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Barausse, A. (2017). A pesquisa em História da Educação. Entrevista com Maria Helena Camara Bastos.
Espacio, Tiempo y Educación, 4(1), 1-17. doi: http://dx.doi.org/10.14516/ete.2017.004.001.169
americano, que aumentou nos últimos trinta anos, não somente do ponto de vista
quantitativo, como número de pesquisadores e de grupos de pesquisa, mas também
do lado das orientações e das escolhas historiográficas; mas, além das políticas de
pesquisa, do sistema de financiamentos aquele da avaliação.
Maria Helena Câmara Bastos hoje atua como professora de História
da Educação em uma das mais dinâmicas realidades do complexo panorama
acadêmico brasileiro, a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul,
na qual coordena vários grupos de pesquisa nos quais trabalham juntos jovens
e promissores pesquisadores e professores mais maduros e especializados seja
das universidades do estado mais meridional do Brasil, seja das universidades
difundidas em outros estados da vasta República federal.
Através das palavras da estudiosa riograndense é possível perceber
alguns significativos indícios do desenvolvimento do País e das influencias
exercitada pelas reflexões pedagógica e histórica as quais marcaram o início
do seu caminho profissional. Mas depois das viagens nas últimas décadas de
Noventa para alguns «Países e lugares chaves» aos quais está ligada a renovação
dos estudos no âmbito da História da Educação na Europa, acima de tudo o
INRP (Institute National de Recerche Pedagogique) na França, o Instituto da
Educação de Lisboa em Portugal, o Ceince (Centro Internacional de Cultura
Escolar) na Espanha, – países aos quais uniu-se, hoje, a Itália – a professora
contribuiu de forma importante a reforma historiográfica no próprio Pais e
a promoção de inciativas fundamentais para fomentar a mudança a partir do
nascimento da ASPHE (Associação Riograndense dos Pesquisadores de História
da Educação) e da revista História da Educação-Journal of Education, hoje um
dos mais prestigiosos periódicos no âmbito histórico educativo brasileiro. Não
é simples conseguir explicar, com poucas linhas, os momentos fundamentais,
os percursos e os ferramentas essenciais pelos quais uma parte significativa
da historiografia educativa brasileira tem levado à frente nas últimas décadas,
mudanças tão relevantes nas experiências e na abordagem historiográfica. Por
isso, acho que a entrevista que a colega me concedeu – com a qual tenho
o prazer e a honra de compartilhar um decisivo percurso profissional come
pesquisador e professor visitante – ajuda mais de outras formas, acessar nos
interstícios de um caminho que permite entender de forma mais direta os
vínculos e as conexões de natureza internacionais que são a base dos avanços
para a renovação historiográfica brasileira. Uma aula importante, acima de
tudo, para os jovens que se aproximaram, nos últimos anos, da História da
Educação.
Alberto Barausse (A.B.): Gostaria de começar esta entrevista com suas
memórias pessoais: como foi seu encontro e seu interesse com a História da Educação?
3 Os alunos ingressantes na Universidade eram, e ainda são, denominados «bichos» e/ou calouros.
Entre os rituais de ingresso havia um desfile alegórico, vulgarmente conhecido como «passeata dos bichos».
Essas manifestações foram proibidas a partir do regime civil-militar de 1964.
4 Exame de ingresso ao ensino superior no Brasil, desde 1911.
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A pesquisa em História da Educação. Entrevista com Maria Helena Camara Bastos
temporal desse fato me faz compreender que tais atividades eram inerentes ao
conhecimento técnico de «como fazer», que fui adquirindo nos vários cursos e
não ao acúmulo de vivências em sala de aula no ensino superior. De toda forma,
hoje eu a qualifico como uma ousadia! O que valia era o conhecimento técnico do
como fazer. Para isso funcionava um processo de mediação entre o conhecimento
técnico e o conhecimento específico do professor. Em última análise, era o
professor, por ter um conhecimento profundo de seu conteúdo, que qualificava
o trabalho do técnico. Aliás, um engano foi a nossa identificação como Técnicas
de Ensino, só porque trabalhávamos a dimensão técnica do ensinar e aprender.
Éramos polivalentes, tínhamos um conhecimento especializado e interagíamos
com outros especialistas. Não foi um erro nem um engano, foi o melhor que se
fazia no nível superior, construímos coletivamente o melhor que podíamos e que
projetou a Faculdade de Educação além fronteiras.
Em 1979, com a vinculação institucional do LES ao Departamento de
Estudos Especializados (DEE/FACED) e a integração da equipe de professores ao
quadro docente do Departamento, fui escalada, devido a formação em História,
para atuar na área de Administração da Educação, ministrando a disciplina –
Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1º e 2º Graus. Posso considerar, que é
nesse momento que a História se encontrou realmente com a Educação, em uma
perspectiva historiográfica.
No final de 1981 inscrevime para a seleção no PósGraduação em Educação
na FACED/UFRGS, na área de Planejamento da Educação, como parte de
um projeto de reflexão da minha caminhada profissional. Concomitante a esse
evento, centralizei minhas atividades no DEE/FACED, em regime de Dedicação
Exclusiva (40 horas semanas), como professora assistente, o que levou a afastar-
me do Colégio de Aplicação e do LES.
O Mestrado significou uma (re) aproximação com o meu curso de História.
Após formada abracei a Educação, distanciando-me da História, como objeto de
estudo e pesquisa. Ao realizar estudos sobre a história da suplência – exames – na
educação brasileira, identificando sua presença no século XIX, com os primeiros
preparatórios ou exames parcelados, constatei o reduzido número de estudos e
pesquisas sobre a História da Educação Brasileira, a precária conservação e difícil
localização de fontes.
Essa vivência passou a direcionar-me para a realização do Doutorado em
História da Educação, o que se efetivou em 1988, na Universidade de São
Paulo - USP/São Paulo, sob orientação do professor Celso de Rui Beisiegel e,
posteriormente, Marta Maria Chagas de Carvalho, com o projeto de pesquisa:
Uma leitura do pensamento políticopedagógico riograndense: três décadas da Revista
do Ensino (19391978). Além de definir a área de História da Educação, havia
publicamos Destinos das letras: história, educação e escrita epistolar (2002) (Bastos,
Cunha, Mignot, 2002). Dessas duas coletâneas decorreram estudos sobre escritas
de si, escritas ordinárias, escritas infantis e escolares, que têm como objeto de
pesquisa diários, memoriais, cartas, cadernos escolares, caligrafia, livros ou
álbuns de recordação/poesias, agendas, etc. Antonio Viñao Frago, no prólogo
do livro «Refúgios do eu» (Viñao, 2000), assinala «tanto la influencia de los
planteamientos y enfoques de la más reciente historiografia francesa en ese
campo, como la pujanza y originalidad con que, desde Brasil, se han adoptado
tales enfoques adaptándolos a otro contexto, es decir, haciendo su propia lectura
de ellos».
Cabe mencionar os inúmeros estudos realizados sobre o estado da arte da
produção historiográfica da história da educação no Rio Grande do Sul, dos quais
decorreram vários capítulos de livro e artigos. Menciono algumas publicações pela
relevância Histórias e memórias da educação do Rio Grande do Sul, em colaboração com
Elomar Tambara e Lucio Kreutz (1998), Uma cartografia da pesquisa em história da
educação na região sul: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em colaboração
com Marcus Albino Levy Bencostta e Maria Teresa Santos Cunha (2003).
Em 2003, a professora Maria Stephanou e eu fomos convidadas pela Editora
Vozes para organizar uma coleção voltada à área de História da Educação.
Histórias e memórias da educação no Brasil, que reúne em torno de cinqüenta
pesquisadores, em três volumes: séculos XVI – XVIII, século XIX, século XX
(2004-2005) (Stephanou & Bastos, 2004-2005). O objetivo que nos dispusemos
foi «acompanhar as recentes tendências historiográficas e as investigações na
área o que implicou em organizar uma coleção que não se reduzisse em textos
descritivos, seqüência temporal linear e progressiva, com referências isoladas
de agentes, experiências educativas e escolares, fatos políticos. [...] Procuramos
pluralizar possibilidades de leitura inscritas em tempos específicos, que em seu
conjunto não traçam uma trajetória linear, tampouco ascendente de uma única
história da educação. Buscamos situar o leitor em momentos fundantes, embora
muitas vezes descontínuos. Não pretendemos, portanto, elaborar um compêndio
ou uma narrativa que se assemelhe a algo como a epopéia da educação brasileira».
Essa coletânea, com alguns volumes em sexta edição, evidencia o compromisso
como docentes e pesquisadores no campo.
O desfio de organização da coletânea Vozes, também nos instigou a pesquisar
sobre o ensino de História da Educação, na Escola Normal e no Ensino Superior,
a partir do século XIX, enfocando programas, autores, manuais escolares –
nacionais e estrangeiros – adotados no Brasil. Constituiu-se, em 2008, o grupo
de pesquisa – Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Disciplina História da
Educação/ GEPEDHE/CNPq – coordenado pelo professor Dr. Décio Gatti Jr
9 É importante assinalar que a primeira tese sobre História da Educação Brasileira foi apresentada na
Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, em 1943, por José Querino Ribeiro.
10 http://www.seer.ufrgs.br/asphe
11 http://www.sbhe.org.br/
12 http://www.seer.ufu.br/index.php/che/
13 http://www.fe.unicamp.br/revistas/ged/index.php/histedbr/index
14 Os Congressos Brasileiros de História da Educação, a partir de 2000; os Luso-brasileiros,
desde 1996; Iberoamericanos, desde 1993; os Seminários HISTEDBR, desde 1991; os Encontros Sul-
Riograndenses de Pesquisadores em História da Educação/ASPHE, desde 1995.
15 www.seer.ufpr.br/rhhe
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Alberto Barausse
16 Ascolani (2008, p. 19) também observa o mesmo fenômeno para a Argentina e ressalta
que a presença de articulistas argentinos, muitas vezes, decorre de posições institucionais, por
exemplo, presidentes da Sociedade Argentina de Historia de la Educación.
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A pesquisa em História da Educação. Entrevista com Maria Helena Camara Bastos
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