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Anderson*
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É professora da University of Michigan (East Lansing, MI, Estados Unidos). E-mail: eandersn@umich.edu.
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Do original “What is the point of equality?”, publicado em Ethics, v. 109, n. 2, jan. 1999. Direitos autorais
concedidos pela The University of Chicago Press. Tradução de Roberto Cataldo Costa. Revisão técnica
da tradução por Flávia Biroli.
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Agradeço a Louise Antony, Stephen Everson, Allan Gibbard, Mark Hansen, Don Herzog, David Hills,
Louis Loeb, Martha Nussbaum, David Velleman e os membros do público na Universidade da Carolina
do Norte e da Universidade de Chicago, onde apresentei versões anteriores deste artigo. Um agra-
decimento especial a Amy Gutmann, por seus comentários perspicazes no 31º Colóquio Anual de
Filosofia, em Chapel Hill, NC.
Revista Brasileira de Ciência Política, nº15. Brasília, setembro - dezembro de 2014, pp. 163-227.
DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0103-335220141507
talentos das pessoas quando nem todas puderem ser alçadas aos mesmos
padrões elevados (Nozick, 1974, p. 229). Igualitaristas recentes adotam um
critério leximin da igualdade, permitindo as desigualdades desde que os que
estão em pior situação sejam beneficiados ou, mais permissivamente, não
sejam prejudicados (Cohen, 1995, p. 335; e Van Parijs, 1995, p. 5). Portanto,
eles não se importam muito com as disparidades de renda entre os muito
prósperos. Vários defensores da igualdade de fortuna também aceitam um
forte princípio de autoapropriação e, portanto, deploram a interferência nas
escolhas das pessoas para o desenvolvimento dos seus talentos ou a apro-
priação forçada desses talentos (Arneson, 1997, p. 230; Dworkin, 1981b, p.
311-2; Rakowski, 1991, p. 2; e Van Parijs, 1995, p. 25).
Os igualitaristas de fortuna foram mais sensíveis às críticas à igualdade
baseadas em ideais de merecimento, responsabilidade e mercados. Os crí-
ticos da igualdade argumentam que os igualitaristas tiram bens de quem
merece (Bauer, 1981). Os defensores da igualdade de fortuna respondem que
tiram dos afortunados apenas a parte de suas vantagens que todo mundo
reconhece como imerecida. No lado receptor, os críticos protestam que o
igualitarismo prejudica a responsabilidade pessoal ao garantir resultados
independentemente das escolhas individuais que as pessoas fizerem (Mead,
1986). Em resposta, os igualitaristas da sorte passaram de uma concepção
de justiça baseada em igualdade de resultados a uma baseada em igualdade
de oportunidades: eles só pedem que pessoas comecem com igualdade de
oportunidades para alcançar o bem-estar ou o acesso a vantagens ou que
comecem com uma parte igual dos recursos (Arneson, 1997, p. 235). Mas
aceitam a justeza de quaisquer desigualdades que resultem das escolhas vo-
luntárias de adultos. Todos enfatizam muito a distinção entre os resultados
pelos quais um indivíduo é responsável – ou seja, os que resultam de suas
escolhas voluntárias – e os resultados pelos quais ele não é responsável –
bons ou maus resultados que ocorrem independentemente da escolha dele
ou do que poderia ter razoavelmente previsto. Os igualitaristas da sorte
chamam a isso de distinção entre “sorte opcional” e “sorte bruta” (Dworkin,
1981b, p. 293).
As teorias da igualdade de fortuna que resultam disso têm, portanto, um
núcleo em comum: um híbrido de capitalismo e Estado de Bem-Estar Social.
Para os resultados pelos quais os indivíduos são responsabilizados, os igua-
litaristas da sorte prescrevem individualismo rigoroso: que a distribuição de
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Cohen é o único igualitário da sorte de destaque a considerar a dependência da sociedade em relação
aos mercados capitalistas como uma negociação lamentável com a justiça, embora necessária em
um futuro próximo, e não como um instrumento vital para alocação justa. Ver Cohen, 1995, p. 395.
Roemer (1994) apoia uma versão complexa de socialismo de mercado por razões distributivas, mas
essas razões não parecem suficientes para demonstrar a superioridade do socialismo de mercado
sobre, digamos, a versão de Van Parijs de capitalismo.
deficiência que são feitos aos veteranos. No entanto, sua doutrina sugere
que voluntários patrióticos, tendo corrido os riscos da batalha por opção,
podem ser obrigados com justiça a pagar por sua reabilitação. Chamemos
a isso de problema da discriminação ocupacional.
Os cuidadores dependentes e seus filhos enfrentam problemas especiais
sob a abordagem da igualdade de fortuna. Muitas pessoas que cuidam de
dependentes – crianças, doentes e debilitados – não recebem salário de
mercado por cumprir suas obrigações para com aqueles que não podem
se cuidar e, portanto, não têm tempo nem flexibilidade para ganhar um
salário decente. Por essa razão, os cuidadores dependentes, quase sempre
mulheres, tendem a ser financeiramente dependentes de alguém remunera-
do, viver da assistência social ou ser extremamente pobres. A dependência
financeira das mulheres em relação a um homem com renda resulta em
sua vulnerabilidade sistemática a exploração, violência e dominação (Okin,
1989, p. 134-69). Mas a doutrina de Rakowski sugere que essa pobreza e a
subordinação resultante são decorrentes de opção e, portanto, não geram
reivindicações justas sobre os outros. Elas são um “estilo de vida”, talvez
assumido em função de profunda convicção, mas, precisamente por essa
razão, não são algo que possa ser conseguido à custa daqueles que não
compartilham seu “zelo” ou sua “crença” de que uma pessoa tem o dever
de cuidar de seus parentes (Rakowski, 1991, p. 109). Se não quiserem estar
sujeitas a essa pobreza e a essa vulnerabilidade, as mulheres não devem
optar por ter filhos.
As crianças tampouco têm qualquer direito à ajuda de pessoa alguma
que não seja seus pais. Do ponto de vista de todas as outras pessoas, eles
são uma invasão inoportuna, que reduziria as fatias justas de recursos
naturais às quais os que chegaram antes têm direito caso fossem autori-
zadas a reivindicar essas fatias independentemente de seu direito sobre
as de seus pais.
É injusto declarar que (...) porque duas pessoas decidem ter um filho (...) todo mundo
é obrigado a partilhar seus recursos com quem acaba de chegar, e na mesma medida
dos pais. Com que direito duas pessoas podem forçar todas as outras, por meio de
um comportamento intencional, em vez de má sorte bruta, a se contentar com menos
do que a fatia que lhes cabe após os recursos terem sido divididos de forma justa?
(Rakowski, 1991, p. 153).
cujas habilidades sejam preferíveis às dela. Van Parijs aceita o desafio acerca
dessa questão e diz que, se for assim, os surdos não têm direito a qualquer
ajuda especial, quer se identifiquem como parte da comunidade surda, quer
não. Segundo seu próprio juízo, eles consideram suas competências satisfa-
tórias sem a ajuda, então por que oferecê-la a elas (Van Parijs, 1995, p. 77)?
Um problema semelhante atinge teorias igualitárias do bem-estar como a
de Arneson. Cohen (1989, p. 917-18) diz que, na visão de Arneson, se Tiny
Tim ainda fosse feliz sem sua cadeira de rodas e o mal-humorado Scrooge
se sentisse consolado por ter o dinheiro que ela custa, então Tim deveria
ter de abrir mão de sua cadeira de rodas para Scrooge5. O problema é que
essas teorias, ao trabalharem com avaliações subjetivas e agregarem dife-
rentes dimensões de bem-estar, permitem que satisfações privadas sejam
consideradas compensações por desvantagens impostas publicamente. Se
as pessoas encontrarem felicidade em suas vidas apesar de serem oprimidas
por outras, isso não justifica continuar a opressão. Da mesma forma, seria
certo compensar desigualdades naturais, como nascer feio, com vantagens
sociais como a obtenção de contratação preferencial sobre os bonitos (Po-
gge, 1995, p. 247-8)? Chamemos a isso de problema de usar (in)satisfação
privada para justificar opressão pública. E o problema sugere outra aspiração
da teoria igualitária: a de que a solução que ela oferece corresponde ao tipo
de injustiça que ela aborda.
Até agora, salientei as injustiças que a igualdade de fortuna inflige sobre
os que são excluídos dos benefícios. Consideremos agora aqueles a quem
a igualdade de fortuna escolhe como beneficiários exemplares dessa ajuda.
Vejamos a visão de Thomas Nagel:
Quando a injustiça racial e a sexual tiverem sido reduzidas, ainda ficaremos com
a grande injustiça dos inteligentes e dos burros, que são recompensados de forma
tão diferente por esforços comparáveis (...). Talvez alguém descubra uma maneira
de reduzir as desigualdades socialmente produzidas (especialmente as econômicas)
entre inteligentes e não inteligentes, talentosos e sem talento, ou mesmo bonitos e
feios (Nagel, 1979, p. 105).
indenizações tenham chegado pelo correio juntamente com uma carta as-
sinada pelo Conselho de Estado para a Igualdade explicando as razões de
sua compensação. Imagine o que essas cartas diriam:
Às pessoas com deficiência: Seus dons naturais defeituosos ou suas deficiências atu-
ais, infelizmente, fazem com que viver sua vida valha menos a pena do que viver a
vida das pessoas normais. Para compensar esse infortúnio, nós, os aptos, vamos lhe
dar recursos extras suficientes para que o valor de viver sua vida seja suficiente para
que pelo menos uma pessoa a considere comparável à vida de alguma outra pessoa.
Aos burros e sem talento: Infelizmente, as outras pessoas não valorizam o pouco que
você tem a oferecer no sistema de produção. Seus talentos são demasiado escassos
para ter valor de mercado. Por causa do infortúnio de você ter nascido tão maldotado
de talentos, nós, os produtivos, vamos compensá-lo: permitiremos que participe da
recompensa daquilo que produzimos com nossas capacidades muito superiores e
altamente valorizadas.
Aos feios e socialmente desajeitados: Que pena que você seja tão repulsivo às pessoas
ao seu redor a ponto de ninguém querer ser seu amigo ou seu companheiro de vida.
Não vamos lhe compensar sendo seus amigos nem seus parceiros no casamento
– temos nossa própria liberdade de associação para exercer –, mas você pode se
consolar em sua solidão miserável consumindo os bens materiais que nós, os bonitos
e charmosos, vamos lhe proporcionar. E, então, quem sabe? Talvez você não seja
um fracassado no amor quando os parceiros potenciais verem o quanto você é rico.
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Essa é uma preocupação com quais atitudes a teoria expressa, e não com as consequências de expressar
essas atitudes. Cidadãos que respeitam a si mesmos rejeitariam uma sociedade baseada em princípios
que os tratassem como inferiores, mesmo que esses princípios fossem mantidos em sigilo. Portanto,
o utilitarismo na implementação da política não é solução. Tampouco é uma defesa satisfatória da
igualdade de fortuna recomendar que a sociedade adote políticas distributivas mais generosas do
que a teoria requer, de modo a evitar insultos às pessoas. A questão não é se desviar do que a justiça
exige para evitar consequências ruins, e sim se uma teoria da justiça baseada em um sentimento de
pena desdenhosa por seus supostos beneficiários atende à exigência igualitária de que a justiça deve
ser baseada no respeito igual pelas pessoas.
litária dos recursos é uma distribuição livre de cobiça: um critério tal que
ninguém queira o pacote de recursos de qualquer outra pessoa (Dworkin,
1981b, p. 285; Rakowski, 1991, p. 65-6; e Van Parijs, 1995, p. 51). As duas
atitudes são bem adaptadas entre si: a atitude mais generosa que o cobiçado
poderia apropriadamente ter para com o que cobiça seus recursos é a pena.
Embora isso torne a igualdade de fortuna emocionalmente coerente, não
chega a justificar a teoria. O pensamento da cobiça é: “Eu quero o que você
tem.” É difícil ver como esses desejos podem gerar obrigações por parte do
cobiçado. Até mesmo apresentar a própria cobiça como razão ao cobiçado
para satisfazer o próprio desejo é profundamente desrespeitoso.
Assim, o igualitarismo da sorte não consegue expressar preocupação para
com os excluídos da ajuda e não consegue expressar respeito pelos incluídos
entre os beneficiários, bem como por aqueles de quem se espera que paguem
por seus benefícios. Ele não passa nos testes mais fundamentais que qualquer
teoria igualitária deve superar.
tipo sem que tenham culpa. Mas os preços reais dos seguros no mercado
refletem dois fatores irrelevantes para determinar a compensação que o Es-
tado pode dever aos que sofrem danos sem culpa: a necessidade de manter a
compensação extremamente baixa para reduzir o risco moral de danos não
fatais (uma compensação elevada pode seduzir as pessoas a arriscar danos
maiores) e o fato de que as pessoas fazem seguro apenas contra os custos dos
danos contra os quais o Estado não as indeniza (por exemplo, deficiência no
local de trabalho, espaços públicos para pessoas com deficiência).
O recurso de Dworkin a compras hipotéticas de seguros por parte de pesso-
as que não conhecem suas competências sofre de um problema maior: o autor
nunca explica por que essas escolhas de mercado hipotéticas têm qualquer
relevância para determinar o que os cidadãos devem uns aos outros. Uma vez
que essas escolhas não foram realmente feitas, o fato de as alocações do Estado
não as refletirem não viola as escolhas autônomas reais de qualquer pessoa. As
escolhas de mercado dos indivíduos variam de acordo com seus gostos, mas
o que alguém é obrigado a fazer pelos outros não é, em geral, determinado
pelos próprios gostos dessa pessoa, nem pelos gostos dos beneficiários. Vimos
que essa relatividade de gosto autoriza a discriminação contra os cidadãos
com deficiências raras e contra os que gostam de correr riscos. Mas, mesmo
que algumas pessoas estejam dispostas a assumir riscos a si mesmas, não se
conclui disso que elas tenham desistido de sua reivindicação para que seus
concidadãos lhes proporcionem os mesmos benefícios de seguro social con-
tra deficiências involuntariamente causadas, aos quais quem tem aversão ao
risco tem direito. Além disso, mesmo se todos racionalmente comprassem
algum seguro por conta própria – por exemplo, para uma cirurgia plástica
que corrigisse pequenos defeitos na aparência –, esse fato não chegaria a ser
suficiente para gerar uma obrigação à sociedade para que pague por isso. Se
todos quisessem, é claro que poderiam votar para incluir a cirurgia plástica
em um plano de saúde nacional, mas, se votam para não a incluir e deixam
que todo mundo compre esse seguro com seus recursos privados, fica difícil
ver como qualquer cidadão poderia fazer uma reivindicação justa contra a
decisão dos votantes. Uma coisa é que todos decidam se vale a pena comprar
algo para seu consumo privado, e outra bem diferente é decidir que os cidadãos
agindo coletivamente são obrigados a socializar os custos de proporcionar
esse bem a todos. Concluo que as escolhas de mercado reais ou hipotéticas das
pessoas não oferecem orientação sobre o que os cidadãos são obrigados a fornecer
uns aos outros em uma base coletiva. Isso sugere uma outra aspiração para a
teoria igualitária: ela deve fornecer princípios para a vontade coletiva – ou
seja, para o que os cidadãos devem querer em conjunto, e não apenas para o
que cada um pode querer individualmente.
Analisemos, agora, as maneiras pelas quais o igualitarismo da sorte gera
problemas nas formas em que se baseia em princípios socialistas. A igualdade
de fortuna nos diz que ninguém deve sofrer de infortúnio imerecido. Para
implementar seus princípios, o Estado deve fazer juízos de merecimento ou
responsabilidade moral ao atribuir os resultados a sorte bruta ou opcional.
Para determinar se um fumante que adquiriu o hábito enquanto era soldado
deve receber tratamento para o câncer de pulmão financiado pelo Estado,
outras pessoas devem julgar se ele deveria ter demonstrado mais força de
vontade contra o tabagismo, considerando-se as pressões sociais que enfren-
tou de seus pares e dos anunciantes enquanto servia ao exército, os benefícios
do cigarro para redução da ansiedade na situação altamente estressante de
combate, as oportunidades que lhe foram oferecidas para superar seu vício
depois da guerra e assim por diante8.
Friedrich A. Von Hayek (1960, p. 95-7) identificou o problema central
desses sistemas de recompensa baseados em mérito: para reivindicar algum
benefício importante, as pessoas são forçadas a obedecer aos juízos de outras
sobre quais usos deveriam ter feito de suas oportunidades, em vez de seguir
seus próprios juízos. Esse sistema exige que o Estado faça juízos moralizantes
muito invasivos sobre as escolhas individuais. A igualdade de fortuna inter-
fere, assim, na privacidade e na liberdade dos cidadãos. Além disso, como
deixam claro Arneson e Roemer, esses juízos exigem que o Estado determine
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E se alguém corre um risco para a saúde que só aumenta suas chances já significativas de doença?
Que estudos científicos distribuem os riscos de doença devidos a causas involuntárias (por exemplo,
genes defeituosos) e causas voluntárias (por exemplo, alimentação gordurosa) e descontam os
recursos que foram fornecidos para cuidar dos doentes segundo a proporção em que seu risco foi
voluntário (Rakowski, 1991, p. 75). Roemer aceita essa lógica, mas insiste em que a responsabilidade
das pessoas por suas condições deveria ter o desconto das influências sociológicas não escolhidas,
bem como as genéticas. Assim, se duas pessoas com câncer de pulmão fumam o número médio de
anos para seu tipo sociológico (determinado por sexo, raça, classe, profissão, hábitos de fumar dos
pais etc.), elas têm direito, mantendo-se os outros fatores, a igual compensação contra os custos de
seu câncer, mesmo que uma tenha fumado por oito anos e a outra, por 25 anos (Roemer, 1994a, p.
183). A intuição do autor é de que as pessoas que exercem graus comparáveis de responsabilidade,
ajustados para compensar as diferentes influências sociais sobre seu comportamento, devem ter
direito a graus iguais de compensação contra os custos de seu comportamento. Roemer não leva em
conta as expressivas implicações de o Estado pressupor que diferentes classes de cidadãos devem ter
padrões diferentes de comportamento responsável.
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Young (1995) faz uma crítica semelhante, sem relação com o igualitarismo da sorte, sobre os movimen-
tos de reforma da previdência contemporâneos. A versão de Van Parijs sobre o igualitarismo da sorte
pode parecer escapar ao pensamento da Lei dos Pobres porque promete uma renda incondicional
a todos, independentemente de exercerem trabalho remunerado. No entanto, como mencionado
anteriormente, até mesmo a sua visão considera implicitamente como norma os gostos de adultos ego-
ístas sem responsabilidades de cuidar de outros. Isso porque a diferença entre salário mínimo e renda
incondicional será definida pelos incentivos necessários para trazer o egoísta marginal desimpedido
ao mercado de trabalho. O destino dos cuidadores dependentes não remunerados dependerá, pois,
dos equilíbrios entre trabalho e lazer de vagabundos da praia, e não de suas próprias necessidades.
Quanto mais ligado ao lazer for o vagabundo de praia, menor deve ser a renda incondicional.
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Ver Anderson (1995). Essa exigência significa que devemos sempre ouvir pacientemente àqueles
que provaram ser burros, impertinentes ou desonestos? Não. Significa (1) que todo mundo deve ter
o benefício inicial da dúvida, (2) que uma pessoa só pode ser ignorada ou excluída da discussão por
razões demonstradas de incompetência comunicativa ou falta de disposição para travar uma discussão
justa e (3) que os excluídos devem ter oportunidades razoáveis para demonstrar sua competência
comunicativa e, assim, reconquistar um lugar na conversação.
reivindicações das pessoas aos bens distribuídos é que elas sejam iguais, e
não inferiores, às outras.
Isso nos dá uma concepção crua da igualdade. Como podemos derivar
dela princípios de justiça? Nossa investigação da igualdade de fortuna não
foi completamente inútil: a partir de seus fracassos, recolhemos algumas
aspirações para os princípios igualitários. Em primeiro lugar, esses princípios
devem identificar determinados bens aos quais todos os cidadãos têm de ter
acesso efetivo durante toda a vida. Alguns bens são mais importantes do que
outros do ponto de vista igualitário, dentro de qualquer espaço de igualdade
identificado como sendo de preocupação específica para os igualitaristas. E
as teorias da linha de largada ou quaisquer outros princípios que permitam a
cidadãos cumpridores da lei perder o acesso a níveis adequados desses bens
são inaceitáveis. Em segundo lugar, os igualitaristas devem ser capazes de
justificar essas garantias vitalícias de acessibilidade sem recorrer ao paterna-
lismo. Em terceiro lugar, os princípios igualitários devem oferecer soluções
que correspondam ao tipo de injustiça a ser corrigida. Satisfações privadas
não podem compensar opressão pública. Em quarto lugar, os princípios
igualitários devem manter a responsabilidade dos indivíduos para com
suas próprias vidas, sem fazer juízos humilhantes e invasivos sobre as suas
capacidades de exercer responsabilidade ou sobre como eles usaram suas
liberdades. Por fim, esses princípios devem ser objetos possíveis da vontade
coletiva. Eles devem ser capazes de fornecer razões suficientes para que ci-
dadãos atuando em conjunto garantam coletivamente os bens particulares
que são alvo da preocupação dos igualitaristas.
Tratemos primeiramente da última aspiração. A determinação do que
pode ou deve ser objeto de vontade coletiva tem sido a tarefa tradicional
da teoria do contrato social. Nas versões democráticas liberais da teoria, o
objetivo fundamental do Estado é garantir a liberdade de seus membros.
Como o Estado democrático nada mais é do que os cidadãos agindo
coletivamente, conclui-se que a obrigação fundamental dos cidadãos
uns para com os outros é garantir as condições sociais para a liberdade
de todos (Korsgaard, 1993). Como os libertários também adotam essa
fórmula, pode-se pensar que ela levaria a implicações desiguais. Em vez
de repudiar a fórmula, a igualdade democrática a interpreta: ela afirma
que a condição social para viver uma vida livre é que a pessoa esteja em
relações de igualdade com as outras.
Assim sendo, os igualitaristas diferem dos libertários porque defendem uma com-
preensão mais ampla das condições sociais da liberdade. É importante ressaltar que
eles veem as relações privadas de dominação, mesmo as estabelecidas por consenti-
mento ou contrato, como violações da liberdade individual. Os libertários tendem
a identificar a liberdade com liberdade formal e negativa: ter direito legal de fazer o
que se quer sem precisar pedir permissão a ninguém e sem a interferência de outros.
Essa definição de liberdade negligencia a importância de dispor dos meios para
fazer o que se quer. Além disso, a definição pressupõe implicitamente que, dados
os meios materiais e a capacidade interna de se fazer o que se quer, basta a ausência
de interferência por parte de outros para se fazer o que se quer. Com isso, ignora-se
o fato de que a maioria das coisas que as pessoas querem fazer exige a participação
em atividades sociais e, portanto, comunicação e interação com outros. Uma pessoa
não pode fazer essas coisas se as demais a tornarem uma “pária”. Um libertário pode
argumentar que a liberdade de associação implica o direito de se recusar a se associar
a outras pessoas por qualquer motivo. No entanto, uma sociedade que incorpore um
direito tão incondicional quase não precisa de coerção física para forçar as pessoas
a obedecer aos desejos daquelas que têm poder de excluir outras de participação na
vida social. O mesmo se aplica a uma sociedade em que a propriedade seja distribu-
ída de forma tão desigual que alguns adultos vivam em uma dependência abjeta de
outros e, portanto, à sua mercê. As sociedades que permitem a criação de “párias”
e classes subordinadas podem ser tão repressivas como qualquer regime despótico.
requer que todos tenham acesso efetivo a uma nutrição adequada, bem como
a fontes de nutrição que a própria sociedade considera dignas – próprias para
consumo no convívio social. Ela não exige que todos tenham os recursos
necessários para uma oportunidade igual de funcionar como um gourmet.
Não exige, portanto, critérios para igualdade de recursos que dependam
da ideia moralmente duvidosa de que a distribuição dos recursos deve ser
sensível a considerações relacionadas à cobiça.
13
Falo de “trabalhadores” em vez de “cidadãos” em parte porque as implicações morais de considerar
a economia como um sistema de produção cooperativa vão além das fronteiras internacionais. À
medida que a economia se torna global, estamos todos implicados em uma divisão internacional
do trabalho sujeita a avaliação do ponto de vista igualitário. Temos obrigações não só para com os
cidadãos de nosso país mas para com os nossos colegas de trabalho, que agora se encontram em
praticamente todas as partes do globo. Também temos obrigações humanitárias globais para com
todos, considerados simplesmente como seres humanos – aliviar a fome e as doenças, evitar fomen-
tar ou facilitar de guerras de agressão e assim por diante. Infelizmente, não tenho espaço aqui para
examinar as implicações internacionais da igualdade democrática.
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E quanto às pessoas ricas que constroem suas casas de férias em áreas sujeitas a desastres? Elas não
foram encarregadas por outras pessoas de viverem lá, nem parece justo forçar os contribuintes a ga-
rantir suas propriedades de luxo. A igualdade democrática não pode permitir que mesmo os cidadãos
improdutivos percam tudo, mas os compensa por todas as suas perdas. Ela só garante ajuda suficiente
para que eles voltem a ficar de pé, mas não para que o façam sobre calçados de luxo. Se até essa
ajuda parece cara demais, um Estado igualitário pode proibir as pessoas de morar em áreas sujeitas a
desastres ou tributar quem o fizer para cobrir os custos do excesso de ajuda em casos de desastres. O
que ele não pode fazer é deixá-las viver lá por sua conta e risco e, em seguida, abandoná-las em sua
hora de necessidade. Essa ação trata até mesmo os imprudentes com desprezo inadmissível.
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Pode-se pensar que as sociedades pobres não tenham como fornecer nem mesmo as capacidades
básicas para todos os trabalhadores. No entanto, estudos de Sen sobre o padrão de vida na Índia
e China mostram que mesmo as sociedades extremamente pobres conseguem proporcionar um
conjunto impressionante de capacidades básicas – alimentação, saúde e alfabetização decentes e
assim por diante – a todos os seus membros caso se dediquem à tarefa. Ver, por exemplo, Sen (1985).
16
Trabalho requerido para o recebimento de direitos previdenciários. [N.R.T.]
tias apenas contra algumas causas de perda: distinguir as perdas pelas quais
as pessoas são responsáveis daquelas pelas quais elas não são e as compensar
apenas contra estas. Tal é a abordagem do igualitarismo da sorte, o que leva a
pensamento típico das Leis dos Pobres e a juízos invasivos e desrespeitosos so-
bre os indivíduos. A segunda estratégia é dar garantias apenas contra as perdas
de determinados tipos de bens: distinguir tipos garantidos e não garantidos
de bens no âmbito da preocupação igualitária e garantir os indivíduos apenas
contra a perda dos primeiros. Esse é o ponto de vista da igualdade democrática.
A igualdade democrática não compensa indivíduos por todas as perdas
devidas à sua conduta imprudente. Ela só garante um conjunto de capacida-
des necessárias para funcionar como cidadão livre e igual e evitar a opressão.
Os indivíduos devem suportar muitas outras perdas por conta própria. Por
exemplo, uma pessoa que fuma teria direito a tratamento para o câncer de
pulmão resultante desse hábito independentemente do seu grau de respon-
sabilidade por fumar, mas não teria direito à compensação pela dificuldade
de desfrutar da vida provocada por seu confinamento no hospital e sua
capacidade pulmonar reduzida, pelo medo que sente ao contemplar sua
mortalidade, nem pela censura dos parentes que desaprovam seu estilo de
vida. Assim, os indivíduos têm muito a perder com a sua conduta irrespon-
sável e, portanto, têm um incentivo para se comportar de forma prudente.
O igualitarismo da sorte não pode aproveitar essa estrutura de incentivos
porque compensa os indivíduos pela perda de todos os tipos de bens (tipos
de recursos ou fontes de bem-estar) dentro do âmbito da preocupação igua-
litária. Portanto, deve recorrer a juízos morais sobre a causa da perda para
promover a responsabilidade individual.
A igualdade democrática tem duas outras estratégias para a promoção
da responsabilidade individual. Primeiro, oferece igualdade no espaço de
possibilidades, ou seja, oportunidades e liberdades. Os indivíduos ainda têm
de exercer agência responsável para alcançar a maioria dos funcionamentos
aos quais a sociedade garante acesso eficaz. No caso típico de um adulto
apto, por exemplo, o acesso a uma renda decente estaria condicionado ao
desempenho responsável nos deveres do trabalho, supondo-se que exista
emprego disponível.
Em segundo lugar, a maior parte das liberdades que garantem igualdade
democrática é um prerrequisito para o exercício da agência responsável. A
agência responsável requer opções reais, consciência dessas opções, compe-
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Esse argumento é totalmente diferente do direito de recusar tratamento médico. Uma coisa é um
indivíduo exercer o direito de recusar tratamento quando lhe for oferecido; outra, bem diferente, é
outros se recusarem a oferecer atendimento médico quando necessário.
um seguro de saúde. Ela diz à pessoa que não compraria o seguro: “Você
tem um valor moral que ninguém pode desconsiderar. Reconhecemos esse
valor em seu direito inalienável à nossa ajuda em caso de emergência. Você
é livre para recusar essa ajuda quando a oferecermos, mas essa liberdade não
o exime da obrigação de ajudar outras pessoas quando as necessidades de
saúde delas forem urgentes. Como essa é uma obrigação que todos devemos
a nossos concidadãos, todos devem ser tributados por esse bem, que deverá
ser proporcionado a todos. Isso faz parte de sua reivindicação legítima como
cidadão igual.” Qual justificativa para proporcionar seguro de saúde mais
bem expressa o respeito por seus beneficiários?
18
Algumas exceções teriam de ser feitas àqueles com deficiências mentais ou insanidade tão graves que
não possam funcionar como agentes. Além disso, as crianças não têm direito imediatamente a todas
as liberdades dos adultos, e sim a condições sociais para o desenvolvimento de suas capacidades de
funcionar como cidadãos livres e iguais.
audição teria em si. Elas insistem em que a língua de sinais é uma forma de
comunicação tão valiosa quanto a fala e que os outros bens que podem ser
obtidos pela audição, como apreciação de música, são partes dispensáveis
de qualquer concepção de bem. Não é preciso julgar o valor intrínseco da
audição para apreciar os usos retóricos de sua negação: os surdos querem
colocar a audição no seu devido lugar para purgar a suposição arrogante
dos ouvintes de que a vida dos surdos, de alguma forma, vale menos a pena
ser vivida. Eles querem fazer reivindicações sobre os ouvintes de uma forma
que exprima a dignidade que eles veem em suas vidas e sua comunidade, e
não de uma maneira que atraia pena por sua condição19. E o fazem negando
que sua condição, em si, seja algo a ser lamentado.
Apesar de considerar o tratamento das pessoas com deficiência como
um caso exemplar, a igualdade de fortuna tem dificuldade com essas ideias.
Isso se deve ao fato de que ela se baseia em medidas subjetivas de bem-estar
ou do valor dos ativos pessoais. As medidas subjetivas provocam todos os
pensamentos errados por parte dos aptos. O critério de Van Parijs sobre
diversidade não dominada só permite que as pessoas com deficiência façam
reivindicações de justiça em relação a sua deficiência se todos considerarem
sua condição tão desgraçada que todos prefiram ser outra pessoa. Esse teste
pede que os aptos considerem o horror que sentem imaginando que têm uma
deficiência como razão para compensar os deficientes. Considerar a condição
das pessoas com deficiência como intrinsecamente horrível é insultar aquelas
que levam suas vidas com dignidade. O critério de Arneson sobre igualdade
de oportunidades para o bem-estar implica que, desde tenham as mesmas
chances de felicidade, as pessoas com deficiência não tenham pretensões
a tratamento especial. A pesquisa mostra que as pessoas com deficiência
vivenciam as mesmas variações de felicidade das aptas (Silvers, 1995, p. 54).
Assim, pelo critério de Arneson, está certo excluir as pessoas com deficiência
da vida pública porque elas estão felizes o suficiente sem ser incluídas.
Medidas subjetivas da condição das pessoas geram pena por quem tem
deficiência ou relutância em considerar suas reivindicações de justiça. A
maneira de escapar desse dilema é levar a sério as reclamações de fato feitas
por essas pessoas. Elas não pedem para ser compensadas pela deficiência
em si, e sim que as desvantagens sociais que outros lhes impõem por ter a
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Wrigley (1996) discute as potencialidades e os problemas de se redefinir a deficiência (ser surdo) como
comunidade (ser surdo), à maneira de uma política de identidade.
por causa de sua condição interna digna de pena. Eles situam a desvantagem
injusta da deficiência na maneira como os outros tratam os deficientes. A
igualdade democrática também não assimila os deficientes à situação dos que
sofrem de gostos involuntariamente caros. Ter uma deficiência não é como
ser tão mimado que é impossível não querer brinquedos caros.
Outras vítimas da má sorte bruta devem ser tratadas como as pessoas
com deficiência? A igualdade de fortuna pensa que sim – ela estende sua
preocupação também aos feios, aos estúpidos e aos sem talento. A igualdade
democrática não emite juízos sobre o valor dos dons naturais das pessoas
e, por isso, nada tem de especial a dizer aos burros e aos sem talento. Em
vez disso, concentra-se nos papéis produtivos que as pessoas ocupam, em
reconhecimento ao fato de que a sociedade vincula benefícios econômicos ao
desempenho em um papel, e não à posse do talento em si. A igualdade demo-
crática requer que sejam vinculados benefícios suficientes ao desempenho em
cada papel para que todos os trabalhadores possam funcionar como iguais na
sociedade. O talento também traz vantagens não econômicas, como a admi-
ração dos outros. A igualdade democrática não vê injustiça nessa vantagem,
porque a pessoa não precisa ser admirada para ser capaz de funcionar como
cidadã igual. Como exige a justiça, a maioria dos residentes de democracias
modernas vive em um estado de civilização no qual a conquistar honra não
é uma condição para desfrutar de liberdades fundamentais. Em lugares onde
não é assim, como em determinados bairros pobres e difíceis, está claro que
a injustiça não reside no fato de que alguns indivíduos, infelizmente, nascem
com dons naturais inferiores de coragem, mas em que a ordem social esteja
organizada de modo que só os dispostos a apresentar graus incomumente
elevados de crueldade consigam ter segurança pessoal.
E os feios? Eles não têm direito a uma compensação por sua aparência
repugnante, que os torna tão indesejáveis em ambientes sociais? Alguns
igualitaristas da sorte considerariam que essa má sorte requer uma solução,
talvez na forma de cirurgia plástica com subsídio público. A igualdade de-
mocrática se recusa a endossar publicamente os juízos privados degradantes
sobre a aparência, que são a base dessas reivindicações de compensação.
Em vez disso, pergunta se as normas baseadas nesses juízos são opressivas.
Consideremos um defeito de nascença que afete apenas a aparência e que
seja considerado tão abominável segundo as normas sociais vigentes que as
pessoas tendam a evitar quem o tem. Uma vez que a capacidade de parti-
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Resumo
O igualitarismo democrático dá às sociedades um meio para entender os princípios da
justiça e como eles se aplicam a elas próprias e a outras. Ao perceber a forma como a justiça
exige respeito mútuo para funcionar, os cidadãos de uma comunidade política podem
se tornar ativos no sentido de garantir que suas estruturas sociais e políticas facilitem o
desenvolvimento de respeito e tolerância mútuos.
Palavras-chave: justiça, igualdade de fortuna, igualdade democrática, justiça distributiva,
dependência.
Abstract:
Democratic egalitarianism gives societies a means to understand the principles of justice
and how they apply to those and other societies. Realizing how justice requires mutual
respect to work, citizens of a polity can become active in ensuring that its social and
political structures facilitate the development of mutual respect and tolerance.
Keywords: justice, equality of fortune, democratic equality, distributive justice, depen-
dence.