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Saúde e
Meio Ambiente
Sumário
CAPÍTULO 1 – Sociedade e Meio Ambiente: Divergências ou Convergências?.......................05
Introdução.....................................................................................................................05
Síntese...........................................................................................................................21
Referências Bibliográficas.................................................................................................22
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Capítulo 1
Sociedade e Meio Ambiente:
Divergências ou Convergências?
Introdução
Olá! Vamos iniciar com uma reflexão: a sociedade é influenciada pelo meio ambiente ou o meio
ambiente influencia a sociedade? Você consegue definir o que é meio ambiente? Será que as
mudanças do meio em que vivemos podem influenciar na saúde humana?
De acordo com essa definição, podemos concluir que não apenas o ambiente natural, como
outros ambientes formados a partir da intervenção humana, como as cidades, também se enqua-
dram na categoria de meio ambiente. A definição ainda reflete sobre a maneira como o ambiente
pode influenciar na saúde humana, pois ambiente e humanidade são mutuamente influenciados.
Neste tópico, discutiremos as formas com que a humanidade se relaciona com o ambiente, trans-
formando-o de maneiras mais ou menos intensas. Se por um lado o ambiente natural representa
uma paisagem cuja intensidade da interferência humana é praticamente imperceptível, por outro
lado, as grandes cidades representam o extremo oposto dessa relação, certo? Saiba, porém, que
existem gradações entre esses dois extremos.
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Saúde e Meio Ambiente
Você consegue imaginar quais são as formas com que o homem influencia na constituição do
meio ambiente? Vamos começar a decifrar em seguida.
Figura 1 – A evolução humana significou a transformação pela espécie do meio que a circunscreve.
Fonte: Shutterstock, 2015.
Agora pensemos: qual acontecimento favoreceu a observação da natureza? Bem, foi a partir do
desenvolvimento da agricultura que ocorreu a fixação de moradia e a observação da dinâmica
da natureza. Assim, o homem buscou conhecimentos sobre o meio ambiente para, inicialmente,
se prevenir de adversidades naturais e, posteriormente, dominar e interferir na paisagem natural.
Com o conhecimento adquirido de forma empírica, foi possível observar a sazonalidade das es-
tações, prever estiagem e frio entre outros padrões do ambiente. Segundo Bourguignon (1990),
esse conhecimento possibilitou o desenvolvimento de técnicas de armazenamento de alimentos,
revelando o potencial humano de planejamento e de prevenção.
A partir da superação de parte dos problemas que ameaçavam a espécie humana, como a fome
e a exposição constante às intempéries climáticas, combinada à fixação de abrigo, agrupamen-
tos começaram a se formar. Dessa maneira, inicia-se o estabelecimento de espaços de convivên-
cia e, consequentemente, as relações humanas. Esses agrupamentos aleatórios passaram, com o
tempo, a estabelecer vínculos, ressignificando as relações entre humanos-humanos e humanos-
-meio ambiente.
Perceba que a busca pela autopreservação e pela superação de problemáticas de ordem material
não apenas desenvolveu processos mentais analíticos como também possibilitou a emergência
de sentimentos em nossa espécie. É interessante observar o importante papel que o meio am-
biente desempenhou nessa evolução, pois, assim, podemos inferir que as relações estabelecidas
entre os seres humanos e o meio ambiente, tendo em vista as influências mútuas, não é uma
preocupação recente!
Já que o meio ambiente e os seres humanos interagem e tem influência mútua, deveríamos
prestar mais atenção nos limites desta relação? Afinal, até onde influenciar no meio ambiente é
favorável tanto para nós humanos como para a própria natureza? É sobre isso que iremos refletir
no próximo tópico.
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Saúde e Meio Ambiente
Podemos considerar o estabelecimento do cultivo agrícola como o marco civilizatório, pois assim
que a humanidade passou a dominar a natureza, transcendeu as relações primitivas de caça e
coleta e dos vínculos estritamente consanguíneos.
VOCÊ SABIA?
O que significa hominização? Qual a diferença entre hominização e humanização? Ho-
minização é o processo de evolução humana que consistiu na adaptação da espécie às
condições da natureza. Já o conceito de humanização é o processo de manipulação do
ambiente pelo homem, de maneira que ele possa se distinguir dos outros seres e cons-
truir seu entorno de acordo com suas necessidades. Assim, podemos dizer que hominiza-
ção é o processo de evolução do homem e a humanização um processo de civilização.
Dando um salto cronológico, passando das primeiras formações sociais para as sociedades
modernas, analisaremos as diferentes concepções sobre a natureza. Reforçando a perspectiva
dicotômica entre natureza e sociedade, destacam-se as teorias filosóficas e científicas. Ambas
concebiam a natureza como algo externo e independente da sociedade, ao passo que o processo
civilizatório assumia a condução do desenvolvimento humano, resultando em maior distancia-
mento entre a sociedade e o mundo natural.
Dessa maneira, o conceito de natureza contém em sua essência o dualismo entre externalidade e
universalidade, inter-relacionando-se e contradizendo-se simultaneamente. O argumento de que
o homem se afastou do mundo natural como se não fizesse parte dele se tornou-se recorrente tan-
to nas cadeiras científicas quanto nas filosóficas. Sobre este impasse, Ruy Moreira (1985, p. 37)
defende o seguinte: “A natureza está no homem e o homem está na natureza, porque o homem
é produto da história natural e a natureza é condição concreta, então, da existência humana”.
A partir do século XVIII, com a Revolução Industrial, os impactos das atividades sociais sobre
o meio ambiente ganharam proporções até então desconhecidas. As alterações da paisagem
natural combinadas à utilização de combustíveis poluentes e ao consumo excessivo de recursos
intensificaram os impactos ambientais.
Porém, é preciso considerarmos que a natureza também gera impactos sobre a sociedade. Para
exemplificar esse processo, podemos recorrer às notícias de desastres ambientais, como terre-
motos, furacões e enchentes. Essas são algumas maneiras que revelam que a natureza não é um
campo estático submetido incondicionalmente às necessidades humanas. A natureza também
representa uma variável importante na constituição da vida em sociedade.
Tudo certo até aqui? Vamos pensar juntos: será que a ação integrada do homem com a natureza
gera novas paisagens? Que tal compreendermos melhor sobre assunto?
Portanto, este tópico discutirá as relações de harmonia e de conflito entre homem e natureza a
partir do antropocentrismo. Contudo, é importante considerarmos que as diferentes paisagens
construídas são reflexos dos níveis de integração – e interação – da espécie humana ao meio em
que vive. Estudaremos três aspectos dessas relações: elementos naturais e construídos no meio
ambiente, ambiente rural e ambiente urbano. Vamos conhecê-los a seguir.
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Saúde e Meio Ambiente
VOCÊ SABIA?
O que você entende pela palavra Antropocentrismo? Esse termo traduz a forma de pen-
samento que considera o homem como o centro do universo, interpretando tudo que o
cerca de acordo com seus valores e suas experiências.
Interessante observar que, eventualmente, utilizamos o termo natural para designar fatos, coisas
e comportamentos comuns. Mas, nem sempre o que é natural é comum. E também, nem sempre
o que é comum é natural. Para explicar essa diferença, retomemos os exemplos anteriores de
alimentação natural. No primeiro caso, a alimentação natural se refere a uma categoria de ali-
mentos, ou seja, aqueles que não foram processados pela indústria alimentícia e são extraídos,
criados ou cultivados pela terra, como frutas e legumes. No segundo caso, associamos alimen-
tação natural às condições de cultivo, extração ou criação do alimento, ou seja, é importante que
além de não serem processados pelas indústrias alimentícias, os alimentos também não tenham
sido modificados em qualquer uma das etapas de sua produção.
Esses exemplos servem para desconstruir as categorias mais empregadas para designar ambien-
tes naturais de ambientes construídos. No segundo é bastante evidente a intervenção humana,
mas o primeiro recorrentemente é associado à natureza intocada pelo homem. Porém, quando
nos referimos a ambiente, nos referimos a um conjunto de elementos composto pelos seres vivos,
como animais, plantas, rios, oceanos e até a atmosfera que envolve o planeta.
Pensar em um ambiente que nunca sofreu nenhuma interferência humana, portanto, significa pen-
sar que cada um dos elementos que o compõe nunca entrou em contato com a espécie humana.
Dessa maneira, é inconcebível a ideia de ambiente intocado pelo homem, uma vez que a relação
entre homem e natureza foi estabelecida a partir da sua interação com diversos sistemas ao lon-
go da história. Assim, deve-se considerar que a maior parte dos elementos naturais são produtos
de uma interação, variável em sua intensidade, com a espécie humana.
Os elementos naturais, portanto, são produtos da interação humana. No caso da interação di-
reta, houve o manejo e a manipulação pela espécie humana, como é o caso de produtos agríco-
las. No caso dos elementos naturais com os quais o homem estabeleceu uma relação conservativa
e não destrutiva fica menos evidente a manipulação humana. São os casos dos parques ecológi-
cos e das áreas de conservação ambiental. Por fim, existem casos em que a intervenção humana
foi intensa, porém, após algum tempo, houve a regeneração ou autorregenerarão do sistema.
CASO
Um caso emblemático da capacidade regenerativa da natureza é o fenômeno ocorrido na China:
algumas das Ilhas Shengsi, que compõem o arquipélago Zhoushan, foram abandonadas pelos
moradores em busca de trabalhos melhores remunerados nas cidades industrializadas. Assim, as
construções residenciais, escadarias e ruas dos vilarejos foram cobertas pela vegetação.
Outro caso interessante é o do shopping New World, em Bangcoc (Tailândia), abandonado após
um incêndio que destruiu o teto da construção. Com as chuvas, o shopping rapidamente se
inundou, criando um viveiro de mosquitos. Para sanar esse problema, a população local intro-
duziu nesse ambiente alagado peixes das espécies carpa e bagre, que se alimentam das larvas,
formando um cardume autossustentável. Esses dois exemplos mostram como a natureza é adap-
tável e possui uma grande capacidade de regeneração, mesmo em locais que sofreram grandes
intervenções humanas.
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Saúde e Meio Ambiente
VOCÊ SABIA?
Você já parou para pensar sobre o que significa o termo “meio ambiente”? Saiba que
meio ambiente não possui uma definição única, mas várias concepções construídas
ao longo da história. Porém, é importante distinguirmos “ambiente” de “meio ambien-
te” para melhor compreender essa questão. Ambiente, como já vimos, é o conjunto de
elementos que compõe um sistema, ao passo que meio ambiente expressa o resultado
da interação entre esse conjunto de elementos, ou seja, é o efeito da interação dos
elementos que compõe o ambiente.
A diferenciação da origem dos produtos da ação humana na natureza serve, especialmente, para
distinguir maneiras como determinadas sociedades lidam com os recursos disponíveis. Elementos
de outras dimensões da vida em sociedade, como a cultura e a economia, determinam a paisa-
gem social de acordo com as prioridades e os sistemas de valoração vigentes naquele contexto.
Podemos concluir que, se hoje existe uma crescente preocupação com a preservação e manu-
tenção do meio ambiente é porque em um contexto anterior houve uma ação predatória dos
recursos naturais, causando impactos negativos na vida humana. A seguir vejamos o conceito
de ambiente rural.
Portanto, as áreas em que a atividade agrícola é predominante (áreas rurais) também exempli-
ficam intervenções humanas no ambiente. As gradações de intensidade qualificam tais inter-
venções. Nas áreas rurais podem-se observar desde intervenções bastante intensas, como as
monoculturas, até as intervenções humanas de preservação do ambiente, como as Unidades de
Conservação, reservas e parques ecológicos.
Entretanto, as ações antrópicas são recorrentemente motivadas pela satisfação das necessidades
e interesses humanos. De acordo com a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo
(1992), entende-se por ações antrópicas toda ação proveniente da espécie humana geradora de
impactos ambientais, que incluem fatores como a dinâmica populacional, o uso e a ocupação
do solo, a produção cultural e também as ações de proteção e recuperação de áreas específicas.
Dessa forma, a maior parte das áreas rurais são destinadas à produção de alimentos. As mo-
noculturas são exemplos de intervenções humanas que geram impactos negativos na natureza e
também na qualidade de vida da própria humanidade.
Grandes extensões de monocultura podem extinguir uma espécie e favorecer o crescimento po-
pulacional de outra. Vegetais e animais que se beneficiam desta plantação ou cujos predadores
foram exterminados podem se reproduzir de maneira desordenada, prejudicando a plantação,
passando a agir como pragas. Para combater as pragas e garantir a colheita, a indústria química
fornece praguicidas que, muitas vezes, envenenam as plantas, o solo e a água, colocando em
risco a saúde e a vida de outras espécies, inclusive a humana.
De acordo com o Censo Agropecuário de 2006, entre 1970 e 2006 a utilização de terras pro-
venientes de matas e florestas no país passou de cerca de 58 para 100 milhões de hectares. O
crescimento da produção de grãos no Brasil está diretamente relacionado ao mercado de ali-
mentos internacional, especificamente, no agronegócio, principal responsável pelas exportações
no país (MOTA, 2009). Tanto os impactos positivos quanto os negativos possuem estreita ligação
com o contexto.
Dessa maneira, pode-se inferir que toda ação exercida sobre qualquer um dos elementos acarre-
ta em consequências para o ecossistema. O manejo responsável dos recursos naturais beneficia
e melhora a condição biológica e social da vida humana. Para que isso seja possível, é preciso
orientar as ações antrópicas para a preservação e manutenção da diversidade ambiental. É
necessária a permanente lembrança de que a questão ambiental compreende, em vários níveis,
outras dimensões além da biológica. Questões sociais, econômicas, culturais e geográficas são
determinantes não apenas do comportamento humano, mas também do meio ambiente.
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Saúde e Meio Ambiente
As relações estabelecidas se tornam mais intensas e complexas nas áreas urbanas. De um lado,
intensifica-se a utilização dos fatores físicos do ambiente, tais como os recursos energéticos,
recursos minerais, vegetais e animais, além do predomínio dos elementos construídos em detri-
mento dos elementos naturais. De outro, os fatores sociais do ambiente ganham maior relevância
nas cidades, pois as relações econômicas, culturais e ambientais assumem a centralidade das
políticas públicas e do comportamento humano.
A instalação de áreas residenciais ao redor dos grandes centros urbanos, com baixa ou média
densidade populacional, o chamado espraiamento urbano, tem se tornado comum nos últimos
tempos. Esse fenômeno de fixação de residência perto, mas fora das metrópoles, acarreta em ou-
tros problemas de ordem ambiental. Provavelmente, o mais preocupante deles é o deslocamento
das pessoas entre as cidades e a dependência dos meios de transporte motorizados e individuais.
A dependência desses veículos, bem como dos combustíveis fósseis, gera o aumento significativo
de emissão de poluentes na atmosfera.
Falando em qualidade de vida, será que nossa saúde pode ser influenciada pelo meio em que
vivemos? Que tal entendermos melhor sobre essa relação tão estreita: saúde e meio ambiente?
Por isso vamos abordar questões de saúde relacionadas ao meio ambiente e às políticas de pre-
venção de doenças. Por fim, analisaremos juntos os aspectos da integração entre saúde e quali-
dade de vida a partir das transformações do significado do termo saúde e do papel do indivíduo
no autocuidado. Está preparado? Então avante!
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Saúde e Meio Ambiente
compromisso a ser cumprido. Dessa forma, enquanto estado contextualizado, a saúde não é um
objetivo que, uma vez alcançado, compulsoriamente será mantido. Existem inúmeros fatores que
interferem na saúde humana. Portanto, a instabilidade, característica primordial da vida humana,
também é regente dos estados de saúde individual e coletiva.
Outra questão é a percepção que um determinado indivíduo ou coletividade tem sobre saúde. O
termo implica em um alto grau de subjetividade, já que o entendimento sobre ser saudável pode
mudar de acordo com os valores vigentes em determinada época e sociedade.
A saúde do indivíduo não é determinada exclusivamente por um único fator, e deve ser com-
preendida dentro de um sistema de valores, condições e motivações, que combinam elementos
individuais e ambientais. Isso quer dizer que: os fatores influenciadores da condição de saúde
englobam os condicionantes biológicos, o meio físico, e o meio socioeconômico e cultural.
Consideram-se condicionantes biológicos: a idade, o sexo, a carga genética etc. O meio físico pode
determinar a condição de saúde se considerarmos as condições geográficas, características de ocu-
pação humana, acesso à água potável, alimentos de qualidade e condições de moradia. Por fim, as
condições socioculturais referem-se a ocupação, renda, instrução, acesso a equipamentos públicos
ou particulares de lazer e saúde, possibilidade de escolhas, hábitos e rotinas e relacionamentos.
E agora, consegue definir o que é saúde? E como podemos continuar promovendo a saúde no
nosso ambiente?
Esse conceito influenciou, posteriormente, o texto da Constituição de 1988, em que o artigo 196
defende o conceito ampliado de saúde, a partir de:
(...) uma mudança progressiva dos serviços, passando de um modelo assistencial, centrado
na doença e baseado no atendimento a quem procura, para um modelo de atenção integral
à saúde, onde haja incorporação progressiva de ações de promoção e de proteção, ao lado
daquelas propriamente ditas de recuperação (Ministério da Saúde, 2004).
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal
e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988).
Veja como está definido o conceito de saúde e o dever do Estado na Lei 8.080, Art.2, parágrafo 1º.
Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições
indispensáveis ao seu pleno exercício.
§ 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas
econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no
estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos
serviços para a sua promoção, proteção e recuperação. (BRASIL, 1990)
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Saúde e Meio Ambiente
Sabemos que enfermidades e/ou deficiências também podem acometer pessoas que vivem em
condições adequadas de vida, pois a condição de saúde está diretamente relacionada ao poten-
cial genético individual. Ou seja, por melhores que sejam as condições de vida, inevitavelmente
seremos expostos a doenças, problemas de saúde e com a morte. Nesse aspecto, os serviços de
saúde desempenham papel fundamental na prevenção, na cura ou na reabilitação e minimiza-
ção do sofrimento dos enfermos.
Contudo, faz-se necessária também a conscientização dos indivíduos sobre o autocuidado, como
alternativa para diminuir a dependência com relação aos serviços de saúde. Em diversas partes
do mundo, especialmente no Brasil, predomina o modelo centrado em serviços médicos, fortale-
cendo a cultura da cura em detrimento da prevenção de doenças.
Se fossemos dar mais atenção à prevenção de doenças, poderíamos utilizar como estratégia a
melhora da qualidade de vida? E será que a qualidade de vida pode influenciar nos nossos níveis
de bem-estar, assim como na saúde física, mental e emocional? Que tal primeiro conhecermos
a definição desses termos e refletirmos mais sobre eles?
Apesar de não haver uma única definição sobre qualidade de vida, é consenso entre os estu-
diosos do tema que o termo carrega significados objetivos e subjetivos. Esse tópico se dedicará
à análise desses significados, colocando-os em perspectiva com outras temáticas pertinentes,
como saúde e meio ambiente. Que tal lermos mais a respeito? Siga em frente.
Dessa maneira, qualidade de vida não se encerra unicamente nas condições objetivas ou subje-
tivas de vida das pessoas, mas no significado que as condições materiais assumem na realidade
do indivíduo. A OMS define qualidade de vida como “a percepção do indivíduo de sua inserção
na vida do contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus
objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (OMS, 1997, tradução nossa).
Dessa maneira, é possível inferir que não há definição única de qualidade de vida. Entretanto,
qualidade de vida pode ser compreendida como o produto do resultado de indicadores que
mobilizam elementos das esferas objetivas e subjetivas, apreendendo a percepção dos sujeitos
sobre o seu meio.
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Saúde e Meio Ambiente
Assim, qualidade de vida se revela como um instrumento que mobiliza aspectos biológicos e
sociais, mediado condições mentais, ambientais e culturais. A preocupação com o conceito de
qualidade revela um movimento das ciências humanas e biológicas em favor da valorização de
fatores mais amplos que o controle de sintomas, a diminuição da mortalidade ou o aumento da
expectativa de vida e também sobre as condições subjetivas que interferem na vida das pessoas.
Essas perspectivas sobre a qualidade de vida sugerem a iniciativa de humanização que esse
conceito carrega, sem desconsiderar os avanços científicos e tecnológicos que podem auxiliar
na promoção da saúde e do bem-estar das pessoas. Humanizar a saúde e a qualidade de vida
não significa somente acrescentar anos às vidas dos indivíduos, mas acrescentar vida aos anos,
conforme defende Fleck (1999).
Mas como podemos ter certeza de todos esses aspectos? Em que momento a qualidade de vida
se torna um instrumento de avaliação do modo de vida da sociedade? Existe uma maneira de
medir nossa qualidade de vida? Veremos.
De maneira geral, os indicadores descrevem a percepção das pessoas sobre a qualidade de vida
em um determinado contexto, coletando objetivos ou subjetivos. Os instrumentos de ordem ob-
jetiva coletam dados da ordem material, além de aferir os níveis de satisfação das necessidades
elementares da vida humana, como acesso à água potável e alimentos de qualidade, habitação,
trabalho, saúde e lazer, e padrões de renda e de consumo.
Outro caso prático, e que é um dos exemplos mais emblemáticos de indicador de qualidade de
vida baseado em questões subjetivas é o questionário, composto por 100 itens, denominado
de Instrumento de avaliação de Qualidade de Vida da Organização Mundial da Saúde (WHO-
QOL-100). Este instrumento foi desenvolvido pela OMS com a colaboração de órgãos de saúde
de diversos países, adequando-se à transculturalidade, ou seja, às particularidades culturais de
cada local. Ele constrói uma avaliação conceitual sobre aspectos do estado funcional, de bem-
-estar e da condição geral de saúde dos indivíduos, partindo da premissa de que qualidade de
vida é uma construção subjetiva, multidimensional e composta por elementos positivos (mobili-
dade), e negativos (dor). (MINAYO et al., 2000 apud ALMEIDA et al., 2012, p.30)
• conhecer as principais características dos ambientes natural, rural e urbano, bem como os
impactos ambientais causados por cada um deles;
• conhecer as principais concepções sobre qualidade de vida e suas relações com fatores
materiais e subjetivos;
• identificar
os principais instrumentos de aferição de qualidade de vida de acordo com
suas características;
• verificar
os principais pontos de intersecção entre qualidade de vida, saúde e meio
ambiente;
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