Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
• fornecem informações;
• reduzem os custos das transacções;
• estabelecem regras comuns para todos;
• reforçam o cumprimento das normas;
• estabelecem linkages entre diferentes temas;
• melhoram a cooperação como resultado da redução de assimetrias ou deficiências
de informação;
• fornecem oportunidades acrescidas de negociação;
• criam um ambiente de transparência e de monitorização necessário ao cumprimento
das normas44.
O resultado final seria um desvio das lealdades. De acordo com Haas, a integração é
«o processo através do qual os actores em distintos cenários nacionais são persuadi-
dos a deslocar as suas lealdades, expectativas e actividades políticas para um novo cen-
tro cujas instituições possuem ou exigem jurisdição sobre os estados nacionais
preexistentes»47.
Alguns críticos desta teoria argumentam que o neofuncionalismo explica mais ade-
quadamente o papel das instituições do que os factores que originaram o aparecimento
dos regionalismos. De igual modo, afirmam que as expectativas sobre o declínio do
papel do Estado em detrimento das instituições supranacionais saíram goradas, já que
a maioria dos blocos regionais exteriores à UE tem uma orientação fortemente esta-
tal. Outra crítica prende-se com o facto de esta corrente colocar grande ênfase nas ins-
tituições, dificultando a sua aplicação a alguns esquemas regionais onde se verificam
níveis relativamente baixos de institucionalização.
O construtivismo (também conhecido por reflectivismo) apresenta-se como o terceiro
debate no estudo das Relações e Instituições Internacionais. O seu objectivo é a com-
preensão do modo como as estruturas sociais influenciam a identidade e a conduta
dos actores, e como esses mesmos actores reproduzem as estruturas sociais existen-
tes ou criam novas. Esta teoria assenta no pressuposto de que os actores são social-
mente construídos: o Estado ou interesses nacionais são o resultado das identidades
sociais dos actores. No curso da interacção dos actores, novas formas de identidade
e cultura estão continuamente em formação. Os mecanismos institucionais existentes
resultam da necessidade, do conhecimento e de interesses partilhados, podendo con-
tribuir para um processo de aprendizagem que aumenta a possibilidade de políticas
de convergência entre os estados48.
A literatura construtivista, com base no institucionalismo sociológico49, afirma que as
OI são sede de autoridade própria, independente dos seus criadores, isto é, os esta-
dos. Esta autonomia de poder é-lhes conferida por duas fontes: (1) a legitimidade deri-
vada da autoridade legal-racional que elas corporizam, em consonância com a grelha
de Weber; (2) o controlo sobre o expertise técnico e a informação50: «As organizações
globais fazem mais do que facilitar a cooperação – elas ajudam os estados a ultrapas-
sar o falhanço dos mercados, os dilemas de acção colectiva e os problemas associa-
dos à escolha social interdependente.»51 De acordo com Barnett e Finnemore, as OI
Contributos das teorias das RI
para o estudo das organizações internacionais e da integração regional Maria do Céu Pinto 097
«também criam actores, especificam responsabilidades e a autoridade entre eles e defi-
nem o trabalho a desempenhar por estes actores, conferindo-lhe sentido e valor nor-
mativo. Mesmo quando lhes faltam os recursos materiais, as OI exercem o poder uma
vez que constituem e constroem o mundo social»52. Em concreto, as OI definem tare-
fas internacionais partilhadas (como o “desenvolvimento”), criam e definem novas
categorias de actores (como “refugiados”), criam novos interesses para os actores
(como “promover os Direitos Humanos”) e transferem modelos de organização polí-
tica pelo mundo fora (como mercados e democracia)53.
Na abordagem feita ao regionalismo, a corrente construtivista realça a identidade e cons-
ciência regional, o sentido de pertença a uma comunidade regional específica e o deno-
minado «regionalismo cognitivo». Ela destaca até que ponto a coesão regional depende
de um sentido de comunidade durável e ininterrupto, baseado na confiança, na reacção
mútua e em altos níveis do que se pode cha-
NA ABORDAGEM FEITA AO REGIONALISMO, mar «interdependência cognitiva».
A CORRENTE CONSTRUTIVISTA REALÇA Uma variante relevante para o estudo do
A IDENTIDADE E CONSCIÊNCIA REGIONAL, regionalismo, oriunda do trabalho sobre
O SENTIDO DE PERTENÇA A UMA COMUNIDADE integração desenvolvido por Deutsch,
REGIONAL ESPECÍFICA E O DENOMINADO sublinha duas ideias centrais: o carácter
«REGIONALISMO COGNITIVO». das relações interestados dentro de uma
comunidade em desenvolvimento pode ser
entendido em termos de um sentido de comunidade, simpatia mútua, lealdade e iden-
tidade partilhada, possivelmente baseada em princípios, entendimentos e na persis-
tência de normas colectivas comuns; o processo através do qual tal comunidade surge
está, de algum modo, relacionado com a compatibilidade dos principais valores sociais
(sobretudo, capitalismo e democracia liberal) e com processos de comunicação social
baseados no aumento do nível de transacções entre duas ou mais sociedades (daí o
rótulo «transaccionalismo»).
Os construtivistas, em vez de se debruçarem apenas sobre os incentivos materiais,
acentuam a importância da partilha de conhecimentos, aprendizagens e estruturas
normativas e institucionais. De acordo com Alexander Wendt:
CONCLUSÃO
Nos últimos anos, voltou a surgir um novo interesse nas organizações formais inter-
nacionais55. A testemunhar este facto está a criação, em 1994, da revista International
1 12 23
CLAUDE, JR., Inis L. – Swords into Plows- Seguimos de perto, nesta parte do tra- L INDBERG , Leon N., e S CHEINGOLD ,
hares: The Progress and Problems of Inter- balho, a divisão em etapas de KRATOCHWIL, Stuart A. (eds.) – «Regional integration:
national Organization. 3.ª edição. Nova York: Friedrich, e de RUGGIE, John Gerard – «Inter- theory and research». In International Orga-
Random House, 1964, p. 5. Claude salienta national Organization: the state of the art», nization. Vol. 24, número especial, Outono
a necessidade de fazer a «distinção entre in DIEHL, Paul F. (ed.) – The Politics of Global de 1970.
organizações internacionais e a organização Governance: International Organizations in an
24
internacional. Certas organizações podem Interdependent World. Boulder, CO: Lynne WALTZ, Kenneth – Theory of Internatio-
não ser mais do que joguetes da política de Rienner, 1997, pp. 29-39. nal Politics. Reading, Mass.: Addison-Wes-
poder e servas de ambições nacionais. Con- ley, 1979; MORGENTHAU, Hans J. – Politics
13
tudo, a organização internacional, conside- Cf., por exemplo, GOODRICH, Leland M., among Nations: The Struggle for Power and
rada enquanto processo histórico, representa e SIMONS, Anne P. – The United Nations and Influence. Nova York: McGraw-Hill, 1992;
a tendência secular na direcção do desen- the Maintenance of International Peace and HOFFMAN, Stanley – «International organi-
volvimento sistemático de uma busca Security. Washington, DC: Brookings Insti- zations and the international system», in
empreendedora dos meios políticos para tution, 1955. GOODRICH, Leland M., e KAY, David A. – Inter-
tornar o mundo seguro para os seres huma- national Organization: Politics and Process.
14
nos» (p. 405). BALL, M. Margaret – «Bloc voting in the Madison: University of Wisconsin Press, 1973.
General Assembly». In International Organi-
2 25
CLAUDE, JR., Inis L. – «The growth of zation. Vol. 5, Fevereiro de 1951; MOLDAVER, B ARNETT , Michael N., e F INNEMORE ,
international institutions», in PORTER, B. Arlette – «Repertoire of the veto in the Secu- Martha – «The politics, power, and patho-
(ed.) – The Aberysthwyth Papers: Internatio- rity Council, 1946-1956». In International logies of international organizations», p. 704.
nal Politics 1919-1969. Londres: Oxford Uni- Organization. Vol. 1, Primavera de 1957.
26
versity Press, 1972, pp. 285-286. Ibidem.
15
L OVEDAY , A. – «Suggestions for the
3 27
R OCHESTER , J. Martin – «The United reform of UN economic and social machi- Cf. WALTZ, Kenneth – Theory of Interna-
Nations in a new world order: reviving the nery». In International Organization. Vol. 7, tional Politics, 1979.
theory and practice of international organi- Agosto de 1953; CLAUDE, JR., Inis L. – «The
28
zation», in KEGLEY, JR., Charles W. (ed.) – management of power in the changing Uni- Cf. WALT, Stephen M. – The Origins of
Controversies in International Relations Theory: ted Nations». In International Organization. Alliances. Ithaca, NY: Cornell UP, 1987.
Realism and the Neoliberal Challenge. Nova Vol. 15, n.º 2, Primavera de 1961.
29
York: St. Martin’s Press, 1995, p. 207. A distinção entre as abordagens outside-
16
COX, Robert W., e JACOBSON, Harold K. in e inside-out ao regionalismo foi desen-
4
Cf. AXELROD, Robert, e KEOHANE, Robert (eds.) – The Anatomy of Influence: Decision volvida por NEUMANN, Iver B. – «A region-
O., – «Cooperation under anarchy: strate- Making in International Organization. New -building approach to Northern Europe».
gies and institutions». In World Politics, vol. Haven, CT: Yale University Press, 1973. In Review of International Studies. Vol. 20,
38, Outubro de 1985. n.º 1, Janeiro de 1994.
17
ROCHESTER, J. Martin – «The rise and
5 30
KENNEDY, David – «The move to insti- fall of international organization as a field Sobre a questão do regionalismo, ver o
tutions». In Cardozo Law Review. Vol. 8, Abril of study»., p. 785. capítulo de HURRELL, Andrew – «Regiona-
de 1987. lism in theoretical perspective», in FAWCETT,
18
FORSYTHE, David P. – «United Nations Louise, e HURRELL, Andrew (eds.) – Regio-
6
P ORTER , B. (ed.) – The Aberysthwyth intervention in conflict situations revisited: nalism in World Politics. Oxford: Oxford Uni-
Papers: International Politics 1919-1969; PITT- a framework for analysis». In International versity Press, 2003.
MAN, Potter B. – An Introduction to the Study Organization. Vol. 23, Inverno de 1969; RUG-
31
of International Organizations. Nova York: Cen- GIE, John G. – «Contingencies, constraints, MEADOWS, Donella H. et al. – The Limits
tury, 1922. and collective security: perspectives on UN to Growth. Nova York: Universe, 1972.
involvement in international disputes». In
7 32
Cf. B RIERLY , James L. – The Law of International Organization. Vol. 28, Verão de Na opinião de Haas, «o campo global tor-
Nations. 2.ª edição. Nova York: Oxford Uni- 1974; KAY, David A. – «The politics of deco- nou-se um “campo turbulento”, marcado pelo
versity Press, 1936; EAGLETON, Clyde – Inter- lonization: the new nations and the United leque confuso de actores e temas que têm
national Government. Nova York: Ronald Nations political process». In International as características da interdependência com-
Press, 1932; POTTER, Pittman B. – An Intro- Organization. Vol. 21, Outono de 1967; WIJK- plexa articuladas no paradigma globalista
duction to the Study of International Organi- MAN, Per Magnus – «Managing the global com forças extra-regionais que pesam sobre
zation. 3.ª edição. Nova York: Appleton, 1928; commons». In International Organization. Vol. as regiões de tal forma que tornam difícil
HILL, Norman L. – International Administra- 36, Verão de 1982. para os estados apoiarem a criação de ins-
tion. Nova York: McGraw-Hill, 1931; LAU- tituições a nível regional» (ROCHESTER, J.
19
TERPACHT, Hersch – The Function of Law in ZURCHER, Arnold J. – The Struggle to Martin – «The rise and fall of international
the International Community. Nova York: Unite Europe: 1940-1958. Nova York: New organization as a field of study», p. 793).
Oxford University Press, 1933. York University Press, 1958; MASON, Harry
33
L. – The European Coal and Steel Community. YOUNG, Oran R. – «International regi-
8
ROCHESTER, J. Martin – «The rise and Haia: Nijhoff, 1955; ROBERTSON, A. H. – The mes: problems of concept formation». In
fall of international organization as a field Council of Europe. Nova York: Praeger, 1957. World Politics. Vol. 32, Abril de 1980, pp. 332-
of study». In International Organization. -333. Tal como as definem Robert Keohane,
20
Vol. 40, n.º 4, Outono de 1986, p. 780. Cf. DEUTSCH, Karl W. – Political Com- são instituições que contêm regras, geral-
munity at the International Level: Problems of mente explícitas, definidas pelos governos,
9
KENNEDY, David – «The move to insti- Definition and Measurement. Nova York: Dou- relativamente a áreas específicas das RI.
tutions», p. 845. bleday & Co., 1954. Ou, como diria Oran R. Young, são «ordens
negociadas». Cf. KEOHANE – International
10 21
«Make this League of Nations a vital Uniting of Europe. Stanford, CA: Stanford Institutions and State Power: Essays in Inter-
thing». In International Organization. Vol. 10, University Press, 1958. national Relations Theory. Boulder, CO: West-
n.º 4, Novembro de 1956, p. 525. view Press, 1989; YOUNG, Oran R. – «Regime
22
DEUTSCH, Karl W., et al. – Political Com- dynamics: the rise and fall of international
11
ZIMMERN, Sir Alfred Eckhard – The Lea- munity and the North Atlantic Area. Prince- regimes», in KRASNER, Stephen (ed.) – Inter-
gue of Nations and the Rule of Law, 1918- ton: Princeton University Press, 1957. national Regimes. Ithaca, NY: Cornell Uni-
-1935. 2.ª edição. Londres: Macmillan, 1939. versity Press, 1983, pp. 93-114.