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Quero dizer que não foram sonhos capazes de gerar capacidades preventivas e
vontade de vencer assimetrias, motivando um processo inteligente de
independência e soberania que simultaneamente vencesse a inércia colonial
que, em termos infraestruturais e estruturais, vem de longe no tempo e com
imperativos reflexos na sociedade e na economia contemporâneas.
Para mim deveriam ter sido sonhados antes do 4 de Abril de 2002, para serem
implementados desde logo no próprio dia em que se assinou o Entendimento
do Luena!
Se assim não o foi, deve-se sobretudo ao facto de a terapia (de 2002 até aos
nossos dias), se ter imediatamente seguido ao choque neoliberal (de 31 de
Maio de 1991, conforme ao Acordo de Bicesse, até 4 de Abril de 2002, data da
assinatura do Entendimento do Luena).
“Para Luanda ser ordenada, teria que haver muita gente a sair daqui, para ir
habitar outros locais, onde tivesse melhores condições de vida.
Nunca uma saída compulsiva, mas voluntária, pois é possível viver melhor
noutros locais que não Luanda.
Digo mesmo que hoje Luanda é o pior sítio para viver em Angola.
Está certo que a guerra foi um factor extremamente negativo, mas não explica
tudo.
Acho que a guerra e o petróleo foram os grandes males que Angola teve.
É evidente que, no que ao petróleo diz respeito, para mim são claramente os
procedimentos típicos da terapia neoliberal que são evidentes: fica-se pelo
petróleo, não se diversifica, por que é isso precisamente que corresponde ao
“diktat”neoliberal das “políticas de portas abertas ao capital financeiro
multinacional” de que se anima o império da hegemonia unipolar e dá-se com
isso corpo ao domínio de 1 % sobre tudo o resto, ao sabor dos interesses
exclusivos duma aristocracia financeira mundial que pretende “eternizar”
África como um produtor de matérias-primas e fornecedor de mão-de-obra
barata, movendo inclusive nesse sentido as novas tecnologias empenhadas
nos processos de globalização de acordo apenas com a feição desse domínio!
3– Neste mês de Agosto de 2018, o Ministério das Pescas, por causa dum surto
de cólera que surgiu intempestivo na praia da Mabunda, à Samba,
precisamente no lugar de desembarque do pescado de cada dia que em grande
parte alimenta a cidade capital, fechou e isolou o local, obrigando à recepção e
comércio do peixe na Boavista, passando-se assim, para efeitos de
desembarque e comércio, das baías do Mussulo, para a baía de Luanda.
Na praia da Mabunda, ou muito próximo dela, vão desembocar várias valas de
drenagem a céu aberto, pelo que toda a boca da baía do Mussulo, está
contaminada, por tabela a praia que tem servido à recepção e comércio do
pescado…
De facto este assunto merece ser estudado muito para além das medidas
paliativas que se tomaram em tempo oportuno, que ultrapassam em muito,
obviamente, um estudo para além do papel corrente das autoridades e do
próprio Ministério das Pescas!
Não está em causa esse justo papel preventivo, mas avaliar quanto esse papel
continua a ser, ao-fim-e-ao-cabo apenas um paliativo, incapaz de por si dar
ignição a decisões geoestratégicas em relação a Luanda, decisões essas que
são prementes (por que são “para ontem”) e que naturalmente se impõem,
correspondendo à lógica com sentido de vida que urge soberanamente
cultivar!
A concentração populacional em Luanda, à volta de 1/3 da população total de
Angola, deve ser encarada e estudada em todas as suas implicações, tendo em
conta essencialmente três fenómenos naturais e ambientais de vulto:
– A fluência nessa planície do litoral, de norte para sul, dos cursos, num
meridiano com 300km de extensão, do M’Bridge, do Loge, do Dange, do
Bengo, do Cuanza, do Longa e do Queve, o que provoca o lançamento na costa
dum turbilhão sedimentar imenso arrastado pelas suas águas, sedimentos
esses que contribuem para a formação aluvionar das baías do Mussulo e de
Luanda;
Uma das principais conclusões óbvias é que, mesmo que se apliquem as mais
modernas concepções de respeito pela natureza, seguindo as mais
clarividentes trilhas de preservação do ambiente, face aos fenómenos globais
do aquecimento e do desaparecimento das espécies, até aos fenómenos
implicados na planície costeira angolana e no mar territorial do país, é
incomportável para uma planície do litoral conforme a que integra Luanda,
albergar tanta população, sob pena dos riscos ambientais crescerem
exponencialmente e sem remissão!