Sie sind auf Seite 1von 9

03/08/2018 O Holocausto cigano durante a Segunda Guerra Mundial

SOBRE NÓS OS EDITORES FALE CONOSCO NA MÍDIA

INÍCIO BIBLIOGRAFIAS COMENTADAS HISTÓRIA IMPORTADA DICAS DE LIVROS

ENTREVISTAS NOTÍCIAS ARTIGOS LINKS

ANTIGA MEDIEVAL MODERNA CONTEMPORÂNEA TEORIA E HISTORIOGRAFIA BRASIL

AMÉRICA ÁFRICA ENSINO ACADÊMICO OUTROS

NOVIDADES  [ 2 de agosto de 2018 ] Capes anuncia que milhares de PESQUISAR …

INÍCIO  ARTIGO  O Holocausto cigano BOLETIM CAFÉ


durante a Segunda Guerra Mundial HISTÓRIA

O Holocausto cigano Primeiro Nome

durante a Segunda Sobrenome

Guerra Mundial E-mail *

 19 de março de 2018  Artigo 5


ASSINAR

A palavra Holocausto é comumente


relacionada ao genocídio de judeus
durante a Segunda Guerra Mundial.
Contudo, os povos ciganos também foram LEIA TAMBÉM
vítimas dos nazistas durante o conflito. O
episódio ganhou o nome de “Baro
Porrajmos”. Essa memória vem sendo
discutida e requalificada desde os anos
1970.

Por Douglas Neander Sambati

O assassinato de judeus durante a Segunda Guerra Acordos de Paz


Mundial está vivo no imaginário popular, muito de Oslo: 20 anos
graças aos inúmeros lmes que representam esse depois
momento histórico. Nas aulas de História, o tema
também tem sido abordado nos livros didáticos, que
https://www.cafehistoria.com.br/holocausto-cigano/ 1/13
03/08/2018 O Holocausto cigano durante a Segunda Guerra Mundial

geralmente exibem imagens de pessoas presas nos  30 de outubro de 2013


Campos de Concentração e de Extermínio, 2
normalmente com a estrela de Davi atada as roupas. Acordos de paz
Nos últimos anos, também tem sido possível assinados na Noruega
encontrar em boa parte dos livros didáticos trechos por autoridades
de textos pontuando que o regime nazista também palestinas e israelenses
perseguiu opositores políticos, homossexuais e completa vinte anos em
ciganos. Contudo, o espaço dedicado a esses grupos 2013. O Café História
ainda é pequeno. O objetivo deste artigo é discutir lembra o que foram
como a perseguição do povo cigano pelos nazistas esses acordos e algumas
vem sendo tratado na historiogra a e em discursos de suas repercussões
de memória. políticas em meados dos
anos 1990. Por Bruno
Leal Os chamados
“acordos de paz de Oslo”
referem-se a um
conjunto de acordos
rmados na cidade de
Oslo, Noruega, em 1993,
entre o governo
israelense, representado
pela gura de Yitzhak

Ciganos são detidos para deportação, pelo governo alemão,


Rabin, e a
em 22 de maio de 1940. Foto: Bundesarchiv, R 165 Bild-244-48
/ CC-BY-SA 3.0

Uma carta de 24 de março de 1938, enviada à


Heinrich Himmler pelo Doutor Werner Best, pedia
atenção para a “o início da solução de nitiva do
problema cigano a partir de um ponto de vista
racial1”. Para a burocracia do Terceiro Reich, a
“solução de nitiva” era a erradicação das A tragédia de
populações ciganas. Milhares de pessoas foram
Édipo e a
sistematicamente perseguidas e mortas durante a
Segunda Guerra por serem ciganas ou por serem invenção da
assim consideradas pelos perpetradores nazistas. psicanálise
Apesar de plani cada e metódica, a perseguição aos  5 de março de 2017
ciganos teve, contudo, diferentes características, 0
dependendo da região onde eles residiam e da
Da tragédia cotidiana à
relação entre o governo local e a autoridade nazista.
miséria banal: como a
Em geral, a violência era mais direta nos territórios
metáfora de Édipo Rei,
ocupados pelos nazistas. Nos países que contavam
uma das mais famosas
com um governo pró-nazifascista, as ações eram
peças do antigo teatro
mais difusas, porém não menos hediondas.
grego, pode nos ajudar a
melhor compreender a
Diferentes formas de perseguição
psicanálise. Con ra o
artigo exclusivo de

https://www.cafehistoria.com.br/holocausto-cigano/ 2/13
03/08/2018 O Holocausto cigano durante a Segunda Guerra Mundial

Na região da atual Polônia, por exemplo, a Eliane Schermann,


população cigana vivia mais apartada das cidades e doutora em Psicanálise
da população não romani, apresentando um estilo (UFRJ).
de vida menos sedentarizado. Assim, foi comum a
criação de companhias militares que caçavam os
ciganos e os assassinavam diretamente no local,
logo que os encontravam. Atualmente, o Museu
Etnográ co de Tarnów/Polônia organiza viagens aos
locais onde ciganos foram mortos.

Diferentemente da Polônia, a Romênia não foi


ocupada pelo exército nazista. O país era governado
por Ion Victor Antonescu, um soldado e político
conectado com os ideais nazifascistas. Sob a
liderança de Antonescu os ciganos – assim como
judeus e outros grupos perseguidos – foram
deportados para a região da Transnístria
(atualmente porção sudoeste da Ucrânia e leste da
República da Moldávia). Lá, os deportados foram ou
assassinados ou abandonados à própria sorte,
muitos morrendo de fome e frio.

No caso da antiga República Tchecoslovaca,


ocupada pelo exercito nazista em 1938, a
perseguição aos ciganos conheceu duas realidades.
O país fora dividido em duas partes pelos nazistas: a
parte que corresponde a atual República Tcheca foi
chamada de Protetorado da Boêmia e da Morávia,
enquanto o território da atual Eslováquia foi elevado
ao status de estado independente, sob tutoria
nazista. Na área do Protetorado, os ciganos foram
levados para dois Campos de Concentração – Lety e
Hodonín u Kunštátu – especí cos para essa
população. Muitos homens, mulheres e crianças
morreram nesses locais devido às más condições de
higiene e do trabalho forçado. Porém, depois de
1942, os prisioneiros dos Campos de Concentração
tchecos foram levados para outros Campos para
execução, principalmente Auschwitz-Birkenau II.
Apenas 10% da população roma que vivia no
Protetorado da Boêmia e Morávia sobreviveu à
Guerra. Já na Eslováquia, a burocracia estatal
nazista acreditava que haveria tempo para resolver
o “problema cigano” no futuro. Desse modo, a
população romani eslovaca escapou do assassinato
sistemático, o que não quer dizer que não tenha
sofrido violência racial cotidianamente.

https://www.cafehistoria.com.br/holocausto-cigano/ 3/13
03/08/2018 O Holocausto cigano durante a Segunda Guerra Mundial

A crueldade contra os povos ciganos na Europa foi


tamanha durante o período da Segunda Guerra
Mundial que, na língua utilizada por uma parte da
população cigana, eles chamam o Holocausto de
Baro Porrajmos, que pode ser traduzido em
português como Grande Consumação da vida
humana. Segundo Ian Hancock, Porrajmos é uma
palavra muito dura, que pode ainda signi car
estupro e, por essa razão, falantes da língua romani
hesitam em pronunciar.

Esquecimento e requali cação do Holocausto


cigano/romani

Na historiogra a, o Porrajmos foi e ainda é


negligenciado de uma maneira geral. Se logo depois
do m da Segunda Grande Guerra já se iniciaram
discussões sobre o genocídio judeu, a execução em
massa dos ciganos demoraria para ganhar
visibilidade. Entre as razões que levaram a esse
“esquecimento” do Porrajmos, podemos citar as
diferentes estratégias de genocídio que di cultavam
conectar as histórias, a força político-econômica
cigana (bastante inferior à judaica) e, talvez o mais
relevante, a negação por parte das autoridades do
lado vitorioso de que ciganos foram alvo por sua
condição étnica. A rmava-se que a população
romani havia sido alvo porque seriam “antissociais”,
porque seriam pessoas que viviam à margem da
sociedade, sobrevivendo de pequenos crimes e
fazendo uso de bruxaria; en m, se utilizavam de
todo e qualquer outro estereótipo que servisse para
desquali car socialmente e culturalmente o grupo
como um todo.

Mulher cigana com um policial alemão e o psicólogo nazista


Dr. Robert Ritter. Foto: Bundesarchiv, R 165 Bild-244-71 / CC-
BY-SA 3.0

https://www.cafehistoria.com.br/holocausto-cigano/ 4/13
03/08/2018 O Holocausto cigano durante a Segunda Guerra Mundial

O reconhecimento do Porrajmos só começou a


ganhar destaque na década de 1970. No dia 8 de
abril de 1971, durante o 1º Congresso Mundial
Romani2, realizado em Londres, decidiu-se formar
uma comissão para esclarecer os crimes contra
povos ciganos durante a Segunda Guerra Mundial. A
partir deste marco, a luta pelo reconhecimento do
Porrajmos tornou-se uma força motriz dos
movimentos sociais romani3, que visam também
lutar contra o preconceito, contra o Anticiganismo
(particular forma de racismo que atinge tanto
ciganos como pessoas tidas como ciganos) e o
reconhecimento dos ciganos como uma nação.

A requali cação da memória sobre o Porrajmos


nessa época se deve muito a uma movimentação
nacionalista romani, que buscava – e ainda busca – o
reconhecimento dos povos conhecidos como
ciganos como uma população que tem sua própria
cultura e modo de viver. Esse movimento
nacionalista romani não é um movimento coeso, isto
é, ele não age conjuntamente como um bloco. Trata-
se mais de uma ideia que utua em torno de vários
movimentos sociais, ONGs e autarquias
governamentais que trabalham contra a exclusão
econômico-social cigana e o Anticiganismo.
Contudo, apesar de um tanto quanto abstrato, o
conceito sobre os ciganos como uma nação baseia-
se em uma origem comum na região onde hoje é a
Índia, no compartilhamento de uma cultura e uma
língua romani, e na celebração da memória do
Porrajmos. Em outras palavras, a memória da
violência sofrida como grupo alimenta uma retórica
utilizada por uma elite intelectual romani na
tentativa de desenvolver um sentimento de
proximidade entre os culturalmente plurais grupos
ciganos.

Contradições da Memória

A historiogra a tem apontado algumas contradições


neste processo de requali cação da memória. O fato
de que ciganos foram alvo do governo nazista é
inegável, mas o motivo da perseguição ainda
levanta discussões. De forma sucinta, pode-se dizer
que existem duas linhas de análise: uma delas a rma
que os ciganos foram alvo por serem um grupo

https://www.cafehistoria.com.br/holocausto-cigano/ 5/13
03/08/2018 O Holocausto cigano durante a Segunda Guerra Mundial

étnico que os nazistas visavam destruir4, enquanto a


outra acredita que os nazistas queriam destruir os
ciganos justamente porque eles não seriam mais um
grupo étnico, e sim um problema social5.

Enquanto a primeira é mais clara por se aproximar


do caso judeu, a segunda necessita de mais
explicações: alguns autores a rmam que o projeto
de destruição dos ciganos se deu porque os nazistas
acreditavam que eles também teriam origem ariana,
mas não teriam conseguido manter a pureza racial
ao longo de sua história.6 Assim, o caso do racismo
contra os povos ciganos seria o inverso do
antissemitismo (racismo contra os povos judeus):
enquanto os judeus eram assassinados por serem
uma raça (pura) inferior, os ciganos seriam mortos
por não serem mais puros e, por isso, apresentarem
um comportamento criminoso, nômade e antissocial.

Monumento aos ciganos assassinados em Borzęcin, Polônia.


Foto: Zygmunt Put.

Essas diferentes abordagens podem trazer


complicações na instrumentalização da memória do
Porrajmos como retórica aglutinadora dos povos
ciganos, mas não negam a violência destinada a
essas populações pelos nazistas. Contradições e usos
políticos da memória não são novidades e não
podem ser confundidos com falsi cação da
memória. Movimentos nacionalistas que
legitimaram vários Estados-Nação que temos hoje
em dia usaram artifícios similares. Para cada história
e/ou característica que se memora e enfatiza, há
tantas outras que são “esquecidas”7. O que se
“lembra” e o que se “esquece” está menos conectado
ao que de fato aconteceu e mais ligada às
necessidades sociais, políticas e econômicas em que
uma sociedade está inserida.
https://www.cafehistoria.com.br/holocausto-cigano/ 6/13
03/08/2018 O Holocausto cigano durante a Segunda Guerra Mundial

Hoje a população romani é, em geral,


economicamente mais vulnerável e vem sendo
utilizada como “bode expiatório” para o crescimento
dos partidos de extrema-direita na Europa. Esses
grupos, que ertam com o fascismo, ecoam
estereótipos dos ciganos como um grupo
biologicamente conectado à criminalidade e
incivilizados, de maneira muito semelhante ao que
se viu no passado. Não esquecer o que se passou
durante a Segunda Guerra Mundial pode ajudar a
não repetir os mesmos passos e evitar novas
injustiças contra os povos ciganos.

Notas

1 HANCOCK, I. 1938 and the Porrajmos: A Pivotal


Year in Romani History. Centre for World Dialogue.
Global Dialogue, v. 15, n. 1, p. 106–117, 2013. p. 107.

2 Ainda neste congresso foi decidido que a palavra


cigano – e seus correlatos em outras línguas como
Zigeuner (alemão), Țigani (romeno), Cikáni (tcheco),
Gypsy (inglês) e etc. – não deveria ser utilizada para
nomear essas populações. Entre as razões,
principalmente por ser um conceito que não existe
na língua romani e, a partir do ponto de vista dos
participantes do congresso, por estar carregada de
conotações negativas e preconceitos. A palavra
roma (singular rom, adjetivo romani) foi escolhida
por essa elite intelectual para representar esses
povos e, desde então, tem sido cada vez mais
utilizada por governos, acadêmicos e ONGs. No
Brasil – embora não sempre, não em todo lugar e
não da mesma maneira – ciganos e roma são
utilizados como sinônimos. Contudo chama-se a
atenção para o fato de que essa requali cação de
ciganos como roma é bastante complexa. É preciso
ter em consideração a pluralidade cultural, social,
econômica e política de todos os grupos que são
geralmente chamados de ciganos pela população
geral.

3 A palavra romani é comumente usada como


sinônimo do “povo cigano”.

4 HANCOCK, I. We are the Romani people / Ame Sam


e Rromane dz̆ene. Hertfordshire: University of

https://www.cafehistoria.com.br/holocausto-cigano/ 7/13
03/08/2018 O Holocausto cigano durante a Segunda Guerra Mundial

Hertfordshire Press, 2005.

5 MAYALL, D. Gypsy identities, 1500-2000: from


Egipcyans and Moon-men to the ethnic Romany.
London: Routledge, 2004.

6A (pseudo) ciência nazista concordava com estudos


do século XIX e início do século XX que apontavam
uma origem indiana para todos os ciganos. Isso fazia
da população romani um povo com origem ariana,
assim como se nomeavam os nazistas. Desse modo,
eliminar os ciganos a rmando a sua inferioridade
racial seria contraditório dentro da mentalidade
nazifascista.

7 CANDAU, J. Memória e identidade. São Paulo:


Contexto, 2011.

Referências bibliográ cas

ACTON, T. Social and economic bases of


antigypsyism. Roma Identity and Antigypsyism in
Europe. Munich: LINCOM Europa, 2013.

HANCOCK, I. Romanies and the Holocaust: A Re-


evaluation and Overview. In: D. Stone (Org.). The
Historiography of the Holocaust. Palgrave
Macmillan UK, 2004 pp.383–396. Disponível em:
<http://link.springer.com/chapter/10.1007/978-0-
230-52450-7_18>. Acesso em: 29/2/2016.

International Journal of Cultural Policy, v. 17, n. 1, p.


1–17, 2011.

KELSO, M. ‘And Roma were victims, too.’ The Romani


genocide and Holocaust education in Romania.
Intercultural Education, v. 24, n. 1-2, 2013, pp. 61–78.

POLAK, K. Teaching about the genocide of the Roma


and Sinti during the Holocaust: chances and
challenges in Europe today. Intercultural Education,
v. 24, n. 1-02, 2013, p. 79–92.

SAMBATI, D. N. Tensões entre memórias, ativismo e


ética: as narrativas cigano/romani no Museu Cigano
Itinerante (Brasil) e no Roma Ethnographic Museum
in Tarnów (Polônia). Revista Con uências Culturais,
v. 6, n. 1, 2017, p. 82–97.
https://www.cafehistoria.com.br/holocausto-cigano/ 8/13
03/08/2018 O Holocausto cigano durante a Segunda Guerra Mundial

STEWART, M. The puzzle of Roma persistence: group


identity without a nation. Romani culture and Gypsy
identity. Hat eld: University of Hertfordshire Press,
1999, pp.84–98.

VAN BAAR, H. Romani Identity Formation and the


Globalization of Holocaust Discourse. In: E. Peeren
(Org.); Representation Matters. Brill, 2010, pp. 113–
131. Disponível em:
<http://booksandjournals.brillonline.com/content/bo
oks/b9789042028463s008>. Acesso em: 29/2/2016.

VAN BAAR, H. The Way Out of Amnesia? Third Text, v.


22, n. 3,  2008, pp. 373–385.

VERMEERSCH, P. The Romani movement: minority


politics and ethnic mobilization in contemporary
Central Europe. New York: Berghahn Books, 2006.

Douglas Neander Sambati é licenciado em História e


Mestre em Patrimônio Cultural e Sociedade pela
Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE),
Santa Catarina. Atualmente desenvolve tese de
doutorado sob o título provisório de A Historical-
Sociological Analysis on the Romani Nationalist
Movements: Foundations, Targets, Challenges and
Con icts, no Programa de Pós-Graduação em
Sociologia Histórica da Universidade Carolina em
Praga, República Tcheca.

Como citar esse artigo

SAMBATI, Douglas Neander. O Holocausto cigano


durante a Segunda Guerra Mundial (artigo).  In: Café
História – história feita com cliques. Disponível em:
https://www.cafehistoria.com.br/holocausto-cigano/.
Publicado em: 19 mar. 2018. Acesso: [informar data].

    

 ARTIGO CIGANOS

CONTEMPORÂNEA H8 HOLOCAUSTO

NAZISMO
https://www.cafehistoria.com.br/holocausto-cigano/ 9/13

Das könnte Ihnen auch gefallen