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1 Introdução
A extracção terapêutica sempre foi um tema especialmente controverso e polé-
mico no mundo ortodôntico. Na realidade, a decisão entre extrair e não extrair
numa dada anomalia ortodôntica é uma atitude clínica a que o ortodontista tem
que recorrer sistematicamente, ajuizando de uma forma relativamente empírica
um conjunto de diferentes parâmetros estéticos, anatómicos, ocluso-funcionais
e mecânicos, entre outros.
As más-oclusões, sobretudo os casos dúbios de extracção/não extracção, co-
locam ao ortodontista problemas na sua resolução terapêutica devido a múlti-
plas razões. São razões signicativas o diagnóstico diferencial entre as várias
dimensões e posições crânio-maxilo-mandibulares e a importância do grau de
gravidade dos componentes indutores da má-oclusão, assim como o prejuízo es-
tético que lhes está associado. A diversidade das formas clínicas, os factores
hereditários dicilmente quanticáveis, os factores ambientais, o carácter evo-
lutivo das dismorfoses durante o crescimento e desenvolvimento e a falta de
experiência clínica, são também razões signicativas na diculdade de trata-
mento. Pretende-se com este trabalho, como já referido anteriormente, denir
quais os elementos clínicos, quer qualitativos quer quantitativos que respondem
de uma forma mais favorável, a uma e a outra das opções terapêuticas, nos casos
de difícil decisão (extracção/não extracção).
O modelo de diagnóstico que se pretende criar neste trabalho resulta, as-
sim, de uma análise retrospectiva, já que compara as decisões denidas pelo
referido modelo, com aquelas que foram tomadas em casos considerados bem
tratados. Pretende-se que esses casos anteriormente tratados, com ou sem ex-
tracções, apresentem níveis de excelência no que se refere a tornar possível a sua
comparação com os objectivos ideais que a especialidade de ortodontia actual-
mente preconiza e que obedecem basicamente à sugestão de R. Roth [3]. Parece
evidente que a necessidade de se aferir a qualidade exigida para que se considere
um tratamento ortodôntico bem realizado, onde seja indiscutível um resultado
de êxito, obrigue a seleccionar alguns critérios que não sejam de todo em todo
subjectivos.
Considerando que cerca de 25% dos casos ortodônticos são casos limite,
o objectivo deste trabalho é tentar que, através da análise destes múltiplos
factores, se possa construir um modelo de decisão com base na selecção da sua
importância e consequentemente avaliar o desempenho do modelo conferindo-lhe
abilidade na resolução de casos clínicos.
2 Metodologia
A metodologia estatística utilizada para selecção de factores inuentes, dada a
natureza das variáveis envolvidas, foi a regressão logística dicotómica.
Em qualquer problema de regressão a quantidade chave é o valor médio da
variável resposta, dado o valor da variável independente. Esta quantidade é
Actas do XIV Congresso Anual da SPE 3
normalmente designada por média condicional e pode ser expressa por E(Y |x),
onde Y designa a variável resposta e x designa o valor da variável indepen-
dente. Considere-se π(x) = E(Y |x). A forma especíca do modelo de regressão
logística para uma variável resposta dicotómica, é:
exp(β0 + β1 x1 + β2 x2 + · · · + βp xp )
π(x )= (1)
∼
1 + exp(β0 + β1 x1 + β2 x2 + · · · + βp xp )
e dá o valor esperado da probabilidade segundo o modelo. A transformação
de π(x
∼
) é designada por transformação logit. Esta transformação é denida em
termos de π(x
∼
), como sendo
à !
π(x
∼
)
g(x ) = ln = β0 + β1 x1 + β2 x2 + · · · + βp xp (2)
∼
1 − π(x∼
)
3 Resultados
Foram seleccionados aleatoriamente para este estudo 102 casos tratados orto-
donticamente, sendo 53 tratados com extracções e 49 tratados sem extracções,
de acordo com os parâmetros que se consideram para um caso bem tratado.
4 Ana C. Braga et al./Modelo de RL em ortodontia
Dos casos estudados, 38 (37, 3%) pertencem ao sexo masculino e 64 (62, 7%) ao
sexo feminino.
Para a construção dos modelos de regressão logística, utilizaram-se inicial-
mente 24 variáveis de interesse clínico.
Os coeciente para os quais não se rejeita a hipótese destes serem nulos são
os assinalados a negrito. O facto do TIPOFACIAL(2) e o SULCO(2) apresen-
tarem valores prova tão elevados deve-se ao número escasso de valores nestas
classes. Quanto ao valor p = 0,519 para a LINHA(2), de acordo com o valor de
signicância estatística pré estabelecido não se pode considerar estatísticamente
signicativo.
Actas do XIV Congresso Anual da SPE 5
g(x
∼) = −25, 369 − 2, 587 ∗ SEXO + 4, 550 ∗ DOLICO + 5, 008 ∗ M ESO/DOLICO +
+ 2, 310 ∗ M ESO/BRAQU I + 0, 119 ∗ P ROP 1 + 0, 610 ∗ CON V EX − 0, 413 ∗
∗ OV ERBIT E + 2, 109 ∗ SU LCO + 3, 375 ∗ LIN HA(1) + 0, 979 ∗ IDADE +
+ 0, 546 ∗ RIL
4 Conclusões
De acordo com os resultados obtidos vericou-se que no processo de decisão
na extracção ortodôntica as variáveis que inuenciam o processo são o sexo, o
tipo facial, a altura facial superior, a convexidade, o sulco labio-mentoniano, a
linha POG/Lábio inferior, a relação incisivo-labial e a idade. De entre as variá-
veis seleccionadas pelo método passo a passo progressivo da regressão logística
avaliou-se o desempenho do modelo estimado com base no critério de decisão.
Vericou-se através do índice área abaixo da curva ROC que modelo criado po-
deria decidir em 91% das vezes correctamente. No entanto, haveria que avaliar
nos casos em que a decisão tomada não foi de acordo com o que seria de es-
perar pelo modelo, quais os factores que poderiam ter inuenciado a decisão.
Há ainda a ter em conta que os indivíduos da amostra tratados ortodontica-
mente com extracções e sem extracções foram considerados bem tratados pelo
facto de os resultados terapêuticos cumprirem os objectivos que a especialidade
de ortodontia actualmente preconiza. Esta foi a razão pela qual foram trata-
dos como "Gold Standard" para o estudo, por forma a permitir a construção
de um modelo de decisão que conferisse ao ortodontista maior segurança nos
procedimentos, diminuindo assim a subjectividade do julgamento clínico.
Em termos de trabalho futuro sugere-se que partindo da divisão dos diferen-
tes factores (estéticos, estruturais e ocluso-funcionais) se procurem criar índices
a partir das variáveis que se revelem estatisticamente signicativas nos modelos
de regressão logística parciais, para com estes avaliar o desempenho em termos
de tomada de decisão através de curvas ROC.
Referências
[1] Braga, A. C. (2001). Curvas ROC: Aspectos funcionais e aplicações. Tese Douto-
ramento. Universidade do Minho.
[2] Hosmer,D. and Lemeshow, S. (1989). Applied Logistic Regression. John Wiley &
Sons.
[3] Enlow and Hans (1996). Normal variations in facial form and the anatomic basis
for malocclusions. Essentials of facial growth. Chapter 10.W.B. Saunders Com-
pany.