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PRIMEIRO VOLUME
Dessensibilização Sistemática
Victor Silva; Bruno Silva
História
Para Wolpe (1958) a dessensibilização obedece ao principio do
contracondicionamento. Um dos primeiros exemplos divulgados da
utilização do procedimento de contracondicionamento para superar uma
resposta de ansiedade foi relatada por Mary Cover Jones que conseguiu
eliminar o medo de coelhos numa criança, utilizando uma técnica que
envolvia entre outras coisas emparelhar o alimento com o coelho.
Contudo não ficou completamente evidente quais eram os factores
responsáveis pela reduzão do medo. Esta tarefa foi realizada três
décadas depois por Wolpe.
Dessensibilização sistemática
A dessensibilização sistemática desenvolvida por Joseph Wolpe
destinase ao alívio da ansiedade mal adaptada.. Consiste em reduzir
uma resposta condicionada (ansiedade) através do emparelhamento do
estímulo causador da ansiedade com um estímulo que evoque uma resposta
antagónica à ansiedade, por exemplo, o relaxamento.
Relaxamento e Dessensibilização Sistemática
Apesar de alguns autores como Richardson afirmarem que o relaxamento é
melhor utilizado dentro do contexto da autoadministração, Rimm e
Masters, (1983) sugerem que é útil apresentálo inicialmente como algo
que o psicoterapeuta está a fazer pelo e para o cliente como maneira
eficaz de estabelecer um relacionamento e sentido de confiança nas
competências do psicoterapeuta. O cliente deve sentarse numa cadeira
confortável e o psicoterapeuta geralmente começa com uma explicação
dos fundamentos (fornecimento do racional teórico subjacente à técnica
de dessensibilização sistemática e do relaxamento) numa linguagem
acessível aos conhecimentos e caracteristicas do cliente, como por
exemplo da seguinte maneira: "Vamos utilizar uma técnica que tem muito
bons resultados em problemas como o seu. No incio do tratamento
faremos com que voçê se sinta relaxado. Depois, vai imaginar cenas
relacionadas com o seu medo começando com aquelas que só causam um
pouco de medo e assim gradualmente. Uma vez que vou introduzir as
cenas de uma maneira gradual e porque você estará relaxado ao
imaginálas, em pouco tempo será capaz de imaginar situações cada vez
mais fortes e ao mesmo tempo sentirse confortável. Se ao conseguir
imaginálas e mesmo assim não sentir medo, verá que mais tarde, ao se
deparar com essas situações na vida real, descobrirá que já não tem
medo. É muito importante que perceba como esta técnica funciona. Tem
alguma dúvida?".
Posteriormente passarseia à metodologia de indução de relaxamento e
depois poderseá começar com a dessensibilização propriamente dita
(construção de hierarquia de estímulos ansiogénicos e consequente
emparelhamento com o relaxamento).
As cenas ansiogénicas são apresentadas gradualmente conforme uma
hierarquia construida pelo cliente e posteriormente discutida com o
psicologo, emparelhadas sempre com o relaxamento. Normalmente, numa
das primeiras consultas, o psicologo pede ao cliente para descrever 3
cenas ansiogénicas, uma com pouca intensidade, outra com intensidade
intermédia e outra com grande intensidade, com grande detalhe de
pormenores, de forma a que o psicologo possa depois aplicar essas
cenas o mais realisticamente possível, possibilitando ainda ao cliente
algum conhecimento e capacidade para em casa trabalhar numa hierarquia
de estímulos com pelo menos 8 itens, uniformemente graduada, para ser
utilizada nas sessões seguintes. As hierarquias podem ser temáticas,
espáciotemporais ou místicas.
Antes de iniciar a dessensibilização devese pedir ao cliente que
pense numa ou duas cenas que evoquem sensações agradáveis, de
relaxamento. Durante a dessensibilização podese pedir ao cliente para
imaginar essas cenas afim de facilitar o relaxamento. Este pedido deve
realizarse entre a apresentação dos itens da hierarquia. Quando o
cliente indica que está no nível 1 de ansiedade, e o psicologo
verifica que não há nenhum sinal de ansiedade o cliente está preparado
para a primeira cena da hierarquia. Quando isto se verifica:
* Os clientes são informados que serão solicitados a imaginar as cenas
o mais nitidamente possível.
* Os clientes são também informados de que se a cena começar a mudar
deve trazêla à forma original
* Os clientes são instruídos para fazer um sinal, erguendo um dedo
quando obtêm uma imagem nítida da cena
* Os clientes são instruídos para fazerem um sinal quando sentem
alguma ansiedade.
Se o cliente não revela ansiedade após três apresentações imaginadas
de um item, este pode ser considerado dessensibilizado.
As cenas deverão ser imaginadas durante até 30 segundos. A primeira
aplicação da cena deverá durar 10 segundo. A segunda até ao máxiimo de
30 segundos, já que mais do que isso poderá levar a uma mudança no
conteúdo da cena ou dificuldade de imaginação da cena. O nível de
ansiedade deve ser avaliado mesmo na ausência de qualquer sinal.
Quando o cliente dá sinal de ansiedade, a imaginação da cena é
interompida imediatamente, voltando o cliente à situação de
relaxamento, através da sua indução através de uma das imagens
agradáveis trabalhadas anteriormente. Se a ansiedade se manter, e for
necessário, devese retomar os exercicios de relaxamento.
No caso da ansiedade não ser reduzida nos três primeiros ensaios, no
caso de um item intermédio, o psicopsicoterapeuta deverá, depois de
induzir o relaxamento, repetir o último item onde houve sucesso. Só
isso, na maior parte das vezes é suficiente para atingir o sucesso
posteriormente.
Possíveis dificuldades
Pode acontecer que o cliente pura e simplesmente não consiga superar a
ansiedade num item. Neste caso deverá estudarse se o item não estará
deslocado em termos de hierarquia de ansiedade ou então, se não será
necessário introduzir um item adicional e intermédio na hierarquia.
Requisitos básicos do cliente
Antes do psicoterapeuta decidirse pela dessensibilização sistemática
deve verificar se:
1 O cliente sofre de relativamente poucas fobias
2 As fobias apresentadas pelo cliente reflectem uma ansiedade
irracional, isto é, verificar se o cliente possui habilidades para
dominar aquilo que teme (convém salientar que a ansiedade pode ser
racional, isto é, falta ao cliente habilidades para dominar aquilo que
teme. Por exemplo: sujeitos que desejam interacção social mas não a
obtêm. O psicoterapeuta pode sentirse tentado a usar a
dessensibilização sistemática, por pensar que o cliente é inibido pela
ansiedade que surge na situação de interacção. No entanto, o cliente
pode ficar ansioso porque lhe faltam as habilidades sociais
necessárias saber conversar, marcar um encontro, etc.)
3 O cliente possui capacidade imagética
4 O relaxamento muscular profundo consegue induzir o relaxamento
Transição de uma sessão para a outra
* Devese iniciar a dessensibilização com o último item completado
satisfatoriamente. Isto por duas razões: por uma questão de
continuidade natural entre as sessões e possibilitar verificar se
houve alguma recaída
* Não se deve apresentar novos itens da hierarquia durante os útimos
minutos da consulta de forma a evitar acabar a consulta com alguns
sinais de ansiedade
Duração da dessensibilização sistemática
A duração da dessensibilização sistemática é variável, mas não deve
exceder os noventa minutos por consulta. Na maioria dos casos, 20 a 30
minutos é o limite razoável. Considerando o periodo de tempo padrão de
duração de cada consulta (50 minutos) o resto do tempo deve ser
utilizado para discutir o curso da psicoterapia, as experiências
relevantes vividas, etc.
Dessensibilização "In Vivo"
Alguns autores acreditam que os contactos na vida real com os
estímulos fóbicos são beneficos. No entanto, uma palavra de precaução
é necessária. É uma imprudência total encorajar os clientes a se
colocarem em situações correspondentes a itens ainda não
dessensibilizados. É muito importante que o sujeito não seja
confrontado com um insucesso, pois, pelo processo de generalização,
poderia fazer com que cenas anteriormente dessensibilizadas causassem
novamente ansiedade. Devese levar o paciente a experientar in vivo as
situações fóbicas, inicialmente acompanhado pelo psicologo, sendo
muito provavelmente necessário retomar o sistema de itens
hierarquizados na exposição.
Eficácia da técnica
Há evidências de que a dessensibilização sistemática é mais eficaz com
as fobias simples (medo de alturas, cães, etc) do que com fobias
sociais, incluindo a agorafobia, em parte talvez porque os meios
sociais, podem reflectir dificiências nas habilidades sociais.
No entanto, a ténica foi utilizada com sucesso num grande número de
perturbações comportamentais envolvendo uma certa "carga ansiosa",
como todas as fobias, as dificuldades de contactos sociais, a angústia
do fracasso em certas disfunções sexuais, a angústia "existencial",
certas formas de obsessão e de compulsões de repetição (gaguez).
Num grande número de casos a dessensibilização sistemática é utilizada
juntamente com outras técnicas: por exemplo, numa psicoterapia
conjugal, paralelamente a técnicas como o treino de comunicação ou
como o contrato terapeutico instaurado para resolver uma
atitudeproblema num dos conjugues, podese utilizar a
dessensibilização sistemática num dos parceiros, que se mostre
demasiado ansioso para participar de um modo adequado nna
psicoterapia. Noutros casos, a dessensibilização sistemática será por
vezes a introdução a uma psicoterapia que seguirá por uma abordagem
cognitiva. Este pode ser o caso no tratamento de certas pessoas que
sofrem de "incompetência social"; após uma dessensibilização
sistemática das principais situações ansiogénicas em relação com o
contacto com os outros, estabelecese uma psicoterapia visando
modificar as distorções cognitivas que o individuo tem sobre si
próprio.
Victor Silva e Bruno Silva
Consulta Psicológica e Desenvolvimento
Considerações acerca da sua aplicabilidade aos domínios de intervenção
da Psicologia Social, do Trabalho e das Empresas
Por:
Alexandre M. Campos
Psicólogo, Universidade do Porto
Porto, Agosto de 1994
INTRODUÇÃO
Este trabalho tenta fazer uma exploração sobre a perspectiva
preventiva, social e comunitária da intervenção psicológica e, mais
especificamente, reflectir sobre a aplicabilidade deste tipo de
intervenção psicológica, na perspectiva de um modelo desenvolvimental
ecológico, a problemas, populações, e contextos específicos dos
domínios de intervenção da Psicologia Social, do Trabalho e das
Empresas.
Atentase ainda a um conjunto de modalidades de actuação do exercício
profissional da consulta psicológica, tanto às formas tradicionais
como o aconselhamento e a psicoterapia, visando alcançar objectivos
mais remediativos, como às modalidades mais recentes, nomeadamente, os
grupos de desenvolvimento e diversos tipos de consultadoria tendo como
objectivos a prevenção e promoção ao nível do pessoal e do
transpessoal.
CONSIDERAÇÕES
Ao falarse no modelo desenvolvimentalecológico estamos a
debruçarmonos sobre o desenvolvimento humano, e sua inserção nos
vários contextos de vida.
O desenvolvimento humano é considerado como uma variável dependente
das interacções ocorridas nos vários contextos em que as pessoas
vivem. Assim, há que conhecer o processo de desenvolvimento do
indivíduo nos vários sistemas em que ele se insere, sistemas como a
sua família, a escola, o local de trabalho, etc., assim como o seu
processo de desenvolvimento relativamente aos diversos papéis que
desempenha em cada um, nomeadamente pai, mãe, filho, cônjuge,
professor, aluno, trabalhador, cidadão, etc...(Campos,1985).
A Psicologia Comunitária vai então enquadrarse nesta pesrpectiva, o
que obriga a uma reflexão posterior. "Não é apenas o desenvolvimento
dos indivíduos ou das pessoas significativas dos meios em que vivem
que está em questão: é também o dos próprios grupos em que os
indivíduos se inserem e das redes de relações comunitárias de que
fazem parte"(Campos,1988).
É de acordo com este pressuposto que a perspectiva ecológica se
organiza, isto é, há que, além de considerar os sistemas pessoais,
abranger também os sistemas transpessoais. O desenvolvimento
psicológico é importante, mas ele não é nem deve ser a única dimensão
do desenvolvimento humano a ser considerada, nem se poderá de modo
algum reduzir este desenvolvimento humano a um desenvolvimento baseado
unicamente no psicológico.
Deste modo, o psicólogo, se pretende intervir, deverá estar preparado,
para adoptar uma abordagem multidimensional dos problemas humanos
(Coimbra,1991), para observar todas as facetas de cada problema de
cada cliente, mantendose sempre presente uma posição holística uma
vez que vai actuar não só no desenvolvimento do indivíduo, mas também
no desenvolvimento de pessoas significativas do cliente, e ainda no
conjunto de relações em que ele se insere. Todas estas "dimensões"
convergirão para o todo que o indivíduo é, mas não deverão ser
observadas segundo uma perspectiva estanque ou determinista.
Como já foi dito, a actuação do psicólogo está grandemente orientada
para as relações que os indivíduos têm com os outros e com os diversos
contextos de vida à sua volta. Nesta linha, há que actuar para
transformar tanto os microssistemas como os mesossistemas do cliente.
Os primeiros porque constituem, de acordo com Bronfenbrenner,
conjuntos estruturados de relações interpessoais, actividades e papéis
que o indivíduo em desenvolvimento experiencía (por exemplo, o grupo
de amigos, de colegas de trabalho, ou mesmo o casal, etc.). Os
segundos pois definem as relações que existem entre o pares de
microssistemas (e. g.: a relação entre o emprego e a família).
Portanto, ao nível da intervenção, além de uma actuação no sistema
pessoal ela deve orientarse para os vários ecossistemas em que o
cliente se enquadra, assim como todos os outros sistemas
transpessoais.
De acordo com a perspectiva que se tem estado a desenvolver, a
intervenção poderá ter diferentes objectivos, consoante a situação
específica em que o cliente se encontre.
Em situações de crise, nas quais o cliente está em pleno desequilíbrio
psicológico, o indivíduo está a enfrentar uma situação que constitue
um problema, e não consegue resolvêla com os recursos que lhe estão
disponíveis no momento, e que ele normalmente utiliza para as outras
situações. Neste tipo de situações, o objectivo é Remediar a situação,
identificando e tratando o problema. Tratase de um processo reactivo,
visto ele ser ocasionado pela crise.
Em situações de crise potencial, já se visa Prevenir o aparecimento da
crise. Há que actuar, não quando a crise está a manifestarse, mas sim
previamente, quando é provável que ela surja. Tanto neste caso como no
seguinte, os sujeitos estão em posição de adquirirem competências e
capacidades nas várias áreas de vida. Deste modo, há agora uma atitude
proactiva.
Nas situações fora da crise o objectivo é Promover as competências do
sujeito.
Assim, a intervenção tanto pode ocorrer quando os sujeitos se
encontram em situação de crise (e. g.: a morte de um outro
significativo), de transição (e. g.: o divórcio), de confusão (e. g.:
o sentido de autocompetência), como quando estão disponíveis para
adquirirem capacidades cada vez mais complexas de expressão e criação,
nos vários domínios da existência (Campos,1985).
Se na perspectiva remediativa a atitude é claramente reactiva, na
perspectiva preventiva e de promoção a atitude é proactiva. E se
relacionarmos esta última atitude com a nossa tentativa de evitar que
algo aconteça, nomeadamente uma situação negativa, a crise, temos que
falar na prevenção. A prevenção primária deve ser a detentora de
primazia uma vez que está dirigida para o evitamento da crise em
populações de risco e para os processos de promoção de capacidades
(perspectiva do prevenir e do promover).
A recessividade das prevenções secundária e terciária deveria
justificarse, a meu ver, pelo facto de a primeira apenas tentar
evitar que uma dada situação se agrave, e de a segunda ser um processo
de prevenção discutível, pois enquadrase numa linha remediativa,
especificamente na cura.
Nesta perspectiva, os alvos da intervenção psicológica encontramse
não só ao nível dos indivíduos (clientes e outros significativos) mas
também os vários grupos, comunidades e organizações. Segundo o modelo
desenvolvimentalecológico, para haver mudança há que intervir nos
sistemas pessoais, interpessoais e transpessoais, isto é, nos domínios
da realidade intrapsíquica, das relações entre os indivíduos, e dos
muitos e variados contextos de vida.
A promoção do desenvolvimento humano, enquanto intervenção
psicológica, deverá ainda contar com todos os contingentes
sócioeconómicos do momento. Assim, ela será melhor efectuada se
enquadrada nos projectos de desenvolvimento sócioeconómico da
comunidade (Campos,1988). O macrossistema (Bronfenbrenner,1979) (as
crenças, as ideologias vigentes num dado momento históricosocial) que
envolve o indivíduo influencia tanto este como todos os outros
sujeitos e os contextos de vida (e naturalmente a orientação
sócioeconómica da comunidade).
Relativamente às estratégias utilizadas para alcamçar os objectivos
desejados junto dos alvos, elas podem ser directas (efectuamse junto
do sujeito), nomeadamente o Aconselhamento Psicológico, a
Psicoterapia, a Educação Psicológica ou Grupos de Desenvolvimento,
(intervenção fora da situação de crise) e indirectas (efectuamse
juntos do meio, no transpessoal, embora se vise a promoção do
sujeito), como é o caso da Consultadoria (seja ele triádica, de grupo,
organizacional ou comunitária).
A perspectiva desenvolvimentalecológica privilegia os grupos de
desenvolvimento ou de educação psicológica e a consultadoria e dá
menos importância ao aconselhamento psicológico e à psicoterapia.
Assim, os Grupos de Desenvolvimento ou de Educação Psicológica
tratamse de uma estratégia de intervenção directa, consistem em
intervenções realizadas a grupos, fora das situações de crise, que
visam desenvolver, capacitar ou educar o indivíduo. Tratase de, mais
do que ensinar e instruir, desenvolver e construir.
A Consultadoria já se trata de uma estratégia indirecta de intervenção
psicológica, visto efectuarse não directamente no sujeito, mas nos
indivíduos com que ele contacta, como outros significativos ou
profissionais que têm alguma ligação com o cliente. Deste modo, estes
vão exercer, consequentemente, influência e pressão no sentido
positivo junto do cliente. Ao consulente cabe a responsabilidade da
implementação das soluções resultantes do processo. É um tipo de
intervenção que tenta actuar nas redes sociais do cliente e deste modo
ajudar a sua vida. Por e. g.:, o psicólogo pode intervir no professor
(o consulente), prevendo a intervenção futura deste no aluno (o
sujeito, alvo de mudança). Fornecese serviços directos ao consulente,
capacitandose este e logo agindose indirectamente no cliente.
Esistem vários modelos históricos de consultadoria; a
ConsultadoriaDiagnóstico que prevê o recurso a um especialista para
produzir um diagnóstico e uma prescrição quanto a um problema; na
Consultadoria de Formação fazse a actualização e formação de
profissionais e disseminação de competências, tendo sempre em vista
que a aprendizagem acontece ao longo de todo o ciclo vital. O
planeamento destas acções de formação propiciará melhores resultados
se for colaborativo, incluindo indivíduos presentes nas várias áreas
envolvidas. A Consultadoria centrada no Desenvolvimento Profissional
do consulente está mais orientada para o desenvolvimento deste e a
aquisição de competências por parte do mesmo, do que propriamente em
formar e treinar profissionais na área técnica. Em colaboração com o
consultor, o consulente deve, no final do processo, ser capaz de
resolver os seus problemas autonomamente, em virtude das "coping
skills" que adquiriu. Na Consultadoria Organizacional, fazse
sobretudo uma análise da organização, atentando a aspectos da sua
estrutura e do seu funcionamento, e incidindo em temas como estilos de
liderança, estratégias para negociação e resolução de conflitos, ou a
participação dos trabalhadores nas tomadas de decisão.
As intervenções preventivas, sociais e comunitárias podem, ora
centrarse na competência do sistema pessoal e/ou na qualidade dos
contextos de vida, ora serem especificamente psicológicas ou
integradas em projectos de desenvolvimento humano e social. No
primeiro caso, tentase intervir no sistema pessoal do indivíduo (o
intrapessoal), ao nível interpessoal (nomeadamente as redes sociais de
apoio) ou nos sistemas transpessoais, visando modificar os contextos
de vida (o desenvolvimento dos indivíduos acontece nos vários
microssistemas, e a qualidade destes tem repercussões naquele mesmo
desenvolvimento). Para o segundo caso, contase com o facto de os
projectos de desenvolvimento muitas vezes não serem especificamente
psicológicos. Deste modo, estando presentes outros profissonais
integrados numa equipa, teremos que actuar a outros níveis que não só
o psicológico. Assim, "o psicólogo apercebese rapidamente de que é
ilusório trabalhar em termos individuais quando se desejam resultados
positivos e que, em trabalho de grupo, o modelo mais eficaz é o
colaborativo" (Coimbra,1991).
O modelo do especialista (tradicional), devido às consequências que
acarreta, não vai ser muito desenvolvido. Ele conduz a uma
estanquicidade da área de actuação, uma excessiva valorização das
competências, técnicas e instrumentos de acção do psicólogo, e a uma
errada legitimação das práticas de intervenção baseada na pretensa
"cientificidade" das técnicas. "O modelo de especialista instaura,
efectivamente, uma relação de poder e dependência" (Coimbra,1991).
O modelo colaborativo, alternativo ao anterior, baseiase na
colaboração, na interdisciplinaridade e numa abordagem global dos
problemas. Por um lado, "o psicólogo é percepcionado como um recurso,
envolvido na prossecução de objectivos gerais, para os quais a sua
acção concorre..." (Coimbra,1991). Ao mesmo tempo, ele é "um
profissional...cuja intervenção ocorre a par da de outros
profissionais" (Dinkmeyer & Dinkmeyer,1984; citados por Coimbra,
1991). Esta abordagem permite observar com maior nitidez todas as
dimensões que, para além da psicológica, constroem a grande
complexidade dos problemas de cada indivíduo (as dimensões social,
económica, cultural, etc.). Além da partilha de responsabilidades e
negociação conjunta das decisões, há ainda a partilha dos
conhecimentos, experiências e competências que cada interveniente tem,
e que são úteis para se atingir o fim proposto.
"O apoio psicológico ao desenvolvimento psicológico dos alunos e à sua
orientação escolar e profissional bem como o apoio psicopedagógico às
actividades educativas e ao sistema de relações da comunidade escolar
" (artº 26º e 24º da Lei de Bases do Sistema Educativo) são objectivos
que os psicólogos devem ter quando estiverem a intervir no contexto
escolar.E que intervenção cumpre melhor estes fins que não a
intervenção ecológica ou comunitária, nomeadamente a Consultadoria
Ecológica? Cleto (1989) considera que o psicólogo a exercer na escola
deve dar resposta à diversidade de pedidos e problemáticos de
adolescentes e jovens quer os que se ligam directamente à dimensão
escolar em sentido estrito... quer os que se prendem com outras
dimensões, papéis e contextos de vida do adolesente (Coimbra,1991).
Assim, e em virtude do papel que os psicólogos têm na promoção do
desenvolvimento pessoal e social dos alunos, foi implementada a área
curricular de formação pessoal e social, visando tanto a capacitação
para a resolução de vida, como a promoção do desenvolvimento
psicológico, e mesmo uma educação para os valores.
Neste contexto, a intervenção deve efectuarse tanto através de
programas de intervenção exclusivamente psicológicos, como através de
estratégias de consultadoria. No 1º caso, as intervenções de "educação
psicológica deliberada " destinamse a desenvolver nos alunos
capacidades psicológicas de preparação para as várias tarefas. No 2º
caso, podese falar em "consultadoriaformação psicológica junto de
professores" (Alpert & Ass. ,1982; Campos, 1987; Cole & Siegel, 1990;
VandenplasHolper, 1991), tratandose de um processo destinado ao
desenvolvimento de programas, ou à inovação pedagógica, ou mesmo de
integração, em termos de igualdade numa equipe de projecto (Campos,
1990). Assim, a consulta para o desenvolvimento humano do aluno deve
estenderse à colaboração com os professores, para os apoiar no seu
papel de profissionais do desenvolvimento. Devese ainda alargar a
intervenção a todo o sistema organizacional da escola, pois "o
desenvolvimento das competências de vida e da respectiva dimensão
psicológica resulta ainda do impacto que neles tem o sistema ecológico
constituído, nomeadamente pela estrutura e organização da instituição
escolar e do processo de ensino/aprendizagem, bem como das relações
que aquelas mantém com os outros contextos directos de vida" (Campos,
1990). É necessária assim uma intervenção ecológica que se dedique
tanto às actividades e relações interpessoais dos alunos
(microssistema) como as relações das escolas com a família e a
comunidade (mesossistema), no fundo uma Consultadoria Ecológica
(Campos, 1990). Felizmente, a reforma curricular em curso abre
perspectivas para o incremento de um modelo desenvolvimentalecológico
(Campos, 1990; Christenson, Abery & Weinberg, 1988).
Ao nível do desenvolvimento do sistema pessoal do indivíduo, a acção
do psicólogo pode passar pela criação de competências para lidar com a
vida, com as transições e tarefas desenvolvimentais, fornecendo às
pessoas capacidades para agirem na interacção com o meio, promovendo a
sua capacitação comunitária e social. Os sujeitos devem obter
autonomia para conseguirem inplementar os seus projectos e ao mesmo
tempo ultrapassarem os obstáculos que se lhes deparam, especialmente
originados por um confronto com os projectos sociais.
Segundo a perspectiva desenvolvimental do "lifespan" ou ciclo vital,
a intervenção deve estar orientada para tornar o indivíduo mais
autónomo, promovendo assim o desenvolvimento de capacidades para lidar
com momentos importantes como os que já foram referidos: tarefas
desenvolvimentais, transições e tarefas de vida. Segundo Havighurst
(1972) uma "developmental task" é uma tarefa que aparece em
determinado momento da vida e, caso ela seja resolvida, o indivíduo
adquire capacidade para resolver situações futuras, assim como
satisfação. A não resolução origina infelicidade e incapacidade de
resolver tarefas que o indivíduo venha a ter que ultrapassar. Ainda
para Hopson & Adams (1976), uma transição consiste numa
"descontinuidade consciente no espaço de vida de uma pessoa, que vai
exigir novas respostas comportamentais". Transições como o divórcio,
mudança de emprego, etc. podem activar crises nas quais as pessoas
veem os seus recursos de coping a serem totalmente esmagados. No
geral, uma crise é um desiquílibrio psicológico numa pessoa que
enfrenta uma situação perigosa e que constitui um problema importante
do qual não consegue escapar, e nem o consegue resolver com os seus
habituais recursos de resolução de problemas (Caplan, citado por
Sandoval, 1988).
As noções de tarefas desenvolvimentais e transições relacionamse
nitidamente com o modelo do ciclo vital. Esta perspectiva, visto
considerar um desenvolvimento ao longo da vida do indivíduo, assume
que existe uma continuidade temporal, marcada por mudanças activas e
sistemáticas, e que os indivíduos, em todo este processo, interactuam
com os contextos de vida (perspectiva ecológica do desenvolvimento).
Essas mudanças e acontecimentos de vida podem estar associados à idade
do indivíduo ou ao momento histórico geracional que ele atravessa
(normativos), mas podem ser ainda acontecimentos idiossincráticos (não
normativos). Devem abranger ainda uma das dimensões de vida do sujeito
(psicológica, social, cultural), e serem ou não esperados por este.
As transições, períodos de conflito de papéis, obrigam a um
questionamento pessoal e a um iniciar de novos estilos de vida, e têm
implicações aos níveis da percepção de si próprio, da percepção da
relação do indivíduo com os outros, ou da percepção da acção que ele
desenvolve nas várias áreas. Algumas perspectivas referem também o
conceito de Crise, situações de excessiva carga assumida.
Ao nível da intervenção, há que evitar a ocorrência destes
acontecimentos, ou preparar os sujeitos para aqueles, bastando muitas
vezes o fornecimento, ou melhor ainda, a promoção de competências para
lidar com estas situações negativas. Não nos podemos esquecer,
contudo, que, apesar das suas consequências negativas, estes
acontecimentos são frequentemente promotores potenciais do
desenvolvimento do indivíduo. Ao porem "em crise estrutural, funcional
ou emocional o sistema pessoal, e lhe exigirem mudanças, constituindo
assim tarefas de desenvolvimento ..." (Campos, 1990), vão permitir que
se construa um sistema pessoal mais autoorganizado e mais integrado.
Quando pensamos em intervir para desenvolver as capacidades para lidar
com as tarefas de vida e com as transições desenvolvimentais, devemos
estudar e definir as dificuldades, exigências das situações para, de
seguida, identificar competências específicas. Vai ser necessário
desenvolver métodos sistemáticos para ensinar aquelas competências,
assim como elaborar programas para a sua disseminação. Os programas
devem estar elaborados de acordo com as necessidades concretas e reais
dos indivíduos, assim como permitirem a estes a transformação das
situações problemáticas em oportunidades de desenvolvimento
psicológico. A intervenção deve focarse em três diferentes áreas onde
a promoção e o desenvolvimento de competências é de extrema
importância: O indivíduo deve adquirir competências relativamente a si
próprio (e. g.: competências de estudo, ou de tomada de decisão,
etc.), relativamente à relação com os outros (e. g.: competências de
emissão de feedback), e competências mais específicas relacionadas
com contextos específicos e mais previsíveis que ocorrem ao longo da
vida, como o emprego, a família, ou a comunidade (e. g.: competência
para manter o emprego, ou ser um(a) pai/mãe eficaz). NelsonJones
(1984) apresenta a terapia da responsabilização pessoal, na qual a
noção de "tarefas individuais" se liga com a ideia de que as pessoas
criam as suas vidas através das escolhas diárias. Em suma, a terapia e
consulta da responsabilização pessoal focase sobretudo sobre os
desejos e tarefas que fazem parte da vida de todos nós.
Segundo Moos & Schaffer (1987), e de acordo com a teoria das crises,
um indivíduo está especialmente receptivo à influência externa no
tempo de mudança. Esta acessibilidade oferece aos psicólogos uma
preciosa oportunidade de provocar um impacto construtivo. Há que
transformar as situações de crise em oportunidades de desenvolvimento
psicológico. Sandoval (1988) apoia esta perspectiva, e afirma que o
objectivo não é propriamente reorganizar completamente as dimensões da
personalidade do indivíduo, mas sim restaurálo para que ele tenha um
resolver criativo dos problemas. O sucesso na resolução de uma crise
leva provavelmente à aquisição de novas capacidades para lidar com
situações problemáticas, e à adopção de um melhor funcionamento.
As mudanças de residência, mudanças de emprego e de estatuto
ocupacionais, assim como a grande mobilidade em diferentes relações
interpessoais, ou mesmo a situação de desemprego são momentos de vida
importantes, que ocorrem, no presente, com uma maior frequência do que
em gerações anteriores (Felner et al., 1983) e que constituem
acontecimentos de vida stressantes e de crise.
E são ainda muitas outras as problemáticas que os indivíduos
apresentam, consoante o seu periodo desenvolvimental. (Wortley &
Amatea, 1982, citados por Costa & Menezes, 1991), nomeadamente as
fases universitária, de jovem adulto, da vida adulta e de idosidade.
Na fase adulta, por ex:, são comuns problemas relacionais e de
comunicação (com os colegas, com a família), problemas de realização
(dificuldades escolares, de tomada de decisões, etc.), e problemas de
identidade (ou autoorganização, como por ex: dificuldades ao nível da
autodefinição e da consciencialização dos sentimentos (Costa &
Menezes, 1991).
Visto o modo como as pessoas lidam com situações de crise, transições
e problemas vários estr sujeito a vários constrangimentos que têm a
vêr com as características do próprio indivíduo e do acontecimento
como também com as características do contexto de vida (Brammer &
Abrego, 1981; Hopson, 1985; citados por Costa e Menezes, 1991), que
contextos de intervenção psicológica a este nível são mais apropriados
que os centros comunitários. Estes constituem un contexto privilegiado
para a operacionalização da perspectiva ecológica da consulta
psicológica, visto, em virtude da sua própria inserção, poder
mobilizar com mais facilidade os recursos ao nível dos microssistemas
e mesossistemas, o que é muito relevante na intervenção para a
promoção do desenvolvimento humano (Soares, 1991). Além disso, a
intervenção não deve assentar num "psicocentrismo do exercício
profissional"(Soares,1991), pois o psicólogo não é o único a
contribuir para o desenvolvimento, devendose trabalhar em conjunto
com professores, família, pares, e outros. Os centros comunitários têm
realmente uma efectiva integração comunitária (através das estruturas
aí inseridas, com os centros sociais, as autarquias, etc.),
trabalhando assim em sintonia com os problemas e recursos que a
comunidade possui. (Campos 1989; citado por Costa & Menezes, 1991).
A situação de desemprego tratase de um momento de crise para o
indivíduo. O trabalho representa, para as pessoas o seu contexto de
ligação com a realidade, o meio que lhe confere uma identidade de
pertença a uma determinada colectividade, além de ser uma fonte de
estruturação das relações humanas. No fundo, ele é fornecedor de
autoestima e ponto de referência. Além disso, o não ter emprego tem,
a nível social,*/* uma conotação negativa. O desempregado é visto como um
indivíduo diferente.
Uma situação deste tipo pode provocar reacções como a agressividade.
desânimo, desespero, ansiedade, inibição, apatia, culpabilidade, perda
de identidade, abaixamento da autoestima, desorientação, ..."
(Kaufman, 1982; citado por Rodrigues & Rodrigues, 1987). São assim,
aspectos com que o psicólogo terá de lidar ao nível da intervenção
(Rodrigues & Rodrigues, 1987).
Uma vez que o problema do desemprego é claramente um problema social,
económico e político, a intervenção não deverá situarse apenas no
domínio do psicológico, mas deverá obedecer ao já referido e
desenvolvido modelo desenvolvimentalecológico da intervenção
psicológica, isto é, além de atentar ao pessoal e ao interpessoal,
deve incidir também no transpessoal.
A consulta psicológica na situação de desemprego deve tentar, em
primeiro lugar "estimular a procura de emprego". Para tal deverseão
manter sessões de grupo com objectivos vários, visando sobretudo a
aquisição de informação e competências de competitividade no mercado
de trabalho. Claro que se estas iniciativas forem complementadas com
medidas sociais, económicas e políticas tomadas conjuntamente, as
probabilidades de sucesso serão maiores (Pombo, 1985; citado por
Rodrigues & Rodrigues, 1987). Em segundo lugar há que "capacitar para
viver com o desemprego", pois nem todas as situações de desemprego
poderão ser solucionadas. Assim, os indivíduos têm direito e
necessidade que lhes sejam fornecidas capacidades e condições para
lidarem de um modo saudável com a situação.
Aqui a intervenção deve tanto apoiar directamente ao nível individual,
como promover encontros entre desempregados, intervir em contextos
como a família ou a sociedade (promoção social da mentalidade que
tende a vêr o desempregado como algo mau), e mesmo criar alternativas
de ocupação que criem os benefícios de "ter emprego" (Rodrigues &
Rodrigues, 1987).
A intervenção psicológica para o desenvolvimento do sistema pessoal do
indivíduo pode incidir também nas estruturas cognitivas da acção
humana. Segundo Kohlberg, o indivíduo constrói uma nova estrutura em
função do desiquilíbrio na acção, sendo este provocado pelo conflito
cognitivo, ou então para Coimbra (1991) o desenvolvimento do cliente
ocorre a partir de um processo de transformação do seu sistema
pessoal, integrando níveis anteriores (mais simples) em níveis mais
complexos de compreensão da realidade. A intervenção visa então
promover a facilitação do processo de transição, ou seja desenvolver
competência(s) no indivíduo. Estáse assim a falar de estratégias.
cognitivodesenvolvimentais. As estratégias que vão ser desenvolvidas
são para se rem aplicadas em situações de ausência de crise. São
assim essencialmente educativas.
A intervenção pode ser ora sectorial, ora global. Uma técnica de
desenvolvimento sectorial das estruturas cognitivas é a "Discussão de
Dilemas", a qual visa desenvolver o raciocínio moral e promover o
desenvolvimento interpessoal. Esta técnica baseiase no pressuposto de
que a apresentação de problemáticas com um conflito de interesses (o
que vai levar à consideração de vários pontos de vista Tomada de
Perspectiva Social), conduz ao conflito cognitivo, e a consequente
resolução deste último leva ao desenvolvimento do indivíduo, mais
concretamente à ou às estrutura(s) cognitiva(s) abrangida(s). O
cliente vai passar assim para um nível mais complexo de compreensão da
realidade. Em virtude de a discussão de dilemas não intencionalizar
mudanças de comportamento, Kohlberg começa a desenvolver a sua
"Abordagem da Comunidade Justa", visando a mudança do sistema
interpessoal.
A Educação Psicológica Deliberada é uma intervenção que já tem como
ambição o desenvolvimento global das estruturas cognitivas, tem por
base uma "orientação holistica da intervenção" Coimbra, 1991). Aqui,
Sprinthall apoia o princípio de que o desenvolvimento do indivíduo
(passagem para estádios de desenvolvimento mais complexos) ocorre
quando este vive experiências significativas, desafiantes e mais
complexas do que o permitido pelo seu desenvolvimento actual, o que
vai provocar um desiquilíbrio. Esse desiquilíbrio não deve ser
demasiado, ou o indivíduo não conseguirá evoluir e sucumbirá.
Segundo Coimbra (1991), "na educação psicológica deliberada, o
processo de intervenção organizase no sentido de melhorar a própria
qualidade de vida psicológica do cliente, proporcionandolhe a
oportunidade de viver e integrar experiências reais de vida em
contextos genuinos". Assim, e como se pode observar, esta é uma
estratégia que incide não só nos recursos do próprio sujeito mas
também nos recursos dos vários contextos, o que faz dela uma
intervenção não exclusiva e somente centrada no indivíduo mas tambem
orientada para a psicologia ecológica.
As estruturas idiossincráticas são as regras a partir dos quais o
indivíduo organiza e atribui significado à realidade. São dimensões
tácitas, quer do autoconhecimento, quer das teorias do sujeito e da
sua relação com o mundo. São no fundo regras abstratas que o indivíduo
não consegue enunciar mas que organizam a sua acção. Como no fundo o
processo de construção dos significados é um percurso de
autoreconhecimento, para o psicólogo produzir mudança e logo intervir
nas estruturas indiossincráticos ele deve, segundo Marcia, antes de
mais, desenvolver uma relação segura com o cliente (assim como em
qualquer outra intervenção), criar condições para o investimento do
indivíduo e propiciar possibilidades de exploração de alternativas.
Analisandose a lógica actual do funcionamento do indivíduo,
conseguese saber o que é que o perturba, e podese então desafiar a
estrutura do cliente, fazendose perguntas desiquilibrantes (mas
emparelhandoas com o apoio), que desafiem a estrutura tácita cliente
tendo como objectivo a progressão de uma dimensão explícita
(acontecimento) para uma dimensão tácita (regras, estruturas).
O apoio social é, segundo Vaux (1988), um processo transaccional
complexo que envolve um intercâmbio activo entre o indivíduo e a rede
social de apoio. Esse apoio social tem, na opinião de Cobb, uma grande
importância em relação ao stress e ao bem estar, pois o indivíduo
necessita ser querido, respeitado e protegido de muitos acontecimentos
frustrantes. A família, os amigos, os serviços sociais, os vizinhos,
etc, são, para Caplan, sistemas de apoio muito importantes que
desempenham um papel crucial no resultado das crises e transições
desenvolvimentais das pessoas. As redes de apoio ao fornecerem apoio
social, podem ter funções instrumentais (dando resposta a necessidades
materiais) e/ou funções expressivas (dando resposta a necessidades de
amor, afecto, amizade, etc.). O indivíduo tem assim necessidade de
possuir redes sociais de apoio que consigam abranger todas as suas
carências. A ajuda deve ser efectiva, surgindo frequentemente
situações em que as redes de apoio são vistas como tal, mas
efectivamente são fonte de perturbação, ou por outro lado, as redes
fornecem apoio concreto mas o indivíduo não percebe ou sente esse
apoio. Há que intervir nomeadamente ao nível da percepção de apoio que
o indíviduo tem, ou orientálo para o apoio (avaliação da necessidade
de apoio pelo indivíduo e mobilização das suas redes).
As redes sociais apresentam mais vantagens se forem grandes (maior
distribuição dos pedidos de apoio), e se tiverem uma maior diversidade
da sua composição. A densidade da rede deverá ser idealmente alta em
questões emocionais, e baixa em actividades instrumentais. A densidade
pode ser positiva ou negativa, conforme as situações, isto é, pode ser
que a partilha da mesma perspectiva ou problemática para muitas
pessoas diminua o conflito ou a confusão, mas por outro lado, diminua
a disponibilidade dos membros da rede. Redes com relações complexas e
recíprocas são muito importantes e indispensáveis, preenchendo muitas
necessidades de apoio, mas são também muito dispendiosas em termos de
tempo e esforço. Há que não ter apenas "amigos íntimos". A família,
por ex:, envolve afecto e assistência, é uma grande fonte de apoio,
mas é um sistema que como qualquer outro, poderá não saber responder a
todo o tipo de exigências.
O processo de apoio é influênciável por um conjunto de factores. As
características pessoais como a empatia, a extroversão, etc.
condicionam a quantidade e qualidade de apoio que o indivíduo recebe.
Também existem influências do contexto social em que o sujeito se
insere.
A profissão exercida, a comunidade em que o sujeito vive, e mesmo a
família da qual o indivíduo tem origem são factores determinantes das
redes de apoio. Por ex:, quando eventualmente um indivíduo muda de
casa, a sua rede pode ser quebrada, mantendose algumas relações e
construindose outras. A apreciação não só da influência do indivíduo
nas suas redes e o apoio individual dos elementos ao sujeito, mas
também dos vários contextos sociais em interacção com o indivíduo e
entre si, faz vislumbrar um modelo ecológico de todo o processo de
apoio social. Também o sexo ou o momento do ciclo vital em que o
indivíduo se encontra são variáveis que condicionam o apoio social.
Geralmente os homens tem redes de apoio maiores que as mulheres, visto
muitas destas últimas serem "donas de casa". Assim, o fenómeno de
diferenciação do apoio social em função do género tem muito a ver com
os papeis sexuais e a sua socialização. Por outro lado, ao longo do
ciclo vital o sujeito sofre mudanças, nomeadamente na sua capacidade
de envolver outros como figuras de apoio, na sua disponibilidade para
investir nas redes sociais, ou ainda ao nível da mutabilidade das suas
necessidades, o que obriga à constante actualização e renovação das
redes. Também os contextos de vida do indivíduo mudam o que acarreta
constrangimentos à capacidade do sujeito criar, manter, e inovar as
redes sociais de apoio que necessita.
Segundo Gottlieb (1988), o apoio social é um recurso que é mais
acessível, é culturalmente válido e aceite, do que os serviços
oferecidos pelos profissionais de saúde mental. Não só com base nisto
mas também em função da importância que o apoio social tem para o
indivíduo há que assegurar que as pessoas tenham apoio suficiente e
adequado sempre que ele seja necessário, e que estejam cientes dessa
situação. É este o objectivo das intervenções de apoio social.
A intervenção visa assim em primeiro lugar fazer com que a pessoa
utilize mais eficazmente a rede de apoio existente. Em segundo lugar,
há que, determinar se é necessário desenvolver novas redes de
relações, e se se deve manter a(s) rede(s) de apoio actual(ais). Além
da promoção da oferta e aceitação de comportamentos de apoio, devese
alterar as apreciações subjectivas que o indivíduo faz do apoio
recebido. Na avaliação da sua rede, o indivíduo pode ter percepções
irrealistas que urgem serem tornadas realistas.
As intervenções podem ser efectuadas a vários níveis: no indivíduo
(permitindo que seja feita uma avaliação profunda e clara da rede do
indivíduo), na família, nos grupos (não nos grupos já existentes, mas
na criação de novos grupos, como por ex: os grupos de interajuda),
nas organizações (a escola, o contexto de trabalho, etc.), na
comunidade (o bairro, a freguesia em que se vive) e mesmo na sociedade
em si. O local de trabalho, por ex:, apresenta, segundo Price (1985),
oportunidades para projectos de apoio social. O contexto de trabalho
oferece frequentemente uma população segmentada pela idade, sexo,
nível educacional, no fundo grupos de pessoas que partilham situações
e responsabilidades e enfrentam problemas comuns. O clima deste
contexto pode ou não facilitar o estabelecimento de relações entre os
vários funcionários, mas este último "constitui sem dúvida uma
importante fonte de ligações sociais potenciais, para adultos e
jovens". (Vaux, 1988). Não se está a falar apenas de relações de
trabalho, mas também de relações sociais que surjem daqueles momentos
de interacção não relacionados com o trabalho, e que poderão ter um
efeito positivo no bem estar das pessoas no próprio contexto de
trabalho, e no quotidiano. A política da organização em que se insere
o posto de trabalho pode incrementar a cooperação ou por outro lado
instigar à competição. Ainda ao nível do local do trabalho, este pode
conter factores importantes de stress (House, 1981), como ambiguidade
e conflito de papeis, ou trabalho repetitivo, entre outros. Segundo
Vaux (1988), são os próprios colegas de trabalho que melhor respondem
a muitos dos problemas neste contexto, em virtude de estarem por
dentro das restrições e constrangimentos que ele impõe. A família
apenas poderá dar algum apoio emocional, e estando ela envolvida com a
pessoa em crise (especialmente os membros mais próximos) não poderá
deixar de se envolver demasiado emocionalmente, e provavelmente acabar
por ficar psicologicamente afectada e desenvolver críticas e
comportamentos hostis à pessoa em crise (Gottlieb, 1988).
A intervenção ao nível das redes de apoio previligia estratégias como
a Construção de Competências, orientada para a comunidade em geral e
não para um grupo específico. Esta estratégia tem como princípio o
facto de todos os indivíduos deverem possuir competências que mais
cedo ou mais tarde virão a precisar. É uma estratégia que dirige as
atenções não para a resolução de perturbações, mas para a obtenção do
bem estar (Vaux, 1988). Outra estratégia é o "Empowerment" dos
indivíduos. Profissionais e membros da comunidade colaboram em
esforços para capacitar, fornecer mestria, aos indivíduos para eles
resolverem as suas dificuldades e atingirem os seus objectivos
(Rappoport referido por Vaux, 1988), mestria essa aplicável ao nível
individual mas também ao nível comunitário.
As técnicas de mudança social reflectem três processos de intervenção
distintos: informar, persuadir e exercer coerção. A informação
baseiase na crença de que as pessoas agem com base em interesses
próprios clarificados, enquanto que o uso da coerção assenta na
necessidade do seu emprego alcançar e eliminar conflitos de interesses
e/ou atitudes que estão enraizadas no indivíduo. Mas é a persuasão
que, segundo Vaux (1988) se mostra como sendo a estratégia mais
promissora para as intervenções de apoio social. Os processos de
intervenção que se enquadrem nesta área de estratégia são, por um
lado, mais eficazes do que se se orientassem para o fornecimento de
informação. Por outro lado, as tácticas persuasivas são bastante menos
propensas em gerarem oposição ou problemas éticos do que a coerção
para a mudança. Por outro lado, como Vaux afirma, a influência social
persuasiva é mais vista como ferramenta legítima dos profissionais da
psicologia e outros afins da elaboração dos programas de apoio social.
Assim, as intervenções são multiplas, por ex:, a Terapia da Rede visa,
segundo Schoenfeld et al. (1985) restabelecer a rede do indivíduo como
uma unidade funcional, com o propósito de aumentar a proximidade e
capacidade de apoio e ajuda dos membros do grupo, entre si. Esta
estratégia envolve o trabalho directo do psicólogo com a totalidade ou
segmentos da rede do indivíduo, como vizinhos, família, amigos etc. Há
que reunir a rede, juntar os membros, alterar a responsabilidade,
através da mobilização da rede ao nível da sua energia, cuidados,
comportamentos de apoio, tudo para ajudar o indivíduo em crise.
Outro exemplo é o caso dos Grupos de Interajuda e de Apoio, que
pretendem sobretudo aumentar o apoio social através do suplemento ou
substutuição dos recursos das redes actuais do indivíduo. De acordo
com Gottlieb (1988), as pessoas têm o direito absoluto de definir
aquilo que para elas, constitui apoio e de determinar os seus níveis
ideais de participação num grupo. Este é um princípio muito importante
ao qual os grupos de apoio obedecem. Esta modalidade de intervenção
propicia a solidariedade, o apoio emocional e o corte do isolamento
dos indivíduos, mas poderá criar uma dependência entre os vários
elementos do grupo, o que conduzirá a dificuldades quando a separação
se torna necessária.
Não se pode isolar as pessoas dos contextos em que elas vivem. O
conceito de "pessoaemcontexto" é assim importante para
compreendermos a interacção que existe ao longo do tempo entre o
indivíduo em desenvolvimento e os seus contextos de vida, e para nos
apercebermos que é por causa dessa mesma interacção que surgem muitos
problemas. Orford (1992) afirma que os indivíduos estão num estado de
"transacção" contínua com os vários contextos em que vivem, num
processo de influência recíproca. Assim, o objectivo da intervenção
para a mudança dos contextos institucionais de vida é presisamente
essa "interface" entre a pessoa e os contextos sociais.
Orford, propõe assim uma perspectiva centrada na noção de Contexto, a
qual enfatiza a referida transacção contínua entre os indivíduos e os
vários contextos, e uma outra perspectiva mais abrangente que a
anterior, centrada na noção de Sistema. Atentase nesta última à
interrelação que existe entre os vários contextos, sempre numa
tentativa de integração e de relação dos diversos contextos de vida.
Ao abrigo das metodologias centradas na noção de Contexto estão o
Modelo de Barker e os seus "contextos comportamentais". Estes "padrões
estáveis de comportamento e ambiente", fenómenos naturais, muitas
vezes criados para servir interesses e necessidades humanas, têm,
segundo Barker (citado por Orford, 1992), um poder quase coersivo
sobre o comportamento das pessoas, levando à perda da individualidade
das pessoas nesses contextos comportamentais. Este "condicionamento"
acaba por ser excessivo e logo nefasto para o indivíduo.
Como Moos, e a sua "Ecologia Social", surge o conceito de "atmosfera"
ou "clima" social, que consiste, em traços gerais, na percepção que o
indivíduo tem do ambiente num determinado contexto. Esta perspectiva
tenta assim compreender o impacto que o ambiente tem no indivíduo
(enfatizando a percepção individual do ambiente), ambiente esse com
duas vertentes intimamente ligadas, igualmente contributivos para a
experiência individual e, deste modo, dignas de estudo: o ambiente
físico e o ambiente social. Ao nível da intervenção, há que descobrir
os diferentes aspectos de organização dos ambientes para que se possa
maximizar o desenvolvimento pessoal dos seus habitantes. Só após
recolha de informação que permita um conhecimento estruturado do
ambiente pelos indivíduos, eles poderão ter o controlo ambiental de
que necessitam para melhor serem capazes de proceder à transformação
desse mesmo ambiente, de forma a tornálo mais adequado. Em função da
relação directa entre complexidade do indivíduo e capacidade de
transformação e adaptação, será útil promover o desenvolvimento do
sujeito através de outro tipo de intervenções.
Já no domínio das perspectivas orientadas para a noção de Sistema
surgemnos modelos que se preocupam mais com as conexões que existem
entre os muitos e diferentes contextos de vida do indivíduo. É o caso
da Teoria do Comportamento Interpessoal, com a sua perspectiva base da
complementaridade da açcão, tão importante quando pensamos num bom
funcionamento das relações interpessoais, por exemplo, nos contextos
de trabalho. Podese referir também o interaccionismo (interacção
entre o indivíduo e o contexto) e a congruência pessoaambiente.Aqui,
e segundo Holland, é importante que o ambiente corresponda ao tipo de
personalidade do sujeito( ex: se o indivíduo é competitivo, o
ambiente também o deve ser) .
Há então que melhorar a qualidade psicosocial dos contextos de vida
recorrendo à modalidade de intervenção indirecta consultadoria , e
utilizando uma estratégia colaborativa.
A colaboração ou cooperação entre psicólogos e profissionais propicia
um maior investimento, por parte destes últimos, nas mudanças que
forem necessárias implementar, assim como aumenta a probabilidade da
intervenção se situar no campo do possível. Além disso, é sempre útil
obter novas perspectivas e experiências e trabalhar com um leque maior
de percepções e competências, se bem que a cientificidade do processo
possa ser abalada em virtude de os próprios profissionais estarem
envolvidos na mudança.
No caso concreto da situação de trabalho, e da intervenção na
organização, Jetton (1984) alertanos para a utilidade de intervir
junto dos líderes quando produzir mudança é o nosso objectivo.
Poderseà mudar o funcionamento organizacional ?...Provavelmente não,
mas talvez se consiga, em vez de de mudar a estrutura da organização
ao menos permitir a partipação dos trabalhadores nas tomadas de
decisão. Tal será positivo para a empresa (maior informação a dar
entrada no processo de tomada de decisão e maior eficácia
organizacional) e ao mesmo tempo para os trabalhadores (aumento da
motivação e investimento e maior sentimento de gratificação).
No fundo, tratemos de actuar nos problemas do quotidiano e no modo de
lidar com esses problemas, através da intervenção nos vários e
diferentes níveis de análise que o permitam (psicológico, social,
profissional), sem perder de vista todos os recursos que a comunidade
nos oferece.
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Por:
Alexandre M. Campos
Psicólogo, Universidade do Porto
Porto
, Agosto de 1994
Análise de um Posto de Trabalho na Indústria Gráfica Portuguesa
e seu enquadramento no
Envelhecimento Diferencial da População Activa
Por:
Alexandre M. Campos
Ana Maria Diogo
Psicólogos, Universidade do Porto
Porto
, Junho de 1994
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INTRODUÇÃO
O objectivo deste estudo foi o de enquadrar um determinado posto de
trabalho no envelhecimento diferencial da população activa
determinando o conteúdo e a organização do trabalho na indústria
gráfica.
Este processo de envelhecimento tem em especial relevância se o
inserirmos no contexto da gestão previsional dos empregos, mais
concretamente uma gestão para alcançar a harmonia entre o que é humano
e o que é material (o homem com as suas afecções, desenvolvimento e
envelhecimento, e o meio material, com as suas características
específicas e o seu constante desenvolvimento tecnológico).
Pretendese portanto, trabalhar no domínio de interacção entre o
envelhecimento do trabalhador, um envelhecimento biológico e as
condições de trabalho. Tratase, no entanto, de uma interacção que
actua efectivamente nos dois sentidos: as condições de trabalho têm
grande peso no envelhecimento biológico do indivíduo trabalhador e o
envelhecimento biológico condiciona o relacionamento com o emprego.
Como ilustração podemos referir por exemplo, que determinado factor
agressivo no meio do trabalho pode, além de ser fisicamente incómodo e
mesmo pôr em risco a sua integridade física, afectar o seu campo
motivacional ou mesmo prejudicar as suas redes sociais no emprego.
As diferentes categorias profissionais condicionam diferencialmente o
envelhecimento dos seus trabalhadores. Assim, será interessante
observar a evolução do trabalho e as transformações de um trabalhador,
num posto de trabalho, ao longo da sua vida para, posteriormente,
relacionálas com a forma como executa o seu trabalho.
Tentamos assim, atentar a todos os processos pelos quais os
trabalhadores passam, e as suas implicações, tanto ao nível mental
como físico.
Assim, o trabalhador está constantemente submetido a um conjunto de
condições de trabalho. Dominandoas é possível influenciar
positivamente o relacionamento do trabalhador com o seu posto de
trabalho e reduzir ou eliminar factores negativos a incrementarem o
seu envelhecimento.
As características do meio de trabalho são as que constituem aquilo a
que correntemente se chama condições de trabalho (...) As várias
características do meio de trabalho são: a) A organização do trabalho.
Pode caracterizarse, antes de mais, pelas modalidades da repartição
das funções entre os operadores e entre os operadores e as máquinas: é
o problema da "divisão" do trabalho. A organização definese também
pelas "regras" que regem o funcionamento da estrutura assim definida
(...) b) A tecnologia da produção. Tem um efeito duplo nas condições
de trabalho: um efeito directo, através da modificação dos postos de
trabalho, e um efeito indirecto, através da modificação da organização
que determina.
A mudança das condições de trabalho com a evolução dos materiais é
evidente: basta pensar na transformação do trabalho operário, no
sector da mecânica, com a introdução das máquinas, o seu
aperfeiçoamento e, recentemente, a sua programação. Com a evolução
tecnológica, as profissões alteramse, as qualificações exigidas são
diferentes. Estas modificações produzemse, actualmente, a um ritmo
mais rápido que no passado, sendo os trabalhadores levados a mudar
cada vez mais de profissão ao longo da sua carreira (...) c) Uma
empresa, uma administrativa ou comercial está, ela própria, inserida
num sistema mais vasto, que se pode considerar o seu contexto ou o seu
meio ambiente. Este determina, por um lado, muitas vezes de maneira
bem importante, as suas regras de organização e de funcionamento e,
mais geralmente, as condições de trabalho locais (...) As
características socioeconómicas da sociedade global desempenham aqui
um papel importante, na medida em que impõem às unidades consideradas
e, por elas, aos trabalhadores, modalidades de funcionamento
determinadas: repartição do poder, forma e montante da remuneração,
duração do trabalho, legislações sociais, legislação sobre a
segurança, etc. (...)
O meio ambiente é também constituído por condições locais mais
específicas, quer socioeconómicas (estado do emprego e da mãodeobra
na região), quer geográficas (tipo de clima, de habitat) (Leplat &
Cuny, 1977).
O trabalhador submetese àquelas condições de trabalho em virtude da
interacção que tem com o seu posto de trabalho. Assim, quando
atentamos a esta relação, não nos podemos esquecer que em primeiro
lugar, o trabalhador tem determinada condição física e psicológica, e
presta diferentes contributos ao modelo do seu posto. Em segundo
lugar, este trabalhador executa um trabalho que não depende apenas do
trabalhador em si, não é independente, mas depende também de um
cinjunto de especificações e restrições oriundas de um nível mais
alto, isto é, as estratégias da organização. E em terceiro lugar, as
características do trabalho previstas pela organização podem não ser
as mesmas do trabalho efectivamente executado pelo trabalhador.
Tratase, portanto, do estudo das discrepâncias entre o que é previsto
pela organização (as "regras de produção") e o que é realmente
efectuado pelo trabalhador.
A organização da informação neste relatório obedece a uma lógica
bastante simples. Se a introdução tem como função actualizar rápida e
objectivamente o leitor acerca das principais questões deste trabalho,
o segundo capítulo já é de extrema utilidade para se conseguir inserir
este estudo numa realidade histórica e actual que é a da indústria
gráfica em Portugal.
Chegamos ao capítulo 3, onde nos debruçaremos sobre a empresa deste
estudo proriamente dita. Podemos agora falar do grosso do nosso
trabalho, referindo objectivos, metodologia, actualização global
acerca da empresa, a análise de um posto de trabalho em si.
Por último, no capítulo 4, não poderíamos deixar de fazer uma
avaliação final do trabalho, ou apresentar as nossas conclusões e
elaborar sugestões para o futuro.
A Indústria das Artes Gráficas em Portugal
Iremos neste capítulo expôr um conjunto de dados históricos e
informações do presente da indústria das artes gráficas no contexto
português, que achamos serem bastante úteis para melhor compreendermos
onde o tema do nosso trabalho se insere, e qual a sua situação a um
nível mais global.
História
A par do desenvolvimento tecnológico que atingiu as indústrias durante
todo o século XX e obviamente de todas as mudanças que tal implicou
(nomeadamente de novos materiais e novas tecnologias), começou a
darse grande importância ao processo de formação dos trabalhadores,
para fazerem face àquelas novas tecnologias.
Podese assim considerar que esta relação materiais/tecnologia =
indivíduo/formação (para a tecnologia funcionar precisa de mãodeobra
especializada, e a mãodeobra necessita de formação para poder
trabalhar com essa mesma tecnologia) explica de certo modo a
relevância da actuação nos trabalhadores de que o nosso estudo trata,
mais concretamente no domínio das artes gráficas.
A Actualidade
O sector das artes gráficas, domínio de estudo no nosso trabalho, tem
denotado um certo desenvolvimento, mais especificamente no contexto
português, nesta fase final do século XX.
Tal pode ser constatado quando atentamos ao aumento do número de
empresas gráficas, estas fundamentalmente pequenas e médias empresas,
na década de 80 que ronda os 30%, ou um aumento, ainda que ligeiro, do
número de trabalhadores nesta área (entre os 3 e os 4 pontos
percentuais).
Ainda, com o volume de vendas aumentado em cerca de 47% das empresas,
como resultado de, por um lado, uma melhoria da qualidade dos produtos
gráficos, e por outro lado, uma intensificação da procura interna, as
empresas passaram a dispôr de uma situação económica mais propícia
para investirem no seu desenvolvimento, tanto no domínio comercial
como no domínio da aquisição de novos equipamentos. Isto só veio
contribuir para toda uma evolução maciça das tecnologias das artes
gráficas. Podemos agora dizer que o presente estudo é de grande
importância se pensarmos nas consequências do desenvolvimento dessas
tecnologias: capacidade de resposta da mãodeobra, competências,
adaptação a diferentes exigências, actualização de conhecimentos,
etc.. Por outro lado, podemos concluir que a situação dos
trabalhadores nas artes gráficas é difícil na sua capacidade de
resposta às inovações tecnológicas se nos debruçarmos sobre alguns
traços importantes desses mesmos trabalhadores, ou seja, de um modo
geral, um baixo nível socioeconómico a quando da altura da entrada
para a empresa acrescido de uma fraca formação humana e cultural e
baixas competências técnicas.
No entanto, os trabalhadores parecem estar cientes de que têm de obter
formação para conseguirem responder às funções que lhes são exigidas,
se bem que, a maior parte da formação a que têm acesso é obtida
através do contacto com os técnicos de assistência dos equipamentos
que são adquiridos pela empresa. Como se irá verificar à frente,
pudemos observar este facto no caso concreto do nosso estudo.
Todos estes factores obrigam a uma reestruturação das várias formas de
organização do trabalho, indo aquela ter uma forte acção sobre os
"indivíduos" (trabalhadores) da empresa, entidades passíveis não só de
produzir "índices de produção" e exibir competências específicas, mas
também de serem afectadas nas suas identidades biopsicossociais.
A INVESTIGAÇÃO
Objectivos
Pretendese através de um processo estruturado de recolha e exploração
de dados e sua interpretação e integração com dados teóricos, num
contexto real, estudar o problema do envelhecimento na empresa, ora
identificando os factores actuais de trabalho que contribuam para o
aparecimento de problemas nos trabalhadores, ora o estudo da
interacção entre a história profissional dos trabalhadores e toda uma
organização do trabalho.
A um nível instrumental, perspectivamos fazer uma análise das
condições de trabalho e do sujeito no seu posto de trabalho
Metodologia
Inicialmente, fezse um contacto pessoal com o indivíduo que nos foi
indicado na empresa (pelo Director Administrativo). Neste primeiro
momento, identificamonos e explicamos o âmbito do nosso trabalho.
Posteriormente, tendo a empresa mostrado estar receptiva ao nosso
estudo, foi enviada por correio uma carta com a descrição da nossa
intervenção na empresa (anexo 1). Esta carta, além de descrever o
processo com rigor, serviu também para satisfazer o pedido do Director
Administrativo de receber especificações por escrito. Ficou assim a
decisão de aceder ou não à nossa participação à consideração do D.A..
Procedeuse então execução de 4 entrevistas semiestruturadas ao D.A.
(anexo 2), com a duração média de hora e meia meia, com as quais
obtivemos dados acerca da história e evolução da empresa, dinâmica de
funcionamento, estratégias, relações com o meio, etc.. Estes dados
mostraramse de grande importância para melhor entender os aspectos da
dinâmica da empresa que influenciam os trabalhadores e condicionam o
envelhecimento destes.
Na última entrevista com o D.A:, foinos sugerido um trabalhador
disponível, para a seguinte fase do nosso trabalho, trabalhador esse
que correspondia às nossas exigências de antguidade na empresa e um
bom conhecimento geral do funcionamento e organização daquela.
Escolheuse um trabalhador com mais de 10 anos de serviço para nos
darmos conta da evoluçãao do seu trabalho ao longo dos anos e sua
influência no desenvolvimento do trabalhador. No fundo tratouse de
verificar se se tinham vindo a reunir situações que contribuiam
negativamente para a saúde e logo estimulando o envelhecimento.
Quisemos assim recolher dados sobre o posto de trabalho (história,
transformações, etc.), sobre o trabalhador (idade, cargo, história
profissional, etc.), e sobre as condições de trabalho do trabalhador
no seu posto.
Para obtermos todas estas informações procedemos à construção de
entrevistas semiestruturadas (anexo 3) aplicadas em 3 administrações,
com uma média de 90 minutos cada.
Grande parte das questões que constituiam as entrevistas eram
perguntas abertas, formuladas deste modo para que o sujeito dissesse
tudo o que desejasse e pudessemos assim obter o máximo de informação
possível (diminuindo possiveis perdas de informação).
As directrizes que nos guiaram no planeamento das entrevistas foram
retiradas da Grelha de Lest (uma grelha de análise das condições de
trabalho) e de informações adquiridas na aula.
O apoio nesta grelha é legitimado pelo facto de ela avaliar as
"contraintes" e as "astraintes" dos diferentes tipos de exigências que
aparecem num posto de trabalho. Tenta assim definir para cada factor o
limiar de constrangimento acima do qual o trabalhador compromete o seu
equilíbrio psicofisiológico (Freitas, 1993).
O estabelecimento desse limiar é de grande importância para verificar,
caso existam, até que ponto características prejudiciais do trabalho
afectam a integridade dos trabalhadores.
As "contraintes" referemse aos limites das variáveis de trabalho que
se ultrapassadas podem conduzir a perturbações no trabalho (...) As
"astraintes" referemse ao modo como o trabalhador vai viver, sentir o
constrangimento, e que depende nomeadamente das suas características
pessoais (Freitas, 1993).
Esta grelha, ao avaliar as condições de trabalho, abrange vários
aspectos da situação de trabalho, aspectos materiais, físicos,
relacionais, psicológicos, organizacionais, que se interligam e
influenciam mutuamente (Freitas, 1993).
A Grelha de Lest sistematiza assim, os aspectos da situação de
trabalho em 4 categorias:
o ambiente físico abrange variáveis com influência na saúde dos
trabalhadores, na sua segurança e nas relações profissionais entre
trabalhadores, como a temperatura, a humidade e a intensidade e
duração do som.
a carga física é analisada tomando em consideração 2 aspectos, a
carga dinâmica (tensão física em movimento, correspondendo aos vários
esforços no decurso do trabalho) e a carga estática ou postural
(tensão física sem movimento do trabalhador, correspondendo às
possíveis posições assumidas pelo trabalhador durante o trabalho).
a carga mental corresponde não só a tarefas intelectuais do
trabalhador, mas também a tarefas físicas que exigem atenção,
precisão, e adaptabilidade a novas situações, logo implicando uma
grande carga mental. Visto não existir um método rigoroso de avaliação
da carga mental, poderemos basearmonos em vários índices para, de
certo modo, estabelecermos a presença ou ausência de sobrecarga mental
no trabalhador. Assim, devemos procurar diminuições da capacidade
produtiva do trabalhador, crises de nervos, aumentos do absentismo ou
incidentes no trabalho, etc..
os aspectos psicossociológicos tentam avaliar os efeitos que a
organização do trabalho planeada na empresa tem sobre o trabalhador.
Quanto a estes aspectos, a Grelha de Lest abrange um conjunto de
indicadores que avaliam a influência daqueles nos trabalhadores: a
iniciativa, as possibilidades de comunicação e coooperação no trabalho
(relacionamento interpessoal), o estatuto social e a identificação no
produto.
Em virtude de ser difícil encontrar métodos objectivos de análise dos
aspectos psicossociológicos (daí a grande complexidade e dificuldade
de avaliação desta categoria), existem métodos mais subjectivos de
avaliação destes aspectos, como por exemplo avaliar as possibilidades
de iniciativa, autonomia, e gestão do ritmo de trabalho, avaliar o
conteúdo do trabalho (se este cria motivação, promove o
desenvolvimento pessoal e a responsabilidade, e corresponde às
competências e qualificações do trabalhador), ou avaliar as relações
de trabalho
Foi assim com base em todas estas dimensões que procedemos à
elaboração de muitas questões vitais para a obtenção dos dados
desejados.
Estas questões incidiram na história do trabalhador, passando pelas
características do posto de trabalho (materiais, tecnologias,
condições físicas, etc.) e nas competências e qualificações exigidas,
sem esquecer as relações interpessoais (profissionais e/ou sociais).
A empresa de artes gráficas (a Empresa "X")
Os dados para a caracterização da empresa em si, foram obtidos
fundamentalmente a partir das entrevistas feitas ao Director
Administrativo. Estas 4 entrevistas semiestruturadas marcaramse por
um constante "tom" de conversa, amigável, informal, contudo sem perder
a objectividade necessária. Para tal, organizaramse as entrevistas
segundo diversos tópicos previamente sistematizados e os quais já aqui
foram descritos.
A) História e Panorâmica Actual
A empresa "X" é uma empresa de artes gráficas que nasceu no ano de
1971, embora só em 1972 é que o Director Geral actual (pai do Director
Administrativo) se tenha tornado sócio da empresa, juntamente com mais
5 indivíduos. Na altura, a empresa tinha, ao nível das instalações,
apenas uma sala com 30 m2 com máquinas muito velhas.
Entre 1972 e 1987, a empresa conheceu um crescimento moderado e viu
grande parte dos seus sócios saírem.
Em 1987, aquando da saída do último sócio a empresa passou realmente
para o nome da família que actualmente a dirige. Ao actual Director
Geral juntaramse naquela data a esposa e os filhos (sendo um destes o
presente Director Administrativo, e nosso entrevistado). Ao mesmo
tempo , o capital da empresa passa de 850 contos para 5 mil contos,
aumentando em muito os investimentos feitos ao nível produtivo e ao
nível da imagem da empresa. Novamente em 1990 acontece outro aumento
de capital, desta vez de 5 mil para 60 mil contos.
Até 1987 a empresa era uma tipografia tradicional com composição a
chumbo, de impressão tipográfica. Hoje já tem um bom parque de
impressão offset e um sector de préimpressão, segundo o
entrevistado, ao nível dos melhores. Fazem actualmente tipografia pelo
novo método denominado fotopolímero ou seja, placas em relevo. Neste
domínio (tipografia), não estão interessados em ir procurar clientes,
mas respondem aos pedidos de cartões de visita, facturas, etc. de
clientes antigos. De resto, a impressão é dedicada à litografia.
Têm todo o processo de impressão, desde a entrada do original ao
acabamento com a excepção da escolha de cores na fase de
préimpressão, dado não terem scanners de cores. Isto é devido ao
facto de serem um investimento muito elevado e por outro lado, a
necessidade de recorrer a um scanner não ser suficiente para fazer o
investimento. Assim, recorrem a empresas externas especializadas neste
campo.
Uma outra excepção é o caso da encadernação na fase de acabamento.
Fazem o corte, vinco, colagens e embalagem mas têm que recorrer a
serviços externos para encadernarem os trabalhos.
Podese falar também em profissionais externos se atentarmos à fase de
criação dos trabalhos. Se bem que esta empresa também se dedique à
criação, a maior parte dos trabalhos é elaborada, numa fase precoce,
por designers externos, os quais normalmente já fizeram outros
trabalhos para a Empresa "X". É política desta empresa tentar
aconselhar os clientes a optarem, em casos de criação, por trabalhos
de raíz, de melhor qualidade, conseguido através de todo o processo
que envolve o designing.
A escolha das empresas que vão executar serviços externos (serviços de
acabamentos, selecção de cores e design) depende de 3 factores:
preços, qualidade do produto, tempos de atendimento.
Apesar disso, as empresas são geralmente as mesmas, embora não haja
nenhum contrato definido, isto porque até ao momento têm trabalhado
com competência e mantido as expectativas.
A empresa "X" tem 3 tipos principais de clientes: clientes
tradicionais, os quais encomendam facturas, cartões de visita, etc..
agências de publicidade que constituem o grosso do trabalho, e que
fazem pedidos de brochuras (revistas), catálogos, prospectos
publicitários, etc.. empresas que se dedicam à execução dos seus
anuários.
B) Organização da Empresa/Trabalhadores
Apesar da automatização e emprego de novas tecnologias, não houve
grande alteração do número de trabalhadores desde o ano de 1987.
Actualmente, a empresa é constituida por 35 trabalhadores distribuídos
da seguinte forma:
Sector administrativo e financeiro: 4 trabalhadores (secretária,
orçamentista, encarregado de contabilidade e de escritório e o próprio
Director Administrativo).
Sector de préimpressão: 9 trabalhadores (operadores de sistemas de
fotocomposição, fotocompositores teclistas, fotógrafo, retocadores de
fotolíto, transportadores e montadores).
Sector de impressão: 13 trabalhadores (impressores de litografia e
tipografia).
Sector de acabamentos: 5 trabalhadores (operadores manuais e
operadores de máquinas).
Sector de vendas (comercial): 4 trabalhadores (vendedores).
Em cada sector existe um chefe de secção, o qual é também um
trabalhador com uma função específica que conseguiu, devido à sua
antiguidade na empresa e demonstração de competência, um lugar de
responsabilidade, supervisionamento, embora tal não lhe traga
quaisquer benefícios ou diferenças de estatuto social.
O Director Administrativo (nosso entrevistado) é responsável por todo
o sector administrativo e financeiro, enquanto que o Director Geral
controla os sectores produtivo (préimpressão + impressão +
acabamentos) e comercial.
Para melhor compreensão desta organização, recomendamos a consulta do
organigrama da empresa (anexo 4). Este organigrama não tinha sido
construído a priori pela empresa, pelo que tivemos que o construir. Já
concluído, o organigrama mereceu a aprovação do Director
Administrativo.
Seria interessante observar o processo global pelo qual um trabalho
passa desde que a encomenda é entregue até ao trabalho final,
inserindo cada sector no seu momento.
Após a entrega da encomenda no sector comercial, esta dá entrada na
préimpressão, onde é feito o trabalho de selecção de côr, montagem de
texto e passagem à chapa de impressão.
De seguida a chapa é transportada para a impressão onde os trabalhos
vão ser impressos.
Podemse então iniciar os acabamentos onde são feitos o livro, a
revista, blocos, ou onde o trabalho é cortado e dobrado.
Em todo este processo seria suposto haver algum mecanismo de controle
de qualidade dos trabalhos. Ele existe mas não está formalizado e
alimentase sobretudo de um sentido de equipa. Não existe nenhum
departamento ou indivíduo responsáveis pelo controle global da
qualidade. Este é feito por quem está no fim de cada fase, avaliando o
trabalho para ver se está em condições de passar à fase seguinte. Em
cada fase existe também outro indivíduo (o encarregado do sector) que
avalia o trabalho e decide se este pode dar entrada nesse sector. No
fundo, as pessoas " vão controlando o trabalho ", e quando algo corre
mal a culpa é de todos.
O controle na impressão é feito com a máquina a trabalhar, antes desta
entrar em velocidade de cruzeiro, tendose tempo para se acertar cores
e acertos de miras. Neste caso concreto, o chefe de oficina terá que
rubricar a "folha padrão", o que vai aparentemente delegarlhe a
responsabilidade. Tal é em parte verdadeiro, mas no fundo o que existe
é um controle contínuo do trabalho por todos, e uma ausência de
controle de qualidade propriamente dito.
Os vários sectores pelos quais a empresa é constituída distribuemse
por instalações igualmente distintas. Estas consistem em 3 armazéns e
um edifício de escritórios, todos em locais com algumas dezenas de
metros entre si, apesar de se situarem na mesma rua.
Um dos armazéns é um armazém propriamente dito e serve para armazenar
todos os materiais e as máquinas tipográficas que estão geralmente
paradas. É neste recinto que se situa o sector de acabamentos, no qual
os seus 5 trabalhadores têm as seguintes funções: corte (cortar o
papel com rigor, nos sítios certos), colagem (nesta empresa
fundamentalmente plastificações), vinco (vincar materiais para
futuramente serem dobrados) e embalagem (embalar trabalhos sempre que
pedido ou necessário).
No outro sector dedicado à préimpressão, o espaço é em grande parte
ocupado pelos equipamentos desta fase de produção, embora também
estejam destinadas duas salas ao sector comercial. Nesta fase de
préimpressão podemos encontrar 9 trabalhadores com diversas
especialidades profissionais:
operadores de sistemas de fotocomposição: operam com qualquer
equipamento de fotocomposição, teclando, codificando, paginando
electronicamente, digitalizando imagem, fazendo montagem electrónica,
ou executando qualquer tarefa em equipamento de fotocomposição
avançado;
fotocompositores teclistas: operam terminais de fotocomposição,
introduzindo texto, com ou sem justificação e fontes (...)
Descodificam disquetes fornecidas pelo cliente. Operam unidades de
saída de fotocomposição e fazem montagem em papel para provas ao
cliente;
fotógrafo: fotografa ilustrações ou textos obtendo os seus
respectivos positivos que vão intervir no processo offset. Obtêm
assim películas tramadas ou não que vão sensibilizar as chapas
metálicas de impressão;
retocador de fotolito: retoca os positivos fotográficos,
preparandoos para uma sensibilização correcta das chapas que estão
destinadas à impressão;
montadores: dispõem os textos e imagens em celofane e positivos
fotográficos transparentes, organizandoos, ajustandoos e
sobrepondoos (A.P.I.G.T.P., 1992).
transportador: reproduz sobre as chapas de impressão
présensibilizadas (zinco ou alumínio) os positivos fotográficos, no
fundo os motivos que se destinam à impressão.
No seguinte armazém, fazse a impressão, onde trabalham 13 impressores
de litografia e tipografia. As suas funções vão desde regular,
assegurar e vigiar o funcionamento da máquina, passando pelo
abastecimento da máquina em tinta e água (impressão offset), até à
alimentação do papel, regulação da tinta e manutenção da máquina,
entre muitas outras tarefas .
Por fim, o edifício da administração, organizado em várias divisões
para os seus funcionários, sala de reuniões e o gabinete do Director
Administrativo.
Uma grande parte dos trabalhadores actuais estão na empresa desde
1972, momento de entrada do actual DirectorGeral. Assim, tanto os
trabalhadores mais antigos como os mais recentes foram seleccionados
com base num processo comum nas artes gráficas que consiste no
seguinte: sabese de un indivíduo que é bom em determinada tarefa,
fazse o contacto e convidase para trabalhar. Não se trata
propriamente de uma selecção de pessoal no seu sentido mais comum,
como por exemplo, nos casos de concursos para vagas. Claro que os
trabalhadores devem ter qualificações para as tarefas que executam,
tendo o nosso entrevistado chegado a dizernos: "Um sujeito com o 9º
ou 10º anos dificilmente irá para os escritórios...". Porém, nesta
empresa verificase um fenómeno corrente nas artes gráficas; os
trabalhadores são seleccionados mais pelos seus conhecimentos
práticos, interessando saber se um certo sujeito é bom impressor ou
bom montador, etc.. Vaise assim acabar por verificar que poucos são
os trabalhadores desta empresa que têm mais que a 4ª classe, em
virtude de ser valorizada a formação que têm nas oficinas. Estes
factos vêm de encontro à teoria atrás descrita a qual declara que, de
um modo geral, os trabalhadores das artes gráficas vêm de um NSE
baixo, trazem uma fraca formação humana e cultural e baixas
competências técnicas e qualificações.
Apesar destas pobres competências técnicas iniciais, a formação que os
trabalhadores têm progressivamente no seu trabalho é saliente no
seguinte caso.
Os trabalhadores nesta empresa, nomeadamente no sector de impressão,
conseguem utilizar em pleno e fazer a manutenção dos equipamentos e
tecnologias que ela alberga. Alguns dos trabalhadores desta empresa
foram ter formação à fábrica de marca dos equipamentos, mas o mais
frequente é aprenderem com os técnicos que fazem a manutenção e
consertos das máquinas. É de salientar que o grau de especialização
dos trabalhadores através deste processo e através do contacto diário
com os aparelhos atinge tais proporções, que eles chegam mesmo a
superar os técnicos qualificados.
O controle da assiduidade dos trabalhadores começou a ser feito desde
1993. Anteriormente a ausência de controle funcionava como incentivo
para os trabalhadores e inclusivé, em caso de adoecimento do
trabalhador este recebia o ordenado por inteiro. Porém, de há 2 anos
para cá tal deixou de se verificar, logo foi preciso implementar
medidas. Assim, existe presentemente um sistema de controle de faltas
justificadas e injustificadas. Existem 3 horários diferentes para os 3
sectores principais (produtivo, administrativo e comercial); no caso
do sector produtivo o horário de trabalho corresponde a 43 horas de
trabalho semanais (das 8 h às 12.30h, e das 14 h às 18 h).
Ao nível da remuneração esta empresa tenta dar grandes benefícios aos
trabalhadores, pagando um mês de ordenado (15º mês) adicionalmente aos
14 meses regulamentares. Além disso, o ordenado sempre foi aumentado
todos os anos em 18%. Deste modo, a empresa poderia estar a pagar 2200
contos de ordenados por mês e paga 3200, estando a média dos ordenados
em cerca de 100 contos líquidos.
C) Objectivos da Empresa
Esta empresa não pretende ser maior do que o que é actualmente. Espera
manterse a par das tecnologias que forem aparecendo, e ter pessoal
mais especializado. Pretende ser uma empresa bem dentro do mercado,
bem cotada entre a concorrência, e no mercado a que se destina, bem
equipada e com uma boa equipa. Tudo isto irá fazer alcançar outro
objectivo ou seja, o de aumentar os lucros, sem aumentar a empresa. No
fundo, como diria o nosso entrevistado, "não são muitas máquinas que
fazem uma grande empresa."
Análise de um Posto de Trabalho
A) História do Trabalhador
O trabalhador a que nos dedicamos está há mais de 20 anos na "X", mas
não é a sua antiguidade que lhe faz ter privilégios em relação aos
outros. A sua especialidade profissional sempre foi a mesma e continua
a ser fotocompositor , ao contrário das suas funções no seu sector,
as quais sofreram várias alterações.
Este trabalhador tem como escolaridade a 4ª classe, e tudo o que sabe
aprendeu com a prática do seu trabalho.
Inicialmente, a empresa "X" tinha apenas uma sala com 2 ou 3 máquinas
muito rudimentares. Trabalhavam pouco mais de 6 pessoas, entre as
quais o trabalhador em questão, com a função de compositor (composição
a chumbo).
Posteriormente a "X" mudou para as instalações actuais, sendo
acompanhada pelo nosso trabalhador e mantendose este na composição.
B) O Que Faz Este Trabalhador ?
Tendo dado mostras de competência e envolvimento no seu trabalho, a
"X" depositou confiança neste indivíduo para se tornar chefe da secção
de préimpressão. A sua categoria profissional continua a ser a de
fotocompositor, mas com os factos atrás referidos e a sua antiguidade
na empresa, ele adquiriu mais responsabilidades, confundiu as suas
funções sem no entanto ter privilégios de alguma espécie. Salientamos
desde já que este trabalhador não tem as funções para um
fotocompositor, executando um misto de tarefas.
Podemos assim esquematizar as seguintes funções:
coordenação das funções do seu sector
confirmação dos trabalhos dos seus colegas e assistência
registo de encomendas
distribuição de trabalhos
fornecimento de noções para o trabalho a efectuar
arquivo e actualização de trabalhos, dossiers, películas, montagens
e chapas
procura dos dossiers dos clientes para efectuar correcções nos
trabalhos
fotocomposição no computador
revisão das provas da laser e todas as outras etapas do processo
Se tentarmos fazer uma análise diferencial do trabalho
prescrito/trabalho efectuado, não podemos estabelecer nenhumas
diferenças, devido à ausência de formalização das tarefas e devido à
oscilação do trabalhador entre tarefas distintas, não designadas por
prescrição.
O trabalhador contacta muito superficialmente com produtos que lhe
sejam prejudiciais, visto os seus domínios de intervenção serem ao
nível interpessoal, ao nível do arquivo de trabalhos e em
fotocomposição nos computadores. Tem assim contactos com películas,
folhas de filmes de fotografia, e esporadicamente com fixadores,
reveladores, etc..
C) Ambiente de Trabalho
» Ambiente Físico:
As instalações do sector de préimpressão situamse numa cave, logo
necessitam de uma permanente luz artificial, a qual é adequada e
suficiente. Uma vantagem deste posicionamento abaixo do solo é a de
não ser necessário usar ar condicionado para manter os 20ºC,
temperatura esta ideal para os vários materiais sensíveis que são
utilizados. Não há qualquer espécie de ruído, a não ser o das
conversas entre trabalhadores. As condições de higiene são boas,
tratandose inclusivé de umas instalações recentemente remodeladas.
O sujeito queixouse que algum tempo atrás os monitores o deixavam
cansado, mas que agora tal não acontece pois tem a liberdade de se
levantar sempre que quiser.
» Carga Física:
Ao nível da carga dinâmica o trabalhador realiza maiores esforços
quando tem que transportar encomendas, dossiers ou chapas, embora não
se possa dizer que aqueles o comprometam visto todos estes materiais
terem um peso e dimensões que não causam grandes problemas não sendo
difíceis de manusear.
Por sua vez, não se nota quaisquer factores que possam causar alguma
sobrecarga postural ao sujeito pois, além de este mudar frequentemente
de posições, ele tem a possibilidade de o fazer sempre que o desejar.
» Carga Mental:
O trabalhador apresenta momentos de elevado nível de atenção,
nomeadamente quando está a fazer a revisão dos trabalhos, isto, em
virtude da grande responsabilidade e das características da tarefa.
Tem que ter também uma grande minúcia quando, ocasionalmente, trabalha
em fotocomposição.
Não se pode dizer que hajam grandes constrangimentos derivados da
complexidade/velocidade pois normalmente, o trabalhador pode organizar
o seu trabalho à sua medida, não se manifestando factores de pressão
com grande frequência.
De um modo geral o trabalhador tem suficiente informação para a
realização do seu trabalho, concentrase com facilidade nas suas
tarefas, embora seja interrompido frequentemente devido à implicação
de contacto directo com os outros trabalhadores.
O indivíduo não apresentou assim nenhum dos índices de sobrecarga
mental: aumento dos incidentes de trabalho, aumento do absentismo
(aliás há mais de 6 anos que não falta), ou diminuição da sua
capacidade produtiva.
» Aspectos Psicossociológicos:
A cadência exigida ao trabalhador não é muito forte ou permente.
Aliás, ele pode gerir o seu ritmo de trabalho, embora esteja
condicionado por vezes pela urgência imposta pela Direcção.
Existem muitas possibilidades de comunicação, tanto ao nível da
possibilidade de falar (relação profissional ou social) como da
possibilidade de se deslocar. As relações de trabalho são bastante
boas.
O trabalhador tem alguma autonomia podendo tomar, na sua secção, as
decisões que acha certas.
Tem também alguma iniciativa, especialmente porque está numa posição
de controle, supervisionamento e organização, mas acaba por ter de se
cingir ao volume de trabalho do momento e suas características.
Não se pode dizer que haja uma diferença no seu estatuto social
relativamente aos seus colegas, pelo menos ao nível formal, embora tal
possa não se verificar em virtude da sua antiguidade. Porém tal não é
saliente.
Como foi já dito, os horários deste sector são bastante rígidos, pelo
que o trabalhador tem que os cumprir. Não ressaltaram quaisquer
protestos acerca deste factor.
De um modo geral, o conteúdo do trabalho deste "fotocompositor"
caracterizase por ser de fraco interesse, desenvolver pouca motivação
e não dar grandes possibilidades de desenvolvimento pessoal, mas em
contrapartida, envolver bastante respnsabilidade e corresponder às
suas capacidades.
Dificuldades e Sugestões
Dificuldades
: O nosso principal domínio de dificuldades situouse ao nível da
participação em contexto real de trabalho e obtenção de alguns dados.
O Director Administrativo mostrouse relutante em permitirnos visitar
e frequentar as instalações pelo que, à excepção do sector de
préimpressão, não conseguimos tomar contacto com todos os outros
contextos de trabalho. Por outro lado, também tevea mesma atitude no
que tocou em fornecernos as qualificações dos trabalhadores,
especialmente dos do sector administrativo. Também ão nos foram
facultadas informações acerca dos salários, escolaridade, idade e
antiguidade para cada trabalhador. Tentamos obter também documentos,
nomeadamente plantas e layouts do equipamento, o que não conseguimos
devido à sua inexistência. Para o caso das plantas tal deveuse ao
facto de os proprietários dos edifícios serem outros indivíduos.
Sugestões
: Em virtude de a dinâmica de trabalho do nosso trabalhador estar
muito dependente das exigências da administração estas derivadas do
volume de vendas da empresa achamos de grande importãncia expandir e
intensificar este tipo de estudo no domínio da situação comercial da
empresa, englobandoa no contexto económico geral, e tentando
aprofundar melhor as perspectivas e tendências da administração.
Na linha deste último ponto, vamos transcrever algumas palavras do
Director Administrativo que atestam bem a importância da averiguação
das principais linhas de força que dão rumo à organização. Além do
mais, esta citação é ilustrativa de um contraste de filosofias de
gestão o qual irá certamente marcar a evolução desta empresa.
"Pretendo ser um empresário, ao contrário do meu pai que é um patrão.
Não quero uma relação de distãncia com os trabalhadores, mas também
não desejo a relação de longa data que o meu pai tem com estes (...)"
.
TÓPICOS DE ORIENTAÇÃO DAS ENTREVISTAS
AO DIRECTOR ADMINISTRATIVO
1ª Fase de organização dos tópicos
1 Quando é que se formou a empresa?
2 Delimite as diferentes fases pelas quais tem passado.
3 O desenvolvimento foi progressivo ou por etapas?
4 Houve diferenças quanto à direcção da empresa? Isso trouxe
diferenças de método na organização?
5 Tem mudado de instalações?
6 Qual o(s) objectivo(s) da empresa?
7 Dados estatísticos de produção.
8 Expectativas quanto aos resultados, quanto à produção.
9 Organização do trabalho.
10 Que tipos de tarefas existem? Coordenação das tarefas.
11 Condições de trabalho.
12 Horários dos empregados. Qual o tipo de horários e controle de
assiduidade?
13 Como seleccionam o pessoal?
14 Qualificações, habilitações escolares.
15 Dão formação aos trabalhadores?
16 A empresa passou por alguma crise? Quando e porquê?
17 Houve muitos despedimentos e/ou contratações?
18 Relações com outras empresas. Acordos de trabalho.
2ª Fase de organização dos tópicos
19 Articulação das diferentes fases.
20 Controle de qualidade (durante ou no fim do processo global)
21 Reclamações (procedimento)
22 Relações com os sindicatos.
Pedido de plantas, layouts de equipamentos, tabelas de salários e
outros documentos.
Colocação da questão da escolha de um trabalhador para a segunda fase
do estudo.
ENTREVISTA 1
P: Há quantos anos trabalha na empresa "X"?
R:A antiguidade não é um posto. A antiguidade numa empresa não quer
dizer nada. Mas realmente já tenho mais de 20 anos. Não tenho
privilégios em relação a ninguém. Não me considero privilegiado em
relação aos outros só porque tenho 20 e poucos anos de casa...A minha
posição é sempre a mesma.
P: Não lhe foram aumentadas as responsabilidades?
R: Sim, isso foi... mas não ganho mais por isso.
P: Pode falarnos um pouco do seu passado, como é que veio para a "X"?
R: Sou natural de XY. Vim para o Porto com 15 anos e por acaso fui
trabalhar numa tipografia, para aprender, mas estive lá pouco tempo,
entre 1 e 2 anos. Depois fui para outra tipografia, na rua..., a
tipografia "Y".
O senhor "W" (actual Director Geral) entrou como chefe para essa
tipografia. Estive lá também entre 1 e 2 anos. Entretanto fui 3 anos
para a tropa e quando regressei o senhor "W" já tinha saído da
tipografia "Y" e abriu a tipografia "X" mas noutro local diferente do
actual. Entretanto, o senhor "W" convidoume para ir trabalhar para a
"X", e eu fui.
P: Como era a empresa nessa altura?
R: A primeira "X" era uma sala com duas ou três máquinas... tudo muito
rudimentar. Tecnologia não existia... Trabalhavam pouco mais de 6
pessoas.
P: Que função exercia?
R: Chamaramme para a função de fotocompositor, em composição a
chumbo. A partir daí, a empresa cresceu e mudou para as presentes
instalações, continuando eu sempre na composição.
P:Pode dizernos quantos trabalhadores há nesta secção e o que cada um
deles faz?
R: Existem 7 elementos, mais um que está de baixa desde o início
devido a um acidente. Não sei se é ou não efectivo. Existem 3
fotocompositores, 1 transportador, 1 fotógrafo e 2 montadores.
P: E qual é a sua função?
R: Faço um pouco de tudo. Coordeno os trabalhos deste sector. Faço
arquivo de todas as encomendas. O patrão dáme as encomendas e eu
depois distribuo o trabalho.
P: Pode falarnos um pouco das outras secções?
R: A seguir vem a secção de impressão. Tem 4 máquinas de impressão
offset (3 GTO e 1 Riogli). Há uma máquina de 2 cores, onde já dá para
meter folhas bastante grandes, uma máquina só de uma côr, com o mesmo
tamanho da anterior e uma máquina ainda maior, mais sofisticada, com 4
cores. Não se faz selecção de cores, porque não se justifica o
investimento; mas há 3 ou 4 casas que fazem isso. Na secção de
acabamentos, também tem uma máquina de impressão tipográfica, que
serve para fazer cartões de visita, coisas mais simples, e também para
numerar. Temos ainda 2 máquinas guilhotina para corte e vinco.
P: Quais são as suas habilitações?
R: Fiz a 4ª classe. Tudo o que sei sobre as artes gráficas, aprendi
com a prática.
P: Quem é que faz o controle do trabalho?
R: Em relação ao meu trabalho sou eu próprio que o faço;e normalmente
quando falha alguma coisa na fotocomposição, falha tudo,Fazemos
provas, corrigimos, lemos, mas às vezes quanto mais se quer ver menos
vemos.Por vezes estamos a ler coisas que nem estão lá. Cada posto de
trabalho tem a sua própria responsabilidade e controle. No fundo cada
pessoa é responsável pelo seu trabalho.
Se algum trabalho sair com erro ou algum defeito, a responsabilidadeé
da equipa da secção.
ENTREVISTA 2
P: Usa algum material de protecção no seu local de trabalho?
R: Só uma bata por causa da roupa.
P: E os seus colegas?
R: Só luvas para protecção dos químicos utilizados na revelação,
transporte, e correcção.
P:Voltando à sua história profissional...
R: Comecei a fazer composição a chumbo, letrinha a letrinha, e mais
tarde vieram os primeiros computadores. Só há 3 ou 4 anos é que vieram
os MacIntosh. Os 2 primeiros computadores (de marca Compugrafic) já
estão ultrapassados. Um não dava imagem da folha onde se estava a
escrever, e tinhase que imaginar e calcular mentalmente a posição
onde se escrevia; o segundo já dava a imagem da folha e por
conseguinte já se sabia as posições onde se escrevia.
No primeiro computador era muito difícil trabalhar, não se via nada.
Mas foi neste que aprendi a trabalhar com computadores.
P: Teve alguma formação quando vieram os computadores?
R: Veio um indivíduo da empresa dos computadores e esteve cá 15 dias a
ensinar um colega meu. Depois este ensinoume a trabalhar com o
computador. Mas em relação ao MacIntosh, não veio ninguém dar
formação. Um colega meu é que foi há pouco fazer um curso de formação
no Sindicato dos Gráficos e ele percebe muito daquilo.
Nos Macintosh estão 2 trabalhadores a trabalhar. Eles aprenderam a
mexer no Mac e eu ensineilhes as noções gráficas.
P: Podenos relatar um dia normal de trabalho?
R: Entro às 8 horas. Se tiver coisas do dia anterior para fazer,
acaboas; depois dou aos colegas as noções de trabalho daquilo que é
para fazer, e estou sempre a prestar assistência; procuro dossiers de
clientes onde certos trabalhos têm de correcções; confirmo os
trabalhos dos outros trabalhadores, e vejo se não têm nenhuma falha;
faço o registo de todas as encomendas e guardo as películas e as
montagens que são feitas. Eu é que arquivo tudo.
P: Quem é que recorre aos vossos serviços?
R: Ultimamente temos feito muitos trabalhos para editoras:
dicionários, livros, etc.. Mas também fazemos jornais relativamente
pequenos (por exemplo, recentemente fizemos um jornal para uma marca
de cafés). Fazemos de tudo, temos tecnologia e pessoal para isso; só
nos falta a selecção de cores.
P: O que acha das condições de trabalho?
R: Esta empresa prezase por ter sempre umas instalações dignas; a
higiene é óptima. Na secção de impressão há um certo mau cheiro e
bastantes ruídos. Como estamos numa cave, a luz é artificial mas é
bastante boa.
P: Que matériasprimas são usadas nesta secção?
R: Acetato, filme de fotografia e os outros produtos químicos, como
fixador, revelador, e outros líquidos ligeiramente diferentes
tambémpara revelar. A fotocomposição utiliza, ainda, papel, mas é um
papel especial, tem uma película de papel fotográfico.
P: Como considera que são as condições ambientais no local de
trabalho?
R: A temperatura está sempre por volta dos 20ºC, visto estarmos a
utilizar materiais muito sensíveis. Não temos ar condicionado mas
também não é preciso. Aqui, a temperatura é óptima.
P: Então a temperatura do local de trabalho não o incomoda?
R: Não, de modo algum.
P: E em relação a ruídos?
R: Aqui não há desses problemas.
P: Como considera o seu trabalho? Muito ou pouco cansativo?
R: Os primeiros computadores cansavam muito. Trabalhar nos
computadores exige estar muito tempo sentado, e isso cansa. Mas agora,
tenho a liberdade de me levantar sempre que quiser. Os monitores
também cansam muito a cabeça. Antigamente queixavame por estar sempre
sentado, mas agora já estou melhor; passo a maior parte do dia de pé,
sempre a andar de um lado para o outro. Por isso, o trabalho não é nem
cansativo nem repetitivo.
P: Tem actividades nas quais lhe custa concentrar ou que o irritam?
R: Concentrar, não, mas fico enervado quando vou ter com os
trabalhadores e vejo que o trabalho éstá atrasado ou ent~ão quando
aparecem muitos erros na prova laser.
P: O material que utiliza ou transporta é difícil de ser manuseado ou
é pesado?
R: Não, regra geral são trabalhos constituídos por películas ou chapas
que não pesam muito e se pegam bem.
ENTREVISTA 3
P: Consegue precisar o tempo que demora a fazer um trabalho?
R: Depende da urgência e do próprio trabalho. Mas em geral, um pedido
ou uma encomenda tem que ter uma certa antecedência. Por exemplo, uma
carta demora cerca de uma hora, enquanto que as facturas já são mais
complicadas por isso já demoram mais um bocado.
P: E quanto ao nível de exigência de atenção de cada tarefa?
R: É muito maior para mim do que para quem está no computador por
exemplo. Sou eu que verifico se tem erros... É uma profissão ingrata.
A tarefa de revisão é a mais cansativa pois é a que exige a maior
atenção.
P: Qual é o seu horário de trabalho?
R: Trabalho 8 horas e meia por dia das 8 h às 12.30 h e das 14 h às
18h. À Sexta saio às 18.30h.
P: Pode parar o seu trabalho para fazer uma pausa?
R: Para comer, para ir ao W.C.... não há problema.
P: Quantas pausas faz por dia?
R: Faço uma de manhã e uma à tarde para fumar um cigarrinho.
P: Pode faltar ao trabalho?
R: O patrão não gosta muito, mas quem é que gosta?. No entanto nós
temos direito a 9 horas por mês para ir ao médico. Eu cá não falto há
mais de 6 anos.
P: Pode comunicar com os outros trabalhadores durante o tempo de
trabalho?
R: Aqui no meu sector não há problema nenhum. Não há barulho por isso
podemos falar.
P: Onde é que o senhor almoça?
R: Como moro longe da empresa, tenho que almoçar fora de casa, mas a
empresa dános subsídio de alimentação, o que não é obrigatório.
Depois vou de boleia com o colega.
P: Aqui o senhor é fotocompositor, mas por aquilo que já nos disse,
não faz só fotocomposição. Pode especificarnos todas as suas tarefas
, e o tempo gasto por dia em cada uma?
R: O tempo que gasto é muito variável, é impossível dizer. As tarefas
são mais vastas. Eu sou fotocompositor, revisor, arquivo trabalhos
(películas e chapas) e actualizo ficheiros, e distribuo trabalhos. Mas
o tempo que passo em cada uma das tarefas é diferente todos os dias.
Depende do tipo de trabalho que se tem de fazer.
P: Será que nos podia explicar melhor essas tarefas?
R: Ora bem, vêm os originais ou os esquemas de trabalho do sector
administrativo, e eu é que os recebo. Depois distribuo o trabalho
pelos meus colegas. Se fôr uma encomenda repetida em que é só
necessário fazer umas alterações, usamse as películas arquivadas. Se
fôr uma encomenda nova, tem de se começar o trabalho pelo computador.
P: Como fotocompositor que é, ainda não nos falou da fotocomposição e
dos computadores...
R: Do MacIntosh sai primeiro em papel uma prova e eu faço a revisão.
Se não houver nenhum erro, pedese ao Mac para sair o trabalho em
película. Depois a película vai para uma especial para sair em chapa
ou seja, para ser feito o transporte.
Os MacIntosh têm a vantagem de fazer sair o trabalho em película,
poderse adicionar foto e outros tipos de letras, desenhos, etc,
enquanto que os mais antigos não. Mas quanto à qualidade, tipo de
letra, perfeição, o Mac é pior. O mais antigo é rudimentar mas o que
tem é bom.
ENTREVISTA 4
Observação directa do contexto de trabalho do trabalhador, com a
participação deste na explicação dos processos.
Pudemos, assim, conversar informalmente com o trabalhador, observálo
e limar algumas arestas nos nossos dados.
Bibliografia:
A.P.I.G.T.P. (1992) C.C.T.V. para as indústrias gráficas e
transformadoras do papel.
Freitas, I. (1991). Técnicas de avaliação das condições de trabalho.
Provas apresentadas na F.P.C.E.U.P.
Freitas,I. (1992).Contribuição para o estudo do envelhecimento no
trabalho: os efeitos neurocomportamentais da exposição a produtos
tóxicos. Dissertacão apresentada às provas de aptidão científica e
capacidade pedagógica na F.P.C.E.U.P.
Lacomblez, M. (1991). Questões aprofundadas de métodos de intervenção
nas empresas. Relatório apresentado nas provas de agregação,
F.P.C.E.U.P.
Leplat, J. & Cuny, X. (1997). Introdução à psicologia do trabalho.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
Ribeiro, M.T.L. (1993). Estudo da desagregação a montante do sector da
indústria gráfica e das transferências de emprego para outros sectores
conexos.Relatório provisório. F.P.C.E.U.P.
Por:
Alexandre M. Campos
Ana Maria Diogo
Psicólogos UP
Porto
, Junho de 1994
A Intervenção Psicológica em Grupos
Por:
Alexandre M. Campos
Psicólogo, Universidade do Porto
Porto
, Outubro de 1995
_________________________________________________________________
Dinâmica de grupos (Kurt Lewin): sistema de forças exteriores e
interiores (capacidade de cada um) a que a vida de um grupo está
sujeita. As forças que vêm dos seus membros tanto podem facilitar a
união e eficácia como perturbálas.
Grupo
: é uma colectividade em que a dinâmica das relações mútuas entre os
membros se orienta para um objectivo específico. O que caracteriza um
grupo é:
1)
A existência de objectivos comuns aos membros; há um objectivo final e
objectivos intermediários.
2)
Ambiente físico e humano. Os objectivos estabelecidos pelo grupo são
uma motivação para a permanência do grupo e exige cooperação por parte
dos seus membros, onde as ideias, os interesses individuaos são
colocados ao serviço da realização do projecto grupal. Surgem, assim,
outras características:
3)
A competição é importante.
4)
O conflito, que é imprescindível pois significa que as pessoas se
sentem livres para se expressar e discutir.
5)
Integração, o respeito pelos outros.
»»»
O que distingue um grupo de uma multidão é que enquanto que numa
multidão não há qualquer relação ou posição entre os membros, num
grupo cada membro ocupa uma posição relativa em relação a outro
(Estrutura do Grupo).
Problemas de comunicação
:
1)
Diferenças individuais, devido ao background sóciocultural, genético,
etc.
2)
Preconceitos, que são um obstáculo que surge de opiniões préformadas
sem análise ou reflexão e que foram transmitidas ou adquiridas.
3)
O tipo de linguagem utilizada e os "malentendidos".
4)
As dificuldades de escuta, porque temos a nossa opinião, e depende da
pessoa que fala, como fala, e o que diz. A verdadeira vivência da
dinâmica de grupo não se deve restringir ao microprocesso de grupo,
mas deve abranger a macrodinâmica grupal por aplicação dos
conhecimentos e vivências.
Tipos de Grupos mais comuns
:
1)
Grupos de trabalho ou de tarefa (sem envolvimento afectivo ou quase e
com objectivo préestabelecido).
2)
Grupos T (training groups) ou grupos de sensibilização ou grupos de
encontro (têm a ver com o desenvolvimento pessoal em grupo).
3)
Grupos terapêuticos, específicos, dirigidos para determinados fins e
para indivíduos com o mesmo problema, ex. alcoólicos anónimos.
4)
Grupos de laboratório (tipo grupo T) onde há uma situação artificial
bem definida na qual os membros do grupo prosseguem objectivos de
formação de grupo e autoformação. Nestes grupos aprendese algo sobre
o nosso próprio comportamento dentro dos grupos e compreendese a
dinâmica de grupo em geral (aprofundar o conhecimento humano noutro
contexto que não o do grupo de trabalho).
A Janela de Johari:
Oferece uma perspectiva para vermos o relacionamento interpessoal.
Através dos seus quadrantes podese ver como é que as pessoas se
relacionam no seio de um grupo e a leitura do grupo.
Arena: o que é conhecido de mim e dos outros, o que mostramos e o que
os outros vêem que eu sou. Parte fundamental do relacionamento
interpessoal. é o que somos capazes de mostrar de forma consciente.
Fachada: é o que eu conheço de mim próprio mas que não quero revelar
aos outros; é a nossa área secreta.
Mancha cega: é o que não damos conta de nós próprios mas que que o
grupo se vai aperceber. é o que mostramos ao grupo sem termos
consciência de que o fazemos (através da postura, Ks, tiques,
verbalizações que escapam, etc.)
Desconhecido: indica o que é desconhecido de nós próprios e o que é
desconhecido do grupo. Há várias posições que podemos ter na janela as
quais estão relacionadas com o feedback que damos e que recebemos.
Quando um quadrante aumenta, os outros diminuem. A arena aumenta de
tamanho à medida que aumenta a confiança das pessoas que a rodeiam e
vão diminuindo a fachada e a manca cega.
Vários tipos de janelas:
Tipo A Tartaruga: arena muito pequena e tudo o resto muito maior. O
quadrante predominante é o desconhecido. Reflecte um mínimo de uso de
feedback, quer o que dá, quer o que recebe. Parece traduzir um medo de
se expôr em relação ao próprio grupo (e "fechase na sua carapaça").
estas pessoas normalmente preferem mais o trabalho burocrático do que
o de relacionamento humano.
Tipo B Entrevistador: O quadrante predominante é a fachada (esconde
muito de si e quer saber sempre o que os outros pensam). Nunca diz o
que pensa mas questiona sempre o que os outros pensam e a sua opinião.
Solicita feedback, comunica através das perguntas que faz aos outros.
No seio de um grupo este tipo de interacção pode parecer que é muito
participativa.
Tipo C Matraca: As pessoas participam muito. é uma fachada muito
reduzida. O indivíduo está sempre preocupado em dizer o que pensa,
centrado só em si próprio, e deixa cair as suas protecções mas em
compensação, tem uma mancha cega muito grande (o grupo conhece
melhor). Dá muito feedback e solicita muito pouco.
Tipo D Janela Ideal: é quando a arena aumenta numa progressão
correcta sobre a fachada (vai ter a coragem de deixar cair a defesa),
sobre a mancha cega (ao termos feedback dos outros vamos corrigindo a
nossa postura) e sobre o desconhecido. Há a mesma quantidade em dar e
receber feedback.
Regras quanto à Movimentação das Janelas:
Se um dos quadrantes se altera, vai haver alteração nos outros. Cada
indivíduo, face a este tipo de situação, não deve ser forçado (tem que
partir do próprio). à medida que a comunicação melhora, a arena tem
que aumentar. Ao aumentar a arena para o grupo, tb aumenta para cada
uma das pessoas envolvidas.
Regras do Feedback:
é importante ter consciência que muitas vezes transmitimos informações
que por vezes podem não ser úteis para as pessoas nem benéficas para o
relacionamento entre nós e essas pessoas. O feedback deve vir da arena
e não de uma mancha cega. O feedback deve ser aplicável e específico,
i.é., não se devem "atirar as coisas ao ar" sem especificar o que se
quer mesmo dizer e a que é que se refere. Deve ser neutro sempre que
possível, desprovido de julgamentos de valor ou interpretações
subjectivas. Acima de tudo, o feedback deve ser pedido e não imposto,
surgindo da interacção um pedido de opinião. O feedback deve ser, de
preferência, oportuno e adequado, não deve ser dado num momento de
explosão. Deve ser directo ao indivíduo. Ao darmos feedback devemos
ter a certeza de que a pessoa o compreendeu, logo deve haver
confirmação pelo interlocutor. o feedback não é apenas composto pelo
que se diz mas também pelo como se diz, a entoação, a postura, ...às
vezes transmitimos feedbacks que não são aquilo que queremos dizer
(mancha cega). Não temos o mesmo tipo de janela com todas as pessoas.
Para se poder dar feedbacks devese ser capaz de ser bom ouvinte
(centrarse no essencial, não fazer julgamentos, reformular o que foi
dito ao interlocutor, esperar antes de responder tentando elaborar o
que se vai dizer).
Avaliação dos grupos:
Participação dos elementos:
Os que participam mais, os que participam menos, movimentações que
ocorrem nas participações, análise dos silêncios, quem se dirige a
quem.
Influência dos membros no grupo:
O que é que caracteriza os participantes que parecem ter mais
influência no grupo, por que é que alguns têm menos influência, porque
é que o grupo não os escuta, existência de subgrupos dentro do grupo.
Estilos de Influência (tanto em relação aos líderes como em relação
aos membros):
Autocrático: pressupõe uma estrutura centralizada e normalmente torna
o grupo dependente dessa liderança. Se não houver uma pessoa que
assuma esse papel de liderança o grupo não funciona. Apresenta
desvantagens, induzindo por vezes agressividade.O indivíduo toma todas
as decisões e avaliações, e está centralizado nele próprio.
Democrático: é a decisão de todos que leva a um consenso comum. O
animador escolhe as técnicas mas tendo em conta os objectivos que
interessam ao grupo e que ele propõe. Tem importância fundamental
porque leva o grupo a uma autonomia. O grupo é capaz de trabalhar só,
por si próprio. Em vez da agressividade há um clima mais agradável,
mais ameno, em que os participantes se sentem mais satisfeitos.
Tomada de Decisão:
Há membros que tentam impôr a sua opinião, o que tem um determinado
efeito nos outros participantes. Verificar se há membros que escutam
todos os outros antes de se decidirem. Constatar quem aceita
facilmente as decisões dos outros sem contestar. Recorrer a votação
(contudo, será que a preferem só para não se chatearem?). A decisão
ideal para a tomada de decisão é escutar todos os elementos para
chegar a uma decisão consensual, com base na participação de todos os
membros.
Funções de Produção:
É a área sóciooperatória. Em termos concretos, que. pede mais
informações ou quem dá mais informações ou opiniões sobre a matéria,
quem tenta resumir um determinado aspecto, etc. Significa o nível mais
centrado na tarefa, é onível mais objectivo.
Funções de Regulação:
Área sócioafectiva. Implica mais o envolvimento humano, mais
descentrado da tarefa, quem ajuda quem no seio do grupo a participar,
quem interrompe, como reajem as pessoas cujas ideias são rejeitadas.
Há aspectos importantes como solidariedade, aprovação, tensão,
agressividade, desaprovação.
Atmosfera / Clima:
O grupo é amigável suprimindo e amnizando conflitos que possam existir
ou há uma tendência para se criarem conflitos, lançar polémicas, e
contrariar os outros? Verificar se é agradável ou não o trabalho no
seio do grupo.
Qualidade do Tipo de Membro:
Ver se há formação de subgrupos, que normalmente é sempre a mesma.
Ver o sentido de pertença ao grupo (se há aceitação do indivíduo e se
ele se sente aceite). Verificar se há pessoas que parecem não
pertencer ao grupo e como são tratadas, verificar os sentimentos do
grupo (normalmente o grupo não vai explorar os sentimentos das pessoas
sobretudo a nível verbal mas os sentimentos são transmitidos de outra
forma: pela postura, gesticulação, modulação da voz, etc.). Observar
que tipo de sentimentos detectamos no seio do grupo (aborrecimento,
irritação, bemestar, etc), ou se o grupo tem tendência para abafar os
conflitos.
Normas do Grupo:
Qualquer tipo de normas pode ser implícito ou explícito. A instituição
das normas tem vantagens e desvantagens (se se são muitas e rígidas o
grupo não se sente bem, logo há que haver uma certa flexibilidade). é
importante que as normas explícitas exprimam a maioria dos desejos dos
participantes. As normas não são muitas vezes implícitas para todos os
membros. Enquanto que as explícitas traduzem uma opinião total do
grupo, as implícitas nunca são verbalizadas, as pessoas "assumem que",
não traduzem a expressão de todos os participantes.
Duas Perspectivas Teóricas:
Kurt Lewin:(dinâmica de grupos) não deu muita ênfase à parte afectiva
da questão, preocupavase mais com o funcionamento grupal,
interessavalhe a relação das pessoas dentro do grupo mas não tanto o
conteúdo afectivo.
Bion: tem um enquadramento mais Psicanalítico, dá ênfase aos fenómenos
afectivos afirmando "O grupo tornase para os seus membros o símbolo
inconsciente do seio materno".
Dois tipos de Grupos:
Grupos Primários:
Predomina a afectividade, a lealdade, simpatia, tolerância, traduzem
uma situação de família, onde há laços afectivos segundo os quais ele
funciona.
Grupos secundários:
Formamse em função de um objectivo a atingir. Não está presente a
afectividade, e as relações são mais de trabalho, predominam a
cortesia, o respeito e a rivalidade.
O Líder / Animador:
Papel do Líder no Seio do Grupo:
Há várias perspectivas que atribuem diferentes papéis aos líderes. Por
ex., o Humanismo, que tem uma posição mais neutra, tem mais vantagens:
o líder ao não liderar observa as pessoas a trabalharem elas próprias,
a tomarem decisões, deve ter uma posição de moderador.
Competências que um Animador Deve Ter
:
Deve reduzir os obstáculos à comunicação, ensinar a dar e receber
feedback, ensinar a escuta atenta, ajudar a clarificar os objectivos
do grupo, não os estabelecendo sem se falar muito sobre isso e
reformulandoos, estar atento aos métodos para que se mantenham dentro
dos objectivos que se propuseram, manter os laços entre os membros,
procurar que haja troca de afinidades mas que não haja divisão do
grupo mantendo ou aumentando a coesão do grupo. Ajudar o grupo a
estabelecer as suas próprias normas, distribuir papéis em função das
necessidades e das aptidões de cada um (regime de voluntariado).
Animar tecnicamente e motivar os membros a prosseguir (não deve ser
técnica por técnica, ou usálas para camuflar a falta de comunicação,
mas deve estimular a discussão e a relação do próprio grupo).
O Líder é um Simples Membro do Grupo?
O Líder deve ter um pouco mais de responsabilidade que qualquer um dos
outros membros e relativa autoridade. Rogers acha que o líder é um
simples membro do grupo, e que o grupo é que deve interagir. O grupo é
diferente do psicodrama onde o animador não é um membro do grupo, é
quem tem responsabilidade e quem dirige o grupo.
William Schutz
(perspectiva Humanista):
O Homem trabalha para desenvolver ao máximo as suas potencialidades,
não fica estagnado). Faz estudo dos grupos numa perspectiva não
verbal, "o prazer". Para ele, o corpo é muito importante (há muitos
problemas mentais que têm consequências físicas como a úlcera), assim
como a linguagem que usamos (a qual faz uso frequente de partes do
corpo como por ex., "Perder a cabeça"). Assume que há aspectos
essenciais nas relações interpessoais. Há várias etapas sequenciais .
Para Haver um Bom Relacionamento Humano:
1) O corpo da pessoa
(pretendese entender a maneira de aliviar as tensões, sentir o corpo
livre, equilibrado nas suas funções).
2) Funcionamento pessoal ou desenvolvimento pessoal
(este desenv. supõe uma série de subetapas: tem como objectivo pôr a
pessoa a funcionar em pleno, sem preconceitos, com unidade, capaz de
desafiar certas normas sem medo).
»
Liberação ou Aquisição: a pessoa deve conseguir suprimir os
bloqueios que possam existir e aumentar o seu autoconhecimento,
adquirir certa sensibilidade para o conhecimento interpessoal,
aumentar o seu autoconhecimento. Mas isto só faz sentido se
conseguirmos outra subetapa:
»
Associação: pretendese que a pessoa consiga relacionar as
experiências que foi tendo na aquisição com experiências futuras
(perspectiva de integração). é semelhante ao que se pretende na
associação psicoterapêutica quanto às técnicas e não propriamente
quanto ao conceito.
»
Expressão: através da expressão vamos comunicar com os outros e
exprimirmonos de uma maneira apropriada com o que nós sentimos.
Schutz pensa que nós (cultura ocidental) estamos muito pouco
voltados para a expressão não verbal porque se atribui a esse
ambiente uma certa moralidade. Propõe assim que a expressão não
verbal possa ser usada sem contexto negativo, sem representar
estigma.
»
Avaliação: verificar até que ponto tudo isto tem sentido ou não.
Tratase de algo instintivo, visceral em que sabemos o que está
bem e o que está mal.
»
Perseverança: exercício para ser efectuado ao longo de várias
semanas (pensamos em alguém com quem nos damos muito mal e vamos
tentar encontrar uma forma de melhorar o relacionamento. Tratase
de não desistir, pois segundo ele, se nos empenharmos vamos
resolver todos os problemas).
3) Funcionamento interpessoal
:
»
Inclusão: Uma necessidade que à partida toda a gente tem é a de
sentirse parte do grupo, sentir que somos aceites. à medida que o
grupo vai evoluindo, verificase que o control vai estando
presente.
»
Control: Algo que começa a estar presente porque as pessoas
começam a assumir posições relativas.
Princípios relativamente à Intervenção Psicológica:
1) O terapeuta partilha normalmente as suas experiências pessoais, as
reacções que está a ter com o cliente; no relacionamento há uma
sensação de igualdade. Enquanto que para a Psicanálise tentase curar
o cliente, na perspectiva Humanista devemos ser capazes de darmos
espaço de à pessoa para ela descobrir as coisas por ela própria,
descobrir a sua idiossincrasia, devendo o terapeuta ajudála a
encontrar o seu próprio sentido e não esforçarse por dar a sua
opinião.
2) Salientase o sentido de vida ou significado. As pessoas estão
nesta vida e o que faz com que fiquem estagnadas e deprimidas é o
facto de não terem objectivos de vida. O significado não é
estabelecido pelo terapeuta, quem tem que o encontrar é o cliente com
a ajuda do terapeuta que funciona como suporte, que lhe permite
experimentar situações e comportamentos diferentes.
3) A "consciência" ou "awareness" (estar ciente de) é a liberdade e
responsabilidade das decisões que tomamos mas que estão limitadas por
aquilo que temos à nossa volta, condicionadas pela nossa interpretação
sóciocultural.
4) O indivíduo é capaz de basearse em si próprio essencialmente e não
no suporte dos outros, e ter consciência de que as decisões que toma
dependem de si. Claro que gostamos ao mesmo tempo de sermos apoiados
pelos outros, mas muitas vezes temos que aceitar que acima de tudo
somos nós, e não abdicarmos de sermos nós próprios para angariarmos o
respeito, estima, etc.
Rollo May
Teve uma influência Psicanalítica na sua história profissional. Quando
escreveu o seu livro sobre ansiedade observou a atitude das pessoas
que estavam internadas com ele com tuberculose. Observou se lutavam ou
não e organizou algumas categorias diferentes: pessoas que não
desistiam de lutar, para as quais o facto de estarem doentes foi um
tempo disponível para se descobrirem a si próprias, não tendo perdido
a esperança e força, e pessoas para as quais nada adiantava e que
faziam tudo o que se lhes mandava sem a esperança de se curarem. Esta
última atitude não é produtiva para a evolução da doença nem para a
descoberta de si próprio. Critíca a perspectiva em que a única ideia é
perpetuar a existência sem qualquer sentido de vida. Nessas pessoas
não há nada que as incite a viver, estão a vegetar e não a viver, sem
sensibilidade, razão e emoções. O ser humano tem tendências boas e
más. Um dos problemas é que a pessoa não se permite explorar as
tendências que não são boas (ex. agressividade). Este lado negativo
acaba por tomar uma força muito maior devendo ser conhecido e
integrado para se ser capaz de equilibrar a vida. A doença psíquica
devese ao facto da pessoa sentir medo de viver a vida plenamente.
Processo Terapêutico: o papel do terapeuta é estar ao lado do cliente
e criar um clima para que a pessoa se sinta à vontade para se
descobrir.
Processos Decorrentes do Trabalho Psicoterapêutico:
1) Cada pessoa é centrada em si mesma e um ataque ao seu centro é um
ataque à sua existência, à própria pessoa.
2) A pessoa quando é neurótica vai buscar mecanismos de preservação do
seu Eu, usa um método para não enfrentar o ataque ao seu centro.
3) A questão da homeostasia: é neurótica a pessoa que procura sempre o
equilíbrio (ex.,para não sentir ansiedade a pessoa está sempre a lavar
as mãos, o que é uma forma neurótica de gerir o ataque à sua
existência).
4) Todas as pessoas têm a possibilidade de sairem de si próprias para
irem ao encontro de outras pessoas.
5) O único cuidado que os terapeutas devem ter é o cuidado máximo de
tanto quererem ser empáticos com os outros que deixam de ser eles
próprios, perdendo por vezes a sua identidade.
6) Ansiedade existencial ou a consciência da finitude da vida ao
ataque.
Victor Frank
Inventou a Logoterapia ou terapia pelo sentido de vida. Elaborou 3
pressupostos (sofrimento, falabilidade e morte) importantes para ele,
mas que poderão não ser os mais importantes para todos. cada indivíduo
tem que descobrir os seus. A logoterapia abrange a liberdade de
escolha do indivíduo que no entanto é limitada pela natureza
biológica, psicológica ou sociológica. O sentido de vida é atingido a
partir da nossa interacção com o meio através do que damos à vida, do
que recebemos desta, e da aceitação do destino.
Duas Técnicas Mais Usadas:
1) Intenção Paradoxal: tenta levar ao extremo os sintomas que a pessoa
apresenta como sentimentos fóbicos, ansiedade, insónia. A pessoa
imagina estas situações levadas ao extremo em que a própria pessoa
seria capaz de se rir de si própria pois são levadas ao absurdo. O
reconhecimento a rir é meio caminho andado para a cura se não a
própria cura.
2) Descentração dos Problemas do Eu para o Exterior: trata de
despersonificar determinados problemas fazendo crer o clinte que são
comuns a muita gente (deixar de ser o centro do mundo). Muitas vezes
os problemas são derivados de um excesso de autoobservação, logo há a
necessidade de ser capaz de sair de si próprio ("descentração").
Carl Rogers
Conceitos:
Organismo é o indivíduo total;
Campo fenomenológico totalidade de experiências do indivíduo;
Self conjº de percepções conscientes e valores do Eu (aquilo que
temos na nossa consciência, o que é objectivo, concreto. é ele que
estabelece a interacção entre o organismo e o meio, e pode mudar como
resulyado de aprendizagem e de maturidade).
O Processo Terapêutico inclui:
1) Abertura para a experiência: a pessoa permitirse novas
experiências, aceitar novas formas de estimulação, não negar à partida
outra forma de experiência.
2) Confiança no próprio organismo: cada ser humano sabe através do seu
organismo, corpo o que está errado e certo, o que é adequado e o que
não é (confiança no organismo na avaliação de novas experiências).
3) Ponto interior de referência i.é., a pessoa basearse acima de tudo
nela própria, cada um sabe mais de si próprio do que o terapêuta.
Encontrar as respostas dentro de mim e não esperar que seja o
terapêuta a encontralas.
4) Processo de tornarme ou a atenção para o facto de que caminhamos
na vida no sentido de nos desenvolvermos e aperfeiçoarmos os nossos
sentidos sempre numa actualização contínua não finita.
O Relacionamento entre Terapeuta e Cliente pressupõe:
1) Congruência e Genuinidade (ser capaz de ser sincero e autêntico no
relacionamento com o cliente, ser espontâneo face ao cliente e ser
capaz de expressar os seus sentimentos, sendo uma espécie de modelo e
incrementando a honestidade do cliente. O terapêuta não deve
impulsivamente partilhar sentimentos que não sejam adequados ao
processo terapêutico).
2) Aceitação positiva e incondicional (sermos capazes de transmitir
que estamos ali para lhe dar suporte para que ele repense essas
situações e não para criticar independentemente do que o clinte diz ou
faz. Fazer com que as pessoas se autoanalisem, transmitir sempre que
entendemos sempre a posição do cliente, não criticando no sentido de
transmitir um julgamento moral. Se somos capazes de aceitar o cliente
com todos os seus defeitos é o 1º passo para que ele próprio se
aceita).
3) Empatia (sermos capazes de ver os problemas do cliente como ele os
vê, sentilos como ele os sente, sermos capazes de olhar com os olhos
do cliente, pôrmonos na sua posição).
O Self e A Experiência:
Self: inclui as percepçõespadrão das características e das relações
do indivíduo, juntamente com os valores que lhe são associados. é
essencial à consciência.
Experiência: representa o campo imediato de experiência vivencial e
sensorial, tudo o que o indivíduo experimenta através de todas as
modalidades sensoriais.
Áreas:
Área 1 (área central, de intersecção): o conceito do self está de
acordo ou é congruente com os dados fornecidos pela experiência
sensorial.
Área 2: (área esquerda): é o sector do campo fenomenológico em que a
experiência social ou de outro tipo foi simbolizada de uma forma
distorcida e é captada como parte da experiência do indivíduo.
Área 3: (área direita): experiências que são rejeitadas da consciência
por serem incompatíveis com o self.
A terapia visa transportar o máximo de experiências das área 2 e 3
para a área 1.
Reformulação: dizer por outras palavras o que o cliente nos acabou de
dizer, de forma sintética.
Considerações para a Aplicação:
1) O terapeuta não deve introduzir nada de novo nem interpretar no
sentido psicanalítico o que acabou de ouvir.
2) O cliente deve sentir que foi bem compreendido e que se exprimiude
forma correcta.
3) O terapeuta deve concluir se compreendeu correctamente o que o
cliente lhe disse. Se o cliente diz que não foi isso que disse, não
fazemos logo outra reformulação, pedimoslhe que volte a dizer.
Partimos do princípio que é o cliente que sabe mais de si próprio e
não o terapeuta. Ao fazermos esta técnica obrigamos o cliente a
ouvirse a si próprio.
4) é importante que o terapeuta se aperceba dos sentimentos que o
indivíduo expressa (importância da comunic. verbal e não verba).
5) Deixar desenvolver até ao fim o ponto de vista do cliente.
6) Entender o conteúdo subjectivo.
Quatro Tipos de Reformulação:
Rogers usa essencialmente as três primeiras. A quarta foi desenvolvida
por outros autores.
a) Reflexo: "pois, pois", "sim, sim" (não deve ser usado sempre).
b) Resumo: é quando a pessoa quer explicar algo que se passa com ela
mas anda sempre às voltas.
c) Reversão: fazer uma leitura totalmente diferente da que nos
encontramos. Tem que ser sempre apresentada de maneira muito empática
porque vamos dar uma reformulação contrária à que o cliente nos disse
(para não ferir a sua susceptibilidade).
d) Clarificação: trata de clarificar e não interpretar algo que o
cliente repete normalmente de maneira desorganizada. é necessário
transmitir ainda de forma mais empática.
Vantagens da Técnica:
demonstrar ao cliente que ele é a pessoa que mais sabe sobre si e a
pessoa mais interessada na resolução do problema. Através do próprio
relacionamento é possível o indivíduo aceitarse a si próprio. Na
terapia há a sensação de que é incondicionalmente compreendido. A
presença do outro é meramente de suporte, dando ao cliente uma grande
sensação de ter poder sobre ele próprio, de autonomia. Esta última, em
conjunto com a criatividade e a autoaceitação devem ser desenvolvidas
pelo cliente. Para que tal aconteça, há que fornecer o clima adequado.
Grupos de Encontro
Visam acentuar o aperfeiçoamento do desenvolvimento e crescimento
pessoal e aperfeiçoamento da comunicação e relações interpessoais. São
mais centrados no comportamento verbal, e são uma estratégia não
directiva. Acreditase que o homem é bom e que poderá ajudar e ser
ajudado.
Fases:
1) Fase de hesitação ou "andar à volta" (normalmente alguma das pessoa
sugere uma apresentação, e outra deseja saber qual o objectivo do
grupo).
2) Resistência à expressão ou exploração pessoais (as pessoas
perguntamse até onde será prudente falar de coisas suas no seio do
grupo).
3) Falar sobre situações passadas.
4) Expressão de sentimentos negativos (as críticas aparecem primeiro,
e normalmente a pessoa mais bombardeada é o líder).
5) Expressão e exploração do material com significado pessoal (começa
a surgir a confiança).
6) Expressão de sentimentos interpessoais imediatos no grupo (as
pessoas começam a ser capazes de dizer o que sentem e pensam).
7) Capacidade terapêutica do grupo (quando se procura a resolução de
problemas todos os membros podem actuar como terapeutas, não é uma
característica essencial do animador).
8) Aceitação do eu e começo da mudança (primeiro é preciso aceitar as
suas limitações para depois haver mudança).
9) Estalar das fachadas (começa a ser capaz de ser ele próprio).
10) O indivíduo é objecto de reacção (feedback) por parte dos outros
(começa a sentir quais os seus Ks que agradam e não agradam aos
outros.
11) A confrontação (surgem por vezes situações desagradáveis).
12) Relações de ajuda fora das sessões de grupo (às vezes não se
consegue evitar a formação de subgrupos e ao fim de determinadas
sessões as pessoas encontramse fora daquele espaço e ajudamse.
13) Encontro básico (traduz o conceito de empatia, ser capaz de estar
com o outro na alegria e na dor).
14) A expressão de sentimentos positivos e de intimidade (é mais fácil
criticarmos do que darmos apoio sentimental).
15) Mudança de K no grupo (a pessoa muda com o grupo de encontro mas o
que se pretende é que insira essas mudanças fora do seio do grupo).
Fase Previstas na Evolução de um Grupo:
1) Fase de Aquecimento: fase necessária para que o grupo sinta
confiança, se sinta seguro com as pessoas com que interage (abrange a
segurança interior, fruto da confiança mútua, a segurança sentida face
ao animador e a segurança para se poder abordar problemas
independentemente do que o grupo possa pensar).
2) Fase de Empenhamento: esforço para se conseguir explicitar o vivido
através da individualidade de cada um.
3) Fase da Resolução: consciência do grupo em si. »» Este tipo de
grupos é usado em vários ramos da psicologia: trabalho, terapia
familiar, instituições de educação, etc.
Maslow
AutoActualização:
Ideia de capacidade de mudança, o indivíduo não é estático, cada ser
humano procura desenvolver as suas capacidades em interacção com o
meio. Aquilo que cada ser humano pode ser deve sêlo, realizando todos
os seus potenciais. Maslow dedicou muito do seu trabalho à motivação.
Um conceito importante é o de muitas vezes terse que distinguir entre
os meis e os fins. às vezes os fins são mais importantes em termos de
motivação que os meios. Pode terse os mesmos fins, os mesmos
objectivos (ser respeitado, etc.) mas não utilizar os mesmos meios (os
Ks em si não podem ser comparados mas sim os objectivos / motivação).
Pirâmide da Motivação:
No topo da pirâmide está a autoactualização e na base as necessidades
básicas (nem sempre é necessário o preenchimento de todas as
necessidades anteriores para se atingir a autoactualização, por ex.,
em função da estética abdicamos da necessidade fisiológica "comer").
15 Proposições da Pessoa AutoActualizada:
Percepção apurada e real do mundo que a rodeia, aceitação do seu Eu,
dos outros e do mundo como ele é, espontaneidade no K e vida interior,
concentração maior nos problemas que no Eu, confiar nos seus próprios
recursos e potencialidades, autonomia, originalidade, apreciação de
coisas simples, capacidade de experimentar experiências místicas,
identificação com a especie humana, capacidade de experimentar
profundo envolvimento emocional com algumas pessoas, senso de humor em
relação a si própria, criatividade, resistência às pressões sociais e
atitudes e valores democráticos.
Análise Transaccional Eric Berne
Vai trabalhar a análise da estrutura da personalidade de cada pessoa,
e as interacções com as outras pessoas. A intervenção é desenvolvida
em campos diferentes: grupos de desenvolvimento pessoal, acções de
formação, organização do trabalho, gestão. O objectivo é o controlo
social, não apenas adaptarse à sociedade mas também autonomia pessoal
e da pessoa face às situações.
Personalidade do indivíduo: 3 instâncias :
Pai: regras, normas, valores que são transmitidos, preconceitos. Dar
conselhos, censura moral, dar protecção, reprimir, castigar. O Pai
pode ser Nutritivo ou Compreensivo (suporte, conselho, amparo) ou
Normativo ou Crítico (impõe regras, pune). é mau que o indivíduo seja
de mais um ou outro destes dois tipos.
Adulto: não tem a ver com a maturidade da pessoa. Significa tudo que
envolve o raciocínio lógico e objectivo, a lucidez onde não pertencem
os sentimentos, emoções, valores, preconceitos.
Criança: tudo o que faz parte da nossa personalidade que é espontâneo,
instintivo, as emoções e sentimentos. A Criança subdividese em Livre
(não tem influência de nada, perde o controlo) e Adaptada dividindose
esta última em Rebelde (contra todas as normas e com liberdade
natural) e Obediente (voluntária à força).
O que é ideal?
O ideal é uns estejam em interacção (transacção) com os outros,
comunicando de instância para instância.
Etapas da AT:
1) Análise Estrutural: Contaminação. Exclusão (pai constante, adulto
constante, criança constante).
2) Análise Relacional (transaccional propriamente dita):
a) Simples (Paralelas, que favorecem a comunicação, e Cruzadas que
originam uma má comunicação).
b) Complexas (Angulares, em que o estímulo dado é dirigido
verbalmente ao adulto e não verbalmente à criança, e Dupla, em que
a pessoa diz uma coisa com outra intenção; quando é compreendida
quer a nível social,quer a nível psicológico, há uma boa
comunicação).
3) Análise de Jogos: a) Retiro maneira menos energética de passar o
tempo. b) Ritual todas as formas de cumprimentar os seres humanos.
c) Passatempo todas as conversas banais que temos. d) Jogos uma
série de transacções que inclum um truque e que terminam com uma
recolha de bebefícios bem definidos. e) Actividades tirar um curso,
aprender um idioma. f) Intimidade forma em que se dispende mais
energia (ex. amizade, relação amorosa).
4) Análise do Guião: o Guião de Vida é um esquema da vida que se
constrói através de vivências e experiências e que se tem que cumprir.
Os guiões podem ser alterados em poucas situações como: maturidade e
desenvolvimento, acontecimentos históricos, terapia. Da interpretação
do guião surgem 4 posições possíveis: Eu OK Tu OK, ........
Análise do sentimentos parasitas (Rackets):
Emoções atrás das quais a pessoa se esconde para não expressar as suas
verdadeiras emoções Ex.;"Criança à noite tem medo de ficar no escuro,
mas não do escuro propriamente".
Teoria Geral dos Sistemas
Sistema: é um objecto complexo formado por componentes distintas
ligadas entre si por um certo número de reacções. Muito
sinteticamente, todo o ser vivo (animal, humano), todo o mecanismo
físico pode ser visto como um sistema obedecendo a um certo número de
regras.
Leis Gerais:
1)
Estão em relação com o meio.
2)
Estão organizados internamente segundo uma certa hierarquia.
3)
Têm necessidade de uma certa variedade.
4)
São impulsionados para a evolução.
Tipos de Sistemas:
Sist. Abertos (os que têm várias trocas com o meio ambiente),
Sists. SemiAbertos (têm uma só troca com o meio ambiente, uma
entrada básica e uma saída básica).
Sists. Fechados: (praticamente não existem. São isolados e sem troca
com o meio). As diversas trocas propiciam a manutenção do sistema,
procurase que ele se conserve a si mesmo, conservando as
características do próprio sistema. Apesar de semi abertos ao exterior
há um certo hermetismo que caracteriza o sistema, é necessário que os
sistemas mantenham a sua identidade e perpetuação.
A essência de um sistema (4 conceitos):
1)
Interacção: é a acção recíproca que modifica o K ou a natureza entre
os elementos do sistema. Não há causalidade linear mas sim circular.
Há uma retroacção definida por interacção recóproca, que pode ser
positiva (quando amplifica o mecanismo que havia antes) ou negativa
(se é compensadora ou reguladora).
2)
Totalidades: num sistema o conjunto de elementos é mais do que a soma
das partes (princípio da Gestalt), aparecem qualidades novas que não
estão presentes em cada uma das partes.
3)
Organização: que pode ser
Estrutural (conceitos como fronteira o que separa o sist. do
meio, elemento componentes do sist., rede veículos de
comunicação, reservatório formas de armazenamento da energia do
sist. tendo em vista a perpetuação daquele) ou
Funcional isto é, quais os objectivos a que se propõe (conceitos
como fluxo vai circular nas redes e pode ser de várias
naturezas, centros de decisão recebem a informação e transformam
em acção, centros de retroacção processo de informação dos
centros de decisão, prazos procede aos ajustamentos no tempo).
Várias abordagens da TGS na Família:
Analisam a família como um sistema em constante transformação, com uma
tendência para a homeostasia, para conservar o sist. e a capacidade de
transformação e de mudança. A família como um sist. activo é
autoreguladora por regras mutáveis no tempo (ex. social e cultural).
Dentro da perspectiva da Terapia Familiar há 2 tipos de tensões dentro
da família:
Intersistémica (quando a pessoa muda de residência, profissão, i.é, do
sist. com o meio e entre outros sistemas) e
Intrasistémica (dentro do próprio sistema como o nascimento de um
flho, casamento, etc.). A família é um sist. aberto em comunicação com
o seu meio, interagindo com outros sistemas.
Modelos Interventivos de Terapia Familiar
1)
Perspectivas Psicodinâmicas.
2)
Perspectivas Transgeracionais (têm em consideração a família) Carl
Whitaker.
3)
Perspectivas Sistémicas :
a)
Modelo Estratégico (Escola de Milão, Palazzoli) o qual parte da queixa
ou sintoma mas não com o sentido da resolução imediata.
b)
Modelo Interaccional (Palo Alto) cujo objectivo primordial é o jogo
relacional e interacções dos membros da família, partindo da
observação.
c)
Modelo Estrutural (Minuchin) que considera que a estrutura do sistema
da família é disfuncional e é preciso restruturála.
d)
Modelo de Maurizio Andolfi. Escola Interaccionista de Palo Alto: a
terapia familiar desenvolvese a partir de 5 axiomas: é impossível não
comunicar, toda a comunicação implica e define uma relação, os seres
humanos comunicam verbal e não verbalmente, a comunicação informanos
sobre o tipo de relação entre as pessoas. Esta perspectiva recusa uma
abordagem em que se aceite o doente resignado. A intervenção provoca a
mudança na sequência interactiva que desencadeia e mantêm o sintoma.
Psicodrama
É uma terapia individual em grupo.
Noções Teóricas:
1) Baseiase nas teorias dos papéis,.
2) Utiliza o "actingout" (fantasias, actingout terapêutico que se
realiza durante a dramatização, actingout irracional sem controlo
terapêutico e dentro ou fora da sessão).
3) Catarse de integração: quando o indivíduo sai de si próprio
ultrapassandose e rompendo com o estereótipo e defesas do seu eu.
4) Tele: conjunto dos processos perceptivos que permitem ao indivíduo
uma valorização correcta do seu meio circundante (os outros, os
objectos, a fantasia e a realidade) A Tele evolui e acompanha o
desenvolvimento da vida afectiva e do meio em que o indivíduo está
inserido.
5) Transferência: conjunto das alterações psicopatológicas da Tele,
percepções deformadas que fazem parte das apreciações da Tele.
Elementos que compõe o Psicodrama:
1) Cenário.
2) Protagonista .
3) Egos auxiliares.
4) Director.
5) Auditório.
Etapas do Psicodrama:
1) Aquecimento.
2) Dramatização.
3) Comentários ou Análise.
Técnicas Psicodramáticas:
1) Inversão de Papéis.
2) Solilóquio (falar sozinho).
3) Interpelação das Resistências (mudar, pôr a pessoa a desempenhar um
papael contrário).
4) Espelho (procurase imitar os Ks dos protagonistas pelos egos para
que os protagonistas se observem).
Psicodrama AntropológicoExistencial
As situações não devem ser reais. é diferente do outro Psicodrama
devido ao envolvimento em situações dramáticas, o jogo, e o corpo em
movimento. Rejeita o uso de técnicas pelo uso de técnicas, e centrase
na abordagem centrada na pessoa. Os anteriores egos auxiliares
denominamse agora "observadores participantes".
Fases deste Psicodrama:
1) Tempo de elaboração e de concretização de cenas a representar
(aquecimento).
2) Tempo de Representação.
3) Tempo de explicitação do vivido.
4) Tempo de visionamento da gravação de vídeo da representação.
5) Termina com um comentário final.
Áreas de Aplicação:
1) área terapêutica.
2) área formativa.
3) área pedagógica e androgógica.
Por:
Alexandre M. Campos
Psicólogo, Universidade do Porto
Porto
, Outubro de 1995
OS EFEITOS DA HOMOGENEIDADE DO INGROUP
NA
AVALIAÇÃO DO
INGROUP E OUTGROUP
Um Estudo de Psicologia Social Aplicada
Por:
Alexandre M. Campos
Ana Maria Diogo
Fátima Marcos
Paulo Machado
Psicólogos, Universidade do Porto
Porto
, Julho de 1994
_________________________________________________________________
INTRODUÇÃO
A análise dos processos de discriminação social, tanto ao nível das
avaliações como ao nível dos comportamentos, tem um lugar de destaque
nas teorias das relações intergrupos e na própria noção de grupo.
Uma das primeiras análises teóricas sobre a discriminação social foi
feita por Kurt Lewin, nas décadas de 30 e 40, a partir da observação
dos movimentos de antisemitismo na Europa e da situação dos negros e
a luta das mulheres pelo direito de voto nos Estados Unidos, avançando
alguns conceitos fundamentais para a análise das relações intergrupos.
Como afirma Apfelbaum (1979), citado por Lígia Amâncio (1993), "as
interacções sociais analisadas por Kurt Lewin, constituem relações de
domínio, baseadas numa diferença de poder simbólico. O grupo dominado
é, neste caso, uma entidade subjectivamente construída, que reúne os
seus membros sob um «destino comum», (Kurt Lewin, 1948) no quadro de
uma definição categorial que transforma os indivíduos abrangidos por
ela em «invisíveis» (Apfelbaum, 1979) quanto à sua distintividade
individual. Esta assimetria entre os grupos no domínio dos recursos
simbólicos repercutese numa assimetria na capacidade de acção e
mudança da relação que depende da consciência colectiva da natureza
dessa relação por parte do grupo dominado".
Uma outra perspectiva, com base nos estudos sobre o etnocentrismo, tem
analisado recentemente as relações intergrupos como processos de
diferenciação entre os grupos, tornandose importante analisar as
dimensões de diferenciação entre os grupos e as condições de
emergência dessas dimensões.
Para Tajfel (1957), os juízos perceptivos têm por função acentuar a
diferença aparente numa dimensão, mesmo física, sempre que a esta
dimensão esteja associada uma dimensão valorativa, assentando num
processo universal, a categorização, que se aplica tanto a estímulos
físicos como a estímulos sociais, não dependendo nem da personalidade
nem do grau de informação dos indivíduos, constituindo antes, um
processo cognitivo necessário para a organização e selecção da
informação complexa.
Segundo Tajfel (1969) e Billig (1976), as relações entre grupos são
explicáveis por factores cognitivos associados a valores relevantes
para a cultura de inserção dos indivíduos: o processo de
categorização, por si só, aumentaria a percepção de diferenças entre
membros de grupos diferentes, e , de semelhanças entre membros de um
mesmo grupo, mas os critérios que presidiriam seriam socialmente
construídos e consensualmente aceites pela sociedade em geral.
Por outro lado, os indivíduos tendem a afiliarse num grupo quando
este é susceptível de lhe fornecer alguns aspectos satisfatórios para
a sua identidade, e, as categorias sociais de inserção do indivíduo
necessitam ser reconhecidas enquanto tais, por outros indivíduos que
lhe são exteriores. Um indivíduo deverá, necessáriamente, utilizar um
outgroup como referente para a sua «positividade» enquanto membro de
um ingroup. Neste processo, o indivíduo pode utilizar diferentes
recursos, tais como a escolha de dimensões de comparação favoráveis ao
seu grupo, de outgroups alternativos vantajosos, a mudanças nas
conotações dos atributos do ingroup e/ou outgroup, ou a mudança real
desses atributos, (Marques, 1998). Para Festinger os indivíduos
afiliamse selectivamente com aqueles que partilham crenças
semelhantes e tentam evitar a divergência dentro do grupo. é chamado o
fenómeno de "Realidade Social".
Segundo o Paradigma dos Grupos Mínimos, os indivíduos não se importam
de beneficiar o outgroup desde que isso lhes permita aumentar a
diferença relativa (discriminação positiva) entre o ingroup e o
outgroup. Os resultados não são devidos nem a níveis de diferenciação
de informação sobre o ingroup e outgroup nem outras variáveis de
carácter interpessoal. Segundo Marques, Yzerbyt e Rijsman (1988),
verificase que o indivíduo vendo o seu sentimento de
autopositividade posto em causa através da imposição de uma
categorização cujo fundamento, possivelmente, não compreendera na sua
totalidade, procurará demonstrar a sua superioridade. Este fenómeno
parece ser determinado por uma atitude de ingroup favoritism, que irá
provocar nos indivíduos uma distorção de parcialidade em relação ao
ingroup ingroup bias. estudos realizados pelos mesmos autores
indicam que o ingroup bias pode ser atenuado ou mesmo invertido em
função de variáveis geralmente não levadas em consideração pelo
paradigma dos grupos mínimos, mas tal não indica ingroup favouritism.
O ingroup bias consiste em construir uma superioridade relativa do seu
grupo sobre o outgroup, esperandose que ocorra em todas as situações
de comparação intergrupos, sendo a sua nãoocorrência nessas situações
geralmente atribuida, ou a variáveis moderadoras controladas ou a
factores «aleatórios». Os alvos de julgamento são, ou grupos na sua
globalidade, ou membros indiferenciados desses grupos. Com o black
sheep effect, esperase que as pessoas se possam envolver, ao mesmo
tempo, em ingroup bias para com os membros desejáveis do grupo e em
depreciação do ingroup para com os indivíduos indesejáveis. Esta
depreciação é uma estratégia cognitivaemocional para expulsar do
grupo aqueles membros do ingroup que contribuem negativamente para a
identidade social, (Marques, 1988).
Com base nos postulados da teoria da Identidade Social de Tajfel,
Mummendey e Schreider (1984) mostraram que o ingroup bias ocorre
especialmente para dimensões de julgamentos relevantes para a
identidade social do ingroup, mas que o outgroup bias pode ocorrer em
dimensões de julgamento irrelevantes para essa identidade, mas
consideradas como relevantes para o outgroup. O outgroup bias é também
uma forma "disfarçada" de ingroup favoritism, o outgroup é julgado de
forma superior em relação ao ingroup, para dimensões consideradas
importantes para a sua identidade grupal. Para o padrão unipolar,
adicionalmente à variável «pertença grupal dos sujeitos», as variáveis
«pertinência da dimensão de julgamento» (Mummendey e Schreiber,1984)
e/ou a «situação de julgamento» (Marques, 1988) tornam flexível o
padrão de respostas dos indivíduos, relativamente à sua identidade
social.
Turner, com base na teoria da Identidade Social afirma: logo que os
indivíduos começam por efectuar discriminações intergrupos, eles
diferenciam numa menor medida o Eu e os outros (independentemente do
seu grupo de pertença). Por outro lado, mal eles começam pelas
diferenciações interindividuais (entre si e todos os outros), acedem
directamente a uma imagem positiva do Eu, funcionando menos em termos
de diferenciação intergrupos. A discriminação intergrupos não será um
efeito necessário da categorização por Si, como afirmou Tajfel, mas
sim mediatizada pela vontade do sujeito de saciar o desejo de uma
identidade pessoal avaliada positivamente.
As pertenças mínimas reflectem de início as propriedades estruturais
de grupos dominantes nas estruturas sociais grupos colecção; são
percepções de indivíduos que se percebem como livres e autónomos.
Grupos dominantes são o conjunto de pessoas a que lhes fazemos crêr
que escolheram de acordo com as preferências indivíduais. A
compreensão subjectiva desta pertença pode elaborarse à volta da
imagem de uma individualidade autónoma e específica, definida, mesmo
antes da sua inserção no grupo. São as características do indivíduo
que escolhe que levam à sua adesão ao grupo, sendo muito pouco a
pertença ao mesmo que induz às características pessoais,
(LorenziCioldi, 1988).
Este mesmo autor, num estudo sobre grupos agregado e colecção chega
aos seguintes resultados:
A hipótese da homologia articula os efeitos de pertença social,
induzindo estas pertenças a um modelo de relações intergrupos
assimétricos colecção e agregado. Esta hipótese é sustentada por
processos equivalentes de aquisição de identidade social, como obra de
redes intergrupos de natureza muito diferente. Os príncipios
explicativos idênticos podem ser aplicados a dinâmicas ligadas a
pertenças sociais com conteúdos heterogéneos, mas que sejam ligados
por uma relação assimétrica.
Os indivíduos fazem, em favor do seu grupo, discriminações cuja
intensidade depende, numa medida negligenciada, do tipo de grupo a que
pertencem: a discriminação é mais elevada nos grupos colecção. A
individualização dos membros de um grupo aliase a mais fortes
discriminações entre os grupos. Existe uma elevada sensibilidade dos
indivíduos aos contextos nos quais se criam e comportam os grupos,
tanto ao nível da identificação com o grupo como relativamente às
discriminações entre os grupos.
Grupos agregado e colecção podem ser identificados por degraus
diferentes de homogeneidade interpessoal (como nos dois pólos do
continuum Eu colecção/ Grupo agregado, de Tajfel). São as
autodescrições dos sujeitos a base da afectação dos indivíduos aos
gupos colecção (diferentes) e agregado (semelhantes).
Heterogeneidade e uniformidade interindividual definemse nas suas
comparações mútuas e exprimem a pertença dos indivíduos e grupos
contrastados. No Paradigma dos Grupos Semelhantes e Diferentes, esta
comparação de grupos deverá ser mais elevada nas dimensões comuns do
que nas dimensões específicas de cada grupo.
A percepção que cada sujeito tem do seu grupo de pertença resulta de
um processo de representação categorial.
A formação desta representação é explicada por duas grandes classes de
modelos: o modelo baseado em exemplares e o modelo baseado em
abstracções.
A característica fundamental dos modelos baseados em exemplares, do
ponto de vista psicológico, é o facto de os indivíduos percepcionarem
a realidade e a armazenarem na memória sob a forma de exemplares ou
instãncias de informação, para uso posterior.
Na situação de julgamento ao nível da categoria, os exemplares
armazenados são recuperados e os julgamentos são calculados a partir
dela. A tendência central da categoria num dado atributo é calculada a
partir dos valores dos exemplares retidos nesta dimensão do atributo.
Não existe nenhuma abstracção ou construção activas daquilo que o
grupo é em média ou como um todo. Pelo contrário, no modelo de
representação categorial baseado em abstracções, existe um mecanismo
espontâneo de abstracção da informação ao nível da categoria, formando
então o âmago da representação na memória da categoria. Segundo Judd &
Park (1988), quando é perguntado a um sujeito sobre a variabilidade do
seu grupo, o sujeito recupera a estimativa da variabilidade que foi
abstraída e armazenada aquando do contacto com os membros do grupo.
Para o ingroup, o sujeito é capaz de pensar sobre instâncias
específicas do grupo que têm ou não o atributo em questão. A
discrepância destas instâncias sobre a média do grupo é usada para
actualizar a variabilidade estimada que está armazenada. Se existe uma
grande variabilidade das instâncias recuperadas, o sujeito incrementa
a variabilidade do grupo, no seu discurso, para demonstrar este facto.
Linville et al. (1989) apresenta um modelo baseado em exemplares de
como as pessoas formam distribuições percebidas das características
dos membros da categoria, pela activação de exemplares na memória a
longo prazo. De acordo com este modelo, a variabilidade percebida do
grupo é uma função não linear do grau de familiaridade com esse grupo.
A baixos níveis de familiaridade, um aumento desta produz um aumento
relativamente grande na variabilidade percebida, mas a altos níveis,
diferenças de familiaridade têm apenas pequenos efeitos nessa
variabilidade.
Uma das medidas relacionadas com a dispersão percebida dos grupos
acerca da sua tendência central, incluindo estimativas do alcance ou
extensão do grupo, é o RANGE.
Quaisquer variáveis que influenciam ou enviezam a memória irão também
influenciar a variabilidade percebida no EBM (modelo baseado em
exemplares). Uma dessas variáveis é o facto de se prestar maior
atenção a instâncias extremas do comportamento, tendo como resultado
uma melhor recuperação.
No Pdist (Pd e Var), os exemplares extremos têm uma maior
probabilidade de serem codificados do que os moderados. Isto conduz a
maiores níveis de dispersão percebida do que se todos os exemplares
fossem propensos a serem codificados.
Com base nestes dois modelos foram construídas algumas medidas de
variabilidade percebida, as quais vieram a ser utilizadas neste
estudo, com vista a identificarmos a percepção que os sujeitos têm do
seu grupo.
Por vezes conseguimos encontrar justificações valorizadoras para o
comportamento negativo de membros do nosso grupo, mas noutras
ocasiões, depreciamolos ainda mais do que se pertencessem a outro
grupo. Este último facto, talvez se deva à aceitação diária do
princípio normativo de que um indivíduo se deve conformar aos padrões
do ingroup, pois estes são os melhores, ou mesmo, os únicos
aceitáveis.
Os postulados do black sheep effect (BSE) parece estar em contradição
com o pressuposto geral da teoria da Identidade Social (Tajfel e
Turner), que diz que a categorização social gera um exagero das
diferenças intergrupo e semelhanças intragrupo. O BSE é um caso
particular do efeito de homogeneidade do outgroup, pois este implica
uma maior diferenciação entre membros do ingroup e outgroup. é também
uma tentativa de assegurar uma identidade social positiva quando tal
identidade é ameaçada por membros do ingroup. Esta tentativa conduz os
sujeitos de um grupo a fazerem avaliações mais extremas dos membros
positivos e negativos do ingroup, relativamente ao outgroup.
Segundo um estudo de LorenziCioldi (1988), os elementos do grupo
dominado são aqueles que não revelam a procura de distintividade ou
favoritismo pelo grupo de pertença, em situações de confrontação com o
grupo "oposto". Há uma fusão do indivíduo ao grupo. Grupo dominante
será aquele que manifesta persistência na diferenciação
interindividual e intergrupal. Verificamse individualizações
relativamente ao grupo.
No nosso estudo, o grupo dominado será aquele que valoriza
determinados traços e não se considera competente neles. Dominantes
serão os indivíduos que valorizam determinado traço e se consideram
competentes nele. Esperase, portanto, que os grupos sejam dominantes
e dominados entre si em alguns traços (hipótese 1).
Segundo o mesmo autor, elementos do grupo dominante têm um
comportamento mais diferenciador a nível intragrupal. Estes sujeitos
consideramse como sendo diferentes uns dos outros, ou seja, como
existindo uma grande variabilidade entre eles. Esperase verificar que
grupos dominantes em determinados traços ajam como grupos colecção
para esses traços (hipótese 2). Por outro lado, elementos dos grupos
dominados fazem uma menor saliência da individualidade singular, com
uma uniformização relativa do Eu e dos outros membros do intragrupo.
Também se observa, ao mesmo tempo, um diminuição de discriminações
relativamente ao outgroup superior grupo colecção. Esperase que os
sujeitos do grupo dominado para determinados traços, façam uma pequena
discriminação entre o Eu e o grupo, ou seja, que ajam como grupo
agregado (hipótese 3).
Com base em estudos realizados por José Marques, Yzebyt e Leyens
(1988) sobre o black sheep effect "os sujeitos avaliam um membro
«simpático» do ingroup mais positivamente do que um membro «simpático»
do outgroup, e, um membro «antipático» do ingroup mais negativamente
do que um membro «antipático» do outgroup", e ainda, os resultados
reportados pelos mesmos autores parecem ser determinados por "um
fenómeno de ordem cognitivaemocional nomeadamente, identificação
com um ingroup e corresponder, ao mesmo tempo, a um padrão bipolar,
nomeadamente, a exaltação dos membros positivos do ingroup e
depreciação dos seus membros negativos (...) este padrão, em princípio
fixo, pode ser, de facto, flexível, se tivermos em consideração a
relevância da dimensão de julgamento dos sujeitos (existindo uma
diferenciação no seio do ingroup em situações de comparação social)".
Deste modo, como o grupo colecção aceita as diferenças intragrupais, o
facto de fazerem estas avaliações seria com o fim de demarcar ainda
mais a variabilidade do seu grupo e de manter a identidade social do
grupo (hipótese 4). Do mesmo modo, como os elementos negativos vão pôr
em causa a identidade grupal, esperase que a avaliação que destes
membros seja mais depreciativa. Quanto aos membros positivos, como vão
aumentar o autoconceito do grupo, esperase que façam uma avaliação
com vista a inaltecelos (hipótese 5).
Segundo a teoria da Identidade Social, o indivíduo tende a afiliarse
num grupo quando este é susceptivel de lhe fornecer alguns aspectos
satisfatórios para a sua identidade. A identidade social "está
associada ao conhecimento da pertença aos grupos sociais e ao
significado emocional e avaliativo dessa pertença"e ainda, "os grupos
sociais só podem contribuir para uma identidade social positiva dos
seus membros, na medida em que se distinguirem positivamente de outros
grupos", (Tajfel, 1972). As categorias sociais de inserção do
indivíduo necessitam de ser reconhecidas, enquanto tais, por
indivíduos que lhes são exteriores .Um indivíduo deverá,
necessáriamente, utilizar um outgroup como referente para a sua
«positividade», enquanto membro de um ingroup (Tajfel, 1978). Deste
modo, como o grupo agregado se considera muito semelhante ao nível
intragrupal, a «positividade» das performances positivas irá aumentar
o seu autoconceito e identidade grupal. As avaliações positivas das
performances negativas será para manterem a sua semelhança intragrupal
(hipótese 6). Relativamente ao grupo colecção, embora aceite as
diferenças intragrupais, mas como prefere o seu grupo, vai tentar
denegrir a imagem do outgroup tentando inaltecer o seu grupo (hipótese
7).
METODOLOGIA
Para observarmos os fenómenos que acontecem no âmbito do trabalho
proposto procedeuse numa fase inicial à realização de um
"BrainStorming" com vista a recolher os traços psicológicos que
seriam utilizados para a concretização do estudo.
De seguida elaborouse um questionário que iria testar a confirmação
das hipóteses propostas. Procedeuse então à sua administração,
cotação, e tratamento estatístico .
"BRAINSTORMING"
Nesta fase pretendeuse obter uma lista de traços que os sujeitos
considerassem relevantes enquanto estudantes do curso a que pertencem.
Para ambos os cursos recorremos a uma amostra de cinco sujeitos de
cada curso e obtivemos os traços que eles consideravam mais
relevantes. Para isso, pediuse aos sujeitos que dissesem quais os
traços que eram mais relevantes para si, enquanto estudantes do seu
curso. Da lista resultante inquiriuse novamente os sujeitos sobre
quais daqueles eram mesmo mais relevantes, obtendose uma lista de
sete traços efectivamente relevantes para o grupo. De seguida pedimos
sinónimos para cada um dos traços.
Após esta recolha, fezse uma análise dos traços e selecionouse os
três que cada grupo achava como sendo os de principal relevância. Do
mesmo modo selecionamos aqueles traços (três) que eram considerados
relevantes por ambos os grupos (Traços relevantes para o Ingroup
TRI, Traços relevantes para o Outgroup TRO, Traços relevantes para
ambos TR2).
Resultou deste processo uma lista de:
* Três traços relevantes para Matemática e seus respectivos
sinónimos (um de cada) (TRM):
TRM
Sinónimo Matemática
1 Pensamento lógico
racional
2 Pormenorizado
picuinhas
3 Imaginativo
criativo
* Três traços relevantes para Direito e os seus respectivos
sinónimos (um de cada) (TRD):
TRD
Sinónimo Direito
1 Memória
retenção de conhecimento
2 Argumentativo
capacidade de fundamentação
3 Capacidade de expressão verbal
bom orador
* Três traços relevantes para ambos e seus respectivos sinónimos
(TR2):
TR2
Sinónimo Matemática
Sinónimo Direito
1 Metódico
Estruturado
Organizado
2 Persistente
Determinado
Força de vontade
3 Estudioso
Empenhado
Trabalhador
CONSTRUçãO DO INSTRUMENTO (QUESTIONáRIO)
Para construirmos o instrumento e utilizamos os traços e respectivos
sinónimos resultantes do "BrainStorming". Os traços foram ordenados
através de balanceamento. A ordem dos itens foi mantida em todas as
questões (ver questionário em anexo).
O questionário foi desenvolvido para avaliar as seguintes variáveis:
=> Avaliação da relevância dos traços
Pediuse aos sujeitos que avaliassem a relevância de cada um dos
traços para um elemento (indiferenciado) do ingroup e do outgroup.
Para isso utilizouse uma escala de sete pontos (3, extremamente
irrelevante, a +3, extremamente relevante).
=> Avaliação da competência nos traços
Pediuse aos sujeitos que avaliassem a competência de um elemento do
ingroup e do outgroup para cada um dos traços apresentados. Para isso
utilizouse uma escala de sete pontos (3, extremamente incompetente,
a +3, extremamente competente).
=> Avaliação de performances positivas e negativas de elementos do
ingroup e outgroup
Pediuse aos sujeitos que avaliassem as perfomances positivas e
negativas de sujeitos do ingroup e outgroup para cada um dos traços
apresentados. Para isso utilizouse uma escala sete pontos ( 3,
extremamente negativo, a + 3, extremamente positivo).
=> Avaliação das percepções do grupo
Semelhança:
Foi pedido aos sujeitos para avaliar em que medida eram semelhantes ao
ingroup e outgroup para cada um dos traços apresentados. Para isto
utilizouse uma escala de sete pontos que oscilava entre 3,
extremamente diferente, e +3, extremamente semelhante.
Range:
Foi pedido aos sujeitos para indicar numa escala de 0 a 100 (0 =
extremamente incompetente a 100 = extremamente competente) o sujeito
do seu grupo que é mais competente e o mais incompetente para cada um
dos traços.
Tarefa de distribuição em percentagens:
Pediuse aos sujeitos que considerassem a totalidade dos estudantes do
seu curso (100 %), e que indicassem a sua distribuição para cada um
dos traços, colocando uma percentagem em cada uma das sete categorias
de modo que para cada traços perfizesse a soma de 100%. As categorias
oscilavam entre os sujeitos que não tinham o traço (categoria 1) e os
sujeitos que tinham muitíssimo esse traço (categoria 7).
ESTUDO
SUJEITOS
:
Para verificarmos as nossa hipóteses usamos dois grupos: um grupo de
sujeitos do 4º ano do curso de Direito da Universidade Lusíada ( n =
32, média de idades = 23), e um grupo de sujeitos do 3º ano do curso
de Matemática da Faculdade de Ciências da U.P. ( n =35, média de
idades = 22). A escolha destes grupos baseouse na ideia hipotética da
não existência de qualquer estereótipo, ou outro factor que
influenciasse as respostas dos sujeitos, uma vez que pretendíamos
obter resultados apenas imputáveis às variáveis independentes.
PROCEDIMENTO
:
A administração do questionário em ambos os grupos foi realizada em
salas de aula nos respectivos estabelecimentos de ensino. A duração da
administração demorou em média 45 minutos para cada curso.
Em ambos os cursos apresentamonos como alunos do 4º ano do curso de
Psicologia, que estavam a realizar um estudo sobre as características
de ambos os cursos, pedindo em seguida aos sujeitos para que
respondessem ao questionário, lendolhes as instruções da 1º página do
questionário (ver questionário em anexo) e realçando a importância de
ler atentamente as questões.
RESULTADOS
Das várias variáveis avaliadas pelo instrumento procedeuse a alguns
tratamentos estatísticos.
RELEVÂNCIA
:
Para analisar os resultados relativos à relevância dos traços para o
ingroup e o outgroup dos dois grupos de estudantes, procedeuse ao
cálculo da média e desviopadrão das respostas dos sujeitos. Os
sujeitos de Direito consideraram que os traços previamente vistos como
relevantes para o ingroup (Traços relevantes para Direito) são muito
relevantes e mais relevantes que os traços considerados para ambos
(Traços relevantes para ambos) e para o outgroup (Traços relevantes
para Matemática). Estes sujeitos também consideraram que os traços
relevantes para o ingroup (Traços relevantes para Matemática) não são
nada relevantes para o outgroup. No entanto, consideram que traços
relevantes para Matemática são mais relevantes para o ingroup do que
para o outgroup. Em relação aos traços relevantes para ambos, estes
são igualmente relevantes para ambos os cursos (ver gráfico 1 em
anexo).
Para os estudantes de Matemática a relevância dos traços relevantes
para Matemática é superior à relevância que esses traços têm para
Direito. Os sujeitos e Matemática também consideraram que os traços
relevantes para Direito são realmente extremamente relevantes para os
estudantes desse curso, não sendo relevantes para eles próprios.
Pudemos ver ainda que os sujeitos de Matemática acharam que os traços
relevantes para Matemática não eram os traços mais relevantes para o
ingroup, mas sim os traços relevantes para ambos os grupos. Também
consideraram que os traços relevantes para ambos eram realmente e
igualmente relevantes para ambos.
Estes sujeitos consideraram igualmente que os traços relevantes do
ingroup (Traços relevantes para Matemática) são mais relevantes para
eles do que os traços relevantes do outgroup (ver gráfico 2 em anexo).
COMPETÊNCIA
:
Os estudantes de Direito consideraramse mais competentes do que os de
Matemática nos traços considerados relevantes para o ingroup (Traços
relevantes para Direito) e para o outgroup (Traços relevantes para
Matemática). O outgroup é visto como mais competente apenas nos traços
considerados relevantes para ambos (ver gráfico 3 em anexo).
Os estudantes de Matemática consideraramse mais competentes nos
traços considerados relevantes para o ingroup (Traços relevantes para
Matemática). No entanto para os traços relevantes para o outgroup
(Direito) eles consideraramse menos competentes. Para os traços
considerados relevantes para ambos não há diferenças, logo
consideraramse igualmente competentes (ver gráfico 4 em anexo).
SEMELHANÇA
:
Os sujeitos de Direito consideraramse muito mais semelhante entre si
relativamente ao outgroup, sendo a diferenciação intergrupal maior
para os traços considerados relevantes para o ingroup (Traços
relevantes para Direito). A diferenciação existente para os traços
relevantes para ambos (TR2) é menor do que para os traços considerados
relevantes para o ingroup (Traços relevantes para Direito) e para o
outgroup (Traços relevantes para Matemática) (ver gráfico 5 em anexo).
Para esta variável os sujeitos de Matemática consideraramse muito
mais semelhantes entre eles do que em relação ao outgroup, para todos
os traços considerados. No entanto, apesar dos sujeitos se
diferenciarem do outgroup para os traços relevantes para Matemática
(TRM) e Direito (TRD), para os traços relevantes para ambos (TR2) a
diferenciação intergrupal tornase muito menor (ver gráfico 6 em
anexo).
RANGE
:
Para os sujeitos de Direito verificouse um maior Range para os traços
considerados relevantes para o ingroup (Traços relevantes para
Direito) (média = 59,15) e para ambos (TR2) (média =59,27). Para os
traços relevantes para o outgroup (Traços relevantes para Matemática)
a taxa de dispersão foi menor (média = 51,53).
Para os estudantes de Matemática a dispersão é muito superior para os
traços considerados relevantes para ambos (TR2) (média = 58,21)
relativamente aos traços relevantes para Matemática (média = 49,97) e
para os traços relevantes para Direito (média = 47,68) (ver gráfico 7
em anexo).
PROBABILIDADE DE DIFERENCIAÇÃO, TENDÊNCIA CENTRAL E VARIABILIDADE
:
Para as medidas de probabilidade de diferenciação os sujeitos de
Matemática obtiveram os seguintes resultados para os traços
considerados (traços relevantes para o ingroup, Pd = .75, SD = .26;
traços relevantes para o outgroup, Pd = .76, SD = .26; traços
relevantes para ambos, Pd = .76, SD = .19). Enquanto que para o curso
de Direito os sujeitos consideram os elementos do seu grupo
relativamente menos diferenciados (traços relevantes para o ingroup,
Pd = .65, SD = .17; traços relevantes para o outgroup, Pd = .65, SD =
.17; traços relevantes para ambos, Pd = .65, SD = .18).
Na tarefa de distribuição os sujeitos de Matemática tendem a
centralizar as suas respostas igualmente para todos os traços. No
entanto para os sujeitos de Direito a tendência de centralizar as
respostas é maior em relação aos traços considerados relevantes para o
ingroup, enquanto que para os traços relevantes para o outgroup e para
ambos essa tendência é semelhante à tendência apresentada pelo curso
de Matemática.
Quanto à variabilidade os sujeitos de Matemática consideram que os
elementos do seu grupo apresentam uma menor variabilidade para todos
os traços considerados, relativamente ao que os sujeitos de Direito
acham no que diz respeito também à variabilidade dos membros do seu
grupo.
AVALIAÇÃO DE PERFORMANCES POSITIVAS/NEGATIVAS DOS MEMBROS DO
INGROUP/OUTGROUP PARA TRAÇOS RELEVANTES PARA MATEMÁTICA (TRM)
:
Para ambos grupos não se verificaram diferenças entre as avaliações do
ingroup e do outgroup, não havendo, portanto, diferenciação
intergrupal.
Os resultados obtidos mostram também que a performance dos sujeitos
gerou diferenciação intragrupo para esses sujeitos, embora essa
diferença seja mínima (ver gráficos 8, 9, 14 e 15 em anexo).
AVALIAÇÃO DE PERFORMANCES POSITIVAS/NEGATIVAS DOS MEMBROS DO
INGROUP/OUTGROUP PARA TRAÇOS RELEVANTES PARA DIREITO (TRD
):
Os sujeitos de Direito avaliam mais positivamente as perfomances
positivas e negativas de membros do ingroup, em relação aos membros do
outgroup (Matemática). Por outro lado, os sujeitos de Matemática
avaliam mais positivamente as perfomances positivas e negativas do
outgroup em relação ao ingroup para estes traços. Os sujeitos fazem
uma maior diferenciação intragrupal dos seus membros e dos membros do
outgroup, comparativamente com os sujeitos de Direito (ver gráficos
10, 11, 14 e 15 em anexo).
AVALIAÇÃO DE PERFORMANCES POSITIVAS/NEGATIVAS DOS MEMBROS DO
INGROUP/OUTGROUP PARA TRAÇOS RELEVANTES PARA AMBOS (TR2)
:
Para estes traços verificase uma maior diferenciação intragrupal para
os sujeitos do curso de Matemática. No entanto, para ambos os cursos,
a diferenciação intergrupal é inexistente (ver gráficos 12, 13, 14 e
15 em anexo).
OUTRAS AVALIAÇÕES
:
Com base nos dados obtidos correlacionouse as medidas de tarefas de
distribuição, semelhança, range, competência e relevância de modo a
obter os efeitos da relevância e competência sobre as medidas de
diferenciação para cada um dos traços considerados relevantes.
EFEITOS DA RELEVÂNCIA E COMPETÊNCIA SOBRE AS MEDIDAS DE DIFERENCIAÇÃO
PARA OS TRAÇOS CONSIDERADOS RELEVANTES PARA O INGROUP, NA AVALIAÇÃO DO
INGROUP
:
Considerando significantes os valores para os quais as correlações têm
um valor de significância inferior a .05, de acordo com esta premissa,
encontramos apenas uma correlação positiva e significativa entre a
relevância e o range (r = .31, p < .03). Isto é, quanto maior a
relevância, mais esta afecta a dispersão do grupo. A variável
competência não afectou nenhuma das medidas de diferenciação.
EFEITOS DA RELEVÂNCIA E COMPETÊNCIA SOBRE AS MEDIDAS DE DIFERENCIAÇÃO
PARA OS TRAÇOS CONSIDERADOS RELEVANTES PARA O OUTGROUP, NA AVALIAÇÃO
DO INGROUP
:
Verificouse apenas uma correlação negativa e significativa entre a
relevância e a Pd (r = .32, p = .05), ou seja, quanto maior a
relevância, maior a probabilidade dos sujeitos perceberem os membros
do seu grupo como semelhantes. A variável competência não afectou
novamente nenhuma das medidas de diferenciação.
EFEITOS DA RELEVÂNCIA E COMPETÊNCIA SOBRE AS MEDIDAS DE DIFERENCIAÇÃO
PARA OS TRAÇOS CONSIDERADOS RELEVANTES PARA AMBOS OS GRUPOS, NA
AVALIAÇÃO DO INGROUP
:
Podemos observar que a competência afectou a medida de
diferenciaçãosemelhança, demonstrada pela correlação positiva de r =
.27 (p < .05), isto é, a competência dos sujeitos do ingroup nos
traços foi factor preponderante na avaliação da semelhança dos membros
para com o seu grupo.
EFEITOS DA RELEVÂNCIA E COMPETÊNCIA SOBRE AS MEDIDAS DE AVALIAÇÃO DOS
MEMBROS POSITIVOS E NEGATIVOS:
Quadro 1.A.
Traços relevantes para o ingroup
Relevância
Competência
Avaliação dos membros positivos
.25, p<.10
16, p=ns
Avaliação dos membros negativos
.30, p<.02 *
.31, <.02 *
* Efeitos significativos
Quando os traços são relevantes para o ingroup na avaliação do
ingroup:
Obtevese correlações entre a avaliação dos membros negativos e as
variáveis relevância e competência. Observamos que quanto maior a
competência e a relevância mais positiva é a avaliação dos membros
negativos, não se verificando nenhuma correlação significativa para a
avaliação dos membros positivos nem tendência de centralizar as
respostas.
Quadro 1.B
Traços relevantes para o outgroup
Relevância
Competência
Avaliação dos membros positivos
.05, p=ns
.29, p<.10
Avaliação dos membros negativos
.16, p=ns
.22, p=ns
* Efeitos significativos
Quando os traços são relevantes para o outgroup na avaliação do
ingroup:
Neste caso não se verificou nenhuma correlação significativa entre as
variáveis relevância e competência para com a avaliação de membros
positivos e negativos. Verificouse uma tendência de centralização das
respostas em valores superiores quanto maior é a relevância dos
traços.
Quadro 1.C
Traços relevantes para ambos
Relevância
Competência
Avaliação dos membros positivos
+.04, p=ns
.46, p<.001 *
Avaliação dos membros negativos
04, p=ns
.45, p<.001 *
* Efeitos significativos
Quando os traços são relevantes para ambos na avaliação do ingroup:
Do tratamento dos resultados obtevese correlações significativas
entre a competência e a avaliação de membros positivos e negativos,
isto é, quanto maior é a competência mais positiva é a avaliação dos
membros negativos e dos membros positivos. Não se verificou a
centralização das respostas dos sujeitos com base em nenhuma das
variáveis competência e relevância.
Quadro 2.A
Traços relevantes para o ingroup
Relevância
Competência
Avaliação dos membros positivos
.42, p<.001 *
.20, p<.10
Avaliação dos membros negativos
.41, p<.01 *
.01, p=ns
* Efeitos significativos
Quando os traços são relevantes para o ingroup na avaliação do
outgroup:
Encontramos que a relevância se correlaciona positivamente com a
avaliação dos membros positivos e negativos do outgroup, sendo a
relevância, portanto, um factor preponderante nesta avaliação.
Quadro 2.B
Traços relevantes para o outgroup
Relevância
Competência
Avaliação dos membros positivos
.05, p=ns
.29, p<,10
Avaliação dos membros negativos
.16, p=ns
..22, p=ns
* Efeitos significativos
Quando os traços são relevantes para o outgroup na avaliação do
outgroup:
Não se verifica uma correlação significativa entre as variáveis
relevância e competência e avaliações de membros positivos e
negativos.
Quadro 2.C
Traços relevantes para ambos
Relevância
Competência
Avaliação dos membros positivos
.08, p=ns
.40, p<.01 *
Avaliação dos membros negativos
.02, p=ns
.28, p<.001 *
* Efeitos significativos
Quando os traços são relevantes para ambos (TR2) na avaliação do
outgroup:
Na avaliação dos membros positivos e negativos do outgroup a
competência tem um efeito relevante e significativo, isto é, quanto
maior a competência mais positiva é a avaliação de membros positivos e
negativos do outgroup.
Para além destas avaliações realizaramse as avaliações dos efeitos
dos traços, do alvo de julgamento e da faculdade dos sujeitos sobre os
julgamentos, que nos ajudaram a interpretar alguns dos resultados.
DISCUSSÃO
Para verificarmos a primeira hipótese comparamos a relevância que os
grupos davam aos traços com a competência que eles consideravam ter.
Os resultados desta comparação sugerem que um grupo actuou como
dominante e dominado, para diferentes traços, e outro (Matemática)
considerouse dominante num dos traços.
O grupo de Direito considerouse dominante para os traços considerados
relevantes para o ingroup e outgroup, uma vez que considerou esses
traços mais relevantes para eles e também se achou mais competente
neles, relativamente ao outgroup. Este mesmo grupo revelouse como
dominado quando considerou que os traços relevantes para ambos eram
realmente relevantes para ambos e que eram menos competentes nesses
traços. O grupo dos estudantes de Matemática considerouse dominante
para os traços considerados relevantes para o ingroup, dado que
julgouos como relevantes e se considerou mais competente neles,
relativamente ao outgroup. Este grupo não demonstrou considerarse
dominado para todos os traços contemplados neste estudo.
Podemos, portanto, afirmar que a nossa hipótese de existência de
grupos dominantes e dominados, entre si, para alguns traços, não foi
confirmada. Este resultado poderá ter sido devido à própria natureza
dos traços que foram utilizados neste estudo, uma vez que eles não
permitiram uma classificação dominantedominado para os nossos grupos.
Parece assim importante afirmar que esta classificação se baseia
fundamentalmente na pertinência das dimensões (Mummendey & Schreiber,
1984) para ambos os grupos. Isto porque, para se considerarem
dominantes, terão que julgar os traços igualmente relevantes para o
ingroup e para o outgroup, e consideraremse mais competentes.
Enquanto que para se considerarem dominados terão também que julgar os
traços como igualmente relevantes para ambos os grupos e
consideraremse menos competentes do que o outgroup para esses traços.
Uma vez que a existência simultânea de um grupo dominante e dominado
para um traço não é pertinente para as hipóteses subsequentes do
estudo, prosseguiremos com a análise dos nossos resultados.
Para as hipóteses que contemplam o grupo dominante funcionar como
grupo de colecção e o grupo dominado funcionar como grupo agregado,
fezse uma análise da variabilidade percebida do ingroup baseada nas
medidas de diferenciação.
O grupo de estudantes de Direito verificou a segunda hipótese do nosso
estudo. Este grupo considerou como altamente relevantes os traços
relevantes para o ingroup e os traços relevantes para ambos, sendo os
traços vistos como relevantes para o outgroup considerados como tendo
uma relevância um pouco inferior.
Foi nas duas dimensões "Ingroup" e "Outgroup" que os sujeitos
mostraramse considerarse um grupo dominante (alta competência em
traços altamente relevantes), enquanto que, pelo contrário, na
dimensão "Ambos" o grupo de Direito perspectivouse como dominado nos
traços relevantes.
O conceito de "Dominado" relacionase com a aitude que o grupo tem de
não procurar distintividade ou favoritismo no ingroup, quando em
confronto com o outgroup, enquanto que um grupo "Dominante" se
caracteriza por uma tendência para a diferenciação interindividual e
intergrupal. Com base nisto, e em tudo o que já foi dito, demos uma
especial atenção às medidas de probabilidade de diferenciação,
variabilidade e magnitude de variabilidade (Range).
A probabilidade de diferenciação mede a extensão até à qual quaisquer
duas instâncias de categoria podem ser julgadas como ocupando
diferentes posições no atributo. No fundo tratase da probabilidade
de, ao retirar ao acaso dois sujeitos de uma amostra, estes serem
diferentes. Esta medida atinge o seu valor máximo quando existe uma
igual proporção de indivíduos colocados no conjunto máximo de
categorias. Por sua vez, a variabilidade referese à dispersão de
exemplares à volta do valor de tendência central, sendo assim uma boa
medida de dispersão, e um bom indicador dos comportamentos que
caracterizam os grupos dominante e dominado.
A relevância apresentouse como um factor directa e fortemente ligado
ao valor de Range apresentada pelos sujeitos, isto é, a um aumento da
relevância dos traços correspondia uma maior magnitude de
variabilidade.
Ainda, o grupo de estudantes de Direito revelouse um grupo de
"Colecção" já que apresentou altos valores de variabilidade (dispersão
de exemplares) e de Range (magnitude de variabilidade) em todas as
dimensões. Embora tal se tenha verificado para a dimensão "Outgroup",
os resultados mostraramse um pouco mais moderados, mas ainda
significativos.
A interpretação que damos à diferença verificada nas medidas do Pdist
(Var. e Pd) e Range, entre os traços relevantes In e Out, poderá
deverse ao facto dos traços Out não serem tão relevantes para os
sujeitos, e eles não recuperarem exemplares tão extremos. Isto porque,
segundo o modelo baseado em exemplares (Linville,citada por Judd &
Park,1991) a tendência para recuperar exemplares extremos é maior para
o Ingroup. "Talvez num esforço para obter uma ideia do que o grpo é,
os indivíduos procurem estrategicamente exemplares extremos"
(Linville,citada por Judd & Park,1991).
O modelo baseado na abstracção diznos que "o conhecimento do Ingroup
poderá ser armazenado numa estrutura de subgrupos mais rica e mais
diferenciada dentro do grande grupo. Estes subgrupos são recuperados
novamente resultando num ênfase da heterogeneidade do grupo" (Judd &
Park, 1991). Isto também se poderá aplicar ao que foi dito
anteriormente com base na análise do Range, que diminui ligeiramente
para traços relevantes para o Outgroup. Também "os factores que levam
a biases de variabilidade percebida derivam dos conteúdos da memória
(Modelo baseado em exemplares). Se os indivíduos estão mais propensos
para codificar ou relembrar exemplares extremos, então estes deveriam
desempenhar um papel mais importante nos julgamentos de variabilidade
(Linville,citada por Judd & Park,1991).
é de salientar aqui um fenómeno de extrema importância que nos pareceu
curioso.
O grupo de Direito na dimensão "Ambos" comportouse como grupo
"Colecção", mas mostrou ser dominado, em resultado das suas
atribuições ao nível da competência. Observase aqui uma contradição à
teoria de Lorenzi Cioldi (1988), uma vez que esta afirma que um grupo
que se sente dominante comportase sempre como um grupo "Colecção",
enquanto que um grupo que se sente dominado mostra sempre um
comportamento de "Agregado". Para o primeiro caso acontecer, os
elementos do grupo teriam que se considerar muito heterogéneo fazendo
grande distinção entre o Eu e o grupo, emitindo opiniões
independentemente da norma grupal. Tal facto verificase para todos os
traços.
A nossa interpretação deste facto relacionase com o tipo de traços
considerados pelos sujeitos. Provavelmente, acumularamse nesta
dimensão "Ambos", traços de índole mais comportamental, que poderão
induzir nos sujeitos a ideia de conseguir alterar a sua performance
naqueles (ex: estudioso, organizado, etc.), em alternativa aos traços
de cariz mais psicológico, e não alteráveis pela acção do sujeito (ex:
inteligente, imaginativo,etc.). Segundo Judd & Park (1991), quando os
traços são de índole mais comportamental, os indivíduos fazem uma
análise de maior variabilidade, o que vem de certo modo justificar a
alta variabilidade nesta dimensão "Ambos", e apoiar os resultados.
Deste modo, a terceira hipótese do nosso estudo não foi confirmada em
virtude de o único grupo que se apresentou como dominado, na situação
que o fez ( e como já foi dito) ter exibido um comportamento de
"Colecção".
Para o grupo de Matemática, que se considerou dominante para os traços
relevantes para o ingroup (Traços relevantes para Matemática)
verificouse que os membros se consideravam semelhantes entre si, e
consideraram o seu grupo pouco disperso (Range = .49), mostrando
também pertencerem a um grupo com uma distribuição normativa (V =
1,68), cuja proporção de indivíduos nas várias categorias é semelhante
(Pd = .75). Estes factos levamnos a crer que os sujeitos se
visualizam como semelhantes para categorias muito próximas. Do mesmo
modo, os resultados demonstram que os sujeitos veêm o grupo como um
todo baseando os seus julgamentos de variabilidade em instâncias
específicas do grupo.
Como é sugerido por Judd & Park (1990) existem instâncias que podem
mediar os julgamentos da variabilidade percebida. Para eles, estas
instâncias podem ter dois papéis distintos na mediação desses
julgamentos. O primeiro papél é sugerido pelo modelo baseado em
exemplares (EBM) da representação categorial, e o segundo pelo modelo
baseado em abstracções (ABM).
Analisando as respostas dos sujeitos e considerando que eles
utilizaram um ou outro processo, pudemos concluir que os sujeitos
visualizamse como semelhantes no grupo e entre si. Esta conclusão
deriva do facto de não termos encontrado diferenças nos resultados das
interpretações dos dados perspectivadas pelos dois processos, ou seja,
considerando que os sujeitos utilizaram um ou outro processo, as suas
respostas significaram que eles se veêm para os traços relevantes para
Matemática como semelhantes.
Tendo em conta a normatividade das respostas para a tarefa de
distribuição e a relevância dos traços, podemos sugerir que os
sujeitos estariam a afirmar, através das respostas, que os membros do
grupo deveriam ter esses traços, e não que os têm realmente. No
entanto, como esta intenção não pode ser verificada, não a tivemos em
consideração.
Podemos, portanto, considerar que este grupo que se considera
dominante reúne características que não permitem identificálo como
"Colecção". Uma vez que o grupo apresenta uma baixa diferenciação
intragrupal aliada à percepção da semelhança entre o self e o Ingroup,
o grupo apresenta um grau saliente de homogeneidade interpessoal. Dado
que nada disto constitui uma característica de um grupo "Colecção",
pudemos concluir que o grupo de Matemática que se considera dominante
nos traços relevantes para Matemática não é um grupo "Colecção". Esta
conclusão vai contra a teoria de LorenziCioldi que considera que os
grupos dominantes mantêm um modo de funcionamento de grupo "Colecção".
O que se verificou neste caso foi o grupo dominante comportarse como
grupo "Agregado", dado que os seus membros se veêm como semelhantes.
Portanto, neste caso, a nossa hipótese de grupos dominantes agirem
como grupo "Colecção" não foi confirmada.
Para testar as hipóteses seguintes analisamos as avaliações que ambos
os grupos fizeram das performances positivas e negativas de membros do
Ingroup e do Outgroup.
Considerando o grupo que foi observado como sendo "Colecção" (grupo de
Direito para traços relevantes para Direito e para traços relevantes
para Matemática), concluimos que para os traços relevantes para
Matemática não se verificou qualquer diferenciação avaliativa das
performances positivas e negativas entre Ingroup e Outgroup,
salientandose que o grupo faz uma diferenciação interperformances
para ambos os grupos, caracterizada por uma avaliação mais positiva
das performances positivas relativamente às performances negativas.
A não existência de diferenças significativas para a avaliação do
Ingroup e do Outgroup, será provavelmente resultado desses mesmos
traços terem sido considerados por este grupo como os menos relevantes
para eles, dentro dos traços que lhe foram apresentados.
No caso em que o grupo de Direito se comporta como "Colecção" para
traços relevantes para Direito, os sujeitos avaliam mais positivamente
as performances positivas e negativas do Ingroup em relação ao
Outgroup, como se esperava na hipótese. Estes resultados são apoiados
pela Teoria da Identidade Social que nos diz que a categorização
provoca uma diferenciação entre as categorias sociais, traduzida numa
avaliação positiva da categoria de pertença em detrimento da outra,
verificandose o mesmo em termos de identidade social. Uma vez que
estão associados ao conhecimento de pertença, evocado pela
categorização, os significados emocional e avaliativo que resultam
dessa pertença exprimemse no favoritismo pelo grupo próprio em
detrimento do outro (Ingroup Favouritism).
A diferença intergrupal ocorreu nos traços que os sujeitos
consideraram mais relevantes entre todos os traços apresentados
(Traços relevantes para Direito). Tal como o que aconteceu num estudo
de Mummendey & Schreiber (1984), verificouse um aumento do "ingroup
favouritism" nas dimensões que foram especialmente escolhidas para a
avaliação do Ingroup, expressa por um "Ingroup bias" (este ocorre
especialmente para dimensões de julgamento relevante para a identidade
social do Ingroup).
Na avaliação dos membros positivos e negativos do Ingroup e Outgroup
verificase que a competência afecta as respostas dos sujeitos. Isto
poderá deverse (mais uma vez) ao facto destes traços serem mais de
índole comportamental, logo são as performances dos sujeitos que estão
em jogo.
Na nossa amostra não encontramos grupos agregado, no entanto o grupo
de Matemática comportase como tal (Traços relevantes para
Matemática), embora também se considere dominante. As avaliações que
eles fazem dos membros positivos e negativos são iguais para o Ingroup
e o Outgroup (Traços relevantes para Matemática).
A única diferença que se verificou foi nos traços relevantes para
Direito, em que o grupo de Matemática teve uma resposta de "outgroup
bias" (o outgroup é julgado superiormente em relação ao ingroup, em
traços com menor importância percebida (Traços relevantes para
Direito).
O facto de não se terem verificado diferenças nas outras avaliações
que os grupos fizeram entre eles, poderá deverse ao facto de, por não
se considerarem grupos competitivos, não terem preocupações de
diferenciação.
Observamos uma constante probabilidade de diferenciação em cada um dos
grupos e para todos os traços considerados. Este valor constante
parece mostrar que quando os grupos fazem avaliações sobre si
próprios, tendem a fazêlo uniformemente, independentemente das
dimensões ou traços. Isto significa que os sujeitos distribuem
proporcionalmente os membros do grupo por cada categoria e para todos
os traços. Para este facto podemse levantar várias explicações:
os sujeitos de um mesmo grupo utilizam a mesma estratégia na
avaliação da diferenciação do Ingroup de modo a afirmarem a sua
identidade, acentuando este processo o modo de defesa daquela.
os sujeitos utilizam um processo de diferenciação intragrupal que é
característico do próprio grupo. Esta hipótese surge da ocorrência de
diferenças de probabilidade de diferenciação para os dois grupos, o
que nos leva a supôr que talvez diferentes grupos tenham diferentes
visões da realidade, porque também se relacionam em contextos sociais
diferentes.
uma outra explicação reside na própria natureza da questão sobre a
tarefa de distribuição percentual; talvez a percepção de dificuldade
em completarem as respostas levase os sujeitos a conjecturar uma
estratégia para responder. Isto poderá ter sido, hipoteticamente, um
padrão de resolução da tarefa (por ex.: 0, 10, 20, 40, 20, 10, 0).
Efeitos da relevância e da competência nas medidas de diferenciação:
Os resultados demonstram que os sujeitos, quando se diferenciam, tomam
em consideração a relevância ou a competência para com os traços,
resultando em perturbações efectivas nas medidas de diferenciação. O
facto de os traços serem considerados relevantes ou não, parecem
despertar diferentes mecanismos para as respostas, daí que provoquem
diferentes resultados nas medidas de diferenciação. Quanto mais os
traços são relevantes para o Ingroup, nós avaliamos melhor a dispersão
do Ingroup, e este fenómeno poderá ser uma consequência de que
"greater attention is often paid to extreme instances of behavior and
these are, as result, better remembered (Fisk & Taylor, 1984; Mastie &
Kumar,1979)" citado por Park, Judd & Ryan (1991). Por outro lado,
verificase que quando os traços não são relevantes para nós, neste
caso, e, uma vez que não prestamos uma atenção significativa, fazemos
avaliações mais esteriotipadas do grupo quanto mais esses traços são
relevantes para nós, distribuindo os sujeitos mais numa(s)
categoria(s) do que nas outras. Quando os traços são relevantes para
ambos (traços de índole mais comportamental, como consideramos a
posteriori) a competência mostra ser uma variável bastante relevante
para a avaliação da semelhança entre o indivíduo e o grupo.
Efeitos da relevância e da competência sobre as medidas de avaliação
do Ingroup:
Os dados mostram que os sujeitos quando avaliam membros do Ingroup com
performances negativas, considerando os traços relevantes para o
Ingroup, medeiam as suas respostas através da competência e
relevância. Para os sujeitos, quanto maior a relevância e a
competência nos traços mais positiva é a avaliação dos membros
negativos.
Nem a relevância nem a competência nos traços relevantes para o
Ingroup, são factores mediativos na avaliação dos membros positivos, e
este facto pode sugerir que os sujeitos, neste caso, façam avaliações
de índole mais emocional.
Quando os traços são relevantes para o Outgroup, portanto menos
relevantes para o Ingroup, a avaliação dos membros positivos e
negativos do Ingroup não é afectada pela relevância ou competência que
os membros do Ingroup dão aos e têm nos traços. Este fenómeno vem de
acordo com o que foi encontrado por Mummendey & Schreiber (1984) que
observaram que as avaliações do Ingroup não estavam relacionadas com a
relevância das dimensões quando elas são importantes para o Outgroup.
Quando os traços são relevantes para ambos (traços mais
comportamentais, por isso mais passíveis de mudança) os sujeitos fazem
avaliações de membros positivos e negativos do Ingroup considerando a
competência, e este facto deve estar fundamentalmente ligado com o
tipo de traços apresentados: comportamentais. Isto é, quando nos
apresentam traços nos quais a competência é que é importante, nós
avaliamos os membros positivos de acordo com as competências que esses
têm. Neste caso, a relevância dos traços não afecta as avaliações uma
vez que a competência nos traços se sobrepõe.
Efeitos da relevância e da competência na avaliação sobre as medidas
de avaliação do Outgroup:
Relativamente aos resultados obtidos podemos verificar que nos traços
relevantes para o Ingroup, os sujeitos têm em consideração a
relevância que esses traços têm para o Outgroup nas avaliações dos
membros deste último. As avaliações seguem a direcção da positividade
quanto maior for a relevância que se dá aos traços para o Outgroup,
optando, portanto, os sujeitos, realizar essas avaliações sobre as
crenças cognitivas acerca do Outgroup.
Nas avaliações dos membros do outgroup para traços que não são
relevantes para o Outgroup, os sujeitos parecem utilizar uma
estratégia mais emocional que cognitiva, uma vez que não têm em
consideração nem a relevância nem a competência para as avaliações.
Isto dá a possibilidade aos membros do grupo para realizarem
julgamentos sobre os indivíduos do Outgroup de uma forma até aleatória
para esses traços.
As avaliações do Outgroup, quando feitas tomando como ponto de
referência os traços relevantes para os dois grupos, mostram uma outra
estratégia. Quando os sujeitos fazem julgamentos sobre os outros do
Outgroup, e uma vez que a relevância dos traços é semelhante para
ambos os grupos, a forma de realizar a avaliação fazse com base na
competência que pensamos que os outros têm nos traços.
CONCLUSÕES
Este trabalho serviu para esclarecer a própria situação de processos
de avaliação do Ingroup e do Outgroup para diferentes traços
(dimensões):
Quando avaliamos o Ingroup e Outgroup para traços que consideramos
relevantes para nós fazemolo considerando a relevância que eles têm
para nós e para os outros, e é através deste processo que os julgamos.
Quando avaliamos os membros do Ingroup e do Outgroup para traços que
naõ são relevantes para nós, esse processo tem em conta outros
factores que não a relevância ou competência que damos ou atribuimos a
nós ou aos outros. A avaliação reportarseà a factores mais ligados à
relação intergrupal que existe entre os grupos.
Quando avaliamos membros do Ingroup e do Outgroup para traços que
são relevantes para ambos os grupos a nossa avaliação processase
baseada na competência que temos e atribuimos ao Outgroup. A
relevância não afecta o nosso julgamento, uma vez que consideramos que
é igualmente relevante para nós e para o outro grupo.
Neste estudo discutimos a teoria dos efeitos da relação
dominante/dominado nos grupos "Colecção" e "Agregado", de
LorenziCioldi, e também que a percepçaõ de homogeneidade do grupo
pode influenciar julgamentos do Ingroup e do Outgroup.
A relação que LorenziCioldi estabeleceu entre grupos
dominante/colecção e dominado/agregado não se verificou na totalidade,
pois embora o grupo de Direito tenha funcionado como grupo "Colecção"
para todas as categorias de traços considerados, apenas se sentiu como
grupo dominante para traços relevantes para Direito e para traços
relevantes para Matemática; para traços relevantes para ambos ele
considerouse dominado, o que contradiz a teoria de LorenziCioldi.
Outro resultado paradoxal foi o grupo de Matemática terse considerado
dominante para traços relevantes para Matemática e comportarse como
grupo "Agregado".
A relevância parece ser uma das variáveis mais determinantes nas
avaliações que os sujeitos fazem da variabilidade do Ingroup e também
dos julgamentos que eles emitem sobre elementos positivos e negativos
do Ingroup e do Outgroup.
Por outro lado, a qualidade dos traços (traços de índole mais
comportamental vs. traços mais de índole psicológica), parece
influenciar significativamente as avaliações dos grupos e
diferenciação do Ingroup.
Este estudo não nos permite lançar conclusões sobre os modelos de
categorização social propostos por Judd & Park, como consequência de
não termos feito uma avaliação da diferenciação do Outgroup. Esta
avaliação podernosia mostrar de que modo os grupos viam o Outgroup,
contribuindo para obtermos uma melhor imagem da relação existente
entre os dois grupos. Isto também nos poderia ter explicado de que
maneira a percepção "homogéneo"/ "heterogéneo" do Outgroup pode
resultar em diferenças nas avaliações dos membros de ambos os grupos.
Um aspecto que também nos pareceu negativo no nosso estudo foi a
extensividade do nosso questionário, tanto ao nível dos itens como ao
nível das folhas de resposta. Este facto poderia ter sido, talvez,
contornado.
Experimentalmente, gostaríamos que próximos estudos tentassem rever a
problemática da Psicologia Social que este estudo abrange, tentando
explorar as relações intragrupo e extragrupo, de modo a que possamos
identificar melhor como é que os contextos inflenciam as avaliações
dos sujeitos. Uma das vertentes deste tipo de estudo seria saber como
e porquê os indivíduos fazem outgroup bias em determinadas situações e
determinados contextos.
Por sua vez, achamos que estudos que explorassem os processos de
avaliação dos sujeitos quando os tipos de traços são de índole
diferente (comportamental ou psicológica) seriam bastante importantes
para o esclarecimento deste domínio.
Um outro nível de estudos que aqui sugerimos seria o de tentar
observar as relações existentes entre a percepção da variabilidade do
grupo e a memorização de casos extremos, pois os resultados
contribuiriam significativamente para explicitar os factores que levam
a essa mesma percepção.
Uma investigação realizada no campo deste estudo, mas considerando
traços ou dimensões não relevantes para ambos os grupos seriam um bom
contributo. Da mesma forma o seria um estudo que tentasse explicar se
realmente os elementos dos grupos têm padrões de diferenciação
semelhantes ou se o grupo é que contribui para existir um padrão de
diferenciação semelhante para os seus elementos.
AGRADECIMENTOS
Gostaríamos de expressar aqui os nossos agradecimentos a todos aqueles
que, de uma forma ou de outra, contribuiram para a concretização deste
trabalho.
Agradecemos assim, ora pela sua indispensável participação, ora pelo
seu apoio inestimável, respectivamente a:
[Bullet5.gif] Estudantes do 4º ano do curso de Direito da Universidade
Lusíada, Porto
[Bullet5.gif] Estudantes do 3º ano do curso de Matemática da
Faculdade de Ciências da Universidade do Porto
[Bullet5.gif] Prof. Doutor José Marques (Docente da Faculdade de
Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto)
BIBLIOGRAFIA
Amâncio, Ligia (1993). Identidade Social e Relações Interpessoais.
Vala, Jorge e Monteiro, M. Benedicta (eds.). Psicologia Social,
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian.
LorenziCioldi, F. (1988). Individus Dominants et Groupes Dominés:
Images Masculines et Féminines. Grenoble: Presses Universitaires de
Grenoble, cap. 3, 67119.
Marques, J.M. (1988). Categorização Social, Identidade Social e
Homogeneidade de Outgroup: Uma Análise Conceptual. Análise
Psicológica, 34 (VI): 279305.
Marques, J.M., Paez, D.. The "Black Sheep Effect": Social
Categorisation, Rejection of Ingroup Deviates, and Perception of Group
Variability. W. Stroebe & M. Hewstone (Eds.). European Review of
Social Psychology. LondonWiley.
Mummendey, A., Schreiber,H.J. (1984). "Different" Just Means "Better":
Some Obvious and Some Hidden Pathways to Ingroup Favouritism. British
Journal of Social Psychology, 23, 363368.
Park, B., Judd, Charles M. (1990). Measures and Models of Perceived
Group Variability. Journal of Personality and Social Psychology, 59,
2, 173191.
Park, B., Judd, M.C., Ryan, C.S. (1991). Social Categorization and the
Representation of Variability Information. European Review of Social
Psychology, 2, 8, 211245.
Tajfel, H. (1982). Grupos Humanos e Categorias Sociais, vol. II,
Lisboa, Livros Horizonte.
Por:
Alexandre M. Campos
Ana Maria Diogo
Fátima Marcos
Paulo Machado
Psicólogos U.P.
Porto, Julho de 1994
Psicossociologia das Organizações
Por:
Alexandre M. Campos
Psicólogo
, Universidade do Porto
Porto
, Outubro de 1995
_________________________________________________________________
O Que é uma Organização?
» Sistema de normas e regras
» Há uma hierarquia
» Conjunto de pessoas com funções específicas, que estão relacionadas
de alguma maneira (interrelações)
» Estabelecimento de relações funcionais / de papel e afectivas
» Há objectivos
* da Organização (comuns)
* Individuais (mais ou menos concordantes ou mais ou menos
discordantes com os objectivos da organização)
Organizações Primárias
¹
Organizações Secundárias
Ex.: Família
Ex.: Empresa
Perdura ao longo da vida
é uma organização mais temporária
Não se pode escolher
é uma opção própria
Predominam as relações afectivas
Têm uma organização básica
a sua distinção assenta na sua origem
A Realidade Organizacional e o seu Estudo
Não se pode falar em realidade organizacional, mas em realidades
organizacionais. A realidade organizacional é a realidade possível de
várias interpretações traduzindo cada uma delas os pressupostos
explícitos ou implícitos dos seus autores.
O Campo da Teoria das Organizações tem duas características:
1) Não está sistematizado o conhecimento sobre o modo como estudar as
organizações.
2)
Diversidade de teorias que têm a ver com a interdisciplinaridade desta
área. Há uma variedade e uma certa confusão no campo das teorias das
organizações.
Tipos de Organizações
(em relação às relações que se estabelecem):
Organização Formal
assenta na parte escrita da organização, e baseiase no organigrama,
onde estão definidos os seus orgãos de poder.
Organização Informal
assenta nas relações interpessoais que se estabelecem. Por vezes, é
bem mais importante que a organiz. formal. »» Há teorias que dizem que
para estudar uma organiz. basta estudar o formal. Outras afirmam que o
informal é muito mais rico.
Sistematização das Teorias das Organizações:
Que papéis é que a sistematização desempenha?
1)
Pode servir como uma grelha de leitura da organização;
2)
A sistematização tem um valor heurístico no sentido de projectar para
a frente, no sentido de prever um dado futuro.
A Sistematização por Burrell e Morgan:
(1980)
Com a sistematização das Teorias das Organizações que efectuaram,
estes autores consideram que toda a teoria das organizações se baseava
implícita ou explicitamente numa filosofia de ciência social ou numa
teoria da sociedade.
Pressupostos
subjacentes à conceptualização da ciência social (entre parêntesis,
para cada um estão, respectivamente, o seu pólo objectivo e o seu pólo
subjectivo.
Pressupostos:
1. Ontológicos (Realismo vs Nominalismo): Estes pressupostos têm a
ver com a questão de que se a realidade existe, é palpável (realismo
ou polo objectivo), ou então, se é uma construção pessoal, a realidade
é apenas e totalmente nomes (nominalismo ou polo subjectivo).
2. Epistemológicos
(Positivismo vs Antipositivismo): Têm a ver com a natureza do
conhecimento. Não só a realidade é quantificável, mas também o
conhecimento é algo de concreto, que se pode passar de indivíduo para
indivíduo (positivismo ou PO), ou tem a ver com as experiências
pessoais ou insights. (antipositivismo ou PS).
3. Natureza Humana
(Determinismo vs Voluntarismo): A questão base, aqui, tem a ver com a
relação que cada um de nós admite ter com os outros e com o meio; no
determinismo (PO) o meio é o que nos controla; pouco mais fazemos do
que reagir ao meio (ex: behaviorismo somos reacções estímulo
resposta); no voluntarismo (PS) o meio é aquilo que nós quisermos que
ele seja.
4. Metodológicos
(Nomotético vs Ideográfico): Este pressuposto considera que o nosso
posicionamento metodológico depende dos pressupostos anteriores. No PO
encontramse metodologias quantitativas que permitem levar a normas;
estão mais preocupados com a generalização para a consequente criação
de leis gerais; no PS encontramse metodologias mais qualitativas,
estudos de casos, mais concentrados no indivíduo particular do que no
geral. »»
Se nos colocarmos mais no pólo objectivo, não vão haver tantas
dúvidas, mas não ficamos com um conhecimento tão completo da
realidade.
Pressupostos
subjacentes à teoria a sociedade (com 2 pólos):
1. Regulação:
explicação da sociedade pela unidade, ordem social, coesão. O que
interessa na sociedade são as regularidades, que visam a norma e a
ordem social.
2.
Mudança Radical: explicação da sociedade pelos fenómenos de mudança
radical, das contradições, dos conflitos que vão levar a mudanças
radicais. O que é importante analisar são os momentos de crise.
Estes dois conjuntos de pressupostos dão origem a duas dimensões sobre
a ciência social:
1º) a dimensão objectiva /subjectiva;
2º) a dimensão sobre a teoria da sociedade.
Do cruzamento destas duas dimensões vão surgir, então, 4 células (os 4
paradigmas).
Os quatro paradigmas para análise da teoria social (Burrell e Morgan)
Definição de paradigma (2º Morgan): "é uma visão da realidade que
engloba uma série de características em bloco; conjunto de
pressupostos sobre uma visão da realidade, que pode ser implícita ou
explícita". Os paradigmas são realidades alternativas, exclusivas, não
sendo possível uma pessoa situarse em dois paradigmas já que eles são
exclusivos entre si.
1) Paradigma Humanista Radical:
Coloca o ênfase na consciência humana. Esta é denominada por
superestruturas ideológicas com as quais ela interage constituindo,
contudo, um "calço" cognitivo entre ela e a sua verdadeira
consciência. Este "calço" é o calço da alienação ou "falsa
consciência", que inibe ou impede a verdadeira realização humana (esta
última constitui uma das noções mais básicas de todo este paradigma).
»»
Todos os autores que se enquadram nesta teoria partilham a preocupação
de libertar a consciência e expressão humana do domínio de vários
aspectos da superestrutura ideológica do mundo social, na qual os
homens sobrevivem. Procuram mudar o mundo social através da mudança
dos modos de cognição e consciência. »» Esta abordagem coloca a ênfase
na mudança radical, modos de domínio, emancipação, privação e
potencialidade. Os conceitos de "conflito estrutural" e "contradição"
não se destacam nesta perspectiva, pois são características de
perspectivas mais objectivas do mundo social.
2) Paradigma Estruturalista Radical:
Os teóricos deste paradigma defendem uma sociologia da mudança radical
de um ponto de vista objectivista. Comum a todos eles é a visão de que
a sociedade contemporânea é caracterizada por conflitos fundamentais
que originam mudança radical através de crises políticas e económicas.
é através de tais conflitos e mudanças que os Homens se emancipam das
estruturas sociais nas quais vivem.
»»
Enfatizam o facto de que a mudança radical está imbuída na própria
natureza e estrutura da sociedade contemporânea, e procuram dar
explicações para as interrelações básicas no contexto das formações
sociais totais. »» Está assim empenhado na mudança radical,
emancipação e potencialidade, numa análise que enfatiza o conflito
estrutural, os modos de domínio, a contradição e a privação. Aborda
estas questões gerais de uma forma realista, positivista, determinista
e nomotética.
3) Paradigma Interpretativo:
Está preocupado em compreender o mundo ao nível da experiência
subjectiva; procura explicações na consciência e subjectividade
individual, portanto, no quadro de referência do participante, e não
na observação da acção.
»»
O mundo social é visto como um processo social emergente e decorrente
("ongoing process"), criado pelos indivíduos envolvidos; apesar de se
reconhecer que a realidade social tem alguma existência fora da
consciência de qualquer indivíduo, é visto como sendo pouco mais do
que uma rede de pressupostos e significados intersubjectivamente
partilhados o estatuto ontológico do mundo social aparece como
bastante questionável e problemático. A abordagem que faz da ciência
social tende a ser nominalista, antipositivista, voluntarista e
ideográfica.
4) Paradigma Funcionalista:
Perspectiva firmemente enraizada na sociologia da regulação abordando
o seu objecto de estudo de um ponto de vista objectivista, i.é.,
preocupase em dar explicações do status quo, da ordem social, do
consenso,da integração social, da satisfação de necessidades e da
actualidade, abordando estas questões sociológicas gerais de uma forma
realista, positivista, determinista e nomotética.
»»
Perspectiva altamente programática na orientação: está preocupada em
compreender a sociedade de forma a gerar conhecimento que possa ser
utilizado (está orientada para a resolução do problema). Tende a
assumir que o mundo social é constituido por artefactos e relações
empíricas relativamente concretos que podem ser identificados,
estudados e medidos através de abordagens derivadas das ciências
naturais. Utiliza analogias biológicas e mecânicas para modelar e
compreender o mundo social.
»»
Tem servido de referente dominante para o estudo das organizações.
Metáforas:
Diferentes perspectivas e abordagens de uma realidade, que partilham
entre si um conjunto de pressupostos fundamentais sobre a mesma, e
esses pressupostos provêm de um mesmo paradigma. »» A utilização de
uma metáfora implica gerar uma imagem para estudar um assunto.
A metáfora de uma realidade será tanto mais eficaz quanto mais se
aproximar dessa realidade. Nenhuma metáfora apreende a natureza total
da Vida organizacional.
Diferentes metáforas podem constituir e apreender a natureza da vida
organizacional de diferentes modos, gerando cada uma delas tipos de
insights poderosos, distintos, mas essencialmente parciais (podemos
ter várias metáforas para um mesmo objecto).
Reconhecer que as teorias das organizações são metafóricas, é
reconhecer que a elaboração de uma teoria das organizações é um
empreendimento subjectivo, preocupado com a produção de análises
unilaterais da vida organizacional. Este recomhecimento inspira um
espírito de crítica e relativiza um comprometimento excessivo com
determinado ponto de vista, com determinada metáfora. Na compreensão
de qualquer fenómeno organizacional, podem ser necessários alguns
insights metafóricos diferentes.
Todos os paradigmas deram origem a uma série de metáforas:
1)
Paradigma Humanista Radical:
Metáfora da Prisão Psíquica:
As organizações são limitantes, aprisionantes e dominantes para as
pessoas. »» A vida das pessoas é controlada e tem objectivos
subservientes; a vida do trabalhador é alienante. »» A ênfase desta
metáfora vai para os modos de dominação, ou seja, através de que
processos se pode dominar.
2)
Paradigma Estruturalista Radical:
A)
Metáfora do Instrumento de Dominação: O organização é vista como um
instruto de dominação. Há uma preocupação em analisar os meios pelos
quais os factores de dominação das organizações funcionam e são
mantidos. Defende a ideia de que a estrutura de poder que existe
dentro das organizações repete a que existe na sociedade e, por isso,
as divisões sociais da sociedade vãose replicar nas organizações.
B)
Metáfora da Cisão: Esta metáfora opõese às metáforas funcionalistas
(como um organismo). A característica desta metáfora é a entropia ou
seja, a organização tem uma tendência natural para se desagragar,
fragmentarse. A finalidade de uma organização é a sua fragmentação,
pois as partes que se desagregam vão originar outras organizações.
C)
Metáfora da Catástrofe: A organização, enquanto entidade, é quase
impossível, devido às guerras de poder. »»» O que está na base destas
três metáforas é a teoria Marxista.
3)
Paradigma Interpretativo (Pólo subjectivo): Este paradigma é aquele em
que a realidade organizacional é pouco objectiva e depende mais da
construção do sujeito.
A) Metáfora do texto:
A organização é tida como um texto, documento simbólico que é
produzido por alguém, que ficará disponível para os outros lerem e
interpretarem, os quais poderão enviesar ou não as intenções iniciais
do seu autor. Como estamos no pólo subjectivo, o texto está sujeito a
diferentes leituras e a perversões relativamente ao sujeito. »» O
teórico da organização está preocupado em perceber como as actividades
organizacionais estão escritas, como são lidas e interpretadas pelas
pessoas que lá existem.
B) Metáfora do jogo da linguagem:
As organizações não são mais do que um conjunto de pensamentos e
acções ou jogos de linguagem que estão de certa forma interligados
entre si. »» Nesta metáfora, o próprio papel do Gestor é também o de
utilizar um código de linguagem, para poder funcionar e ser visto como
isso. »» Aqui não interessa o organigrama que o identifica como
Gestor, a parte estética, no fundo, não interessa.
C)
Metáfora Enacted Sense Making (Weick): Ele enfatiza o modo como as
organizações são socialmente construídas pelos seus membros. Defende
que as organizações são construções sociais desses mesmos membros. Os
aspectos "óbvios" e mais objectivos são menos concretos e menos reais
do que o que parecem, não passam de construções sociais.
4)
Paradigma Funcionalista (Pólo objectivo):
A)
Metáfora da Máquina: A organização reduzirseá ao estudo do
organigrama, estrutura formal e partes constituintes. Há objectivos
prédeterminados que vão acontecer (tudo o que aconteceu estava
previsto. Actualmente, não é viável, porque as mudanças dos meios são
importantes (quer dentro, quer fora da organização), o que provoca uma
certa instabilidade, já que não se podem prever todas as rupturas.
Quando esta metáfora é levada ao extremo (Taylor e Fayol) o
comportamento do Homem é todo planeado sem ter em conta o factor
humano, considerado como desestabilizador. Dado os falhanços desta
metáfora, criouse a metáfora do organismo.
B)
Metáfora do Organismo: Nesta metáfora o indivíduo é visto do organismo
vivo,vendo que já não é possível planear o comportamento do
trabalhador. A organização é vista como um organismo vivo, onde há
mudanças, fluxos. A organização tem necessidades básicas que têm de
ser satisfeitas para sobreviver. Estas necessidades vão ser
preenchidas através da interacção meioorganização. Os estudos de
Hawthorne têm a ver com a oposição à metáfora da máquina, devido aos
seus falhanços na sua teoria (porque o factor humano não é
previsível). Estes estudos foram tidos como os primeiros que chamaram
a atenção para o factor humano dentro das organizações, considerado
antes como desestabilizador.
C)
Metáfora da Organização como sistema cibernético: (Argyns & Schon) As
organizações são entendidas como sistemas, mas baseados em fluxos de
informação. A ênfase desta metáfora vai para o processo de
aprendizagem a partir do feedback negativo. A organização vaise
adaptando e aprendendo a partir dos erros. Os autores desta metáfora
estão interessados em perceber os processos através dos quais a
organização vai aprendendo conseguindo, assim, obter a homeostase
interna à organização.
D)
Metáfora da organização como sistema político (Crozier): é uma
perspectiva que se centra na análise dos conflitos de interesses e dos
papéis de poder. Crozier fala que todos nós, inseridos nas
organizações, somos actores e cada um investe num papel, com poder e
com uma margem de liberalidade de acção como todos os actores.
E)
Metáfora da Cultura Organizacional (Pondy & Mitroff): Analisase as
organizações enquanto culturas. Há uma determinada maneira específica
em que a organização se organiza e é transmitida através da linguagem,
ritos, mitos, história. Tudo isto interligado é o que constitui a
cultura de determinada organização. é qualquer coisa que a distingue
de outra organização semelhante.
F)
Metáfora do Teatro : Esta é das metáforas menos conhecida; é uma
perspectiva que considera que o estudo das organizações passa pelo
estudo dos membros da organização como actores humanos que desempenham
e estão comprometidos com diferentes papéis, oficiais ou não.
As sistematizações das teorias das organizações
propostas por Pleffer, Astley e Van de Ven, e Scott: Estes autores
afirmam que os indivíduos que criam as teorias, traduzem determinados
pressupostos implícitos. As teorias não são ingénuas.
Níveis de análise
considerados por cada um deles:
Pfeffer
(1982):
A)
Individual e Grupal: estudo de entidades mais pequenas dentro das
organizações como entidade indiferenciada.
B)
Organizacional: estudo da organiz. como entidade indiferenciada (como
um todo).
Astley e Van de Ven
(1983):
A)
Micronível : estudo das organizações individuais;
B)
Macronível: estudo de populações e comunidades de organizações.
Scott (1986):
A)
Psicológicosocial : explicação do comportamento ou atributos
individuais.
B)
Estrutural : estudo das características estruturais e dos processos
sociais.
C)
Ecológico: organização como entidade única ou estudo de grupos de
organizações.
Pressupostos
de cada um deles:
Pfeffer:
(Pressupostos sobre a acção organizacional):
A)
Perspectiva Racional: A racionalidade surge à priori, os
comportamentos organizacionais são préestabelecidos e muito
racionais.
B)
Perspectiva situacional ou de controlo externo: o meio é que determina
as acções da organização;
C)
Perspectiva da construção social do comportamento: é o indivíduo na
interacção com a situação, que cria as possibilidades de agir. Há uma
racionalidade à posteriori, não é nada prédeterminado. Esta
perspectiva faz a união das duas anteriores.
Astley e Van de Ven
: (Pressupostos sobre a natureza humana):
A)
Pressupostos Deterministas: o comportamento é determinado pelo meio e
reactivo a este;
B)
Pressupostos Voluntaristas: o comportamento é proactivo (é a única
dimensão comum às de Burrell e Morgan). Uma vez que o comportamento é
voluntário e não é exclusivamente reactivo ao meio, surge aqui uma
grande possibilidade de intervenção, ao contrário dos anteriores.
Scott
: (Pressupostos sobre a organização):
A)
Sistemas racionais: tudo é planeado segundo um conjunto de regras pré
determinadas e onde não há qualquer dúvida. Todos funcionam para
alcançar os mesmos objectivos;
B)
Sistemas naturais: As organizações são tidas como um conjunto de
partes que têm como objectivo a sobrevivência;
C)
Sistemas Abertos: As organizações dependem das relações com o meio,
estão em interacção com este.
_________________________________________________________________
Taylorismo = organização científica do trabalho
»
Produção em série
»
Organização racional do trabalho
»
Divisão em tarefas específicas
»
Tentativa de resposta à ineficácia de outras formas de organização
»
Modelo que se acabou por se revelar ineficaz
Inserese na perspectiva de Burrell e morgan (perspectiva metafórica),
onde se podem encontrar as metáforas mecanicista e organicista, que
estão inseridas no paradigma funcionalista (onde se enquadram a maior
parte das teorias). O Taylorismo está enquadrado na metáfora da
máquina (perspectiva mecanicista). »» Taylor propôe um modelo que não
é estático, (foi desenvolvido ao longo do tempo), e que visava
aumentar a produtividade, pois, apesar de haver condições para esta
aumentar, esta não aumentava.
Ao Taylorismo e à organização científica do trabalho é associada a
divisão do trabalho. O Taylorismo ligase com os conceitos de
organização racional do trabalho.
Vantagens produtivas da divisão do trabalho:
Por Adam Smith (1776):
A)
Aumento da perícia de cada operário. Se o operário se especializasse
numa tarefa específica, ele seria mais produtivo do que se tivesse de
fazer várias tarefas;
B)
Poupança de tempo devido a não haver mudança no tipo de trabalho
realizado por cada operário;
C)
Criação de máquinas específicas para cada trabalho, o que vai
facilitar é encurtar o tempo de trabalho.//
Por C. Babboge:
A)
Tempo de aprendizagem: a aprendizagem era feita no local de trabalho.
Assim, se o trabalhador só tivesse de aprender uma parte da tarefa,
ele aprenderia mais rapidamente, e logo começaria mais rapidamente a
trabalhar;
B)
Redução na quantidade de materiais desperdiçados na fase de
aprendizagem;
C)
Poupase o tempo perdido quando o trabalhador tem de passar de uma
tarefa para outra;
D)
Aumento da rapidez e qualidade da execução da tarefa devido à sua
repetição constante;
E)
Possibidade de melhorias, na forma dos utensílios e na forma de os
utilizar dada a sua utilização permanente por um trabalhador. O
trabalhador poderia sugerir mudanças nos instrumentos, levando so
aumento da produtividade;
F)
Rentabilização ou da capacidade ou da força física do trabalhador. O
sujeito era colocado na tarefa para o qual era mais adequado.
Características predominantes do meio sócioeconómico americano no
início do séc. XX:
1)
expansão industrial e desenvolvimento do sector secundário (desemprego
no sector primário). Isto implica uma cada vez maior necessidade de
criar regras (o modelo de Taylor vai surgindo na sequência das
necessidades do meio);
2)
Fenómeno crescente da emigração das zonas rurais (devido ao colapso do
sector primário) para as urbanas (desenvolvimento do sector
secundário);
3)
Fenómeno crescente de imigração (da Europa para os e.u.a.);
4)
Matérias primas baratas;
5)
Quantidade elevada de mãodeobra desqualificada e no desemprego,
logo, barata. »»
Com todas estas condições tudo levaria a pensar que a produção das
empresas seria alta. O certo é que isso não acontecia, e é a isto que
Taylor tenta responder, e saber o porquê deste fenómeno.
Nesta altura, o modelo de grande influência era o positivismo, que
acredita na possibilidade de tudo ser científico, inclusivé a
organização da empresa. Surge também o behaviorismo, que considera as
pessoas como limitandose a responder aos estímulos do meio, sendo
assim susceptíveis de manipulação em função da vontade.
Diagnóstico de Taylor em relação à falta de produtividade nas
empresas:
1.
Desconhecimento que a gestão tinha do trabalhador a realizar bem como
quanto ao tempo necessário e suficiente para a realizar;
2.
Controlo exercido por regras gerais que não eram eficazes nem
adequadas, pois os operários mantinham uma influência decisiva sobre
os processos de trabalho;
3.
Restrição de produção por parte dos trabalhadores, em 1º lugar, devido
ao facto de os trabalhadores acharem que se trabalhassem o seu máximo,
iriam tirar o lugar a outros, e em 2º lugar, devido ao sistema de
pagamento (salário à peça) i. é., se trabalhassem muito iria ser
estabelecida uma produção máxima que todos teriam de atingir para
receber o ordenado;
4.
A falta de produtividade devese à ineficácia e variedade de métodos e
instruções para realizar o trabalho.
»»
Isto tudo, levou Taylor a empreender medidas que têm a ver com a
resolução destas questões.
Segundo Taylor:
Definição de "dia justo de trabalho
" (fair day's work): Consiste na quantidade total de trabalho que um
operário era capaz de trabalhar, sem prejuízo para a sua saúde, e que
conseguisse realizar numa sequência certa.
Definição de "falta de zelo"
(soldiering): Os trabalhadores fugiam ao trabalho, restringiam o
trabalho por falta de zelo. Por trás disto há duas razões: a)
tendência natural de todo o operário para tornar tudo fácil; b) falta
de zelo sistemática, que era tida em solidariedade com outors
operários. A ideia é de que se os outros não trabalham, eu também não
trabalharei.
As experiências realizadas por Taylor na Midvale Steel Company
(1890):
Taylor começa aqui os estudos sobre os tempos e os movimentos do
trabalho. Faz estes estudos com máquinas que ele próprio construiu.
Assim, já está a trabalhar a questão 4 do diagnóstico (métodos e
instruções para realizar o trabalho) porque, para Taylor, é necessário
uniformizar os métodos e os tempos para ter maior produtividade. Nas
experiências dos tempos e dos movimentos, alguém andava com um
cronómetro a acompanhar todo o trabalho. Foram experiências realizadas
ao longo de 20 anos, e estão na origem do que hoje é o Taylorismo
(organização científica do trabalho).
»»
Quando cria máquinas de cortar metal e tornos mecânicos, os indivíduos
que trabalham nestas máquinas passam a ter o trabalho previamente
planeado. O trabalhador passa a receber de um departamento, um cartão,
i. é., foi criado um departamento que tem a seu cargo escrever num
cartão o que o trabalhador deveria fazer ao longo de um dia. Esse
cartão era distribuido a cada trabalhador diariamente, e tinha escrito
os ganhos e prejuízos que o trabalhador teria se fizesse ou não essas
tarefas escritas.
»»
Este é o início de um mecanismo de trabalho que é a standardização dos
processos o trabalho começou a ter regras previamente determinadas
começando também os trabalhadores a perder o monopólio do conhecimento
total das suas funções.
Características do Taylorismo
(1895):
1)
Necessidade de criação de um departamento autónomo responsável, quer
pelos estudos de tempos e movimentos, quer pela fixação dos ganhos em
relação à produção;
2)
Criação do sistema diferencial de pagamento (differential price rate
system),que consistia na atribuição do vencimento relativamente a um
nível padrão de produção só realizável por operários de primeira
categoria;
3)
Desenvolvimento da sua economia política. Através do aumento de
produção, operários e empregadores poderiam enriquecer sem necessidade
de continuar a lutar pela distribuição dos escedentes;
4)
A resolução do problema do aumento da produtividade exigia não só o
estudo das máquinas, mas também o dos homens (o que vai contra a ideia
de que Taylor não ligava aos trabalhadores).
As experiências realizadas por Taylor na Bethlehem Steel Company
(1898):
Conclusões das experiências
:
1)
Os trabalhadores de primeira categoria (firstclass men) devem ser
escolhidos por "selecção científica", para ficarem bem ajustados ao
seu trabalho;
2)
O melhor método para realizar o trabalho (one best way), é através do
treino dos trabalhadores;
3)
Há necessidade de standardizar e uniformizar os instrumentos de
trabalho utilizados.
Surgem aqui dois conceitos importantes
:
A)
Homens de primeira categoria (firstclasse men): são homens ajustados
ao trabalho, na perspectiva do patrão este é um dos aspectos mais
críticos da sua obra;
B)
Melhor método de trabalho (one best way): é a melhor forma de realizar
o trabalho. O que está aqui presente é a ideia de que há uma forma
melhor do que todas as outras, de realizar um trabalho. Tratase da
standardização dos procedimentos, dos métodos, o que não deixa margem
de criatividade nem autonomia ao trabalhador.
Em termos dinâmicos existem 3 fases do desenvolvimento do Taylorismo:
1ª Fase: Há uma ênfase na falta de produtividade. Esta é justificada
pelo sistema de pagamento (um sistema tipo homo economicus);
Enfatizase também o estudo dos tempos e dos movimentos (instrumentos
fundamentais para a gestão aumentar a produtividade).
2ª Fase:
Há uma ênfase no papel da supervisão (e a importância que pode ter no
aumento da produtividade); Fazse a distribuição de "tarefas"
previamente definidas, aos operários ("task idea") (ocorrendo assim a
standardização dos procedimentos como mecanismo de
controlo/coordenação; na prática, vai levar à divisão horizontal do
trabalho, se bem que a questão da divisão de tarefas faça supôr a
divisão horizontal do trabalho (contudo, Taylor não é muito claro
nisto).
Taylor preconizou e defendeu a divisão do trabalho, mas não
explicitamente. Quando o trabalhador efectuasse uma só tarefa de
trabalho, deverseia decompôr o trabalho para distribuir cada um dos
momentos a cada trabalhador, através da análise dos movimentos. Taylor
fez isto para que a gestão tivesse conhecimento do que é o trabalho,
pois até então, só o trabalhador o sabia.
3ª Fase:
Ocorre a definição das novas, grandes e extraordinárias obrigações e
responsabilidades assumidas voluntariamente pela gestão. Surgem assim
os Princípios da Gestão Científica:
A)
"O Desenvolvimento da Ciência" : Surgiu a partir de comum esforço,
para remediar os males da falta de zelo. Havia a ideia de que uma das
razões da falta de produtividade era a falta de conhecimento da gestão
e, por isso, existia a necessidade da passagem do conhecimento dos
trabalhadores também para os gestores.
Por outro lado, devese partir de uma teoria para depois passar à
prática. Aqui, partiuse da prática e depois para a teoria, de empresa
para empresa.
B)
"Selecção Científica e o Desenvolvimento Progressivo dos operários": O
principal beneficiário da organização científica do trabalho é o
operário. Havendo selecção científica do operário, isso iria implicar
um desenvolvimento progressivo do trabalho, sendo o dever da gestão
seleccionar e formar o trabalhador até atingir a melhor produção para
que ele progredisse. Havendo selecção científica nestes moldes, vai
haver aumento da produtividade, o que implica maiores lucros para
distribuir pelos trabalhadores e patrões, acabando assim, a luta entre
eles.
C)
"Associar Ciência e Homens": Este princípio passa por fazer algo
bonito com o trabalhador; darlhe melhor tratamento, mais simpatia,
melhor consideração pelos seus desejos, darlhe oportunidade de se
expressar livremente.
D)
"Cooperação constante e próxima entre homens da gestão e operários":
Este princípio defende a divisão, mas diz que não é justo os
trabalhadores fazerem tudo, já que há uma divisão vertical do
trabalho, segundo a qual a gestão é responsável pela concepção, e os
trabalhadores pela execução. Na prática tirouse o poder dos
trabalhadores, que não era o seu objectivo.
Princípios da Organização Taylorista do Trabalho:
1)
Individualização das tarefas (cada operário realiza uma tarefa
específica, como meio de obter uma remuneração de trabalho justa);
2)
Decomposição do trabalho (deve haver um número limitado de tarefas por
posto de trabalho; # contudo, este é um aspecto que não está explícito
na obra de Taylor);
3)
Descrição pormenorizada do trabalho a efectuar em cada posto de
trabalho (normalização através de regras escritas). Ex: cartão que
explicíta o trabalho do operador; estandardização dos procedimentos de
trabalho, segundo Mintzberg;
4)
Uma certa obsessão por uma planificação pormenorizada, para que nada
ficasse esquecido (metáfora mecanicista). Este modelo vai falhar
devido à imprevisibilidade do comportamento humano, que Taylor não
considera;
5)
Cabem à hierarquia as questões de concepção, de decisão, de
coordenação, e de controlo do trabalho, enquanto que ao operário cabe
a execução do trabalho (divisão vertical). é um círculo de comunicação
vertical, em que as decisões vão de cima para baixo e a informação
ascende de baixo para cima (segundo Mintzberg, é o processo vertical
do trabalho).
Críticas feitas às ideias e concepções habitualmente associadas ao
Taylorismo:
A)
Taylorismo e divisão do trabalho (especialização): Taylor defende a
divisão vertical do trabalho (os que planeiam e os que executam) e a
divisão dos contramestres. A divisão horizontal ao nível da análise do
trabalho não é tão explícita. Surge aqui a ideia, já referida por
Taylor, de decompôr o trabalho para que os gestores pudessem
apropriarse do conhecimento do trabalho dos trabalhadores, de modo a
que aquele passasse para o nível da Gestão. Propôs a divisão vertical,
alegando que se tratava de um processo democrático. Contudo, a forma
como divide o trabalho criou nitidamente diferenciação entre os grupos
ao nível do poder;
B)
Desqualificação do operário: Através da especialização, quer vertical
quer horizontal. Nem todos os trabalhadores conseguiam chegar ao ponto
máximo de execução e o ideal seria a Gestão leválos ao seu máximo. A
Gestão tinha a obrigação de levar o trabalhador a executar o melhor
que ele pudesse. O trabalhador devia ter a possibilidade de
desenvolver as suas capacidades, chegando cada um até onde pudesse.
Isto é criticado pelas Teorias Humanistas. Em relação à
desqualificação, isto aplicarseia naquela época? Quando Taylor
surge, a mãodeobra era desactualizada (era fruto da imigração).
Neste caso, não haveria a desqualificação, porque a maioria não tinha
especialização, mas os trabalhadores conseguiam desenvolver certas
características que eram benéficas no seu trabalho. Esta crítica deve
ter em conta o contexto em que Taylor se encontava;
C)
O Elemento Predominante do Taylorismo eram os Incentivos Económicos:
Isto era verdade na primeira fase, mas depois deixou de ser o aspecto
fulcral da sua obra. Taylor não esteve preocupado com o melhoramento
do sistema de pagamento tendo em vista a produção, mas sim com um
clima próximo e íntimo na relação entre trabalhadores e gestores. Isto
demonstra, de facto, uma certa ingenuidade;
D)
O Taylorismo é um estudo dos tempos e dos movimentos: Na 1ª fase há,
efectivamente, uma análise dos Grupos e dos movimentos, tendo em vista
a decomposição do trabalho e a passagem dos conhecimentos da situação
laboral para a mão da Gestão, mas não se pode reduzir o Taylorismo a
isto;
E)
Taylor nada sabia sobre Grupos de trabalho: Uma das críticas feitas a
Taylor é a de que ele não percebia nada de Grupos, alegandose que ele
fez um sistema que tentava exacerbar a competição individual. é uma
ideia falsa, uma vez que se trata precisamente do contrário. Foi por
saber a força do Grupo que ele agiu como agiu. Por conhecer as
potencialidades do Grupo é que tentou estimular a ambição individual.
Ele não desconhecia o Grupo de trabalho, pelo contrário, conhecia a
força do Grupo. Por isso, ele fez tudo para quebrar os elos de ligação
entre os trabalhadores, para quebrar a sua união e força;
F)
Taylor possuía uma percepção negativa do operário: O seu sistema de
Gestão reduzia os operários a autómatos. Taylor tinha má percepção dos
trabalhadores, contudo, não eliminava a ideia de que eles podem
maximizarse. Taylor punha a hipótese de que era dever da Gestão
treinar e formar os seus trabalhadores, até ao limite máximo das suas
potencialidades, passíveis de formação. Taylor não generaliza esta
atitude a todos os trabalhadores. Não podemos também isolar o que ele
dizia dos trabalhadores, do que se passava na sua época, porque a
maior parte eram emigrantes e o que os move é o dinheiro.
G)
Ritmo ou cadência de trabalho exagerados: Realmente o seu planeamento
do trabalho leva a isto, e por isso, esta é a uma das críticas que faz
sentido. Há alguns conceitos da sua teoria que vão de encontro a esta
crítica, como por exemplo, os trabalhadores de 1ª categoria(nem todos
conseguiam chegar a este nível, ao one best way.
H)
Repetitividade do trabalho provoca sentimentos de insatisfação e de
aborrecimento, problemas de saúde mental, absentismo, turnover. Esta
repetitividade devese à divisão vertical do trabalho
(concepção/execução) ou à divisão horizontal do trabalho (divisão das
tarefas).
O Movimento das Relações Humanas:
Os estudos de Hawthorne:
Foram realizados numa fábrica (a maior da Western Electric Company)
que produzia telefones e equipamentos eléctricos relacionados com os
telefones.
Objectivos
: Estudar a monotonia e a fadiga existentes nos trabalhadores
(factores que aparecem após o Taylorismo), que levavam à diminuição de
produtividade. A preocupação era, então, estudar a relação entre as
condições de trabalho, monotonia e fadiga dos trabalhadores.
As diferentes bases destes estudos
:
1)
Experiências de iluminação: Antecederam os estudos de Hawthorne e
foram decisivas para o seu planeamento. Estas experiências pretendiam
ver a relação entre a qualidade e quantidade da luminosidade com a
produção. A grande conclusão é que a produção parecia não ter muito a
ver com o aumento ou diminuição da luminosidade. Depois introduziuse
o efeito placebo, e embora a iluminação não se alterasse, os
trabalhadores queixavamse que não viam nada ou que não viam muito
bem. sem que a produção se alterasse. Portanto, deverseiam fazer
mais estudos no domínio das relações humanas, o que é uma conclusão
forçada deste estudo. Vaise, assim, planear aquilo que consistiu no
primeiro estudo de Hawthorne.
2)
Oficina experimental de montagem de relés: No início desta
experiência, os autores colocaram algumas questões de investigação:
a)
Os trabalhadores atingem realmente a exaustão?
b)
A introdução de pausas para descanso é desejável?
c)
é desejável um dia de trabalho mais curto?
d)
Quais são as atitudes dos empregados para com o seu trabalho e para
com a sua companhia?
e)
Qual o efeito da mudança do equipamento no trabalho?;
f)
Porque é que a produção decai ao fim da tarde? »» Contudo, só uma
destas questões é que remete para as variáveis pessoais (a D), embora
os investigadores tenham partido para este estudo com o objectivo de
estudar as relações humanas.
»»
Os autores, para a escolha deste Grupo, quiseram avaliar a motivação
para participar na experiência, o que vai enviesar o estudo das
relações humanas.
»»
Houve uma variável que não foi controlada (a variedade de relés
montados). Para que os resultados de produção fossem comparáveis, a
montagem tinha que ser do mesmo tipo de relés, o que não aconteceu.
»»
O estudo consistiu em 13 períodos experimentais divididos em 3 fases.
»»
Conclusões:
A)
Aumento da produção;
B)
Melhoria da atitude mental dos trabalhadores.
Eles queriam testar a hipótese: se a mudança de pagamento alterou o
aumento de produção verificada.
3)
Segunda oficina de montagem de relés: Consistiu na realização das
condições de trabalho da oficina regular, excepto no sistema de
pagamento.
4)
Oficina experimental de preparação de micas: Consistiu na realização
do sistema de pagamento da oficina regular e alteração nas condições
de trabalho idênticas às concretizadas na 1ª oficina experimental de
montagem de relés. Nesta experiência, para além do referido, a) os
operários tinham funções diferentes umas das outras; b) os períodos
experimentais eram mais longos do que na 1ª oficina experimental, de
modo a permitir o ajustamento completo a uma condição experimental
antes de outra ser introduzida; c) foi introduzida uma condição
experimental nova (a sobrecarga de trabalho); d) a introdução de
pausas de trabalho fezse aquando da introdução da sobrecarga de
horário; e) apesar do sistema de pagamento utilizado nesta 2ª
experiência ser o mesmo, ele era diferente do utilizado na 1ª oficina.
Conclusão: a hipótese de que a mudança de pagamento alterava a
produção foi infirmada.
5)
Programa de entrevistas (esta última fase corresponde à fase não
experimental, e é algo inovador). Teve como objectivo perceber as
razões das queixas. Para isso realizaramse entrevistas com os
trabalhadores. é aqui que se começa a fazer algo no sentido das
relações humanas. 1º Momento: mudança nas condições de trabalho, o que
originou uma resposta positiva na produtividade. Intervém uma
perspectiva behaviorista, linear. Começaramse a aperceber que não era
assim tão linear, porque não conseguiam arranjar uma solução. Deste
modo, passaram então a considerar outra variável (a atitude), que vai
aparecer no 2º momento. 2º Momento: Estabelecese uma relação
triangular entre A (sentimentos), M (meio) e R (resposta). vaise
considerar que muitas vezes a situação de trabalho não interessa, mas
antes a interpretação da mudança por parte dos trabalhadores (e não a
mudança real). Tudo depende da atitude da interpretação da mudança,
atitude essa que vai ter a ver com a história pessoal e do contexto
social do trabalho. São as sementes do sistema aberto, cognitivista e
da perspectiva de circularidade, onde surge H (história) e C
(contexto).
[figura15.gif]
6)
Oficina de observação de instalação de fios;
7)
Aconselhamento pessoal.
A Teoria da Burocracia de Weber:
A burocracia surge na década de 40, em resposta aos problemas do
Taylorismo e do Movimento das Relações Humanas que não deu respostas
aos problemas do Taylorismo (o que Mayo fez, foi acrescentar aspectos
positivos ao Taylorismo). O que preocupava Weber era como controlar os
indivíduos dentro das organizações, porque só assim se conseguia
aumentar a eficácia organizacional. Este autor debruçase, assim,
sobre a questão do Poder (para ele a burocracia correspondia a um tipo
de poder).
A teoria das estruturas de autoridade:
1)
Autoridade tradicional: Aceitamse as ordens dos superiores, porque
sempre foi assim; tratase de uma autoridade não racional que pode ser
transmitida por herança e é bastante conservadora. Qualquer mudança
implica a ruptura mais ou menos violenta das tradições. As suas
estruturas típicas, assumem uma forma patrimonial (funcionários ao
serviço do senhor) de dominação tradicional, e uma forma feudal
(funcionários economicamente dependentes do senhor).
2)
Autoridade carismática: As ordens são aceites em consequência das
características "excepcionais" do chefe. é um processo de
identificação de autoridade não racional, instável e que facilmente
pode assumir características revolucionárias.
3)
Autoridade legal, racional ou burocrática: As ordens são aceites
porque os indivíduos concordam com as normas e preceitos que estão
subjacentes ao exercício do poder/autoridade. A obediência, ao
contrário do que acontece nos casos anteriores, não deriva de "alguém"
em particular, mas de um conjunto de regras e princípios legais
préestabelecidos e préaceites. O superior é visto como alguém que
alcançou o cargo através de procedimentos legais ou seja, a
legitimidade do poder baseiase em normas racionalmente definidas. A
sua estrutura típica é a burocracia que se fundamenta nas leis e na
ordem legal.
Para Weber, a burocracia é uma organização:
1) Ligada por normas racionais, legais, escritas e exaustivas (uma
organização formal).
2)
Que se baseia numa divisão sistemática do trabalho (as actividades são
distribuidas impessoalmente de acordo com os objectivos a atingir).
3)
Que estabelece cargos segundo o princípio hierárquico (hierarquia é
ordem e subordinação, que precisa ser sistematicamente verificada). Só
assim a organização de mantém estável. (Nessa altura, Weber
considerava a igreja e o exército como sendo o mais democrático).
4)
Que fixa regras,normas, técnicas para o desempenho de cada cargo. Para
o seu desempenho racional, é necessária uma preparação especializada
do seu ocupante. A ideia de Taylor era tornar o trabalho em trabalho o
menos qualificado possível, para que os não qualificados pudessem
ocupar esses cargos em maior número. Por sua vez, Weber preocupavase
com a especialização dos trabalhadores, por mais pequena que fosse.
5)
Onde a escolha das pessoas é baseada na sua qualificação, não em
preferências pessoais.
6)
Que se baseia na separação entre a propriedade e a administração
(surge o especialista em questão de organização). Ela tornase, assim,
autónoma.
7)
Que se caracteriza pela profissionalização dos seus participantes e é
dirigida por administradores profissionais;
8)
Onde o comportamento dos seus membros é completamente previsível (o
que leva a um aumento da eficácia da organização). Weber não considera
a organização informal logo, podese observar que, aqui, a metáfora da
máquina é nítida. »»
Uma organização seria eficaz se se aproximasse de tudo que foi agora
descrito.
Vantagens da burocracia, segundo Weber:
Ele parte do princípio que só existem vantagens, pois considera o
comportamento humano previsível.
A)
Racionalidade na utilização dos meios técnicos e humanos.
B)
Precisão na definição de tarefas/acções (há uma obsessão por tudo
muito bem planeado).
C)
Rapidez nas decisões.
D)
Continuidade dos processos desenvolvidos pela organização, através da
mera substituição de pessoal (as pessoas são meras coisas que se
encaixam para o funcionamento da máquina).
E)
Uniformidade de procedimentos (redução de custos e erros).
F)
Redução da probabilidade de conflitos entre as pessoas (pois o papel
de cada um está perfeitamente definido).
G)
Previsibilidade dos comportamentos e constância das decisões em
situações semelhantes ( tudo o que é pessoal é excluido).
H)
Benefícios para as pessoas, i. é., a sua especialização em áreas
específicas permite a sua ascensão por mérito pessoal e competência
técnica. »»
Para Weber a organização burocrática é um modelo puro e ideal.
Os modelos das Disfunções Burocráticas:
1)
O Modelo de Merton (1940): Segundo este autor, a organização
burocrática é uma organização pouco criativa, uma vez que está tudo de
tal maneira formalizado e estabelecido que os funcionários não são
capazes de fazer nada de forma flexível e criativa. Segundo Merton,
existem várias Disfunções da Burocracia:
A) Despersonalização do relacionamento.
B)
As normas tornamse objectivos a atingir, são assumidos como
absolutos, aumentando a rigidez dos comportamentos, existindo assim um
superconformismo às normas.
C)
Maior utilização da categorização no processo decisório (diminuindo a
necessidade de encontrar soluções alternativas, diferentes).
D)
Excesso de formalismo, i. é., a tendência para produzir documentos
escritos tornase cada vez maior.
E)
Dificuldade no atendimento a clientes (vaise extinguindo o
atendimento personalizado).
F)
Possíveis resistências dos funcionários em obedecer às normas
burocráticas.
2)
O Modelo de Selznick (1949): Chama a atenção para o facto de que a
burocracia, contrariamente ao que dizia Weber, é um sistema dinâmico e
adaptativo, e não estático como Weber defendia. Apesar de Selznick
defender a burocracia, a sua teoria é já uma charneira entre a
metáfora mecanicista e a metáfora organicista. Um dos defeitos de
Weber foi não ter considerado o efeito do informal.
Segundo Selznick, existem vários Efeitos Disfuncionais da Delegação de
Autoridade presente na burocracia: O poder é dissiminado
possibilitando o aparecimento de grupos de influência que escapam ao
controlo da organização, os quais, se tiverem objectivos diferentes
dos da organização, poderão fazer perigar os objectivos primários
desta. Esta formação de grupos, ou melhor, subgrupos, conduz à
departamentalização. Se isto acontecer, a empresa tenta então,
integrar esses diferentes objectivos na sua política geral. Assim, a
empresa começa a operacionalizar objectivos que não eram primários,
mas que surgiram em consequência dos interesses dos subgrupos.
3)
O Modelo de Gouldner (1954): As consequências imprevistas da adopção
de regras e directrizes impessoais. Esta adopção pode levar, por parte
dos trabalhadores, ao reconhecimento de padrões mínimos aceitáveis.
Então, surge a ideia: "Vou testar até onde consigo ir sem me cairem em
cima". Assim, parte dos objectivos da organização não são cumpridos. E
quanto mais se nota o afastamento da organização dos seus objectivos,
mais necessidade há de autocontrolo. Assim, como os objectivos não
são totalmente cumpridos, há um aumento do controlo levando ao aumento
do poder na organização, e as relações vãose baseando em relações de
poder. Vai, então aumentar o nível de tensão interpessoal Os efeitos
burocráticos dão os efeitos desejados, mas também os efeitos
perversos.
# #
Contudo, há um aspecto comum às teorias burocráticas: a exigência de
controlo.
Características gerais dos modelos representativos da metáfora
mecanicista:
A pessoa funciona como uma peça da organização, a pessoa é uma peça
que se encaixa no lugar certo.
A)
Há uma preocupação em definir à priori os objectivos a prosseguri, em
organizar racionalmente (Racionalidade intencional).
B)
O ênfase principal vai para a análise e design da divisão formal de
uma organização e da sua tecnologia (aqui, as "máquinas" são entidades
tecnológicas nas quais as relações entre os seus elementos
constituites formam uma estrutura).
C)
Os indivíduos são considerados mais uma peça da organização, e são
avaliados pelas suas capacidades instrumentais.
D)
O funcionamento da organização é avaliado pela sua eficiência.
E)
Padronização do desempenho de papel e não duplicação de funções. Há a
preocupação em precisar todos os detalhes, para que cada um saiba
exactamente o que deve fazer dentro da organização.
F)
Há também a preocupação de controlar e a necessidade de definir uma
hierarquia clara, inequívoca. (O funcionamento da máquina precisa de
ser constantemente vigiado e controlado).
Inconvenientes / fraquezas das teorias baseadas na metáfora
mecanicista:
1) Dão origem a um tipo de organização que tem grandes dificuldades
em adaptarse às circunstâncias. As organizações não são feitas para
as inovações, mas para a pressecução de objectivos previamente
definidos.
2)
Podem conceber uma burocracia restritiva e rígida.
3)
Favorecem a emergência de objectivos secundários (individuais e/ou
grupais) que podem inibir a capacidade da organização em prosseguir os
seus objectivos previamente definidos. Está aqui patente a importância
da organização informal.
4)
Limitam mais do que favorecem o desenvolvimento das capacidades
humanas. Segundo estas teorias, há que modelar os indivíduos de tal
modo que eles se adaptem às máquinas da organização, o que tem
consequências a dois níveis: A Nível Individual, acontece a
institucionalização de comportamentos de passividade, de dependência e
de despersonalização por parte do trabalhador (podem ser cometidos
erros deliberadamente, que vão ser justificados pelo cumprimento das
regras). A Nível Organizacional, não se rentabilizando o
potêncial criativo dos seus elementos, a organização não dispõe de
soluções criativas e novas para os problemas com que se pode
confrontar, o que leva ao enfraquecimento da sua capacidade de
resposta a situações novas e diferentes.
A abordagem mecanicista funciona bem quando:
a) A tarefa a realizar é simples.
b)
A estabilidade do meio é tal que garante que os produtos fabricados
sejam apropriados.
c)
Quem fabrica produz exactamente o mesmo produto durante muito tempo.
d)
A precisão é um critério importante.
e)
Os elementos humanos da "máquina" são obedientes e se comportam como
previsto.
Metáfora organicista:
1)
Movimento das relações humanas percursor das teorias que dão origem
a esta metáfora.
2) A Teoria Geral dos Sistemas (T.G.S.) (Bertallanty
, 1950): Na sua essência, esta teoria é aplicada ao estudo de todos os
sistemas. Este autor criou a t.g.s. porque sentiu diferentes
necessidades:
a)
Percebeu a ineficácia da metáfora mecanicista pela leitura e
compreensão dos sistemas complexos.
b)
Apercebeuse que todos os objectos das ciências podiam ser estudados a
partir de um modelo conceptual global.
A t.g.s. visa estudar os isomorfismos entre todas as ciências. é um
esqueleto a partir do qual se pode estudar todos os objectos
científicos.
3)
Abordagem das Organizações como Sistemas Abertos (Katz & Kahn, 1969):
Definição de Sistema Aberto: Sistema com trocas constantes, com
elementos articulados em interacção uns com os outros.
Características gerais dos sistemas abertos
:
A)
Importação Transformação Exportação da energia (é a essência de
todo o sistema aberto).
B)
São ciclos recorrentes de acontecimentos (ideia de dinamismo e
circularidade, ao contrário da linearidade da metáfora mecanicista).
C)
Entropia negativa (processo reactivo de obtenção de reservas de
energia).
D)
Importação de informação, retroalimentação negativa (feedback
negativo) e processo de codificação (selecção de entradas).
E)
Homeostasia, i. é., o sistema tem que estar constantemente a importar
energia para atingir um equilíbrio. é um equilíbrio dinâmico porque a
energia também está sempre a sair e é necessário que esse equilíbrio
se mantenha.
F)
Diferenciação (tendência, para a elaboração da divisão através da
especialização de tarefas).
G)
Em vários tipos diferentes de situações, o mesmo cargo tem capacidade
para chegar ao mesmo fim.
H)
Limites ou fronteiras (definem o volume e a intensidade das transações
com o meio).
Características específicas dos sistemas sociais
:
1)
Sem limitação física (são constituídos por acontecimentos e não por
parte físicas).
2)
Inputs de manutenção (energia para sustentar o sistema) e inputs de
produção (energia para produzir um output produtivo).
3)
São sistemas essencialmente criados pelo homem (baseiamse em todas as
características que o homem tem, nomeadamente atitudes, percepções,
crenças, motivações, hábitos e expectativas dos seus elementos).
4)
Utilizam diversas forças de controlo para reduzir a variabilidade
humana. Os seus sistemas de controlo podem provir de:
a)
pressões / requisitos do ambiente ou da tarefa em relação à
necessidade.
b)
exigências dos valores e expectativas compartilhadas.
c)
imposição de regras (directamente da hierarquia da organização).
5)
Input da "inclusão parcial" dos seus membros (há um envolvimento
parcial das pessoas) i. é., as peesoas não estão disponíveis a tempo
inteiro para a organização, e não se confundem com os seus cargos,
mantendo a sua identidade.
6)
Têm um espaço organizacional (físico, geográfico) e uma cultura e
clima organizacionais (sendo a cultura todo um conjunto de
características que são partilhadas por todos os membros de uma
organização e que a diferenciam das outras, enquanto que o clima tem
mais a ver com as relações entre os membros da organização).
7)
Os seus Principais componentes são:
a) os Papéis (formas padronizadas de comportamento),
b)
as Normas (prescrevem e sancionam esses comportamentos e desvios a
esses comportamentos),
c)
os Valores (justificações e aspirações ideológicas dos mesmos).
8)
Caracterizamse por cinco subsistemas básicos:
a)
subsistema técnico ou de produção (processamento transferência de
energia).
b)
subsistema de apoio ( realizam transações com o meio ambiente).
c)
subsistema de manutenção (recrutamento, socialização, recompensa e
sanção).
d)
subsitema adaptativo (divisãos que fazem a previsão de mudanças
ambientais).
e)
subsistemas de gestao (actividades de controlo, coordenação, e
direcção dos subsistemas da divisão).
9)
São uma organização em relação ao seu meio, com sistemas, subsistemas
e supersistemas, com aberturas, fronteiras e codificações do sistema
(seleccionando, assim, o que entra e sai).
4) Abordagem SócioTécnica das Organizações.
Trist & Bamforth
:
Iniciaram uma série de investigações e intervenções nas minas de
carvão de Durham (onde se começou a esboçar o conceito de organização
sóciotécnica.
A)
Motivos da intervenção:
a) o mau estar entre os mineiros e entre estes e a direcção.
b)
os altos índices de absentismo.
c)
a desorganização cíclica da produção.
B)
Processo:
Houve uma análise da situação e um estudo das fases principais do
processo de extracção, nomeadamente a preparação (corte de carvão), o
transporte de carvão para o exterior, e avanço na mina. A organização
do trabalho, antes da mecanização, caracterizavase por cada grupo ter
três elementos que realizavam todo o trabalho (as três tarefas).
Existia uma coordenação flexível entre todos os grupos da mesma zona,
sem divisãos hierárquicas intermédias. A organização da Mecanização,
já tinha uma divisão clara de tarefas, distribuidas por três turnos em
unidades produtivas de 45 pessoas. A coordenação das tarefas era feita
por um "responsável de turno", com funções de controlo dos mineiros,
servindo também de intermediário entre estes e a administração (foi
introduzida uma divisão mais intermédia).
C)
Diagnóstico:
Observavase um desajustamento entre as características das
actividades a realizar (condições imprevisíveis, instáveis)
especialmente no subsolo, e a organização do trabalho (tipo fabril,
rígida e pesada). Era necessária uma intervenção ao nível de uma
optimização do sistema técnico em consonância com o factor humano.
D)
Organização do trabalho composta após a intervenção:
Foi assegurada a continuidade das tarefas, cada turno pegava no
trabalho no ponto em que o anterior o tinha deixado. Os grupos de
mineiros eram formados numa base de escolha mútua. Os salários eram
calculados com base na produção do grupo, partindo do princípio que
todos os mineiros realizavam trabalhos semelhantes. »»»
O sistema sóciotécnico reportase ao processo de transformação, i.
é., existem os factores humano e técnico que estão implicados no
processo, e que devem ser optimizados para não haver problemas.
Mintzberg
:
Inserese na metáfora organicista. As ideias chave deste autor
prendemse com o contexto de relações e pressões que o meio tem sobre
a tarefa primária da organização (aquilo para o qual a organização
existe). Existem outros factores que têm influência na estrutura de
uma organização, nomeadamente as necessidades humanas, e os recursos
técnicos (considerase tecnologia como sendo a acção que um objecto,
que pode ser uma pessoa, exerce sobre outro) para a realização da
tarefa primária. »»»
Os defensores da Abordagem SócioTécnica dizem que o subsistema
social e o subsistema técnico interagem. Por isso, introduzir
mudanças num sistema sem ter em consideração o outro, não tem efeitos
positivos, acontecendo choques e não havendo a produtividade
existente.
Teoria contingencial:
Apareceu após o modelo do sistema aberto e do modelo sóciotécnico.
Aqui, defendese que as organizações têm que se adaptar ao meio e que
dependem das condições deste. O meio aparece aqui como uma variável
determinante. A eficácia da organização vai depender de vários
factores como a tecnologia, as relações com o meio, as escolhas, o
tipo de tarefa primária, etc..
Síntese da metáfora organicista:
1) é atribuida importância às relações entre a organização e o seu
meio.
2)
As organizações são vistas como processo em interacção que devem
conhecer um equilíbrio interno tanto quanto externo.
3)
ênfase na sobrevivência que é tida como objectivo ou a tarefa
principal. qualquer organização deve prosseguir com um processo.
4)
Ao evidenciar diversas "espécies" de organizações, tomase consciência
que aqueles que organizam dispõem sempre de uma gama de opções
(teóricas da contigência).
5)
qualidades excepcionais da organização de tipo orgânico quando se
trata de inovar. Porque são muito mais flexíveis, muito mais atentas
ao meio e podem mesmo antecipar mudanças do meio.
6)
Importância atribuida à "ecologia" e às relações entre as organizações
necessidade de construir uma teoria destas relações para compreender
como evoluiu realmente o mundo das organizações.
Limitações da Metáfora organicista:
1)
Tendência a ver as organizações e o seu meio de modo muito concreto
(continuam a comparar as organizações com os organismos que são
divisãos físicas, concretas) estas podem ser, pelo menos, em parte,
consideradas como fenómenos socialmente construidos (remetenos para a
metáfora da cultura).
2)
ênfase na unidade mais do que no conflito (estamos na sociologia da
regulação) leva a crêr que a unidade e a harmonia que caracteriza o
organismo pode ser encontrada na vida de qualquer organização.
3)
Perigo desta metáfora se tornar uma ideologia como os organismos são
funcionalmente integrados pode levar a admitir que as organizações o
devam também ser.
_________________________________________________________________
Considerações Pessoais
O que é a Gestão dos Recursos Humanos?
Consiste em contribuir para a melhoria da produtividade das
organizações, procurar formas mais eficientes de destas atingirem os
seus objectivos, de um modo ético, e socialmente responsável.
áreas de Intervenção:
Análise do trabalho
Gestão Previsional dos RH
Recrutamento e selecção
Orientação e integração
Formação e desenvolvimento profissional
Compensação e incentivos
Avaliação de desempenho
Desenvolvimento de carreiras
Relações laborais
Melhoria da qualidade de vida
O que é a Psicologia do Trabalho e das Organizações?
Consiste no estudo do trabalho, enquanto comportamento, partindo do
estudo do indivíduo.
O Sistema homemmáquina
A Análise e avaliação das condições de trabalho
A Participação em investigações multidisciplinares
A Cultura/clima organizacional
A Mudança de valores
A Gestão das pessoas e mudança
"Quando nos especializamos em Psicologia do Trabalho não aprendemos
outra psicologia; aprendemos sim a explorar os nossos conhecimentos ao
nível da psicologia para resolver problemas que se levantam em
situações que implicam o sujeitotrabalhador".
"O objectivo do Dep. de Recursos Humanos
não é produzir trabalhadores felizes,
mas incentivar a viabilidade económica da organização
de um modo ético e socialmente responsável,
melhorando a qualidade de vida
e tendo em conta as restrições económicas, culturais e outras.
Por:
Alexandre M. Campos
Psicólogo
, Universidade do Porto
Porto
, Julho de 1996
" A Psicologia / Os Profissionais de Psicologia
no Marketing e na Publicidade ": um estudo exploratório
_________________________________________________________________
Psicólogos nas Agências de Publicidade
e/ou
Psicologia na Publicidade
Por:
Alexandre M. Campos
Fátima Marcos
Gaspar Ferreira
Psicólogos, Universidade do Porto
Porto
, Setembro de 1995
_________________________________________________________________
INTRODUÇÃO
Com a chegada do fim do seu percurso académico na Licenciatura em
Psicologia, as preocupações de qualquer recémlicenciado com o mundo
do trabalho tornamse mais evidentes e emergentes. Embora a oferta de
emprego tenha vindo, com o passar dos anos, a aumentar nesta área de
saber e de intervenção profissional, a situação está ainda longe de
não promover largas preocupações a quem, aqui, procura um emprego.
Tratase de uma situação sustentada, em grande parte, pelos diversos e
resistentes estereótipos acerca da Psicologia que teimam em persistir
na nossa cultura e sociedade, por um lado. Por outro lado, pelos
paradigmas dominantes de compreensão e explicação cientíica da
realidade (o quantificável e o mensurável, segundo os pressupostos
vigentes), os quais são, para a ciência psicológica e sua intervenção
no real, limitados e/ou mesmo desarticulados. Ainda, pelas regras e
vícios burocráticos, políticos e organizacionais, os quais servem os
interesses de alguns, eventualmente os interesses de bastantes, mas
que, concerteza, não consideram as inúmeras e diferentes necessidades
de cada de nós, nem a igualdade e liberdade de oportunidades, no
verdadeiro sentido das palavras.
A oportunidade de efectuar uma investigação que permitisse explorar e
desenvolver estudos que viessem ao encontro das nossas aspirações,
levounos a enveredar por um processo de procura de novos mercados de
trabalho para o Psicólogo Social (e, talvez, não apenas este).
Baseandonos num estudo elaborado na Universidade de Valência na área
de Psicologia Social, e dentro de uma perspectiva do Marketing Social,
procurámos desenvolver um estudo que nos desse pistas sobre o mercado
de trabalho para um psicólogo dentro das Agências de Publicidade.
O recurso ao Marketing Social pareceunos uma boa estratégia para dar
a conhecer à sociedade os contributos que um psicólogo pode dar, não
só nas suas áreas de trabalho tradicionalmente existentes e
consolidadas, mas noutras ainda não exploradas. O Marketing aparece
definido como "um sistema de pensamento, uma forma de conceber o
funcionamento da organização, uma completa filosofia, que tem por
objectivo máximo estabelecer relações dinâmicas entre qualquer
organização e os mercados que lhe são próprios" (Quintanilla e Díaz,
1988). O Marketing Social será "o desenho, aplicação e controle de
programas com o propósito de aumentar a aceitação de ideias sociais, o
que implica considerações sobre a planificação do produto, fixação de
preço, comunicação, distribuição e investigação de mercados" (Kotler e
Zaltman, 1971 cit. in. Quintanilla et al., 1988). A importância que
esta estratégia representa para o nosso estudo reside no próprio
objectivo do Marketing Social que, segundo Kotler e Zaltman, assenta
na mudança social. Esta mudança pode darse em quatro níveis: o nível
cognitivo, que afecta o conhecimento e informação de alguma coisa
concreta; ao nível da acção, que afecta a concretização ou não de
determinadas acções; ao nível do comportamento, que interfere nos
padrões comportamentais e ainda, mudança ao nível dos valores sendo
esta mais difícil de atingir, pois afecta as crenças e atitudes mais
enraizadas nos indivíduos. O nosso estudo inserese nesta perspectiva
e embora se trate de uma abordagem preliminar, pensamos que poderá ser
útil para o desenho de novos projectos que abordem as saídas
profissionais do psicólogo e melhor aceitação dentro dos mercados de
trabalho.
Os nossos grandes objectivos seriam em primeiro lugar, pesquisar a
avaliação que os responsáveis pelas Agências de Publicidade fazem do
contributo da Psicologia e, em segundo lugar, saber qual o interesse
de ter um psicólogo a trabalhar dentro das suas próprias Agências.
Podemos resumir o interesse da nossa investigação ao estudo das
crenças e valores dos Directores Gerais das Agências, relativamente ao
que é um psicólogo e também avaliar a receptividade que estes
demonstram, quanto à possibilidade de um psicólogo trabalhar em
Agências de Publicidade. Ao conhecermos as crenças e valores que os
Directores possuem sobre as competências de um psicólogo, poderiam ser
adoptadas estratégias por parte dos psicólogos no sentido de criar uma
imagem que suscitasse interesse aos resposáveis pelas Agências.
Pensamos que, de certo modo, ao apresentarmos este estudo aos
Directores, estamos já a divulgar o interesse profissional que a
Publicidade nos suscita. Estamos tambéma confrontalos e a
sugerirlhes uma relação entre a Psicologia, os psicólogos, a
Publicidade e o aproveitamento da produção de conhecimentos e know how
na área do comportamento humano.
Ao nos dirigirmos a este mercado, fazêmolo conscientes da importância
que a Psicologia, enquanto ciência, representa para a actividade
publicitária. Esperamos que quanto maior fôr o contacto dos Directores
das Agências com psicólogos, melhor será a sua representação social
deste grupo, sendo também maior a probabilidade de lhe reconhecer
valor (hipóteses 1 e 2). Também será de esperar que este
reconhecimento de competências ao psicólogo venha a influênciar a
presença deste em Agências de Publicidade (hipóteses 3 e 4).
Tomando por definição de Publicidade "técnica de persuasão destinada a
suscitar ou aumentar o desejo de adquirir este ou aquele produto, ou
de recorrer a este ou aquele serviço" (David Victoroff, 1972), não
hesitamos em perceber que os técnicos responsáveis por levar a cabo
uma campanha publicitária têm interesse em conhecer o públicoalvo do
produto ou serviço em questão. Com base nisto, esperamos que a
Psicologia seja entendida pelos nossos inquiridos como uma disciplina
muito importante para a Publicidade (hipótese 5). O objectivo de uma
mensagem publicitária é essencialmente pragmático: procura agir sobre
crenças, valores, sentimentos, atitudes e comportamentos do
públicoalvo com o máximo de eficácia. Têm para tal que conhecer o
receptáculo humano dessas mensagens o promissor comprador.
A publicidade visa essencialmente atingir as massas e embora se
interesse por teorias psicológicas próprias do indivíduo, como sejam
teorias de motivação e personalidade, percepção, aprendizagem,
atitudes, tomada de decisão, entre outras, também recorrem a teorias
sociais como a noção de grupofamília, classes sociais, estereótipos e
cultura. O conhecimento destas teorias é fundamental para que uma
campanha publicitária seja eficaz, isto é, seja capaz de prender a
atenção e interesse do receptor, provocar desejo de compra garantindo
o máximo de satisfação e, soar de tal modo equilibrado em termos de
apelos que não faça o consumidor sentirse ameaçado (Christiane Gade,
1980). Mas para que este equilíbrio aconteça é necessário ter em conta
que uma "boa" mensagem ou imagem por si sós, não bastam. Para se dar o
fenómeno "compra" tem que haver repetição da comunicação, pois esta
interage com os componentes cognitivo, afectivo, comportamental e
mudança de atitude, daí que seja importante ter em conta a semelhança
entre um anúncio e outro. Esta semelhança pode ser visual, verbal, de
sons ou de atitude (Roman e Maas, 1991), mas se se utilizar pelo menos
uma delas,a escolha dos Meios onde se vai passar a campanha
publicitária poderá ser simplificada de modo eficaz Estes estudos,
qualitativos e quantitativos, são feitos habitualmente por Agências de
Estudos especializadas neste domínio, permitindo deste modo ao
publicitário (particularmente quando os clientes que encomendam as
campanhas têm orçamentos que lhe permita a aquisição destes estudos)
estar atendo aos factores que condicionam as motivações de consumo. A
existência destas Agências de Estudos que fornecem os dados sobre o
mercado ou produto em destaque, poderão ser o motivo que leva os
Directores da Agências a não considerarem útil contractar um psicólogo
(hipótese 6).
Segundo David Victoroff há três momentos principais na elaboração de
uma mensagem publicitária.O primeiro está relacionado com o eixo 2 e
faz referência às necessidades a que é preciso fazer apelo
(motivações) e também às forças impeditivas de compra que se devem
combater (constrangimentos). Este momento é, necessáriamente, um pouco
abstracto e esquemático e, compete ao psicólogo. O segundo momento
está relacionado com as linhas traçadas anteriormente, que é preciso
traduzir em representações concretas, estando a cargo do
conceptorredactor. O terceiro momento corresponde à construção do
conjunto de palavras e imagens que constituem a mensagem, estando a
cargo da "dupla criativa" (David Victoroff, 1972). Com base nisto
podemos julgar que o psicólogo se mostra importante para a elaboração
de uma mensagem publicitária podendo assim, ser um elementochave de
uma Agência de Publicidade.
O nosso comportamento é fortemente influenciado pela nossa cultura,
logo o consumo também o é. A noção de cultura é extremamente complexa
e ambígua, levando a que actualmente possamos encontrar um grande
número de definições2 . Em Psicologia Social a cultura aparece
definida como sendo "o conjunto de elementos materiais e
nãomateriais, crenças, normas, valores e atitudes que são dotados por
determinada sociedade para regular e facilitar as acções dos seus
membros" (Christiane Gade, 1980). Daqui resultam quatro noçõeschave:
a cultura é, ao mesmo tempo, global, partilhada, transmissível e
evolutiva (Bernard Dubois, 1993).Assim sendo, a cultura são respostas
aprendidas. Se ela se mostra reforçadora será difícil que sofra
modificações, pois a própria aprovação familiar e grupal já se mostra
reforçadora. Se estes padrões forem aprendidos na infância aumentará a
resistência à mudança, fazendo com que cada tentativa seja sentida
como ameaçadora. Para quem faz campanhas publicitárias é importante
distinguir três domínios principais onde a cultura se manifesta: as
estruturas socioculturais, isto é, valores dominantes, instituições e
convenções sociais que daí derivam e o sistema de comunicação e
linguagem; a relação entre o indivíduo e a cultura na qual vive e,
muito particularmente a forma como esta influencia o seu modo de
apreensão do meio envolvente, o seu sistema de pensamento e a sua
identidade; por último, o domínio das relações individuais e
especialmente o mecanismo de repartição dos papéis, o processo de
integração e a mudança social (Bernard Dubois, 1993).
Depois de termos abordado as teorias da Psicologia mais utilizadas e
Publicidade e, de um modo sintético a forma de organização de uma
campanha, vamos agora definir uma Agência. Segundo a Associação
Portuguesa das Agências de Publicidade (APAP), são consideradas
Agências de Publicidade "as sociedades constituidas de acordo com a
lei geral, tendo por objectivo exclusivo o exercício da actividade
publicitária e que disponham para o efeito, de organização e
colaboradores de reconhecida competência profissional, capazes de
assegurar a vários clientes, simultâneamente, um serviço de qualidade
nos campos da análise de marketing4, da concepção e criação, da
planificação e distribuição, da compra e controlo de campanhas de
publicidade" (Gomes, 1991). O estatuto técnico das Agências de
Publicidade obriga a que, para poderem prestar um serviço de
qualidade, disponham de departamentos próprios aptos a desenvolverem
eficientemente as suas funções. No artigo 3º do Regulamento Interno da
APAP diz o seguinte: as Agências de Publicidade devem estar aptas a
prestar serviço em Marketing e Promoção de Vendas; na Concepção,
Criação e Produto e na Planificação, Distribuição e Controlo. O
primeiro serviço diz respeito à interpretação dos dados sobre a
matéria fornecidos pelo cliente e aconselhálo no estudo dos problemas
relativos aos produtos ou serviços; o segundo a concepção em termos
gerais do programa de acção e dos temas publicitários, procurando a
sua expressaão e argumentação para todos os meios: gráficos,
redactoriais, sonoros, audiovisuais,etc; o terceiro obriga a que a
Agência possua um conhecimento profundo e actualizado dos diferentes
meios e suportes publicitários, de modo a definir com base nesses
conhecimentos, a estratégia de meios mais adequada e distribuir
judiciosamente a publicidade (Gomes, 1991).
As cinco principais áreas da Agência são: o Contacto, a Investigação
ou Estudos, o Criativo e os Meios. A área do Contacto é responsável
pelos contactos com o anunciante e pelas instruções a dar aos serviços
técnicos, digamos que faz a ponte entre o cliente e a Agência; a área
dos Estudos efectua inquéritos por sondagem, estudos de motivação,
estudos de meios e suportes,etc; a área de Criativo consagrase à
concepção e execução da mensagem publicitária, a área do Planeamento é
responsável por gerir a campanha em termos do orçamento, tempo e meios
existentes; a área dos Meios é responsável pela escolha de canais
publicitários (sejam eles a rádio, televisão, jornais, revistas,
outdoor,etc).
METODOLOGIA
Procedemos inicialmente, e em simultâneo, à exploração bibliográfica
do tema, à assistência de conferências, e a uma aproximação ao meio
publicitário. Assim, consultamos diversas obras relativas à
publicidade e contactamos directamente com publicitários e com
psicólogos e outras figuras afectas profissionalmente ao sector.
Do processo atrás descrito e da definição explícita dos objectivos já
referidos, resultou a identificação de um conjunto de variáveis que
nos permitiu um melhor conhecimento dos problemas em questão, a
definição da amostra a estudar, a possibilidade de formular
fundamentadamente algumas hipóteses que nos pareceram pertinentes e,
com estes elementos, desenhar um instrumento caracterizado por
pretender agir a varios níveis: o da confirmação/infirmação de
hipóteses (investigação cientíica), o da caracterização demográfica de
uma população relativamente desconhecida e o da divulgação/transmissão
das áreas/competências dos psicólogos.
Amostra
Seleccionámos, pelo método da urna, 33 Agências de publicidade de um
total de 74 identificadas na área do Grande Porto. Destas, 4
recusaramse a responder, 6 não chegaram a responder e 7 haviam sido
encerrads entretanto. O questionário foi dirigido aos Directores das
Agências de Publicidade, pois concluimos que estes seriam os sujeitos
mais indicados para o efeito visto possuirem amplos conhecimentos na
área da publicidade, uma significativa experiência profissional e
ocuparem um cargo importante na definição e gestão das políticas da
empresa.
Construção do Instrumento
Numa 1ª fase, o instrumento utilizado teve como orientação um estudo
realizado em Espanha na área do Marketing Social (Berenguer, et al,
n.d.). Posteriormente procurámos adaptar o instrumento aos objectivos
tendose operacionalizado as hipóteses. A seguir, submetemos o
instrumento a um préteste em 3 Agências da Publicidade seleccionadas
aleatoriamente.
Resumidamente, o questionário (ver anexo1) é constituido por duas
partes:
1.
Caracterização da amostra
a) relativa às Agências de Publicidade (Designação Social, Número de
Trabalhadores, Data de Fundação, Nacionalidade, Descrição Sumária da
Actividade da Empresa);
b) relativa aos Directores das Agências de Publicidade (Idade, Sexo,
Habilitações Académicas, Antiguidade na Agência, Cargo Ocupado).
2.
Avaliação das percepções dos Directores das Agências de Publicidade
relativamente :
Aos psicólogos, às áreas de intervenção dos psicólogos, ao tipo de
relação profissional de contacto com os psicólogos e respectiva
avaliação subjectiva, às áreas da actividade publicitária onde teria
interesse a participação dos psicólogos e avaliação subjectiva do
valor dessa participação, aos conhecimentos e competências dos
psicólogos para trabalhar em publicidade, à utilidade do trabalho dos
psicólogos nas Agências de Publicidade, à actualização dos modelos de
publicidade e à actualização dos conhecimentos cientificos na àrea da
publicidade.
Operacionalização das Hipóteses
Um dos principais objectivos do presente trabalho era averiguar se o
mercado publicitário constituiria uma possível saída profissional para
os psicólogos, pelo que nos pareceu fundamental avaliar as percepções
dos directores das Agências de Publicidade relativamente ao papel que
estes desempenhariam como profissionais. Pareceunos também necessário
saber que relações e experiências se teriam estabelecido já e como se
caracterizariam. Explorámos ainda a implantação dos psicólogos nas
Agências de Publicidade. Indagámos no sentido de saber como é feita a
actualização dos modelos de publicidade bem como a actualização dos
conhecimentos cientíicos na área de Psicologia.
Descrevemos a seguir os objectivos e hipóteses subjacentes a cada
questão e como estas se articulam entre si.
Na questão 1 colocámos uma pergunta aberta, procurando evitar
enviesamentos, de modo a avaliar a percepção que os Directores das
Agências de Publicidade têm dos psicólogos. Efectuamos a seguir uma
anáise de conteúdo.
Na questão 2 procuramos identificar quais as áreas tradicionais de
intervenção dos psicólogos que os Directores das Agências de
Publicidade consideram mais importantes. Fizemos uma listagem de
actividades dos psicólogos e a seguir pedimos aos inquiridos que
assinalassem as 5 mais importantes. Os dados recolhidos destinaramse
a ser analisados descritivamente (qualitativa e quantitativamente).
Na questão 3 procuramos avaliar a diversidade dos contactos
profissionais que os Directores das Agências de Publicidade
estabeleceram com os psicólogos bem como a sua respectiva valorização,
através de uma tipologia das áreas tradicionais de intervenção em
Psicologia. Pretendemos desta forma descriminar, quantificando, os
tipos de relações profissionais estabelecidas e o grau de satisfação
resultante desse contacto. Os dados recolhidos foram sujeitos a uma
análise descritiva e correlativa.
Um outro objectivo definido à partida foi o de que este trabalho
pudesse, de alguma forma, vir a poder contribuir para o enriquecimento
do Curso de Psicologia e/ou para apoiar os alunos interessados na
problemática da publicidade quanto à escolha e investimento pessoal
noutras oportunidades de formação complementares alternativas.
Assim, nas questões 4 e 5 procurámos , respectivamente, que os
inquiridos referissem em qual das principais áreas de actividade
publicitária teria interesse a participação do psicólogo e qual o grau
desse interesse e ainda, determinar quais os conhecimentos e
competências que os psicólogos deveriam possuir para poderem trabalhar
na área da publicidade. Os dados recolhidos do questão 4 foram
sujeitos a uma análise descritiva e correlativa, enquanto que os do
questão 5 foram sujeitos a uma análise de conteúdo.
Na questão 6 procurámos explorar a actual implantação dos psicólogos
nas Agências de Publicidade. Perguntámos aos inquiridos se possuiam ou
possuiram psicólogos a trabalhar nas Agência, quantos, em que funções
e durante quanto tempo. Os dados recolhidos foram sujeitos a uma
análise descritiva e correlativa.
A operacionalização das nossas quatro hipóteses iniciais foi
conseguida pela combinação e relacionamento das questões 3, 4 e 6:
H1
: Esperamos que exista uma corrrelação positiva e significativa entre
as avaliações que os Directores das Agências de Publicidade fazem dos
seus contactos com os psicólogos (questão3), e os valores que atribuem
à participação dos psicólogos nas actividades publicitárias(questão
4).
H2
: Esperamos que a diversidade dos contactos profissionais tidos pelos
Directores das Agências de Publicidade com psicólogos (questão 3)
esteja positivamente correlacionada com o número de áreas da
actividade publicitária onde teria interesse os psicólogos intervirem
(questão 4).
H3
: Esperamos que a avaliacao dos contactos profissionais com psicologos
pelos Directores das Agencias de Publicidade (questão 3) esteja
positivamente correlacionada com o numero de psicologos a trabalhar
nas agencias (questão 6)
H4
: Esperamos que a diversidade de contactos dos Directores das Agencias
de Publicidade com os psicologos (questão 3) esteja positivamente
correlacionada com o numero de psicologos a trabalhar nas
agencias.(questão 6).
As questões 7 e 8 são constituidas por perguntas fechadas onde se
pretende que os inquiridos se posicionem face à utilidade da
Psicologia e dos psicólogos nas suas Agências.Estas questões surgem do
aparente paradoxo observado, cujas razões tentamos aqui investigar,
resultante da evidência que emergiu da bibliografia consultada e dos
contactos com agentes ligados ao meio publicitário de que, não
obstante a Psicologia ser amplamente utilizada nas Agências de
Publicidade, estas quase não possuem psicólogos nos seus quadros. Os
dados recolhidos foram sujeitos a uma anaáise descritiva e
correlativa.
Nestas questões operacionalizámos as outras nossas duas hipóteses:
H5
: Esperamos que os Directores das Agências de Publicidade considerem
que a Psicologia é importante para a Publicidade (questão 7).
H6
: Esperamos que grande parte dos Directores das Agências de
Publicidade embora reconhecam a importância da Psicologia (questão 7),
não reconhecam a utilidade dos psicólogos (questão 8).
As questões 9 e 10 exploraram, respectivamente, a existência ou não de
modelos de publicidade e de actualização dos conhecimentos cientificos
na área da Psicologia. Procurámos aqui, de alguma forma, confrontar os
inquiridos, sugerirlhes, uma relação entre a Publicidade e o
aproveitamento da produção de conhecimentos na área do comportamento
humano. As questões foram constituidas por perguntas abertas e os
dados recolhidos foram sujeitos a uma análise descritiva.
Administração do Instrumento
A aplicação do questionário obedeceu ao seguinte faseamento:
a) contacto telefónico a fim de indagar a disponibilidade de resposta;
b) confirmação telefónica da declaração de disponibilidade; c) entrega
em mão da carta de apresentação (ver anexo) e do instrumento na
Agência de Publicidade; d) recolha do instrumento após confirmação
telefónica do seu preenchimento.
Apresentação e discussão dos Resultados
Após terem sido efectuados todos os contactos e se ter alcançado o
prazo limite de entrega dos questionários preenchidos, da população de
33 agências contactadas conseguiramse obter dados válidos a partir de
cerca de 50 % daquelas por motivos vários:
Nº Agências
%
Agências que responderam
16
48 %
Agências que se recusaram a responder/que não devolveram o
questionário
10
30 %
Agências que cessaram o funcionamento
7
22 %
Agências contactadas
33
44.5 %
Agências no grande porto
74
100 %
Inevitavelmente, não se puderam, como é óbvio, tratar os
questionários que iriam ser entregues às 7 agências cujo funcionamento
cessou. Contudo, foi inesperado o número de agências que se recusaram
a preencher ou não entregaram o questionário. Se bem que as primeiras
foram explícitas, as segundas, em virtude de não recusarem o
preenchimento do questionário, mantiveramnos em suspenso até a data
limite de entrega ser atingida. Tal deveuse fundamentalmente, e
segundo o que nos foi dito, à constante ausência dos Directores das
Agências (inquiridos) ou à sua falta de disponibilidade.
Passamos assim a efectuar uma análise, em primeiro lugar, de dimensões
várias relativas aos sujeitos que responderam ao instrumento e, em
segundo lugar das características das agências de publicidade.
Poderseá, de seguida, proceder à análise das várias questões do
instrumento (estudo propriamente dito) e relações entre estas tendo em
vista, entre outros objectivos, validar ou refutar as Hipóteses do
presente estudo.
Sujeitos
Do conjunto de 16 agências, 63% dos inquiridos eram do sexo
masculino, 25% do sexo feminino, e 12% não definiram o seu sexo (Fig.
1). à semelhança de muitos outros cargos de chefia no nosso país, os
Directores Gerais das Agências de Publicidade são maioritariamente
homens (Ministério do Emprego e de Segurança Social, 1993, p.130).
[grafic1.gif]
Fig. 1: Distribuição dos Inquiridos segundo o Sexo.
No que diz respeito à idade dos sujeitos (fig. 2), a sua idade média é
de 40 anos. Se atentarmos ao desvio padrão desta amostragem etária (SD
= 8.17) conseguimos concluir que nem todas as idades estão
concentradas em torno da medida de tendência central em questão, sendo
os grandes responsáveis, valores etários altos como 53 e 50 anos de
idade e valores baixos como 23 e 28 anos.
[grafic2.gif]
Fig.2 : Distribuição etária dos Entrevistados (Directores Gerais das
Agências)
Não se conseguiu estabelecer um ou mais tipos de formação que fossem
característicos desta população de Directores de Agências
Publicitárias (DAP), uma vez que praticamente todos os inquiridos
tinham uma formação distinta, a qual ia desde o 11º ano, passando por
licenciaturas incompletas, à formação universitária no estrangeiro. No
entanto, as formações em Design, Marketing e Publicidade foram as mais
frequentes.
Agências de Publicidade
Passando à caracterização das Agências, a primeira dimensão
considerada é o número de trabalhadores (fig. 3), com uma média de
10.6 trabalhadores por agência. Surgem agências com 2 ou mesmo 24
trabalhadores que justificam um desvio padrão alto como é o desta
amostra para a distribuição do número de trabalhadores (SD = 5.52).
Das 16 agências, duas (12.5%) não nos facultaram este tipo de dados.
[ grafic3.gif]
Fig. 3: Distribuição do Nº de Trabalhadores das Agências.
Com base nas 16 agências finais, conseguiuse estabelecer uma
antiguidade média das Agências de sensivelmente 13 anos, se bem que
alguns valores estejam bastante afastados da média (SD = 12.6). Uma
única agência, por exemplo, demonstrou estar bastante distante da
antiguidade média, com os seus 52 anos.
Por sua vez, os Directores das Agências de Publicidade estão a
trabalhar nas respectivas Agências, em média, há cerca de 7.5 anos,
embora alguns tenham integrado as agências apenas há 1 ano (se bem que
uma delas tenha iniciado também o seu funcionamente há apenas 1 ano),
e outros já tenham esse cargo há 15 e mesmo 17 anos. (SD = 5).
Antiguidade das Agências:
Média: 13 anos
SD: 12.6
Antiguidade dos Directores nas Agências
Média: 7.5 anos
SD: 5
Quadro A.
A última análise a efectuar à Agência disse respeito à eventual
relação existente entre antiguidade das Agências e Antiguidade dos
Directores na Agência. Além de estudarmos separadamente estas duas
variáveis (quanto à sua média e desvio padrão) tentamos estabelecer
uma correlação entre si, num esforço de validar os nossos pressupostos
iniciais (de que os Directores Gerais constituiriam os sujeitos com
maior experiência e vivência do contexto publicitário das Agências)
relativamente à adequação dos Directores Gerais de Agências de
Publicidade ao preenchimento do instrumento deste estudo e,
consequentemente, ao fornecimento de dados válidos relativos a todas
as temáticas abordadas.
Deste modo, tentamos observar se, efectivamente, os Directores das
Agências de Publicidades eram trabalhadores que acompanhavam o
funcionamento das Agências desde os seus primórdios (prolongada
vivência deste contexto, inserida ou não num cargo de chefia) ou se,
pelo contrário, surgiam neste cenário há relativamente pouco tempo.
[ grafic4.gif]
Fig. 4: Antiguidade das Agências e correspondente Antiguidade dos
Directores nas Agências..
Com a observação da fig. 4 e com a análise da correlação estabelecida
(r = .473) entre as duas variáveis em questão podemos afirmar, embora
sem muita segurança, que é frequente que os Directores estejam nas
respectivas agências, desde a sua formação, o que apoia os nossos
pressupostos de escolha do tipo de sujeitos a administrar o
questionário deste trabalho.
No entanto, o valor da correlação é de cerca de .473, uma vez que está
comprometido pelas duas situações singulares que se podem observar na
figura 4. De facto o valor da correlação seria bastante diferente se
não fossem incluidos os dados das Agências A e F.
Convém salientar que esta análise é aplicável apenas aos casos em que
as Agências não tenham um tempo de vida muito elevado. Como é óbvio,
seria muito difícil encontrar um Director, por exemplo, na Agência A,
que trabalhasse nesta há 52 anos. Não nos podemos esquecer, contudo,
que neste caso, o facto de o Director estar presente no contexto há
pelo menos 12 anos (tempo suficiente para adquirir alguma
experiência), valida a sua contribuição para este trabalho.
Questionário
Passaremos agora a expôr e comentar os dados obtidos em cada uma das
questões do instrumento. Além de uma análise fundamentalmente
descritiva e exploratória, tentaremos validar ou refutar as hipóteses
do nosso estudo e que foram já descritas e fundamentadas na
Introdução.
Questão 1.
Quando fizemos a pergunta "O que é, para si, um Psicólogo?" aos
inquiridos, obtivemos um grupo bastante extenso do que denominamos de
"Categorias semânticas". A análise de conteúdo efectuada conduziunos
assim, às afirmações que estão expostas no Quadro B.
é nítido, ao explorar este quadro, que a categoria "Indivíduo com
formação universitária em Psicologia" é a mais representativa da
população, já que às concepções do que é um Psicólogo de 50% dos
sujeitos. Com a excepção das duas categorias elicitadas por 31% dos
inquiridos, as restantes percepções não são, de modo algum,
representativas (apenas um sujeito para cada uma). No entanto,
poderemos considerar aquelas categorias como informação que comprova a
variedade de percepções que existem nesta população acerca do que é o
Psicólogo.
O Que é Um Psicólogo?
* "Indivíduo com com formação universitária em Psicologia".
8 / 16 ( 50 %)
* "Alguém que analisa o ser humano na sua complexidade e
subjectividade".
5 / 16 (31.25 %)
* "Alguém que compreende e tenta ajudar os outros".
5 / 16 (31.25 %)
* "Alguém que pode ajudar a sociedade a conhecerse melhor a si
própria".
1 / 16 (6.25 %)
* "Profissional vocacionado para estudar o indivíduo na sociedade".
1 / 16 (6.25 %)
* "Abre cabeças".
1 / 16 (6.25 %)
* "Formador".
1 / 16 (6.25 %)
* Sem qualquer resposta
2 / 16 (12.5 %)
Quadro B: Categorias semânticas de resposta à pergunta "O Que é um
Psicólogo?", e nº de indivíduos que elegeram essa categoria
Questão 2:
Nesta questão não foram sugeridos pelos sujeitos outras áreas de
intervenção do Psicólogo além das já préestabelecidas por nós e
enumeradas no instrumento.
Após o cálculo das percentagens de escolha das várias áreas para o
conjunto dos inquiridos chegouse aos resultados descritos na fig. 5.
[ grafic5.gif]
Fig. 5: Percentagens de escolha das várias áreas de intervenção do
Psicólogo.
Legenda:
Recrutamento e selecção de pessoal
Saúde mental
Investigação
Educação
(Educação)
Orientação vocacional/profissional
Toxicodependência
Empresa
Formação
Serviços sociais
Delinquência
Marketing
Centros de saúde/hospitais
Consulta psicológica
Tribunais
Relações públicas
Podese constatar que duas áreas de intervenção conseguiram aglomerar
a grande parte dos sujeitos: o "Recrutamento e Selecção do Pessoal",
com 94% dos inquiridos, e a "Consulta Psicológica", com 88%. Estas
categorias representam, sem dúvida, os dois tipos de intervenção que a
maior parte dos inquiridos associa ao Psicólogo, e nos quais a
actuação deste é mais importante (constituem, no fundo, duas das
grandes e mais representativas áreas de trabalho deste tipo de
profissionais). Também a "Orientação Vocacional/Profissional"
constitui uma das grandes e mais conhecidas linhas de força da
intervenção do Psicólogo, o que igualmente apoia o facto de 63% dos
sujeitos elegerem este tipo de intervenção.
à excepção da "Delinquência", todas as outras categorias foram eleitas
por 6 a 31% dos inquiridos, sendo de realçar, deste grande grupo, os
dois tipos de actuação do Psicólogo que conseguiram conquistar o
"voto" de 44% dos sujeitos; se a "Educação" é uma área pertinente e
comummente aceite como tendo potencialidades para a participação do
Psicólogo, a ampla escolha do "Marketing", como área de importante
actuação do Psicólogo foi, muito provavelmente, influenciada pelo
âmbito e propósito deste mesmo instrumento. De qualquer modo, os
resultados que vão ser descritos posteriormente, não estão
propriamente na linha destes últimos.
Questão 3:
Além das relações profissionais de contacto com Psicólogos
apresentadas à partida no questionário, foi designado apenas um tipo
de contacto na categoria "Outros", nomeadamente a "Formação". Como se
pode observar na fig. 6.a, a "Consultadoria" pode ser considerada como
o contexto de contacto entre Directores das Agências de Publicidade e
Psicólogos mais frequente (50% dos inquiridos tiveram uma ou mais
vezes esse tipo de contacto). Também a "Orientação Vocacional" e
"Selecção de Pessoal" podem ser consideradas como contextos de
contacto profissional frequente com Psicólogos (38% dos inquiridos). é
de salientar que nenhum dos tipos de contacto obteve uma escolha por
parte dos sujeitos inferior a 19% (inclusivé a categoria de
"Formação"), à excepção da "Terapia e Consulta Psicológica", que não
ultrapassou os 13% (2 sujeitos em 16).
[ grafic6.gif]
Fig.6.a: Relações Profissionais de contacto dos inquiridos com
Psicólogos; percentagem de elicitações para cada categoria e avaliação
média de cada tipo de contacto.
No que diz respeito às avaliações destes vários tipos de contactos
pelos sujeitos, o gráfico 6.a elucidanos com a avaliação média de
cada tipo de contacto e a sua relação com as diversas percentagens de
indivíduos a elegerem cada categoria.
é nítido que essas avaliações se dispõe em torno de uma avaliação
média de valor 4 (contacto "Satisfatório").
Convém salientar que a validade estatística de cada valor médio de
tipos de contacto profissional é directamente proporcional ao valor
correspondente de percentagem de escolha desse tipo de contacto, isto
é, a avaliação média de valor 4 para a categoria "Terapia/Consulta
Psicológica", obtida a partir de apenas dois inquiridos não será tão
representativa quanto a avaliação média calculada para a situação de
"Consultadoria", no qual intervieram as respostas (ou avaliações
individuais) de oito sujeitos (50% da amostra total de 16 Agências).
No sentido de avaliar a diversidade de contactos que os Directores das
Agências têm (análise intersujeitos), procedemos à análise que está
exposta na fig.6.b. Com um número de tipos de contacto que vai desde
uma total ausência até contactos de todos os tipos de relação
profissional, a média de tipos de contacto por inquirido é de
aproximadamente 2.5.
Porém, com valores díspares como o zero e sete contactos (SD = 1.7)
podemos alegar que se trata de uma situação extremamente individual,
muito dependente da postura de trabalho do Director da Agência de
Publicidade em relação aos contactos profissionais, das necessidades e
características da agência especialmente a sua cultura e dinâmica de
funcionamento.
énos, no entanto, impossível, definir o número de contactos
efectuados pelos sujeitos em cada tipo de relação profissional, uma
vez que esta questão tem um propósito mais qualitativo (que tipos de
contactos existem) e bastante menos quantitativo (quantos contactos
aconteceram nos diversos tipos de relações profissionais).
[ grafic7.gif]
Fig. 6.b: Diversidade de contactos profissionais com Psicólogos para
cada sujeito. Nº médio de contactos.
Questão 4:
Não há dúvida que nesta questão se conseguiram referir as principais
áreas de actividade publicitária numa agência, uma vez que foram estas
que receberam a maior parte das respostas. Foram sugeridas, na
categoria "Outros", três tipos de áreas de actividade publicitária
onde o Psicólogo poderia participar: "Concepção e Avaliação de
Campanhas", "Estudos de Mercado" e "PréTestes de Impacto dos
Produtos". Contudo, apenas 6 a 13% dos inquiridos as sugeriram (1 e 2
inquiridos). Deste modo, se as compararmos com as categorias de grande
escolha, como a "Investigação/Research" (69%) e o "Contacto" (63%),
(ver fig. 7), elas parecem não ter grande relevância. No entanto, o
facto de terem sido espontaneamente elicitadas (inclusivé, não apenas
uma vez), ao contrário das restantes já enumeradas no instrumento,
atesta a sua importância e representatividade quando pretendemos
definir quais áreas de actividade publicitária os Directores das
Agências de Publicidade pensam serem adequadas à intervenção dos
Psicólogos.
[ grafic8.gif]
Fig.7: áreas de Actividade Publicitária onde teria interesse a
participação do Psicólogo; % de escolha e valor da participação.
Quanto à dimensão de determinação do valor das eventuais participações
dos Psicólogos nas várias áreas de actividade publicitária, podese
observar na fig. 7 que os valores médios de participação em cada uma
das áreas de actividade parasitam em torno do valor 4 (a participação
é "importante"), sendo de realçar o baixo valor de participação dado à
"Produção" (3, pouco importante), que aliás foi escolhida por poucos
inquiridos (30%) como área receptora da participação de Psicólogos, e
o alto valor que coube à participação do Psicólogo nos "prétestes de
impacto dos produtos" (5 muito importante). Contudo, é necessário
salientar que este último valor, assim como aqueles alcançados pelas
outras duas áreas de actividade publicitária elicitadas
expontaneamente na categoria "Outros", é motivado por, em primeiro
lugar, ser calculado a partir de um baixo número de respostas (em
comparação com as outras categorias) e logo não representar tão
fielmente a posição dos global dos sujeitos da amostra e, em segundo
lugar, basearse num processo mais forte de valorização da
participação, o qual motivou os inquiridos a evocarem estas áreas de
actividade publicitária onde seria útil a participação do Psicólogo.
Poderá dizerse então, que a nível do grupo, serão importantes a
percentagem de escolha de determinado(s) área(s) de actividade
publicitária e correspondente valor médio de participação do
Psicólogo, enquanto que a nível individual (e mais concretamente no
caso dos indivíduos que elegeram as três áreas da actividade
publicitária não incluídas à partida) será decisivo o valor de
participação definido pelo(s) inquirido(s), além de, como é óbvio, a
evocação espontânea de uma área de actividade diferente das já
apresentadas.
Isto tudo, claramente, faz sentido se pensarmos em termos de definição
das áreas que, neste contexto especíico, serão receptivas à nossa
participação e a profissionais com uma formação em Psicologia.
Uma vez tratadas os dados das questões 3 e 4, podese agora fazer
referência às hipóteses do nosso estudo que têm a ver com estas duas
questões (as Hipóteses 2 e 3).
Quanto à Hipótese 2, verificamos a existência de uma correlação
positiva mas muito baixa (r = .11) entre as avaliações individuais que
os Directores das Agências de Publicidade fazem dos seus contactos com
Psicólogos e ois valores que atribuem à participação destes nas
diversas actividades publicitárias. Assim, não parece que a variação
de uma variável seja concomitante com a variação da outra, o que era o
nosso pressuposto.
A Hipótese 3 foi igualmente refutada, já que a correlação entre as
variáveis "número de tipos de contacto profissional com Psicólogos por
cada inquirido" e "número de áreas de actividade publicitária de
participação do Psicólogo, eleitas por cada inquirido" foi quase nula
(r = .155). Não pareceu que um maior número de situações profissionais
distintas de contacto com o Psicólogo, por parte dos Directores das
Agências de Publicidade, fosse frequentemente acompanhado de um maior
número de áreas distintas de actividade publicitária onde seria útil a
participação dos Psicólogos.
Partimos aqui do princípio que o maior número de tipos de relações
profissionais entre os Directores das Agências de Publicidade e
psicólogos representaria um maior número de contactos qualitativamente
diferentes e iria também traduzirse na tomada de consciência, por
parte dos Directores das Agências de Publicidade, de diferentes
perspectivas inerentes às várias e diversas contribuições que os
Psicólogos deram naqueles mesmos tipos de relações profissionais de
contacto.
Questão 5:
Não há dúvida que na questão 5, onde era suposto os Directores das
Agências de Publicidade designarem alguns dos conhecimentos e
competências necessárias a um Psicólogo para trabalhar em Publicidade,
duas categorias destacaramse fortemente de todas as outras (ver
Quadro C). De facto, cerca de 70% dos inquiridos (11 em 16) afirmaram
ser necessária ter "cultura publicitária e na área do marketing", para
que um Psicólogo pudesse trabalhar com sucesso na Publicidade, assim
como o "conhecimento do mercado / grupos alvo" (conhecimento do
consumidor e história do produto).
Podemse também referir outras categorias como "Psicologia do grupo e
das massas / sociologia" (31 %) e "Contactos com os Clientes",
conhecimentos / competências na área da "Redacção e Grafismo/Design" e
"Capacidade de planeamento / Gestão" que foram evocadas por 25% dos
sujeitos.
Conhecimentos e Competências do Psicólogo para trabalhar em
Publicidade
* Cultura publicitária e na área do Marketing
11 / 16 (69 %)
* Conhecer o mercado / grupos alvo
11 / 16 (69 %)
* Psicologia do grupo e das massas / sociologia
5 / 16 (31 %)
* Contactos com os clientes
4 / 16 (25 %)
* Redactor e grafismo / design
4 / 16 (25 %)
* Saber planear / Gestão
4 / 16 (25 %)
* Criatividade
3 / 16 (19 %)
* Comunicação
3 / 16 (19 %)
* Definição de comportamentos e atitudes
3 / 16 (19 %)
* Departamento financeiro, secretariado e gerente
1 / 16 (6 %)
* Bom senso
1 / 16 (6 %)
* Metodologias de investigação
1 / 16 (6 %)
* Psicologia da Motivação
1 / 16 (6 %)
* Psicologia da Percepção
1 / 16 (6 %)
* Ciência política
1 / 16 (6 %)
* Técnicas de negociação
1 / 16 (6 %)
* Semiótica
1 / 16 (6 %)
Quadro C: Conhecimentos e Competências elicitados pelos inquiridos e
respectivas percentagens de escolha
Apesar das categorias referidas serem as mais representativas,
estatisticamente, todas as outras são também muito importantes, no
sentido de se conseguir elaborar um conjunto amplo e válido de
competências/conhecimentos "chave" para todo o Psicólogo, e mesmo
profissional de outra área do saber, que pretenda trabalhar em
Publicidade.
Questão 6:
Com esta questão pretendeuse, ao contrário das anteriores, abordar a
situação concreta das agências, sua realidade organizacional, mercado
de trabalho efectivo, etc. (e não o modo de pensar do Directores das
Agências de Publicidade e suas contribuições para os objectivos deste
trabalho).
é uma realidade bastante nítida o facto de, no presente, nenhuma das
agências estudadas ter um psicólogo no grupo dos seus trabalhadores
(ver fig. 8). Válidas ou não, as justificações deste fenómeno
prenderamse com o facto de se tratarem de empresas familiares e/ou de
dimensões reduzidas (31%) que não tinham suporte para sustentar um
Psicólogo, de lhes faltar capacidade financeira (25%) para tal, ou de
não ser necessário em virtude de recorrerem à consultadoria (25%).
Outra justificação para esta total ausência dos psicólogos nas
agências foi o facto de as agências "não verem a contratação de um
Psicólogo como importante ou prioritário" (25%). De qualquer modo,
houve uma distribuição bastante homogénea dos inquiridos pelas várias
justificações.
Em virtude da total ausência de psicólogos a trabalharem presentemente
nas agências ou apenas contratados por estas a prazo, énos impossível
confirmar ou refutar as Hipóteses 4 e 5, uma vez que uma das variáveis
previstas, para estas, é o próprio número de Psicólogos em situação de
trabalho neste contexto profissional as agências de publicidade.
Contudo, acreditamos que se a situação profissional fosse bastante
diferente, de modo a conseguirmos obter resultados estatisticamente
representativos, ambas as hipóteses se confirmariam, já que, muito
provavelmente, uma alta avaliação dos contactos com psicólogos se
traduziria pela contratação destes para as agências (Hip. 4), e, por
outro lado, a presença dos psicólogos nas agências, enquanto
trabalhadores destas, promoveria diversos contactos, qualitativamente
diferentes, com os Directores das Agências de Publicidade (Hipótese
5).
[ grafic9.gif]
Fig. 8: Penetração actual dos Psicólogos nas Agências / motivos para a
sua ausência.
Relativamente ao trabalho de psicólogos nas agências no passado, a
situação é já um pouco diferente. A penetração dos psicólogos nas
agências nesta situação é já mais positiva e permitenos sermos mais
optimistas. Cerca de 30% das agências (5 em 16) tiveram, no passado,
Psicólogos contratados (fig. 9).
Como se pode observar na fig. 11, as justificações para o facto de
nunca terem trabalhdo psicólogos nas agências são sensivelmente
idênticas às apresentadas na questão anterior, o que, de resto, era já
previsível. A superior percentagem de ausências de justificação para o
facto de nunca terem sido contratados psicólogos prendese com o facto
de muitos inquiridos terem considerado esta justificação
qualitativamente idêntica à da alínea anterior do questionário (fig.
10).
[ grafic10.gif]
Fig. 9: Penetração (no passado) dos Psicólogos nas Agências / motivos
para a sua ausência.
Relativamente às situações em que alguns Psicólogos já trabalharam nas
agências, a fig. 8 demonstranos que a situação não se mantêm no
presente. Então, quais foram os motivos da saída das agências, por
parte dos Psicólogos?
Exceptuando os trabalhadores com contratos de prestação de serviços
que, como é óbvio, não tinham qualquer espécie de vinculação, as
saídas da Agência deveramse a "incompetência na função" ou a
"características pessoais" do psicólogo, ou sucederamse em virtude de
processos de "optimização dos recursos das agências".
Como seria muito interessante definir as funções que os Psicólogos
efectivamente teriam tido nas agências, formulámos também uma questão
que contemplava este ponto. No Quadro D estão sistematizadas essas
mesmas funções. Convém salientar que os dois primeiros tipos de
funções (Selecção dos formandos e Prestação de serviços) estão
incluidos nos contratos de não vinculação à Agência, referidos no
parágrafo anterior.
Funções dos Psicólogos nas Agências
* Selecção de formandos para formação profissional
* Prestação de serviços
* Assistente de marketing
* Contacto
* Research
Motivos de Saída dos Psicólogos
* Contratos de prestação de serviços para trabalhos eventuais
* Incompetência na função
* Características pessoais
* Optimização de recursos
Quadro D.
Questões 7 e 8:
Quando foi perguntado, aos inquiridos, se achavam que a Psicologia é
importante para a Publicidade, todos eles afirmaram que sim. Deste
modo, a Hipótese 7, do presente estudo, foi amplamente confirmada.
No entanto, quando a questão se relacionava com a utilidade de ter
Psicólogos a trabalhar na Agência, os resultados foram bastantes
diferentes dos anteriores. Efectivamente, cerca de 70% dos sujeitos
afirmaram ser útil o contributo laboral de Psicólogos na sua Agência
de Publicidade, enquanto que aproximadamente 20% disse que não achavam
útil. Se bem que a Hipótese 8 afirmasse que uma grande parte dos
inquiridos não reconheceria a utilidade dos Psicólogos nas suas
Agências, ela não é totalmente refutada, sendo apoiada por cerca de
20% dos elementos da amostra.
[ grafic11.gif]
Fig. 10: Importância da Psicologia na Publicidade / Utilidade do
trabalho dos Psicólogos nas Agências.
Um facto importante que não foi previsto na fase inicial do estudo,
mas que agora se manifesta de modo preocupante, diz respeito a uma
análise interindividual que se fez no sentido de diferenciar os
inquiridos que afirmaram não ser útil ter Psicólogos a trabalhar na
Agência e os inquiridos que, na questão 6, alegaram já terem tido
Psicólogos a trabalhar nas suas agências.
Observouse que, de um total de três sujeitos a responderem "não", na
questão 8, todos eles estavam inseridos dentro do grupo de 5
inquiridos que, na pergunta 6, declararam já terem trabalhado
Psicólogos nas agências onde eram Directores. A probabilidade de tal
acontecer é mínima, se tivermos em conta o número total de elementos
da amostra em que os sujeitos em questão estão inseridos.
Face a estas evidências, efectuouse uma nova análise individual, com
o propósito de relacionar, de algum modo, os sujeitos em questão com
as suas respostas ao item "Motivos da Saída dos Psicólogos". De facto,
foram estes sujeitos que justificaram a saída dos Psicólogos com
afirmações como "Incompetência na função" e "Características
pessoais".
Podese concluir que a competência e a postura de trabalho dos
Psicólogos, em questão, foram decisivas para o posicionamento dos
inquiridos na questão 8.
No domínio da justificação das respostas (e resultados) à questão 8, e
atrás largamente caracterizadas, foram construídas, após análise de
conteúdo, um conjunto de categorias que englobam todos os motivos
pelos quais a "Psicologia é importante para a publicidade" (item 7) e
"é/não é útil ter Psicólogos a trabalhar nas Agências" (item 8). (Ver
Quadro E)
Destaquese o "Apoio ao conhecimento, avaliação e previsão do
comprador / consumidor", categoria esta partilhada por quase 38% dos
inquiridos, e que está presente com bastante representatividade nas
duas dimensões de justificação (itens 7 e 8), e "Como fazer chegar a
mensagem ao consumidor" ou "Pesquisar expectativas, necessidades,
motivações e comportamentos dos consumidores" (com 31% e 19%,
respectivamente, nos itens 7 e 8).
Porque é a Psicologia importante para a Publicidade?
* Apoiar ao conhecimento, avaliação, previsão do
comprador/consumidor
37.5 %
* Como fazer chegar a mensagem ao consumidor
31 %
* Criatividade
25 %
* Pesquisar expectativas, necessidades, motivações e comportamentos
dos consumidores
25 %
* Parte integrante da comunicação publicitária
19 %
* Recrutamento de Pessoal
6 %
* Sem resposta
12.5 %
Porque é / não é útil ter Psicólogos a trabalhar na Agência?
* Apoiar ao conhecimento, avaliação, previsão do
comprador/consumidor
25 %
* Pesquisar expectativas, necessidades, motivações e Ks dos
consumidores
19 %
* Como fazer chegar a mensagem ao consumidor
12.5 %
* Análise concreta dos comportamentos
12.5 %
* Parte integrante da comunicação publicitária
6 %
* Não há trabalhos que os exijam
12.5 %
* A agência não reúne os meios para o Psicólogo trabalhar
12.5 %
* Sem resposta
31 %
Quadro E.
A justificação para o valor bastante superior de questionários sem
resposta no item 8, já foi dada, e prendese, fundamentalmente, com o
facto dos inquiridos encararem as justificações do item 8 como
qualitativamente idênticas às do item 7.
No entanto, considerando as respostas à questão 8, dos inquiridos que
acharam útil o trabalho de Psicólogos nas agências de publicidade,
conseguese estabelecer algumas das funções nas quais, na opinião dos
Directores das Agências de Publicidade, os Psicólogos poderiam
trabalhar (fig. 11). Assim, dentro de um conjunto de possíveis
funções/intervenções do Psicólogo numa agência, duas destacamse
fortemente. Sem dúvida, o Psicólogo, na opinião dos Directores das
Agências de Publicidade, deveria intervir na "Investigação/Análise do
Público" (35% dos inquiridos) e na "Criatividade/Dupla Criativa" (30%
de sujeitos), ou mesmo no "Contacto". Este último foi considerado como
uma área de potencial actuação do Psicólogo, tendo os inquiridos
alegado que a formação em Psicologia seria extremamente útil no
processo de criação de uma atmosfera de interesse e simpatia à volta
da Agência e promoção desta ( o "contacto" propriamente dito).
[ grafic12.gif]
Fig. 11: Possíveis funções / intervenções de um Psicólogo numa Agência
de Publicidade, segundo a opinião dos inquiridos
Apesar das duas categorias que se destacam, as opiniões encontramse
bastante distribuídas, demonstrando que a intervenção do Psicólogo
numa agência, não se focaliza, necessariamente, num só momento do
processo publicitário.
Questões 9 e 10
Por último, e para tentar compreender um facto observado inicialmente
neste estudo, e mesmo antes da construção do instrumento, aquando dos
contactos que se tiveram com profissionais ligados a esta área, foram
elaboradas as questões 9 e 10.
Observouse, efectivamente, tanto no estado germinal deste estudo,
como durante todo o processo e até ao presente momento, que haveria
uma discrepância curiosa entre a importância da Psicologia na
publicidade e a importância da contratação de psicólogos para as
agências de publicidade.
Assim, sendo a Psicologia importante, e não existindo a colaboração
laboral dos Psicólogos, deveriam existir situações que explicassem,
justificassem e colmatassem esta divergência.
Tentouse definir essas situações com as questões 9 e 10 do
instrumento do presente estudo, situações essas descritas no Quadro F.
Actualização dos modelos de Publicidade
* Investigação / leitura de revistas de marketing research
25 %
* Colóquios, conferências, feiras internacionais
12.5 %
* Estudo de mercado
12.5 %
* Não há modelos mas sim ideias, instinto e tentativa de inovar
12.5 %
* Apetências do mercado
6 %
* Renovação
6 %
* Empresas americanas de pesquisa duma associação de que fazem parte
6 %
* Constante avaliação de campanhas ou conceitos
6 %
Actualização de conhecimentos cientíicos na área da Psicologia.
* Dados fornecidos por empresas especializadas nesse ramo.
13 %
* Literatura diversa.
13 %
* Não se faz, pelo menos directamente.
13 %
* Falandose com duas ou três pessoas que interessam.
13 %
* Pela formação.
7 %
* Mais à base de sentimentos.
7 %
* Métodos de investigação cientíica:
dedução,experimentação,observação, indução.
7 %
* Padrões comportamentais e estilos de vida dos consumidores actuais
através da empresas americanas de Research.
7 %
* Pesquisas qualitativas do produto e da concorrência.
7 %
Quadro F.
Poderseá dizer que, no que diz respeito à actualização de
conhecimentos cientíicos na área da Psicologia, relevantes para o
processo publicitário, quando aquela acontece, ela fazse através de
"dados fornecidos por empresas especializadas neste ramo" e
"literatura diversa". No entanto, é prática comum as Agências
funcionarem com base em sentimentos e intuições, através de contactos
estratégicos com indivíduos detentores de uma ou outra competência ou
um conjunto importante de conhecimentos e/ou experiências, e,
inclusivé, sem o acesso à informação cientíica, sistematizada,
pertinente e actualizada, no ramo da Psicologia ou, pelo menos, nas
áreas desta que possam contribuir mais activamente para o processo
publicitário.
CONCLUSãO
Este trabalho constituiu um estudo preliminar, onde se procurou fazer
uma análise das percepções e crenças dos Directores Gerais das
Agências de Publicidade sobre a importância da Psicologia e dos
Psicólogos, quer para a Publicidade quer para as Agências.
Como pudemos observar, a percepção que os inquiridos têm sobre os
Psicólogos remetenos para noções conhecidas. Por um lado, o Psicólogo
emergiu como sendo aguém com formação superior, capaz de ouvir,
compreender e ajudar os outros e, por outro lado, o de alguém dotado
de grande capacidade de análise do ser humano na sua complexidade e
subjectividade. Esta última percepção parece vir de encontro às nossas
expectativas, pois encaminhase para a noção de Psicólogo enquanto
investigador, isto é, alguém capaz de perceber o modo de funcionamento
do individuo e da sua relação com o mundo. Por outro lado, no que diz
respeito às áreas de intervenção do Psicólogo, constatámos que as
categorias "Recrutamento e Selecção de Pessoal", "Consulta
Psicológica" e "Orientação Vocacional/Profissional" se destacaram
significativamente das restantes. Estas respostas traduzem,
provávelmente, a actual implantação profissional que os Psicólogos já
vão tendo nestas áreas. O que nos surpreendeu foi a ampla escolha do
Marketing como área de importante actuação do Psicólogo. Não podemos
afirmar que esta resposta prove a necessidade real dos Psicólogos
intervirem nesta área, pois poderá ter sido influenciada pelo âmbito e
propósito deste estudo.
No entanto, verificouse que muitos dos inquiridos tinham tido
contacto com Psicólogos em prestação de serviço de Consultadoria. Esta
seria uma das explicações para não terem um Psicólogo a trabalhar a
tempo inteiro. Como a Selecção e Recrutamento de Pessoal constitui
também um dos contactos mais referidos, somos levados a concluir que
estas serão, provavelmente, soluções vantajosas para necessidades
pontuais das Agências.
Verificámos que os inquiridos apontaram como principais áreas de
actividade publicitária, onde teria interesse a participação do
Psicólogo, a Investigação e o Contacto. Relativamente ao Contacto,
pensamos que esta posição se deve à percepção que os inquiridos têm
das competências de relacionamento interpessoal habitualmente
atribuidas aos Psicólogos (negociação, persuasão, empatia,
comunicação). Quanto à Investigação, parece confirmarse a importância
do papel do Psicólogo na aplicação dos seus conhecimentos cientificos
sobre o ser humano, tendo em conta aspectos da problemática da
Publicidade (motivações, valores, crenças, estereótipos, atitudes,
etc.). Também foi referido o interesse noutras áreas de intervenção,
como a "concepção e avaliação de campanhas", os "estudos de mercado" e
os "prétestes de impacto dos produtos". De algum modo, estas últimas,
vêm também de encontro à perspectiva do Psicólogo enquanto
investigador.
Aparentemente não parece haver interdependência recíproca entre as
avaliações que os Directores Gerais das Agências de Publicidade fazem
dos seus contactos com os Psicólogos e os valores que atribuem aos
mesmos nas actividades publicitárias. Estes resultados vieram infirmar
a hipótese de que haveria uma correlação entre as experiências com
Psicólogos, pelos inquiridos, e a valorização atribuida à participação
dos Psicólogos nas Agências. Os mesmos resultados são verificados
quanto à diversidade de contactos, pois estes não interferem na
escolha das áreas de actividade publicitária onde teria interesse a
participação do Psicólogo, contráriamente ao que nós esperávamos.
No que respeita aos conhecimentos e competências do psicólogo para
trabalhar em Publicidade, as respostas foram bastante acentuadas
quanto à importância de conhecimentos em "Cultura publicitária e
Marketing" e "Conhecer o mercado/gruposalvo", seguidos de "Psicologia
do grupo e das massa", "Contactos com clientes", "Redactor/Design" e
"Planeamento/Gestão". Estas respostas fazendonos pensar que ser
licenciado em Psicologia não um dado muito importante. O que parece
fundamental para um psicólogo trabalhar em Publicidade é ter
conhecimentos e competências especíicas de Publicidade e Marketing.
Daqui, parecenos plausível concluir que quando os inquiridos
respondiam ser importante ter um psicólogo a trabalhar na Agência,
isto se devia a um fenómeno de desejabilidade social, pois nós eramos
psicólogos. Isto também levanta a questão de que, se os psicólogos
querem penetrar nesta faixa de mercado, terão que ter formação nas
áreas citadas pelos inquiridos ou então, darse uma grande mudança na
percepção que os publicitários têm do psicólogo.
Conforme esperávamos, confirmouse a nossa hipótese de que a
Psicologia seria importante para a Publicidade. De facto, a totalidade
dos inquiridos está de acordo relativamente a este ponto, o que é
amplamente suportado quer pela literatura, quer pelos contactos com
diversas figuras ligadas ao meio. Os inquiridos justificaram a
importância da Psicologia dando especial relevância ao papel que esta
teria no apoio ao conhecimento, avaliação e previsão do consumidor, na
transmissão de mensagens ao mesmo, na criatividade, na pesquisa de
expectactiva, necessidades, motivações e comportamentos dos
consumidores e como parte integrante da actividade publicitária.
Um dado aparentemente pertinente e dissonante é o facto dos inquiridos
que tiveram experiências negativas com Psicólogos, categorizadas como
" incompetência profissional" e " características pessoais daqueles
Psicólogos", não acharem útil a participação dos Psicólogos nas suas
Agências. Daqui podemos supôr que o que mais parece pesar
relativamente à percepção da utilidade dos Psicólogos nas Agências são
as experiências negativas, apesar de justificarem a audência destes
pela "falta de trabalho" e "carência de meios e recursos para os
Psicólogos poderem trabalhar.".
Os inquiridos que acham ser útil ter Psicólogos a trabalhar nas
Agências justificaram as suas respostas pelas mesmas razões apontadas
quanto à importância da Psicologia para a Publicidade. Pensamos que
isto se deveu à dificuldade na definição e descriminação do papel e
competências dos Psicólogos no meio onde não parecem terse afirmado
ainda. Pensamos destacarse aqui também a ideia de que os inquiridos
não possuem uma percepção clara das tarefas que um Psicólogo poderia
desempenhar numa Agência de Publicidade.
Dos inquiridos que acham poder ser útil o trabalho dos Psicólogos nas
Agências de Publicidade destacaramse duas funções que, na sua
perspectiva, os Psicólogos poderiam desempenhar: a
investigação/análise do público e a criatividade/dupla criativa. Não
obstante termos identificado estas duas tendências, as opiniões
encontramse bastante distribuidas, o que nos leva a pensar que, por
um lado, a eventual intervenção dos Psicólogos não se deverá
restringir apenas a um determinado momento do processo publicitário e,
por outro, que os inquiridos, como se refere atrás, não possuem uma
percepção clara das tarefas que se poderia atribuir a um Psicólogo.
A actualização dos modelos parece ser feita de diversas maneiras,
utilizando diversos meios, como o recurso à investigação informal por
intermédio de revistas da especialidade, os colóquios, as
conferências, as feiras internacionais, a constante avaliação de
campanhas e conceitos, e o recurso a empresas de pesquisa.
No que diz respeito à actualização dos conhecimentos cientificos na
área da Psicologia, poderseá dizer que, quando ela acontece, se faz
através de empresas especializadas e de literatuara diversa. A amostra
observada revelou que a maioria dos seus elementos não tem acesso a
informação cientifica na área da Psicologia de forma sistematizada
pertinente e actualizada. Parecenos legítimo apontar este facto como
uma das razões ligadas à dificuldade na definição e descriminação do
potencial da intervenção dos Psicólogos no sector publicitário.
Como última análise podemos dizer que a nossa amostra não era
representativa o que nos coloca algumas reservas quanto à extrapolação
de conclusões. Este facto deveuse à grande mortalidade experimental,
fraca adesão dos Directores caracterizada pela ausência dos mesmos ou
por alegada falta de tempo.
Uma das limitações do nosso estudo consiste no facto de não termos
pedido aos inquiridos que nos fizessem a caracterização da Agência em
termos de àreas de actuação. Este dado mostrouse mais tarde
importante, pois davanos uma melhor sistematização das Agências, o
que seria de considerar para a elaboração de futuros estudos.
Quanto ao facto de nestas dezasseis Agências não haver nenhum
psicólogo a trabalhar (exceptuando um dos Directores Gerais, mas que
no inquérito responde negativamente à Questão 6), levanos a concluir
que este mercado de trabalho ainda se encontra vedado aos psicólogos.
No entanto, estes resultados não negam que um psicólogo com alguma
formação em cultura publicitária não seja uma aquisição importante
para as Agências. Achamos que deviam ser feitos mais estudos neste
sentido e abarcando outros mercados de trabalho de interesse.
Bibliografia:
Baudrillard, J. (1991). A sociedade de consumo. Arte e Comunicação.
Edições 70.
Berenguer, G., Quintanilha, I., & Diaz, R. (1988). La imagen del
psicólogo en la ciudad de Valencia. umestudio preliminar desde la
perspectiva del marketing social. área de Psicologia Social.
Universidade de Valencia, 1988.
Dubois, B. (1993). Compreender o Consumidor. Publicações Dom Quixote.
Gomes., A,. S. (1991). Publicidade e Comunicação. Textos de gestão.
Grupo Maccann. Texto Ed.
Joannis, K, Maas, J (1988). O processo de criação publicitária .
Edições Cetop.
Leyens, J. P. (1979). Psicologia Social. Edições 70.
Quintanilla, I., Diaz, R., Berenguer, G, & Zapata, L. (n.d.). áreas se
intervención y desarrollo del marketing social. (n.d.)
Roman, K. & Maas, J. (1991). Como fazer publicidade. Um manual para o
anunaciante. Editorial presença.
Victoroff, D. (1972). Psicologia da Publicidade. Moraes Editores.
Vala, J.; Monteiro, M.B. (1993). Psicologia Social. Fundação Calouste
Gulbenkian.
_________________________________________________________________
Anexo 1
"Questionário"
FACULDADE DE PSICOLOGIA E CIêNCIAS DA EDUCAçãO
UNIVERSIDADE DO PORTO
Nas folhas seguintes vai encontrar algumas questões relativamente à
Psicologia e seus profissionais, bem como questões ligadas à
Publicidade. Pedimoslhe que leia com atenção e responda a todas as
questões. As respostas serão analisadas grupalmente. Se preferir pode
manter anonimato.
Agência:
Designação Social (facultativo):
____________________________________________
Número de trabalhadores:
________________________________________________
Data de fundação:
______________________________________________________
Nacionalidade:
________________________________________________________
Descrição sumária da actividade da empresa:
__________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
Inquirido:
Nome
(facultativo):______________________________________________________
Idade:______ Sexo:_______________
Habilitações
Académicas:__________________________________________________________
Antiguidade na Agência:
_________________________________________________
Cargo que
ocupa:_______________________________________________________
Questões
1.
O que é, para si, um Psicólogo? (3 frases no máximo)
a.
_______________________________________________
b.
_______________________________________________
c.
_______________________________________________
2.
Das seguintes áreas de intervenção, assinale as 5 onde, na sua
opinião, é mais importante a actuação do psicólogo:
No recrutamento e selecção de pessoal ____
Na saúde mental ____
Na investigação ____
Na educação ____
Na orientação vocacional/profissional ____
Na toxicodependência ____
Na orientação vocacional/profissional ____
Na toxicodependência ____
Nos serviços sociais ____
Na delinquência ____
No marketing ____
Nos centros de saúde/hospitais ____
Na consulta psicológica ____
Nos tribunais ____
Em relações públicas ____
Outros: ___________________________________________________________
__________________________________________________________
3.
Através de que tipo de relação profissional contactou com um ou mais
Psicólogos e como avalia esse(s) contacto(s)? (coloque (X) onde achar
mais correcto):
Muito Satisf.
Satisf.
Indiferente
Insatisf.
Muito Insatisf.
Terapia/consulta psicológica
Aconselhamento
Orientação vocacional
Orientação profissional
Selecção de pessoal
Contactos dentro da empresa
Consultadoria
Outros: _________________
_______________________
4.
Em que área(s) da actividade publicitária teria interesse, na sua
opinião, a participação do Psicólogo, e qual o valor dessa
participação? (assinale com (X) onde achar mais correcto):
Muito importante
Importante
Pouco importante
Dispensável
Nulo
Contacto
Planeamento
Criatividade
Produção
Investigação
Outros: _________________
5.
Que conhecimentos e competências acha que o Psicólogo deve ter para
trabalhar na área da Publicidade?
a)
__________________________________
b)
__________________________________
c)
__________________________________
d)
__________________________________
e)
__________________________________
f)
__________________________________
g)
__________________________________
h)
__________________________________
i)
__________________________________
6.
Tem, no presente, Psicólogos a trabalhar na Agência? Sim ___ Não ___
Se sim: Quantos? ______
Com que função? _____________________________________________________
Se não, porquê?
____________________________________________________________________
Já teve Psicólogos a trabalhar na Agência? Sim ___ Não ___
Se sim: Quando? ______
Quantos? ______
Com que função? ______________________________________________
Durante quanto tempo? __________________________________________
Se não, porquê?
_______________________________________________________
No caso de já terem trabalhado Psicólogos na Agência, mas a situação
não se verificar no presente, diga os motivos da sua saída:
______________________________________________________________________
_
7.
Acha que a Psicologia é importante para a Publicidade? Sim __ Não __
Porquê?
______________________________________________________________________
_
8.
Acha útil ter Psicólogo(s) a trabalhar(em) na Agência? Sim ___ Não ___
Porquê?
______________________________________________________________________
_
Em que funções?
______________________________________________________________________
_
9.
Como se faz a actualização dos modelos de Publicidade?
______________________________________________________________________
_
10.
Como é efectuada a actualização de conhecimentos cientíicos na área da
Psicologia?
_____________________________________________________________________
__
Obrigado pela sua colaboração.
A influência da religiosidade no Locus de Controlo e no Grau de Solidão:
Estudo diferencial de três grupos
_________________________________________________________________
Maria do Carmo; Bruno Silva; [1]Victor Silva
Agradecimentos
Os autores gostariam de agradecer às seguintes pessoas, pela
indispensável e importante colaboração prestada:
Michael Nielsen, PhD da Georgia Southern University, por nos ter
fornecido uma das escalas utilizadas (Escala de Religiosidade
Intrínsica/Extrínsica de Alllport), bem como pela permanente
disponibilidade demonstrada ao longo da elaboração deste estudo. Sem
ele e sem a sua página de Psicologia da Religião na Internet, este
trabalho, muito provavelmente, não teria sido realizado.
Gabrielle Poeschell, pelo auxílio no tratamento estatístico dos
dados
Dra Celina, docente responsável pela parte prática da Cadeira de
Psicologia Social
Introdução
Durante as últimas décadas, o estudo do Locus de Controle tem merecido
atenção substancial e progressiva na Psicologia Social. Um sem número
de autores consideramno como um dos conceitos mais influentes na
psicologia contemporânea. Basicamente, o locus de controle é um
construto elaborado para explicar e descrever as crenças a partir das
quais o sujeito estabelece a fonte de controle do acontecimento e do
seu próprio comportamento (Tamayo, 1989). Na literatura, o locus de
controle é definido em termos de expectativas em relação ao reforço
(Rotter, 1966, cit. in Barros et al. 1993) ou de percepção de fonte de
controle dos acontecimentos (Levenson, 1981, cit. in Tamayo 1989), ou
ainda de necessidade intrínsica ou motivação (RomeroGarcia, 1986, cit
in Tamayo 1989).
A definição do construto implica assim, segundo Rosa (1991) elementos
comportamentalistas (comportamento, reforço) e cognitivos (percepção,
expectativas) e a sua estruturação no sujeito, o que se reporta à
teoria da aprendizagem social. A filiação do locus de controle na
teoria da aprendizagem social pode ser revista em Barros et al
(pp1822, 1993). O locus de controle, portanto, parece ir além do
fenómeno cognitivoperceptivomotivacional e representa uma modalidade
de existência através do qual o sujeito, não somente explica, mas
também define e estrutura o seu próprio destino. Para Wong e Sproule
(1984, cit in Tamayo, 1989) além da dimensão cognitiva, perceptiva e
motivacional, ele implica uma opção existencial e, talvez, uma decisão
de assumir plenamente uma responsabilidade ou de não assumila.
Tendo como base a teoria da aprendizagem social proposta por Rotter, o
próprio autor e colaboradores desenvolveram, na década de 60, o
conceito de Locus de Controle e a sua primeira medida.
Rotter, em 1966 (cit in Barros et al. 1993), descreve deste modo o
controlo interno e externo: "Quando o reforço é percebido pelo sujeito
como seguindose a alguma acção sua, mas não estando completamente
dependente dessa acção (not being entirely contingent upon his
action), então, na nossa cultura é tipicamente percebido como
resultado da sorte, do acaso, do destino ou sob o controlo de outros
poderosos, ou como imprevisível, dada a grande complexidade de forças
que o rodeiam. Quando o acontecimento é interpretado deste modo por um
indivíduo designamos isto uma crença no controlo externo. Se a pessoa
percebe que o acontecimento depende (is contingent) do seu próprio
comportamento ou das suas características relativamente permanentes,
apelidamos isto uma crença no controlo interno"( pag 23).
O construto locus de controle referese , assim, a uma expectativa
generalizada do indivíduo sobre a medida em que os seus reforços estão
sobre controlo interno ou externo (O´Brien 1984 cit in Barros 1992).
Diversos autores perguntamse se a escala de Rotter, que originalmente
visava avaliar as expectativas relativas ao controle em várias áreas,
e implicando um conceito dicotómico do locus de controle não
constituirá uma simplificação do construto. Dada esta problemática,
Palenzuela(1988, cit in Barros et al 1993) sugere que se preste mais
atenção à teoria antes de porventura se elaborarem mais escalas. A
dimensionalidade de um construto em particular do locus de controle,
deve ser determinado pela verdadeira natureza e definição do mesmo e
só depois confirmada empiricamente e não ao contrário.
Um desafio permanente é a compreensão das relações homemmundo,
entendendose por mundo a totalidade física e social. O homem é um ser
no mundo, na expressão de Heidegger, o que significa que dele depende
para a sua sobrevivência: Depende do espaço físico para a sua
movimentação e depende dos outros homens para o desenvolvimento da sua
humanidade.
A relação Homemmundo é dialéctica; o mundo é anterior ao Homem,
fixalhe os limites e impõe restrições. O Homem, graças à sua
inteligência, e respeitando os limites, modifica o mundo,
humanizandoo.
A acção humana não é omnipotente, quer dizer, ela ocorre dentro de
coordenadas marcadas pela finitude. O homem, por outro lado, é um ser
dotado de poder: ele constituise a si mesmo, construindo o mundo. Em
última instância, é nesta concepção que inserimos o construto locus de
controle.
Num esforço holístico de interpretação do Homem e do seu
comportamento, um desafio permanente e, pensamos, pertinente, é o
estudo do Homem e a sua relação com o Divino ou transcendental, e suas
consequências em termos cognitivos, emocionais, afectivos e
comportamentais no indivíduo. A dicotomia internalidade/externalidade
é expressa em Psicologia pelo construto Locus de Controle e está
presente, desde os primeiros tempos do homem, como afirmam Barros et
al (1993) "(...) na luta entre liberdade e determinismo, ou entre o
bem e o mal que enche os livros religiosos e a própria bíblia" (pag
18) .
Através dos vários estudos efectuados, não se pode hoje negar a
importância da religião como uma variável importante na vida das
pessoas.
Há quem argumente que a religião talvez faça mais parte da Sociologia
do que da Psicologia, mas não se poderá afirmar que a religião só é
relevante para a Sociologia por nos ajudar a entender porque é que
certas crenças, atitudes e valores se encontram numa determinada
religião, cultura ou história. É preciso não esquecer que a partir do
momento em que a religião faz parte do indivíduo e da sua consequente
interacção com o outro, terá parte legítima na Psicologia.
A investigação a nível da Psicologia da Religião tem tido altos e
baixos, como tem acontecido com a Psicologia em geral. No entanto,
vários estudos têm sido feitos neste campo, Rokeach (1973,1979,1984,
cit in Gorsuch, 1988) e Scott (1965, cit in Gorsuch, 1988), mediram
ambos a religião como um valor usando o item "salvação", como
representando a religião.
A maior parte dos estudos usa a religião não como uma variável
principal, mas sim secundária e, por conseguinte, é medida
superficialmente, isto apesar da religião ter uma mais consistentes
correlações com o não envolvimento na droga (Gorsuch, 1980, Spilka et
al 1985 cit in Gorsuch 1988) e com o menor uso do alcóol (Gorsuch,
1976 cit in Gorsuch 1988) assim como com tendências suicidas (Comstock
e Patridge, 1972 cit in Gorsuch 1988).
No entanto, a investigação em Psicologia da Religião não se limita ao
referido acima. Mcintosh, Silver e Worthman (1993) estudaram o papel
da religião como factor de ajustamento e coping num evento negativo da
vida, neste caso da perda de um filho por razões não controláveis (os
sujeitos tinham perdido recentemente um filho devido ao síndrome de
morte súbita infantil). Neste caso, maior participação religiosa
estava relacionada com maior percepção de apoio social e maior
significado encontrado na perda. A importância da religião foi também
positivamente relacionada com o processamento cognitivo. A
participação religiosa e a importância atribuida à religião foram
também indirectamente relacionadas com maior bemestar e menor dor ao
lidar com a perda do filho. Estes autores afirmam que a religião
proporciona aos seus membros laços sociais fortes e um sistema de
crenças e perspectivas que levam a que um factor negativo da vida
possa ser mais facilmente ultrapassado e até compreendido.
Park, Cohen e Herb (1990) estudaram o papel da religiosidade
intrínsica como factor de coping em termos de depressão e ansiedade
traço, em estudantes universitários católicos e protestantes, tendo
chegado à conclusão que a religiosidade funciona como protecção a um
alto nível em termos de controlabilidade de eventos negativos, bem
como pode ser um factor preditivo da depressão. Estes autores afirmam
que a religiosidade, pode moderar os efeitos de grandes crises
pessoais. Julgamos pertinente desenvolver um pouco mais este conceito
de religiosidade intrínsica/extrínsica.
O termo foi "criado" por Allport e é considerada a mais util definição
empirica de religião ( Gorsuch,1988), até agora. Allport definiu
religiosidade intrínsica como uma devoção e um grande comprometimento
religioso. Os sujeitos vêem a religião como um fim e não como um meio,
como acontece com a religiosidade extrínsica, em que os sujeitos têm
uma visão utilitária da religião. A religiosidade intrínsica é a
religião como uma grelha de trabalho em cujos termos a vida é
percebida e explicada. A religiosidade extrínsica é a religiosidade do
conforto e convenção social, uma maneira de se aproveitar da religião
para benefício próprio. A partir desta conceptualização, Allport criou
uma escala para medir o nível religioso das pessoas, em termos de
extrínsico ou intrínsico, escala essa que teve depois uma versão
reduzida por parte de Feagin e melhoramentos por parte de outros
autores, entre eles Batson e Ventis (Gorsuch, 1988; Batson e Burris,
1993 ; Donahue, 1985).
Num estudo de Batson, Oleson, Weeks, Healy e Reeves (1989) o conceito
de religiosidade intrínsica/extrínsica foi utilizado para tentar
explicar se a motivação da religião em termos de ajuda prósocial era
altruísta ou egoísta. Segundo Allport (1966), citado neste estudo, a
religiosidade intrínsica aumentaria a motivação altruista para ajudar
os outros enquanto a religiosidade extrínsica não. Os resultados, em
termos gerais, provaram esta ideia.
Ryan, Rigby e King (1993) fizeram uma achega a este conceito, propondo
a introjecção e a identificação, como similares aos conceitos de
extrínsico e intrínsico, respectivamente. Assim, a introjecção
representaria uma internalização parcial de crenças, caracterizada
pelas pressões dos outros e do próprio self, enquanto a identificação
representaria a adopção de crenças como valores pessoais. Este estudo
pretendia estudar estes dois tipos de interiorização da religião e a
sua relação com a orientação religiosa e saúde mental. Os autores
afirmam que os diferentes tipos de interiorização são mais evidentes
no caso das crenças e práticas religiosas. Assim, as crenças
religiosas podem ser adoptadas de uma maneira rígida ou de maneira
flexível, deixando a porta aberta à assimilação de novas ideias. Mais:
os sistemas religiosos podem ser adoptados devido a factores como o
medo, culpa ou pressões sociais ou devido aos seus significados e
conteúdos, que atraem uma pessoa. Segundo estes autores, quanto mais
interiorizada estiver a religiosidade, mais a pessoa terá um locus de
controle interno, ou seja a pessoa compreende os seus comportamentos
como determinados apenas por ele próprio. Em contraste, a
religiosidade introjectada faz com que a pessoa aja de uma determinada
maneira porque "deve " fazêlo ou porque ao não fazêlo pode gerar em
sí própria ansiedade, culpa ou falta de estima.
Em termos de resultados, estes autores descobriram que a identificação
estava fortemente correlacionada com a orientação intrínsica de
Allport e a introjecção com a orientação extrínsica. Por outro lado, a
identificação estava fortemente relacionada com o locus de controle
interno, bem como significativamente associada e positivamente
correlacionada com alta autoestima e integridade de identidade e
negativamente associada com depressão, ansiedade e disfunções sociais.
A introjecção, por outro lado estava negativamente correlacionada com
a autoestima e integridade de identidade e positivamente associada
com ansiedade e depressão.
O uso da religião como variável não principal acontece talvez porque a
Psicologia da Religião é um bom exemplo da dificuldade de conseguir
objectividade na ciência (Collins, 1986 cit in Gorsuch 1988) e também
porque não há uma definição universal de religião, havendo sim uma
definição multifacetada, com facetas que por vezes se correlacionam, o
que torna complicado a escolha da medida. Já não se poderá dizer que
acontece por falta de instrumentos, pois a dificuldade pode estar sim
no seleccionar um entre muitos (Chave (1939) e Thurstone(cit in
Gorsuch, 1988) publicaram 52 diferentes medidas de aspectos
religiosos; Strommen et al (1972) publicou 78 diferentes escalas;
Gorsuch (1984) escala específica de análise de conceitos sobre Deus).
Para melhor definir o nosso estudo e o nosso objectivo, propomos que a
religiosidade está para além da religião. Nesta ordem de ideias a
maneira como se vive Deus ou algo superior poderá influenciar diversas
variáveis psicológicas, independentemente do sujeito pertencer ou não
a uma religião tida como instituição (ex: Católica). Esta ideia de
religiosidade ou espiritualidade poderá fazer a ponte entre sujeitos
que pertencem e que não pertencem a uma determinada religião,
tornandose assim possível encontrar diferenças entre grupos dentro de
uma determinada religião e semelhanças entre grupos dentro de uma
religião e fora dessa religião.
A escolha da religiosidade tida como uma relação com algo de superior
que poderá estar para além da relgião instituição/institucional como
tema do nosso estudo vem na sequência da nossa percepção de que várias
áreas da Psicologia, nomeadamente a Psicologia Social, poderiam ter
muito a ganhar se esta variável fosse tida em conta.
A decisão de incluir no nosso estudo a variável solidão foi baseada na
leitura do artigo de Kirkpatrik & Shaver (1992). Se bem que não há uma
definição de solidão que seja universalmente aceite pelos
especialistas , na definição proposta por Peplau e Perlman (cit in
Neto 1992) " uma experiência desagradável que ocorre quando a rede
de relações sociais de uma pessoa é deficiente nalgum aspecto
importante, quer quantitativa quer qualitativamente" há três
aspectos gerais que também são partilhados por outras definições
avançadas na literatura, a saber: a) a solidão é uma experiência
subjectiva que pode não estar relacionada com o isolamento objectivo ;
b) esta experiência subjectiva é psicologicamente desagradável para o
indivíduo; c) a solidão resulta de alguma forma de relacionamento
deficiente.
O presente estudos pretende avaliar o grau de solidão dos sujeito de
cada um dos grupos que constituem o trabalho, e posteriormente, dos
sujeitos seguros e inseguros independentemente do grupo a que
pertencem.
Num estudo feito por Kirkpatrick e Shaver (1992), numa abordagem em
termos de teoria da vinculação e religião, comprovouse que os
sujeitos que se classificam como seguros em relação a Deus, revelavam
maior comprometimento religioso e imagens mais positivas de Deus que
os sujeitos inseguros. Estes autores chegaram também à conclusão de
que a vinculação a Deus está positivamente associada com a segurança
na vida adulta, mas apenas nos sujeitos que descreveram a sua
vinculação maternal na infância como insegura. A vinculação a Deus,
com contraste com outras variáveis religiosas está fortemente e
significativamente relacionada com vários resultados a nível de saúde
mental e física.
Hazan e Shaver (1987), citados por Kirkpatrick e Shaver (1992), num
estudo sobre modelos de amor adulto em termos de teoria de vinculação
descrevem os sujeitos seguros como confortáveis em relação à
intimidade e capazes de confiar nas outras pesssoas; os sujeitos
evitantes, inconfortáveis com a intimidade e incapazes de confiar nas
outras pessoas e os sujeitos ansiosos/ambivalentes como pessoas que,
por procurarem um grau muito grande de intimidade acabam por "assustar
as pessoas à sua volta" e preocuparemse excessivamente com a hipótese
de serem abandonados ou de que o seu amor não seja correspondido.
Kirkpatrick e Shaver, no estudo já referido, defendem que a
religiosidade pessoal de cada um pode ser conceptualizada como um
processo de vinculação. A vinculação a Deus pode funcionar como uma
vinculação a nível de relações humanas. Deus pode servir como uma base
segura de conforto para os crentes. E isto é claro, quando se sabe que
as pessoas se viram para Deus em tempos de ameaça e perigo. E se
parece verdade que as pessoas rezam principalmente para pedir alguma
coisa (Meadow e Kahoe, 1984; Spilka, Hood e Gorsuch, 1985 citados
por Kirkpatrick e Shaver, 1992) Meadow e Kahoe, no estudo referido
acima, afirmam que as orações de comunidade são motivadas unicamente
pelo desejo de "experienciar uma relação com Deus, de se fazer saber e
saberse perto de Deus". Considerando a relação entre a vinculação
adulta e religião, podese hipotetizar que as pessoas que não
conseguem ter uma vinculação segura em adultos estarão mais
predispostos a procurar uma tal vinculação em Deus. Deus ou Jesus
Cristo pode servir como uma figura de vinculação substituta
(Ainsworth, 1985, citado em Kirkpatrick e Shaver, 1992).
Podese esperar que as orientações em relação a Deus estejam
correlacionados com aspectos de relações interpessoais. Este é o
modelo geralmente assumido para descrever a relação entre a vinculação
da criança e outros processos de vinculação na vida adulta. Aqueles
que vêem Deus como mais próximo e benevolente tendem a ter uma alta
autoestima e autoconceito (Benson e Spilka, 1973; Spilka, Anddison e
Rosensohn, 1975, ciados em Kirkpatrick e Shaver, 1992).
A teoria e os dados obtidos sugerem que as pessoas possuem uma matriz
complexa de modelos mentais ou crenças acerca de si, dos outros e do
mundo em geral. A religião, para muitos, é mais alta autoridade nestas
materias. As crenças religiosas são modelos mentais de Deus, da
humanidade e da relação de Deus com a humanidade, que está cheia de
implicações nas concepções de uma pessoa sobre sí própria, as outras
pessoas e tudo o resto. A religião, de resto, é definida como um
grande modelo mental. Por exemplo, é essa a essencia da noção de
Allport (1950, citado em Kirkpatrick e Shaver, 1992) sobre a
orientação religiosa intrinsica: as pessoas religiosamente intrinsicas
são aquelas para as quais a religião fornece o mais importante modelo
mental debaixo do qual tudo o resto é subordinado. Assim, as crenças
religiosas e o seu tipo podem ser de grande valor ao nos ajudar a
perceber os modelos mentais das pessoas em termos de relações
pessoais, o seu self e o mundo.
No estudo de Kirkpatrick e Shaver, chegouse à conclusão de que os
adultos com relacionamento amoroso seguro tinham também maior
segurança em relação a Deus, comparativamente com os adultos inseguros
amorosamente. Curiosamente, nos sujeitos que relataram terem tido uma
vinculação fraca durante a infância a relação entre tipo de segurança
no amor e em relação a Deus estava fortemente correlacionada. Uma
possível explicação para este facto tem a ver com o efeito da
reorganização dos modelos de vinculação internos. Esperarseia,
segundo Bowlby (Shaver et al, 1992), que os sujeitos que tiveram
vinculações inseguras durante a infância desenvolveriam modelos
mentais de vinculação adulta de acordo com a vinculação na infância.
Neste grupo, podese dizer que os sujeitos que desenvolveram
vinculações seguras com os seus parceiros amorosos passaram por uma
reoganização dos seus modelos mentais de vinculação. Aprenderam a
confiar e a acreditar que a sua figura de vinculação estará sempre
disponivel quando for necessária. Quando estas modificações de modelos
mentais de vinculação são conseguidas, outras relações de vinculação
serão afectadas similarmente. As relações com Deus, parceiros amorosos
e outros tendem a demonstrar os mesmos padrões. Quanto aos sujeitos
que revelaram terem tido uma vinculação segura na infância, podese
dizer que os seus modelos mentais não foram reorganizados. A variação
das relações tanto amorosas como em relação a Deus devese a
experiencias específicas vivenciadas durante a vida. Em relação a
deus, por exemplo, pode deverse a factores relacionados com a
educação, experiencias com a religião e com pessoas religiosas ou não
religiosas. Assim, assumese que os modelos mentais seguros são menos
mutaveis que os modelos inseguros. Mas isso pode acontecer, embora em
casos extremos de perda de figuras de vinculação em circunstâncias
traumaticas, como desastres naturais e guerras. Estas são as únicas
condições referidas por Main e Goldwyn (Shaver et al, 1992) como
causas potenciais para a transformação de modelos mentais seguros para
inseguros.
O aprender ou experienciar uma relação segura com Deus pode ter
permitido que as pessoas inseguras desenvolvessem uma relação mais
estável e segura com outras pessoas. Aliás, os autores afirmam
conhecer vários terapeutas cujas práticas baseiamse neste principio.
Através de exercícios de oração, discussão das escrituras e
aconselhamento, os clientes são encorajados a desenvolver relações
seguras com Deus, com propósito expresso de levar estes modelos
mentais reorganizados para as suas relações interpessoais com os pais,
amantes e amigos.
A vinculação a Deus foi a única variavel religiosa neste estudo
correlacionada com a ansiedade, solidão e depressão, bem como saude
fisica, sintomas psicossomáticos e satisfação de vida. As pessoas com
relação segura com Deus diziam ter maior satisfação pessoal de vida,
menos ansiedade, menos solidão e menos depressão.
Tendo em conta a leitura da pouca literatura existente relativamente à
relação entre locos de controlo e indivíduos religiosos verificamos
uma certa disparidade nos resultados. Bisi (1986) verificou que
sujeitos religiosos cristãos têm predominantemente um locus de
controlo interno. Phare (1978) cit in Barros et al encontrou nos
sujeitos com crenças religiosas pertencentes a religiões mais
tradicionalistas e fanáticas maior externalidade. Propomos no presente
trabalho que tais discripâncias poderão ser explicadas se se tiver em
conta a variável segurança vs insegurança face a Deus/Algo superior .
Nesta ordem de ideias e por tudo o que já foi dito anteriormente em
relação aos estudos que obtivemos, propomos que as pessoas que estão
envolvidas em grupos de pastoral dentro da religião católica (G1
grupo 1), por discutirem, participarem activamente e procurarem uma
relação mais profunda com Deus sofrerão uma reorganização dos seus
modelos mentais passando a ser sujeitos mais seguros e
consequentemente, desenvolverão um locus de controle interno e terão
um menor grau de solidão; as pessoas que participam no culto, mas que
não participam de forma activa na religião (G2 grupo 2), serão
inseguras em relação a Deus e desenvolverão um locus de controle mais
externo, bem como um maior indice de solidão (uma vez que se "limitam"
a aceitar o que lhes dizem, sem um posterior aprofundamento e
discussão pessoal do que foi afirmado) e, finalmente, as pessoas que
não participam nem num culto, nem em actividades religiosas, mas que
têm um Deus pessoal em queacreditam (G3 grupo 3), serão mais seguras
em relação a Deus/algo superior, desenvolverão um Locus de controle
interno e terão um grau menor de solidão (até porque, por
desenvolverem uma "religião pessoal" estarão mais responsabilizados
pessoalmente). Esta última ideia tem a ver com a nossa proposta de que
desde que uma pessoa se sinta perto de Deus/algo superior, embora
participe ou não numa determinada religião, várias variáveis
psicologicas serão afectadas positivamente
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[2]A nossa investigação
[3]De volta a PsicoPortugal
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Victor Alberto Silva
A consulta psicológica segundo Carl Rogers
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Segundo Carl Rogers, o objectivo da consulta psicológica é tratar
problemas de adaptação que tornam um individuo menos eficiente e util
na sociedade em geral ou em determinadas situações, como por exemplo,
numa empresa, na escola ou no exercito.
No entanto a consulta ou a psicoterapia nem sempre é a única maneira
disponivel para tratar estes casos. Podese recorrer por exemplo à
alteração do meio em que o sujeito está inserido ou até mesmo evitar
certos problemas em determinadas organizações onde já se sabe que
certas situações dão azo a que a pessoa se sinta mal. A psicoterapia é
apenas um dos modos que se pode utilizar e nem sempre é aconselhada
Como definição, Rogers propõe que " a consulta psicologica eficaz
consiste numa relação permissiva, estruturada de uma forma definida
que permite ao paciente alcançar uma compreensão de si mesmo num grau
que o capacita para progredir à luz da sua nova orientação".
Este autor afirma que outras técnicas utilizadas em psicoterapia, como
a sugestão e o aconselhamento do paciente, embora possa ser benéfico
em certas situações, acaba por não favorecer o real desenvolvimento do
individuo.
Na sua concepção de psicoterapia, que veio a ser denominada Humanista,
há uma total independência do paciente em relação ao teraupeuta, em
que que é o primeiro e não o segundo, que resolve o problema. A pessoa
está sempre em foco, não um determinado problema. O objectivo não é
resolver um problema especifico, mas de ajudar o paciente a
desenvolverse para poder enfrentar o problema presente e os futuros
de uma maneira mais integrada. Há, então, uma grande confiança no
paciente, em que os aspectos emotivos são enfatizados em vez dos
intelectuais. O que se procura é que o paciente aceite, por exemplo,
uma determinada emoção em relação a uma situação e não que
intelectualize a situação. Dáse também mais importância à situação
actual do paciente, em detrimento do seu passado e a relação
teraupeutica, ela própria, é vista de forma diferente. Não, como
tradicionalmente, uma preparação para a mudança, sendo ela própria,
desde já, a mudança.
O conselheiro, durante as consultas, estimula a livre expressão dos
sentimentos, projectando uma atitude amigável, interessada e
receptiva, a tudo o que o paciente diga ou sinta. A consulta existe
para o paciente fazer dela o que quiser, numa atmosfera em que tudo é
permitido e em que o paciente se sente realmente livre e compreendido
pelo terapeuta. Em principio, o paciente deve procurar e saber que
quer a mudança. Muitas vezes, no caso de ser mandado por terceiros, é
melhor optar pela sugestão ou aconselhamento. Isto porque, se o
paciente aceita a responsabilidade de vir às consultas e procuraas,
também aceita a responsabilidade de trabalhar sobre os seus problemas.
E é ele próprio que vai chegar à solução para esses problemas. Se for
obrigado, isso pode não acontecer.
Deve ser explicado, quanto mais cedo melhor, que o cliente só vem à
consulta se quiser e que o conselheiro não tem respostas parra os
probelmas. Simplesmente ajuda o paciente, ele próprio, a chegar às
respostas.
O conselheiro aceita, reconhece e clarifica os sentimentos negativos
do paciente, mesmo se estes se referirem a ele próprio. Por exemplo,
num caso em que o paciente demonstra hostilidade em relação ao
terapeuta, este não deve explicarse, ou fazer algo do genéro, mas
simplesmente aceitar essa hostilidade, tornandoa mais clara ao
paciente, através da reformulação das próprias palavras do doente,
criando uma atmosfera em que o cliente reconheça esses sentimentos
negativos, sejam eles quais forem, aceitandoos como uma parte de si,
em vez de os projectar noutras pessoas. Tem de haver uma grande
atenção aos sentimentos e não ao conteudo inetelectual destes. Se o
cliente se sente infeliz por ser feio, devese ter em atenção a
infelicidade, não o facto de ele ser feio ou não. Neste caso, como em
todos, o terapeuta deve aceitar esses sentimentos, não dizendo por
exemplo que ele até não é tão feio como isso. Isso seria
intelectualizar a situação, em vez de a tratar emocionalmente,
pondose completamente solidário com o cliente e concordando com os
seus sentimentos.
Depois dos sentimentos negativos em relação aos outros ou em relação a
sí proprio e desde que estes sentimentos sejam aceites pelo paciente,
surgem os sentimentos positivos e posteriormente a compreensão do
próprio problema e a maneira como poderá resolver ou viver com ele.
Tudo isto feito apenas e só por sí, sem sugestões nem conselhos do
terapeuta. Começa então a haver uma compreensão cada vez maior e uma
acção positiva maior. Existe menos medo ao fazer escolhas e mais
confiança na acção autodirigida. Muitas vezes alguns comportamentos
mantêmse mas os sentimentos em relação a eles modificamse, como no
caso de uma mãe e uma filha. A filha continuava a se comportar mal, de
vez em quando, mas a mãe tinha outros sentimentos e outra maneira de
perceber esses comportamentos indesejados da criança, o que levou à
atenuação do problema e do conflito familiar.
Naturalmente que nesta situação terapeutica, em que o conselheiro
mantem uma relação muito próxima e compreensiva com o paciente, há uma
ligação afectiva muito grande entre os dois. No entanto, esta ligação
quebrase naturalmente, por vontade do paciente, quando este se sente
bem. Muitas vezes e dada a relativa dependencia em relação ao
terapeuta, nas últimas sessões pode haver um regresso aos antigos
problemas, com o objectivo de prolongar a relação com uma pessoa de
quem se começou a gostar (terapeuta). No entanto, o desejo de se
"desenrascar" sozinho por parte do cliente acaba por ser mais forte do
que essa afectividade com o terapeuta.
Algumas questões fundamentais:
O cliente está sob tensão?
A consulta só é eficaz quando um conflito de desejos provoca a tensão
e quando estes são mais dolorosos do que a procura da solução. A
importância do equilibrio do conflito é crucial. Se os sofrimentos que
o paciente tem de padecer para se tornar "normal" são maiores do que
os sofrimentos que tem na situação actual muitas vezes a psicoterapia
não é aconselhada, pelo menos até que a tensão resultante do conflito
interior aumente até um ponto em que a solução é menos dramática do
que a situação actual.
O paciente é capaz de enfrentar a sua situação?
Existem variadas situações sociais, económicas, etc, em que mesmo que
o cliente atinja a compreensão de si próprio, nunca atingirá um estado
satisfatório devido a factores exteriores à sua pessoa.
O paciente pode receber ajuda? (o paciente quer ajuda?)
Embora os casos em que o paciente quer mesmo ajuda e a procure sejam
melhores do ponto de vista teorico, em casos conttrários também é
possivel fazer uma psicoterapia satisfatoria. Por exemplo, a
oportunidade fisica de consulta é o inicio da terapia. Muitas vezes,
os clientes chegam ao consultório sob coacção, mas com o decorrer da
consulta, acabam por colaborar e seguir um caminho satisfatório. Se há
coação e os pais trazem os filhos por ordem do tribunal ou escola, há
probabilidades da consulta não resultar. Por outro lado se os pais
desejarem a ajuda também para eles, a probabiliade de sucesso aumenta.
O paciente é independente do controlo familiar?
Se assim não for, a consulta isolada fracassa com frequencia. Neste
caso é necessário o tratamento dos pais também. É necessário que os
adolescentes ou crianças estejam libertos afectiva ou espacialmente
dos pais, para que a psicoterapia tenha sucesso, a menos que o
problema não se ligue à relação paisfilho.
O paciente tem idade, inteligência e estabilidade desejaveis?
A consulta psicologica é mais adequada e eficaz em certos niveis
etários e intelectuais do que noutros. Num cliente com mais de 50
anos, o caso deve ser analisado cuidadosamente, para se saber se o
paciente ainda consegue modificarse. Em relação à terapia do jogo,
esta deve ser aplicada entre os 4 e os 10, 11 anos, porque entre estas
idades a expressão verbal dos sentimentos não é facil. Naturalmente
que a estabilidade fisiologica e cerebral (a nivel de deficiencias
puramente orgânicas) é essencial.
A análise da história do caso pode ser prejudicial, pois o terapeuta,
ao perguntar quais são as circunstâncias da vida do cliente deixa uma
imagem de "contame os teus problemas e situação e eu doute a
resposta".
A Relação terapêutica
A relação clienteterapeuta baseiase nas seguintes componentes:
==> Uma relação afectiva verdadeira, calorosa mas com limites
definidos. Existe um autêntico interesse pelo paciente e pela
aceitação deste como pessoa. O terapeuta está em certa maneira
envolvido afectivamente. Não é um psicanalista, mas também não o
contrário nada de "gosto muito de si".
==> Permissividade em relação à expressão de sentimentos. Tudo se pode
dizer, ou fazer. Não há atitudes moralistas ou judicativas
==> Cliente pode vir ou faltar à entrevista, chegar cedo ou tarde,
falar do que quiser, dos problemas ou não. Mas não pode controlar o
conselheiro para lhe dar mais tempo do que o determinado pelo próprio
cliente anteriormente. Esta é uma estruturação que será benefica para
o cliente, porque transporta exigências da vida prática para o
consultório. Na terapia de jogo, a criança pode fazer o que quiser,
desde que não ataque fisicamente ninguém.
==> Ausência de pressão ou coerção. As sugestões, pressões para que o
cliente siga uma determinada linha de acção, tudo isso é estritamente
proibido. O cliente tem de evoluir positivamente só por sí.
Desta maneira e "do ponto de vista do paciente, embora ele possa não
ter consciência de todos estes elementos no inicio, responde à
atmosfera de liberdade frente a qualquer aprovação ou reprovação
moral. Descobre que não necessita das suas defesas psicológicas
habituais para justificar a sua conduta. Não encontra nem censuras nem
excessiva simpatia, indulgência ou elogios. Verifica que o conselheiro
não lhe dá nem um apoio indevido nem uma hostilidade desagradável. Por
conseguinte, o paciente pode, muitas vezes pela primeira vez na vida,
ser autênticamente ele próprio, afastarse dos seus mecanismos de
defesa e de compensações que lhe permitiam enfrentar o mundo em geral.
Na relação terapêutica pode avaliar os seus impulsos e atitudes, os
seus conflitos e opções, os padrões passados e os problemas presentes,
de uma forma tanto mais verdadeira quanto, por um lado se libertou da
necessidade de se proteger de um ataque e , por outro, está defendido
de uma dependência demasiado complacente. Que o individuo responda a
estes elementos da situação de consulta psicológica, tornase evidente
depois da análise das fases terrminais da terapia, durante as quais o
paciente frequentemente verbaliza o modo como a atmosfera da consulta
psicologica constituiu para ele uma experiência única".
Naturalmente que até uma perspectiva como esta tem alguns limites
impostos ao paciente. A responsabilidade, a todos os níveis, é sempre
dele e isso deve ficar bem claro desde o principio. Tem de haver um
limite de tempo para a consulta, de modo a tornála uma situação de
vida real e também um limite de acção agressiva. Não há liberdade
indiscriminada e o paciente não pode agredir o terapeuta se isso lhe
apetecer. Nesse caso, basta replicar esse sentimento com uma frase do
género "sei que estás zanagado comigo" ou "podes sentir a fúria que
quiseres por mim, eu percebo e aceito, mas não me podes bater". Rogers
tranquiliza os hipotéticos futuros conselheiros, afirmando que, pelo
menos no caso das crianças, nunca se chega a vias de facto, a menos
que a relação terapeutica tiver sido mal feita. Existe também uma
limitação de afeição. Não se pode dar presentes e os limites devem ser
claros. Em contactos extraconsultório (que podem sempre acontecer) o
terapeuta deve comportarse da mesma maneira como se estivesse em
consultório, aceitando as emoções do paciente, mas não se deixando
instrumentalizar por ele. O doente chegará, por sí só à conclusão e à
aceitação da razão porque o terapeuta não lhe dá (por exemplo nas
crianças, isto é muito patente) mais ou menos atenção do que aos
outros numa situação extraconsultório. O terapeuta não se deve
explicar. Isso seria dirigir o paciente para uma certa direcção no que
sente em relação ao terapeuta.
Assim, "a relação de consulta psicológica é uma relação na qual o
calor da aceitação e a ausência de qualquer coerção ou pressão pessoal
por parte do conselheiro permite a expressão máxima de sentimentos,
atitudes e problemas por parte do paciente. A relação é uma relação
bem estruturada, com limites de tempo, de dependência e de atitudes
agressivas que se aplicam de modo particular ao paciente e limites de
responsabilidade e de resposta afectiva que o conselheiro impõe a si
mesmo. Nesta experiência única de uma liberdade emocional perfeita
dentro de um quadro de referência bem definido, o paciente é livre
para reconhecer e compreender os seus impulsos e modelos de conduta,
quer positivos quer negativos, o que não se verifica em qualquer outra
relação. Esta relação terapeutica é distinta da maior parte das
relações de autoridade na vida de todos os dias e incompativel com
elas."
Alguns esclarecimentos complementares
Em relação aos sentimentos negativos, sejam eles quais forem, o
terapeuta deve fazer de espelho das emoções do paciente. Nada que lhe
possamos dizer, o vai ajudar. Se ele se sente feio, não é dizendo "até
és bonito, na minha opinião" que ele vai modificar essa imagem a seu
respeito. O mesmo acontece nas emoções ambivalentes. Se ele gosta e
não gosta do pai, devemos aplicar o mesmo comportamente descrito
acima.
O terapeuta deve aceitar os bons e os maus sentimentos do paciente em
relação a ele da mesma maneira. Nunca se pode esquecer que a relação
estabelecida foi estabelecida para propósitos de psicoterapia e o
cliente não o vê como ele é realmente mas naquela especifica situação
de terapia.
A resistência só aparece no caso de uma técnica mal aplicada ao lidar
com as emoções do paciente, ou então quando se tenta acelerar a
terapia, mostrando ao paciente sentimentos que ele próprio ainda não
está pronto para aceitar
O reconhecimento de sentimentos não expressos verbalmente tanto pode
acelerar o tratamento, como retardálo. Há que ter muito cuidado. Numa
relação já firme, pode até acelerar o processo. O melhor é ir ao ritmo
do paciente..
No caso de não se perceber bem a emoção do paciente, o melhor é
deixálo continuar a falar. Ao tentar pôr um sentimento qualquer mais
claro ao paciente, podese errar no sentimento que ele efectivamente
estava a demonstrar, dando a imagem que não estamos a perceber nada do
que ele estava a dizer, o que é prejudicial, tanto para relação como
para a terapia em si.
Depois da catarse, da libertação que advém da compreensão de sí
próprio por parte do cliente, surge um novo individuo, com novas
relações de causaefeito, nova imagem de si mesmo. O paciente tem uma
nova percepção de relações anteriormente não reconhecidas, uma
disposição para aceitar todos os aspectos do eu e a capacidade para
uma escolha de objectivos, vistos agora com clareza pela primeira vez.
Em relação ao fim da consulta, que é sempre da escolha do paciente, o
terapeuta, se reparar que ele já está pronto e que começa a falar no
fim da terapia, deve colocar esse términus da relação de uma maneira
normal, de forma a que o paciente não se sinta mal, nem por acabar
coma relação com o terapeuta, nem por pensar que o terapeuta se quer
ver livre dele. Deve também, claramente e de forma honesta referir que
prefere não ter outros contactos sociais mais fortes com o paciente,
dizendo por exemplo, que prefere ficar no consultório, caso o paciente
precise da sua ajuda novamente. Isto vem a propósito porque acontece
muitas vezes, dada a natureza da relação estabelecida, um desejo por
parte do cliente de manter essa relação a nível social. Há que ter
muito cuidado com isto.
Questões práticas
Duração da entrevista Nem Rogers sabe precisar. 15, 30, 45, 60
minutos.
Intervalo entre sessões Vários dias ou uma semana, de maneira ao
paciente assimilar as suas aquisições.
Cliente falta a consultas estudar as notas de modo a verificar se
houve algum erro da parte do terapeuta e facilitar tanto quanto
possível o regresso do paciente, fazendoo sentir que se esse não for
o seu desejo, também será aceite pelo conselheiro, através de uma
carta, por exemplo.
Devese tirar notas? Sim. Explicase ao paciente e até ele pode
ver as notas.
Afirmações falsas do paciente Não interessam. Terapeuta devese
centrar nas emoções e sentimentos, não no conteudo intelectual destas.
O pagamento influencia a terapia? provouse que não.
Esta terapia é mais fácil de executar? Não. Podese não falar
tanto, mas pensase muito mais e temse de estar sempre concentrado
nos sentimentos do paciente.
Podese praticar a terapia com familiares ou amigos? Não. Mas
podese aplicála a alguém conhecido, mas não intimo.
Victor Alberto Silva