotar a desregulamentação."

Agora sim você entendeu.

Abraços!
RESPONDER


Blah 25/09/2013 16:58
Para concluir, você prometeu um artigo imparcial, mas citou nominalmente os democratas
várias vezes, associando-os a desastrosas políticas sociais, enquanto em nenhum momento
falou do governo Bush, que esteve no poder 8 anos antes da última crise.

Ser imparcial não é tentar sempre criticar ambos os lados. Todo mundo lê e ouve em quase
todos os lugares da face da terra que a culpa toda é do governo Bush. Acaba sendo
necessário desfazer esse mito, não para inocentar os republicanos (sério, as críticas mais
ferozes e fundamentadas aos republicanos eu li aqui no IMB), mas para desinfectar a
discussão. Afinal, uma das estratégias mais utilizadas pelos progressistas e afins é
justamente essa: mentir, dissimular e manipular o tempo inteiro, mas logo depois exigir que
o próximo seja imparcial.
RESPONDER


Patrick de L. Lopes 25/09/2013 14:19
Tão brilhante quanto seu artigo respectivo à experiência argentina e do real.

Excelente trabalho novamente.

Não mais jargões como "falta de conhecimento hipotecário" repetido por analfabetos de
economia poderão ser tolerados pelos novatos nos estudos da EA.
RESPONDER


Leandro 25/09/2013 14:49
Obrigado pela consideração mais do que simpática, caro "Filósofo" (espero não estar
revelando nada aqui). Grande abraço!
RESPONDER


claudio samadhi 25/09/2013 14:32
Uma coisa ninguém pode negar: os bancos (banqueiros)são competentes naquilo que fazem.
A mercadoria de um banco é o dinheiro (papel moeda), a de uma padaria é o pão. Mesmo
com a crise os bancos conseguiram de alguma forma a continuar ter lucro. Eu não acredito
que os bancos não sabiam como tudo isso iria acabar, na minha opinião eles só deixaram
acontecer em 2008 para alavancar ainda mais seus ganhos, tanto é que depois da crise o
lucro dos bancos, por incrível que pareça, aumentaram ainda mais. É uma pena que a
indústria, setor que de fato cria riquezas, passou a ver o mercado pela perspectiva dos
bancos.
RESPONDER


garvatar 25/09/2013 14:55
O melhor artigo que li sobre a crise.

Duvido que haja algum artigo melhor escrito em qualquer língua que não seja inglesa.

Parabéns, vou imprimir o artigo e difundir com quem vale a pena.


RESPONDER


Rudson 25/09/2013 15:20
Esses artigos do Leandro são, simplesmente, os melhores do site e são o motivo de eu
continuamente vir aqui. Nem mesmo os artigos dos economistas estrangeiros bem
conceituados, ao meu ver, batem o Leandro em termos de qualidade.

No entanto, é uma pena que algumas pessoas simplesmente se recusem a lê-los. Eu colei
esse mesmo artigo para um conhecido meu numa discussão sobre bolha imobiliária
brasileira (o referido conhecido é um keynesiano convicto adestrado pela le monde
diplomatique e sustenta que o aumento de preços dos imóveis no brasil é o simples reflexo
de uma política progressista que busca trazer para o mercado a "demanda reprimida" e que a
crise americana foi causada pela falta de regulamentação bancária). O cara simplesmente
disse: "parei de ler quando o artigo sustentou fazer uma análise imparcial da questão, pois
não existe análise isenta de ideologias". Ou seja, não passou do segundo parágrafo
introdutório.
RESPONDER


Leandro 25/09/2013 15:31
Essa é nova pra mim. Eu conheço gente que diz "parei de ler" exatamente quando se depara
com uma frase de cunho ideológico-partidário. Ou quando se depara com uma afirmação
completamente absurda e ignara. Agora, dizer que não vai ler simplesmente porque o artigo
clama imparcialidade é uma postura que eu desconhecia. Deve ser porque o elemento ficou
com medo de ver suas crenças sólidas serem abaladas.

Muito obrigado pelas palavras, prezado Rudson. Forte abraço!


RESPONDER


Rudson 25/09/2013 17:15
Olha, normalmente se eu colo um artigo e as pessoas vêem o "mises.org.br" no início da
URL, elas já recusam-se a ler, dizendo que os austríacos são todos neoliberais-fascistas-
capitalistas-satanistas-totalitários-psicopatas-burgueses-elitistas que tem raiva de pobre. O
fato do cara entrar no link e começar a ler o artigo já é uma surpresa positiva até hehehe.
Quem sabe um dia consigo fazer alguém ler um artigo na íntegra.
RESPONDER


Pobre Paulista 25/09/2013 23:10
Ao menos seu amigo acertou o "capitalistas".
RESPONDER


túlio 26/09/2013 12:33
É muito difícil para algumas pessoas admitirem que suas convicções podem ser erradas. Veja
a resposta que um amigo (pessoa bem instruída) me deu quando lhe enviei um artigo aqui do
site:

"... (o artigo é) Muito bem construído. Premissas bem lógicas, e claras. O problema parece
que está nas conclusões. É possível chegar-se a uma conclusão errada sobre premissas
verdadeiras. É possível chegar a conclusões erradas sobre premissas erradas. Mas não é
possível chegar a conclusões certas sobre premissas erradas. No caso as premissas são
verdadeiras, mas as conclusões, embora eu não possa dizer q sejam erradas, parece trazer
certa subjetividade, ou imprecisão, não por erro mas pela própria complexidade do tema..."

Ou seja, ele reconhece que o artigo é lógico, claro, mas não pode admitir que o autor está
correto (embora não consiga mostrar nenhum erro). Prefere queimar seus neurônios, recorrer
ao silogismo e "inventar" uma forma de manter suas crenças inalteradas do que,
simplesmente, dizer: "é, posso ter me enganado a vida toda. Parece que o autor tem razão,
vou pesquisar mais a fundo". Não, ele apenas coloca em dúvida com respostas genéricas e
finaliza a discussão. Melhor ficar de olhos fechados!
Ps: o artigo foi:
mises.org.br/Article.aspx?id=1645
RESPONDER


Sergio 26/09/2013 17:36
Você pode ocultar a fonte usando estes dois sites:
www.webnotes.net/
evernote.com/intl/pt-br/
As vezes faço isto, pois sei que tem gente que nem entra quando vê 'veja', 'mises', etc.
O WebNotes inclusive permite que você destaque trechos. Eles não foram feitos pra ocultar
fonte, mas acaba sendo bom pra isto também. Como eu já salvo lá o que eu eu gosto, as
vezes compartilho a partir deles.
RESPONDER


Oliver 25/09/2013 15:31
Artigo perfeito!Nunca estudei economia mas até me senti um economista em ler e entender a
crise com seu artigo hehe.Minha conclusão final é que ocorreu um verdadeiro
parasitismo,sabendo que a bomba uma hora ía extourar e sempre se tentando empurrar para
frente!Mais ou menos isso.
RESPONDER


Pobre Paulista 25/09/2013 15:50
Leandro,

Porquê o Bear Stearns e o Merril Lynch foram socorridos e o Lehman não? Algum palpite?
RESPONDER


Leandro 25/09/2013 16:02
Henry Paulson achou que "aí já é demais". Segundo o próprio, ele não queria estimular mais
risco moral. Ele sabia que, quanto mais ele se apresentasse para socorrer, mais outros bancos
apareceriam passando o chapéu.

No final, Lehman foi o único grande que realmente se estrepou. Todos os outros ou foram
socorridos ou foram incorporados.
RESPONDER


Juliano 25/09/2013 17:17
Elogiar artigos do Leandro é chover no molhado. Igualmente bom é ler suas respostas aos
comentários, por mais repetidas que sejam as perguntas. Adoraria vê-lo em debates com
economistas governistas!

Minha pergunta:
"A partir de meados de 2004, com a economia americana já recuperada da recessão de
2001, o Fed começou a reduzir o ritmo de injeções de dinheiro no sistema bancário.
Consequentemente, os juros começaram a subir."
Qual foi o real motivo que fez o FED começar com o processo de redução de ritmo? Medo
de inflação? Não dava pra ver que geraria um efeito em cascata?

Nosso modelo é bem diferente, mas não deixa de ter gerado um aumento muito grande de
demanda no setor imobiliário. Como quase tudo é centralizado em bancos governamentais,
como seria a reversão dessa situação? Mais aportes do tesouro para capitalizar esses bancos
e inflação corroendo os valores dos imóveis lentamente (além dos já famosos descontos que
vêm acontecendo)?

A impressão que tenho é que somente crises externas desencadeiam crises como corrida aos
bancos e queda brusca no valor dos ativos. Eventos internos são sempre gerenciados pelo
governo de uma forma mais branda, com socialização de dívidas e mais inflação.

Abraços,
Juliano
RESPONDER


Leandro 25/09/2013 18:03
Foram dois os motivos principais.

Em primeiro lugar, é preciso ter em mente que os juros estavam em 1%, um valor até então
inédito em toda a história do país. Logo, era a inevitável que o Fed quisesse "voltar ao
normal".

Ademais, como mostra este gráfico, a inflação de preços já vinha dando sinais de rápido
revigoramento. A postura adotada pelo Fed era inevitável.

Muito obrigado pelas palavras, Juliano. Grande abraço!


RESPONDER


José Bressan Martins Júnior 25/09/2013 17:57
Artigo fantástico, Leandro.

Parabéns.
RESPONDER


Leandro 25/09/2013 20:05
Muito obrigado, José. Grande abraço!
RESPONDER


Jeferson 25/09/2013 18:02
Excelente artigo. Ótimo prato principal pra ser servido após o artigo de ontem
(www.mises.org.br/Article.aspx?id=1695) como entrada. Concordo que os artigos do
Leandro não perdem em qualidade para os dos maiores nomes austríacos estrangeiros da
atualidade (exceto os do Hoppe, mas aí também já seria demais!). Ganhar eu já acho
exagero, mas como boa parte dos artigos conseguem se identificar com a realidade
brasileira, eles já são naturalmente mais atraentes que os demais.

Só não concordo com a parte de "ser imparcial" justamente por eu não acreditar em
imparcialidade (acho que todas as pessoas defendem a sua ideologia até inconscientemente,
mesmo quando tenta não defender). Realmente, o artigo não faz propaganda ideológica, nem
defende ou ataca nenhum partido político envolvido, ao contrário do que falaram ali em
cima, no entanto, pelo simples fato de se basear nas teorias da EEA, ele já é partidário do
libertarianismo por natureza. Claro que isso não se caracteriza como um defeito do artigo.

Enfim, ótimo trabalho. Vou mandar pra alguns colegas lerem. Esse não dá pra espalhar aos 4
ventos pela sua densidade, mas aos mais entendidos e interessados no assunto, vai ser
espalhado.
RESPONDER


Ricardo 25/09/2013 18:27
Leandro, você já viu o filme Grande Demais Para Quebrar? O que achou?

Object 1

RESPONDER


Leandro 25/09/2013 18:36
Já sim. Em termos puramente cinematográficos, é muito bom. Além das ótimas atuações (o
Bernanke de Paul Giamatti, que mantém uma espécie de "calma apavorada", e que diz a
todo o momento que está com medo de tudo, é engraçado), a narrativa apresentada no filme
é envolvente.

Mas há dois problemas graves:

1) O filme não distribui as culpas de maneira correta. Os culpados são os de sempre:


banqueiros gananciosos e falta de regulamentação. Não há uma palavra sobre as políticas do
Fed, e não há nada sobre Fannie e Freddie, e não há nada sobre todas as políticas do governo
voltadas para o setor imobiliário.

2) O filme retrata Paulson, Bernanke e toda a equipe do Tesouro como heróis abnegados,
pessoas não apenas preocupadas com o destino das coisas, mas também lamuriosas por
terem deixado a "desregulamentação" chegar a tal ponto.

Em suma, o filme vale como narrativa dos eventos. Mas sua atribuição de culpas e sua
escolha de heróis é totalmente equivocada.
RESPONDER


Pedro. 25/09/2013 18:51
O Estado é em essência um grupo escravizador obtendo benefícios da sociedade pagadora de
impostos, forçada a aceitar as condições deliberadas na hierarquia estatal a fim de não sofrer
danos ainda maiores do que os impostos exigidos sem a necessidade de uma contrapartida
aceitavél pelos pagadores dos impostos em benefício dos recebedores, sendo ainda forçados
a viver segundo as deliberações e preferências decididas na hieraruia estatal que se arvora,
PELO PODER, o direito de iniciar a agressão contra indivíduos inocentes e indefesos.

A mais absoluta covardia!


Abs.
RESPONDER


Fernando 25/09/2013 19:53
Pergunta:

Quem quem ficou a posse dos imóveis? As agencias Fannie Mae e Freddie Mac que foram
nacionalizadas? Ou os bancos que compraram os titulos das hipotécas?

Me desculpem caso a pergunta seja óbvia.


RESPONDER


Leandro 25/09/2013 20:07
Quem quer que esteja em posse do título será o novo proprietário do imóvel em caso de
calote. Pelo menos em tese, é claro.
RESPONDER


Garfield 25/09/2013 20:26
Leandro,
O que vc acha que acontecerá quando o FED finalmente acabar com o QE3?
RESPONDER


Leandro 25/09/2013 20:50
Garfield, curiosamente isso já aconteceu de meados de 2011 até o final de 2012. Veja lá no
gráfico 7. A base monetária ficou estável e as reservas em excesso caíram. O que aconteceu
nesse período? Absolutamente nada. Há muito mais terrorismo do que eventos concretos.

Sugiro este artigo:

O Banco Central americano e a "ameaça" da redução dos estímulos


RESPONDER


anônimo em adendo 25/09/2013 20:28
Excelente artigo novamente, Leandro.

Já pensou em conceder palestras ou dar aulas à pessoas semi-leigas interessadas em


economia que não necessariamente trabalhem ou estudem na área? Ou abrir um canal do
YouTube? Conheço gente do meio empresarial que adoraria entender o que diabos está
acontecendo no mundo e nunca li um artigo sobre a crise financeira internacional tão claro e
fácil de entender como este.

Você tem um talento impressionante para esclarecer tópicos econômicos.


RESPONDER


Leandro 25/09/2013 20:48
Generosidade em demasia, prezado anônimo. É uma diretriz básica do IMB publicarmos
artigos que sejam absolutamente compreensíveis para um leigo inteligente. Afinal, se algo é
lógico, então é inteligível. Se não for compreensível, então não faz sentido. Se algum
economista falar algo que você não entenda, esteja certo de que ele está tentando lhe enrolar,
pois nem ele próprio deve saber direito do que está falando.

Obrigado pelas palavras e grande abraço!


RESPONDER


Renato Borges 25/09/2013 20:43
"As respostas a estas perguntas têm de estar claras antes de se iniciar qualquer debate a
respeito da crise."

Ou seja, nunca haverá debate a respeito da crise em solo brasileiro, afinal nossos
governantes já socializaram a ignorância de tal forma que é impossível encontrar meia dúzia
de pessoas capazes de entender as perguntas, quanto mais responde-las.
RESPONDER


Algoz sincero 25/09/2013 20:45
Todos sabem que a falta de regulamentação prejudicou a América. O governo interviu pouco
na economia, causando sua crise.
RESPONDER


Tory 26/09/2013 13:25
Você chegou a ler o artigo ou veio aqui só para propaganda ideológica?
RESPONDER


Almondega 28/09/2013 16:14
Tudo está orquestrado.
RESPONDER


Dionisio Dias da Silva 25/09/2013 21:54
Leandro.
Essa tonelada de dolares em reserva em excesso que o Pobre Paulista citou, permanecerá até
quando nesse estado, visto que é da natureza dos banqueiros auferirem maior rentabilidade
se pulverizassem isso na economia? Não existiria um "acordo velado" entre o FED e Bancos
para manterem em reserva em excesso, a 0,25%, a fim de não causar o aumento da inflação
monetária e juros?
RESPONDER


Leandro 25/09/2013 22:08
A minha opinião é que sim. Banqueiros não são burros. Não é do interesse deles criar uma
hiperinflação (seus empréstimos seriam quitados com um dinheiro sem nenhum poder de
compra, o que destruiria o valor de seus ativos e, consequentemente, seu patrimônio
líquido).

Pode acontecer, sim, de haver uma inflação de preços relativamente alta (perto de dois
dígitos), mas não hiperinflação -- a menos, é claro, que os banqueiros queiram me contrariar
e se comprovem de fato muito burros.

Outro detalhe: mesmo que os banqueiros de fato enlouqueçam e saiam emprestando todo
este dinheiro, duvido muito que o Fed ficará passivo. Por exemplo, pense nos burocratas do
Fed. Esse pessoal quer se aposentar e receber suas magnânimas pensões. Uma hiperinflação
destroçaria todo o poder de compra de suas pensões. Não há a menor chance de eles
deixarem isso ocorrer. Adicionalmente, eles sabem que uma hiperinflação deixará a
economia em pandemônio. Isso irá afetar sobremaneira a qualidade de vida deles próprios.
Por que deixariam isso ocorrer?

Entre uma hiperinflação que destroce seus proventos e uma recessão profunda gerada por
um acentuado aumento nos juros para estancar esta hiperinflação, os burocratas do Fed
ficarão com a segunda opção sem titubear. Eu certamente ficaria.
RESPONDER


Marcio L 28/09/2013 02:13
Deja vu. Parece-me que já vi resposta muito semelhante. Normal, tendo em vista que as
perguntas muitas vezes se repetem também.
RESPONDER


Leandro 28/09/2013 04:18
Quando você tem de responder às mesmas perguntas diariamente (e isso já ocorre há 4
anos), é inevitável que em algum momento você passe a se valer do Crtl C Ctrl V.
Raramente surge aqui alguma pergunta que já não tenha sido feita na semana passada.
RESPONDER


Eduardo 25/09/2013 22:49
Esse valor de 2.25 bi, no início do texto, parece ser pequeno demais...
Não seria 2.25 tri?
RESPONDER


Leandro 25/09/2013 23:29
Você se refere ao valor da linha de crédito do Tesouro pra Fannie e Freddie? Calma, é bilhão
mesmo. Seria impossível ser US$2 trilhões. O Tesouro não tem esse valor em reserva. Não
existe linha de crédito de US$2 trilhões (exceto, é claro, se for o Fed imprimindo). Para você
ter uma idéia, o resgate inicial orquestrado pelo Tesouro aos bancos foi de US$700 bilhões.
RESPONDER


Djalma 25/09/2013 23:39
Excelente artigo, como sempre.
RESPONDER


anonimo 25/09/2013 23:53
Leandro, parabéns, tu és o cara.

Tenho três perguntas:

1) "E é exatamente nesse ponto que Fannie e Freddie entram em cena. A função destas
empresas era comprar dos bancos comerciais exatamente estes empréstimos (títulos
hipotecários) que eles concediam para compradores de imóveis."

Com qual dinheiro o Fannie e o Freddie compravam estes emprestimos?

2) "A partir de meados de 2004, com a economia americana já recuperada da recessão de


2001, o Fed começou a reduzir o ritmo de injeções de dinheiro no sistema bancário.
Consequentemente, os juros começaram a subir."

E se o FED não reduzisse as injeções de dinheiro, o que aconteceria? Além disso, a inflação
estava muito alta em 2004?

3) "Este aumento da taxa básica de juros de 1% para 5,25% afetou as taxas de juros dos
empréstimos imobiliários. Os juros das hipotecas com taxas ajustáveis (linha vermelha)
saem de uma mínima de 3,5% no início de 2004 e vão para quase 6% em meados de 2006.
Já os juros das hipotecas convencionais, de 30 anos (linha azul), vão de 5,5% para quase 7%
neste mesmo período."

Isso é algo que nunca entendi. As taxas de juros não são acordadas preliminarmente, tipo,
ex: 3% ao mês. Como que no meio de um contrato a taxa pode aumentar? Existe contratos
que a taxa de juros é indexa em determinado indíce?

Obrigado.
RESPONDER


Leandro 26/09/2013 12:13
1) Com o dinheiro de investidores (majoritariamente bancos de investimento). Isso foi
explicitado várias vezes no artigo. Destaco duas passagens:

"Esta garantia implícita de proteção conseguiu atrair um contínuo financiamento de


investidores — que investiam dinheiro nestas empresas e compravam seus títulos lastreados
em hipotecas —, pois estes investidores sabiam que, caso a coisa degringolasse, Fannie e
Freddie seriam socorridas pelo governo americano."

"que Fannie Mae e Freddie Mac fossem capazes de atrair um volume cada vez maior de
dinheiro de investidores por contarem com a proteção implícita do governo;"

2 Sim, estava ficando alta. Veja aqui.

3) Nos EUA, era extremamente comum você pegar empréstimos hipotecários a taxas de
juros variáveis. Isso se chamava "adjustable-rate mortgages". Você começava pagando uma
taxa extremamente baixa, chamada de "teaser rate", o que tornava o empréstimo ainda mais
atraente. Após alguns anos, a taxa era reajustada de acordo com vários índices econômicos.
E ela poderia tanto aumentar quanto diminuir.

Obrigado pelas palavras e grande abraço!


RESPONDER


Flavio 26/09/2013 00:13
Caro Leandro, mais uma vez parabéns pela clareza e objetividade dos seus artigos.
Aliás, gostaria de agradecer a todos da equipe IMB pela disponibilização de tanta
informação e conhecimento relevante, tanto artigos quanto livros digitais.
Considero Ação Humana um dos livros mais importantes que já li, mudou minha forma de
ver o mundo e as ciências humanas.Obrigado.

Uma questão...

Li recentemente que algumas empresas americanas (IBM inclusive) estão tomando


empréstimos de longo prazo a juros baixos, ampliando artificialmente seu resultado imediato
para pagar mais dividendos e valorizar suas ações.
Procede? em caso positivo, poderia comentar?

Grato,

Flavio

" Um gênio criativo não pode ser treinado. Não existem escolas para criatividade. Um gênio
é precisamente um homem que desafia todas as escolas e regras, que se desvia dos caminhos
tradicionais da rotina e abre novos caminhos através de terras inacessíveis antes. Um gênio é
sempre um professor, nunca um aluno; ele é sempre feito por si mesmo."
Mises
RESPONDER


Leandro 26/09/2013 12:12
Prezado Flavio, isso é algo até bem comum em ambientes de juros anormalmente baixos.
Não estou acompanhando especificamente o caso da IBM, mas isso que você descreveu faz
sim todo sentido. Se os empréstimos estão "de graça" e eles podem ajudar sua empresa a
aditivar seus dividendos e satisfazer seus acionistas, então chega até a ser inevitável o uso de
tal prática.

Grande abraço e obrigado pelas palavras.


RESPONDER


Everton Ribeiro 26/09/2013 02:40
Leandro, vc nao acha um tanto incoerente alguns austriacos dizerem que o FED deveria
subir os juros e outros que não deveria existir o FED? Isso porque me parece que extinguir o
FED tem mais a ver com o pensamento austriaco, ao passo que ele subir os juros tem um
viés rentista, ou seja, de quem quer só viver de juros e nao esta nem ai para aspectos morais.
O que acha?
RESPONDER


Leandro 26/09/2013 12:13
Acho que você não entendeu o básico. Aliás, qualquer um que diga que a função dos juros é
apenas a de remunerar parasitas e rentistas não tem a mais mínima idéia do papel crucial da
taxa de juros em uma economia de mercado.

Os juros são o preço mais importante de uma economia de mercado; são os juros que
equilibram poupança e investimento, e que, quando livres, sinalizam a escassez de um e a
abundância de outro.

Os austríacos criticam os juros zero do Fed porque sabem que tal aberração não existiria em
uma genuína economia de mercado. Juros zero representariam uma infinidade de poupança e
de capital, algo por definição impossível. Austríacos criticam os juros zero justamente
porque sabe que tal excrescência só existe em decorrência da intervenção de um
extremamente poderoso aparato estatal. E sabem que as distorções assim criadas são
extremamente deletérias para uma economia.

Pedir a abolição do Fed e criticar os juros zero é exatamente a mesma coisa. Sem o Fed e
suas intervenções, os juros não teriam como ser zero.
RESPONDER


Ronaldo Quinto 26/09/2013 13:51
É isso aí!
RESPONDER

IRCR 26/09/2013 03:45
Texto de P.Krugman publicado no Carta Capital:

www.cartacapital.com.br/revista/767/japao-nao-estrague-uma-coisa-boa-2470.html

Deu medo de ler já no primeiro paragrafo "....que o (BOJ) não vai esconder a garrafa de
saquê exatamente quando a festa está se animando...."

Fear the boom. moçada

Para piorar promovendo mais estimulos fiscais - se já não bastasse +200% de divida sobre o
PIB.
RESPONDER


Ronaldo Quinto 26/09/2013 11:40
Parabéns, Leandro.
Excelente artigo...como sempre!
Uma pergunta: quando sai o seu livro sobre a crise de 2008 e seus desdobramentos?

Abraço,
RESPONDER


Leandro 26/09/2013 12:11
Prezado Ronaldo, não atormente o mundo com estas ameaças terroristas...

Grande abraço e obrigado pelas palavras!


RESPONDER


Pedro Ivo 28/09/2013 13:01
Qualquer dia desses Leandro, reúno seus artigos cronologicamente, escrivinho uns
parágrafos p/ interconectá-los, e envio para umas 10 editoras assinado com seu nome.
RESPONDER


Corretor 26/09/2013 14:00
Foi falado mais acima que a escola austríaca é contra a existência do FED.

Gostaria de entender melhor sobre isso. Para esta escola, no mundo ideal não haveria títulos
públicos, nem reuniões para definição de taxa de juros, nem dívida pública?

Nesse sentido, o Chile seria uma espécie de país avançado, por ter uma dívida pública
pequena?

obrigado
RESPONDER

Marcio 26/09/2013 14:19
Dívida pública haveria, mas esta seria financiada exclusivamente via impostos, e não via
impressão de dinheiro.

Sobre "haver reuniões para definição de taxa de juros" creio ser desnecessário qualquer
comentário. Qual a diferença entre burocratas definindo juros e burocratas definindo o preço
do pão?

Primeiro leia este artigo. Depois este.


RESPONDER


Zezinho 26/09/2013 15:12
Leandro parabéns por mais esse artigo. Existem muitas duvidas, mas elas estão aos poucos
sendo respondidas indiretamente com seus comentários. Um exemplo de duvida, era a
questão da recessão e a expansão da base monetária, você respondeu na resposta ao
fernando.
RESPONDER


Eduardo Bellani 26/09/2013 15:19
Leandro.

Ótimo artigo, suspeito que Mises ficaria orgulhoso.


Achei esse pequeno erro:

e que representa todo o criado pelo Banco Central.

Suspeito que faltou uma palavra ali.

Abraços.
RESPONDER


Leandro 26/09/2013 15:43
Obrigado, Eduardo. A palavra faltante era dinheiro. Já acrescentada. Grande abraço!
RESPONDER


Fellipe 26/09/2013 16:19
Leandro,

Espetacular artigo, como de costume.

Gostaria de sugerir uma pequena correção, pois sou do ramo de seguros e há dois termos que
não estão corretos, quando você cita o caso da AIG:

"a AIG emitiu várias apólices e coletou uma boa soma em anuidades. Até que tudo se
reverteu, e todos os bancos foram correndo resgatar seus prêmios."

Prêmio é o nome técnico para o montante que a seguradora recebe do segurado para gatantir
determonado risco, com a emissão de uma apólice. E indenização é o montante que o
segurado recebe da seguradora na ocorrência de um evento segurado, após abrir um sinistro /
fazer uma reclamação na apólice. Assim, o correto seria: a AIG emitiu várias apólices e
coletou uma boa soma em PRÊMIOS. Até que tudo se reverteu, e todos os bancos foram
correndo RECLAMAR SUAS INDENIZAÇÕES.

Grande abraço e continue com o ótimo trabalho.


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Leandro 26/09/2013 16:31
Obrigado pela correção, Felipe. Tenho de fazer um curso de ciências atuariais. Grande
abraço!
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Roger 26/09/2013 21:50
O que eu tenho pra perguntar não tem muito a ver com a matéria em si. Mas é uma dúvida
que me surgiu e eu resolvi aproveitar que já estava lendo a matéria e perguntar aqui mesmo.

Perdoem minha possível ignorância, talvez esta dúvida até já esteja respondida em algum
artigo. Eu sou adepto de muitas filosofias liberais, mas a dúvida é a seguinte: em vários
artigos do site fica evidente a posição liberal com relação ao Estado, de que ele é sempre, em
qualquer ocasião, maléfico. A dúvida surgiu ao estudar a época do início do Mercantilismo,
onde uma das justificativas de terem sido Portugal e Espanha os pioneiros é de que eles
possuíam o poder centralizado. Partindo do princípio que o Mercantilismo foi, de maneira
geral, benéfico para a humanidade, e, inclusive para o capitalismo; e que sem ele
provavelmente estaríamos hoje em um estágio de desenvolvimento com um atraso de talvez
alguns séculos, devido à possível diferença de tempo até que o primeiro grupo de
mercadores independentes, ao invés do Estado, resolvesse investir tão alto em
empreendimento de tamanho risco. Concordo que os recursos usados pelo Estado veio em
grande parte destes mercadores, mas a decisão de usá-los desta maneira não. Então não seria
esse um cenário onde a presença de um Estado, mesmo que mínimo, tenha sido benéfico?

Obrigado.
RESPONDER


Roger 26/09/2013 21:53
Correção: na verdade, o conceito que eu quis usar era de Expansão Marítima, e não de
Mercantilismo.
RESPONDER


Matheus Cabizuca 27/09/2013 02:18
Eu sempre empaco em um ponto.

O tesouro emite títulos para financiar a divida pública, os dealears primários compram estes
títulos e o dinheiro dessa compra vai para o governo gastar. Esse primeiro dinheiro é
injetado na economia através dos cheques que o governo emite.
Depois o Banco Central entra em cena e compra esses títulos dos bancos e injeta novamente
outro dinheiro na economia através dos bancos agora, que aumenta ainda mais através do
fator multiplicador.
A questão é: De onde o BC tira esse dinheiro. Da onde veio o primeiro dinheiro do BC, será
que ele não tem uma dotação orçamentária para esse fim? Essa prática é reconhecida pelo
próprio BC?
RESPONDER


Leandro 27/09/2013 02:58
O dinheiro do BC não vem de lugar nenhum. Ele cria do nada. São dígitos eletrônicos em
um computador. O burocrata vai lá, aperta umas teclas, acrescenta alguns zeros e puf!: a
reserva de algum banco aumentou magicamente.

Essa é a única coisa que um BC faz. Criar dinheiro do nada. Todas as suas outras supostas
atividades advêm deste único fato: o BC cria dinheiro do nada. Ele não trabalha restrito a
uma dotação orçamentária. É a única instituição que tem autorização para falsificar dinheiro.

Desde o fim do padrão-ouro, é assim em todos os países do mundo.

Há inúmeros artigos sobre isso neste site.


RESPONDER


Luiz P. 27/09/2013 03:47
Clap Clap Clap... perfeito Leandro, seus artigos são extremamente didáticos, mesmo para
um leigo.
RESPONDER


IRCR 27/09/2013 04:55
Leandro,

Mas antes deles apertarem as teclas o BC precisa comprar titulos da divida no sistema
bancario certo ? não que isso desqualifique o fato de o dinheiro ser criado "out of thin air"
mas apenas confirma que é um dinheiro criado do nada lastreado em dividas.
RESPONDER


Leandro 27/09/2013 11:58
Sim. Neste sentido, todo o dinheiro existente está lastreado tanto em dívida pública (quando
criado pelo Banco Central) quanto em dívida privada (quando criado pelo sistema bancário
de reservas fracionárias).

Mas a pergunta havia sido sobre de onde vem o dinheiro criado pelo Banco Central. E a
resposta a esta pergunta -- independentemente do lastro deste dinheiro -- é: do nada.
RESPONDER

Roger 27/09/2013 07:57
Leandro, gostaria de saber a sua opinião sobre a minha observação com relação à Expansão
Marítima.
RESPONDER


Leandro 27/09/2013 12:02
Não sei. Esta não é minha especialidade. O que se sabe é que tal expansão ocorreu porque
estes dois estados puderam financiar. E como eles puderam financiar? Utilizando as riquezas
que haviam coletado e confiscado ao longo de sua história. Ora, se eu sou uma instituição
que coleta e confisca boa parte da riqueza produzida, é claro que eu terei uma maior
capacidade de financiar todo e qualquer empreendimento mais portentoso.
RESPONDER


Roger 27/09/2013 17:18
Obrigado pela prontidão Leandro. Sou leitor assíduo do site. Inclusive faço uso os ideais
liberalistas em todos os âmbitos de minha vida. No entanto, tenho uma abordagem
pragmática do liberalismo defendido pelo mises que não me deixa concordar com tudo que é
postado no site. Gostaria de abusar um pouco mais de você para saber qual sua opinião sobre
a minha abordagem, pois sua opinião é muito importante para mim. Se outras pessoas
quiserem dar suas opiniões também sintam-se convidadas.

Essa é uma dúvida que tenho que, entre outras, ainda me faz optar pelo minimalismo com
conscientização social ao invés do anarcap. Social não no sentido de walfare, mas no sentido
de sociedade mesmo. Ou seja, se toda sociedade tiver consciência dos limites do Estado,
suas únicas funções e seus possíveis males ao intervirem além do mínimo, então esse Estado
mínimo não deveria crescer novamente, pois isso só pode ocorre com o apoio social. Aliás,
mesmo para uma sociedade sem Estado, que é o que o site defende, essa conscientização
também é fundamental, senão a sociedade vai clamar pela volta do Estado logo na primeira
dificuldade. Além disso, visto que não há como desaparecer com o Estado de um dia para o
outro, então, por definição, teríamos que, em algum momento do processo, passar por uma
situação de Estado mínimo.

Essa situação de Estado mínimo tem três opções: progredir para o anarcap; estagnar em
minimalismo; regredir para onde estamos. A afirmativa do Mises é que ele inevitavelmente
regredirá caso não progrida para o anarcap. No entanto, ao afirmar isso, creio que não seja
levado em conta que, para chegarmos a esse minimalismo e, principalmente, para
progredirmos ao anarcap, é uma condição sine qua non que a sociedade esteja plenamente
conscientizada no sentido supracitado. Conscientização inclusive sobre como os serviços
prestados pelo Estado devem ser restritos e LIMITADOS, e não generalistas e ilimitados,
como são hoje. Portanto, de acordo com a escassez de recursos. Trocaríamos o "todos têm
direito a tudo" por "alguns podem ter acesso a algumas coisas", que, aliás, é o que já ocorre
hoje em dia.

Outro ponto é que, com um Estado mínimo, sua ineficiência, ainda que presente, será
mínima, pois seus recursos serão mínimos, sua abrangência será mínima e seu pessoal será
mínimo. Essa pequenez do Estado, facilitando sua supervisão, juntamente com a
conscientização social que deve, inevitavelmente, estar presente, deve eliminar quase que
totalmente a corrupção deste. Até porque com poderes mínimos, não mais será possível
satisfazer os infinitos lobbies existentes, como é feito hoje. As possibilidades de corrupção
seriam extremamente limitadas e evidenciáveis.

Gostaria de saber sua posição sobre o minha abordagem. Há algo de muito errado nela? De
antemão, obrigado Leandro. Seus textos são excelentes e esclarecedores.
RESPONDER


Porta-Voz 30/09/2013 14:52
"Ou seja, se toda sociedade tiver consciência dos limites do Estado, suas únicas funções e
seus possíveis males ao intervirem além do mínimo, então esse Estado mínimo não deveria
crescer novamente, pois isso só pode ocorre com o apoio social."

Esse é o raciocínio padrão de todos os minarquistas. Embora sejam bem-intencionados, eles


ignoram completamente o conceito de "poder". Ora, a partir do momento em que você
concede a uma poderosa instituição o monopólio da tributação, da violência e da tomada
suprema de decisões judiciais dentro de um determinado território, não faz o mais mínimo
sentido você acreditar que tal instituição irá se manter rigorosamente confinada dentro de
seus limites. Por que ela faria isso? O que impede esta instituição monopolista e armada de
expandir seus domínios? Se você acha que a simples "consciência popular" é capaz de
restringir o estado, você está superestimando o real poder do povo.

"Aliás, mesmo para uma sociedade sem Estado, que é o que o site defende, essa
conscientização também é fundamental, senão a sociedade vai clamar pela volta do Estado
logo na primeira dificuldade."

O site não defende uma sociedade sem estado. Defendemos a livre concorrência, a não-
coerção e o fim de todo e qualquer monopólio. Se o estado se tornar uma agência de adesão
meramente voluntária, com os impostos se tornando "doações voluntárias" (o pleonasmo é
aqui utilizado para reforçar a ideia da voluntariedade das doações), com seus serviços
deixando de ser compulsoriamente financiados e com suas regulamentações sendo abolidas,
não há motivo algum para se pedir o fim do estado, pois ele passará a ser uma mera agência
prestadora de serviços, como qualquer outra.

"A afirmativa do Mises é que ele inevitavelmente regredirá caso não progrida para o
anarcap."

Mises nunca falou nada disso. Mises jamais sequer utilizou o termo anarcocapitalismo e
jamais fez quaisquer considerações sobre o possível funcionamento deste arranjo.

"para progredirmos ao anarcap, é uma condição sine qua non que a sociedade esteja
plenamente conscientizada no sentido supracitado. Conscientização inclusive sobre como
os serviços prestados pelo Estado devem ser restritos e LIMITADOS, e não generalistas e
ilimitados, como são hoje."

Esta é exatamente a estratégia de Hoppe. Ver aqui.

"Portanto, de acordo com a escassez de recursos. Trocaríamos o "todos têm direito a tudo"
por "alguns podem ter acesso a algumas coisas", que, aliás, é o que já ocorre hoje em dia."

A frase mais acurada é: Trocaríamos o "todos supostamente têm direito a tudo" por "todos
podem ter acesso a absolutamente tudo, desde que dêem algo em troca". Essa é a essência de
toda e qualquer troca voluntária. Ignorar isso é ignorar as motivações da ação humana. Até
mesmo na caridade, o caridoso está recebendo algo em troca (sua sensação de auto-
satisfação).

"Outro ponto é que, com um Estado mínimo, sua ineficiência, ainda que presente, será
mínima, pois seus recursos serão mínimos, sua abrangência será mínima e seu pessoal será
mínimo. Essa pequenez do Estado, facilitando sua supervisão, juntamente com a
conscientização social que deve, inevitavelmente, estar presente, deve eliminar quase que
totalmente a corrupção deste. Até porque com poderes mínimos, não mais será possível
satisfazer os infinitos lobbies existentes, como é feito hoje. As possibilidades de corrupção
seriam extremamente limitadas e evidenciáveis."

De novo, esse é o argumento básico do minarquismo. O problema é que nunca explicaram


por que diabos o estado -- que detém o monopólio da coerção, da tributação e do aparato
judicial -- irá se contentar em ficar deste tamanho. Veja aqui uma teoria que explica por que
nenhum estado jamais permanecerá mínimo, por mais esclarecida e iluminada que seja sua
população.
RESPONDER


Roger 30/09/2013 21:06
Porta-voz, concordo que o Estado tem interesse em aumentar seu círculo de influência cada
vez mais. No entanto, você afirma que um Estado mínimo irá sempre aumentar,
inevitavelmente, mas, se um Estado que é mínimo, não pode, ato contínuo (daí a
conscientização), diminuir de volta ao tamanho original sempre que aumente -ficando,
assim, "constante"- então como pode-se diminui um Estado que já está gigante? Não vejo
como se possa defender esse ponto de vista sem chegar à conclusão de que o anarcap é
utópico, pois pressupõe a diminuição de um Estado gigante, mas afirma que um Estado
mínimo não pode diminuir quando tentar aumentar.

"Ora, a partir do momento em que você concede a uma poderosa instituição o monopólio da
tributação, da violência e da tomada suprema de decisões judiciais dentro de um
determinado território...
O site não defende uma sociedade sem estado. Defendemos a livre concorrência, a não-
coerção e o fim de todo e qualquer monopólio."

Ao definir Estado como monopólio das forças de coerção, tributação, violência e tomada de
decisões e defender o fim de todo e qualquer monopólio, por extensão, se está defendendo o
fim do Estado, sim. Portanto, as matérias do site defendem o anarcap em suas
argumentações, mesmo que indiretamente.

"A frase mais acurada é: Trocaríamos o "todos supostamente têm direito a tudo" por "todos
podem ter acesso a absolutamente tudo, desde que dêem algo em troca""

Meu intuito ao colocar aquelas frases foi alterar um paradigma socialista utópico
impregnado no ideário popular por algo factível, ou seja, trocar algo que é defendido mas
que não pode ser posto em prática por algo que não é defendido mas que pode ser posto em
prática. No caso das suas frases, elas são ambas verdadeiras, e já são ambas aplicadas. A
primeira frase se deve ao fato de minha primeira frase não poder ser aplicada na prática; a
segunda frase sua já é verdadeira em qualquer país não-comunista.

"Mises nunca falou nada disso. Mises jamais sequer utilizou o termo anarcocapitalismo e
jamais fez quaisquer considerações sobre o possível funcionamento deste arranjo."

Me desculpe, eu me expressei mal, ao falar em Mises eu me referia ao site. Eu não conheço


a obra de Mises em profundidade suficiente para dizer que ele defendia isso.

Li parcialmente o artigo de Hoppe, pois esse não é o foco. Li na íntegra o texto sobre o
crescimento de Estados mínimos, usando como exemplo os EUA. Concordo que seja um
exemplo de agigantamento do Estado, mas discordo que isso implique que todo e qualquer
Estado mínimo irá aumentar baseado em um exemplo. De novo, recorro ao argumento da
conscientização. Ora, se hoje se defende a instauração de um anarcap através da
conscientização de desobediência ao Estado, especialmente no que toca o não pagamento de
impostos -que é a raiz de tudo- fica claro que os americanos daquela época não possuíam
essa consciência, pois aceitaram os aumentos de impostos. Qual seria a diferença entre os
americanos daquela época rejeitarem um aumento de impostos de 1% e dos brasileiros de
hoje rejeitarem impostos de 50%? Em essência, nenhuma, mas, na prática, seria muito mais
fácil para os primeiros o fazerem. Portanto, vejo como uma incoerência defender o segundo
e dizer que o primeiro nunca vai acontecer. Espero que o minimalismo seja possível, caso
contrário, o anarcap também não é, e as únicas opções que teríamos seriam o capitalismo de
estado ou comunismo.

Além disso, hoje temos contraexemplos das ingerências do Estado e seus resultados
desastrosos, os americanos daquela época não possuíam isso. A conscientização revoluciona
a sociedade, fazendo com que coisas que eram inimagináveis há tempos atrás sejam
corriqueiras atualmente. Quem diria que mulheres votariam e negros receberiam salário há
150 anos atrás?

Todavia, temos hoje um problema, de longe, muito mais sério do que defender o
minimalismo ou anarcap. O Brasil está rumando à ditadura do proletariado e, se nada for
feito, vamos ver o país, o continente e a humanidade perderem mais algumas décadas com
ditaduras. Quando isso acontecer, vamos todos ser presos apenas por pensar que pode existir
um país sem Estado ou que temos que limitar seus poderes. Talvez o agigantamento dos
EUA tenha sido providencial para impedir que o comunismo tomasse conta do mundo, para
que pudéssemos pelo menos ter uma ideia do que é capitalismo. Talvez devamos agradecer
que o minimalismo dos EUA não deu certo e eles tiveram um exército para lutar contra o
comunismo. Ou talvez o sucesso do minimalismo dos EUA tivesse influenciado todos a o
seguirem e teria eliminado o comunismo de maneira definitiva, e não apenas militarmente,
mas ideologicamente, quem sabe.
RESPONDER


Marcio L 01/10/2013 01:50
Os países escandinavos se conservaram social-democratas por anos (aquela velha social
democracia trabalhista apoiada nos sindicatos de trabalhadores), e nem por isso se tornaram
ditaduras comunistas. Acho exagerado dizer que o Brasil caminha para algo assim, ainda
ouso dizer que muitos social-democratas trabalhistas levam em consideração até como
estímulo intelectual o conteúdo aqui divulgado.
RESPONDER

Roger 01/10/2013 08:07
Você acha que o Brasil caminha para se tornas um país escandinavo ou uma Cuba ou
Venezuela? TODAS as vertentes internas do PT, inclusive o Rui Falcão -o mais
"conservador"-, assumem que o intuito to partido é instaurar o socialismo no país, não sou
eu quem estou falando. Assista aos vídeos no final e tire suas próprias conclusões. Calote
das dívidas públicas, "reformas" agrária e urbana, demarcação de terras indígenas,
reestatização de todas as empresas privatizadas, entre outros, são algumas das propostas dos
"intelectuais" mais esquerdistas do PT. Você acha que se esse povo ficar no poder mais uns 2
mandatos eles não vão começar a radicalizar?

Eu não subestimaria essa possibilidade, especialmente tendo em vista a política externa do


Lula e da Dilma de apoio a ditaduras, além das políticas "afirmativas" e de "inclusão social"
que vêm sido feitas aqui, ao que tudo indica, a fase gramsciana de doutrinação que vem
sendo posta em prática há décadas está abrindo espaço para uma tentativa efetiva de
implantação do socialismo. Provavelmente não será nos moldes de Stalin, pois o país tem
peculiaridades que não permitiria isso. Será a "Via Brasileira para o Socialismo", vamos nos
tornar a República Bolivariana do Brasil. Já imaginou? Não estamos muito longe.

O primeiro é do PED do PT, é bem longo, mas é extremamente esclarecedor no que diz
respeito às reais intenções do partido com relação ao Brasil, pode-se ver o que cada vertente
interna do PT pensa com relação às diretrizes que devem ser tomadas para a implantação do
projeto de poder do PT. O segundo é do Gabeira falando sobre os grupos armados, é bem
curtinho. O terceiro é de uma ex-guerrilheira, também é bem curtinho. Tire suas próprias
conclusões sobre o que o PT vai fazer com o país:

www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=F_dvSX1F-sQ
www.youtube.com/watch?v=Fm_pZXRTo30
www.youtube.com/watch?v=311w66Zpyuw
RESPONDER


Marcio L 01/10/2013 18:36
Não acredito nesta possibilidade. Até mesmo Hayek notou em um artigo que mesmo Trotsky
cloncluíra a importância do Mercado e da propriedade privada em uma Economia.

Os esquerdistas de modo geral fizeram uma grande revisão, e fora alguns setores
minoritários mais extremistas, todos sabem quais os limites (não políticos, mas os limites
reais do Socialismo).

Interessante notar que mesmo alguns ainda fazem usos de teorias economicas que lhes
permitam avançar no objetivo de construir um Estado de Bem Estar social.

Como exemplo cito Ignácio Rangel, um marxista declarado, mas que fazia leituras de
Schumpeter e em alguns excertos pude perceber algo próximo dos austriacos quando fala da
distorção que pode ser causada pelos gastos públicos. Sabe-se que ele foi uma das grandes
influências dos Economistas do PT, entre eles da Maria da Conceição Tavares que é mesmo
mestre até de economistas do PSDB, e de Paul Singer um dos maiores teóricos atuais da
Economia Solidária (uma curiosidade a respeito do ultimo: ele tem nacionalidade austríaca
apesar de não ser um economista austríaco).
Sendo assim a questão é saber em que medida a intervenção estatal crescerá. Não vejo esse
horizonte Bolivariano, nem mesmo das políticas de controle de preços e quetais. Mas há
muita agitação por parte da oposição para ver se com isso conseguem trocar a direção do
Estado.
RESPONDER


Roger 01/10/2013 22:43
Claro, concordo que é impossível se desatrelar do capitalismo totalmente. Até Cuba,
Venezuela e China mantiveram e até incrementaram suas trocas comerciais com outros
países a fim de manter suas receitas e financiar o regime. Nem a União Soviética comunista
era totalmente isolada do capitalismo. Mas nada disso impediu que se instaurassem regimes
ditatoriais ou semi-ditatoriais, com extrema intervenção estatal em todos os âmbitos
culturais, sociais e econômicos, com supressão de liberdades e direitos.

Acho improvável, até por falta de capacidade gerencial, que eles desapropriem todas as
propriedades e meios de produção privados neste momento, apesar de alguns ainda acharem
que esta é a saída. Mas que o capitalismo brasileiro, mesmo que capenga, junto com as
liberdades e direitos que temos, mesmo que limitados, estão seriamente ameaçados. Você
disse que Trotsky reconhecia o valor do mercado, no entanto, não foi ele quem governou,
mas sim Lênin, que não tinha uma visão tão romântica.

Possuir propriedade privada não é garantia de NADA! Cuba permite propriedade privada,
China e Venezuela também, e nem por isso são modelos de democracia, liberdade e respeito
aos direitos.

Claro que não acredito que do dia pra noite eles vão instaurar um socialismo 100% marxista,
não é viável. Mas é inegável que estamos cada vez mais para Karl Marx do que para Adam
Smith, e a tendência é ir piorando cada vez mais.

Eles vão continuar cozinhando o sapo em água morna, tem sapo que está até gostando da
água quentinha.

Veja esse vídeo, e me fale se depois dele você ainda acha que o plano do PT não é nos levar
cada vez mais perto de Cuba e Venezuela e cada vez mais longe do capitalismo de verdade:
www.youtube.com/watch?
feature=player_detailpage&v=vpryiO7xauk&list=UU8hGUtfEgvvnp6IaHSAg1OQ#t=187
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anônimo 01/10/2013 09:05
Não se tornaram comunistas porque comunismo é impossível.Se tornaram o que a esquerda
de lá queria que se tornasse: um meio pra sustentar os vagabundos esquerdistas. A mesma
coisa que o brasil já é, mas que ainda vai piorar bem mais.
RESPONDER


Roger 01/10/2013 14:44
Obviamente que por comunismo eu não me refiro à versão esquerdista de comunismo:
sistema onde todos vivem em igualdade, há saúde, educação, moradia, trabalho, dignidade,
liberdade, segurança e tudo que é de melhor para todos e em quantidade infinita, há pássaros
furta-cores sobrevoando os bosques e unicórnios cor-de-rosa andando pelas vielas. Eu me
refiro à única realidade possível ao tentar se implantar esse sistema: ditaduras, miséria,
injustiça, etc, etc, etc, tudo que já sabemos.
RESPONDER


Trevor Reznik 27/09/2013 12:58
Será que se a gente pedir pro Hélio Beltrão ele consegue persuadir o Leandro a lançar um
livro? Eu me contentaria até mesmo com uma coleção de ensaios que ele já postou aqui no
IMB.

Enfim, parabéns pelo artigo, Leandro! Excelente trabalho, como todos os outros que você
posta aqui.
RESPONDER


Eu 27/09/2013 13:23
Tenho uma dúvida que talvez seja mais política do que economica.

Porque em 2008, quando a crise estava estourando, o então presidente da França, Nicolas
Sarkozy, que é de centro-direita, declarou que o laissez-faire estava acabado?

Ele simplesmente não estava enxergando corretamente os fatos? Ou havia algum motivo
político por trás daquele famoso discurso?

Ou ainda, seria porque a centro-direita na França, assim como no Brasil, é um apenas


socialismo moderado?
RESPONDER


Ricardo 27/09/2013 13:42
E desde quando político francês é padrão de honestidade, decência e inteligência? Há algum
político francês que sabe do que fala? Há alguém que se importa com o que diz algum
político francês? Existe político francês que não venere o estado?
RESPONDER


Luiz 27/09/2013 17:36
Excelente texto, claro e acessível ao entendimento de qualquer um. Continue assim!!!
Deixo a sugestão para você escrever sobre a bolha imobiliária brasileira, que principalmente
depois da recente visita e declarações de Robert Shiller sobre o mercado de imóveis
brasileiro, tido como profeta da crise das hipotecas nos Estados Unidos, virou assunto da
moda.
Virou moda comparar a bolha da crise americana com a brasileira.
Daria outro excelente texto.
RESPONDER


Rodrigo Moura 27/09/2013 18:36
Já feito.
Aqui:

www.mises.org.br/Article.aspx?id=611 (fevereiro de 2010)

www.mises.org.br/Article.aspx?id=1347
RESPONDER


anônimo 27/09/2013 19:27
Leandro, parabéns pelo artigo, muito esclarecedor.
Fiquei com uma dúvida que gostaria que me esclarecesse, se possível:
Quando um banco concede um empréstimo, eu achava que saía dinheiro do caixa e ia para a
conta clientes, ou seja, movimentação apenas no Ativo do banco. Pelo que você disse, é
criado um ativo e também um passivo. Em que conta do passivo entra esse valor, ou seja,
para quem o banco fica devendo? Você pode explicar melhor?
Grato desde já!
RESPONDER


Leandro 27/09/2013 19:45
Anônimo, imediatamente após o banco criar o crédito (por exemplo, $1.000), haverá duas
entradas em seu balancete: $1.000 no lado dos ativos (crédito concedido) e $1.000 no lado
do passivo (conta-corrente aberta).

Porém, assim que o tomador de empréstimo gastar seu dinheiro, o valor criado na conta-
corrente (passivo) cai para zero e o total de reservas (ativo) deste banco será subtraído deste
mesmo valor.

Ou seja, haverá agora apenas uma entrada na coluna de ativos escrita "ativos a receber".

Quando o empréstimo é quitado, o principal ($1.000) volta para as reservas bancárias e o


juro cobrado vai para o capital do banco.

Abraço!

P.S.: na prática, a redução das reservas raramente ocorre, pois ao mesmo tempo em que o
banco A expande o crédito e perde reservas para o banco B, o banco B expande o crédito e
perde reservas para o banco A.

Sugiro fortemente a leitura deste artigo:

www.mises.org.br/Article.aspx?id=1387
RESPONDER


Matheus Cabizuca 27/09/2013 22:46
Sugiro a leitura desse artigo, "A Criatura da Ilha Jekyll"
www.espada.eti.br/fed.asp
O real motivo para a criação desenfreada de todo esse dinheiro é o poder. Eles sabem muito
bem o que estão fazendo.
RESPONDER


IRCR 27/09/2013 23:15
Leandro,

Existe algum criterio para o governo emitir titulos de divida ? ele pode emitir quantos quiser
e o BC comprar todos eles ?
Quanto a titulos privados...??? seria como as reservas dos bancos estarem se esgotando
devido a uma alta demanda por credito, ai o BC injetaria dinheiro nos bancos utilizando
operações open market, porem no caso do BCE seria utilizado a janela de redesconto que
implicaria em emprestimos com os bancos certo ?
RESPONDER


Leandro 27/09/2013 23:33
"Existe algum critério para o governo emitir títulos de divida?"

Nos EUA, vira e mexe, o governo está às voltas com a elevação do teto da dívida (isto está
acontecendo neste exato momento), pois lá há, em teoria, um limite máximo, o qual é
continuamente elevado. Aqui no Brasil não há nem isso. Portanto, a resposta, na prática, é
não.

"ele pode emitir quantos quiser"

Sim.

"e o BC comprar todos eles ?"

Calma. O BC não pode comprar títulos diretamente do Tesouro. Apenas os bancos podem
fazer isso. O BC compra títulos públicos em posse dos bancos, mas ele não pode comprar
títulos diretamente do Tesouro. Por favor, ouça os primeiros minutos do meu último podcast,
que fala justamente sobre isso.

Em todo caso, sim, o BC pode comprar do sistema bancário todos os títulos que quiser.

"Quanto a titulos privados...??? seria como as reservas dos bancos estarem se esgotando
devido a uma alta demanda por credito, ai o BC injetaria dinheiro nos bancos utilizando
operações open market, porem no caso do BCE seria utilizado a janela de redesconto que
implicaria em emprestimos com os bancos certo ?"

Não entendi muito bem o que "títulos privados" está fazendo neste parágrafo, que ficou
meio confuso. Excetuando-se esse detalhe, todo o resto que você escreveu está correto.
RESPONDER


IRCR 27/09/2013 23:51
Obrigado Leandro,

Eu sei que o BC nao compra direto com o governo, apenas não deixei claro isso.
Então como que funciona esses titulos privados ? como seria seu funcionamento ? desculpe
minha ignorancia.
RESPONDER


Leandro 28/09/2013 00:06
Desculpe-me, mas a exatamente o que você se refere quando diz "títulos privados"? Olhei
aqui nos comentários e em momento algum escrevi isso.

Você por acaso está se referindo aos títulos hipotecários citados no artigo? Se sim, o fato é
que o Fed pode comprar qualquer ativo em posse dos bancos. Absolutamente qualquer ativo.
RESPONDER


IRCR 28/09/2013 01:24
Leandro,

Desculpe, queria dizer divida privada que os BCs compram, o que seriam ? e como seria seu
mecanismo ?
No caso de titulos hipotecarios, o proprio QE serve para compra-los dos bancos certo ?
Entao nao seria absurdo algum dizer que o dolar está sendo lastreado em ativos toxicos ?
RESPONDER


Leandro 28/09/2013 04:19
Creio que você esteja se referindo a este trecho: "todo o dinheiro existente está lastreado
tanto em dívida pública (quando criado pelo Banco Central) quanto em dívida privada
(quando criado pelo sistema bancário de reservas fracionárias)."

Dívida privada é todo e qualquer empréstimo concedido pelos bancos a empresas ou pessoas
físicas. Se eu vou ao banco e peço um empréstimo, há a criação de uma dívida privada. Se
uma empresa vai ao banco e pede um empréstimo, há a criação de uma dívida privada.

Já dívida pública é quando o governo emite um título e o sistema bancário compra esse
título. Nesse caso, há a criação de uma dívida pública.

Portanto, esclarecendo a frase em questão: Quando o BC cria dinheiro eletrônico e compra


títulos públicos que estão em posse dos bancos, o dinheiro criado desta forma está lastreado
em dívida pública. Quando os bancos criam dígitos eletrônicos (por meio do sistema
bancário de reservas fracionárias) e concedem empréstimos a pessoas físicas ou jurídicas, o
dinheiro criado desta forma está lastreado em dívida privada.

Espero que agora esteja mais claro.

Quanto às suas duas últimas perguntas, a resposta é sim.


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IRCR 28/09/2013 05:58
Leandro obrigado de novo,
No caso como o dinheiro criado pelo FED esta estocado nas reservas dos bancos (por isso
que nao ocorreu nenhuma grande inflaçao até o momento) não sendo usado para
emprestimos... como que esse dinheiro "estimularia" a economia como acredita o FED para
reduzir o desemprego ? ou o QE seria apenas uma desculpa do FED para dar dinheiro para
banqueiro ? hehe

No caso da divida americana, qual seria a soluçao ? subir o teto e deixar rolando a divida
infinitamente ? imprimir mais dolares ? arrecadar mais imposto da população ? ou
simplesmente deixar o governo quebrar ?

Cada vez estudando mais os preceitos da EA dá para entender que o arranjo de governos
inchados, bancos centrais, bancos com reservas fracionarias é altamente instável. E que a
melhor soluçao seria um minarquismo ou até mesmo um anarco capitalismo, sem bancos
centrais e bancos com 100% de caixa. heheh
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Eduardo 28/09/2013 11:50
Eu aqui esperando um artigo do Leandro, que há tempos não estava aparecendo...
Do nada o cara nos traz essa pérola.
Parabéns, cara.
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samir 28/09/2013 17:19
Parabéns pelo artigo, muito bem fundamentado!
obrigado!
att;
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Charles 29/09/2013 08:47
Deixa ver se eu entendi: no fim das contas, os que mais se foderam foram os caras da AIG,
que tomaram um golpe do governo.

No fim de tudo,o governo acabou por enriquecer os bancos dando-lhes suporte com verbas
públicas, para tentar controlar a crise... e ficou por isso mesmo já que os bancos não fizeram
e provavelmente não jogarão essa grana no mercado fazendo uma expansão de crédito...

Mas minha pergunta é: esse sistema irá se sustentar desse modo a longo prazo?

o que irá ocorrer se o FED manter esse sistema?


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Diego 29/09/2013 17:32
Caro Leandro,

No mercado falta um livro definitivo sobre "história monetária e financeira do Brasil". Você
deveria escrevê-lo, cara! Talvez com a co-autoria de outros aqui, mas com certeza você é o
ideal para escrever essa obra.

Abraços
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joao 30/09/2013 16:08
Boa tarde, alguém conseguiria explicar este artigo?
www.infomoney.com.br/minhas-financas/imoveis/noticia/2968246/nao-evidencias-bolha-
imobiliaria-brasil-diz-estudo
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Pedro Ivo 03/10/2013 13:42
João, leia os seguintes artigos: Em que ponto do ciclo econômico está a economia
brasileira?, O início do fim da bolha imobiliária? e Tendências da economia brasileira -
números e gráficos . Por meio deles acho que você pode esclarecer suas dúvidas

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Emerson Luis, um Psicologo 30/09/2013 18:10
Muito esclarecedor!

***
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Luciano 30/09/2013 22:33
Caro Leandro

Excelente artigo, como sempre. Acaba de sair a notícia da elevação do teto de financiamento
para o SFH, subiu para R$ 750.000,00 ( 650.000,00 em algumas regiões)e aumento do
percentual a ser financiado para 90% do valor. Na última vez que isto ocorreu, em 2009,
colaborou para mais quatro anos de elevação nos preços dos imóveis no Brasil. As notícias
que temos visto nos últimos meses sugere uma acomodação de preços e uma queda na
velocidade de venda dos imóveis. Esta medida pode ser suficiente para reativar o mercado
residencial? Me parece que a renda da população já está bastante comprometida e os bancos,
principalmente públicos, já um pouco alavancados. Isto poderia reinflar a bolha brasileira?
Como você vê esta situação?

Um abraço
Luciano
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Pedro Ivo 03/10/2013 12:23
Pergunta ao Leandro Roque: [1] o que são as áreas destacadas em cinza nos gráficos?

Pergunta ao Leandro e ao Hélio Beltrão:[2] Sobre o excesso de reservas dos bancos,


depositadas junto ao Fed.: você vê algum cenários de os bancos desaguando este dinheiro,
não na economia dos EUA, mas do mundo, iniciando uma(s) nova(s) bolha(s). Percebo que
não é plausível façam isto nos EUA porque os próprios banqueiros não querem inflação
galopante em casa. Mas, suponho, como eles terão de agir com este dinheiro em algum
momento, espraia-lo mundo afora pode ser uma opção? Exportar parte da inflação? Por ex.,
comprar ativos em bolsas de valores ao redor do mundo; ou iniciar uma bolha na abertura de
empreendimentos de longo prazo, como minas, florestas privadas manejadas, industria
pesada, etc., aproveitando a sinalização equivocada que a taxa de juros baixa coloca sobre a
viabilidade destes empreendimentos?
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Leandro 03/10/2013 12:58
1) Recessões. (Está escrito na parte inferior do gráfico. "Shaded areas indicate US
recessions")

2) Não tenho a mínima ideia. Quem tiver alguma ideia, apostar nela e se mostrar correto,
fica rico.
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Lucas 05/10/2013 01:15
Bom artigo. Já assisti dois filmes a respeito da crise do sub prime estado unidense. "Too Big
to fail" que é um lixo total e "Inside Job" que é praticamente seu artigo em forma de
documentário, recomendo.
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Gabriel 15/10/2013 13:18
Leandro, uma pergunta meio tosca. Vi um texto do Rothbard em que ele falava que o
foverno é o único capaz de inflacionar a moeda por meio do banco central que falsifica
moeda. Tudo bem, entendo essa parte, o que eu não entendo é o seguinte: uma das soluções
para a inflação que ele fornece é que o governo pare de reduzir por lei as reservas mínimas
exigidas dos bancos. Eu posso estar enganado, mas acho que só existe uma reserva mínima
por que o BC autoriza os bancos a criarem dinheiro do nada. Se o banco empresta meu
dinheiro a outra pessoa e eu não perco acesso a este dinheiro então houve criação de
dinheiro do nada. Então os bancos também criam dinheiro do nada. O que mais me assusta
se meu raciocínio estiver certo é o fato de que o que os bancos fazer é uma falsificação
tremenda. Se eu não posso imprimir dinheiro para emprestar para meu vizinho e lucrar com
isso, por que diabos os bancos podem? Enrolei muito mas o que quero saber é se meu
raciocínio está certo, se os bancos realmente criam seu próprio dinheiro e aumentam suas
reservas na sacanagem mesmo.
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Leandro 15/10/2013 14:20
"uma das soluções para a inflação que ele fornece é que o governo pare de reduzir por lei
as reservas mínimas exigidas dos bancos."
O que ele quis dizer é que o Banco Central deveria parar de reduzir a taxa do compulsório.
Sempre que o BC reduz o compulsório, o sistema bancário de reservas fracionárias está
liberado para criar mais dinheiro do nada.

E sim, é isso mesmo que os bancos fazem: criam dinheiro do nada. Algo que se você e eu
fizéssemos nos levaria para a cadeia, os bancos fazem com a total chancela do governo.

Todo este processo foi explicado em plenos detalhes neste artigo, cuja leitura recomendo
fortemente:

www.mises.org.br/Article.aspx?id=1387
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Gabriel 15/10/2013 14:30
Eu até já estou com esse artigo impresso, esse e outro seu sobre inflação. Minha duvida era
se poderia mesmo culpar os bancos tanto quanto culpo o BC. Parece que no fim das contas
todos são culpados do mesmo crime. O texto a que me referi está no livro "A Grande
Depressão" e me deixou uma dúvida, sob o padrão ouro é possivel acontecer este tipo de
fraude?
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Leandro 15/10/2013 14:34
Bancos e Banco Central trabalham em conjunto. O BC existe justamente para cartelizar o
sistema bancário, para protegê-lo de insolvências e para coordenar toda a expansão do
crédito de maneira segura e harmônica, evitando que um banco concorra "predatoriamente"
contra os outros.

Sim, é possível bancos praticarem reservas fracionárias sob um padrão-ouro. Mas, sob este
arranjo, eles terão apenas de torcer para que não haja nenhuma corrida bancária, uma vez
que não é possível imprimir ouro.
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Henrique Lourenço 18/10/2013 14:53
Obrigado por esta explanação Leandro, não havia lido nenhuma que expusesse os fatos sem
moldá-los com ideologias.

Parabéns!
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Pedro 19/10/2013 19:51
Leandro,
surgiu uma dúvida:
Uma auditora fiscal chamada Maria Lucia Fatorelli, responsável por uma organização
chamada "auditoria cidadã da divida" afirma que uma das causas da crise de 2008 foi uma
desregulamentação do mercado financeiro ocorrida em meados da década de 90, que
permitiu aos bancos lançarem desenfreadamente títulos derivativos no mercado,
possibilitando o processo de alavancagem ad infinitum.
No seu artigo você cita a questão das agências de classificação de risco como responsáveis
por dar classificação máxima aos derivativos, mas segundo ela, o mercado financeiro era
mais regulamentado e não permitia tao facilmente o processo de alavancagem.
Gostaria de saber se tem fundamento apontar desregulamentação do setor bancário para que
estes comprassem derivativos com mais facilidade, pois no seu texto parece ter ficado claro
que foi justamente a regulamentação a principal causa da crise. Ela também não deu maiores
esclarecimentos de quando e como ocorreu essa desregulamentação. Fiquei meio confuso.
Agradeço desde ja!
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Leandro 20/10/2013 04:13
Confusão básica e, infelizmente, muito comum. Ela confundiu causa com consequência.

O que causa ciclos é a expansão do crédito, e não a criação de derivativos. Os derivativos


americanos surgiram em consequência da expansão do crédito. Eles não causaram a
expansão do crédito, mas sim foram uma criação oriunda da expansão.

E o que possibilitou a expansão irrefreada do crédito, bem como sua concessão para pessoas
com histórico creditício para lá de duvidoso, foram todos os mecanismos citados no texto:
Fannie e Freddie, decreto CRA, pressão do governo para a concessão de crédito para pessoas
discriminadas etc. Derivativos de crédito foram simplesmente o condutor que fizeram com
que todos esses investimentos e empréstimos ruins parecessem menos arriscados do que
realmente eram. Sem a expansão do crédito, derivativos seriam inócuos.
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Carlos P.Samanez 04/11/2013 04:07
Um dos melhores artigos que já li sobre a crise das subprime.

Você respondeu a um comentário: " No atual arranjo financeiro e monetário, são os bancos
que comandam as oscilações da economia. Economista que não dedica seus estudos à real
operação de um sistema bancário estará completamente perdido, falando coisas sem sentido
como "Banco Central controla PIB nominal e afins".

Colocação perfeita e real. Os jovens economistas deveriam passar a conhecer melhor o


funcionamento do sistema bancário e as finanças. Infelizmente, tem muito curso de
economia que não tem disciplina específica que ensine aos jovens estudantes o mínimo
indispensável. Falar a esses economistas sobre Securitização ou "Default Credit Swap" é
falar coisas ininteligíveis para eles.

Grande abraço

C.P.Samanez, Ph.D
PUC-Rio e FCE-UERJ
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Leandro 04/11/2013 10:55
Prezado Carlos, na economia neoclássica que é ensinada nas universidades -- inclusive aí na
PUC-RJ -- o setor bancário nem sequer é mencionado nos modelos. É como se bancos
simplesmente não existissem, não gerassem efeito nenhum sobre a economia e não tivessem
a mais mínima importância para nada.

Não é à toa que economistas neoclássicos são incapazes de prever -- e de explicar --


oscilações na economia.

Obrigado pelas palavras e grande abraço!


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Carol 14/11/2013 11:39
Afinal, essa crise foi financeira ou econômica, pois sempre ouço falar a crise econômica?
Estou fazendo um artigo sobre ela, e queria entendê-la melhor.
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Leandro 14/11/2013 11:52
O termo "crise econômica" não é do meu agrado porque é muito inconcluso e dá margem a
várias interpretações um tanto, digamos, catastróficas e espalhafatosas. Crise econômica
ocorreu na Argentina em 2001 e está ocorrendo agora na Venezuela. Mas não é o que ocorre
nos EUA.

O que ocorreu nos EUA foi que os bancos fizeram uma expansão desvairada do crédito e
geraram uma bolha, a qual inevitavelmente tinha de estourar e gerar uma recessão. Porém,
quando esta bolha estourou e gerou a recessão, ela gerou também uma crise financeira, pois
os bancos ficaram descapitalizados.

Crise financeira, portanto, é um termo mais acurado.


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Levao Thomaz 15/11/2013 03:32
Leandro, parabéns pelo artigo. Sua didática e linha de raciocínio é formidável. Minha
formação é Engenharia Civil e, Depois que conheci o site através do MSM, passei a me
informar mais sobre economia; ciência que em mãos erradas pode fazer um belo estrago
numa nação. Outrossim, vejo que já corre o cavalo vermelho do apocalipse: vermelho do
sangue derramado de milhões por onde ele passou, o qual já vem galopando há 100 anos e
empunhando sua bandeira de mesma cor e, eis que agora - há 12 anos - capturou o Brasil.

Minha dúvida é: O congresso americano teve que subir o teto da dívida em 2011, ou então,
os EUA entrariam também no hall dos caloteiros.
Lembro que no dia 2 de agosto de 2011 eles subiram o teto em alguns trilhões de dólares
(acho que 3 + ou-). Recordo também que foi dito na época que esse anabolizante econômico
duraria pelo menos uns 4 anos, entrementes não durou mais que 2 anos e 2 meses.

Pois bem, diante do arranjo em que estamos: FED imprimindo mais dinheiro, inflando o
balão mais ainda... é provável que essa subida de teto da dívida dure menos que a vez
passada, ou seja, se a outra estava prevendo uma folga de 4 anos e ficou em 2, dessa vez
pode ser em apenas um ano e, quando for subir de novo o teto, quem sabe dure só 6 meses e
assim vai até que suba teto todo dia (sic).
Ora, essa situação é insustentável, estando quase naquela situação de vender o almoço para
comprar a janta.
Minha pergunta é: não estaríamos a beira de um colapso total do sistema financeiro mundial
com a falência dos EUA num prazo de aproximadamente 2 anos com base nessa subida de
teto da dívida em prazos cada vez menores?
Abraços.
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Letícia 06/01/2014 15:06
Caro Leandro,
Conheço o site há dois meses, e sou curiosa em economia depois de descobrir Olavo de
Carvalho. Levando em conta esta curiosidade repentina, sou grata pela clareza dos teus
artigos que, não só para uma iniciante e leiga como eu, assim como para qualquer
especialista são muito úteis. Obrigada pelas luzes! Abraços.
RESPONDER


Leandro 07/01/2014 13:53
Muito obrigado pelas palavras e pelo incentivo, prezada Letícia. Grande abraço!
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Vive la liberté! 21/02/2014 19:27
Reli o artigo hoje e vários comentários.
Concordo com a maioria aqui: os artigos escrito pelo Leandro são simplesmente fantásticos.
São, de longe, os que eu mais gosto de ler nesse site.
Parabéns.
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Bruno Rodrigues 02/05/2014 18:17
O texto é excelente, a não ser pelo fato de omitir um detalhe: o FED é privado, não estatal.
Um blog alemão mostra como funciona a instituição:

alles-schallundrauch.blogspot.com.br/2011/11/die-fed-ist-eine-privatfirma-die.html
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Leandro 02/05/2014 19:44
Não. Essa afirmação sobre o Fed ser privado não é totalmente correta.

O presidente do Fed é apontado pelo presidente americano, e a autoridade do Fed é derivada


do Congresso americano, o qual tem poderes de supervisão sobre o Fed -- embora não tenha,
em tese!, poderes sobre a política monetária que este adota.

Ademais, o presidente do Fed, após ser escolhido pelo presidente americano, precisa ser
aprovado pelo Congresso.

É também o governo quem determina os salários de alguns dos funcionários do alto escalão
do Fed.

Nesse sentido amplo, o Fed é estatal.

Agora, o Fed é "privado" em dois sentidos:

1) Suas 12 sucursais (Boston, Nova York, Filadélfia, Cleveland, Richmond, Atlanta,


Chicago, St. Louis, Minneapolis, Kansas City, Dallas e San Francisco) são geridas
privadamente (é como se as sucursais do Banco Central no Rio, em São Paulo, Belo
Horizonte, Fortaleza etc. tivessem gerência privada). Mas elas apenas obedecem às ordens
do Fed de Washington, que é quem manda em todo o sistema.

2) O Fed como um todo não sofre qualquer auditoria política. Trata-se de uma caixa-preta
mais impenetrável que a CIA.

Por fim, vale ressaltar que a autorização para o Fed funcionar foi concedida pelo congresso
americano no Federal Reserve Act de 1913. Logo, tecnicamente, a existência legal do Fed
também depende do governo.
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anônimo 21/05/2014 19:50
No livro "Moeda, Crédito Bancário e Ciclos Econômicos" Jesus Huerta de Soto fala sobre a
constante fraude que os bancos cometem ao violar a obrigação de manter a guarda do valor
depositado. Mas eu me pergunto: quando nós abrimos uma conta em um banco, não está
escrito em um contrato que o banco irá utilizar o dinheiro para empréstimos?
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joao marcelo 22/05/2014 20:17
Então imprimir dinheiro causa bolha e não inflação? não entendo como uma "farra" de
impressão de moeda consegue causa uma bolha enquanto o país está sem nenhuma inflação.
Porque as outras bolhas não causaram uma crise desse tamanho? Muitos outros países
fizeram esse tipo de política em um nível muito maior e nada ocorreu.
Mais do que isso, essas agencias não erraram somente seguiram o modelos matemáticos de
calculo de risco para dar essas notas. Onde está os estudos sobre o saneamento do sistema
financeiro que dizia que alguns bancos podiam quebrar.
Não adianta tudo estava perfeito. O governo tomou certas atitudes que ajudaram na crise
porem sempre com o aval de economista neo-liberais que desenvolviam modelos
matemáticos onde tudo estava perfeito. Diziam que o sistema poderia sobreviver a quebra de
alguns bancos. Diziam que os ativos eram seguros. Quando tudo veio abaixo eles passaram a
culpar o governo e a sua teoria econômica ficou sem ter nada para dizer.
A questão assim não é saber o que causou a bolha e sim porque ela causou a depressão.
Bolha ocorre sempre. Crise economica só ocorre quando depois de uma revolução
tecnologica!!
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Leandro 22/05/2014 22:19
"Então imprimir dinheiro causa bolha e não inflação?"
Em primeiro lugar, uma bolha é justamente um aumento rápido e excessivo de preços.
Portanto, uma bolha é, por definição, uma inflação de preços, só que localizada em apenas
alguns poucos setores (aqueles para onde o dinheiro recém-criado está fluindo).

Não faz sentido você diferenciar esses dois conceitos (bolha e inflação de preços) como se
fossem opostos.

"não entendo como uma "farra" de impressão de moeda consegue causa uma bolha
enquanto o país está sem nenhuma inflação."

De onde você tirou "nenhuma inflação"? Tanto a inflação de preços dos imóveis e dos
materiais de construção quanto os salários de toda a mão-de-obra envolvida com o setor
imobiliário (do arquiteto ao peão, do engenheiro ao mestre de obras) dispararam. Mas como
tais itens não entram no cálculo do CPI (que é o IPCA deles), o Fed não se importou.

Isso foi explicado no artigo.

"Porque as outras bolhas não causaram uma crise desse tamanho?"

Porque "nas outras bolhas" (não sei bem a quais outras bolhas você se refere, mas tudo bem)
a expansão do crédito não foi tão acentuada e nem a exposição dos bancos a devedores que
deram calote foi tão ampla.

"Muitos outros países fizeram esse tipo de política em um nível muito maior e nada
ocorreu."

Cite exemplos e mostre que tais exemplos de fato praticaram "esse tipo de política em um
nível muito maior". Apenas dizer generalidades não é uma postura intelectual correta.

"Mais do que isso, essas agencias não erraram somente seguiram o modelos matemáticos
de calculo de risco para dar essas notas."

Utilizar matemática para prever os resultados da ação humana é algo impossível de dar
certo. Os economistas austríacos sempre alertaram para isso, e a prática sempre os
confirmou (por exemplo, LTCM em 1998).

"Onde está os estudos sobre o saneamento do sistema financeiro que dizia que alguns
bancos podiam quebrar."

Nenhum economista convencional os apresentou. Apenas economistas marginalizados e que


apareciam apenas em rápidas entrevistas na televisão fizeram esses alertas. (Veja aqui um
exemplo).

"O governo tomou certas atitudes que ajudaram na crise porem sempre com o aval de
economista neo-liberais que desenvolviam modelos matemáticos onde tudo estava perfeito."

Esses economistas que utilizam planilhas para prever os resultados da ação humana são
diariamente fustigados neste site (veja aqui, aqui, aqui).

Você está atacando um inimigo em comum, embora acredite piamente que está nos
atacando.
"Diziam que o sistema poderia sobreviver a quebra de alguns bancos. Diziam que os ativos
eram seguros. Quando tudo veio abaixo eles passaram a culpar o governo e a sua teoria
econômica ficou sem ter nada para dizer."

Concordo. Já passou da hora de mandarmos para a lata do lixo essas teorias econômicas
insensatas -- que ignoram coisas básicas como expansão do crédito, endividamento, taxa de
juros e, acima de tudo, a praxeologia -- e os cabeças-de-bagre que as defendem (como Paul
Krugman, que era um dos que jurava que estava tudo perfeito e que havia sido um ardoroso
defensor da criação de uma bolha imobiliária para combater a recessão de 2001).

"A questão assim não é saber o que causou a bolha e sim porque ela causou a depressão."

Explicado em detalhes no artigo. O estouro da bolha levou a calotes que levaram a uma total
insolvência do sistema bancário, o que paralisou o mercado de crédito. Você deveria ler o
artigo.

"Bolha ocorre sempre. Crise economica só ocorre quando depois de uma revolução
tecnologica!!"

Essa é nova. Desenvolva-a, por favor.


RESPONDER


antonio madeira pacheco 18/07/2014 04:38
Parabéns pelo artigo. Se possível, gostaria de explicações referentes a crise de 29. Vi que
vocês são contra o intervencionismo governamental. Tudo que li até hoje sobre a tragédia
diz que foi graças a uma ação do governo que situação foi superada. Gostaria de um
comentário nesse sentido.
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Leandro 18/07/2014 12:19
Há um farto material específico sobre a Grande Depressão neste site.

Eis aqui um compêndio de artigos específicos a respeito:

www.mises.org.br/Subject.aspx?id=37

Porém, podemos resumir toda a encrenca da seguinte maneira:

A crise de 1929 começou a ser gestada em 1924, quando o Fed começou uma agressiva
política de expansão monetária. Os resultados dessa expansão foram notáveis, como
comprovam os índices da bolsa de NY e os preços dos imóveis em todo o país.

Ainda no final de 1928, o Fed começou a reverter e adotar uma política contracionista. Em
1929, começaram as consequências dessa mudança de postura do Fed.

O primeiro sinal dessa interrupção da expansão monetária foi a brusca queda no valor das
ações. Como o crédito agora estava caro, a especulação havia diminuído sensivelmente, o
que afetou sobremaneira os preços das ações. Várias pessoas que haviam tomado
empréstimos para especular começaram a dar calotes nos bancos.

Por sua vez, os bancos — que praticavam reservas fracionárias — começaram a restringir
empréstimos e a pedir a quitação de empréstimos pendentes.

As pessoas se assustaram com a situação e, temendo quebras bancárias, correram para sacar
seu dinheiro dos bancos. Por causa das reservas fracionárias, isso gerou uma série de
falências bancárias. Essas falências bancárias geraram uma forte contração na oferta
monetária — consequentemente, uma recessão.

Tal recessão não precisaria durar mais de um ano caso o governo americano permitisse
ampla liberdade de preços e salários, de modo que estes se adequassem à nova realidade da
oferta monetária. Mas ele não permitiu. Mesmo keynesianos ortodoxos hoje já reconhecem o
fracasso do New Deal, que nada mais foi do que um conjunto de políticas de controle de
preços, controle de salários, aumento das tarifas de importação, aumento de impostos,
aumento de gastos, aumento do déficit, e de arregimentação sindical e de empresários
incentivados pelo governo a não reduzirem seus preços.

Resultado: a recessão foi prolongada por 15 anos.


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anônimo 18/07/2014 16:50
A expansão monetária que está sendo feita através do Quantitative Easing vai gerar uma
recessão pior que a de 2008 no futuro? E vai estar acompanhada de uma crise nas finanças
publicas porque quando os juros subirem, rolar a dívida de quase 18 trilhões será
insustentável no atual padrão de gastos governamentais?
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Mauricio 08/08/2014 03:12
1) As duas coisas. Houve um intervencionismo que desregulamentou o sistema financeiro.
Fannie e Freddie foram usadas para contornar a regulamentação de bancos contra aumento
excessivo de alavancagem (proporção entre ativo e patrimônio líquido).
Em um primeiro momento, o social ficou acima do econômico (esquerdismo). Todo o
dinheiro usado para manter a integridade do sistema financeiro foi desviado para a
compra/construção de casas.
Em um segundo momento, o monetário ficou acima do econômico (direitismo). Os bancos
foram socorridos pelo Fed, que agora ganham dinheiro diretamente do Banco Central, sem
nenhum incentivo à produção.

2) A teoria diria mais temerário, e foi o que aconteceu com Fannie e Freddie. Os bancos, por
outro lado, preferiram ficar ganhando 0,25%/ano do Banco Central.

3) Sem o Fed para limpar a sujeira, o estrago teria sido pior. Mas sem a intervenção que
desregulamentou tudo, talvez não houvesse sujeira a ser limpada em primeiro lugar.

No fim, surgiram muitas casas para a população e os banqueiros estão ganhando dinheiro.
Só ignore quem infartou durante o passeio forçado pela montanha russa da criação e estouro
da bolha sub-prime.
Isso se chama Keynesianismo. Cava-se um buraco e depois tampa-se de novo. O buraco em
si não serve para nada, mas o simples fato de cavar e tampar de novo provoca um
crescimento econômico em volta do buraco.

No Libertarianismo, tenta-se ter o mesmo crescimento econômico, sem a necessidade do


buraco (intervenção) em primeiro lugar. Usando-se de mecanismos de mercado que
direcionam a economia diretamente para o ponto que necessita de crescimento.
O direcionamento direto é devido ao mercado ser movido diretamente pela população que
necessita do crescimento.
Quão bem os mercados funcionam do ponto de vista econômico depende do setor. As vezes
funciona, as vezes não.
Funcionando ou não, ainda existe um atrativo de liberdade pois a população atua
diretamente no rumo da economia e da sociedade.

Quando não funciona, regulamentação pode remediar. Quanta regulamentação é desejável é


onde libertários, liberais e totalitários tem opiniões distintas:

No Libertarianismo, quanto menos regulamentação, melhor. Se os mercados não


funcionarem, fica inteiramente a cargo da boa vontade das pessoas para remediar.

No Totalitarismo, liberdade é uma ameaça à quem está no poder, e quanto mais


regulamentação e menos liberdade, melhor. Funciona... para quem está no poder.

No Liberalismo, regulamentação pode ser boa se ajudar a proteger os mercados e a


liberdade, ruim se não. Se a regulamentação não funcionar, vira mais um Totalitarismo.
RESPONDER


DeusOdeia 18/01/2016 16:00
"No Liberalismo, regulamentação pode ser boa se ajudar a proteger os mercados e a
liberdade, ruim se não. Se a regulamentação não funcionar, VIRA MAIS UM
TOTALITARISMO"

.....E são os liberais que defendem o fim da democracia ?


RESPONDER


Jeosadá 01/10/2014 03:27
"Atualmente, os bancos de Wall Street operam em um regime de risco quase nulo: eles
fazem empréstimos hipotecários, revendem os títulos das hipotecas para o Fed, recebem o
dinheiro de volta (com um lucro), e ainda deixam boa parte deste dinheiro recebido do Fed
depositado no próprio Fed, que está pagando 0,25% ao ano sobre este montante."

Certo. Mas e qual é a possível previsão daqui pra frente?

O FED vai continuar inchando até dar um calote trilionário?


RESPONDER


Leandro 01/10/2014 03:47
Por aí. Não há previsão de o Fed se desfazer desses títulos, e na realidade nem tem como ele
se desfazer deles: a venda desses títulos não apenas iria gerar uma retumbante deflação da
base monetária, como também geraria um forte aumento da taxa básica de juros.
Portanto, a política a ser mantida será a mesma dos últimos 6 anos: ir empurrando com a
barriga.
RESPONDER


Fernando 06/06/2016 17:01
Leandro, por que o Mercado financeiro não se dá conta que o FED não tem o que fazer a
respeito da subida dos juros, pois se subir aquela sob o controle dele (FED) sera pior para o
mesmo? Como que toda essa gente com tanto dinheiro e informação não se dá conta disso e
insiste em criar turbulências nos mercados só de o pessoal do FED sinalizar subida dos
juros? quero entender isso.
RESPONDER


Leandro 06/06/2016 17:30
Não vejo dessa maneira.

Se o Fed subir os juros que paga sobre as reservas em excesso, o déficit do governo
americano tende a aumentar. Se isso ocorrer, o governo terá de vender mais títulos.
Consequentemente, os juros desses títulos -- principalmente os de prazo mais longo --
tenderão de subir.

Para alguns investidores, isso não é necessariamente ruim -- principalmente em um mundo


em que os juros estão ficando negativos nos países desenvolvidos. Os EUA se destacarem
com juros positivos em um mundo em que zona do euro, Suíça e Japão estão com juros
negativos é um ótimo negócio.

Se eu aplicasse em títulos americanos iria gostar desse cenário.


RESPONDER


Fernando 06/06/2016 18:43
Obrigado pela gentileza. Abçs
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Carlos Almeida 04/11/2014 13:25
Estou lendo há três dias e ainda estou na metade. Mas é tão bem explicado que desci a
página pra elogiar. Agora vou subir a barra de rolagem e gastar mais uns três dias. Obrigado!
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Carlos Almeida 06/11/2014 13:55
Ao autor do artigo:

Agora (que eu pensava ter entendido), vou ter que começar de novo a leitura de outro artigo
(o que levará outra semana). Veja, você mesmo recomendou a leitura de um artigo que diz:

"The recent rise in foreclosures is not related empirically to the distinction between
subprime and prime loans since both sustained the same percentage increase of foreclosures
and at the same time.
Nor is it consistent with the "nasty subprime lender" hypothesis currently considered to be
the cause of the mortgage meltdown. Instead, the important factor is the distinction between
adjustable-rate and fixed-rate mortgages. This evidence is consistent with speculators
turning and running when housing prices stopped rising."

Isso não contradiz o que você diz?

Ps: sou leigo.


RESPONDER


Leandro 06/11/2014 14:09
Não entendi. Por que seria?

Esse outro artigo diz que, na opinião de seu autor, o fator importante no aumento dos calotes
foi o aumento dos juros. Meu artigo também diz isso.

Esse outro artigo diz que, na opinião de seu autor, outro fator igualmente importante foi a
especulação, a qual era intensa quando havia crédito farto, e a qual arrefeceu tão logo o
crédito encareceu. Meu artigo também diz isso.

Não foi à toa que eu mesmo recomendei este outro artigo.


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Carlos Almeida 06/11/2014 14:58
Correto. Realmente há essas convergências em relação aos juros flutuantes, etc.

Porém o artigo do Independent sugere que a crise "não está relacionada com a distinção
entre os empréstimos prime e subprime, uma vez que ambos 'sustentaram' a mesma
proporção de 'foreclosures' e no mesmo período".

Ou seja, pelo que entendi, diz que não tem relação entre a crise e a diferença de renda dos
mutuários. Como sou leigo em Economia, posso ter cometido algum erro grave de
interpretação.

É a primeira vez que vejo alguém defender esse argumento e, de fato, a alteração nos juros
tendem a afetar principalmente os mutuários subprime (por indução eu digo isso).

O que você me diz? Está logo no resumo do artigo.

Obrigado
RESPONDER


Leandro 06/11/2014 15:23
Digo apenas que não estou entendendo nada do seu ponto.

Meu artigo não diz que a crise financeira foi causada exclusivamente por empréstimos
subprime, mas sim por toda uma bolha de crédito que foi inflada durante 7 anos e que foi
intensificada por várias leis e agências governamentais, as quais incentivavam empréstimos
direcionados para o setor imobiliário, muitos deles sem qualquer consideração para com o
histórico de crédito do mutuário.
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Carlos Almeida 06/11/2014 16:22
Veja, o seu artigo apresenta como argumento a forte relação entre os clientes
necessariamente subprime e a inadimplência.

"Políticos democratas utilizaram estas agências para garantir que minorias e pessoas de
baixa renda, sem nenhum histórico de crédito, conseguissem empréstimos para comprar a
casa própria. Estas seriam as mesmas pessoas que, como veremos mais abaixo, começaram a
dar calotes nos empréstimos."

Ficou claro no seu texto que essa NÃO foi a ÚNICA causa da crise. Há, porém, uma relação
direta entre as duas coisas. Já o artigo do Independent diz que não há qualquer relação entre
o fato de serem subprime e a inadimplência. É só o que estou perguntando, não estou
afirmando nada. Sou leigo.

Todas as pessoas (professores, jornalistas, blogueiros, cineastas) fazem essa mesma relação
(entre subprime e crise), e eu concordo absolutamente (por indução, claro). Só estou
questionando o fato de o artigo do Independent dizer que não há relação nenhuma entre os
subprime e a inadimplência: o artigo que seu artigo recomendou como fonte.

Se você ainda discorda que há ESSA relação no seu artigo e/ou ainda não entendeu o que
estou querendo dizer. Bem, peço desculpas e agradeço por suas resposta. Artigo excelente,
uma aula pra mim.

Abraço
RESPONDER


AGB 17/08/2018 23:15
No artigo reproduzido, o termo "sustained" significa "sofreram" ou "enfrentaram". Não quer
dizer "sustentaram".
RESPONDER


Fernando 14/11/2014 03:19
Com os bancos possuindo tantas reservas em excesso, faz alguma diferença efetiva a
manipulação da taxa de juros pelo FED? Não vejo por que os bancos recorreriam ao
mercado interbancário com essas reservas no valor de trilhões. Imagino que uma bolha
muito maior que a de 2008 esteja se formando nas ações e títulos públicos americanos e que
quando esta estourar, teremos um cataclisma financeiro global.
RESPONDER


Felipe R 24/11/2014 15:23
Artigo totalmente excelente. Pra mim, ficou claro que "deu tudo certo para dar errado". A
"divisão de trabalho" é visível: governo, especuladores, agências de classificação, fundos,
FED... todos com sua importante contribuição. Agradeço também pela indicação do texto
"Anatomy of a Train Wreck: Causes of the Mortgage Meltdown"; ainda estou lendo, mas é
uma análise bastante sólida sobre o fenômeno, assim como o trabalho do Leandro.

Faço um desafio de artigo ao autor: há uma desinformação que ainda circula nas rodas de
conversa sobre economia que vejo por aí. As pessoas afirmam (na verdade repetem a versão
do Governo Tupiniquim) que, no Brasil, a crise foi uma "marola", pois o Estado foi forte e
interferiu, enquanto que nos EUA faltou Estado. Já está claro que nos EUA houve Estado em
excesso (respondendo à primeira pergunta). É necessário agora derrubar o mito da solidez
brasileira. Caso já exista artigo na mesma linha, peço que desconsidere.

Por fim, deixo minha contribuição sobre o assunto (um impressionante "whistle blow" sobre
a crise).

www.rollingstone.com/politics/news/the-9-billion-witness-20141106?page=2

Abraço.
RESPONDER


Leandro 24/11/2014 15:50
"há uma desinformação que ainda circula nas rodas de conversa sobre economia que vejo
por aí. As pessoas afirmam (na verdade repetem a versão do Governo Tupiniquim) que, no
Brasil, a crise foi uma "marola", pois o Estado foi forte e interferiu, enquanto que nos EUA
faltou Estado."

Prezado Felipe, exatamente isso foi abordado neste artigo.

Grande abraço e obrigado pelas palavras.


RESPONDER


Felipe R 24/11/2014 18:58
Olá Leandro!

Por acaso, este artigo indicado por ti, eu li antes desse cuja área de comentários estamos
utilizando. Falhou minha memória. De fato, a resposta à minha solicitação está lá.
RESPONDER


Pedro Morais 01/01/2015 19:34
Leandro,os empréstimos do banco central concedidos aos bancos privados(considerando
altos valores,como no caso do banco central da Inglaterra) são norteados pelas taxas de
redesconto,isto é,pela impressão de dinheiro,aumento da base monetária, ou há algum lastro
neles,como títulos de divida do governo
RESPONDER


Leandro 02/01/2015 02:26
Sempre há um colateral. Normalmente, títulos da dívida do governo.
RESPONDER


Lous 04/01/2015 17:15
Hi Leandro, I did love your article, it is really helpful. Congratulations
Leandro I am from Uk, and I would love to know if you could provide me with the
references which you have used in your graphics, i have tried to find it but unfortunately I
did not have any success .. Thanks a lot
RESPONDER


Leandro 04/01/2015 20:00
Dear Lous, all the graphics can be found at the Federal Reserve Economic Data website:

research.stlouisfed.org/fred2/graph/.

You can choose amongst thousands of variables.

Thanks for the compliments. Cheers!


RESPONDER


Paulo RIck 25/02/2015 20:21
O FED não é um Banco Central, ele não pertencem ao Governo dos EUA.
RESPONDER


Rick Martin 25/02/2015 21:03
Tem razão. É uma nave espacial e pertence a Urano.
RESPONDER


Francisco Campos 16/03/2015 02:31
Leandro,

Fugindo um pouco da economia para a contabilidade: Com a padronização mundial das


normas de contabilidade - IFRS - alguns ativos passaram a ser avaliados pelo valor justo
(valor de mercado). A quem atribua a essa mudança a responsável pela crise.

1. Você acha que essa mudança foi responsável ou contribuiu para a crise?
2. Qual a posição da escola austríaca sobre o valor justo (valor de mercado) para a avaliação
de ativos?
RESPONDER


Leandro 16/03/2015 14:24
Na mosca.

Essa reforma contábil foi crucial para inflar as bolhas e para manter a expansão do crédito
em níveis irracionais. Como os ativos dos bancos passaram a ser continuamente reavaliados
pelo seu presente valor de mercado -- em vez de pelos princípios tradicionais --, tal truque
permitia que os bancos melhorassem seu capital e, consequentemente, pudessem incorrer em
novas expansões creditícias.

Até que chegou o momento em que o valor dos ativos despencou e os bancos
repentinamente se viram descapitalizados.

Esse artigo fala exatamente sobre isso:

mises.org/library/financial-crisis-failure-accounting-reform
RESPONDER


Henrique Borsatto de Campos 16/05/2015 16:45
Esse é um dos artigos mais bem-escritos e com mais base histórica e de dados bem-
justificada nesse site. Não bastava explicar a crise do ponto de vista laissez-faire, você
explicou cada aspecto dela e não deixou nada de fora: Nem o óbvio, e nem o mais difícil de
se inferir.

Parabéns, Leandro Roque.


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Leandro 05/06/2015 21:24
Obrigado pelas palavras simpáticas, Henrique. Grande abraço!
RESPONDER


Rodrigo 05/06/2015 20:08
Leandro,

Fiquei com uma dúvida referente a uma frase do seu artigo:

"Aqueles que não compravam com a intenção de revender passaram a utilizar suas casas
como um caixa eletrônico: sempre que o imóvel se valorizava, o indivíduo ia ao banco e,
utilizando o novo valor da sua casa como colateral, negociava um novo empréstimo para
gastar em bens de consumo, como carros e televisores de plasma."

Como que essa 2a hipoteca era realizada? O Banco nao exigia nenhuma garantia? Entendo
que para a compra do imovel, o governo definiu que as exigencias seriam minimas, como,
por exemplo, a nao necessidade de comprovar renda. Porem, para esta 2a hipoteca, onde o
valor solicitado ao banco nao era para uso de compra de imovel, mas sim para bens de
consumo, mesmo assim nao era solicitado algo que demonstrasse a capacidade de
pagamento? Como que o banco esperava que o cliente pagasse esta nova dívida?

Obrigado
RESPONDER


Leandro 05/06/2015 21:24
1) Você pede um empréstimo para comprar uma casa, que custa $ 1.000.000.
2) O banco lhe concede um empréstimo de $ 1.000.000.

3) Neste momento, você deve ao banco $ 1.000.000, e o banco tem sua casa -- avaliada em $
1.000.000 -- como garantia caso você dê o calote.

4) O tempo passa e sua casa se valoriza, passando a valer, suponhamos, $ 1.300.000

5) Neste ponto, você deve ao banco $ 1.000.000, mas a sua casa, que o banco tem como
colateral, já vale $ 1.300.000.

6) Ato contínuo, dado que o seu colateral junto ao banco ($ 1.300.000) vale mais que o seu
passivo junto ao banco ($ 1.000.000), você pode ir ao banco e pedir mais $ 300.000 de
empréstimos, de modo a fazer com que seu colateral volte a ficar igual ao seu passivo.

7) É uma medida idiota? Se você tem a certeza de que os preços dos imóveis irão subir
eternamente -- e essa era uma política explicita do governo americano --, então ela é até bem
sensata. Até o momento em que os preços dos imóveis começam a cair...

8) Se os preços do imóveis despencam, e sua casa passa a valer apenas, suponhamos,


$900.000, você está tecnicamente insolvente (no jargão utilizado pelos americanos, você
ficou "underwater"): sua dívida perante o banco continua em $ 1.300.000, mas seu colateral
só vale $ 900.000. Ou seja, mesmo que o banco execute a hipoteca e se aproprie de sua casa,
você continua devendo $ 400.000 para ele. E o próprio banco tomou prejuízo.

Todo mundo se estrepou.


RESPONDER


Rodrigo 05/06/2015 22:19
Entao neste caso, o banco não tem interesse se o indivíduo tem como pagar ou não? Para o
banco, só o que interessa é que, em ultimo caso, a casa será executada?
RESPONDER


Pobre Paulista 06/06/2015 13:23
Só não vai chamar o banco de malvado. O Mutuário sabia disso e aceitou as condições antes
de hipotecar sua casa.
RESPONDER


Leandro 06/06/2015 23:53
O colateral serve justamente para isso: é a garantia contra calotes. E se o colateral está
subindo de valor, tanto melhor para os bancos.
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Alexandre Cavalcanti 06/08/2015 17:53
Execelente é pouco para adjetivar o conteúdo deste artigo.

Att,
Alexandre Cavalcanti
RESPONDER


Mauricio 11/08/2015 00:49
Segue uma análise totalmente independente dos fatos levantados pelo artigo. A análise acima
do artigo diz que a crise começou em agosto/2007. Mas a seguir eu tentarei mostrar que ela
começou muito antes, em março/2003.

O que aconteceu em março/2003? A invasão do Iraque. As motivações que levaram à guerra


vou deixar de lado e focar apenas nas consequências dessa guerra.

A invasão provocou um atrito nas relações comerciais de importação/exportação de petróleo


no Oriente Médio. É possível ver o efeito disso acompanhando a cotação do barril de
petróleo desde março/2013 até o estouro da bolha em 2008.

O que a cotação do barril de petróleo tem a ver com o mercado imobiliário? A alta da
cotação implica em aumento de custos na indústria. Altas bruscas chegam a provocar
períodos de recessão. E recessões levam à alta do desemprego.
Se analisar os gráficos de juros, eles mostram reversão em meados de 2003.
Se analisar os gráficos de cotação do barril de petróleo e de desemprego, verá que a alta do
desemprego nos EUA coincide com o pico inédito de 2008 na cotação do barril do petróleo.

Desemprego leva à dificuldades financeiras e uma das medidas dos desempregados é dar
calote nos financiamentos. A alta da inadimplência é consequência da alta no desemprego.

Guerra -> alta do barril do petróleo -> ameaça de alta da inflação -> alta dos juros -> alta do
desemprego -> alta da inadimplência -> crise financeira

Tudo começou lá atrás em 2003, devido à um intervencionismo estatal/militar no Iraque.


RESPONDER


Leandro 11/08/2015 02:23
"O que aconteceu em março/2003? A invasão do Iraque. [...] A invasão provocou um atrito
nas relações comerciais de importação/exportação de petróleo no Oriente Médio. É
possível ver o efeito disso acompanhando a cotação do barril de petróleo desde março/2003
até o estouro da bolha em 2008."

Errou.

Você observou um fenômeno, mas o interpretou de maneira errada.

Sim, o petróleo encareceu, mas o petróleo encareceu não por causa da guerra. O petróleo
encareceu porque o dólar enfraqueceu.

Isso é algo básico: a relação entre força do dólar e preço das commodities (ouro, petróleo,
minério etc.) é inversa: quando o dólar enfraquece, as commodities encarecem. Quando o
dólar fortalece, as commodities barateiam.

Toda aquela conversa sobre crise do petróleo na década de 1970 foi pura enganação de
políticos: não era o petróleo que estava ficando escasso; eram as moedas, recém-
desacopladas do ouro, que perdiam poder de compra aceleradamente.

Tanto é que, nas décadas de 1980 e 90, o barril do petróleo despencou (dólar forte). E, na
década de 2000, disparou (dólar fraco). E agora voltou a cair (dólar forte). A cotação do
barril em ouro, no entanto, flutuou linearmente (procure o gráfico da cotação do barril de
petróleo em ouro).

Nunca houve crise na oferta de petróleo; a crise sempre esteve na moeda.

Veja o preço do barril em onça de ouro, de 1946 a 2013 (quando a série foi descontinuada
pelo Fed; não me pergunte por quê):

research.stlouisfed.org/fred2/graph/fredgraph.png?g=14SL

Aqui, a mesma série acima, só que começando em 1986 até hoje (sem ser descontinuada):

research.stlouisfed.org/fred2/graph/fredgraph.png?g=14SM

De novo: a queda do preço do petróleo é decorrente da valorização do dólar. Preço do


petróleo anda pari passu com o preço do dólar.

Todas as commodities são precificadas em dólar; sendo assim, sempre que o dólar está fraco,
os preços das commodities estão em alta, e vice-versa.

O boom das commodities (minério de ferro e petróleo) na década de 2000 foi


majoritariamente causado pelo enfraquecimento do dólar. E o atual "arrefecimento" das
commodities também está majoritariamente ligado ao fortalecimento do dólar. O gráfico do
dólar em relação ao ouro ilustra perfeitamente esse fenômeno.

"O que a cotação do barril de petróleo tem a ver com o mercado imobiliário? A alta da
cotação implica em aumento de custos na indústria. Altas bruscas chegam a provocar
períodos de recessão. E recessões levam à alta do desemprego."

De novo: você observou um fenômeno real, mas interpretou errado.

Sim, os custos subiram. Mas os custos subiram porque o dólar enfraqueceu. A consequência
do enfraquecimento do dólar foi o aumento dos preços de vários insumos e bens (petróleo,
ouro, imóveis etc.).

O aumento do preço do petróleo foi decorrência do enfraquecimento do dólar. A causa foi o


dólar fraco; a consequência foi o aumento do petróleo.

"Se analisar os gráficos de juros, eles mostram reversão em meados de 2003.


Se analisar os gráficos de cotação do barril de petróleo e de desemprego, verá que a alta
do desemprego nos EUA coincide com o pico inédito de 2008 na cotação do barril do
petróleo."

Errado. O ápice do desemprego ocorreu ao final de 2009, quando chegou a 10%. Nesta
época, o preço do barril de petróleo já havia desabado para US$ 60.

No que mais, em julho de 2008, quando a cotação do petróleo atingiu o máximo, o


desemprego, como mostra o gráfico no link acima, ainda estava abaixo de 6%.
Por fim, esse pico inédito do preço do petróleo coincide também com o pico de
desvalorização do dólar (o qual, em seguida, viria a ser superado em agosto de 2011).

"Desemprego leva à dificuldades financeiras e uma das medidas dos desempregados é dar
calote nos financiamentos. A alta da inadimplência é consequência da alta no desemprego."

Os calotes começaram em 2006, quando o desemprego ainda estava nas mínimas de 4,5%.

Sua teoria não é respaldada pelos dados.

"Guerra -> alta do barril do petróleo -> ameaça de alta da inflação -> alta dos juros ->
alta do desemprego -> alta da inadimplência -> crise financeira"

Há erros na ordem. Eis a ordem certa:

Guerra -> desvalorização do dólar -> alta do barril do petróleo, dos preços dos imóveis, e da
especulação imobiliária aditivada pelo crédito fácil (turbinando ainda mais a alta dos
imóveis) -> carestia crescente -> alta dos juros -> alta dos calotes -> descapitalização dos
bancos -> crise financeira -> desemprego.

"Tudo começou lá atrás em 2003, devido à um intervencionismo estatal/militar no Iraque."

Sim, a desvalorização do dólar começou lá atrás, em 2003. O dólar começou realmente a se


enfraquecer no início de 2003, com a guerra do Iraque. Antes disso, ele seguia robusto, não
obstante os baixos juros vigentes nos EUA.

Eu inclusive tenho a teoria de que o sucesso econômico de Lula está ligado à guerra do
Iraque: por causa da guerra, o dólar se enfraqueceu; o dólar fraco tornou a apreciação
cambial do real mais fácil; com o câmbio mais apreciado, as políticas de expansão de crédito
aqui no Brasil puderam durar por muito mais tempo sem gerar grandes pressões
inflacionárias.

Aliás, o próprio boom do minério de ferro está intimamente ligado ao dólar fraco. Como as
commodities são precificadas em dólar, sempre que o dólar está fraco, os preços das
commodities estão em alta, e vice-versa.

Lula deve à guerra do Iraque uma boa parte de sua popularidade. Estivesse o dólar forte
como estava nos governos Reagan e Clinton, não haveria a menor chance de as políticas de
expansão do crédito terem durado o tempo que duraram.
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anônimo 11/08/2015 09:45
'Toda aquela conversa sobre crise do petróleo na década de 1970 foi pura enganação de
políticos: não era o petróleo que estava ficando escasso; eram as moedas, recém-
desacopladas do ouro, que perdiam poder de compra aceleradamente.'

Leandro, muito obrigado por tirar nosotros da Matrix.


RESPONDER


Mauricio 11/08/2015 17:28
"Sim, o petróleo encareceu, mas o petróleo encareceu não por causa da guerra. O petróleo
encareceu porque o dólar enfraqueceu."

Há uma inversão de causalidade aqui. É a desvalorização da moeda que dita o desequilíbrio


da balança comercial ou é o desequilíbrio da balança comercial que dita a desvalorização da
moeda? Eu diria que é o segundo caso.

O Banco Central não faz nenhuma commodity se materializar do nada simplesmente por
valorizar a moeda, faz? Mas a escassez de commodities leva o Banco Central a desvalorizar
a moeda para reequilibrar a balança comercial.

Então: Guerra -> desestabilização das relações comerciais -> alta das commodities (petróleo
no caso) -> alta dos juros + desvalorização da moeda -> alta dos custos na indústria -> alta
do desemprego -> alta da inadimplência

Em paralelo: desvalorização da moeda + crédito fácil (que tem efeito contrário à alta dos
juros) -> alta da inflação dos imóveis

Juntando os 2: alta da inflação dos imóveis + alta da inadimplência -> montanha russa na
cotação dos imóveis -> crise financeira

Ainda acredito que a alta do desemprego ocorreu em paralelo ao mercado imobiliário.

A propósito, no gráfico de cotação do barril de petróleo em ouro, também houve alta da


cotação de 2003 a 2008. Em 2008 a cotação caiu sim, em dólar e em ouro, mas o estrago já
estava feito. E não durou 1 mês na baixa e já disparou de novo.
RESPONDER


Leandro 11/08/2015 21:18
"É a desvalorização da moeda que dita o desequilíbrio da balança comercial ou é o
desequilíbrio da balança comercial que dita a desvalorização da moeda? Eu diria que é o
segundo caso."

Errado. O que determina a taxa de câmbio no longo prazo é o poder de compra da moeda. A
taxa de câmbio não tem nada a ver com saldo da balança comercial. Se a taxa de câmbio
fosse determinada pelo saldo da balança comercial, então o dólar já teria se evaporado (dado
que os EUA não sabem o que é um superávit comercial desde a década de 1960) e o iene
japonês e o renminbi chinês seriam as moedas mais fortes do mundo.

Balança comercial, aliás, é apenas um componente da conta-corrente, o qual, por sua vez, é
apenas um componente do balanço de pagamentos. Quantitativamente, beira o
insignificante. Em vários países (como o Brasil), a balança de serviços é mais volumosa que
a balança comercial.

O determinante fundamental da taxa de câmbio entre duas moedas é o poder de compra


relativo de cada uma delas. Colocando de outra forma, o que determina a taxa de câmbio
entre duas moedas independentes é a paridade do poder de compra entre elas. O equilíbrio
de longo prazo — ou a taxa de câmbio "final" entre duas moedas — sempre será exatamente
igual à razão entre o poder de compra das duas moedas.
A taxa de câmbio é um preço formado instantaneamente pela interação voluntária de bilhões
de agentes econômicos ao redor do mundo. Se esses bilhões de agentes econômicos
acreditam que a inflação de preços no seu país será baixa, sua moeda irá se valorizar. Se eles
acreditam que a inflação está alta ou que ela será alta, sua moeda irá se desvalorizar.

Grosso modo, a taxa de câmbio representa, em tempo real, a razão entre o nível geral de
preços vigente em dois países distintos. A taxa de câmbio entre dois países é igual à razão de
seus níveis de preços relativos.

Sendo assim, a evolução da taxa de câmbio é uma narrativa da evolução do poder de compra
atual de sua moeda em relação a todas as outras.

"O Banco Central não faz nenhuma commodity se materializar do nada simplesmente por
valorizar a moeda, faz? Mas a escassez de commodities leva o Banco Central a
desvalorizar a moeda para reequilibrar a balança comercial."

Nonsense total.

Pela sua lógica perturbada, se estiver havendo escassez generalizada de petróleo, minério,
soja, milho, café, laranja etc., de modo que os preços de tudo estejam subindo, o Banco
Central deveria então jogar ainda mais lenha nessa fogueira desvalorizando a moeda,
acentuando ainda mais a carestia e aumentando desnecessariamente o custo de vida.

Genial.

Ainda bem que você ainda não virou presidente do Banco Central. Certamente tem todas as
qualificações.

O resto de seu comentário é apenas a mesma repetição de toda a ladainha já refutada. Não
me darei ao trabalho de reescrever os mesmos argumentos.

Abraços.
RESPONDER


Mauricio 15/08/2015 14:12
"Sua teoria não é respaldada pelos dados."

Você tem razão. A ordem dos eventos não coincide com os dados.

A alta dos juros, entre 2004 e 2006, não desacelerou o mercado imobiliário. A falta de
crédito resultante da instabilidade financeira, em 2008, que sim. Esta, por sua vez, resultante
da inadimplência. A falta de crédito contaminou outros setores da economia, levando ao
desemprego.

O enxugamento do crédito, que era para ter ocorrido de forma gradual entre 2004 e 2006,
acabou ocorrendo de forma brusca em 2008.

"Pela sua lógica perturbada, se estiver havendo escassez generalizada de petróleo, minério,
soja, milho, café, laranja etc., de modo que os preços de tudo estejam subindo, o Banco
Central deveria então jogar ainda mais lenha nessa fogueira desvalorizando a moeda,
acentuando ainda mais a carestia e aumentando desnecessariamente o custo de vida."

Parece que outro post meu não foi exibido. Resumindo, eu havia dito que as vezes é o que
acontece, independente de eu ou você concordarmos com isso ou não.

Mas, de novo, não foi respaldada pelos dados.


RESPONDER


Lauro cesar de Oliveira Frauches 15/10/2015 02:14
Embora tardiamente,parabéns,Leandro.A primeira análise técnica irrefutável sobre a crise de
2007/2008, a que tive a oportunidade de ler. E olhe que já pesquisei muito sobre o
assunto.Realmente convincente, com apresentações de dados técnicos e gráficos.
Mas sempre existem os descontentes profissionais.
O sucesso alheio torna-se um verdadeiro apedrejamento pessoal para certos indivíduos, que
no auge de suas frustrações profissionais, estão sempre obssessivamente procurando chifre
na cabeça de cavalo.
Parabéns, Leandro, obrigado pelos esclarecimentos, que para este economista, amante das
ciências sociais, porém muito menos competente que você, serão bastante valiosos.
RESPONDER


Leandro 15/10/2015 14:45
Extremamente agradecido pelo desmesurado e profícuo elogio, prezado Lauro. Realmente,
são palavras como essas que incentivam a manter o trabalho.

Muito obrigado e grande abraço!


RESPONDER


Gabriel 20/12/2015 19:55
Boa tarde, me confirmem uma coisa por favor.

"Fannie e Freddie tinham duas opções: elas podiam manter em suas carteiras os empréstimos
que compraram dos bancos (e, assim, aufeririam as receitas) ou podiam empacotar esses
empréstimos e vender para investidores ao redor do mundo. Esses empréstimos imobiliários
vendidos por Fannie e Freddie para os investidores ao redor do mundo ficaram conhecidos
como "títulos lastreados em hipotecas" (as famosas mortgage-backed securities)."

Quer dizer então que quem fazia a securitização era a Fannie Mae e Freddie Mac e não os
bancos de investimentos como diz o documentário Inside Job? Abraços.
RESPONDER


Leandro 20/12/2015 20:32
Correto.

Os bancos de investimento compraram esses pacotes securitizados e se estreparam: tão logo


os calotes começaram, os bancos de investimento foram à bancarrota, pois eram eles que
estavam com as hipotecas.
Todos os bancos de investimento foram à falência e foram comparados por grandes bancos
comerciais.
RESPONDER


Gabriel 21/12/2015 01:29
Obrigado por responder. Mas por que essas duas empresas paraestatais precisaram ser
estatizadas se a bomba foi passada para os bancos de investimento?
E uma outra dúvida. Se esses bancos de investimento foram comprados pelos comerciais,
qual foi a finalidade daqueles pacotes que o Obama fazia no sistema financeiro? Abraços.
RESPONDER


Leandro 21/12/2015 10:49
"Mas por que essas duas empresas paraestatais precisaram ser estatizadas se a bomba foi
passada para os bancos de investimento?"

Pelo óbvio motivo de que, mesmo com os bancos de investimento tendo comprado boa parte
dos títulos, a maioria ainda continuava em posse das paraestatatais.

Veja por exemplo a quantidade de ativo em posse de Fannie Mae imediatamente antes da
crise financeira:

research.stlouisfed.org/fred2/graph/fredgraph.png?g=2XA8

"Se esses bancos de investimento foram comprados pelos comerciais, qual foi a finalidade
daqueles pacotes que o Obama fazia no sistema financeiro?"

Justamente fornecer capital para os bancos bons comprarem os bancos ruins (lembrando
que, em várias ocasiões, as fusões bancárias foram tornadas compulsórias pelo governo), e
para retirar de circulação as hipotecas podres (tais hipotecas ainda estavam nos balancetes
do sistema financeiro, e o QE foi o mecanismo criado para retirá-las dos balancetes, com o
Fed as adquirindo).

O QE foi, na prática, uma medida para limpar os balancetes dos bancos.

Tudo em detalhes aqui:

www.mises.org.br/Article.aspx?id=1547
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Gabriel 21/12/2015 19:27
Hmmm entendi. Obrigado pelos esclarecimentos.
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Monteiro 21/12/2015 06:06
Muito bom o artigo, infelizmente o que é estudado no ensino médio- após ler esse artigo é
apenas 1% da história real, agora que estou ingressando no curso de economia resolvi
aprofundar mais sobre os fatos.
RESPONDER


Gabriel 30/12/2015 06:09
Leandro, muito se falou de ausência de regulamentação dos derivativos. Após a crise houve
algum tipo de regulamentação?
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Leandro 30/12/2015 20:25
Intensa.

www.sec.gov/spotlight/dodd-frank/derivatives.shtml

www.economist.com/blogs/freeexchange/2013/02/derivatives-markets-regulation

[link] www.forbes.com/sites/lbsbusinessstrategyreview/2013/09/24/derivative-regulation-
why-does-it-matter/

www.cftc.gov/LawRegulation/DoddFrankAct/index.htm

en.wikipedia.org/wiki/Dodd
%E2%80%93Frank_Wall_Street_Reform_and_Consumer_Protection_Act
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Gabriel 31/12/2015 08:17
Grato.
RESPONDER


Alex 19/01/2016 19:32
Leandro, posso estar sendo repetitivo, mas você claramente deve ter assistido ao filme
"Inside Job" que se dedica a fazer o mesmo que você com este artigo. Acho interessante que
o filme mostra apenas parte do problema, dando a entender que as agencias reguladores
classificaram os investimentos como AAA por pura maldade e ganância e que isso foi
permitido por causa do mercado ser desregulado (eles começam sugerindo que a economia
ia bem até o fim de uma série de regulamentações). Adorei seu artigo porque mostra a fonte
do problema. Enfim, so queria mencionar o filme, pq ao ler seu artigo me ficou claro o corte
que o filme faz no papel do Estado como causador central da crise e, ao nao citar pontos
chave (como os incentivos para que as agencias classificassem os investimentos como AAA)
da a entender que a culpa da crise foi ganância desregulada. Não é atoa que este filme
ganhou o Oscar (Hoolywood é bem democrata)...
RESPONDER


Leandro 19/01/2016 20:05
"as agencias reguladores classificaram os investimentos como AAA por pura maldade"

Elas deram nota máxima (AAA) por pura maldade?! Quisera eu ser vítima dessa maldade.
Aliás, tenho certeza de que o governo brasileiro adoraria ser "vítima" dessa "maldade".

"e ganância e que isso foi permitido por causa do mercado ser desregulado"

Ora, mas se as agências de classificação de risco usufruem um monopólio concedido pelo


estado, como é que isso é culpa do "mercado desregulado"?

Dica: sempre mantenha distância de ideólogos e panfletários a serviços de determinadas


ideologias ou de partidos políticos. Essa gente emburrece.
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anônimo 20/10/2016 19:28
Leandro, quantas agências de classificação de risco existem nos EUA? Apenas as 3 citadas
no artigo?
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Leandro 20/10/2016 19:48
Só essas três. Inclusive, há informações interessantes aqui:

https://en.m.wikipedia.org/wiki/Big_Three_(credit_rating_agencies)

According to an analysis by DeutscheWelle, "their special status has been cemented by law
— at first only in the United States, but then in Europe as well."

From the mid-1990s until early 2003, the Big Three were the only "Nationally Recognized
Statistical Rating Organizations (NRSROs)" in the United States — a designation meaning
they were used by the US government in several regulatory areas.
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anônimo 20/10/2016 23:52
Como se esse arranjo já não fosse ruim e propenso as falhas descritas no artigo, eis que se
esforçam para criar um pior:

www.planobrazil.com/brics-preparam-modelo-de-avaliacao-para-agencia-de-rating-propria/
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Nádia 21/01/2016 23:08
Li em alguns comentários o receio de que haja no Brasil a mesma bolha imobiliária.
Me corrija se estiver errada;

Primeiro; é realizada uma análise de crédito muito criteriosa antes liberar o mesmo.

Segundo; é necessário o mínimo de 20% de entrada caso o imóvel seja novo, se for usado a
entrada é maior, isso independente da renda da pessoa, ela pode ganhar 100 mil por mês e
comprar um imóvel de 80 mil que é necessário o mínimo de 20% de entrada.

Terceiro; os juros são bem maiores, ou seja; mesmo que o cliente venha a dar o calote dentro
de digamos, 5 anos, a CEF já terá tido um bom lucro haja visto que recebeu entrada, juros e
agora irá penhorar um imóvel valorizado e mesmo leiloando-o por um preço na canela irá no
mínimo recuperar o prejuízo.

Quarto; Não existe essa modalidade de hipoteca no Brasil de uma quantia que o imóvel
tenha valorizado, enquanto o mesmo não estiver quitado vc não poderá fazer outra alienação
fiduciária.

Quinto, Não existe títulos com lastro em hipotecas e toda essa parafernália que inventaram
nos Estados Unidos, aqui o recurso do financiamento é tomado das Poupanças e do FGTS,
inclusive ano passado foi divulgado que os financiamentos pelo SBPE iriam ter sua cota
máxima diminuída por conta justamente do aumento dos resgates da poupança;

Enfim, nosso SFH é muito sólido, isso não irá acontecer aqui, fiquem tranquilos.
Os preços dos imóveis podem estagnar, mas diminuir não acredito, as tantas ofertas que
existem no nosso mercado hoje, são das construtoras que obtêm empreendimentos
remanescentes, não é o mesmo tipo de oferta dos Estados Unidos, de pessoas enforcadas
precisando vender os imóveis a qlq custo.

RESPONDER


Viking 26/01/2016 17:58
Leandro, onde encontro a fonte dessa info sobre a regulação estatal da SEC sobre as
agencias de rating?
Abraço!
RESPONDER


Bruno Vivas 26/01/2016 18:27
De várias fontes.

Acadêmicas:

whitepapers.stern.nyu.edu/home.html

www.voxeu.org/debates/commentaries/fixing-rating-agencies-regulation-answer

Jornais:

www.dw.com/en/us-global-credit-ratings-agencies-monopoly-power-sapped/a-17712231

articles.courant.com/2009-05-03/news/blumenthal-fed-credit.art_1_credit-raters-fitch-
ratings-asset-backed
Nassim Taleb:

www.econtalk.org/archives/2009/03/taleb_on_the_fi.html

Think Tanks:

www.lse.ac.uk/IPA/images/Documents/PublicSphere/2014/4-Malik-Competit.pdf

www.cato.org/blog/end-credit-rating-monopoly

E havia um ótimo artigo da Bloomberg sobre isso, mas o link saiu do ar.
(www.bloomberg.com/apps/news?pid=20601109&sid=au4oIx.judz4&) Mas veja aqui um
comentário sobre o referido artigo.
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Viking 26/01/2016 18:30
Bruno, muito obrigado!
citei uma passagem aqui do texto num debate, mas o soça já veio dizendo que não tinha
referencia, que é do site do IMB, etc etc etc
bom que agora tenho muitas fontes para esfregar na fuça dele.
obrigado!
RESPONDER


Fabio Krieger 05/02/2016 17:43
Excelente artigo. O mais completo artigo que li relacionado a este assunto.
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Matheus Ben Hur 08/03/2016 17:21
Leandro,

Você tem o link ou artigo de onde foram tirados os gráficos?

Obrigado!
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Leandro 08/03/2016 17:53
Site do Federal Reserve.

Eis aqui, por exemplo, um gráfico do CPI:

research.stlouisfed.org/fred2/series/CPIAUCSL
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economista 12/04/2016 22:30
Graças aos pacotes econômicos do governo, os EUA se recuperaram da crise....
RESPONDER


Leandro 12/04/2016 23:38
Embora se trate de uma clara ironia, é sempre bom aproveitar o gancho para explicar a
importante alteração que ocorreu no funcionamento do governo americano.

O primeiro mandato de Obama foi pavoroso. Foi tão ruim quanto o segundo mandato de
Bush. E publicamos vários artigos sobre isso. Em agosto de 2011, o dólar chegou ao seu
menor valor no mercado mundial. Tão ruim era o governo Obama, que até mesmo o real sob
Dilma conseguiu a façanha de se fortalecer perante o dólar.

Não é à toa que, mesmo sendo venerado pela mídia americana e pela mídia mundial, e
mesmo tendo disputado a reeleição com um republicano que não contava com nenhuma
simpatia da sua base, Obama passou aperto para se reeleger, tão ruim estava a economia.

Mas aí aconteceu algo que este Instituto sempre defendeu como solução: o governo federal
americano, a partir de 2013, ficou totalmente paralisado. Obama perdeu toda a sua base de
apoio na Câmara e no Senado. O governo federal entrou em gridlock.

Com o Congresso travado, sem novos gastos serem aprovados, o orçamento do governo
apresentou uma fantástica melhora, saindo de um déficit de 12% do PIB para um de meros
2,5%.

Desde 2012, o que Obama fez? Nada. Absolutamente nada. Ele nunca mais conseguiu
aprovar nenhuma lei. Sua almejada reforma do sistema de saúde paralisou-se por completo,
e nenhuma outra medida intervencionista foi aprovada. O máximo que Obama hoje
consegue fazer é mudar nome de montanha, conceder entrevistas a talk shows de
comediantes para falar sobre sua rotina na Casa Branca (se ele faz sanduíche ou anda de
cuecas), e dizer se sentir frustrado por não conseguir impor leis mais rigorosas sobre a venda
de armas.

Só.

Em suma: desde que o governo americano ficou travado, começando em 2013, a economia
automaticamente começou a melhorar. Sem o governo para atrapalhar, o dólar se fortaleceu
e a bolsa de valores americana (que sempre se dá bem quando o dólar está forte) se
valorizou.

O próprio Fed hoje possui em seu alto escalão pessoas mais sensatas que na época de
Bernanke, como é o caso de Stanley Fischer, vice-presidente do Fed, que abertamente faz
declarações em prol de um dólar forte. O atual secretário do Tesouro, Jack Lew, também fala
abertamente sobre as vantagens de se ter uma moeda forte.

E, como este site nunca se cansa de repetir, moeda forte e governo em retração é o segredo
para qualquer recuperação econômica. A economia americana é apenas mais um exemplo
prático disso.
Sendo assim, posso dizer apenas -- jocosamente, é claro -- que Obama nos leu. Faz 6 anos
(desde nossa criação) que insistimos aqui que uma moeda forte é o segredo. Sem moeda
forte não há economia forte. A moeda forte pode não ser tudo, mas sem moeda forte, tudo
vira um nada.

E o que aconteceu com os EUA? Bastou o governo ficar travado, sem nenhuma chance de
inventar novas intervenções, que o dólar ficar forte. Consequentemente, a economia
americana se recuperou. Praticamente como mágica.

(Ah, sim: o fato de o mercado de trabalho nos EUA ser bem mais flexível, também ajuda
bastante, principalmente nos índices de desemprego.)

Se tudo isso é um "pacote econômico do governo", então eu quero um pacote desse para o
Brasil.
RESPONDER


Rogerio Maestri 24/05/2016 14:28
Há uma inversão proposital no papel das Fannie Mae e Freddie Mac no sistema.
A ação destas é semelhante (atenção, semelhante não é igual) as agências de Resseguro,
estas últimas quando as seguradoras chegam nos seus limites permitem a venda de seus
ativos.
Porém por que o setor de seguros é mais estável do que o de Hipotecas? Simplesmente
porque este setor é ALTAMENTE REGULAMENTADO.
Sei que isto vai contra os princípios do instituto, mas é a realidade.
Um seguro para ser concedido passa por uma série de verificações e cálculos atuariais
precisos determinando o real risco do segurado, isto é válido para as seguradores e
verificado pelas agências de resseguros.
Se os bancos agissem da mesma forma que as seguradoras, não haveria nunca quebra do
setor, porém a irresponsabilidade parte daqueles que maquiam os dados de quem faz as
hipotecas e mandam a diante a fraude. Porém não se pode simplesmente contar com a
"honestidade" dos que concedem os empréstimos, pois quando há ganho e taxas de lucros
para os analistas eles vão maximizar a suas carteiras até o máximo, mesmo sabendo que
nunca haverá retorno.
RESPONDER


Leandro 24/05/2016 15:20
"Porém por que o setor de seguros é mais estável do que o de Hipotecas? Simplesmente
porque este setor é ALTAMENTE REGULAMENTADO."

Vejamos, então, qual o seu conceito de "altamente regulamentado".

"Sei que isto vai contra os princípios do instituto, mas é a realidade."

Calúnia pura. Este instituto é totalmente a favor da regulamentação. Só que a favor da


regulamentação feita pela instituição mais adequada, isto é, aquele que mais tem a perder em
caso de falha: o mercado.

Eis dois artigos a respeito:

É impossível existir um mercado desregulamentado


Quem regula os reguladores?

"Um seguro para ser concedido passa por uma série de verificações e cálculos atuariais
precisos determinando o real risco do segurado, isto é válido para as seguradores e
verificado pelas agências de resseguros."

Ué, mas essa prática é exatamente um exemplo de regulamentação de mercado! Somos


totalmente a favor dela. Aliás, se ela não existisse, aí sim estaria havendo uma falha de
mercado. Não entendi seu ponto.

Sobre Fannie Mae e Freddie Mac, ambas as agências contavam com o respaldo e o suporte
irrestrito do governo americano. O governo simplesmente dizia para elas: "Façam o
necessário para garantir as hipotecas. Se algo der errado, o Tesouro cobrirá suas perdas."

Você considera isso uma boa regulação? Acha que tal prática gera prudência? Ou acha que
ela gera risco moral?

"Se os bancos agissem da mesma forma que as seguradoras, não haveria nunca quebra do
setor, porém a irresponsabilidade parte daqueles que maquiam os dados de quem faz as
hipotecas e mandam a diante a fraude."

Você fez o diagnóstico correto, mas não entendeu nada das causas.

Ora, por que seguradoras são prudentes e bancos não? Exatamente pelo motivo explicado
acima: seguradoras sabem que, se fizerem besteira, não serão socorridas pelo Tesouro. Elas
podem apenas recorrer ao resseguro, mas mesmo este não é formado por recursos públicos,
mas sim por um pool de recursos das próprias seguradoras. O resseguro, em tese, não conta
com o respaldo do Tesouro (tanto é que o IRB no Brasil foi privatizado sem problemas). Isso
faz com que as seguradoras sejam mais prudentes e mais seletivas.

Já os bancos sabem que, ao menor sinal de alarme, Tesouro e Banco Central entrarão em
cena para garantir seus lucros. Não há por que serem prudentes. Por que ser frugal se,
quando algo der errado, eles sabem que o governo usará dinheiro público irá lhes socorrer?

Quer que bancos passem a operar sob os mesmos princípios das seguradoras? Defenda a
extinção do Banco Central e da garantia implícita de socorro dada pelo Tesouro.

Se achar que a extinção do Banco Central é "muito radical", então apenas defenda mudanças
em seu estatuto. Nada mais de operações de mercado aberto; o BC deve apenas utilizar a
janela de redesconto, aplicando taxas punitivas àqueles bancos fizerem lambança e
precisaram urgentemente de liquidez. Faça isso e você verá os bancos rapidamente adotaram
"práticas de seguradoras".
RESPONDER


Gustavo 04/06/2016 12:19
Leandro, um conhecido me escreveu o seguinte texto sobre o assunto, gostaria da sua visão
sobre os pontos que ele levantou. (Obs: Fiquei meio sem resposta com essa do FED ser
privado. Jurava que ele era público...)

Segue:
"Primeiro antes de tudo, saiba que o FED é uma instituição privada. Apenas seus lucros
operacionais são divididos com o Tesouro e ele responde sobre algumas questões ao
parlamento. Porém taxas de juros, por exemplo, é algo definido estritamente pelos próprios
bancos privados juntos ao FED. Acreditar que os bancos irão se submeter à ordens do
governo, ainda mais em relação à taxa de juros é muita ingenuidade. Os bancos que
controlam os governos amigo, não o contrário.

Sim o FED responde ao parlamento e o lucro para o tesouro, mas isso não muda o fato de
que as resoluções e decisões são do conselho, é isso que interessa. Alias, é muita
ingenuidade acreditar que as decisões do FED seriam para atender os interesses do estado.

Outra, você esta subvertendo as coisas, não é o estado que solicita coisa alguma aos bancos,
são os bancos que apresentam sua agenda, o estado age de acordo com essa agenda. É isso
que significa banco central independente e privado, como eu já havia explicado.

De novo, a crise de 2008 teve como uma das consequências a bolha da internet de 2000,
como eu havia explicado foi apenas um adiamento da bolha causada unica e exclusivamente
pelo mercado. Trocando em miúdo, o mercado gerou uma crise, a intervenção do governo
apenas a adiou.

A dificuldade que os liberais tem é de aceitar que simplesmente no capitalismo financeiro


nenhuma instituição tem capacidade de calcular riscos com 100% de precisão. O problema
do laissez faire já era grave, agora, imagine hoje uma empresa da envergadura do lehman
brothers se fosse deixada para atuar livremente, o que aconteceria no caso de uma eventual
incompetência e quebra.?

Já que você é liberal eu recomendo que você leia os intelectuais liberais, até mesmo eles
preveem crises de mercado, leia Hayek por exemplo. Eu discordo deles, mas pelo menos
você terá uma base mais solida para suas conclusões.

Sobre criação de demanda artificial, você parece não entender a lógica por traz do lucro nos
bancos. Para instituições financeiras empréstimo é igual a lucro, logo se conclui que quanto
mais empréstimos se faz mais lucro se obtêm, é aí que entra o risco. Hora, seria muito
simples estabelecer critérios rígidos para empréstimos e reduzir o risco a quase zero, porem
o concorrente eventualmente reduzira os critérios para se emprestar mais e lucrar mais, é
como dois supermercados tentando vender o máximo possível por um preço mais baixo que
o do concorrente. Essa é a logica e ISSO é criação artificial de demanda. Liberais tem uma
visão completamente distorcida do que é criação artificial de demanda.

Quando um banco faz um empréstimo ele gera um ativo, esse ativo pode ser usado como
moeda de troca, quando outro cliente pega outro empréstimo o banco da o dinheiro para esse
cliente mas coloca aquele ativo anterior como cobertura do novo empréstimo, OU, ele vende
esse ativo. A mecânica é mais complicada que isso e não se esgota aqui, mas resumindo,
nessa competição, FATALMENTE uma instituição financeira ira quebrar.

O problema é que quando um mercado fecha os clientes apenas procuram outro lugar para
comprar. Por outro lado, quando um banco fecha pessoas perdem toda a sua poupança,
empresas vão a falência, os investimentos param, a desconfiança aumenta e a já frágil
liquidez por traz da estrutura que sustenta esse sistema diminui...Crise.?

Segundo o próprio liberal Hayek:


""As crises ocorrem porque antes há um período de boom econômico. O que causa a crise é
a prosperidade da fase anterior. Quando há prosperidade, os agente econômicos se
aproveitam do crédito fácil e das baixas taxas de juros para investirem ainda mais. A solução
para o mal das crises seria, então, impedir que os ciclos ocorressem. E a forma de fazê-lo era
impedindo o crédito fácil e a expansão em demasia nos períodos de ascensão econômica.""

Mas essa visão simplesmente não é realista, ironicamente pela logica do próprio mercado.
Como eu expliquei acima.?"
RESPONDER


Leandro 04/06/2016 15:40
Essa afirmação sobre o Fed ser privado não é totalmente correta.

O presidente do Fed é apontado pelo presidente americano, e a autoridade do Fed é derivada


do Congresso americano, o qual tem poderes de supervisão sobre o Fed -- embora não tenha,
em tese!, poderes sobre a política monetária que este adota.

Ademais, o presidente do Fed, após ser escolhido pelo presidente americano, precisa ser
aprovado pelo Congresso.

É também o governo quem determina os salários de alguns dos funcionários do alto escalão
do Fed.

Nesse sentido amplo, o Fed é estatal.

Agora, o Fed é "privado" em dois sentidos:

1) Suas 12 sucursais (Boston, Nova York, Filadélfia, Cleveland, Richmond, Atlanta,


Chicago, St. Louis, Minneapolis, Kansas City, Dallas e San Francisco) são geridas
privadamente (é como se as sucursais do Banco Central no Rio, em São Paulo, Belo
Horizonte, Fortaleza etc. tivessem gerência privada). Mas elas apenas obedecem às ordens
do Fed de Washington, que é quem manda em todo o sistema.

2) O Fed como um todo não sofre qualquer auditoria política. Trata-se de uma caixa-preta
mais impenetrável que a CIA.

Por fim, vale ressaltar que a autorização para o Fed funcionar foi concedida pelo congresso
americano no Federal Reserve Act de 1913. Logo, tecnicamente, a existência legal do Fed
também depende do governo.

Quanto ao resto, não li tudo porque logo percebi que é simplesmente um remendo de tudo o
que já foi rebatido no artigo, que apresenta fontes e tudo.

Abraços.
RESPONDER


Gustavo 05/06/2016 12:03
Mas Leandro, o FED então determinando os juros de maneira privada, não seria um
argumento em desfavor aos austríacos?

Afinal até onde eu entendo da teoria, é dito que são as taxas de juros irreais que causam os
booms e crashs (bem resumidamente). Sendo assim se destaca a intervenção governamental
como o fator principal desta discrepância. Nesse caso o governo intervém com políticas
monetárias - reduzindo ou aumentando artificialmente os juros - e consequentemente os
liberais alertam que isso é o que causa os problemas no mercado.

Contudo, se o FED, por exemplo, determinada os juros sem ordens governamentais, porque
não imaginar que num cenário de livre mercado nós não teríamos um FED igualzinho a
esse? O que impediria um FED no Ancapistão de, ao ver uma desvalorização de seus ativos
decorrentes de um crash, imprimir dinheiro e assim manter todos os bancos solventes? Qual
banco ficaria por fora desse esquema? Imprime papel-moeda privado e pronto, "problem
solved" (aos moldes do que você descreveu no artigo). Nem precisa de National Treasure.

Isso esclareceu para mim porque que caras que nem o Milton Friedman defendiam o FED.
Muito provavelmente ele enxergava o FED como uma empresa privada, inerente a um
sistema bancário moderno. Por isso ele dizia que os BCs são necessários.

As vezes me parece que reservas fracionárias apesar de serem inerentemente inflacionárias e


tudo mais, me parecem ser também inerentes ao próprio sistema bancário. Pelo que li do
livro do Rothbard e do De Soto sobre história bancária, essa prática é independente de
moeda estatal ou de lastro. Você pode ter moeda lastreada em ouro como na década de 20 e
ainda assim praticar reservas fracionárias e manter juros baixos, mesmo sem um FED
controlado pelo governo...

Se de fato o FED americano define seus juros sem mando do governo, vejo um grande
desafio para nós defendermos o mercado como um sistema que se auto-regula, ou não?

Um abraço.
RESPONDER


Leandro 05/06/2016 14:55
Em primeiro lugar, o Fed não determina os juros de "maneira privada". O Fed determina os
juros de maneira "tão privada" quanto o Banco Central brasileiro. Os presidentes de ambas
as instituições são apontadas por políticos.

Em segundo lugar -- e isso é o mais importante --, a questão nunca foi a natureza jurídica de
quem manipula os juros por decreto, mas sim o fato de tal instituição ter o monopólio --
concedido pelo governo -- da manipulação dos juros de toda a economia.

Esse é o ponto. Estamos falando da monopólio da moeda e da estipulação da taxa básica de


juros de toda a economia.

Qualquer valor de juros que seja artificialmente determinado por um comitê central -- e não
pela livre interação das pessoas no mercado -- irá gerar desarranjos na economia. Se esse
comitê central é de natureza estatal ou privada pouco importa, pois ele detém o monopólio,
concedido pelo governo, da manipulação dos juros de toda a economia.

Em um arranjo concorrencial -- em que não houvesse uma instituição que detivesse o


monopólio da estipulação da taxa básica de juros de toda a economia -- simplesmente não
haveria como um comitê central estipular coercitivamente a taxa básica de juros de toda a
economia.

Não consigo ser mais claro do que isso.

Abraços.
RESPONDER


Pessimista 06/06/2016 15:58
Meu deus! eu devo viver na Idiocracy, só pode!

Ainda que as decisões do FED fossem autônomas e seus diretores escolhidos pelos Bancos
( O que não é). Sua existência e todo seu poder emana de uma lei criada pelo congresso
americano (Federal Reserve Act). Isso, por si só, torna ridicula a ideia que o FED é privado.

RESPONDER


Kira 18/08/2018 16:00
Ainda que fosse 100% privado, no momento em que sua existência é determinada pela
coerção governamental, e que todo o mercado é obrigado a adulterar seus preços nos juros
porque o FED determina porque ele agem em nome do governo, estará errado do mesmo
jeito e criará as distorções econômicas da mesma forma. Me parece que as pessoas resistem
a entender que centralização e controle central da economia é destrutivo, não interessa se a
instituição é privada ou estatal, a sua metodologia é errada e irracional. O estado sempre será
irracional e mecanismos privados que se associarem a ele vão seguir a mesma linha de
incoerência.
RESPONDER


Pedro 24/06/2016 02:57
Qual a relação entre o fato de Henry Paulson (ex-secretário do Tesouro), Lawrence
Summers(ex-secretário do Tesouro e ex-diretor do Conselho Econômico Nacional) e Alan
Greenspan (ex-presidente do FED) estarem ligados diretamente ou indiretamente com os
bancos Goldman Sachs, JPMorgan Chase, Citigroup, Merrill Lynch e Lehman Brothers,
principais agentes da especulação financeira, nos anos anteriores e durante a crise financeira;
e os mesmos serem dirigentes de orgãos estatais que poderiam evitar a crise que se
aproximava????
RESPONDER


Marcos 24/06/2016 04:00
Exato.

Mas, segundo a esquerda, esse arranjo em que burocratas estatais e grandes empresas do
setor financeiro estão em conluio se chama "desregulamentação" e "livre mercado puro".

Ciro Gomes é um dos que juram que é isso.


RESPONDER


Gustavo 28/06/2016 20:05
Leandro, consultando as séries temporais do BC, comparei a variação do PIB brasileiro. Se
comparar a variação "real" com a variação "em R$" nota-se que ela é inversa. Ou seja, o PIB
medido em quantidade de dinheiro aumenta, mas o "verdadeiro" está caindo.

Você consideraria isso como uma medida correta de que o Brasil enfrenta uma
"estagflação"? Mais dinheiro rodando, e menos sendo produzido.

Abraço.
RESPONDER


António Nunes 25/07/2016 23:55
Falta um dado que eu acho de máxima importância, pois acredito que foi esse o despoletar
da crise!
A crise dos cereais! Os silos estavam vazios, a produção tinha caído a pique, anos de seca, e
o medo à fome, foi só um pequeno passo!
Depois foi uma sucessão de acontecimentos, atacando logo de seguida os Bancos e
Construtoras, pois dependiam muito uns dos outros, sabendo que as suas gestões eram
ruinosas porque o dinheiro era muito e não se notava os arrombos.
Ninguém fala disso, mas eu lembro-me bem, sei o que perdi, não imaginam os seus efeitos
na minha vida, afinal de muitos, mas não se todos, houve muitos bem colocados,
especuladores e criminosos que se safaram bem com esta crise, muito bem!!
RESPONDER


Tiago 12/09/2016 21:15
Boa tarde, Leandro.
Mais um artigo que só faz aumentar meu interesse por economia. Muito obrigado por
compartilhar todo esse conhecimento.
Acho que consegui compreender razoavelmente bem a situação, mas fiquei com algumas
dúvidas. Se puder me ajudar...
O que ocorreu com o mercado imobiliário após a crise? Quer dizer, toda essa expansão de
crédito deve ter gerado uma igual expansão do capital imobiliário. No filme a Grande aposta
mostra alguns bairros praticamente desertos, com casas recem construídas abandonadas.
Como o mercado absorveu essa oferta após a crise?
O que ocorreu com os imóveis cuja hipoteca ficou em poder do FED?
Mais uma vez, obrigado por se dedicar a esse blog e compartilhar tanto conhecimento.
RESPONDER


Leandro 12/09/2016 22:14
"O que ocorreu com o mercado imobiliário após a crise? [...] Como o mercado absorveu
essa oferta após a crise?"

De início, com uma forte queda nos preços. Isso, aliás, foi o que trouxe problemas para
pessoas que contavam com a eterna valorização de seus imóveis, e para os bancos que
refinanciaram vários empréstimos tendo como garantia o valor (crescente) dos imóveis.
Quando os preços desabaram, as pessoas rapidamente se viram underwater, com passivos
(dívida hipotecária) valendo mais que ativos (valor do imóvel).

Aí o Fed começou a comprar essas hipotecas (ativos em posse de Fannie Mae, Freddie Mac
e bancos de investimento) para socorrer o setor financeiro e manter os lucros deles.

"O que ocorreu com os imóveis cuja hipoteca ficou em poder do FED?"

Primeiramente, os imóveis foram retomados pelos bancos. No entanto, como eles agora
valiam bem menos que antes, os bancos ainda continuaram no prejuízo.

Os bancos haviam emprestado $ 100 para as pessoas comprarem imóveis, elas deram o
calote (não pagaram o empréstimo), e o valor dos imóveis caiu para $ 70.

Ato contínuo, para mitigar esse estrago, o Fed começou a comprar as hipotecas. Os imóveis
foram para os bancos. Os bancos então ou os leiloaram ou financiaram para novos
compradores.

Muito obrigado pelas suas palavras e pelo reconhecimento.

Grande abraço!

P.S.: sobre o filme a grande aposta, recomendo este artigo:

www.mises.org.br/Article.aspx?id=2287
RESPONDER


Tiago 12/09/2016 23:05
Encontrei um material em um blog de esquerda (sempre gosto de ler as duas versões do
mesmo fato - geralmente a da esquerda é uma bosta, mas esse artigo me surpreendeu) que
aponta exatamente as mesmas causas que relacionaste como causadoras da crise.
Dentre as conclusões do estudo, uma me parece sensata: esse episódio pode ter marcado o
fim desse modelo capitalista/intervencionista.
Se conseguir dá uma olhada no artigo.

cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Os-Estados-Unidos-e-sua-crise-economica-%0D
%0A/6/14010

Abraço
RESPONDER


Murdoch 10/11/2016 02:12
Essas matérias da carta maior são uma piada.

Depois quando falam que existe o financiamento de George Soros, aumentará o risco de ser
verdade. Apenas um trechinho da matéria:

"2. Conseqüências globais


O foro de Davos foi a caixa de ressonância mais clara da crise. Os atores deste simpósio do
poder econômico mundial deram sinais claros de que estamos vivendo uma época de
mudanças e de que a crise sub-prime é o que está emergindo de uma conjuntura impensável
uns anos atrás.

August Bebel dizia que para entender o capitalismo é preciso escutar a burguesia. Não
há dúvida de que George Soros é um burguês, mas é um burguês inteligente. Para ele,
"a atual crise significa o fim de uma era de expansão do crédito, fundada no dólar como
moeda de reserva internacional. As crises periódicas faziam parte de um processo mais vasto
de expansão-recessão. A crise atual é o ponto culminante de um gigantesco boom que durou
mais de 60 anos", escreveu ele no dia 27 de janeiro, em um editorial do New York Times.
Para Soros, a expansão do crédito como forma de superar a crise atual é uma solução ruim,
produto direto do fundamentalismo do mercado nascido na era Reagan, o que nós chamamos
de neoliberalismo. Mas nos dias de hoje, segundo Soros, a fórmula é contraproducente,
porque "com o petróleo, os alimentos e outras matérias-primas em alta, e com o renminbi [a
moeda chinesa] em rápida valorização, o FED precisa se preocupar com a inflação. Se os
fundos federais chegam a cair até um certo ponto, o dólar poderia ser submetido a renovadas
pressões e os títulos de longo prazo apresentariam uma queda de rendimentos. Mas é
impossível determinar qual é esse ponto. Quando for atingido, a capacidade do FED para
estimular a economia terá chegado ao fim".

Nesse cenário, as conseqüências políticas seriam — ou já são — de uma mudança drástica


na correlação de forças mundiais. Para Soros, a conclusão seria que a crise financeira atual,
"mais do que causar uma recessão global, poderia acabar alterando as atuais relações de
força da economia mundial, com um relativo declínio dos EUA e a ascensão da China e de
outros países do mundo desenvolvido. O perigo radica em que as conseguintes tensões
políticas, ou mesmo o protecionismo norte-americano, podem destruir a economia global e
lançar o mundo inteiro na recessão, isso se não for em coisa pior".

Assim, depois da reunião de Davos, Soros teve o cuidado de sublinhar que o momento era
definitivo para a hegemonia do dólar: "O dólar é uma moeda terrivelmente imperfeita e tem
os dias contados" disse para The Economist. E muitos pensam a mesma coisa. A valorização
do euro —hoje cotado no mercado internacional em US$ 1,51, e já cresceu, só neste ano,
4,67% com respeito ao dólar— está modificando a correlação de forças no sistema
monetário mundial. Assim, nos últimos sete anos o dólar perdeu 16% como moeda no
comércio mundial e mais de 21% nas reservas dos bancos centrais do mundo, apesar de que
este último dado é muito difícil de ser determinado com exatidão devido ao segredo."

cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Os-Estados-Unidos-e-sua-crise-economica-%0D
%0A/6/14010
RESPONDER


Crítico 20/09/2016 03:10
Leandro, o que exatamente você quis dizer com "revigorada" em relação à CRA? Se ela já
existia desde a década de 1970, porque essa expansão creditícia por parte dos bancos não
começou naquela época?
RESPONDER


Leandro 20/09/2016 03:45
E começou. Na segunda metade da década de 1970, houve um grande boom imobiliário nos
EUA.

George Gilder, em seu livro Wealth and Poverty narra como foi:

"What happened was that citizens speculated on their homes? ... Not only did their houses
tend to rise in value about 20 percent faster than the price index, but with their small equity
exposure they could gain higher percentage returns than all but the most phenomenally
lucky shareholders."

Relatos incrivelmente idênticos aos da década de 2000. Ou seja, no final da década de 1970
eles estavam indo para o mesmo caminho.

Mas aí, meu caro, um cidadão chamado Paul Volcker assumiu a presidência do Fed e elevou
a taxa básica de juros para 21%, acabando com a farra.

O mercado imobiliário tombou feio na década de 1980. Junto com o CRA (Reagan não era
de dar muita pelota para leis politicamente corretas de cunho racial). Toda a especulação
imobiliária foi morta por Volcker ainda em sua fase inicial.

Os juros só voltariam a se estabilizar definitivamente em um dígito na década de 1990, que


foi quando o mercado imobiliário voltou a se aquecer (mais especificamente em 1997).
Junto com o CRA (abraçado por Clinton).

A ciência econômica verdadeira tem resposta pra tudo.


RESPONDER


Mateus Gomes Amorim 27/09/2016 14:37
Bom dia Leandro! Gostei muito do texto, bastante esclarecedor. Sei que é antigo, mas vi
ontem o filme A Grande Aposta e resolvi dar uma lida para entender melhor do assunto.

Sei que você quis fazer uma análise apenas dos fatos, sem ideologia, mas agora gostaria de
sua opinião: quais foram os beneficiados pelas políticas adotadas? Acredito que por trás dos
"erros" de tanta gente influente na verdade se escondam grandes assaltos aos pagadores de
impostos, já que como você disse não houve prejuízo por parte dos bancos. Seriam as tais
políticas apenas populismo para garantir votos como temos visto no Brasil, ou haveria algo
maior? Houve alguma grande empresa / corporação / banco que ganhou com essa crise?

Desde já agradeço pela atenção ! Abraço


RESPONDER


Leandro 27/09/2016 15:11
Foi comentado aqui:

www.mises.org.br/Article.aspx?id=1547

Obrigado pelas palavras e grande abraço!


RESPONDER


Sandra 29/09/2016 14:13
Um dos artigos mais completos a respeito da crise, embora ele já esteja um pouco antigo por
ela ter sido em 2013.

Mas conteúdos como este sempre agregam.

Sandra
RESPONDER


Carol P. 18/10/2016 17:16
Excelente artigo Leandro!

Gostei tanto que decidi fazer minha monografia baseada em seu texto. Por isso, gostaria de
te pedir sugestões de artigos e livros ou qualquer outra ferramenta que possa me ajudar a
explicar como o Estado norte-americano juntamente com as instituições financeiras privadas
causaram a crise de 2008.

Desde já agradeço toda sua ajuda.


RESPONDER


4lex5andro 28/12/2016 04:02
Tem um campo de pesquisa na página inicial do site, no canto direito superior.
RESPONDER


Joaquim Saad 20/10/2016 22:17
Boa noite, Leandro.

O analista Alasdair Macleod (presumivelmente adepto da EA) fez o seguinte comentário em


seu artigo de hoje no Goldmoney referente ao Fed:

"In conclusion, not only is FMQ (fiat money quantity) continuing to grow above its long-
term trend, but it appears to be accelerating because banks are drawing down their excess
reserves to increase their lending."

Tecnicamente, tal afirmação estaria correta ? Considerando que o conjunto das reservas dos
bancos só diminui quando estes compram títulos de responsabilidade do tesouro que, ou
estavam em poder do banco central ou então foram emitidos nos leilões - sendo que nesta
última hipótese as reservas vão sendo recompostas conforme o governo vai empenhando
este dinheiro "primário", acarretando um crescimento nos depósitos à vista dos beneficiários
deste gasto público no mesmo montante do que foi movimentado através delas (i.e. saído das
reservas e depois retornado, na prática equivalendo a uma rodada de concessão de crédito
pelo setor bancário, resultando numa elevação dos saldos das contas correntes de seus
clientes, neste caso em volume igual ao "circulado" pelas reservas bancárias) - o aumento do
total dos agregados monetários (FMQ) atualmente em curso nos EUA necessariamente teria
como contrapartida uma redução nominal absoluta do excesso de reservas dos bancos, como
parece sugerir o autor ? Tal diminuição (absoluta) não significaria apenas a aquisição de
mais treasuries pelos bancos comerciais (papeis essencialmente da carteira do Fed, única
forma de esterilizar alguma parcela das "excess reserves" por tempo mais longo do que a
efêmera queda quando da aquisição de títulos pelos bancos nos leilões, sendo revertida
conforme o governo vai torrando a grana recebida em contrapartida) ?

Obrigado.
RESPONDER


Gustavo 27/12/2016 18:14
Caro Leandro,

Nesse texto do Zero Hedge: www.zerohedge.com/news/2016-12-19/financialism-not-


capitalism, o autor acusa os chamados "Repos" que pelo o que entendi são recompras de
títulos públicos americanos.

Ele também cita uns tais de "Repo Fails". O que seriam esses "fails"? E como exatamente
essas recompras prejudicam a economia?

Ele fala um pouco disso no texto, mas meu nível de conhecimento não me permitiu
acompanhar muito bem o raciocínio.
RESPONDER


Arthur Diniz 04/04/2017 13:33
Que artigo maravilhoso! Parabéns!
RESPONDER


João Fernandes 14/05/2017 17:23
Olá, sou estudante de economia e cheguei aqui fugindo dos textos contra a liberdade que
meu professor de graduação insiste em passar.

Todavia, não entendi a afirmação: "se um banco concede um empréstimo, o valor do seu
ativo aumenta. Quanto mais empréstimos ele concede, maior o valor do seu ativo (e,
consequentemente, do seu passivo)."

Ainda há alguém nesse artigo que poderia me explicar esse processo?


RESPONDER


Leandro 15/05/2017 12:15
Isso é regra de contabilidade. Sempre que um banco adquire um ativo, ele tem de criar um
passivo.

No caso de empréstimos, o ativo é o empréstimo criado; o passivo é o dígito eletrônico que


ele acrescenta na conta da pessoa que pegou o empréstimo. (Ao fazer isso, o banco aumenta
a oferta monetária).

De novo, isso é regra contábil.

Artigo inteiro sobre isso, voltado para a realidade brasileira:


O sistema bancário brasileiro e seus detalhes quase nunca mencionados

P.S.: por isso eu sempre enfatizo, para qualquer leitor que me pergunta, a importância de se
estudar contabilidade, nem que seja o básico. Contabilidade é uma área crucial. Um contador
é infinitamente mais importante do que um economista. Aliás, economista que não entende o
básico da contabilidade não entende como funciona o sistema bancário e nem as decisões de
investimento de uma empresa.
RESPONDER


Pobre Paulista 25/08/2017 19:41
1. Porquê sempre se cria um ativo e um passivo: Método das Partidas Dobradas

2. Porquê os empréstimos geram resultados instantâneos para o banco: Valor Presente


Líquido.

3. Sobre a alavancagem: Alavancagem Financeira

Em resumo: O branco efetua empréstimo, e nos seus ativos ele troca dinheiro por um
"papel". Esse "papel" vale mais do que o dinheiro que ele emprestou, gerando resultado
instantâneo para o banco, mas piora a alavancagem e liquidez. Aí entram o Fannie Mae e
Freddie Mac para comprar esse "papel", e o banco troca o "papel" por dinheiro, sendo mais
dinheiro do que ele emprestou. Assim o banco aumenta sua liquidez e diminui a
alavancagem. E agora o banco tem mais dinheiro para fazer a mesma farra novamente.
RESPONDER


Guilherme Von Rondow 01/06/2017 13:39
Que artigo amigos....

Ta loco!!!!

Parabéns
RESPONDER


Ana 21/08/2017 16:22
Assunto muito complexo em um texto muito esclarecedor!
Parabéns...
RESPONDER


Maike 25/08/2017 16:50
leandro 2018 ou poderia ser vice do bolsanaro rsrs
RESPONDER


Pobre Paulista 25/08/2017 17:00
Leandro, 4 anos depois e com um maior conhecimento de mercado financeiro do que eu
tinha à época, trago à tona algumas questões:

1. O Fannie Mae e Freddie Mac não estão sujeitos às mesmas regulamentações de


alavancagem que os bancos? Se sim, porquê eles podiam comprar dívidas livremente? Sem
as disponibilidades correspondente, esses 2 estariam fora dos parâmetros de Basiléia tal e
qual os bancos estariam, correto?

2. Sobre o Rating: Sem dúvida as 3 agências fizeram um péssimo trabalho em atribuir AAA
para esses títulos, mas pela metodologia de escoragem comumente utilizada, essa nota está
tecnicamente correta, dado que havia um "garantidor de última instância" (o próprio
governo) para lastrear os títulos. A SEC até pode impedir a entrada de agências concorrentes,
mas até que ponto ela pode obrigar as agências a utilizar a metodologia X ou Y?

3. Ainda sobre esses títulos empacotados (os CDOs), porquê são considerados "derivativos"?
Pela explicação dada no artigo, se assemelha muito aos CRI que temos por aqui. São
portanto ativos lastreados. Não entendi o poder "amplificador" que um calote causaria no
sistema financeiro.

4. No mesmo período a partir de 2003, tanto o petróleo quanto o ouro subiram de preço,
mais ou menos na mesma proporção dos imóveis; no entanto não havia nenhuma política
direcionando crédito para esses 2 ativos. Em outras palavras, o crédito direcionado ao setor
imobiliário não deveria fazer com que o aumento de preços dos imóveis fosse maior do que
o do ouro e do petróleo?

5. E por fim: Isso tudo foi causa ou consequência do enfraquecimento do dólar?


RESPONDER


Leandro 25/08/2017 18:36
1. "O Fannie Mae e Freddie Mac não estão sujeitos às mesmas regulamentações de
alavancagem que os bancos?"

Sim e não. Em tese, sim. Na prática, não. Inclusive, isso ficou famoso. Ainda em 2001, o
Banco da Basileia emitiu um comunicado falando sobre isso. Ele demonstrava preocupação
com o fato de ambas as agências estarem "abusando" do seu status de serem apadrinhadas
pelo governo para ganhar uma vantagem competitiva em relação aos outros bancos.

www.bis.org/bcbs/ca/fmwatc.pdf

No entanto, vale ressaltar que, ainda que as mesmas regulamentações fossem impingidas a
essas duas agências, isso não faria muita diferença. Afinal, tudo o que uma instituição
financeira precisa fazer é:

1) Pegar financiamento no mercado de capitais;

2) Utilizar esse dinheiro para conceder empréstimos imobiliários (hipotecas);

3) Securitizar e vender essas hipotecas para limpá-las de seu balanço (voltando


imediatamente a ficar dentro das regras de Basiléia).
4) Se der bode, o governo federal socorre.

O único risco para uma instituição, portanto, está em as hipotecas perderem valor enquanto
ainda estiverem em seus balancetes -- ou seja, após o item 2 e antes do 3.

Com efeito, há inclusive argumentos bem persuasivos que dizem que todo o processo de
securitização ocorreu exatamente para escapar dessas regulamentações de Basileia. Afinal,
ao securitizar e vender, você limpa seus balancetes e fica bonitinho dentro das regras de
alavancagem de Basiléia.

Por fim, onde está o real problema com o arranjo enumerado acima? No item 1 e no item 4.

O item 1 mostra que há uma instituição imprimindo dinheiro a rodo e jogando os juros
artificialmente para baixo. Sem juros artificialmente baixos, toda essa operação se torna
inviável. E o item 4 mostra que, mesmo se der zica, o governo salva.

2. "mas pela metodologia de escoragem comumente utilizada, essa nota está tecnicamente
correta, dado que havia um "garantidor de última instância" (o próprio governo) para
lastrear os títulos."

Esse é um ótimo ponto. Eu não havia pensado por esse lado. Apenas mostra com ainda mais
intensidade como as garantias concedidas pelo governo distorcem ainda mais as
precificações e as estimativas de risco.

"A SEC até pode impedir a entrada de agências concorrentes, mas até que ponto ela pode
obrigar as agências a utilizar a metodologia X ou Y?"

Não creio que possa.

3. "Ainda sobre esses títulos empacotados (os CDOs), por que são considerados
"derivativos"?"

Nem todos os CDOs são derivativos. Eles se tornam derivativos quando usados em conjunto
com os CDS (Credit Default Swaps). Aí ele se torna um "CDO sintético", e isso é um
derivativo. É um assunto bastante técnico e complicado, e que pouco ou nada acrescenta ao
assunto principal, de modo que não achei que valesse a pena abordar esse detalhe em um
artigo já bem longo.

"Não entendi o poder "amplificador" que um calote causaria no sistema financeiro."

A bomba toda estava nos CDOs sintéticos, que agrupavam várias hipotecas podres em um só
ativo. Quando elas fossem caloteadas, as instituições que estivessem com essas várias
hipotecas juntadas em um só ativo veriam o seu balancete desabar. E os CDS -- o seguros --
jamais conseguiriam cobrir todas elas. E foi o que ocorreu.

4. "No mesmo período a partir de 2003, tanto o petróleo quanto o ouro subiram de preço,
mais ou menos na mesma proporção dos imóveis; no entanto não havia nenhuma política
direcionando crédito para esses 2 ativos."

Opa, alto lá. Houve uma verdadeira explosão na prospecção de petróleo nos EUA,
principalmente em estados como Dakota do Norte, Texas e Colorado. Com efeito, pode-se
até mesmo dizer que o investimento em xisto ganhou um grande impulso em decorrência
exatamente da alta do petróleo.

5. "E por fim: Isso tudo foi causa ou consequência do enfraquecimento do dólar?"

Esse é um bom debate. O que veio primeiro? A expansão do crédito causou o


enfraquecimento do dólar, ou foram as guerras do Iraque e do Afeganistão que causaram o
enfraquecimento, o qual gerou a bolha imobiliária? Teria a bolha imobiliária sido causada
justamente pela desvalorização do dólar em decorrência da guerra no Iraque?

Não descarte essa segunda hipótese. Como explicou Mises, uma desvalorização da moeda
tende a gerar uma corrida para ativos reais, que e isso pode ter levado à bolha imobiliária
americana. As pessoas pegavam empréstimos, compravam imóveis e revendiam a preços
ainda maiores. De fato, há sim quem sustente essa tese de que a bolha imobiliária americana
nada mais foi do que uma inevitável reação das pessoas à desvalorização do dólar causada
pela guerra no Iraque.

Em todo caso, qualquer que tenha sido a causa, o mecanismo que permitiu tudo isso foi o
mesmo.
RESPONDER


Pobre Paulista 25/08/2017 19:04
Como sempre, genial na resposta, Leandro. Muito obrigado.
RESPONDER


Eduardo 25/08/2017 20:28
Leandro

Esse CDO sintético é diferente do CDO?


RESPONDER


Trader Intruso 26/08/2017 00:30
É uma barafunda só. Até eu que sou da área demorei anos pra entender.

Um CDO sintético investe em CDS e com isso ganha acesso a uma renda fixa (que vem dos
prêmios que os compradores do CDS pagam). Consequentemente, eles na prática são uma
forma de "aposta" na performance dos outros CDOs.

www.investopedia.com/terms/s/syntheticcdo.asp
RESPONDER


Luiz 25/08/2017 17:06
Por essa eu não esperava: Greenspan: Bond bubble about to break because of 'abnormally
low' interest rates
RESPONDER


GJ 25/08/2017 17:07
Uma dúvida a todos os libertários: como saber se um imóvel está sendo vendido a um valor
justo? Imaginem vocês em 2006, sendo americanos, estando nos EUA, vão em busca de um
cantinho para morar. Como saberiam calcular de modo simples se aqueles preços ofertados
na época estavam inflados? E qual alternativa seguir se nesse cálculo vocês descobrissem
que todos os imóveis estão com preços inflados, e vocês precisando logo de um lugar para
morar?
RESPONDER


Sideshow Bob 25/08/2017 18:46
Use o price-to-rent ratio:

The price-to-rent ratio is calculated by dividing the average list price by the average yearly
rent price, as follows: Average list price / (Average Rent * 12). Trulia establishes thresholds
for the ratios as follows: a price-to-rent ratio of 1 to 15 indicates it is much better to buy than
rent; a price-to-rent ratio of 16 to 20 indicates it is typically better to rent than buy; and a
price-to-rent ratio of 21 or more indicates it is much better to rent than buy.

Obviamente tem que levar em conta todo o resto. Por exemplo, não compraria um imóvel
com PTR ratio 5 se fosse num local com tiroteios ou enchentes. Ou com o acabamento que
vemos hoje em dia, sobradinhos geminados, etc....
RESPONDER


FL 25/08/2017 18:59
Caro GJ, não existe um cálculo simples para saber isso. Existe análise de mercado, de
evolução de preços e por aí vai.

As alternativas:

1) Alugar (fazendo a mesma análise da razoabilidade dos preços de aluguel)... se você tem
certeza que os preços estão inflados, essa é, de longe, a melhor opção... no Brasil já ocorre
isso, temos aluguéis que são 0,25% do valor pago pelo imóvel... pela perspectiva do
proprietário, é um péssimo retorno, o que faz ser um ótimo negócio para quem aluga
(especialmente se você tiver o valor do imóvel - você pode facilmente aplicar numa renda
fixa e pagar o aluguel com o rendimento, enquanto continua com o dinheiro, sem risco de
desvalorização ou vacância)

2) Negociar e comprar, preferencialmente sem fazer empréstimo - poupança agregada à


investimentos podem te levar a este patamar. Se você está preocupado apenas em morar,
aceite o preço e siga feliz. Se houver uma crise e o potencial valor do seu imóvel desabar,
não muda nada para você, que vai simplesmente continuar vivendo ali (e talvez boas
oportunidades de comprar outros imóveis semelhantes ao seu, a preço de banana).

3) Negociar e comprar, fazendo um empréstimo que você saiba que será capaz de pagar. E
só. Se houver uma crise e o valor do imóvel desabar, você pode tentar renegociar sua dívida.
Se não conseguir, vai pagar o mico.

4) Negociar e comprar. E comprar outro imóvel com crédito fácil. E mais outro. E outro.
Fazer empréstimos usando esses caros imóveis como garantia e curtir a vida. Leia o artigo e
veja como esse método funcionou bem.
RESPONDER


Hugo 02/10/2017 00:02
Simples: crescimento de longo prazo dos preços.

Os preços dos imóveis dos EUA a longo prazo sobem um pouco acima da inflação, porém
entre o fim dos anos 90 e 2006 houveram momentos em que a inflação estava em menos de
3% ao ano e o preço dos imóveis beirava os 20. Não é a toa que depois de chegar a crescer
20% ao ano os preços dos imóveis tombaram mais de 20% depois que a bolha estourou em
2007.
RESPONDER


Hugo 02/10/2017 00:10
O que mais me deixa pasmo nisso tudo foi que o governo dava tanta garantia para bancos e
pras GSE (FannieMae e Freddie Mac) que essas últimas em certos momentos tiveram
alavancagens chocantes de 75 pra 1, bancos de investimento estavam tão confiantes dessa
garantia e de que os preços dos imóveis subiriam sempre que chegaram a financiar apostas
extremamente arriscadas no mercado overnight (Bear Stearns chegou a ter de financiar
diariamente 5x mais que seu patrimônio líquido, e a uma alavancagem de mais de 30 por 1).
Tudo isso incentivado pelo governo. Sabe o que é mais irônico? O próprio governo
americano escreveu isso em seus relatórios sobre a crise:

https://www.gpo.gov/fdsys/pkg/GPO-FCIC/pdf/GPO-FCIC.pdf
RESPONDER


Maurício Costa 25/08/2017 17:10
Ciro Gomes e seus fanáticos seguidores precisam urgentemente ler este artigo (e tentar
refutá-lo). Todo o discurso eleitoral de Ciro Gomes, sem nenhum exagero, se resume a
evocar a crise de 2008 dizendo que ela representou o auge da desregulamentação, e que
todos os outros candidatos (exceto ele) defendem tudo isso. É um charlatão que tem de ser
desmascarado.

Artigo de utilidade pública.


RESPONDER


Lel 25/08/2017 18:48
As propostas do Lixo Gomes são idênticas à Nova Matriz Econômica do PT. Sem tirar nem
pôr. E pra ser sincero são ainda piores, porque o PT usa essas propostas de forma
pragmática, já o Ciro é um ideólogo cego. Não foi apenas uma única vez que ele confirmou
isso.
Ciro já defendeu em público abertamente a Nova Matriz Econômica, não satisfeito
continuou defendendo as parcerias público-privadas do Estado com algumas das grandes
empresas envolvidas na Lava Jato.

veja.abril.com.br/blog/radar-on-line/ciro-repete-discurso-de-dilma-e-choca-empresarios/
https://www.institutoliberal.org.br/blog/ciro-gomes-a-desfacatez-da-mentira/
https://spotniks.com/as-7-maiores-bobagens-que-voce-ja-ouviu-de-ciro-gomes-nos-ultimos-
anos/

Até hoje eu tento entender porque esquerdista defende com unhas e dentes o
Intervencionismo e o Ciro Gomes.
Para quem não sabe, historicamente, o Intervencionismo era considerado pelos marxistas
como uma tentativa do estado burguês para o Capitalismo não colapsar.
Mesmo o Intervencionismo sendo tido como Terceira-Via, os marxistas de forma desonesta
consideravam e propagandeavam o Intervencionismo e o Nazifascismo como "extrema-
direita".
Por quê a partir dos anos 60 começaram a defender o Intervencionismo com tanto tesão
quanto defendiam o Socialismo?
RESPONDER


Luiz Moran 26/08/2017 12:27
Impressão de dinheiro
Reservas fracionárias
Governos socialistas
Agências cartelizadas
Desinformação
Burrice

teve de tudo um pouco


RESPONDER


soulsurfer 26/08/2017 13:49
Parabéns por mais um belíssimo artigo, Leandro. Foi escrito há alguns anos, mas ainda
guarda o seu poder argumentativo. Apenas algumas observações:

Do texto : "O gráfico abaixo mostra os empréstimos totais feitos pelo setor bancário (linha
azul). E mostra também os empréstimos exclusivamente voltados para a aquisição de
imóveis (linha vermelha). Observe a evolução desde 1980, e a grande aceleração ocorrida na
década de 2000."

A grande aceleração se deu na década de 80, não de 2000 a 2008.

Gráfico empréstimos imobiliários:


1980 a 1990 de algo em torno de 100 para 900 (800%)
1990 a 2000 algo em torno de 900 para 1500 (66%)
2000 a 2008 1500 para 3500 (133%)

Total de empréstimo de 1 trilhão para algo de 2 trilhões (década de 80), isso quer dizer que
quase o total de aumento de crédito foi direcionado para o setor imobiliário.

Levando em conta o CPI, o valor de 1 trilhão no final da década de 80 seria equivalente a 2


trilhões de dólares a valores atuais (ttps://data.bls.gov/cgi-bin/cpicalc.pl?
cost1=1000&year1=199001&year2=201707). Logo, por qual motivo essa expansão
absurdamente acelerada do crédito imobiliário não levou a uma crise tão grave como a de
2007-2008?
Do texto : "Isso explica toda aquela elevação de preços observada no gráfico 1. De 1993 a
2006, os preços dos imóveis se apreciaram acentuadamente. Em alguns mercados
específicos, até mesmo os preços das moradias mais simples se tornaram astronomicamente
altos. Esta subida nos preços estimulava novos investimentos em mais construções de
imóveis, o que gerava um aumento na oferta de imóveis. E este aumento na oferta de
imóveis viria, mais à frente, a exercer uma pressão baixista nos preços dos imóveis."

Preço mediano imóveis


1963 a 1973 - de 20k para 40k = 100%
1973 a 1983 - 40k para 80k = 100%
1983 a 1993 - 80k para 120k = 50%
1993 a 2003 - 120k para 180k = 50%
2003 a 2008 180k para pico de 260k = 44%

Logo, o aumento dos preços dos imóveis na primeira década do presente século não foi tão
diferente de outras décadas, foi até menor. Se é para descontar a inflação, seria interessante
ter usado o índice Schiller que calcula o preço de imóveis desde o final do século 19 em
termos reais.

O Gráfico das reservas em excesso vai até 201 (até porque o artigo foi escrito nessa época),
que é o momento onde elas atingem o ápice. Desde então, houve um encolhimento dessas
reservas em excesso de quase U$700 bilhões
(https://fred.stlouisfed.org/series/EXCSRESNS). Não deveria ter sido o contrário, já que o
FED está pagando mais pelas reservas em Excesso (com o aumento concomitante da FFR),
por qual motivo os bancos tiraram esses excessos sendo que eles seriam melhor
remunerados?

Mais uma vez parabéns pela qualidade do artigo.

Abs

blog pensamentos financeiros


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Leandro 26/08/2017 15:53
"A grande aceleração se deu na década de 80, não de 2000 a 2008."

Não. E por dois motivos.

O primeiro, e menos importante, é que você tem de levar em conta a inflação de preços no
período.

De janeiro de 1980 a dezembro de 1989, o empréstimos subiram de US$ 244 bilhões para
US$ 759 bilhões. Isso dá um aumento de 211%.

Muita coisa, certo?

Porém, neste mesmo período, o CPI (equivalente ao nosso IPCA) foi de 62%.
Consequentemente, o que custava US$ 244 em janeiro de 1980 deveria custar US$ 395,48
em dezembro de 1989. Como a carteira de crédito imobiliário estava em US$ 759 bilhões
em dezembro de 1989, isso significa que ela aumentou 92% em termos reais.

É muita coisa, sim, mas bem menos que aqueles 211%.

E um detalhe: um aumento real de 92% em 10 anos significa um aumento anual médio de


6,7% ao ano. Isso não é muito.

Mas observe: houve, sim, uma bolha imobiliária naquela época, a qual estourou na recessão
americana de 1990. Pesquise a respeito, principalmente o que houve com as caixas de
poupança (savings and loans). Os preços dos imóveis só voltaram a subir em 1997.

A diferença é que, ao contrario da década de 2000, na década de 1980 não havia todo aquele
processo de securitização, CDOs, Swaps, CDOs sintéticos e tudo.

Prossigamos.

Em janeiro de 2000, a carteira de empréstimos imobiliários era de US$ 1,480 trilhão. Em


dezembro de 2008, US$ 3,819 trilhões.

O CPI neste período foi de 24,54%.

Logo, o que valia US$ 1,480 trilhão em janeiro de 2000 deveria valer US$ 1,843 em
dezembro de 2008.

Como a carteira de crédito estava em US$ 3,819 trilhões, isso significa que ela aumentou
107% em termos reais.

E detalhe: um aumento real de 107% em nove anos equivale a um aumento anual médio de
8,42% ao ano (contra 6,7% na década de 1980).

Ou seja, neste período da década de 2000, o crédito aumentou, a cada ano, 25% a mais em
termos reais que na década de 1980.

Portanto, o aumento total do crédito foi muito maior no período 2000 a 2008 do que na
década de 1980, ao contrário do que você disse.

Porém, como eu disse lá em cima, isso ainda é o de menos importante.

O que é realmente importante, e que não pode ser ignorado, é que esse gráfico de
empréstimos imobiliários mostra apenas o crédito que os bancos comerciais concederam e
mantiveram em seus livros contábeis. Ele não mostra todo o crédito imobiliário que os
bancos concederam, securitizaram, e repassaram para os bancos de investimento e para
outros investidores. Afinal, quando há esta securitização, os empréstimos "somem" dos
registros contábeis dos bancos comerciais, de modo que eles deixam de aparecer naquele
gráfico.

Portanto, a real quantidade total de empréstimos ocorrida na década de 2000 é bem maior do
que aquela mostrada no período.
Quer ver um gráfico que mostra essa securitização? Ei-lo:

fred.stlouisfed.org/graph/fredgraph.png?g=eS04

A coisa muda bastante de figura, né?

Todo exercício acima foi para a evolução real do crédito imobiliário. Agora repita o mesmo
raciocínio acima para os preços do imóveis. Veja os quanto eles subiram em termos reais
(descontando o CPI) para cada período e você chegará à mesma conclusão.

Logo, a sua afirmação de que "o aumento dos preços dos imóveis na primeira década do
presente século não foi tão diferente de outras décadas, foi até menor" é bastante inverídica.
Assim como é inverídica a sua afirmação de que "a grande aceleração [do crédito
imobiliário] se deu na década de 80, não de 2000 a 2008".

Quanto às reservas em excesso, e por que elas estão encolhendo, há um artigo específico
abordando exatamente isso:

www.mises.org.br/Article.aspx?id=2585

Dica: ele está deflacionando as reservas em excesso porque não mais está rolando os títulos
que vencem. Ao vencerem, o Fed coleta o pagamento e pronto.

Muito obrigado pelas palavras e grande abraço!


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soulsurfer 26/08/2017 17:30
Olá, Leandro.
Sim, você tem razão, eu mesmo já escrevi sobre o tópico, mas a inflação dos períodos da
década de 70 e início da década de 80 realmente distorcem os resultados.
Pegando o índice Schiller, realmente se nota que o aumento real foi vigoroso na primeira
década do século (https://en.wikipedia.org/wiki/Case
%E2%80%93Shiller_index#/media/File:Case%E2%80%93Shiller_Index.svg).
O mesmo também se aplica ao crédito. Sim, já li o artigo aqui do Mises sobre a crise
imobiliária no final e começo da década de 90.
Porém, creio que talvez a magnitude tenha sido muito maior por "A diferença é que, ao
contrario da década de 2000, na década de 1980 não havia todo aquele processo de
securitização, CDOs, Swaps, CDOs sintéticos e tudo. ".
No mais agradeço a gentileza da resposta, bem como a objetividade da mesma.
Abs!
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Guilherme Menezes 27/08/2017 13:29
Tudo cupa do dedo-duro, Leandro!
RESPONDER


Ninguem Apenas 27/08/2017 17:29
Leandro, sobre a situação americana, em vez de pagar juros sobre o dinheiro mantido
parado, eles não podem simplesmente abolir essa medida e elevar o compulsório
(provavelmente bastante) para que os bancos não emprestem o dinheiro mantido em caixa?

Após isso eles poderiam transformar os ativos tóxicos em dívida pública direta (nacional) e
novamente voltar a fazer a política monetária de sempre?

É claro que isso complicaria o orçamento, mas os bancos poderiam voltar a comprar os
ativos aos poucos enquanto o compulsório poderia ir reduzindo gradualmente para aumentar
o número de empréstimos.

Com essa medida, eles não conseguiriam voltar a fazer as mesmas trapalhadas de sempre?

Posso ter viajado muito, sou ignorante nesse assunto ainda kk.
RESPONDER


Alfredo 27/08/2017 20:32
O valor das reservas em excesso é várias vezes maior que o total de depósitos em conta-
corrente, de modo que mesmo um compulsório de 100% ainda deixaria várias reservas em
excesso livres para serem usadas.

Uma coisa que poderia ser feita é cancelar as reservas em excesso (passivo do BC) e
simultaneamente cancelar os títulos que ele adquiriu e que criaram estas reservas (ativo do
BC).

Mas aí haveria o problema legal de que esse dinheiro é dos bancos, e estaria sendo
confiscado.

Em suma, não há solução.


RESPONDER


Ninguem Apenas 27/08/2017 21:02
Pensando como o governo gosta de pensar (inventando coisas), e se o governo americano
simplesmente inventasse moda e subisse o compulsório pra acima de 100%?

Ex: Um compulsório de 200%, onde para cada dólar deixado em caixa ele mantivesse 2.

Eu realmente to inventando moda, mas se o governo criou até taxa de juros interbancária
negativa, porque isso seria impossível?

Nesse caso ele conseguiria, não?


RESPONDER


wanderson 27/08/2017 21:16
Boa noite!!!
Primeiramente parabens pelo comentario!!!
Eu gostaria de saber um documentário bom e confiável falando sobre a crise de 2008, de
preferencia com uma visao de um liberal. obrigado
RESPONDER


Magno 27/08/2017 21:25
Este:

www.mises.org.br/Article.aspx?id=1427
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Cristiane de Lira Silva 28/08/2017 00:43
Enfim saiu um texto sobre isso.
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San Francisco 28/08/2017 20:24
"A partir de meados de 2004, com a economia americana já recuperada da recessão de 2001,
o Fed começou a reduzir o ritmo de injeções de dinheiro no sistema bancário.
Consequentemente, os juros começaram a subir"

Não ficou claro para mim, afinal o Juros não é uma variável controlada pelo FED? Logo, o
FED não poderia apenas (se essa fosse a intenção dele) manter os juros baixos mesmo com o
crescimento menos acentuado da base monetária?
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Trader 28/08/2017 20:46
"afinal o Juros não é uma variável controlada pelo FED?"

Sim. O Fed controla os juros de curto prazo manipulando a oferta monetária no mercado
interbancário.

"Logo, o FED não poderia apenas (se essa fosse a intenção dele) manter os juros baixos
mesmo com o crescimento menos acentuado da base monetária?"

Não. Quando o crescimento da base monetária desacelera, os juros do interbancário


aumentam. (Irão reduzir depois, no longo prazo, em decorrência da queda futura na inflação
de preços; mas, no curto prazo, aumentam).
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San Francisco 29/08/2017 18:42
Esclarecedor. Obrigado.
RESPONDER


Without Rules 30/08/2017 13:30
Não bastava o governo ter aumentado o compulsório ao invés de pagar juros sobre as
reservas em excesso?
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Leandro 30/08/2017 15:19
Seria inócuo. É fácil driblar compulsório, que incide só sobre depósitos em conta-corrente,
mas não sobre depósitos em poupança, depósitos a prazo com liquidez diária e fundos de
investimento (que também têm liquidez diária).

Por outro lado, passar a pagar juros sobre todo e qualquer dinheiro que os bancos
voluntariamente depositarem no Fed é muito mais apetitoso, irresistível e eficaz. É dinheiro
fácil e garantido -- qlgo indispensável em momentos de crise econômica, quando qualquer
tipo de empréstimo se torna extremamente arriscado.
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R%C3%83%C2%A9gis 31/08/2017 05:05
Partindo do princípio básico de que quem imprime o papel moeda dólar é um cartel de
bancos privados (FED) e empresta ao governo comprando títulos do Tesouro com retorno
garantido de pagamento de juros através dos governos cobrando impostos da população aí
fica fácil de entender as crises como essa. Criticar governo é fácil quando não se quer culpar
os verdadeiros responsáveis por toda essa estrutura financeira fraudulenta que são esses
banqueiros privados do FED. Alguém acha que um Presidente dos EUA, assim como todos
os demais políticos como senadores e deputados estão comprometidos com o bem da
população pagadoras de impostos ou chegaram no poder porque esses banqueiros os
financiaram e ajudaram com a mídia controlada por esses mesmos banqueiros? So se
governa um país com a orientação implícita da banca, caso contrário leva um balaço na
cabeça (John Kennedy, Abraham Lincoln). Por isso os governos (sob orientação da banca)
facilitam a expansão de crédito pra depois ocorrer a contração financeira e sua consequente
crise econômica onde milhares de pessoas são arruinadas e pouquíssimas pessoas (famílias
oligarcas da banca) ganham bilhões com a desgraça alheia. Tem sido assim já faz um bom
tempo e as pessoas ainda não aprenderam que crises financeiras são provocadas por má fé
desses gananciosos banqueiros do FED.
RESPONDER


Danese 31/08/2017 12:35
O Fed não é privado.

O presidente do Fed é apontado pelo presidente americano, e a autoridade do Fed é derivada


do Congresso americano, o qual tem poderes de supervisão sobre o Fed -- embora não tenha,
em tese!, poderes sobre a política monetária que este adota.

Ademais, o presidente do Fed, após ser escolhido pelo presidente americano, precisa ser
aprovado pelo Congresso.

É também o governo quem determina os salários de alguns dos funcionários do alto escalão
do Fed.

Nesse sentido amplo, o Fed é estatal.

Agora, o Fed é "privado" em dois sentidos:


1) Suas 12 sucursais (Boston, Nova York, Filadélfia, Cleveland, Richmond, Atlanta,
Chicago, St. Louis, Minneapolis, Kansas City, Dallas e San Francisco) são geridas
privadamente (é como se as sucursais do Banco Central no Rio, em São Paulo, Belo
Horizonte, Fortaleza etc. tivessem gerência privada). Mas elas apenas obedecem às ordens
do Fed de Washington, que é quem manda em todo o sistema.

2) O Fed como um todo não sofre qualquer auditoria política. Trata-se de uma caixa-preta
mais impenetrável que a CIA.

De resto, vale ressaltar que a autorização para o Fed funcionar foi concedida pelo congresso
americano no Federal Reserve Act de 1913. Logo, tecnicamente, a existência legal do Fed
também depende do governo.

Por fim, falar que crise foi causada por ganância é uma das afirmações mais inócuas (pra
não dizer ignaras). Ganância é algo que sempre existiu na história do mundo. Por que ela só
foi se manifestar em 2008?

Dizer que a ganância é a causadora de algum problema econômico específico é o mesmo


que dizer que a gravidade é a culpada por acidentes aéreos.

É fato que aviões não cairiam se não fosse pela gravidade. Porém, quando milhares aviões
voam milhões de quilômetros diariamente sem cair, atribuir à gravidade a explicação por um
desastre aéreo específico não o levará a lugar nenhum. Tampouco terá algum efeito
esclarecedor falar que um problema específico foi gerado pela "ganância", a qual é uma
constante tão inevitável quanto a gravidade.
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Anselmo Thomaz 07/10/2017 15:29
Boa tarde!
Estou escrevendo a respeito da Crise Financeira e gostaria de saber as referências
bibliográficas deste artigo (principalmente no que diz respeito a parte referente as GSEs e as
políticas de ações afirmativas), para que eu possa entender melhor as bases que sustentam as
opiniões levantadas.

Grato desde já.


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Anselmo 07/10/2017 18:25
Clique nos hyperlinks. E então nas footnotes dos hyperlinks.
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Keynesian 07/10/2017 16:29
Belo texto, mas um tanto irrelevante. O FED foi capaz de socorrer o sistema financeiro ao
mesmo tempo que conseguiu controlar a inflação e deixá-la em níveis totalmente aceitáveis.

Se dá pra expandir a base monetária sem problemas que envolvam a inflação, qual o
problema nisso? É justamente esse o objetivo de uma política monetaria eficiente. Não
fizeram tão bem em 1929, e agora acertaram em 2008. Tudo evolui, inclusive a
macroeconomia.

O autor do artigo apenas descreveu o que aconteceu e sem nenhuma conexão lógica quis nos
dizer que a solução apresentada foi "ruim". Melhor foi em 29 quando quebrou tudo porque o
FED não fez nada não é mesmo?
RESPONDER


Inteligent 07/10/2017 18:25
"Belo texto, mas um tanto irrelevante."

Vejamos seus argumentos.

"O FED foi capaz de socorrer o sistema financeiro"

Correto. O Fed premiu o comportamento imprudente dos bancos ao mesmo tempo em que
puniu os poupadores, os quais estão há 10 anos sem receber nada sobre suas poupanças.

O Fed, em suma, premiou os temerários e puniu os frugais e prudentes.

Você aprova isso?

"ao mesmo tempo que conseguiu controlar a inflação e deixá-la em níveis totalmente
aceitáveis."

Ao mesmo tempo em que destruiu o mercado de crédito. Hoje, por causa dos juros
artificialmente baixos, apenas grandes empresas conseguem empréstimos. Micro e pequenos
empresários nada conseguem, pois, para os bancos, não compensa correr tamanho risco
(emprestar para mico e pequenos) em troca de juros artificialmente ínfimos.

Ou seja, além de ferrar os pequenos poupadores, o Fed também ferrou os pequenos


empreendedores.

Você apóia isso?

"Se dá pra expandir a base monetária sem problemas que envolvam a inflação, qual o
problema nisso?"

Espero que, após o que foi explicado acima, você repense o que disse. Caso contrário, você é
um caso perdido.

"É justamente esse o objetivo de uma política monetaria eficiente."

Eficiente?!

"Não fizeram tão bem em 1929, e agora acertaram em 2008. Tudo evolui, inclusive a
macroeconomia."

Cidadão, o problema de 1929 foi outro completamente diferente. Ali, o governo aumentou
impostos, aumentou gastos, e implantou políticas de controle de preços, de controle de
salários, e de aumento de tarifas de importação (que chegou ao maior nível da história). Para
piorar: ele estimulou uma arregimentação sindical de modo a impedir que as empresas
baixassem seus preços.

E o fato de você não saber isso mostra bem o seu nível informacional.

"O autor do artigo apenas descreveu o que aconteceu e sem nenhuma conexão lógica quis
nos dizer que a solução apresentada foi "ruim"."

Talvez o autor tenha superestimado demais a inteligência dos leitores, esperando que eles
fossem capazes de fazer esta simples conexão. A maioria, no entanto, parece ter sido capaz
disso. A exceção "honrosa", por enquanto, foi você.

"Melhor foi em 29 quando quebrou tudo porque o FED não fez nada não é mesmo?"

Se você está dizendo que todo responsável pela Grande Depressão foi exclusivamente o Fed,
então realmente você absolutamente nada sabe sobre economia. Nem mesmo o básico. "Não
é mesmo?"

Sobre a crise de 1929 e a Grande Depressão - esclarecendo causa e consequência


RESPONDER


Keynesian 07/10/2017 21:35
"Ao mesmo tempo em que destruiu o mercado de crédito. Hoje, por causa dos juros
artificialmente baixos, apenas grandes empresas conseguem empréstimos. Micro e pequenos
empresários nada conseguem, pois, para os bancos, não compensa correr tamanho risco
(emprestar para mico e pequenos) em troca de juros artificialmente ínfimos.

Ou seja, além de ferrar os pequenos poupadores, o Fed também ferrou os pequenos


empreendedores."

Você teria alguma evidência disso? Confesso que mesmo após pesquisar não encontrei
nenhuma fonte que diga que o crédito nos EUA, ou em qualquer outro país que tenha
implementado ações similares de política monetária, esteja escasso para pequenos
empreendedores.

Pelo contrário, continuam sendo os melhores ambientes no mundo para se fazer negócios.
RESPONDER


Substituto 08/10/2017 00:02
Sim. O maior especialista do mundo neste tema, Steve Hanke, falou sobre isso e demonstrou
dados:

https://www.cato.org/publications/commentary/fed-again

https://www.financialsense.com/financial-sense-newshour/steve-hanke/fed-policies-making-
credit-crunch-worse
https://www.cato.org/publications/commentary/its-money-supply-stupid

E é fácil entender por que é assim. Quando um Banco Central estipula a taxa básica de juros
de economia, ele está, na prática, decretando um controle de preços.

Banco Central estipular juros nada mais é do que uma agência governamental controlando o
preço do crédito.

Como ensina a teoria econômica, se o preço de algo for decretado a um valor acima do de
mercado, haverá muita oferta e pouca demanda. Inversamente, se o preço de algo for
estipulado a um valor abaixo do de mercado, haverá um excesso de demanda, mas pouca
oferta.

Se a prefeitura da sua cidade estipular que o valor dos alugueis, de qualquer imóvel e em
qualquer ponto da cidade, está congelando em $100 por mês, o que acontecerá com a
demanda por imóveis? Garanto que vai explodir. Mas o que acontecerá com a oferta?
Garanto que vai encolher.

E se a prefeitura fizer o contrário, e estipular que o valor dos alugueis, de qualquer imóvel e
em qualquer ponto da cidade, está congelando em $100.000 por mês? Garanto que a oferta
vai explodir, mas a demanda vai desaparecer.

Com o preço do crédito ocorre a mesmíssima coisa.

O que acontece se o preço do crédito for decretado em um valor acima do de mercado? A


oferta será ampla, mas haverá pouca demanda por empréstimos. E se o preço do crédito for
decretado em um valor abaixo do de mercado? A demanda por empréstimos será alta, mas a
oferta será escassa.

A correlação entre crédito farto e taxa de juros não é tão direta quanto muitos acreditam.

É perfeitamente possível haver farra creditícia em um cenário de juros crescentes (toda a


bolha imobiliária americana ocorreu em um cenário de juros crescentes, com a Selic deles
indo de 1% para 5,25%; quanto mais os juros subiam, mais o crédito se expandia), bem
como é perfeitamente viável não haver nenhuma expansão do crédito em um cenário de
juros nulos (como o atual cenário europeu e cenário americano, em que a expansão do
crédito está ocorrendo a taxas mínimas históricas; daí a total ausência de inflação de preços).

Portanto, eis algumas conclusões:

1) Se as taxa de juros sobem, mas os empréstimos se expandem, então está claro que o preço
do crédito ainda não encareceu o bastante para desestimular a demanda, mas já está alto o
bastante para estimular sua oferta.

2) Se as taxa de juros sobem, e os empréstimos se contraem, então está claro que o preço do
crédito já encareceu o bastante desestimular a demanda (nada se sabe sobre a oferta).

3) Se as taxas de juros caem, e os empréstimos se expandem, então está claro que o preço do
crédito ainda está alto o bastante para estimular a oferta, mas já está baixo o bastante para
também estimular a demanda.
4) Se as taxas de juros caem, mas os empréstimos não se expandem, então está claro que o
preço do crédito já está baixo o bastante para desestimular sua oferta (nada se sabe sobre a
demanda).

Só por aí já dá para você entender por que é absolutamente impossível colocar uma agência
governamental para decretar o preço do crédito e imaginar que ela irá acertar exatamente
qual é o valor que equilibrará todas essas variáveis e levará a economia a um perfeito ponto
de equilíbrio.
RESPONDER


Mr Richards 08/10/2017 00:36
Keynesian

Posso te afirmar que os bancos não estão emprestando a pequenas empresas e não é apenas
isso, estão emprestando mais a grandes empresas. Passarei uma matéria que fala sobre o
assunto, mas eu posso te afirmar que essa matéria assim como qualquer outra não é pela
perspectiva austríaca, e sim a neoclássica. Eles afirmam que é a regulação, burocracia,
impostos, o risco, mas pela perspectiva austríaca o maior motivo seria os juros
artificialmente baixos.

thelendingmag.com/banks-not-lending-to-small-business/

Para se aprofundar melhor, pesquise no google:"why banks don't lend to small businesses" e
encontrará diversas matérias que falam sobre isso, não postarei detalhes por detalhes, porque
meu tempo é precioso.

"Pelo contrário, continuam sendo os melhores ambientes no mundo para se fazer negócios."

Ainda continuam, mas se não houver reformas e continuar no mesmo modus operandi, a
situação dos EUA irá se deteriorar e provavelmente veremos o fim do império americano.
RESPONDER


Mr Richards 08/10/2017 00:54
Para teu desgosto achei um que fala sobre os juros baixos: https://www.fundivo.com/small-
business/business-finance/why-are-banks-no-longer-lending-to-small-businesses/#

"Banks are making less on small business loans Interest rates have stayed at record
lows for over a decade now. This is great for borrowers because they pay less to get a
loan. But, for banks that means they make less on each loan. This makes them
reluctant to issue small loans especially to newly established small businesses."

https://www.lendgenius.com/blog/why-small-businesses-dont-get-loans-from-big-banks/

"In fact, the Small Business Association (SBA) estimates that 80 percent of small
business loan applications are rejected."

Qual a próxima desculpa keynesiano?


RESPONDER


zanforlin 31/10/2017 16:54
Meu caro Leandro, como sempre, clareza e objetividade!

Enviei seu artigo para um colega (que não identificarei) que teve a gentileza de opor os
argumentos a seguir. Sei que o artigo é antigo, mas a causa é nobre, pois se trata de, quem
sabe, oferecer a esse colega pensamento diferente do dele.
Eis o comentário:

Caro Zanforlin,

Não posso concordar com a tese central do artigo do Mises, o qual credita a crise financeira
de 2008 como resultante de uma disposição legal, que flexibilizou as regras de concessão de
crédito imobiliário "Credit Score", com o objetivo de fomentar o mercado imobiliário de
forma irresponsável e conceder-se financiamento para qualquer um "no Income, no job",
muito menos que as Securitizadoras Fannie Mae e Freddie Mac ficaram com um passivo
superior a US$ 5 trilhões. Na minha avaliação a crise resultou da demanda absurda e
gigantesca pelos títulos emitidos pelas Securitizadoras "Backed Mortgage Securities –
MBS", com rates superiores aos dos Títulos Públicos do Tesouro Americano,
(principalmente Bancos Europeus e Asiáticos ávidos por esses papéis), associado às práticas
inescrupulosas de diversas instituições financeiras de grande porte, que diante dessa
demanda explosiva indicando ganhos crescentes e permanentes, passaram a conceder crédito
imobiliário sem qualquer critério de análise de risco de crédito (para isso, em uma economia
de mercado, não precisavam de qualquer lei que flexibilizasse as condições de concessão de
crédito), sabendo de antemão que qualquer crédito gerado seria adquirido pelas irmãs F.Mae
e F.Mac com emissão dos MBS, ou seja, o risco de crédito é transferido do banco originador
do crédito para os investidores (bancos de investimentos, fundos, fundações, seguradoras e
aí por diante). A intervenção do Governo Americano e dos demais Países atingidos foi no
sentido de salvar os principais bancos de investimentos, de sorte a evitar uma crise sistêmica
que poria em risco todo o sistema financeiro desses países. Diante das incertezas sobre a real
qualidade dos títulos "MBS" o mercado parou de investir nesses papéis, resultando na quase
falência dessas Securitizadoras. Não podemos esquecer que o sistema funcionou
perfeitamente durante mais de 70 anos e hoje, com a superação da crise de 2008, o mercado
americano voltou a liderar os investimentos em títulos MBS, assim, o modelo de
securitização de recebíveis oriundos de crédito imobiliário, desde que a originação dos
créditos não seja fraudulenta, é perfeito e une o mercado financeiro ou de capitais, como
suporte para o desenvolvimento do mercado imobiliário.
RESPONDER


Leandro 31/10/2017 17:56
"Não posso concordar com a tese central do artigo, o qual credita a crise financeira de
2008 como resultante de uma disposição legal, que flexibilizou as regras de concessão de
crédito imobiliário "Credit Score","

Essa está longe de ser a "tese central" do artigo. Com efeito, esta foi uma das causas, mas
não foi a principal. A "tese central", isso sim, foi a política monetária do Fed, sobre a qual
seu colega nada falou.
A flexibilização das regras de concessão simplesmente agravou o problema, o qual foi
causado primordialmente pela política monetária do Fed.

"muito menos que as Securitizadoras Fannie Mae e Freddie Mac ficaram com um passivo
superior a US$ 5 trilhões."

Isso não é questão de "opinião". É um fato. A função de Fannie e Freddie era dar liquidez
aos empréstimos imobiliários concedidos pelos bancos comerciais. Os bancos faziam os
empréstimos, Fannie e Freddie compravam esses empréstimos e então repassavam aos
bancos de investimentos.

Seu colega afirmar que "não pode concordar" com isso faz tanto sentido quanto eu dizer que
não posso concordar que a Dilma tenha sido eleita.

Quanto a esse valor de US$ 5 trilhões, em momento algum eles aparecem no artigo.

"Na minha avaliação a crise resultou da demanda absurda e gigantesca pelos títulos
emitidos pelas Securitizadoras "Backed Mortgage Securities – MBS", com rates superiores
aos dos Títulos Públicos do Tesouro Americano"

E quem é que criou essa demanda senão a política monetária do Fed?!

Com os juros baixos e com liquidez sobrando (consequência das políticas monetárias), todo
mundo correu justamente para o mercado imobiliário, pois ele trazia retornos muito maiores
que os títulos públicos e com a mesma segurança (o mercado imobiliário, como mostrado no
artigo, era garantida pelo governo e tinha a chancela da Alan Greenspan, que dizia que ele
era "rock solid").

Esse seu colega viu um assassinato sendo cometido, mas não soube reconhecer o assassino.

"(principalmente Bancos Europeus e Asiáticos ávidos por esses papéis)"

Se isso fosse verdade -- que bancos europeus e asiáticos foram os principais compradores --,
então a economia americana teria passado incólume, com a encrenca toda ficando com os
bancos europeus e asiáticos.

"associado às práticas inescrupulosas de diversas instituições financeiras de grande porte,


que diante dessa demanda explosiva indicando ganhos crescentes e permanentes, passaram
a conceder crédito imobiliário sem qualquer critério de análise de risco de crédito"

Ué, ele começou dizendo que não podia concordar com o fato de que o padrões de risco
foram reduzidos; agora, afirma que foi exatamente essa redução que causou os problemas?!

Outra coisa: quem é que permite que instituições financeiras atendam às "demandas
explosivas" por crédito? Exato, o Banco Central. O Federal Reserve.

Assim, voltamos à tese central do artigo.

"sabendo de antemão que qualquer crédito gerado seria adquirido pelas irmãs F.Mae e
F.Mac com emissão dos MBS"

Ué, mas antes ele havia dito que Fannie e Freddie nada tinham a ver com a situação. Agora,
reconhece que elas tiveram um papel central?

"ou seja, o risco de crédito é transferido do banco originador do crédito para os


investidores (bancos de investimentos, fundos, fundações, seguradoras e aí por diante)."

Exatamente como o artigo explicou em detalhes.

"A intervenção do Governo Americano e dos demais Países atingidos foi no sentido de
salvar os principais bancos de investimentos, de sorte a evitar uma crise sistêmica que
poria em risco todo o sistema financeiro desses países."

Essa foi a desculpa utilizada pelos governos para dar dinheiro aos bancos e foi inteiramente
abordada no artigo. Novidade nenhuma. (Para ver uma outra versão contada por um insider
explicando que tudo isso foi apenas uma desculpa para manter os lucros dos bancos, os
bônus dos executivos e seus golden parachutes -- que foi o que de fato ocorreu -- ver aqui.)

"Não podemos esquecer que o sistema funcionou perfeitamente durante mais de 70 anos"

Em nenhum momento dos 70 anos anteriores o juros reais haviam sido negativos, como
ocorreu de 2001 a 2004. Em nenhum momento dos 70 anos anteriores havia ocorrido essa
combinação explosiva entre juros reais negativos, incentivos governamentais à compra de
imóveis, agências paraestatais fomentando o mercado imobiliário e leis governamentais
obrigando bancos a conceder empréstimos imobiliários para qualquer pessoa.

Seu conhecido está mal informado tanto em termos de história quanto em termos de teoria
econômica e monetária.

"e hoje, com a superação da crise de 2008, o mercado americano voltou a liderar os
investimentos em títulos MBS, assim, o modelo de securitização de recebíveis oriundos de
crédito imobiliário, desde que a originação dos créditos não seja fraudulenta, é perfeito e
une o mercado financeiro ou de capitais, como suporte para o desenvolvimento do mercado
imobiliário."

Guarde essa frase. No futuro, quando houver outro problema idêntico, ele vai renegá-la e
inventar novas desculpas e novos culpados.

Aliás, não deixa de ser curioso que seu colega tenha começado o comentário negando uma
coisa e tenha terminado defendendo exatamente o que ele tinha negado.

Saudações, meu caro.


RESPONDER


zanforlin 31/10/2017 18:21
Leandro, corrigindo: o artigo é recente (12 dias), é que estava lendo outro artigo seu, de
2008.
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zanforlin 31/10/2017 18:52
Leandro, grato pela presteza e abrangência da resposta. Enviei-lhe o endereço para que
acesse, leia e reflita.
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Eduardo 19/02/2018 13:03
Seria possível disponibilizar os links dos gráficos usados no artigo?
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Bernardo 19/02/2018 13:19
Todos estão na pagina do Fed. Eis o primeiro:

fred.stlouisfed.org/series/MSPNHSUS

É só você ir colocando o nome de cada gráfico em "search FRED", no canto superior direito.
RESPONDER


Fernando L; 23/04/2018 22:52
Leandro, td bem?

Hoje eu vi que o recente aumento dos preços internacionais das commodities preocupou o
mercado financeiro com o fato de o FED ter que aumentar os juros básicos para conter uma
escalada inflacionária.

Minha dúvida: se os preços das commodities subiram no mercado internacional, que o FED
teoricamente não controla, e inflação é criação de dinheiro, faz sentido essa preocupação do
mercado? ou mesmo para quem gosta de estudar economia, faz sentido subir juros para
evitar aumento de preços de commodities cujo controle é do mercado?
RESPONDER


Leandro 23/04/2018 23:36
O encarecimento de commodities gera inflação de preços no mercado interno (commodities
importadas, como petróleo, trigo, soja minério etc. ficam mais caras). Inflação de preços em
alta é senha para aumento de juros, o que tende a gerar desaceleração da oferta monetária.

Ademais, vale lembrar que de janeiro de 2016 até hoje, o ouro já encareceu 30%, o que
denota desvalorização do dólar. Dólar mais fraco
significa commodities mais caras, pois as commodities são precificadas em dólar. (Essa
relação foi explicada em detalhes neste artigo).

Subir juros e desacelerar a oferta monetária é uma opção para tentar reforçar o dólar
(e, com isso, baratear as commodities, que são
precificadas em dólar. Dólar fraco, commodities caras; dólar forte, commodities baratas).

A fase da recessão do ciclo econômico americano pode estar se aproximando.


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Fernando 24/04/2018 12:37
Muito obrigado Leandro
RESPONDER


Lucas 30/04/2018 17:05
Artigo interessante, mas para mim, que não sou economista, tem algumas coisas estranhas:

1- a opinião de que aqueles dois órgãos federais (Fannie e Freddie) criaram um "acesso
artificialmente facilitado aos financiamentos", sendo que o que eles faziam era driblar a
regulamentação de % mínimo de ativos que o PRÓPRIO GOVERNO IMPUNHA. Não seria
mais fácil, para o mesmo fim, simplesmente afrouxar a regulação? Em outras palavras, o
artigo diz que o governo criou demanda artificial driblando a regulação que ele mesmo
criou. O autor queria que a regulação do governo valesse de verdade então?

2- O artigo ventila a possibilidade das agências classificadoras de risco terem dado nota AA
para os CDOs por pressão do governo. E, mesmo esclarecendo que isto é apenas algo que
"alguém diga", conclui essa parte com "elas estavam apenas fazendo o que o governo lhes
mandava." Rsrsrs, mas sei lá... é uma possibilidade.

3- Fala do aumento da base monetária como se fosse outra causa da demanda artificial, mas
acho que isso somente naõ quer dizer absolutamente nada. Teria que comparar com o
crescimento da economia, e com o possível consequente crescimento da inflação.

4- Acho que faltou dizer que quem detinha a posse dos CDS eram os próprios bancos que
vendiam (aos clientes de crédito) os CDOs. Ou seja, os bancos estavam segurados contra a
má-qualidade dos próprios produtos que vendiam, e não tinha regulação que proibisse isto,
tampouco os clientes saberiam disto.
RESPONDER


Leandro 30/04/2018 17:54
"a opinião de que aqueles dois órgãos federais (Fannie e Freddie) criaram um "acesso
artificialmente facilitado aos financiamentos", sendo que o que eles faziam era driblar a
regulamentação de % mínimo de ativos que o PRÓPRIO GOVERNO IMPUNHA."

Fica até difícil responder, pois nada disso foi dito no artigo. Você entendeu tudo errado.

Eis o que acontecia:

1) Bancos comerciais emprestavam dinheiro para as pessoas comprarem imóveis;

2) Em seguida, vendiam essas carteiras de empréstimos para Fannie Mae e Freddie Mac
(que então repassavam as carteiras para bancos de investimento).

Essa operação é normal e não visa a "driblar a regulamentação de % mínimo de ativos". Se


um banco empresta dinheiro e em seguida vende essa carteira de empréstimo, ele não está se
alavancando. O dinheiro que ele emprestou, ele recuperou (com uma margem de lucro) com
a venda da carteira de empréstimo. No final, seu dinheiro em caixa aumentou. Os balancetes
foram limpos. Isso não representa alavancagem nenhuma.

"Não seria mais fácil, para o mesmo fim, simplesmente afrouxar a regulação?"
Dado que uma coisa nada tem a ver com a outra, isso nem faz sentido. Ademais, quem
especifica a regulação bancária é o Fed. Já Fannie Mae e Freddie Mac são entidades do
âmbito fiscal, e não monetário.

"Em outras palavras, o artigo diz que o governo criou demanda artificial driblando a
regulação que ele mesmo criou. O autor queria que a regulação do governo valesse de
verdade então?"

Outra confusão. A existência de Freddie e Fannie (em conjunto com a expansão monetária e
a redução de juros do Fed) estimulou os bancos a expandir o crédito imobiliário. E tudo isso
ocorreu totalmente dentro do marco regulatório. Não houve nenhuma "driblagem" de
regulação.

Com efeito, todo o artigo é exatamente sobre isso: mostrando como as regulações não só não
impediram, como ainda fomentaram os problemas.

"O artigo ventila a possibilidade das agências classificadoras de risco terem dado nota AA
para os CDOs por pressão do governo. E, mesmo esclarecendo que isto é apenas algo que
"alguém diga", conclui essa parte com "elas estavam apenas fazendo o que o governo lhes
mandava." Rsrsrs, mas sei lá... é uma possibilidade."

Eis o que de fato está escrito no artigo:

"O que realmente se sabe é que estas três agências de classificação de risco são um cartel
estritamente regulado pela SEC (a CVM americana). É a SEC quem permite a existência
destas três agências, e é ela quem regulamenta e decide quem pode e quem não pode entrar
neste mercado.

Na prática, isso significa que não pode surgir concorrência externa, pois o governo não
deixa. Quem vai ter cacife para bancar uma agência de classificação de risco que seja
genuinamente independente neste cenário altamente regulamentado? Há um longo e
extenuante processo burocrático-regulatório, de modo que é impossível surgir uma agência
para confrontar as classificações destas três grandes.

Portanto, é perfeitamente plausível imaginar que estas três agências não iriam querer criar
turbulência política e se indispor com o governo americano rebaixando a classificação dos
títulos hipotecários. Isso poderia colocar em risco seu privilegiado cartel (totalmente
protegido pelo governo americano) e, consequentemente, afetar seus portentosos lucros."

"Fala do aumento da base monetária como se fosse outra causa da demanda artificial, mas
acho que isso somente naõ quer dizer absolutamente nada. Teria que comparar com o
crescimento da economia, e com o possível consequente crescimento da inflação."

Nada a ver. Até 2008, se havia expansão da base monetária era porque estava havendo
expansão dos meios de pagamento. Por definição. Ou seja, dinheiro estava sendo jogado na
economia e entrando via expansão do mercado de crédito (no atual sistema monetário e
bancário, o dinheiro só entra na economia via expansão do mercado de crédito).

Logo, expansão da base monetária significava, por definição, expansão monetária e do


crédito. Dinheiro só entrava na economia porque estava havendo empréstimos.
"Acho que faltou dizer que quem detinha a posse dos CDS eram os próprios bancos que
vendiam (aos clientes de crédito) os CDOs. Ou seja, os bancos estavam segurados contra a
má-qualidade dos próprios produtos que vendiam, e não tinha regulação que proibisse isto,
tampouco os clientes saberiam disto."

Errado. Os CDS eram produtos que seguradoras e bancos de investimento vendiam para
investidores. A AIG era a principal emissora de CDS, por isso ela se estrepou.

Ademais, a real bomba estava nos "CDOs sintéticos", que agrupavam várias hipotecas
podres em um só ativo. Quando elas fossem caloteadas, as instituições que estivessem com
essas várias hipotecas juntadas em um só ativo veriam o seu balancete desabar. E os CDS --
o seguros -- jamais conseguiriam cobrir todas elas. E foi o que ocorreu.

E o que realmente permitiu tudo isso? A expansão monetária e a redução artificial dos juros
engendrada pelo Fed, em conjunto com o fato de os bancos saberem que seriam resgatados
pelo governo (tanto via Tesouro e Fed, quanto via FDIC) caso tudo desse errado (definição
clássica de risco moral).

Eis o resumo dos acontecimentos:

1. O Fed corta a taxa básica de juros para o mínimo histórico de 1% em 2003. Levando-se
em conta a inflação, a taxa real de juros se torna negativa.

2. Como consequência, as taxas hipotecárias se tornam as mais baixas da história.

3. Essas taxas historicamente baixas fizeram com que os empréstimos explodissem,


principalmente para o setor imobiliário. Como exemplo, os bancos comerciais mais que
dobraram a quantidade de empréstimos imobiliários em suas carteiras.

4. Todos esses empréstimos a taxas baixas tiveram obrigatoriamente de ser estendidos para
pessoas com histórico de crédito ruim, o que aumentou a demanda por casas e por outros
ativos imobiliários. Não é surpresa alguma que isso tenha feito os preços das casas
dispararem.

5. Fannie Mae, Freddie Mac, títulos lastreados em hipotecas, derivativos de crédito, CDO e
CDS foram simplesmente o condutor que fizeram com que todos esses investimentos e
empréstimos ruins parecessem menos arriscados do que realmente eram.

Mas quem estimulou e possibilitou que tudo acontecesse foi o Fed. Não houvesse expansão
monetária e nem redução artificial dos juros, não haveria como ter essa estrondosa demanda
por imóveis (totalmente incompatível com a renda das pessoas), essa bolha imobiliária e
essa subsequente crise financeira.
RESPONDER


Rodrigo Fernandes 17/08/2018 14:49
Leandro,

Você já fez algum comentário a respeito daquela questão do FED supostamente ser uma
instituição privada?

Algo que também me chama a atenção é como os FED's de diferentes estados americanos
fazem declarações divergentes. Por mais que os EUA sejam uma verdadeira federação, como
a moeda é única, é de se esperar que o FED seja realmente um Banco *Central*, né?

Abraço!
RESPONDER


Leandro 17/08/2018 17:10
Essa afirmação sobre o Fed ser privado não é totalmente correta.

O presidente do Fed é apontado pelo presidente americano, e a autoridade do Fed é derivada


do Congresso americano, o qual tem poderes de supervisão sobre o Fed -- embora não tenha,
em tese!, poderes sobre a política monetária que este adota.

Ademais, o presidente do Fed, após ser escolhido pelo presidente americano, precisa ser
aprovado pelo Congresso.

É também o governo quem determina os salários de alguns dos funcionários do alto escalão
do Fed.

Nesse sentido amplo, o Fed é estatal.

Agora, o Fed é "privado" em dois sentidos:

1) Suas 12 sucursais (Boston, Nova York, Filadélfia, Cleveland, Richmond, Atlanta,


Chicago, St. Louis, Minneapolis, Kansas City, Dallas e San Francisco) são geridas
privadamente (é como se as sucursais do Banco Central no Rio, em São Paulo, Belo
Horizonte, Fortaleza etc. tivessem gerência privada). Mas elas apenas obedecem às ordens
do Fed de Washington, que é quem manda em todo o sistema.

2) O Fed como um todo não sofre qualquer auditoria política. Trata-se de uma caixa-preta
mais impenetrável que a CIA.

Por fim, vale ressaltar que a autorização para o Fed funcionar foi concedida pelo congresso
americano no Federal Reserve Act de 1913. Logo, tecnicamente, a existência legal do Fed
também depende do governo.
RESPONDER


Tiago Silva 17/08/2018 16:01
Leandro,eu estive lendo sobre derivativos financeiros,pelo que eu li a coisa é má,qual a sua
opinião sobre a bolha no mercado de derivativos?
RESPONDER


Leandro 17/08/2018 16:55
É um assunto importante, mas um tanto sobredimensionado.

O que causa ciclos é a expansão do crédito, e não a criação de derivativos. Os derivativos


americanos surgiram em consequência da expansão do crédito. Eles não causaram a
expansão do crédito, mas sim foram uma criação oriunda da expansão.
E o que possibilitou a expansão irrefreada do crédito, bem como sua concessão para pessoas
com histórico creditício para lá de duvidoso, foram todos os mecanismos citados no texto:
Fannie e Freddie, decreto CRA, pressão do governo para a concessão de crédito para pessoas
discriminadas etc.

Derivativos de crédito foram simplesmente o condutor que fizeram com que todos esses
investimentos e empréstimos ruins parecessem menos arriscados do que realmente eram.
Sem a expansão do crédito, derivativos seriam inócuos.
RESPONDER


Pobre Paulista 17/08/2018 17:48
Para a economia como um todo, os derivativos são inócuos, por um motivo simples: Ao
contrário dos ativos, reais, os derivativos são um jogo de soma zero. O ganho de 1000 do
João é resultado da perda de 1000 do José. O impacto na economia é somente o de
transferência de renda, mas não o de criação da mesma.

Agora, para aqueles indivíduos ou instituições que estão expostos em derivativos, em cifras
maiores do que seus patrimônios, aí os derivativos são realmente uma bomba. Você pode
perder literalmente tudo em questão de minutos.
RESPONDER


Luiz Carlos 20/08/2018 15:14
Derivativos não são inócuos, eles tem uma importante função de transferência de riscos,
investidores mais "conservadores" que buscam segurança utilizam derivativos para transferir
riscos de volatilidade no mercado para terceiros, que assumem os lucros/prejuízos da
variação dos preços.

O problema é, como o Leandro já disse, a utilização dos derivativos num sistema onde os
bancos são insolventes por natureza e o Banco Central estimula a criação de bolhas
financeiras, pois isso potencializa os derivativos para níveis bastante perigosos.

Inclusive por isso o Warren Buffett tem uma famosa frase em que ele disse "os derivativos
de crédito são armas financeiras de destruição em massa", isso porque era nítido que havia
uma bolha absurda (criada pelo FED) e que a utilização dos derivativos (algo saudável)
neste caso iria apenas potencializar o problema.
RESPONDER


Henrique 17/08/2018 16:09
quem ganhou dinheiro com esse estouro da bolha. Quero dizer, como alguém que antecipou
corretamente o ocorrido pôde fazer dinheiro?
RESPONDER


Marcos 17/08/2018 17:17
Fazendo short de ações de bancos e comprando CDSs.
RESPONDER

SRV 17/08/2018 20:47
Tem um filme chamado "The Big Short" (em português: A Grande Aposta") que fala sobre
algumas pessoas que ganharam dinheiro na crise do subprime. Muito do que o filme retrata
deve ser fictício (eu diria que a maior parte) mas dá uma ideia de como se pode ganhar com
crises.
RESPONDER


Marcelo 17/08/2018 22:27
Artigo sobre o filme:

www.mises.org.br/Article.aspx?id=2287
RESPONDER


Libertariozinho 17/08/2018 18:35
Leandro, você é fera!
Fez um jovem de 17 anos simplesmente amar economia, kkkkk!
Valeu cara!
RESPONDER


Leandro 17/08/2018 22:20
Obrigado pelo depoimento, prezado. São confissões assim que realmente estimulam. Grande
abraço!
RESPONDER


5 minutos de ira!!! 17/08/2018 19:54
Se, de uma hora para outra, o governo parasse de subsidiar o credito imobiliário no Brasil
(acabasse com minha casa minha vida), o que aconteceria?
RESPONDER


Ricardo 17/08/2018 22:18
Moradias mais baratas para todos e a redução das favelas.

www.mises.org.br/Article.aspx?id=2781
RESPONDER


Siemeh 17/08/2018 20:39
Olá! Queria começar me desculpando por falar disso aqui. Este é o artigo mais recente. Sou
nova no site (conheci ele a 3 dias) e confesso que estou me interessando muito mais por
economia depois de ler os artigos daqui. São ideias que finalmente fazem sentido quando eu
as executo na minha mente. Entretanto, ainda tenho dificuldade em alguns pontos.

Recentemente estava conversando com um amigo meu que é de esquerda. Eu comentei que
reduzir impostos e burocracia e abrir o mercado para investimentos estrangeiros,
incentivando uma livre concorrência poderia resolver parte da situação do nosso país. Ele
disse que isso mataria todos de fome e que abrir um mercado que não se sustenta fariam os
grandes nomes estrangeiros engolirem tudo o que tem por aqui. Ele também usou o fato de
eu ter apenas 16 anos para justificar meu pensamento "equivocado".

Fiquei em dúvida se essa linha de raciocínio está correta. O que vocês acham?
RESPONDER


Marcos 17/08/2018 22:16
É simples.

O modelo que o seu amigo defende é o cubano, o venezuelano e o norte-coreano. Sem tirar
nem pôr. Não tem problema ele defender tais atrocidades, desde que ele tenha a hombridade
de assumi-lo.

Já o modelo que você defende é o da Suíça, o de Hong Kong, o de Cingapura e o da Nova


Zelândia.

Cada um faz a sua escolha.

www.mises.org.br/Article.aspx?id=1804

www.mises.org.br/Article.aspx?id=2059

www.mises.org.br/Article.aspx?id=2260

www.mises.org.br/Article.aspx?id=2892

www.mises.org.br/Article.aspx?id=2083
RESPONDER


Siemeh 19/08/2018 15:51
Obrigada pela resposta e pelas leituras adicionais recomendadas. Acabei lendo alguns outros
artigos aqui do site e meu pensamento foi fortalecido.
RESPONDER


Leigo 20/08/2018 13:04
Ele disse que isso mataria todos de fome e que abrir um mercado que não se sustenta
fariam os grandes nomes estrangeiros engolirem tudo o que tem por aqui. Ele também usou
o fato de eu ter apenas 16 anos para justificar meu pensamento "equivocado".

Esse papo dos estrangeiros engolirem tudo não tem sentido lógico algum. Eles afirmam que
se você vive no Brasil e uma empresa chinesa comprar uma brasileira, é ruim para o povo
brasileiro e bom para o povo chinês. Acontece que, se a empresa chinesa vender produtos
e/ou serviços a preços baixos e de boa qualidade, isso é bom para qualquer consumidor (seja
ele italiano, alemão, japonês). E se a empresa brasileira vender a preços altos e de baixa
qualidade, culpa da falta de concorrência, é ruim para qualquer consumidor.
É pior ainda para o brasileiro, pois este esta fadado a comprar apenas o produto daquela
empresa protegida pelo Estado, o Estado não permite que o consumidor brasileiro compre
produtos melhores e mais baratos do exterior, impõe uma taxa absurda para "ajudar a
indústria nacional". Tem vários artigos sobre isso... Agora imagine menos impostos de
importação: o empreendedor pode comprar um produto estrangeiro mais barato para
produzir mais; um consumidor pode comprar um celular mais barato e sobra dinheiro para
investir em outra coisa, como doar a um necessitado. Não é à toa que um Estado sufocado
tende a abrir o mercado (g1.globo.com/economia/noticia/2015/11/governo-baixa-imposto-
de-151-importados-sem-producao-nacional.html).

Desde que conheci a escola austríaca, tudo o que li aqui criou uma conexão tamanha em
saber como as coisas funcionam. Tem toda uma lógica por trás. Indico 3 artigos, se não tiver
vocabulário pra entender, procure saber o que as palavras significam para entendê-lo por
completo (eu mesmo não sabia o que significava balança comercial, etc):
www.mises.org.br/Article.aspx?id=2869
www.mises.org.br/Article.aspx?id=1087
www.mises.org.br/Article.aspx?id=2477
RESPONDER


ed 18/08/2018 12:14
Se você reduz impostos automaticamente há mais dinheiro na mão da populaçao e abrindo o
mercado voce estimula a concorrência reduzindo o preço dos produtos.

Peça ao seu amigo para explicar como mais dinheiro na mão da população e produtos mais
baratos iriam matar um povo de fome.

Divirta-se com o resultado.

No mais parabéns por ter despertado tão jovem.


RESPONDER


Alex 17/08/2018 21:00
Leandro, se o FED esta pagando juros para os bancos manterem o dinheiro parado, este
pagamento esta vindo de onde? Isso vai gerar um rombo em algum lugar, certo?
RESPONDER


Leandro 17/08/2018 22:23
Está vindo dos resultados operacionais do Fed. Ao fim de cada ano fiscal, o Fed repassa uma
parte de seus lucros operacionais para o Tesouro.

Como, porém, ele agora está pagando juros sobre esses depósitos voluntários, isso significa
que ele está repassando menos dinheiro ao Tesouro. Consequentemente, o déficit
orçamentário é maior do que seria sem essa política. Consequentemente, quanto maiores os
juros, maior tenderá a ser o déficit.
RESPONDER


Vinicius Costa 17/08/2018 21:53
Leandro, hoje no mundo existe algo dessa dimensão em andamento? A próxima bomba não
seriam as próprias dividas publicas?
RESPONDER


Leandro 17/08/2018 22:25
É o que todos falam. A bolha estaria nos títulos públicos dos países desenvolvidos. De fato,
há fundamentos nesta tese. A conferir.
RESPONDER


Libertário Austríaco 20/08/2018 17:38
Prezado Leandro,

Você poderia nos dar mais informações sobre a bolha dos títulos estatais? Até mesmo
escrever um artigo sobre isso?

Abraço!
RESPONDER


Libertário Austríaco 21/08/2018 18:23
Prezado Leandro,

Você poderia nos dar mais informações sobre a bolha dos títulos estatais? Até mesmo
escrever um artigo sobre isso?

Abraço!
RESPONDER


Felipe Lange 17/08/2018 23:57
Leandro, meses atrás vi um comentário no qual você disse que na China há aeroportos
melhores que de alguns países desenvolvidos, nos grandes centros urbanos (e disse sobre
infraestrutura também). É algo que me surpreendeu visto que é um país com uma presença
(ainda) forte no estado na economia. Por que isso ocorre?

Eu te perguntei sobre uma futura eleição do Alckmin com o Pérsio Arida, você me deu uma
resposta muito boa mas não a encontro. Você pretende fazer artigos analisando os candidatos
como foi em 2010 (se não me engano você fez isso)? Chegou a ver o plano de governo do
Jair Bolsonaro? Se sim o que achou? Eu li tudo e vi algumas coisas liberais mas o fundo
ainda é de um planejamento central. A frase "Brasil acima de tudo" me soa bem coisa dos
anos 90 no século XIX.
RESPONDER


Bernardo 18/08/2018 14:08
Os aeroportos principais da China são muito bons porque é pra lá que foi o capital durante
boa parte dos anos 2000.
E, dado que aeroportos são atividades gerenciadas pelo estado em todo o mundo (mesmo
naqueles aeroportos concessionados), não há nada de mais no fato de que aqueles aeroportos
estatais que receberam mais aporte de capital serem melhores que os aeroportos estatais que
receberam menos aportes.

P.S.: os aeroportos americanos estão entre os mais estatizados do mundo (há pouquíssimas
concessões aeroportuárias nos EUA), e estão também entre os mais defasados. O aeroporto
JFK (Nova York) consegue ser pior que Guarulhos.
RESPONDER


Felipe Lange S. B. S. 18/08/2018 16:39
No aeroporto JFK ainda não fui mas eu já fui para o de Miami, foi o melhor que visitei até
agora, depois de ter visitado os aeroportos de Belém, Manaus, Fortaleza, Ribeirão Preto,
Brasília e Rio de Janeiro. Nos brasileiros o Santos Dumont me pareceu o menos pior, apesar
de tudo continuar sendo bem caro, muito devido às extensas regulações provavelmente. No
caso chinês, o que você mencionou, explica também a qualidade superior da rede de
infraestrutura além dos aeroportos?

Você sabe o motivo das estradas por concessão no estado de SP serem as melhores do país?
RESPONDER


Léo 18/08/2018 16:43
Os dois únicos pontos que fizeram a China ser uma "potência" em 30 anos foi a liberdade
trabalhista e a fácil entrada de capital estrangeiro. Nos outros pontos é praticamente um
Brasil asiático. Não esquecendo de citar a moeda forte que apenas se valorizou perante o
dólar desde 1995 (ao contrário do Real).

O governo chinês está pouco se lixando se quem vai construir os arranha-céus, portos,
aeroportos, indústrias, etc, é um cara de olhos puxados ou um alemão loiro. Ele quer
investimentos e consequentemente dinheiro e desenvolvimento. Quando o mundo inteiro
pode vir pra investir no seu país, o problema da escassez de capital da população pobre
rapidamente desaparece.

É por isso que países que abrem a economia para investidores e produtores estrangeiros são
países que possuem melhor infraestrutura, melhores produtos e, geralmente, melhores
condições de vida.
RESPONDER


Bruno Giovani Rossi 18/08/2018 19:31
Artigo digno de digno de aplausos... meus parabéns
RESPONDER


Rodolfo Andrello 20/08/2018 17:00
E por aqui se discute seriamente socializar as dívidas dos maus pagadores pra aquecer a
economia...
RESPONDER


Skeptic 20/08/2018 20:36
Leandro, recomenda algum artigo para que eu possa acompanhar a situação atual do Fed?
Pelo ponto de vista austríaco, claro. Pode ser em inglês mesmo. Infelizmente, o IMB não
posta mais tantos artigos sobre esse tema quanto postava.
Muito obrigado!
RESPONDER


Leandro 21/08/2018 00:29
A base monetária está congelada desde 2014, como este Instituto vem falando desde 2015
nos artigos a respeito. É por isso que não há muito de novo a ser dito sobre o tema (e é por
isso também que o dólar está forte).

d3fy651gv2fhd3.cloudfront.net/charts/united-states-money-supply-m0@2x.png?
s=unitedstamonsupm0&v=201808041016x&d1=20080101&d2=20181231
RESPONDER


Vinicius Gabriel Tanaka de Holanda Cavalcanti 20/08/2018 23:14
Não consigo ler esse artigo no celular, fica travando o navegador. Por que será?
RESPONDER


Arthur 21/08/2018 00:34
Normal no meu iPhone, tanto na wifi quanto na 4G
RESPONDER


Estudante Curioso 21/08/2018 14:38
Olá!

Tenho 16 anos, sou estudante do Ensino Médio da rede pública do estado de Santa Catarina
e tive interesse em aprender mais sobre o Liberalismo econômico e ético. Despertei esse
interesse por conta de toda a doutrinação socialista recorrente na escola, estou farto de
debates e mais debates com meus professores, que insistem em defender o Marxismo. Li
poucas obras de Mises ("Liberalismo" e "O cálculo econômico sob o Socialismo"), porém,
acompanho o fórum há cerca de 5 meses.

Sempre que critico o socialismo economicamente, recebo um argumento ideológico barato


(típico de qualquer populista), o problema é que, dificilmente tenho dados ou teorias
empiricamente comprovadas pra defender o liberalismo. Sempre recorro ao rank da Heritage
de liberdade econômica ou ao aspecto histórico de que nenhum regime comunista/socialista
ter dado certo. Gostaria de algumas recomendações de livros e/ou fóruns de debate, cursos
on-line ou apostilas.

Se possível, livros que argumentem como o Liberalismo econômico traria igualdade e bem-
estar à todos sem a interferência estatal. De preferência com argumentos simples para a
compreensão de todos da minha classe.

Agradecido.
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Marcos 21/08/2018 15:50
Igualdade? Liberalismo não promete igualdade, e nem poderia.
Ninguém é igual a ninguém. Cada um tem suas próprias habilidade, suas próprias
capacidade e seu próprio empenho. Dizer que um burro ou um vagabundo deve ter a mesma
pujança que um inteligente e capacitado é o ápice da imoralidade e da falta de ética. E é
exatamente isso que o socialismo promete.

Artigos sugeridos sobre tudo isso que você pediu.

Sobre socialismo:

www.mises.org.br/Article.aspx?id=2759
www.mises.org.br/Article.aspx?id=2770
www.mises.org.br/Article.aspx?id=2886
www.mises.org.br/Article.aspx?id=2879
www.mises.org.br/Article.aspx?id=2863
www.mises.org.br/Article.aspx?id=2136
www.mises.org.br/Article.aspx?id=2697

Sobre liberalismo, enriquecimento e desigualdade:

www.mises.org.br/Article.aspx?id=2878
www.mises.org.br/Article.aspx?id=2848
www.mises.org.br/Article.aspx?id=2839
www.mises.org.br/Article.aspx?id=2764
www.mises.org.br/Article.aspx?id=2763
www.mises.org.br/Article.aspx?id=2788
www.mises.org.br/Article.aspx?id=2921
www.mises.org.br/Article.aspx?id=2194

Sobre a imoralidade da igualdade:

www.mises.org.br/Article.aspx?id=1843
www.mises.org.br/Article.aspx?id=1859
www.mises.org.br/Article.aspx?id=2727
www.mises.org.br/Article.aspx?id=2272
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