Confesso que quando escolhi esse tema para orientar minha ordenação sacerdotal, não sabia das implicações práticas acerca do compromisso que isso tinha para a minha pessoa, a partir daquele dia, padre, e como isso poderia ir se confirmando ao longo de minha vida como homem de Deus, moldando minha nova identidade e fazendo-me, com toda certeza, acreditar que não foi por acaso a escolha deste versículo bíblico – aliás, nada é por acaso em nossa vida, mas ação da providência divina –, assim, acredito firmemente que a escolha desse versículo foi obra e inspiração do Deus Altíssimo, Aquele que sonda e perscruta com seu Espírito o interior de cada ser humano. Hoje, estou certo de que Aquele que me escolheu, pronunciou meu nome, me chamou e enviou, conhecendo-me profundamente, sabendo o que em mim ainda precisava ser mudado, inspirou-me para essa rota a fim de que eu pudesse me tornar realmente um homem de Deus do jeito que o povo espera desse mesmo homem. Não foi fácil para eu compreender tudo isso. Muitas vezes tive diante de mim a situação do barro na mão do oleiro – meu pai possuía uma olaria de onde tirávamos nosso sustento – mas escapava-me o alcance e o significado bíblico-teológico daquela realidade para mim tão corriqueira na vida do povo e do homem de Deus. Eu era muito garoto para entender e ainda não compreendia muito bem as Escrituras Sagradas. Como o barro sofre na mão do oleiro até tornar-se aquela bela peça de cerâmica, uma verdadeira obra de arte, encantando a todos que passam por ela! É impressionante como o oleiro bate por várias vezes o barro contra um estrado sólido, uma mesa feita com madeira ou em concreto, joga-o pra lá e pra cá, amassa-o de muitas maneiras e de diversos modos até está preparado para ser colocado no torno, onde desenhará, à sua criatividade, a obra de suas mãos. Muitas vezes, por causa das ciladas da vida às quais estamos continuamente expostos, pela vivência e pelo trabalho com o povo de Deus nas várias situações e desafios que enfrentamos ou em virtude de minha personalidade um tanto intolerante para com Deus e sua Igreja, esquecendo-me muitas vezes de que sou um ministro de Deus e deixando-me identificar, de diversos modos, com palavras e atitudes, aos novos padrões culturais propostos pelo mundo de hoje, que me afastavam do caminho de Deus e da fidelidade ao ministério assumido, senti-me como um barro na mão do oleiro, exposto às mais diversas e sérias batidas da vida que me renderam muitas dores e sofrimentos. Por que quis eu escolher, justamente, esse norte para orientar a minha vida como ministro presbiteral? Creio que a resposta só posso encontrá-la nos planos de Deus, o oleiro desse barro que ainda deseja abandona-se muito em suas mãos para torna-se um bela e preciosa peça de tal modo que o povo de Deus possa se encantar com sua beleza e formosura. Não guardo comigo nenhum ressentimento de nada e de ninguém. Deus provou-me, concedeu-me a graça de ser provado, alegro-me por isso. Tenho consciência de que sou e sempre serei como o barro nas mãos do oleiro. Sou feliz como padre e realizo-me no exercício desse ministério como pessoa e como homem. Continuo acreditando que como Maria, irmã de Lázaro, “escolhi a melhor parte e que esta não me será tirada”.