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Posição do OPSA e da ADRA O OPSA é um espaço pluralista de

debate, na base de argumentos e


sobre o OGE 2016 factos, para um desenvolvimento
justo e sustentável.
Luanda, Novembro de 2015 O OPSA actua pela realização de
debates, produção de documentos
de reflexão ou de posicionamento
para fundamentar tomadas de
decisão.
Isto resulta da:
• Recolha de informação
• Tratamento de conteúdo
através de avaliação, balanço e
reflexão, validando a
informação e integrando outros
actores relevantes para o tema
em questão
• Formulação de opiniões
buscando consensos ou opções
diferenciadas
• Divulgação de posicionamento
Este documento visa, tal os dos últimos anos, facilitar o de forma pública ou dirigida a
entendimento das opções do Orçamento Geral do Estado (OGE) grupos específicos
pelos cidadãos comuns e apresentar argumentos para uma análise
crítica do mesmo. Pretende-se aprofundar aspectos seleccionados e
não analisar todo o OGE. O Observatório Político Social de Angola
(OPSA) e a ADRA colocam o foco na tradução dos números nas
diferentes rubricas e na sua avaliação e análise crítica, em termos
de políticas públicas, de alguns sectores e temas. Conclui-se com
algumas recomendações, várias delas já apresentadas em anos
anteriores, para os futuros exercícios de orçamentação pública.
O objectivo é contribuir, como já é usual, para que o OGE de 2016
seja conhecido e discutido publicamente pelas instituições, pela
sociedade civil e pelo sector privado e que desse debate resultem
propostas concretas para a sua melhoria no processo futuro de
elaboração e aprovação.
Consideramos que um melhor entendimento do OGE pela
sociedade poderá ampliar o debate sobre as opções do Executivo e
das diferentes formações políticas. Um tal debate estimulará o
exercício do direito e do dever de controlo pelos cidadãos da gestão
dos recursos públicos. Este princípio da participação do cidadão na
vida política do país, é bom sempre recordar, está salvaguardado na
Constituição da República de Angola e constitui uma prática do
exercício da cidadania.

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Posição do OPSA e da ADRA sobre o OGE de 2016
Introdução
Ao apresentarem a sua opinião sobre o OGE  A formulação técnica do OGE pode ser
de 2016, com uma abordagem pedagógica, o assunto de especialistas mas a decisão
OPSA e a ADRA pretendem apoiar os política pode e deve estar ao alcance da
cidadãos, especialmente os interessados nas compreensão dos deputados e do
questões relacionadas com as políticas cidadão comum;
públicas, com elementos de análise que  A questão principal não é apenas o
permitam um mais judicioso conhecimento valor total das verbas por sector, ou
das opções governamentais. Pretendem outra categoria, mas também a forma
também contribuir para debates, o mais como estas são gastas;
alargados possível, que ampliem o  Na análise do OGE não se deve apenas
conhecimento e influenciem o procedimento comparar o de 2016 com os orçamentos
do exercício de elaboração e discussão do dos anos anteriores mas fazer também a
OGE. Visa-se com isto uma maior comparação entre os valores
participação e controlo por parte dos orçamentados, os valores realmente
cidadãos. Pretendem ainda disponibilizar gastos, e a Conta Geral do Estado dos
argumentos que permitam, tanto aos anos anteriores, buscando tendências.
cidadãos, como aos representantes que Por exemplo, mais importante que
elegeram, monitorar o desempenho do poder comparar as verbas para os sectores
executivo em 2016 na implementação do sociais com as da defesa e ordem
OGE e de políticas públicas seleccionadas, interna, é necessário se há tendências,
na base das implicações que têm na vida das ao longo dos anos, para a correcção de
pessoas e das famílias. desequilíbrios.
 O OPSA e a ADRA reconhecem a
Nunca é demais repetir que o OGE deveria
melhoria muito significativa na
ser o principal instrumento para dar corpo às
divulgação de informação por parte dos
políticas públicas que concretizam o
órgãos do Estado, ao longo dos últimos
Programa de Governo do partido que
anos. Mas constatam também que há
sustenta o Executivo. Convém recordar
ainda muitas insuficiências,
também, o slogan para a legislatura 2012-
principalmente na reiterada falta de
2017: “Produzir mais para distribuir
informação que sustente alguns dos
melhor”, tendo em vista uma maior justiça
valores apresentados no OGE. Deveria
social e redução da pobreza. Embora cedo
também disponibilizar-se a informação
para um juízo definitivo, é importante
de forma a melhor facilitar a sua
analisar como ao longo dos últimos anos este
utilização.
lema tem sido seguido na elaboração dos
orçamentos.  Como se diz antes, a análise do OGE
não se coloca apenas ao nível dos
O OPSA e a ADRA têm consciência de que resultados medidos por indicadores,
o país atravessa novamente um período quantitativos e qualitativos, mas
difícil resultante da alteração do contexto principalmente ao nível dos processos
mundial mas, ao mesmo tempo, não podem participativos na sua elaboração,
deixar de manifestar a sua reprovação com discussão, implementação e monitoria.
não se terem disponibilizado mais recursos
para as reformas estruturais de Refira-se ainda que as comparações e a
diversificação da economia e diminuição da análise das variações verificadas têm sido
dependência do petróleo, ao longo dos anos feitas normalmente entre valores correntes e
de paz e de maior disponibilidade de não entre valores constantes, ou seja, não
recursos. considerando que aos valores do OGE de um
ano é necessário deduzir o impacto da
Apesar da repetição em relação a inflação para serem efectivamente
documentos anteriores, convém fazer notar comparáveis com os valores do(s) ano(s)
algumas questões preliminares consideradas anterior(es). Este aspecto ganha maior
relevantes nas tomadas de posição do OPSA relevância pelo aumento acentuado da
e da ADRA: inflação em 2015 e pela esperada para 2016.

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Posição do OPSA e da ADRA sobre o OGE de 2016
Algumas notas sobre o OGE 2016
Um orçamento mais contido Endividamento
A proposta de OGE para 2016 foca, de modo O endividamento do Estado é central no
expressivo, a política fiscal, monetária e novo contexto económico e deve ser o foco
cambial. Neste sentido, importa salientar de preocupações do Estado e da sociedade
que, segundo o Relatório de Fundamentação nos próximos tempos. O défice previsto
do OGE 2015, a política fiscal para 2016 para 2016 será financiado com recurso ao
continua a ser baseada no Plano Nacional endividamento público externo que, em
de Desenvolvimento (PND) 2013-2017, termos líquidos, aumentará Kz 1.058,9 mil
mais concretamente no Programa da milhões. De facto, estão previstos
Sustentabilidade das Contas Públicas. De empréstimos de Kz 1,5 biliões e
qualquer modo, segundo a mesma fonte «em amortizações de Kz 459,1mil milhões. Já de
2015, o crescimento da economia manter-se- acordo com o Relatório de Fundamentação
á abaixo do previsto no PND 2013-2017» do OGE 2016, o endividamento interno
(2015: 21)1. É de saudar esta preocupação líquido deverá reduzir-se em Kz 277,7 mil
com a ligação entre o OGE e o PND, que não milhões. Assim, globalmente, a dívida
sucedia no passado. governamental vai aumentar em Kz 782,1
mil milhões, montante igual ao do défice.
Em 2016, as contas públicas angolanas
deverão registar um défice de 781,2 mil Em dólares, o stock da dívida governamental
milhões de kwanzas (Kz), resultado da aumenta $ 8,2 mil milhões ao passar de 41,0
diferença entre receitas correntes de Kz 3,5 mil milhões no final de 2015 para 49,2 mil
biliões Kz, e despesas sem activos milhões no final de 2016. Deste total, $ 30,8
financeiros de Kz 4,3 biliões. Considerando mil milhões são referentes à dívida externa.
a taxa de câmbio de 143,6Kz por dólar Em percentagem do PIB, o endividamento
americano (USD), implícita no OGE 2016, vai aumentar dos 40,5% previstos para o
as receitas deverão ascender a 24,5 mil final de 2015, para os 49,7% projectados
milhões USD e as despesas a 29,9 milhões para 31 de Dezembro de 2016.
USD. Logo, o défice corresponderá a 5,4 mil
milhões USD, o equivalente a mais de um A Lei-Quadro do OGE estabelece que a
Fundo Soberano de Angola, que tem activos dívida pública, interna e externa, de curto,
inferiores a 5 mil milhões USD. Em médio e longo prazos, não pode exceder
percentagem do produto interno bruto (PIB), 60% do PIB. Este limite inclui a dívida
o défice será de 5,5%. governamental e das empresas públicas.
Este limite está em risco de ser
Comparando a proposta do OGE 2016 com ultrapassado. Não existem projecções para
as estimativas de execução do OGE 2015, as a dívida das empresas públicas em 2016
receitas aumentam 8,5%, de 3,2 biliões Kz mas, de acordo com o Fundo Monetário
para 3,5 biliões Kz. Já os gastos públicos dão Internacional (FMI), no final de 2015 só a
um pulo de 13,8%, de 3,8 biliões Kz para 4,3 dívida da Sonangol deverá ascender a 14,7%
biliões. do PIB2. Se à dívida governamental de
49,7% do PIB, prevista para o próximo ano,
No geral, a proposta de OGE para 2016 é somarmos a dívida da companhia petrolífera
ligeiramente expansionista, mas muito prevista para o final de 2015, chegamos a um
menos do que o de 2014. O aumento do peso rácio de dívida pública de 64,3% do PIB em
das despesas públicas em 0,7 pp do PIB— os 2016, acima do limite legal de 60%. Embora
gastos crescem 13,5%, acima dos 11,6% este limite seja discutível o assunto merece
projectados para o PIB — indicia isso preocupação e debate.
mesmo.

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República de Angola/Ministério das Finanças - Orçamento FMI – Relatório nº 15/301 ANGOLA: Consultas de 2015
Geral do Estado 2016. Relatório de Fundamentação, 22-10- ao abrigo do Artigo 4º, Novembro de 2015
2015

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Posição do OPSA e da ADRA sobre o OGE de 2016
Despesas por classificação Nas despesas correntes, as despesas com
económica pessoal sobem apenas 6% em termos
nominais, metade da inflação prevista, o que
O aumento das despesas (em 13,8%) deve-
antecipa um agravamento ainda maior das
se exclusivamente às despesas correntes que
condições dos funcionários públicos que
registam um salto significativo de 31,8%. As vivem do salário. A contenção das despesas
despesas com investimento registam uma com pessoal será, em parte, explicada pelo
queda de 27,1%. O aumento de 31,8% das congelamento das admissões de novos
despesas correntes é impulsionado pelas
funcionários públicos, entre outras medidas
despesas em bens e serviços que disparam
de controlo. O peso das despesas com
141,9% para 995,2 mil milhões Kz, sem que
pessoal nas despesas totais cai 2,5 pp de
haja uma explicação oficial para tão grande
37,4% em 2015 para 34,9% em 2016.
aumento. Uma pista pode ser o aumento em
2016 visar de alguma forma compensar a
O investimento passa de 30,1% do total
queda prevista na execução do OGE 2015
para apenas 19%, o valor mais baixo
revisto. Este previa despesas em bens e
desde 2005 quando a fatia do investimento
serviços de 692,2 mil milhões Kz, mas só
não excedeu 16% do total. Esta descida é
deverão ser gastos efectivamente 411,4 mil preocupante, dados os seus efeitos negativos
milhões Kz.
ao nível da redução da petro-dependência,
do combate à pobreza e da diversificação da
À semelhança dos anos anteriores, a
economia. Importa uma vez mais realçar que
informação sobre a aquisição de bens e
bons investimentos são os bem
serviços continua a carecer de transparência.
seleccionados entre os prioritários, bem
Dos 995,2 mil milhões Kz destinados à
desenhados, bem adjudicados, bem
aquisição de bens e serviços, 23,2 % da executados, bem fiscalizados e bem
despesa sem activos financeiros, 154,2 mil
mantidos para não serem desperdiçados
milhões Kz correspondem a “outros
recursos.
serviços”, sem que se especifique quais são
O nosso país tem uma baixa eficiência do
esses “outros serviços”. Ou seja, 3,6% da
investimento público. Em 2014, no seu
despesa orçamentada não é justificada.
relatório sobre as consultas do artigo IV, o
Refira-se também que, segundo o IBP
FMI citou um estudo internacional que
(International Budget Partnership), no Índice
colocava Angola no 104º lugar entre 104
do Orçamento Aberto, Angola situa-se no
países estudados, último lugar, portanto.
valor 20, numa escala de 100, o que significa
que são prestadas ao público informações A principal aposta do investimento continua
mínimas, insuficientes, sobre o orçamento.
a ser no “betão”, com destaque para a
“construção e reabilitação de infra-
Observa-se um aumento significativo dos
estruturas, instalações e imóveis” que
subsídios, com um salto de 66% para 370,1
consomem 628,8 mil milhões Kz, o
mil milhões Kz. Esta medida contraria a equivalente a 83,8% do investimento total.
política que tem sido seguida, já que o
governo iniciou no final de 2014 aumentos Um dos indicadores orçamentais mais
dos preços dos combustíveis visando a
utilizados é o saldo corrente, isto é,
eliminação dos subsídios, pelo que seria de
excluindo os investimentos públicos. Por via
esperar uma redução desta rubrica. Outra de regra, sem investimento público os
despesa em franca progressão é a dos juros
orçamentos devem ser superavitários. Como
da dívida pública que aumentam 17,8%, de o investimento é boa despesa, pode causar
261 mil milhões Kz, em 2015, para 307,4 mil
défice. Se fizermos esse exercício para o
milhões Kz. Comparando com 2014, a
OGE global, as contas públicas de 2016
factura com os juros mais do que duplica. cumprem a regra, mas à tangente, com um
Tal deve-se ao aumento do endividamento e
saldo corrente de apenas 34,4 mil milhões
à desvalorização do kwanza, o que afecta a Kz ou 0,2% do PIB. O saldo corrente piora
totalidade dos juros externos e os internos
fortemente face à previsão de execução de
indexados ao dólar.
2015 que aponta para um superavit de 599,9
mil milhões ou 4,7% do PIB.

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Posição do OPSA e da ADRA sobre o OGE de 2016
Despesas por função mecanismos. Estes são também importantes
Em 2016, o peso das despesas sociais no para melhorar o ambiente de negócios e
total vai diminuir dois pontos percentuais facilitar a diversificação da economia.
em relação a 2015 (de 32,9% para 30,9%), Refira-se que no estudo o Banco Mundial
embora em valor a função social aumente sobre o ambiente de negócios (Doing
10,6% para 2,0 biliões Kz, continuando a ser Bussiness, 2016", Angola é classificada em
a que mais verbas absorve. 181º entre 189 países.

A principal subfunção da função social Na repartição funcional da despesa, destaque


continua a ser a protecção social, com 12,6% ainda para os assuntos económicos que
do total, vêem as suas verbas aumentarem de 571,1
rubrica que inclui subsídios a preços, no mil milhões Kz para 631,0 mil milhões Kz.
valor de 319,2 mil milhões Kz.
O envelope financeiro da agricultura,
O peso das despesas com a educação deverá silvicultura, caça e pescas aumenta 10,6% de
descer 1,2 pp de 8,9% para 7,7%, 36,7 mil milhões Kz para 40,6 mil milhões
correspondentes a Kz 492,1 mil milhões Kz. Depois de vários anos em queda, as
escassos 1% acima do orçamentado para este verbas para a agricultura aumentam 18,7%
ano. de 29,3 mil milhões Kz para 34,8 mil
milhões Kz, uma mudança na direcção
Quanto à saúde, o seu envelope financeiro correcta.
aumenta 24,6% para 341,6 mil milhões Kz.
Com um aumento de 55,7% para 139,8 mil Despesas por programa
milhões Kz a saúde pública é a rubrica que A proposta de OGE 2016 prevê 131
mais cresce na subfunção saúde, o que programas, menos 4 do que em 2015, no
cumpre saudar. Os gastos com a saúde vêem valor global de 6,4 biliões Kz, mais 17,9%.
o seu peso na despesa total aumentar em 0,3
pp, de 5,0% em 2015, para 5,3% em 2016. Excluindo as actividades permanentes, a
Contudo, o esforço relativo de Angola em dívida pública e as reservas, os maiores
matéria de saúde continua a ser muito baixo, programas são os relacionados com a
mesmo em termos africanos. Países como a promoção da actividade económica e as
Zâmbia e Moçambique, por exemplo, infra-estruturas, em particular estradas,
atribuem cerca de 15% e 20% dos seus energia e águas.
respectivos gastos públicos à saúde.
O Programa Integrado de Desenvolvimento
As verbas para a defesa, segurança e ordem Rural e Combate à Pobreza é o quinto maior
registam um aumento de 8,9% de 850,2 mil com uma dotação de 72,1 mil milhões Kz,
milhões Kz para 925,9 Kz. Em contra ciclo menos 9,4% do que os 79,6 mil milhões Kz
com a média da subfunção, os tribunais de 2014. A Lunda Norte com 10,0 mil
sofrem um corte de 15,3% de 20,1 mil milhões Kz é a província com mais verbas
milhões Kz para 17,1 mil milhões. Face ao para combate à pobreza seguida do Moxico
estado da Justiça em Angola, a redução nas (6,2 mil milhões) e do Uíge (5,7 il milhões).
verbas para os tribunais é decepcionante. As províncias que dispõem de menos verbas
Esta redução compromete objectivos são Cabinda, com 1,5 mil milhões Kz, Lunda
importantes constantes do PND de Sul (1,7 mil milhões) e Namibe (2,0 mil
continuidade à política de modernização e milhões).
simplificação de procedimentos bem como
na aproximação da justiça aos cidadãos, em Programa de Investimentos
linha com os direitos humanos. Programas
como o da Massificação do Registo Civil, Públicos
fundamental para o exercício da cidadania, O Programa de Investimentos Públicos (PIP)
poderão ser afectados. O mesmo acontecerá ascende a 704,4 mil milhões Kz para um
com outros, focados na extensão dos investimento global de 815,6 mil milhões
serviços de justiça e na simplificação, Kz. Já o OGE 2015 revisto previa um PIP de
desburocratização e eficiência dos

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Posição do OPSA e da ADRA sobre o OGE de 2016
598,3 mil milhões Kz para um investimento Luanda caiu praticamente para metade
global de 622,1 mil milhões Kz. de 44,8% do total, em 2012, para 22,5%, em
Face a 2015, há um aumento de 17,7% do 2016. A queda do peso de Luanda para
PIP. Contudo, essa comparação tem de ser metade sugere, pelo menos em termos
vista com cautela porque a previsão da quantitativos, que a distribuição do PIP está
execução do investimento em 2015 aponta a ter mais em conta as assimetrias regionais.
para 1,2 biliões Kz, praticamente o dobro do
orçamentado. O Governo não dá dados sobre Depois de Luanda, a província com mais
a execução do PIP, pelo que as únicas investimento público planificado é Malanje
comparações possíveis do PIP 2016 são com com 57,4 mil milhões Kz (9,4%), seguida do
o PIP 2015 orçamentado. Cuanza Norte com 53,2 mil milhões Kz
(7,1%). Comparando com 2015, o peso de
Os sectores da energia e águas, construção, Malanje aumenta 6,3 pp e o do Cuanza Norte
finanças e agricultura vêem as suas dotações recua 10,3 pp. O aumento do peso de
orçamentais com o PIP crescerem. Saliente- Malanje está associado a investimentos no
se o crescimento significativo do montante perímetro de irrigação de Capanda (5,2 mil
para as finanças (16,02 mil milhões em milhões Kz) e à barragem de Laúca (23,4 mil
2016) e para a agricultura (12,85 mil milhões milhões). Bengo (2,4%), Namibe (2,6%) e
em 2016). É, no entanto, necessário Lunda Norte (3,1%) são as províncias com
conhecer concretamente em que consiste o menos investimentos públicos.
PIP, por forma a compreender que tipo de
desenvolvimento está a ser preconizado por De destacar que 76,9% dos projectos de
este programa para o sector agrícola (por investimento público nas províncias são
exemplo, o agronegócio ou a agricultura geridos centralmente, o que é o mesmo que
familiar?). O sector do comércio vê o seu dizer que apenas 23,1% do investimento
montante crescer ligeiramente de 2,5 mil público são geridos pelos governos
milhões para 2,72 mil milhões de Kz. Em provinciais. Esta constatação merece
contrapartida, à diminuição do PIP para a reflexão dada as vantagens na proximidade
maior parte dos sectores: Petróleos (4,54 mil dos gestores dos orçamentos em relação aos
milhões) Geologia e Minas (3,70 mil problemas e aos locais de investimento. O
milhões), Pescas (3,70 mil milhões), mesmo centralismo é observado nas
Indústria (0,95 mil milhões), Ambiente (0,64 despesas por órgão.
mil milhões) e Economia. Este último sector
passará de 1,1 mil milhões do PIP para 0,54 Despesas por órgão
mil milhões – o que poderá representar uma
Em 2016, 99,1% dos Kz 6,4 biliões dos
significativa perda de capacidade de gastos previstos, incluindo activos
desenvolvimento dada a centralidade deste financeiros, serão geridos pelo poder
sector. executivo ou órgãos sob sua tutela. Uma
Dos 707,4 mil milhões de Kz inscritos no subida de 0,3 pp face aos 98,8% de 2015. O
PIP 2016, 86,4% (Kz 610,4 mil milhões) vão poder executivo central será responsável
para Províncias específicas, 4,3% (30,6 mil pela gestão de 86,5% do OGE. Em 2015
milhões) referem-se a projectos inter- essa percentagem era de 83,6%. Ou seja, a
provinciais e os restantes 9% (63,4 mil gestão do OGE angolano continua muito
milhões) são investimentos pela estrutura centralizada no poder executivo e
central. tendência é de centralização. Assim, se os
órgãos geridos a partir da capital vêem o seu
Do montante destinado a províncias peso aumentar, os governos provinciais
específicas, a maior fatia vai para Luanda, fazem o caminho inverso, passando a gerir o
equivalente a 22,5% do total. No OGE 2015, equivalente a 12,6% do OGE 2016, contra
esta fatia era de 23,3%, mas, em 2014, 15,2% em 2015.
chegava aos 34,2% e nos anos anteriores
andava na casa dos 40% (41% em 2013 e Neste âmbito, Luanda continua a ser a
44,8% em 2012). Conclui-se que, em quatro Província com mais recursos, 160,7 mil
anos, a fatia do PIP da Província de milhões Kz, o equivalente a 19,8% das

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Posição do OPSA e da ADRA sobre o OGE de 2016
verbas afectas aos governos provinciais. ela implica para os países emergentes e de
Esta percentagem tem-se mantido mais ou rendimento baixo altamente dependentes de
menos constante nos últimos anos. Depois “commodities”. Neste âmbito, as principais
de Luanda, vêm Benguela, Huambo e Huíla preocupações prendem-se com questões
com fatias de 8,9% 7,4% e 7,2%, como: a transformação económica da China
respectivamente. No extremo oposto, estão para uma economia baseada no investimento
os governos do Bengo, Lunda Sul e Cuanza público, consumo e serviços; o eminente
Norte, cujos orçamentos representam 2,8%, aumento das taxas de juro das obrigações do
2,8% e 2,9%, respectivamente, do bolo tesouro norte-americano, antecipando-se
gerido a nível provincial. uma apreciação continuada do dólar face às
principais moedas; a observação segundo a
Os ministérios vão gerir pouco menos de um qual 2015 será o 5º ano consecutivo de queda
terço do bolo orçamental, mais precisamente de crescimento das economias emergentes e
32,4% do total – praticamente a mesma de rendimento baixo; o facto segundo o qual,
proporção que os 32,7% de 2015. ao nível dos BRICS, Brasil e Rússia
enfrentarem recessão económica em 2015 e
Os ministérios com mais dinheiro são a 2016, bem como as consequências do um
Defesa Nacional e o Interior com dotações novo acordo mundial sobre a preservação do
de 500,3 mil milhões Kz e 366,1 mil milhões ambiente (nomeadamente, ao nível dos
Kz, respectivamente. No conjunto gerem preços dos combustíveis), entre outros
866,4 mil milhões Kz, 41,4% das verbas factores.
afectas aos ministérios. Há um aumento das
OGE sem petróleo — Imaginando um OGE
verbas para a subfunção de defesa,
sem petróleo, a proposta de 2016
segurança e ordem pública. Seguem-se, no
compreende receitas de Kz 1.824,8 mil
sector social, a Saúde com a maior dotação:
milhões e despesas de 4.295,7 mil milhões,
107,8 mil milhões Kz, o equivalente a 5,2%
resultando daí um défice de Kz 2.470,9 mil
do total para os ministérios. O Ministério da
milhões, equivalente a 22,6% do PIB não
Agricultura conhece um aumento
petrolífero. O défice não petrolífero aumenta
considerável do montante atribuído em
318 mil milhões Kz em valor, mas em % do
termos correntes: de 20,4 mil milhões em
PIB não petrolífero até melhora 0,1 pp para
2015 para 29,2 mil milhões, uma variação de
os referidos 22,6%. Tal deve-se ao bom
43,2%. O caso deste ministério e do
comportamento das receitas não petrolíferas,
Ministério da Economia, embora em menor
em particular os impostos não petrolíferos.
grau, são excepções. A maioria dos
ministérios vê a sua dotação diminuir, em
Contudo, o projectado aumento dos
alguns casos significativamente: Indústria (-
impostos não petrolíferos, em 28,2% para
1,6%); Telecomunicações (-32,1%),
1.545,4 mil milhões Kz, deve ser analisado
Comércio (-50,0%), Petróleos (-68,6%),
com cautela. Por exemplo, para 2015
Pescas (-44,0%), Geologia e Minas (-
previam-se impostos não petrolíferos de
47,7%), Hotelaria e Turismo (-32,8%) e
1.436,8 mil milhões Kz, mas as previsões de
Ambiente (-13%).
execução não ultrapassam 1.205 mil milhões
Kz. Saliente-se que o abrandamento
Por sua vez, os poderes legislativo e
económico deverá afectar a cobrança da
judicial gerem apenas 0,4% e 0,3% do
maioria dos impostos.
OGE, respectivamente.
Para além disso, sabendo-se que o sector não
Pressupostos e Riscos petrolífero foi o que mais se ressentiu com a
Um orçamento é uma previsão de receitas e queda do preço do petróleo, há que
despesas com base em determinados questionar as condições sob as quais o sector
pressupostos. O OGE 2016 não é excepção. não petrolífero da economia poderá crescer
Cenário macroeconómico global – Há que sem as receitas petrolíferas. De facto, o
crescimento de sectores como a agricultura e
considerar os riscos que a economia
angolana enfrentará. Por um lado, a a indústria é altamente condicionado pela
desaceleração da economia mundial e o que existência ou não de infra-estruturas

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Posição do OPSA e da ADRA sobre o OGE de 2016
basilares para o desenvolvimento As despesas correntes ficaram 222,6 mil
económico, tais como meios de escoamento, milhões abaixo do orçamentado. Já os
transportes, água e energia. investimentos situam-se 499,7 mil milhões
Kz acima. Apesar da derrapagem da
Petróleo — Em Angola, o nível de receitas despesa, o défice situou-se nos 536,6 mil
públicas e, consequentemente, a capacidade milhões Kz, 269,9 mil milhões Kz, abaixo
de financiar despesas sem recorrer ao do previsto. Esta derrapagem foi mais do que
endividamento, é determinado pelo preço do compensada pelas receitas que ficaram 547
petróleo e pelos níveis de produção. A mil milhões Kz acima do previsto. O segredo
volatilidade do preço desta “commodity” esteve no preço do petróleo: o OGE baseou-
afecta também a economia real não só se num preço médio de 40 USD por barril
significativamente, como também através de quando as últimas previsões apontam para
vários canais de transmissão, tais como um preço real de 53 USD. No entanto, a
exportações líquidas, orçamento geral do depreciação da taxa de câmbio constitui
estado e taxa de câmbio. outro risco estruturante: se a depreciação da
moeda nacional face ao dólar norte-
Relativamente ao preço do petróleo, o OGE americano for superior ao previsto, a
2016 foi elaborado com base numa cotação execução do OGE poderá ser
média do petróleo angolano de 45 USD o «significativamente alterada», podendo
barril. Este valor está abaixo das projecções ainda «potenciar dificuldades na execução
do FMI para o petróleo Brent e que serve de do serviço da dívida em moeda externa»
referência para as ramas angolanas, que (Relatório de Fundamentação 2015: 65).
aponta para 50,4 USD o barril. Ainda assim,
alguns analistas defendem que o preço
deveria ser ainda mais conservador: os 40 O OGE 2016 e as políticas
USD do OGE 2015 revisto. públicas
As políticas públicas de um país devem
Crescimento — A proposta de OGE aponta
para o abrandamento da economia de 4% em orientar-se pelo cumprimento dos direitos e
deveres fundamentais previstos na
2015 para 3,3%. O PIB deverá ser
Constituição, que expressa o compromisso
impulsionado pelo sector petrolífero que
em que assenta a relação entre os cidadãos e
cresce 4,8%, praticamente o dobro dos 2,7%
os titulares dos poderes legislativo,
projectados para o sector não petrolífero. A
previsão do governo é ligeiramente mais executivo e judicial.
pessimista do que a do FMI que prevê um
crescimento global de 3,5%, com o sector Diversificação da economia
petrolífero a crescer 3,9% e o não petrolífero Diversificar a economia nacional constitui
3,4%. uma reconhecida prioridade. O OPSA e a
ADRA consideram que as expectativas do
Inflação — O governo aponta para uma impacto do PIB não petrolífero no
inflação de 12%, ponto médio do intervalo crescimento do PIB são relativamente
11-13%. Já o FMI projecta um aumento de optimistas. Os efeitos benéficos da desejada
preços de 13%, igual ao limite máximo diversificação tardam em fazer-se sentir,
previsto pelo governo. pois as prioridades e os programas não
parecem ser os mais adequados ao que se
Execução — O histórico de execução dos pretende, nem conformam uma reforma
OGE angolanos não constitui bom cartão de estrutural global. Para além disso, o próprio
visita. Em 2015, o OGE revisto apontou para Relatório de Fundamentação do OGE 2016
despesas de 3,5 biliões Kz, mas as previsões alerta para os riscos associados ao choque
de execução mais recentes avançam 3,8 combinado de sectores de produção
biliões. Ou seja, em 2015, o Estado deve seleccionados. Este risco demonstra o fraco
gastar mais 277,1 mil milhões Kz do que o peso do sector não petrolífero,
montante aprovado pela Assembleia nomeadamente os sectores da agricultura,
Nacional. indústria transformadora, construção e
serviços mercantis, o que vem moderar

8
Posição do OPSA e da ADRA sobre o OGE de 2016
afirmações sobre um suposto crescimento cerca de 65 mil empregos dos 300 mil
robusto desses sectores. Analise-se esta previstos até ao final de 2005.
questão em três níveis: do investimento, de
alguns dos principais programas do OGE Por outro lado, o Programa de Facilitação ao
2016 e das dotações financeiras para certas Crédito, o qual se afigura central para a
rubricas da categoria de Assuntos realização de investimento, terá um valor
Económicos. irrisório de 0,1 mil milhões.
No investimento, em termos genéricos,
Já ao nível das dotações orçamentais para as
verifica-se uma redução preocupante de
rubricas relativas à categoria de Assuntos
quase 28% em relação ao executado em
Económicos, é de salientar que,
2015, o que terá implicações não apenas na
globalmente, esta categoria vê as suas verbas
criação directa de riqueza e de emprego, mas
aumentarem de 571,1 mil milhões Kz para
também nas expectativas dos possíveis
631,0 mil milhões Kz.
investidores privados no sector não-
petrolífero.
O OGE 2016 prevê 12 programas
Ao segundo nível, a proposta de OGE 2016 directamente relacionados com o sector
prevê 131 programas, menos quatro do que primário. Destes, os três maiores são: o
em 2015, no valor global de 6,4 biliões Kz, Programa de Construção e Reabilitação de
um acréscimo de 17,9%. No cômputo geral, Perímetros Irrigados com 8,9 mil milhões
e excluindo as actividades permanentes, a (0,14% do OGE), o Programa de Fomento
dívida pública e as reservas, os maiores Agrícola com 7,9 mil milhões (0,12% do
programas são os relacionados com a OGE) e o Programa de Desenvolvimento da
promoção da actividade económica e das Agricultura Comercial (0,12% do OGE).
infra-estruturas, em particular estradas,
energia e águas. Todavia, dos 25 maiores Assim, dado o montante irrisório destes
programas da proposta de OGE, somente programas e apesar do aumento de 18,7%
quatro são directamente relacionados com a previsto para 2016, as verbas para a
economia (Promoção, Fomento e agricultura são praticamente metade do nível
Desenvolvimento da Actividade de 2013 quando o OGE previu verbas de 67
Económica; Reabilitação e Construção de mil milhões Kz. Estes números não são
Infra-estruturas Económicas Básicas; coerentes com as reiteradas declarações de
Angola Investe e Apoio às Grandes membros do Executivo que afirmam que a
Empresas e sua Inserção e em Clusters agricultura é uma prioridade, pelo seu
Empresariais), um com a educação potencial em criar empregos e,
(Desenvolvimento do Ensino Primário e consequentemente, no combate à pobreza.
Secundário), três com a saúde (Gestão e Não se vislumbram acções significativas a
Ampliação da Rede Sanitária; Combate às nível de projectos estruturantes, como a
Grandes Endemias e Melhoria da Qualidade investigação, a assistência técnica ou a
dos Serviços de Saúde) e um com o combate mecanização, por exemplo.
à pobreza (Municipal Integrado de
Desenvolvimento Rural e Combate à O Exectuivo argumenta que não se pode
Pobreza). Não constam nesta lista programas analisar as verbas destinadas à agricultura
directamente associados ao sector primário e exclusivamente pela lente das despesas por
secundário, nem ao comércio. função, pois existem ainda as destinadas aos
Sendo um dos principais programas do assuntos económicos, como a reabilitação e
futuro OGE, o Programa Angola Investe vê construção de estradas secundárias e
a sua dotação orçamental diminuir de 30,5 terciárias que beneficiam indirectamente o
mil milhões em 2014, para 18,96 mil sector. Este parece um argumento
milhões em 2015 e para 18,5 mil milhões em inadequado pois não se pode considerar que
2016. Isto pode explicar porque este tudo o que não é urbano como sendo
programa, que representava uma agricultura.
fundamentada esperança no caminho da
diversificação, apenas criou até ao momento No sector primário é de destacar ainda o
desinvestimento no sector das pescas que de

9
Posição do OPSA e da ADRA sobre o OGE de 2016
7,4 mil milhões em 2015, passará para 5,8 Kz (58,7% das despesas da subfunção
mil milhões em 2016 (taxa de variação educação, contra 64,8% no ano anterior. Esta
negativa: -21,5%). redução é oposta às recomendações de
quantos, preocupados com a qualidade do
Para o sector industrial está previsto um ensino, consideram que é neste nível de
aumento da dotação de 16,7 mil milhões em ensino que estão os maiores problemas da
2015 para 31,2 mil milhões para 2016, o que educação em Angola. Já os valores do ensino
representa uma taxa de variação positiva na secundário registam um forte aumento de
ordem de 85%. No entanto, no que diz 77,6% de 56,8 mil milhões Kz para 100,9
respeito à indústria transformadora, e à mil milhões (peso no total da educação sobe
semelhança dos programas elencados para a de 11,7% para 20,5%) e o ensino superior
agricultura, os programas apresentam baixos aumenta 4,7% para 67,8 mil milhões Kz,
montantes: o Programa de Apoio ao (um ligeiro aumento de peso de 13,3% para
Desenvolvimento da Indústria 13,8%).
Transformadora terá, em 2016, uma dotação
de 1,9 mil milhões e o Programa de Fomento Somando as verbas destinadas à saúde e
da Actividade Produtiva da Indústria educação no próximo ano chegamos a 833,7
Transformadora usufruirá 0,5 mil milhões. O mil milhões Kz, um aumento de 9,5% face
Programa de Fomento da Indústria Rural, no aos 761,2 mil milhões Kz de 2015, e a uma
qual se depositavam fundamentadas fatia de 13% nas despesas totais, menos 1 pp
esperanças, beneficia de uma verba do que os 14% do OGE deste ano.
insignificante.
Saúde
Nos transportes, são os rodoviários que A dotação orçamental do sector aumenta
apresentam um maior aumento da dotação, 24,6% para 341,6 mil milhões Kz. Com um
com uma taxa de variação positiva entre aumento de 55,7% para 139,8 mil milhões
2015 e 2016 de 196,1%. Kz, é a rubrica que mais cresce, o que
constitui uma boa notícia. Contudo, o
Em síntese, conclui-se que o OGE 2016 não esforço relativo de Angola em matéria de
traduz uma aposta vincada na diversificação saúde continua a ser muito baixo, mesmo em
da economia, pois não estão previstas acções termos africanos.
que possam contribuir significativamente
para um aumento da contribuição da Um dos principais programas do OGE 2016
agricultura e da indústria para o PIB (pouco é o Programa de Melhoria da Qualidade dos
mais de 2% para cada um), sendo o que se Serviços de Saúde, o qual passa de 11,32 mil
passa com o Programa Angola Investe um milhões em 2015 para 15,9 mil milhões em
exemplo elucidativo. A excepção verifica-se 2016. Outro é o Programa de Gestão e
a nível da reabilitação de estradas que, não Ampliação da Rede Sanitária, o qual sobe
tendo merecido atenção nesta análise, se muito significativamente de 6,42 mil
sabe virá a ter um incremento significativo milhões em 2015 para 22,3 mil milhões em
em 2016 com recurso à linha de 2016. Este valor mantém-se, porém, abaixo
financiamento da China, o que não se dos 24,7 mil milhões atribuídos em 2014. De
oferece lisonjeiro para o processo de modo similar, o Programa de Melhoria da
diversificação da economia se tivermos em Qualidade de Saúde Materno-Infantil vê a
conta outros exemplos como o da construção sua dotação crescer de 2,26 mil milhões em
de centralidades. 2015 para 4,3 mil milhões em 2016.
Todavia, sublinhe-se que o mesmo usufruía,
Educação em 2014, de um montante de 10,5 mil
Em 2016, o peso das despesas com a milhões.
educação deverá descer de 8,9% para 7,7%,
o que corresponde a Kz 492,1 mil milhões. Defesa, segurança e ordem pública
Em valor as verbas para a defesa, segurança
Embora o ensino primário continue a ser o e ordem interna registam um aumento de
que mais recursos absorve, verifica-se uma 8,9% de 850,2 mil milhões Kz para 925,9
diminuição de 8,5% para 288,7 mil milhões Kz. Tal representa uma ruptura

10
Posição do OPSA e da ADRA sobre o OGE de 2016
relativamente à opção do OGE anterior e um o programa de Participação na Gestão
regresso ao passado. Na verdade, a fatia de Ambiental desce de 15,25 mil milhões em
13% da educação e saúde juntas continua 2015 para 4,3 mil milhões em 2016. Pese
abaixo da defesa, segurança e ordem pública embora o aumento das verbas para o
que recebe o equivalente a 14,4% do total do Programa de Gestão Responsável de
OGE 2016. Recursos Ambientais para 0,5 mil milhões
em 2016, este montante mantém-se muito
Justiça abaixo dos 5,1 mil milhões atribuídos em
O artigo 105º nº 1 da Constituição apresenta 2014.
os Tribunais como um dos três órgãos de
soberania, ao lado do Presidente e Chefe do
Executivo e da Assembleia Nacional. Os Recomendações
objectivos do sector previstos no Plano
O OPSA e a ADRA registam com agrado o
Nacional de Desenvolvimento 2013-2017
facto de a 5ª Comissão da Assembleia
apontam para a consolidação da Reforma do
Nacional convidar organizações da
Sector. Nos últimos anos, o OPSA e a
sociedade civil para apresentarem as suas
ADRA têm vindo a alertar para a
opiniões sobre o OGE. Porém, torna-se
insuficiência das verbas atribuídas a este
necessário encontrar mecanismos que
sector, sobretudo se comparadas com os
permitam o acompanhamento das
objectivos citados e com as necessidades dos
recomendações aceites. O OPSA e a ADRA
cidadãos terem cada vez mais um maior e
apresentaram nos últimos anos algumas
melhor acesso à Justiça. A pertinência deste
sugestões que podem ser consideradas de
apelo permanece já que os tribunais sofrem
dois tipos: (1) relacionadas com OGE
um corte de 15,3% de 20,1 mil milhões Kz
propriamente dito, na perspectiva da
para 17,1 mil milhões. De modo similar, em
introdução de correcções, antes da sua
2016, as verbas destinadas ao poder judicial
aprovação na especialidade, e (2) relativo a
caem 27,2% face a 2015, de 28,6 mil
aspectos processuais, a serem retidos para
milhões kz para 20,9 mil milhões kz. As
processos futuros.
verbas destinadas ao poder judicial nos
próximos anos são cerca de sete vezes menos Reconhecemos que o OGE 2016 acolheu
do que os 151,4 mil milhões Kz atribuídos algumas das contribuições apresentadas e
ao sistema de segurança nacional. Face ao esperamos que estas opções mantenham de
estado da Justiça em Angola e perante o forma coerente a mesma tendência no OGE
desígnio de diversificação da economia, a dos próximos anos. Por isso, OPSA e a
redução nas verbas para os tribunais suscita ADRA, no espírito construtivo de que têm
preocupações. dado mostras, continuam a insistir em
grande parte delas, com as adaptações
Ambiente julgadas convenientes.
Dado o novo protagonismo da questão Por outro lado, o OPSA e a ADRA saúdam
ambiental e da transformação de algumas o Executivo pela adopção de medidas que
das economias mais importantes para revelam e reforçam o necessário esforço de
Angola, como a Chinesa, é importante diversificar a economia, nomeadamente o
considerar os programas nesta área e como relativo aumento de verbas para a
se relacionam potencialmente com os agricultura, o aumento relativo da receita
sectores produtivos. Neste âmbito, destaque- não petrolífera e a diminuição do montante
se a rubrica de protecção ambiental, a qual do PIP para Luanda, o que sugere, em termos
disporá de um montante de 0,25% do total quantitativos, uma distribuição menos
orçamentado. Na realidade, a protecção assimétrica das verbas para as províncias.
ambiental vê também o seu orçamento
Assim sendo, apresentam-se as seguintes
diminuir relativamente a 2015, a uma taxa
recomendações:
negativa de -46,0%. Por outro lado, o
Programa de Qualidade Ambiental é um dos De carácter geral
maiores programas do OGE 2016, com uma  O OGE deve ser disponibilizado na
dotação orçamental de 17,4 mil milhões. Já internet para permitir o seu

11
Posição do OPSA e da ADRA sobre o OGE de 2016
conhecimento e consulta pelos cidadãos  Cuidar que as verbas atribuídas aos
e para permitir e alimentar o anunciado programas de apoio às micro, pequenas
diálogo entre o Estado e a sociedade. e médias empresas tenham em conta a
importância da Agricultura em termos
 Tão logo apreciada pelo Conselho de
de emprego ou ocupação de mão-de-
Ministros a proposta do OGE deve ser
obra e na segurança alimentar.
pública e acessível para permitir que os
diferentes interessados a possam  Aumentar as verbas destinadas à
consultar, discutir e propor assistência técnica aos agricultores e
contribuições junto dos diferentes criadores de gado e à investigação
grupos parlamentares. Para esse efeito e agrária, de modo a permitir o aumento
para facilitar a análise do documento, progressivo da produtividade e da
recomenda-se a sua disponibilização competitividade. Isto pode exigir o
numa folha de cálculo. recrutamento de mais técnicos para as
instituições vocacionadas para a
 A Assembleia Nacional, através da 5ª
assistência técnica.
Comissão, deverá assumir um papel
mais activo na preparação do OGE de  Perante as informações de que se vai
cada ano, iniciando um processo de dispondo, justificar-se-ia um estudo
discussão das grandes suas linhas independente que permitisse a avaliação
orientadoras, com a participação da dos investimentos públicos até agora
sociedade civil a todos os níveis do feitos no sector agrário para se poder
território, em tempo que permita avaliar a sua eficácia e eficiência.
recomendações ao Executivo antes de
este iniciar a elaboração das suas  Criar uma unidade técnica com
propostas para aprovação do seu Titular. capacidade para apoiar os deputados na
Deste modo, o OGE poderia, de forma análise e tratamento do orçamento.
gradual, vir a ser um documento mais De carácter específico
consensual que reflectisse as
preocupações do conjunto da sociedade. Às organizações da sociedade civil:

 Deve ser retomada a descida gradual dos  Os parceiros sociais convidados a


subsídios aos combustíveis, canalizando emitirem as suas opiniões junto das
os valores “libertados” para outras Comissões Parlamentares devem fazer
rubricas do sector social. um esforço para se prepararem
tecnicamente de modo a poderem
 Retomar o reforço das dotações com debater, com argumentos, as suas
educação e saúde, em detrimento das propostas.
despesas com defesa, segurança e ordem
pública. Ainda que se esteja ciente que  Os grupos e organizações da sociedade
não pode haver uma alteração brusca de civil focalizados em diferentes temas
direcção, torna-se necessário mostrar (como educação, saúde, agricultura,
uma tendência nesse sentido. género) poderão aumentar a sua eficácia
no estudo, análise, divulgação e debate
 Retomar o nível de investimento público da informação que é publicada no portal
de forma a impulsionar a diversificação do Ministério das Finanças. A
da economia. divulgação junto dos cidadãos de todo o
 Aumentar as verbas atribuídas à país contribuirá para o desenvolvimento
educação pré-escolar e à infância em do “sentido de propriedade” e de
geral, bem como ao ensino primário e controlo cidadão, em relação aos
secundário, melhorando, ao mesmo recursos públicos e, assim, do sentido de
tempo, o desequilíbrio entre a educação exigência em relação à sua gestão.
superior e a secundária. Só desse modo  Em particular, o OPSA e a ADRA,
se poderá melhorar a qualidade do associados a outras organizações com
ensino e preparar os quadros do futuro, créditos firmados em diferentes
incluindo os de nível universitário. domínios, devem promover debates
sobre o OGE com base neste

12
Posição do OPSA e da ADRA sobre o OGE de 2016
documento. Esses debates deveriam ser Ao Executivo:
calendarizados para realização no 1º
 Recomenda-se uma profunda reflexão
semestre de 2016 para o caso de deles
no sentido de reorientar os futuros OGE,
resultarem propostas de acções que
priorizando o bem-estar das populações,
possam ser realizadas no 2º semestre e
o combate contra as assimetrias
que, eventualmente, venham a contribuir
regionais e a pobreza extrema.
para o OGE 2017 ou para uma eventual
Recomenda-se ainda o incremento das
revisão do OGE 2016.
despesas em educação, saúde, justiça,
 Reconhecendo o papel pioneiro da agricultura e combate à pobreza a par de
monitoria social do OGE desenvolvida medidas para aumentar a capacidade
pelo CICA – Conselho das Igrejas destes sectores para executarem os
Cristãs de Angola e a Comissão Justiça recursos à sua disposição, como meio de
e Paz da Arquidiocese do Lubango, inversão das assimetrias. Isto é possível
recomenda-se que outras organizações à custa de uma redução das despesas
da sociedade civil contribuam para a militares e com segurança pois, ao
monitoria da implementação do OGE a contrário do que tem acontecido com
nível local. outras propostas, não se pode pensar na
ampliação de umas rubricas se não
 As organizações da sociedade civil
houver redução de outras.
podem zelar para que as prioridades
locais sejam consideradas na elaboração  Conjugado com o ponto anterior,
das propostas de orçamento; contribuir recomenda-se o estudo do
para o funcionamento dos fóruns de estabelecimento de um sistema de
cidadãos e dos CACS – Conselhos de transferências monetárias para as
Auscultação e Concertação Social, e pessoas sem possibilidade de trabalhar e
alimentar estes com informação ter rendimentos, a exemplo de outros
actualizada e rigorosa, o que poderá países.
contribuir para um processo de
 Recomenda-se, igualmente, profunda
orçamentação mais enraizado nas
reflexão sobre a questão do
necessidades dos cidadãos e
endividamento público. Pese embora o
desenvolverá a capacidade para se
FMI ter considerado a dívida pública de
monitorar a utilização dos recursos
Angola sustentável, a mesma é bastante
alocados a cada município ou sector.
sensível a vários choques (preço
internacional do petróleo, crescimento
Aos partidos políticos: do PIB e taxa de câmbio).

 A última recomendação feita à  Associado ao ponto anterior,


sociedade civil também se revela recomenda-se a tomada em
pertinente para os diferentes partidos consideração dos riscos enfrentados
políticos. pelos sectores produtivos não
petrolíferos, bem como um investimento
 É desejável que os partidos políticos maior e mais coordenado no domínio
tomem posição pública sobre o OGE ambiental, dada a necessidade de
clarificando a sua posição política face reconfigurar a matriz económica do País
às opções contidas no orçamento. O à semelhança da tendência
hábito de desenvolver este tipo de internacional.
posicionamento, desde que assente na
análise do orçamento, contribuirá para  Recomenda-se uma melhor
melhorar o nível do debate político no fundamentação das opções feitas e das
país. Recomenda-se que durante o dotações atribuídas a cada rubrica na
processo de preparação do orçamento se proposta de OGE, reduzindo os valores
proceda a uma consulta alargada com os destinados a “despesas ou serviços não
parceiros sociais, sindicatos, especificados”. É compreensível que
associações patronais, igrejas e outras cada sector tenha uma percentagem para
organizações de cidadãos. acomodar “imprevistos”, mas essa

13
Posição do OPSA e da ADRA sobre o OGE de 2016
percentagem não deveria ultrapassar os Contas cumpra o seu papel de auditoria
5% do orçamento do sector. Em às contas.
particular, a informação sobre a
 Recomenda-se a integração de muitos
aquisição de bens e serviços continua a
programas existentes, nomeadamente ao
carecer de maior transparência.
nível da diversificação da economia e ao
 Para sustentar as coerências das opções nível do sector social, reduzindo o seu
tomadas, recomenda-se a análise da número de forma a garantir maior
evolução das dotações para cada sector a articulação e a redução dos custos de
valores constantes, para que não se dê a administração na execução.
ideia de que as dotações aumentam (em
 Recomenda-se que entre as grandes
valores nominais) quando na realidade
prioridades na execução figure o
diminuem (em valores constantes).
investimento na agricultura e na
 Recomenda-se, igualmente, maior assistência técnica ao sector, bem como
coerência em ter o OGE como uma peça a reabilitação de estradas secundárias e
de concretização do programa político terciárias, sem as quais a produção
que o sustenta, o que passa pelo reforço agrícola e o comércio não poderão ter
da utilização de instrumentos que desempenho aceitável, e deixando as
permitam maior eficácia na execução populações ainda mais vulneráveis.
orçamental e no controlo da despesa,
 Recomenda-se clarificar os critérios que
assegurando um efectivo combate à
justificam o corte financeiro em alguns
impunidade da corrupção.
programas e o aumento de outros,
 Recomenda-se também a continuação procurando priorizar cortes que não
dos programas de fortalecimento da afectem ainda mais os mais pobres.
capacidade institucional das instituições
 Recomenda-se um maior investimento
do Estado para usarem os recursos que
na justiça, central para superar as
lhes são alocados. De outra forma, os
lacunas do sector e cumprir o desígnio
esforços de investimento podem
de diversificar a economia, através de
aumentar o desperdício e alimentar a
menos burocracia, maior garantia de
corrupção.
legalidade e maior celeridade na criação
 Recomenda-se a introdução progressiva de empresas e resolução de litígios.
da prática de planeamento de “baixo
 O Relatório de Fundamentação do OGE
para cima”, de modo a que o resultado
2015 fez a recomendação de optimizar a
final corresponda com as necessidades,
política de ajustamento dos salários
prioridades e propostas das populações e
segundo a inflação esperada, bem como
das instituições locais.
a de limitar a contratação de novos
 Recomenda-se a elaboração e efectivos. Para 2016, tomou-se a opção
divulgação pública de relatórios de congelar a administração pública –
regulares, mantendo actualizada a fonte importante de empregabilidade e
publicação de documentos de destaque segurança da população. Neste contexto,
no site do Ministério das Finanças. recomenda-se não só que as despesas
Relembre-se que o Relatório de com o pessoal sejam bem monitorizadas,
Fundamentação do OGE 2015 tinha já pois esta rubrica introduz rigidez ao
feito a recomendação de condicionar a orçamento, como também se conheça o
execução dos projectos de investimento número de funcionários na
público à apresentação dos Administração Pública, escalpelizando
correspondentes cronogramas de áreas, e se prevejam medidas de
execução, sujeitos a revisões trimestrais. protecção social.
 Recomenda-se também a apresentação
regular e atempada da Conta Geral do
Estado para aprovação da Assembleia
Nacional e para que o Tribunal de

14
Posição do OPSA e da ADRA sobre o OGE de 2016

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