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de leitura crítica
ABSTRACT: This article presents, from the visualization of the Modern Foreign
Language basis in the Curriculum Guidelines of the Basic Education, the perspective
of a critical reading approach based on the use of classical literature, specifically
focusing on the book The Little Prince by Antoine de Saint-Exupéry. It aims to expose
the assignment developed in the reading workshops of the initial project, temporarily
entitled “Learning and Teaching Classical Literature Texts in English as a Modern
Foreign Language: some proposals” and the reflections originating in the observation
of English lesson in a sixth grade class of a State School of Northern Paraná, in
which the project is inserted. The methodology used is based on the qualitative
approach of the observations and the outcome shows the findings that the reading of
a classical text does not represent major changes in the reading habit in English, but
it attracts the students’ interest in the book, it broadens their cultural knowledge, the
readers’ vocabulary and it represents an important step in building the critical reader,
mostly in his/her mother tongue.
Revisão da Literatura
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Estrangeira Moderna (LEM) neste estado. Estes referenciais teóricos estão
contidos nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica (DCE) que é o documento
orientador do currículo para toda a Rede Pública Estadual. A Pedagogia Crítica é o
referencial teórico que sustenta as DCE, e ancorada nestes pressupostos fica claro
que a escola tem
o compromisso de prover aos alunos meios necessários para que não apenas assimilem o
saber como resultado, mas apreendam o processo de sua produção, bem como as
tendências de sua transformação. A escola tem o papel de informar, mostrar, desnudar,
ensinar regras, não apenas para que sejam seguidas, mas principalmente para que possam
ser modificadas (DCE, 2008, p. 28).
5
os domínios” (BAKHTIN/VOLOCHINOV,1999, p. 41) e que portanto, a interação
mediada por elas no ato de ler, leva em consideração não só a natureza sócio-
histórica da linguagem e do homem, como também os conteúdos ideológicos que
carregam consigo.
Historicamente, o enfoque dado à leitura dentro do processo de ensino e
aprendizagem de LEM tem variado de acordo com a corrente metodológica em
voga. A concepção de leitura passou por várias transformações no decorrer do
tempo social e escolar, mas nas DCE fica claro que o objetivo maior da leitura é
trazer um conhecimento de mundo que permita ao leitor elaborar um modo de ver a
realidade (DCE, 2008, p.31).
Por outro lado, cabe salientar alguns aspectos relevantes do processo
cognitivo da leitura. Para Kleiman (2008) o processo de ler é visto como uma tarefa
cognitiva complexa onde fatores como percepção, atenção e memória são
necessárias para processar as informações e estabelecer sentido ao texto, no
processo interativo que é a leitura. Os modelos de processamento em leitura citados
por Kleiman, dentre eles o processamento serial de Gough (1976), o processamento
automático de LeBerge e Samuels (1976), o sistema de comunicação de Ruddell
(1976) e a testagem de hipóteses de Goodman, embora conflitantes em alguns
pontos, representam contribuições para o entendimento de como se processa a
leitura.
Kleiman (2007) também sinaliza que as experiências e os conhecimentos
prévios do leitor são muito importantes, pois auxiliam nas previsões e inferências na
compreensão do texto. O leitor constrói um significado para o texto através do
estabelecimento de objetivos e da formulação de hipóteses (uso de estratégias
metacognitivas na leitura), aceita e rejeita conclusões, interpreta as marcas formais
do texto usando estratégias provenientes de seu conhecimento linguístico, vivência
sociocultural e conhecimento de mundo. Pelo caráter interacional da leitura, ao
percorrer os caminhos do texto, através de análises, o leitor reconstrói a intenção
argumentativa, que é considerada pré-requisito para o posicionamento crítico do
leitor.
Ao explicitar aspectos relativos ao ensino de LEM, no que se refere a leitura,
Kato (2007) destaca a importância dos processamentos de informação ascendente
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(bottom-up) e descendente (top-down), o uso de esquemas (schemata) e
subesquemas, estratégias cognitivas e metacognitivas e como tudo isto influi na
caracterização do tipo de leitor. No processamento de informação ascendente o
leitor depende mais do texto, fazendo uso linear e indutivo das informações visuais
para construir o significado, é o leitor analisador, enquanto que no processamento
de informação descendente o leitor constrói o significado partindo de uma
abordagem não-linear, utilizando mais a dedução a partir de informações não-
visuais, é o chamado leitor construtor. Além disso, os leitores trazem consigo os
esquemas, que são conhecimentos estruturados tais como informações,
conhecimentos, experiências, cultura, emoções etc, que são acionados no
processamento de informações durante a leitura e contribuem para a compreensão
do texto. Para Kato o leitor proficiente é aquele que faz uso apropriado desses
processos. E ainda destaca que “a língua oral não é um pré-requisito para a
aprendizagem da leitura em segunda língua e que, se o aluno já é um leitor
proficiente em sua língua, as estratégias procedimentais que nela utiliza podem
compensar com vantagem, o déficit no domínio lingüístico” (KATO, 2007, p.71).
Retomando a teoria dos esquemas de Rumelhart e Ortony (1977), em
Taglieber (1998), para inferir sobre a palavra impressa o leitor aciona os esquemas
de conteúdo que incluem o que sabemos sobre as pessoas, o mundo, a cultura, o
universo etc, e também os esquemas formais que consistem em nosso
conhecimento sobre a estrutura do discurso. Da interação eficiente do conhecimento
linguístico e do conhecimento do mundo, depende a habilidade da leitura. Os
modelos teóricos (de percepção visual, adivinhação e interacionistas) contribuem na
relação teoria/prática da leitura.
Sendo assim, nota-se que o papel do professor no contexto de LEM, é o de
ensinar o aluno a compreender o texto, é o de criar oportunidades que permitam o
desenvolvimento do processo cognitivo. Tal conhecimento revela-se crucial para
uma ação pedagógica bem informada e fundamentada. Torna-se evidente que a
medida que o professor aprofunda seus conhecimentos sobre os aspectos e
estratégias que compõem os processos cognitivos, poderá criar melhores
oportunidades de aprendizagem. É preciso compreender melhor os processos
subjacentes à leitura e a formação do bom leitor, para isto é importante trabalhar a
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leitura desde a sua aquisição. O ensino da leitura é importante para ajudar na
solução de problemas relacionados ao pouco aproveitamento escolar e ao fracasso
na formação de leitores, e neste processo é fundamental a participação de
professores de todas as disciplinas (KLEIMAN, 2007). Este pensamento é reforçado
por Silva, quando diz que “a promoção da leitura é uma responsabilidade de todo o
corpo docente de uma escola e não apenas dos professores de Língua Portuguesa.
Não se supera uma dificuldade ou uma crise com ações isoladas” (SILVA, 2005, p.
24). Para tanto, é necessário que esta ação se efetive dentro dos parâmetros que
norteiam cada uma das disciplinas, e que os professores se conscientizem da
necessidade do conhecimento na área específica da leitura e do diálogo
interdisciplinar, em uma tentativa de suprimir as deficiências do sistema educacional
e colocar em primeiro plano a sólida formação do leitor.
A partir das reflexões em torno do discurso, texto, leitura, leitor e demais
elementos consoantes a prática de leitura na escola, há uma outra questão latente
que se refere ao uso de textos literários clássicos nas aulas de Inglês. É importante
que o aluno tenha acesso a textos de diversos gêneros provenientes das várias
esferas sociais de circulação, dentre eles o texto literário, que é tão pouco utilizado e
que tem muito a contribuir. Nas palavras de Zilberman, “a sala de aula é um espaço
privilegiado para o desenvolvimento do gosto pela leitura, assim como um campo
importante para o intercâmbio da cultura literária, não podendo ser ignorada, muito
menos desmentida sua utilidade” (ZILBERMAN, 2003, p.16). Nas relações entre a
literatura e a escola, ou o uso de textos literários em sala de aula, a natureza
formativa de ambas deve ser compartilhada, pois elas estão voltadas para a
formação do indivíduo ao qual se dirigem. O sujeito não permanece indiferente aos
efeitos de ambas, sua atuação sobre o sujeito é sempre ativa e dinâmica. A
introdução do texto literário com intuito unicamente pedagógico deve ser combatida.
O que pode ser feito é o oposto no qual
a didática se submete às virtualidades cognitivas do texto literário (...) Tal decisão por uma
mudança de rumos implica algumas opções por parte do professor, delimitadas estas, de
um lado pela escolha do texto e, de outro, pela adequação deste último ao leitor. Dessa
maneira, as fronteiras se estendem da valorização da obra literária à relevância dada ao
procedimento de leitura (ZILBERMAN, 2003, p. 26)
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A seleção dos textos advém da aplicação de critérios, todavia, é necessário
que o valor por excelência a guiar esta seleção se relacione à qualidade estética, e
não a expectativa da veiculação de regras gramaticais. Neste contexto podemos
recorrer aos clássicos da literatura infanto-juvenil, em língua inglesa, como fonte de
conhecimento e entretenimento. Porém, a definição de clássico, remete-nos, às
vezes, ao antigo ou ao velho e nas definições de Calvino verificamos o quanto há de
contraditório neste modo de pensar. Para isto ele coloca algumas propostas de
definição
dizem-se clássicos aqueles livros que constituem uma riqueza para quem os tenha lido e
amado; mas constituem uma riqueza não menor para quem se reserva a sorte de lê-los
pela primeira vez nas melhores condições para apreciá-los (...) Um clássico é um livro que
nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer (...) Aquilo que distingue um clássico no
discurso que estou fazendo talvez seja só um efeito de ressonância que vale tanto para a
obra antiga quanto para uma moderna mas já com um lugar próprio numa continuidade
cultural (CALVINO, 1993, p. 10-14).
Contextualização da Pesquisa
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próprios alunos. Muito embora, tenham um histórico de relevante empenho em
todas as disciplinas, como constatamos em conversas com aqueles que foram
professores desta mesma turma na quinta série e também com a equipe
pedagógica.
Para viabilizar as oficinas e aproveitar o ensejo do ano da França no Brasil,
escolhemos o clássico universal The Little Prince do francês Antoine de Saint-
Exupéry traduzido por Richard Howard para a língua inglesa. Para as oficinas de
leitura trabalhamos desde a capa, a dedicatória e os quatro primeiros capítulos da
obra utilizando como instrumento o próprio livro, desenvolvendo atividades de leitura
escritas e orais como ferramentas a partir das estratégias envolvendo a utilização
dos componentes visuais do livro, anticipation guide, skimming e scanning e também
follow-up activity através de discussões filosóficas de temas presentes nos capítulos.
Para iniciar a implementação do projeto de intervenção e antecedendo a
primeira oficina de leitura, fizemos uma sondagem através de um diálogo informal
com os alunos sobre a importância da leitura e da literatura, promovendo uma
interação das opiniões a respeito do assunto. Após esta sondagem partimos para a
leitura do texto e atividades propostas de acordo com o desenvolvimento de cada
oficina.
Para proceder a análise, interpretação e reflexão sobre os resultados,
escolhemos fazer o registro das oficinas de leitura em relatórios, constituídos a partir
das transcrições passo a passo das atividades realizadas antes, durante e depois
das oficinas de leitura e utilizá-los como subsídios não só para direcionar a
implementação do projeto ao longo de seu desenvolvimento, como para a
construção deste artigo. Levando em consideração uma investigação de cunho
qualitativo, pelo caráter descritivo e segundo a perspectiva de nossa participação
direta e interativa com a situação estudada.
A leitura das observações e descrições de cada aula, somando-se ao
registro das atividades realizadas oralmente e por escrito pelos alunos possibilitou a
análise do processo e dos resultados explicitados a seguir.
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Construindo o caminho e relatando o percurso
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imagem: diálogos e linguagem dentro do livro, diz que a ilustração pode ampliar o
potencial narrativo do texto. E de acordo com ele “é impossível negar que todo o
texto ilustrado vai, necessariamente, receber interferências de suas ilustrações. A
energia, a leitura (ilustrar é interpretar), o imaginário, a linguagem, as cores, o clima,
a técnica, as referências icônicas, tudo que o ilustrador fizer, vai alterar e interferir na
leitura (e no significado) do texto”. Assim, concordando com Field e Azevedo
compreendemos a funcionalidade dos componentes visuais e a sua possível
aplicabilidade nas etapas de uma oficina de leitura.
Para tanto iniciamos as oficinas onde desenvolvemos um trabalho
dialogando com os alunos em língua materna e inserindo, sempre que possível,
colocações em língua inglesa sobre os componentes visuais da capa do livro The
Little Prince (ilustração, título, autor etc). Nesta atividade os alunos puderam
identificar certos componentes visuais, citados anteriormente, presentes nas capas
de livros, que auxiliam na compreensão da leitura e ao mesmo tempo proporcionam
aos alunos experienciar expectativas em relação a obra.
Depois de introduzir o livro aos alunos, eles responderam questões sobre: o
título (What does the title suggest?), a ilustração (What does the picture tell you?) e o
conhecimento deles sobre a obra (What do you already know about the story of The
Little prince?) em uma atividade cuja proposta faz parte da produção didático-
pedagógica OAC (Objeto de Aprendizagem Colaborativa), que apresentamos a
seguir com uma breve descrição das respostas dos alunos; conforme pode ser
observado no diário retrospectivo:
Excerto 1:
Na primeira questão sobre o que o título The Little Prince sugeria, os alunos responderam: citando
observações de como tudo era pequeno (pequeno príncipe, pequeno planeta, estrelinhas etc);
trouxeram conhecimentos ligados aos contos de fadas (vocabulário: castelo, realeza, lutas,
princesas, dragões, reis, rainhas etc); opinaram em relação a situação (riqueza etc); opinaram em
relação ao príncipe, usando características físicas e/ou da personalidade (pequeno, criança, 12
anos, triste, sozinho, feliz etc); misturaram o que viram com uma pitada de imaginação; tiraram
conclusões baseando-se na ilustração; falaram sobre o livro, demonstrando conhecê-lo. Na questão
sobre o que a figura dizia a eles, os alunos responderam: de maneira extremamente fiel ao desenho;
usaram a imaginação adicionando elementos não visualizados no desenho como sentimentos e
sensações; externaram sua visão sobre o que o príncipe estava fazendo. Na terceira questão em
relação ao que eles sabiam sobre a estória The Little Prince: como a grande maioria dos alunos não
conhecia a estória, usaram a imaginação atendo-se ao desenho para expressar opinião;
expressaram opinião citando a vida de rico; um aluno citou fatos da estória por já conhecê-la; alguns
não responderam de forma coerente ou responderam de forma minimalista, escrevendo algo só para
não deixar em branco; imaginaram dando características pessoais ao príncipe (triste, solitário, feliz,
sozinho); usaram a imaginação e criaram um contexto, às vezes até com conclusões. (Diário
retrospectivo, 05/03/09).
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Quando falamos em pré-leitura devemos lembrar que os conceitos de texto
e leitura são muito amplos, e que a mesma se processa não somente através de
textos escritos, mas integrada a outras linguagens, como por exemplo, as artes
visuais. Torna-se oportuno aqui, resgatar o conceito de leitura de Martins (1982, p.
25) como “um processo de compreensão de expressões formais e simbólicas, não
importando por meio de que linguagem”. Nesta atividade de pré-leitura, ficou
evidente que os componentes visuais como: elementos gráficos, cores, ilustrações
etc., contribuem nas previsões sobre o que esperar do texto, ativando o
conhecimento prévio do leitor e o preparam para ler o texto em língua materna ou
estrangeira, fornecendo indícios para o entendimento do assunto principal, além de
exemplos e ideias. Os alunos usaram a imaginação e os elementos presentes nas
ilustrações para demonstrar seus pontos de vista e entrar em contato com a obra.
Em seguida reforçamos as atividades partindo de outra estratégia para dar
prosseguimento ao trabalho.
No segundo momento das atividades das oficinas de leitura verificamos uma
série de opções para o desenvolvimento de atividades de pré-leitura que auxiliam e
dão suporte aos alunos no entendimento e na interação com o texto. Dentre estas
opções escolhemos elaborar um trabalho com a estratégia anticipation guide, cuja
atividade consiste em uma lista composta por aproximadamente oito ou dez
afirmações relacionadas aos tópicos ou pontos de vista de um texto em particular,
que os alunos podem concordar ou discordar. Dentre as vantagens de utilizar o
anticipation guide, estão as de ajudar os alunos a ativar seus conhecimentos
prévios, experiências e crenças, trazendo-os para o texto no momento da leitura,
encorajando-os a fazer conexões entre seu conhecimento e o que é apresentado no
texto, fazendo os alunos repensarem e refletirem conceitos na retomada da
atividade, quando terminarem de ler o texto. Com esta atividade podemos ajudar os
alunos a antecipar idéias, é uma maneira de “fisgá-los”, de chamar a atenção deles
para o texto, como pode ser observado na descrição abaixo:
Excerto 2:
Entreguei uma folha de atividade para cada aluno e fui lendo em inglês e incentivando-os a dizer o
que era para fazer e só então explicando, em português, as instruções da atividade. Cada uma das
dez afirmações, como por exemplo: adults know more than children do, foi lida em inglês e
comentada com os alunos, incitando-os a falar o tinham entendido, em termos de decodificação das
palavras e a partir dos comentários, fazer a sondagem para auxiliá-los a chegar a verdadeira leitura.
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Muitas vezes tive que ajudá-los com traduções. Durante a leitura de cada uma das frases, logo após
o entendimento das mesmas, muito antes de responder sim ou não para as afirmações, os alunos já
comentavam e discutiam suas opiniões. Analisando os resultados desta oficina percebi que os
alunos levaram a sério as questões, embora alguns alunos tenham reclamado que não tinham
entendido muito bem algumas afirmações e que gostavam de discutir, mas não de escrever. Para
tentar solucionar este problema retomei as frases que eles acharam complicadas e conversando
procurei ajudá-los a escrever o que estavam tentando dizer. Utilizei para esta atividade o anticipation
guide para o livro The Little Prince criado por Jed Campbell. (Diário retrospectivo, 12/03/09).
Excerto 3:
(P= professora e A= aluno e T= todos)
P: Liste um fato e uma opinião contidos na primeira citação. Fact and opinion, first quotation. Há
diferença entre fato e opinião?
A1: “Todos os adultos foram crianças primeiro” é um fato. Meu pai, minha mãe e você também já
foram crianças, professora.
P: Muito bem! Very good! Então fact é uma verdade?
T: Sim. Acho que sim.
P: E qual é a opinion?
A2: A opinião é que “poucos se lembram disto”!
P: Por que você acha que é opinião?
A2: Eu acho que quem escreveu é que acha isso. Tem adulto que lembra que foi criança.
P: Muito bem! Ótima resposta.
(Neste momento, fiquei muito orgulhosa dos meus alunos e um outro momento foi bastante
marcante. Questão nº 5):
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P: Quando (aproximadamente) você acha que esta afirmação foi feita e dê uma evidência, algo que
comprove sua resposta?
A1: Há 10.000 anos antes de Cristo.
P: Como é que pode, um aluno tão inteligente, dizer tal coisa? Será que esta obra é tão antiga
assim? Já comentei algo sobre isto.
A1: Desculpe, professora.
Lá no fundo da sala uma garotinha levanta a mão e diz:
A2: Eu sei professora. Na época da Segunda Guerra Mundial?
P (espantada): E como você sabe isto? How do you know this?
A2: Quando estávamos lendo a dedicatória do livro, você comentou que o amigo passava fome e
frio por causa da guerra.
A3: E quem escreveu foi o autor do livro. Foi ele que dedicou o livro ao amigo que passava fome e
frio.
P: Maravilhoso! Estou muito feliz e orgulhosa pelas excelentes respostas. (Gravação, 16/04/09)
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em mãos os alunos podem praticar estas estratégias em língua materna e/ou em
língua inglesa.
Continuando a implementação do OAC, inserindo uma follow-up activity e
finalizando as oficinas de leitura, os alunos participaram de debates “filosóficos”,
onde analisaram e expressaram suas opiniões sobre algumas passagens do texto
que suscitam estes debates. Em linguagem adequada aos jovens foram colocadas
algumas questões para discussão e demonstração de conclusões pessoais. Além
desta atividade, algumas passagens do livro sugerem o exercício do imaginário
infantil e permitem uma leitura lúdica do contexto apresentado, estimulando a
criatividade e a livre expressão de sentimentos e valores com muita criatividade.
Estes debates ajudam os alunos a construir um senso de comunidade com a classe
e ao mesmo tempo desenvolver-se individualmente. A sala de aula torna-se um
espaço para ampliar a compreensão da realidade, possibilitando ao aluno o
desenvolvimento de um estilo próprio de pensamento.
Algumas ideias de Lipman (2008) em seu programa específico de filosofia
para crianças, são condizentes com nossa proposta de trabalho. Ele pondera que as
crianças precisam aprender a pensar e a pensar por si mesmas e defende que “o
processo educativo deve dedicar-se a cultivar o raciocínio e o julgamento” em uma
sociedade democrática que não pode prescindir de leitores racionais e sensatos.
Através do caráter narrativo da literatura, as crianças podem apreender as
significações contextuais, a linguagem é um meio de troca em sala de aula,
conforme descrito em um dos episódios do trabalho em sala de aula com a obra The
Little Prince:
Excerto 4:
Em algumas questões do debate filosófico as discussões tomaram corpo e muito me
surpreenderam. Esta aula foi particularmente especial, pois algumas idéias de trabalho surgem
apenas quando estamos realizando as atividades em sala de aula. Discutimos as opiniões dos
alunos na atividade 1 e em seguida eles escreveram as mesmas na atividade. Quando estávamos
discutindo a questão da atividade 2 (a. Why is the sheep-in-a-box “just the kind he (the little prince)
wanted?” Why do you think he prefers this one to the others the pilot drew?), os alunos conversaram
bastante entre eles e chegaram a várias conclusões com relação ao pequeno príncipe escolher o
carneiro dentro da caixa. Como a maioria dos alunos dizia que o príncipe usou a imaginação
quando olhou pelo buraco da caixa, neste mesmo instante ocorreu-me de desenhar no quadro, uma
caixa igual a da ilustração e convidar alguns a olhar em um dos três buracos e dizer o que estava
vendo. Foi muito divertido, demos muita risada juntos. O primeiro aluno disse que tinha uma coisa
verde, outro disse que estava vendo a sala que fica do outro lado da parede, outra disse que havia
um quadro de giz e assim foram muitas outras opiniões, até que a última aluna que participou desta
brincadeira, disse que havia um leão enorme. Então para encerrar eu disse a eles que apagaria a
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caixa do quadro antes que o leão conseguisse fugir e nos atacar. Este foi um momento de grande
descontração na sala e as crianças compreenderam que assim como o pequeno príncipe, poderiam
utilizar a criatividade e a imaginação. Cada vez que eu chamava uma criança no quadro,
aproveitava para repetir em inglês o que ela falava que havia na caixa. Desta maneira, os alunos
têm maior contato com palavras da língua informalmente. Como sugestão, já deixei em minhas
anotações providenciar uma caixa de verdade para quando for realizar esta mesma atividade com
outras turmas. Na atividade b (What kind of things could the little prince do with his sheep-in-a-box?)
do exercício 2, também demos muitas risadas. Só para ilustrar um dos alunos respondeu que o
pequeno príncipe deixaria o carneiro crescer para então fazer um churrasco. Neste momento eles
estão apenas fazendo suposições, que serão confirmadas ou não nos próximos capítulos do livros.
As questões utilizadas na atividade são de autoria de Gareth B. Matthews. (Diário retrospectivo,
14/05/09).
Considerações finais
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O cenário do trabalho pedagógico com língua estrangeira na escola pública
aponta-nos uma realidade desnudada da condição frágil de nossos alunos enquanto
leitores e aprendizes de língua inglesa, mas em contraponto a isto apresenta-nos a
perspectiva de renovação através de atitudes de boa vontade e envolvimento nas
atividades propostas. A fragilidade constatada provém muitas vezes da dicotomia
existente entre e teoria e a prática. Todavia, a postura em relação ao processo e ao
desenvolvimento de propostas de trabalho flexíveis podem permitir mudanças
consistentes.
Percebe-se que atividades teoricamente fundamentadas, podem não
funcionar da maneira esperada na prática, o que nos leva a tecer algumas
considerações a este respeito. Acreditamos que a literatura tenha seu espaço em
uma abordagem de leitura crítica em língua estrangeira, mas muitos fatores, dentre
eles a falta de conhecimentos linguísticos, prejudicam o desempenho de nossos
alunos enquanto leitores. Uma outra questão a destacar é que em um contexto
escolar, de alunos oriundos de diferentes realidades e que podem ou não possuir
leitores como referência, percebe-se interferências na postura dos mesmos diante
da leitura e nas propostas de atividade. Porém, ainda que um trabalho com o texto
literário desenvolva-se nesta perspectiva, ainda temos a oportunidade de cativar os
alunos e tentar estabelecer parâmetros para que o trabalho desenvolva-se a
contento.
Neste artigo não temos a pretensão de constituir prescrições para o trabalho
com textos literários em língua inglesa e sim demonstrar as vicissitudes desta ação
pedagógica. Apesar do objetivo do trabalho focar a leitura em língua inglesa, durante
o percurso do trabalho fomos surpreendidos com os relatos de alguns pais, que de
certa forma também foram surpreendidos, com pedidos dos filhos para que eles
comprassem a edição em língua portuguesa do livro The Little Prince. Na biblioteca
da escola alguns alunos também procuraram o livro e emprestaram até de outras
bibliotecas, conforme relato da bibliotecária e dos próprios alunos. Devemos
esclarecer que sempre valorizamos a participação de todos os alunos no projeto,
mas que em momento algum o aluno que demonstrasse maior conhecimento em
relação à história foi mais valorizado. Isto demonstra que o interesse pelo livro, ainda
que em língua portuguesa, partiu do interesse individual de cada um. Supomos
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também que as estratégias de leitura utilizadas tenham seu valor agregado ao
interesse dos alunos pela obra.
Em outra face desta ação pedagógica notamos que as atividades foram
marcadas pelo que Nuttall (2005) chama de misguided, quando nossa ajuda,
enquanto professores, ultrapassa os limites. Queremos tanto ajudar nossos alunos
que somos compelidos por um impulso de quase fazer as tarefas por eles. Nuttall
apresenta-nos um bom exemplo desta atitude e de como mudar nossa postura,
quando diz para pensarmos no aluno como em um bebê aprendendo a caminhar: se
são carregados chegam ao destino, mas sem nenhum desenvolvimento e desta
forma não terão sucesso nas próximas tentativas. Não devemos carregá-los e sim
impeli-los, oferecendo segurança e incentivando-os a tentar novamente quando
caírem. Gradativamente eles estarão aptos a ficar em pé e caminhar sozinhos.
Assim, nós, professores, não podemos acompanhar nossos alunos a vida toda
“carregando-os”, mas podemos oportunizá-los no curto espaço de convivência no
ambiente escolar, a adquirir o hábito da leitura e a postura crítica diante do texto,
com a nossa ajuda, para que utilizem este conhecimento por toda a vida.
Apesar das limitações apontadas, os resultados da pesquisa sugerem que a
utilização do clássico da literatura The Little Prince em uma abordagem de leitura
crítica, não forneceu indícios suficientes para dizer que houve grande alteração no
hábito de leitura em língua inglesa. Porém, nota-se que a utilização especifica deste
texto literário, desenvolveu seu papel de disseminador de conhecimento, ampliando
a consciência dos alunos ao que McKay, em Celce-Murcia (2001) chama de cross-
cultural, ou seja, o cruzamento de culturas presente no texto. Também notamos o
enriquecendo no vocabulário dos alunos, que durante as atividades de sala sempre
recordam alguma palavra ou frase trabalhada a partir da leitura dos capítulos lidos
de The Little Prince. Embora esta ação pedagógica não tenha atingido a totalidade
de sua finalidade, ela representa um passo importante na construção do leitor crítico,
principalmente em língua materna.
Esperamos que o trabalho que foi iniciado sirva não somente como fonte de
aprimoramento e auto-investigação, mas esgote sua capacidade na busca pelo
aperfeiçoamento das habilidades dos alunos como leitores críticos e também no
estabelecimento de uma nova postura como professor gerador e irradiador de
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mudanças (KLEIMAN, 2008), na busca constante de caminhos melhores para
fundamentar e aplicar conhecimentos na prática pedagógica e estabelecer uma
mudança de pressupostos.
Referências
CALVINO, I. Por que ler os clássicos. Trad. Nilson Moulin - São Paulo: Companhia
das Letras, 1993.
CHIAPPINI, L. (coord) Aprender e ensinar com textos de alunos. 6. ed. - São Paulo:
Cortez, 2004. v. 1.
HADLEY, G. Pesquisa de ação em sala de aula. Trad. Ricardo Silveira - São Paulo:
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KLEIMAN, A. Texto e leitor: Aspectos cognitivos da Leitura. 10. ed. - Campinas, SP:
Pontes, 2007.
22
MACHADO, A. M. Como e por que ler os clássicos universais desde cedo. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2002.
ZILBERMAN, R. A literatura infantil na escola. 11. ed. rev., atual. e ampl. - São
Paulo: Global, 2003.
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