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Jocimara Rodrigues de Sousa

Saúde e
Meio Ambiente
Sumário
CAPÍTULO 1 – Sociedade e Meio Ambiente: Divergências ou Convergências?.......................05

Introdução.....................................................................................................................05

1.1 Quais as bases teóricas da relação sociedade-natureza?...............................................05

1.1.1 Natureza e Humanidade...................................................................................06

1.1.2 Natureza e Sociedade.......................................................................................07

1.2 Quais os conceitos e categorias do meio ambiente?.....................................................09

1.2.1 Elementos Naturais e Construídos no Meio Ambiente...........................................10

1.2.2 Ambiente Rural.................................................................................................12

1.2.3 Ambiente Urbano.............................................................................................14

1.3 Quais os conceitos e categorias da saúde?..................................................................15

1.3.1 O que é Saúde?...............................................................................................16

1.3.2 Promoção da Saúde.........................................................................................17

1.4 Qual a relação entre saúde, qualidade de vida e cidadania?.........................................18

1.4.1 Qualidade de Vida...........................................................................................19

1.4.2 Indicadores de Qualidade de Vida.....................................................................20

Síntese...........................................................................................................................21

Referências Bibliográficas.................................................................................................22

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Capítulo 1
Sociedade e Meio Ambiente:
Divergências ou Convergências?

Introdução
Olá! Vamos iniciar com uma reflexão: a sociedade é influenciada pelo meio ambiente ou o meio
ambiente influencia a sociedade? Você consegue definir o que é meio ambiente? Será que as
mudanças do meio em que vivemos podem influenciar na saúde humana?

Para entendermos melhor essas relações, direcionaremos nossos questionamentos às definições


e conceitos que envolvem essa temática, refletindo sobre a maneira como as sociedades contem-
porâneas mudaram a paisagem natural e exploraram os recursos naturais para satisfazer suas
necessidades. Comumente, associamos o termo meio ambiente à natureza, porém, se buscarmos
no dicionário, a definição que encontramos de meio ambiente é a seguinte: “Conjunto de fatores
físicos, biológicos e químicos que cerca os seres vivos, influenciando-os e sendo influenciados
por eles”. (HOUAISS, 2004)

De acordo com essa definição, podemos concluir que não apenas o ambiente natural, como
outros ambientes formados a partir da intervenção humana, como as cidades, também se enqua-
dram na categoria de meio ambiente. A definição ainda reflete sobre a maneira como o ambiente
pode influenciar na saúde humana, pois ambiente e humanidade são mutuamente influenciados.

Independente das características do ambiente, natural ou construído, descobriremos que a saúde


humana pode ser fortemente afetada pela qualidade do meio em que se vive e/ou trabalha. Eis
aí a questão ambiental que tem sido considerada uma das maiores preocupações da socieda-
de contemporânea, pois a preservação da espécie humana pressupõe a preservação do meio
ambiente. Mas, afinal, o que é saúde e meio ambiente e qual a relação entre esses conceitos?
Chegou o momento de descobrirmos!

1.1 Quais as bases teóricas da


relação sociedade-natureza?
Quando nos referimos à natureza, o que vem a sua mente? Normalmente, as pessoas associam
natureza a paisagens intocadas pelo homem. Mas será que existem cenários no planeta Terra
totalmente desconhecidos e intocados? Se você respondeu que sim, lembre-se de que, por mais
afastados e preservados que determinados ambientes aparentem ser, é bem provável que eles
tenham sofrido algum tipo de intervenção humana.

Neste tópico, discutiremos as formas com que a humanidade se relaciona com o ambiente, trans-
formando-o de maneiras mais ou menos intensas. Se por um lado o ambiente natural representa
uma paisagem cuja intensidade da interferência humana é praticamente imperceptível, por outro
lado, as grandes cidades representam o extremo oposto dessa relação, certo? Saiba, porém, que
existem gradações entre esses dois extremos.

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Saúde e Meio Ambiente

Você consegue imaginar quais são as formas com que o homem influencia na constituição do
meio ambiente? Vamos começar a decifrar em seguida.

1.1.1 Natureza e Humanidade


Colocando em perspectiva a história do planeta Terra com a história da humanidade, será pos-
sível verificar que a espécie humana é muito mais recente do que o meio em que ela “nasceu”.
Na escala evolutiva, o primeiro hominídeo de que temos notícia, o australopiteco africano, teria
vivido no planeta entre um e três milhões de anos. Desde então a humanidade muito evoluiu. O
consenso científico é que esse ancestral humano já pudesse andar ereto, o que liberou suas mãos
para coletar frutos e caçar, rudimentarmente, pequenos animais – atirando pedras, por exemplo.
Portanto, não apenas a espécie humana emergiu em um ambiente já formado, como também se
adaptou a esse ambiente, conforme afirma Bourguignon (1990).

Contudo, a dependência e a necessidade de preservação da espécie incentivaram os humanos a


desenvolver habilidades que, posteriormente na escala evolutiva, determinaram a sua condição
no planeta. É preciso recordar que o homem era dependente das condições do ambiente em que
vivia, especialmente no que se refere à alimentação. Suas principais fontes de alimentos eram
extraídas da caça e, sobretudo, da coleta. Dessa forma, havendo escassez de recursos naturais
em um local – causado por diversos fatores naturais, como a estiagem sazonal, esgotamento de
recursos coletáveis, movimentos migratórios dos animais etc. – fazia-se necessário o desloca-
mento do indivíduo. Pois é, você consegue imaginar essa lógica de deslocamento? É por isso que
nos seus primórdios, a humanidade era nômade, ou seja, sua permanência em um local estava
condicionada à disponibilidade e ao gerenciamento dos recursos naturais.

Essa dinâmica de mobilidade acarretou na falta de apego e no desconhecimento da dinâmica do


espaço físico e seus recursos. A humanidade só começou a compreender os ciclos da natureza
a partir do desenvolvimento da agricultura, há apenas cerca de dez mil anos. Com o domínio
das técnicas de plantio, a espécie humana pôde, finalmente, fixar moradia em um lugar e, con-
sequentemente, passou a compreender os ciclos naturais do ambiente. Todo esse processo de
adaptação e de transformação se refere ao processo evolutivo humano.

Figura 1 – A evolução humana significou a transformação pela espécie do meio que a circunscreve.
Fonte: Shutterstock, 2015.

Agora pensemos: qual acontecimento favoreceu a observação da natureza? Bem, foi a partir do
desenvolvimento da agricultura que ocorreu a fixação de moradia e a observação da dinâmica
da natureza. Assim, o homem buscou conhecimentos sobre o meio ambiente para, inicialmente,
se prevenir de adversidades naturais e, posteriormente, dominar e interferir na paisagem natural.
Com o conhecimento adquirido de forma empírica, foi possível observar a sazonalidade das es-
tações, prever estiagem e frio entre outros padrões do ambiente. Segundo Bourguignon (1990),
esse conhecimento possibilitou o desenvolvimento de técnicas de armazenamento de alimentos,
revelando o potencial humano de planejamento e de prevenção.

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Note que o desenvolvimento dessas habilidades analíticas foi desencadeado a partir da necessi-
dade de superação das adversidades naturais que acometiam a espécie humana. Como vimos,
a agricultura possibilitou o desenvolvimento da capacidade humana de observação e reconhe-
cimento de padrões ambientais, o que estabeleceu um modelo comportamental mais analítico.
Assim, as novas condições materiais determinaram um novo comportamento humano, passando
de nômade para sedentário.

A partir da superação de parte dos problemas que ameaçavam a espécie humana, como a fome
e a exposição constante às intempéries climáticas, combinada à fixação de abrigo, agrupamen-
tos começaram a se formar. Dessa maneira, inicia-se o estabelecimento de espaços de convivên-
cia e, consequentemente, as relações humanas. Esses agrupamentos aleatórios passaram, com o
tempo, a estabelecer vínculos, ressignificando as relações entre humanos-humanos e humanos-
-meio ambiente.

Perceba que a busca pela autopreservação e pela superação de problemáticas de ordem material
não apenas desenvolveu processos mentais analíticos como também possibilitou a emergência
de sentimentos em nossa espécie. É interessante observar o importante papel que o meio am-
biente desempenhou nessa evolução, pois, assim, podemos inferir que as relações estabelecidas
entre os seres humanos e o meio ambiente, tendo em vista as influências mútuas, não é uma
preocupação recente!

VOCÊ QUER VER?


Que tal ver um filme para compreender ainda melhor a evolução humana? Nossa
sugestão: A Guerra do Fogo (La Guerre du Feu). O filme retrata o contato entre dois
grupos de hominídeos na pré-história. Cada grupo se encontra em um determinado
estágio da evolução humana e detém conhecimentos específicos, que se tornam alvo
de disputa entre os personagens.

Já que o meio ambiente e os seres humanos interagem e tem influência mútua, deveríamos
prestar mais atenção nos limites desta relação? Afinal, até onde influenciar no meio ambiente é
favorável tanto para nós humanos como para a própria natureza? É sobre isso que iremos refletir
no próximo tópico.

1.1.2 Natureza e Sociedade


A partir da compreensão das bases em que se desenvolveram as relações entre os humanos e o
ambiente circundante, é preciso refletir sobre a necessidade de estabelecer limites a esta intera-
ção. A modificação da paisagem natural favoreceu a qualidade de vida e garantiu a preservação
da espécie. Em contrapartida, mudanças radicais nas paisagens naturais também colocaram a
vida humana em risco. Para compreender esse processo, retomaremos as diferentes concepções
sobre a natureza que perpassam os modos de vida da sociedade.

A partir dos primeiros agrupamentos humanos e da transição do nomadismo para o sedentaris-


mo, novas configurações sociais foram elaboradas. A espécie humana se apropriou do ambiente
para extrair os recursos naturais necessários para a sua sobrevivência e também para desenvolver
as diversas atividades humanas, como, por exemplo, trabalho e descanso. As intervenções huma-
nas na natureza se tornaram complexas com o advento da agricultura, da estocagem de recursos,
da domesticação de animais e da manufatura de ferramentas rudimentares.

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Saúde e Meio Ambiente

Podemos considerar o estabelecimento do cultivo agrícola como o marco civilizatório, pois assim
que a humanidade passou a dominar a natureza, transcendeu as relações primitivas de caça e
coleta e dos vínculos estritamente consanguíneos.

Essa apropriação e intervenção no ambiente implicaram em uma nova maneira de se relacionar


com a natureza: cada lugar ganha novos significados de acordo com as atividades que ali se de-
senvolvem. Os espaços, que antes tinham a mera função de abrigar as pessoas das intempéries
do clima, passam a assumir papéis simbólicos e são convertidos em lugares de convívio familiar,
social ou de trabalho. Os ambientes se distinguem, assumem novos papéis e novos significados,
assim como o meio ambiente. Essa distinção marca a separação entre sociedade e natureza e,
a partir de então, estabelece-se a relação entre o processo de hominização e de humanização.
(BOURGUIGNON, 1990)

VOCÊ SABIA?
O que significa hominização? Qual a diferença entre hominização e humanização? Ho-
minização é o processo de evolução humana que consistiu na adaptação da espécie às
condições da natureza. Já o conceito de humanização é o processo de manipulação do
ambiente pelo homem, de maneira que ele possa se distinguir dos outros seres e cons-
truir seu entorno de acordo com suas necessidades. Assim, podemos dizer que hominiza-
ção é o processo de evolução do homem e a humanização um processo de civilização.

Dando um salto cronológico, passando das primeiras formações sociais para as sociedades
modernas, analisaremos as diferentes concepções sobre a natureza. Reforçando a perspectiva
dicotômica entre natureza e sociedade, destacam-se as teorias filosóficas e científicas. Ambas
concebiam a natureza como algo externo e independente da sociedade, ao passo que o processo
civilizatório assumia a condução do desenvolvimento humano, resultando em maior distancia-
mento entre a sociedade e o mundo natural.

Dessa maneira, o conceito de natureza contém em sua essência o dualismo entre externalidade e
universalidade, inter-relacionando-se e contradizendo-se simultaneamente. O argumento de que
o homem se afastou do mundo natural como se não fizesse parte dele se tornou-se recorrente tan-
to nas cadeiras científicas quanto nas filosóficas. Sobre este impasse, Ruy Moreira (1985, p. 37)
defende o seguinte: “A natureza está no homem e o homem está na natureza, porque o homem
é produto da história natural e a natureza é condição concreta, então, da existência humana”.

A partir do século XVIII, com a Revolução Industrial, os impactos das atividades sociais sobre
o meio ambiente ganharam proporções até então desconhecidas. As alterações da paisagem
natural combinadas à utilização de combustíveis poluentes e ao consumo excessivo de recursos
intensificaram os impactos ambientais.

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Figura 2 – Impacto das atividades sociais no meio ambiente com o
descarte inadequado de resíduos em ambiente urbanizado.
Fonte: Shutterstock, 2015.

Porém, é preciso considerarmos que a natureza também gera impactos sobre a sociedade. Para
exemplificar esse processo, podemos recorrer às notícias de desastres ambientais, como terre-
motos, furacões e enchentes. Essas são algumas maneiras que revelam que a natureza não é um
campo estático submetido incondicionalmente às necessidades humanas. A natureza também
representa uma variável importante na constituição da vida em sociedade.

Tudo certo até aqui? Vamos pensar juntos: será que a ação integrada do homem com a natureza
gera novas paisagens? Que tal compreendermos melhor sobre assunto?

1.2 Quais os conceitos e categorias


do meio ambiente?
A partir da breve introdução sobre a história da humanidade e de suas relações com o meio
ambiente, refletiremos sobre a interferência humana na mudança da paisagem natural. Essas
transformações propiciaram o delineamento de novas formas estruturais do meio ambiente, rea-
lizadas de maneira que as necessidades e os desejos humanos fossem priorizados.

Portanto, este tópico discutirá as relações de harmonia e de conflito entre homem e natureza a
partir do antropocentrismo. Contudo, é importante considerarmos que as diferentes paisagens
construídas são reflexos dos níveis de integração – e interação – da espécie humana ao meio em
que vive. Estudaremos três aspectos dessas relações: elementos naturais e construídos no meio
ambiente, ambiente rural e ambiente urbano. Vamos conhecê-los a seguir.

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Saúde e Meio Ambiente

1.2.1 Elementos Naturais e Construídos no Meio Ambiente


Antes de tudo reflita sobre: o que é alimentação natural? Quais foram os principais elementos
que você imaginou? Você provavelmente associou o termo às frutas, legumes e vegetais, certo?
Isto é, aos produtos extraídos da terra. Você também pode ter se apegado não às categorias de
alimentos, mas às condições em que eles foram cultivados ou obtidos. Ou seja, você pode ter
se preocupado em distinguir um produto orgânico do “comum”, por exemplo. Normalmente,
quando existe a referência ao termo natural, as pessoas tendem a relacioná-lo ao estado bruto
das coisas.

VOCÊ SABIA?
O que você entende pela palavra Antropocentrismo? Esse termo traduz a forma de pen-
samento que considera o homem como o centro do universo, interpretando tudo que o
cerca de acordo com seus valores e suas experiências.

Interessante observar que, eventualmente, utilizamos o termo natural para designar fatos, coisas
e comportamentos comuns. Mas, nem sempre o que é natural é comum. E também, nem sempre
o que é comum é natural. Para explicar essa diferença, retomemos os exemplos anteriores de
alimentação natural. No primeiro caso, a alimentação natural se refere a uma categoria de ali-
mentos, ou seja, aqueles que não foram processados pela indústria alimentícia e são extraídos,
criados ou cultivados pela terra, como frutas e legumes. No segundo caso, associamos alimen-
tação natural às condições de cultivo, extração ou criação do alimento, ou seja, é importante que
além de não serem processados pelas indústrias alimentícias, os alimentos também não tenham
sido modificados em qualquer uma das etapas de sua produção.

Na primeira situação, temos um exemplo de alimentos comuns. Na segunda situação, foram


exemplificados os alimentos chamados orgânicos. Quais desses alimentos são mais comuns na
rotina contemporânea? E quais deles são mais próximos do que você considera natural?

Esses exemplos servem para desconstruir as categorias mais empregadas para designar ambien-
tes naturais de ambientes construídos. No segundo é bastante evidente a intervenção humana,
mas o primeiro recorrentemente é associado à natureza intocada pelo homem. Porém, quando
nos referimos a ambiente, nos referimos a um conjunto de elementos composto pelos seres vivos,
como animais, plantas, rios, oceanos e até a atmosfera que envolve o planeta.

Pensar em um ambiente que nunca sofreu nenhuma interferência humana, portanto, significa pen-
sar que cada um dos elementos que o compõe nunca entrou em contato com a espécie humana.

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Figura 3 – Paisagem natural formada por cadeia de montanhas coberta por vegetação preservada.
Fonte: Shutterstock, 2015.

Dessa maneira, é inconcebível a ideia de ambiente intocado pelo homem, uma vez que a relação
entre homem e natureza foi estabelecida a partir da sua interação com diversos sistemas ao lon-
go da história. Assim, deve-se considerar que a maior parte dos elementos naturais são produtos
de uma interação, variável em sua intensidade, com a espécie humana.

Os elementos naturais, portanto, são produtos da interação humana. No caso da interação di-
reta, houve o manejo e a manipulação pela espécie humana, como é o caso de produtos agríco-
las. No caso dos elementos naturais com os quais o homem estabeleceu uma relação conservativa
e não destrutiva fica menos evidente a manipulação humana. São os casos dos parques ecológi-
cos e das áreas de conservação ambiental. Por fim, existem casos em que a intervenção humana
foi intensa, porém, após algum tempo, houve a regeneração ou autorregenerarão do sistema.

CASO
Um caso emblemático da capacidade regenerativa da natureza é o fenômeno ocorrido na China:
algumas das Ilhas Shengsi, que compõem o arquipélago Zhoushan, foram abandonadas pelos
moradores em busca de trabalhos melhores remunerados nas cidades industrializadas. Assim, as
construções residenciais, escadarias e ruas dos vilarejos foram cobertas pela vegetação.

Outro caso interessante é o do shopping New World, em Bangcoc (Tailândia), abandonado após
um incêndio que destruiu o teto da construção. Com as chuvas, o shopping rapidamente se
inundou, criando um viveiro de mosquitos. Para sanar esse problema, a população local intro-
duziu nesse ambiente alagado peixes das espécies carpa e bagre, que se alimentam das larvas,
formando um cardume autossustentável. Esses dois exemplos mostram como a natureza é adap-
tável e possui uma grande capacidade de regeneração, mesmo em locais que sofreram grandes
intervenções humanas.

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Saúde e Meio Ambiente

Em contrapartida, existem também os elementos construídos do meio ambiente, produtos da


construção ou adaptação humana. Tratam-se de matérias-primas processadas, construções, cul-
tivos e criações. Em determinados sistemas, predominam elementos adaptados pela sociedade
humana, como cidades e áreas industriais, praias urbanizadas, plantações, etc.

VOCÊ SABIA?
Você já parou para pensar sobre o que significa o termo “meio ambiente”? Saiba que
meio ambiente não possui uma definição única, mas várias concepções construídas
ao longo da história. Porém, é importante distinguirmos “ambiente” de “meio ambien-
te” para melhor compreender essa questão. Ambiente, como já vimos, é o conjunto de
elementos que compõe um sistema, ao passo que meio ambiente expressa o resultado
da interação entre esse conjunto de elementos, ou seja, é o efeito da interação dos
elementos que compõe o ambiente.

A diferenciação da origem dos produtos da ação humana na natureza serve, especialmente, para
distinguir maneiras como determinadas sociedades lidam com os recursos disponíveis. Elementos
de outras dimensões da vida em sociedade, como a cultura e a economia, determinam a paisa-
gem social de acordo com as prioridades e os sistemas de valoração vigentes naquele contexto.

Podemos concluir que, se hoje existe uma crescente preocupação com a preservação e manu-
tenção do meio ambiente é porque em um contexto anterior houve uma ação predatória dos
recursos naturais, causando impactos negativos na vida humana. A seguir vejamos o conceito
de ambiente rural.

1.2.2 Ambiente Rural


Como vimos, a agricultura é considerada o marco histórico para o desenvolvimento da socieda-
de humana. A atividade agrícola definiu um novo modelo de interação entre homem e ambiente,
a partir da manipulação e domínio da natureza. Se antes a espécie humana estava submetida às
condições no ambiente em que vivia, a partir do advento da agricultura, esse processo se inverte
e um novo panorama é delineado.

Portanto, as áreas em que a atividade agrícola é predominante (áreas rurais) também exempli-
ficam intervenções humanas no ambiente. As gradações de intensidade qualificam tais inter-
venções. Nas áreas rurais podem-se observar desde intervenções bastante intensas, como as
monoculturas, até as intervenções humanas de preservação do ambiente, como as Unidades de
Conservação, reservas e parques ecológicos.

Entretanto, as ações antrópicas são recorrentemente motivadas pela satisfação das necessidades
e interesses humanos. De acordo com a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo
(1992), entende-se por ações antrópicas toda ação proveniente da espécie humana geradora de
impactos ambientais, que incluem fatores como a dinâmica populacional, o uso e a ocupação
do solo, a produção cultural e também as ações de proteção e recuperação de áreas específicas.

Dessa forma, a maior parte das áreas rurais são destinadas à produção de alimentos. As mo-
noculturas são exemplos de intervenções humanas que geram impactos negativos na natureza e
também na qualidade de vida da própria humanidade.

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VOCÊ QUER VER?
Um filme que exemplifica a questão da intervenção humana no meio ambiente é “Rei
Milho” (King Korn). O documentário apresenta o funcionamento do sistema de subsí-
dios norte-americanos para a produção agropecuária. Em meio à febre do etanol de
milho – menos eficiente que o etanol de cana – o governo dos EUA investe grandes
quantias na produção da matéria-prima do xarope de milho, adoçante onipresente na
indústria alimentícia considerado pela saúde pública o maior vilão na guerra contra
obesidade no mundo.

Grandes extensões de monocultura podem extinguir uma espécie e favorecer o crescimento po-
pulacional de outra. Vegetais e animais que se beneficiam desta plantação ou cujos predadores
foram exterminados podem se reproduzir de maneira desordenada, prejudicando a plantação,
passando a agir como pragas. Para combater as pragas e garantir a colheita, a indústria química
fornece praguicidas que, muitas vezes, envenenam as plantas, o solo e a água, colocando em
risco a saúde e a vida de outras espécies, inclusive a humana.

Figura 4 – Exemplo de monocultura em área rural.


Fonte: Shutterstock, 2015.

De acordo com o Censo Agropecuário de 2006, entre 1970 e 2006 a utilização de terras pro-
venientes de matas e florestas no país passou de cerca de 58 para 100 milhões de hectares. O
crescimento da produção de grãos no Brasil está diretamente relacionado ao mercado de ali-
mentos internacional, especificamente, no agronegócio, principal responsável pelas exportações
no país (MOTA, 2009). Tanto os impactos positivos quanto os negativos possuem estreita ligação
com o contexto.

Dessa maneira, pode-se inferir que toda ação exercida sobre qualquer um dos elementos acarre-
ta em consequências para o ecossistema. O manejo responsável dos recursos naturais beneficia
e melhora a condição biológica e social da vida humana. Para que isso seja possível, é preciso
orientar as ações antrópicas para a preservação e manutenção da diversidade ambiental. É
necessária a permanente lembrança de que a questão ambiental compreende, em vários níveis,
outras dimensões além da biológica. Questões sociais, econômicas, culturais e geográficas são
determinantes não apenas do comportamento humano, mas também do meio ambiente.

Vamos agora conhecer as características do ambiente denominado urbano.

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Saúde e Meio Ambiente

1.2.3 Ambiente Urbano


Um bom exemplo de ambiente natural modificado substancialmente são as cidades, especial-
mente as metrópoles mundiais. Essas áreas passaram por uma intensa interferência e descaracte-
rização em benefício de uma única espécie: a humana. Segundo pesquisa publicada pela United
Nations (2001) estima-se que quase metade da população mundial vive em áreas urbanas.

As relações estabelecidas se tornam mais intensas e complexas nas áreas urbanas. De um lado,
intensifica-se a utilização dos fatores físicos do ambiente, tais como os recursos energéticos,
recursos minerais, vegetais e animais, além do predomínio dos elementos construídos em detri-
mento dos elementos naturais. De outro, os fatores sociais do ambiente ganham maior relevância
nas cidades, pois as relações econômicas, culturais e ambientais assumem a centralidade das
políticas públicas e do comportamento humano.

Figura 5 – Exemplo de meio ambiente urbano.


Fonte: Shutterstock, 2015.

Com efeito, a aglomeração populacional, os padrões de consumo, os padrões de deslocamento


e as atividades econômicas urbanas impactam significativamente o meio ambiente, especialmen-
te no que se refere ao consumo de recursos e à eliminação de resíduos. A urbanização em áreas
litorâneas, por exemplo, é considerada uma das maiores causas da extinção de ecossistemas
sensíveis, podendo, inclusive, alterar a hidrologia costeira e suas características naturais, como
manguezais, praias e recifes, barreiras naturais que previnem a erosão e importantes habitats
para diferentes espécies.

As cidades, frequentemente, estão localizadas em solos dotados de alta performance agrícola.


Porém, o solo urbano é submetido a uma intensa pressão – e também a outros tipos de agressão
decorrente do descarte incorreto de resíduos tóxicos – que interfere na qualidade do solo das
áreas adjacentes, podendo também afetar a atividade agrícola das cidades vizinhas.

A instalação de áreas residenciais ao redor dos grandes centros urbanos, com baixa ou média
densidade populacional, o chamado espraiamento urbano, tem se tornado comum nos últimos
tempos. Esse fenômeno de fixação de residência perto, mas fora das metrópoles, acarreta em ou-
tros problemas de ordem ambiental. Provavelmente, o mais preocupante deles é o deslocamento
das pessoas entre as cidades e a dependência dos meios de transporte motorizados e individuais.
A dependência desses veículos, bem como dos combustíveis fósseis, gera o aumento significativo
de emissão de poluentes na atmosfera.

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Porém, medidas preventivas e de redução de danos têm sido desenvolvidas ao redor do mundo
para amenizar os impactos ambientais nas áreas urbanas. Nos últimos anos, houve um cresci-
mento da produção agrícola urbana, por exemplo. Cerca de 15% de todos os alimentos consu-
midos nas áreas urbanas são cultivados por agricultores urbanos e estima-se que essa porcenta-
gem duplique nos próximos anos. Conforme PNUMA (2004), podemos ver exemplos de ações de
atividades agrícolas urbanas observados em Havana, Cuba, em que:

[...] todo o espaço disponível – incluindo telhados e varandas – destinou-se à produção de


alimentos. Métodos intensivos de produção agrícola urbana, incluindo a hidroponia, abastecem
com alimentos frescos os moradores urbanos. A Prefeitura facilita a gestão integrada de água
residual para a produção de alimentos (PNUMA, 2004, p. 266).

Apesar de desencadear impactos ambientais expressivos, as áreas urbanas ainda concentram


os mais altos índices de renda per capita e de desenvolvimento humano. Dessa maneira, para
promover um ambiente urbano que possibilite a qualidade de vida dos seus moradores, é preciso
manter uma postura estratégica que contrabalanceie os interesses econômicos com a preserva-
ção ambiental e a questão social. Para tanto, é preciso questionar os padrões que implicam em
determinados comportamentos, como o consumismo e a despreocupação com a finitude dos
recursos naturais, entre outros.

VOCÊ QUER LER?


O livro “Uma verdade Inconveniente - O Que Devemos Saber (e Fazer) Sobre o Aque-
cimento Global”, é uma obra de alerta. Escrito pelo ex-vice presidente norte-americano
Al Gore, o livro apresenta dados oficiais sobre a crise climática provocada pela ação
do homem no planeta.

Falando em qualidade de vida, será que nossa saúde pode ser influenciada pelo meio em que
vivemos? Que tal entendermos melhor sobre essa relação tão estreita: saúde e meio ambiente?

1.3 Quais os conceitos e categorias da saúde?


Você sabe o que é saúde e ser saudável? A sua concepção sobre saúde é a mesma de seus
amigos, vizinhos e familiares? As pessoas podem promover melhorias na própria saúde? Essas
questões nortearão as discussões nesse tópico, dedicado à compreensão conceitual sobre saúde
e meio ambiente. Para tanto, abordaremos os conceitos elaborados sobre saúde coletiva e indi-
vidual. Dessa forma, analisaremos a saúde a partir da sua produção nas relações com os meios
físico, social e cultural.

Por isso vamos abordar questões de saúde relacionadas ao meio ambiente e às políticas de pre-
venção de doenças. Por fim, analisaremos juntos os aspectos da integração entre saúde e quali-
dade de vida a partir das transformações do significado do termo saúde e do papel do indivíduo
no autocuidado. Está preparado? Então avante!

1.3.1 O que é Saúde?


Segundo a definição da Organização Mundial de Saúde (OMS), “saúde é o estado de completo
bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença” (OMS, 1948). Saúde deve
ser compreendido como um estado desencadeado em um dado contexto. Esse conceito trans-
cende a mera descrição, para delinear uma nova concepção sobre saúde além de preconizar um

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Saúde e Meio Ambiente

compromisso a ser cumprido. Dessa forma, enquanto estado contextualizado, a saúde não é um
objetivo que, uma vez alcançado, compulsoriamente será mantido. Existem inúmeros fatores que
interferem na saúde humana. Portanto, a instabilidade, característica primordial da vida humana,
também é regente dos estados de saúde individual e coletiva.

Outra questão é a percepção que um determinado indivíduo ou coletividade tem sobre saúde. O
termo implica em um alto grau de subjetividade, já que o entendimento sobre ser saudável pode
mudar de acordo com os valores vigentes em determinada época e sociedade.

Podemos citar como exemplo, a concepção e as diretrizes de promoção da saúde da gestante


nos tempos atuais, as quais, no Brasil atual, são completamente diferentes de outros tempos e
de outras sociedades. No campo da saúde pública, podemos numerar as políticas de incentivo
ao pré-natal e as discussões sobre parto humanizado com profissionais da saúde e gestantes.

No campo econômico, a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) garantiu a licença-materni-


dade por 120 dias, com cobertura integral do salário pela Previdência Social. Por outro lado, se
investigarmos o benefício oferecido na Suécia, o período de afastamento passa para 15 meses e
pode ser usufruído pela mulher e pelo homem.

VOCÊ QUER LER?


Uma obra que destaca a conquista da mulher por seu espaço é “O Trabalho da Mu-
lher Brasileira e Suas Evoluções”, de Cristina Hadassa. O livro trata das diferentes
dimensões sobre o trabalho feminino, como o trabalho doméstico, a dupla jornada e a
evolução da participação feminina no mercado.

A saúde do indivíduo não é determinada exclusivamente por um único fator, e deve ser com-
preendida dentro de um sistema de valores, condições e motivações, que combinam elementos
individuais e ambientais. Isso quer dizer que: os fatores influenciadores da condição de saúde
englobam os condicionantes biológicos, o meio físico, e o meio socioeconômico e cultural.

Consideram-se condicionantes biológicos: a idade, o sexo, a carga genética etc. O meio físico pode
determinar a condição de saúde se considerarmos as condições geográficas, características de ocu-
pação humana, acesso à água potável, alimentos de qualidade e condições de moradia. Por fim, as
condições socioculturais referem-se a ocupação, renda, instrução, acesso a equipamentos públicos
ou particulares de lazer e saúde, possibilidade de escolhas, hábitos e rotinas e relacionamentos.

Os fatores enumerados anteriormente influenciam e determinam as condições de saúde individual


e coletiva. Grupos sociais, etários e étnicos específicos podem ter maiores ou menores índices de
predisposição a determinadas doenças. Assim como a exposição coletiva às condições inadequa-
das de vida também podem acometer um grande número de pessoas de uma mesma comunidade.

E agora, consegue definir o que é saúde? E como podemos continuar promovendo a saúde no
nosso ambiente?

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1.3.2 Promoção da Saúde
A saúde pode ser considerada o resultado combinatório das condições de vida e da maneira
como as pessoas nascem, crescem e morrem, bem como as suas experiências em saúde e doen-
ça. Desconsiderando esses fatores não é possível compreender ou intervir a situação de saúde das
pessoas. Portanto, promover a saúde implica, também, promover a qualidade de vida humana.

Em 1986, ocorreu a 8ª Conferência Nacional de Saúde, quando se firmou um novo conceito


ampliado para a saúde. Veja a seguir:

1 - Saúde é a resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio


ambiente, trabalho, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse de terra e acesso a serviços de
saúde. É assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da produção, as
quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida.
2 - A saúde não é um conceito abstrato. Define-se no contexto histórico de determinada
sociedade e num dado momento de seu desenvolvimento, devendo ser conquistada pela
população em suas lutas cotidianas (BRASIL, 1987, p.4).

Esse conceito influenciou, posteriormente, o texto da Constituição de 1988, em que o artigo 196
defende o conceito ampliado de saúde, a partir de:

(...) uma mudança progressiva dos serviços, passando de um modelo assistencial, centrado
na doença e baseado no atendimento a quem procura, para um modelo de atenção integral
à saúde, onde haja incorporação progressiva de ações de promoção e de proteção, ao lado
daquelas propriamente ditas de recuperação (Ministério da Saúde, 2004).

Ainda no mesmo documento, temos o seguinte:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal
e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988).

Veja como está definido o conceito de saúde e o dever do Estado na Lei 8.080, Art.2, parágrafo 1º.

Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições
indispensáveis ao seu pleno exercício.
§ 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas
econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no
estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos
serviços para a sua promoção, proteção e recuperação. (BRASIL, 1990)

Pela maneira como o SUS é apresentado na legislação percebe-se o alinhamento teórico do


sistema público de saúde às proposições políticas que incentivam as garantias a implantação de
ações estatais voltadas para a qualidade de vida e também para o desenvolvimento da capaci-
dade crítica e analítica promotoras da efetiva transformação dos determinantes das condições
de saúde.

Atualmente, a humanidade já dispõe de conhecimentos e tecnologias que podem possibilitar


melhoras significativas na qualidade de vida das pessoas. Porém, é preciso aplicar esses co-
nhecimentos e disponibilizar essas tecnologias de modo orientado e propositado, de maneira a
promover um progresso realmente efetivo.

17
Saúde e Meio Ambiente

Figura 6 – A ciência e a tecnologia pela promoção da saúde humana.


Fonte: Shutterstock, 2015.

Sabemos que enfermidades e/ou deficiências também podem acometer pessoas que vivem em
condições adequadas de vida, pois a condição de saúde está diretamente relacionada ao poten-
cial genético individual. Ou seja, por melhores que sejam as condições de vida, inevitavelmente
seremos expostos a doenças, problemas de saúde e com a morte. Nesse aspecto, os serviços de
saúde desempenham papel fundamental na prevenção, na cura ou na reabilitação e minimiza-
ção do sofrimento dos enfermos.

Contudo, faz-se necessária também a conscientização dos indivíduos sobre o autocuidado, como
alternativa para diminuir a dependência com relação aos serviços de saúde. Em diversas partes
do mundo, especialmente no Brasil, predomina o modelo centrado em serviços médicos, fortale-
cendo a cultura da cura em detrimento da prevenção de doenças.

Se fossemos dar mais atenção à prevenção de doenças, poderíamos utilizar como estratégia a
melhora da qualidade de vida? E será que a qualidade de vida pode influenciar nos nossos níveis
de bem-estar, assim como na saúde física, mental e emocional? Que tal primeiro conhecermos
a definição desses termos e refletirmos mais sobre eles?

1.4 Qual a relação entre saúde, qualidade de


vida e cidadania?
O tema qualidade de vida vem sendo abordado com cada vez mais frequência. Mas, afinal, o
que é qualidade de vida? E como ela se relaciona com os temas saúde e meio ambiente? Para
responder tais questões, esse tópico abordará a concepção mais abrangente de qualidade de
vida, que mobiliza conceitos das áreas da saúde, urbanismo, lazer, educação, meio ambiente e
os diversos aspectos que envolvem o ser humano, sua cultura e seu meio.

Apesar de não haver uma única definição sobre qualidade de vida, é consenso entre os estu-
diosos do tema que o termo carrega significados objetivos e subjetivos. Esse tópico se dedicará
à análise desses significados, colocando-os em perspectiva com outras temáticas pertinentes,
como saúde e meio ambiente. Que tal lermos mais a respeito? Siga em frente.

18 Laureate- International Universities


1.4.1 Qualidade de Vida
O conceito “qualidade de vida” engloba diversas áreas do campo social, considerando desde
percepções subjetivas sobre a vida até questões deterministas, como a ação médica diante de
uma enfermidade. Almeida, Gutierrez e Marques (2012), estabelecem que o termo “qualidade”
significa uma forma de estabelecer valores subjetivamente e, ao contrário da percepção do
senso-comum, não está vinculado a um sentido positivo.

De acordo com outros pesquisadores, o termo se associa diretamente ao sentimento de bem-


-estar e satisfação pessoal. Vilarta e Gonçalves (2004) admitem a concepção de qualidade de
vida às diferentes formas como as pessoas vivem, sentem e compreendem seu cotidiano, en-
volvendo saúde, educação transporte, moradia, trabalho e participação nas questões que lhes
dizem respeito.

Essa perspectiva indica, principalmente, que qualidade de vida designa as expectativas de um


sujeito ou de uma sociedade em relação ao conforto e bem-estar, conforme afirmam Almeida,
Gutierrez e Marques (2012). Porém, conforto e bem-estar podem também estar vinculados a um
modo de vida material, estabelecido segundo uma ordem de fatores históricos, ambientais e so-
cioculturais. Apesar de materiais, esses valores são variáveis de acordo com o contexto analisado.

Dessa maneira, qualidade de vida não se encerra unicamente nas condições objetivas ou subje-
tivas de vida das pessoas, mas no significado que as condições materiais assumem na realidade
do indivíduo. A OMS define qualidade de vida como “a percepção do indivíduo de sua inserção
na vida do contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus
objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (OMS, 1997, tradução nossa).

Dessa maneira, é possível inferir que não há definição única de qualidade de vida. Entretanto,
qualidade de vida pode ser compreendida como o produto do resultado de indicadores que
mobilizam elementos das esferas objetivas e subjetivas, apreendendo a percepção dos sujeitos
sobre o seu meio.

Figura 7 – O profissional da saúde participa ativamente das ações


de promoção e manutenção da saúde humana.
Fonte: Shutterstock, 2015.

19
Saúde e Meio Ambiente

Assim, qualidade de vida se revela como um instrumento que mobiliza aspectos biológicos e
sociais, mediado condições mentais, ambientais e culturais. A preocupação com o conceito de
qualidade revela um movimento das ciências humanas e biológicas em favor da valorização de
fatores mais amplos que o controle de sintomas, a diminuição da mortalidade ou o aumento da
expectativa de vida e também sobre as condições subjetivas que interferem na vida das pessoas.

Essas perspectivas sobre a qualidade de vida sugerem a iniciativa de humanização que esse
conceito carrega, sem desconsiderar os avanços científicos e tecnológicos que podem auxiliar
na promoção da saúde e do bem-estar das pessoas. Humanizar a saúde e a qualidade de vida
não significa somente acrescentar anos às vidas dos indivíduos, mas acrescentar vida aos anos,
conforme defende Fleck (1999).

Mas como podemos ter certeza de todos esses aspectos? Em que momento a qualidade de vida
se torna um instrumento de avaliação do modo de vida da sociedade? Existe uma maneira de
medir nossa qualidade de vida? Veremos.

1.4.2 Indicadores de Qualidade de Vida


De maneira pragmática, o conceito de qualidade de vida norteia a elaboração de instrumentos
que captam a percepção das pessoas sobre as condições materiais e simbólicas que constituem
suas vidas. Esses instrumentos indicadores buscam quantificar e qualificar os serviços de saúde
e de bem-estar oferecidos à população e gerar dados que norteiem a elaboração de políticas
públicas nessas áreas.

De maneira geral, os indicadores descrevem a percepção das pessoas sobre a qualidade de vida
em um determinado contexto, coletando objetivos ou subjetivos. Os instrumentos de ordem ob-
jetiva coletam dados da ordem material, além de aferir os níveis de satisfação das necessidades
elementares da vida humana, como acesso à água potável e alimentos de qualidade, habitação,
trabalho, saúde e lazer, e padrões de renda e de consumo.

Conforme Almeida, Gutierrez e Marques (2012) um exemplo de indicador de qualidade de vida


baseado em questões objetivas é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), elaborado pelo
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Esse índice considera os aspectos
socioeconômicos e questões de saúde e calcula o a expectativa de vida ao nascer e as taxas de
mortalidade da população.

Em contrapartida, os indicadores de qualidade de vida baseados em questões subjetivas incluem


também em seus cálculos noções vinculadas à carga cultural da população, dimensionando os
valores que os sujeitos possuem sobre a própria existência. Esses instrumentos consideram a
construção social individual ou coletiva sobre determinados temas e ainda colocam em perspec-
tiva noções altamente subjetivas, como representações sociais e sentimentos.

Outro caso prático, e que é um dos exemplos mais emblemáticos de indicador de qualidade de
vida baseado em questões subjetivas é o questionário, composto por 100 itens, denominado
de Instrumento de avaliação de Qualidade de Vida da Organização Mundial da Saúde (WHO-
QOL-100). Este instrumento foi desenvolvido pela OMS com a colaboração de órgãos de saúde
de diversos países, adequando-se à transculturalidade, ou seja, às particularidades culturais de
cada local. Ele constrói uma avaliação conceitual sobre aspectos do estado funcional, de bem-
-estar e da condição geral de saúde dos indivíduos, partindo da premissa de que qualidade de
vida é uma construção subjetiva, multidimensional e composta por elementos positivos (mobili-
dade), e negativos (dor). (MINAYO et al., 2000 apud ALMEIDA et al., 2012, p.30)

O mais importante é que essas ferramentas de avaliação da qualidade de vida instrumentalizam


o poder público, permitindo a construção de ações propositivas orientadas para a melhoria das
condições de vida da população, a partir da percepção de diversos aspectos, dos mais objetivos
até os subjetivos.

20 Laureate- International Universities


Síntese Síntese
Concluímos o primeiro capítulo da disciplina Saúde e Meio Ambiente. Agora você já conhece
as principais concepções sobre saúde, meio ambiente, qualidade de vida e suas inter-relações.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:

• compreender as relações estabelecidas entre a espécie humana e o meio ambiente ao


longo da história;

• distinguir e identificar os elementos naturais e construídos no meio ambiente;


• verificar as transformações da paisagem natural promovidas pela ação antrópica e suas
consequências para a vida humana;

• conhecer as principais características dos ambientes natural, rural e urbano, bem como os
impactos ambientais causados por cada um deles;

• conhecer as principais concepções teóricas sobre saúde humana;


• identificar as relações estabelecidas entre meio ambiente e saúde humana e sua evolução
no decorrer do tempo;

• conhecer as principais concepções sobre qualidade de vida e suas relações com fatores
materiais e subjetivos;

• identificar
os principais instrumentos de aferição de qualidade de vida de acordo com
suas características;

• verificar
os principais pontos de intersecção entre qualidade de vida, saúde e meio
ambiente;

• compreender a importância dos indicadores de qualidade de vida na proposição de ações


promotoras de melhorias das condições de vida de uma população.

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