Sie sind auf Seite 1von 6

Para além da Esquerda e da Direita – A Terceira Via

na Europa
Publicado em junho 25, 2013 por pucminasconjuntura

Emilene Kareline Marciano dos Santos

Resumo

As eleições europeias deste ano trouxeram mais uma vez à tona os apontamentos –
muitas vezes críticos – sobre o modelo de governo sociopolítico implantado no
continente e sua funcionalidade ante os reveses atuais. Nesse sentido, na discussão
sempre presente entre Esquerda e Direita foi reforçado o debate a respeito (da crise)
do Estado Providência ou Welfare State. Tem-se colocado propostas alternativas ao
papel do Estado frente à sociedade, e uma delas é a Terceira Via.

A construção cognitiva da Esquerda e da Direita

A noção de esquerda e direita enquanto posições é bem antiga e presente social,


religiosa e linguisticamente. Ela atende, por exemplo, à significação de esquerda
enquanto a mão responsável por trabalhos impuros e a direita por trabalhos nobres; à
concepção de que ao lado direito de Deus estarão os salvos e do esquerdo os
condenados; em alguns idiomas como o inglês, direita e certa são expressas pela mesma
palavra – right –, no francês, esquerda – gauche – significa desastrada e, em italiano,
esquerda equivale à sinistra (ROSAS, 2013).

Porém, enquanto força cognitiva política, Direita e Esquerda se manifestaram


primeiramente na França, durante a Assembleia Geral Constituinte de 1789, em que os
deputados a favor do veto legislativo do rei ficaram do lado direito da sala, e aqueles
contrários agruparam-se no lado esquerdo. A difusão dos termos, entretanto, ganhou
força no início do século XIX, na sessão parlamentar de 1819-1820. Ali a direita passou
a representar os que desejavam a velha ordem na França e a esquerda, a nova ordem
(ROSAS, 2013). Referindo-se ao que Bobbio (1995) chama, em seu livro “Direita e
esquerda: razões e significados de uma distinção política” de tradicionalistas e
emancipadores, respectivamente.

Bobbio (1995) chama-nos atenção também para o fato de que Direita e Esquerda não
indicam apenas ideologias – pois, isso seria uma simplificação –, mas revelam
programas políticos que se contrapõem em relação a diversos problemas. Os contrates
vão além da esfera das ideias; envolvem também interesses e valorações sobre a direção
que a sociedade deve seguir. O autor propõe dois conceitos – e seus pares dicotômicos,
por consequência – para distinguirmos Direita e Esquerda: igualdade e liberdade.

O conceito de igualdade, segundo Bobbio (1995), é relativo e, por isso, para


entendermos a ideia introduzida por ele, precisamos considerar três questões ao abordar
igualdade: 1) os sujeitos entre os quais serão repartidos os bens e os ônus; 2) quais os
bens e os ônus a serem repartidos; 3) o critério com base no qual será feita a repartição.
A partir disso, coloca-se a Esquerda como igualitária – o que não significa igualitarista
ou que queira eliminar todas as desigualdades – e a Direita como não igualitária – o que
não significa manter todas as desigualdades. Essas afirmações são explicadas com base
na frase: “os homens são entre si tão iguais quanto desiguais”.

A Esquerda tende a considerar que os homens são mais iguais do que desiguais e, por
isso, entende as desigualdades como sendo de cunho social e, assim, passíveis de
eliminação. A Direita, entretanto, percebe mais desigualdades entre os homens do que
igualdade. Para ela, essas desigualdades são naturais e, dessa maneira, não há formas de
extingui-las. Isso porque a lógica direitista está mais ligada ao habitual, à tradição, à
força do passado. Enquanto a Esquerda acredita ser o homem capaz de corrigir tantos os
males naturais quanto os sociais (BOBBIO, 1995).

Relacionada diretamente com a igualdade está a liberdade – cujo oposto é autoridade.


Esta se caracteriza por ser um status pessoal, um bem individual, e por não acontecer
puramente, mas por ser singular e corresponder a uma determinada situação. Bobbio
(1995) afirma que há

situações em que a igualdade e a liberdade são compatíveis e complementares na


projeção da boa sociedade, outras situações em que são incompatíveis e se excluem
reciprocamente, e outras ainda em que é possível e recomendável uma equilibrada
combinação de uma com a outra (BOBBIO, 1995, p. 112).

Situações como essas se expressam, por exemplo, na tão exaltada liberdade econômica
que acaba por gerar desigualdades.

Para Norberto Bobbio (1995), a igualdade tem por efeito uma limitação da liberdade,
usufruída ou não, como uma norma que obrigasse os cidadãos a usarem transporte
público, tirando-lhes a liberdade de escolher o meio de transporte preferido. Mas, ele
ressalva que nem toda medida igualitária limita a liberdade – como o sufrágio universal.
O que justificaria, na concepção de alguns, tomar a Direita como libertária e a Esquerda
como igualitária, embora o autor acredite que tanto Esquerda quanto Direita podem ser
libertária ou igualitária. Os critérios adotados e seus pares dicotômicos distinguiriam
extrema-Esquerda (igualitários e autoritários – jacobinismo) de centro-Esquerda
(igualitários e libertários – social-democracia) e centro-Direita (libertários e não
igualitários – partidos conservadores) de extrema-Direita (antiliberais e anti-igualitários
– fascismo e nazismo). Sendo igualdade a diferença entre Esquerda e Direita, e
liberdade a gradação desses pensamentos.

Estado Providência/Welfare State/Socialdemocracia

Norberto Bobbio (1995) afirma que a socialdemocracia caracteriza-se por ser “a


esquerda em sua versão moderada” (BOBBIO, 1995, p.59), que se corrompeu e aceitou
o jogo político da democracia burguesa. O que pode ser justificado pelas palavras de
Esping-Andersen (1991):

Ao adotar o reformismo parlamentar como estratégia dominante em relação à


igualdade e ao socialismo, a social-democracia baseou-se em dois argumentos. O
primeiro era o de que os trabalhadores precisam de recursos sociais, saúde e educação
para participar efetivamente como cidadãos socialistas. O segundo argumento era o de
que a política social não é só emancipadora, é também uma pré-condição da eficiência
econômica (Myrdal e Myrdal, 1936). (ESPING-ANDERSEN, 1991).
Giddens (1996), por sua vez, afirma que o Welfare State é o que restou da ideologia
socialista e o que esta tenta defender dos ataques neoliberais. Seria a síntese da dialética
entre o capitalismo liberal dos economistas clássicos e o comunismo de Marx e seus
seguidores (LIMA; LAGEMANN, 1998).

A conformação do Estado Providência corresponde a um compromisso de classes, onde


o Estado fica responsável por garantir e prover o acesso aos bens sociais básicos –
saúde, educação, emprego e renda. Segundo Giddens (1996), o Welfare State tem se
mostrado eficiente na oposição à pobreza e na produção de renda ou redistribuição de
riqueza. Sobre os seus fundamentos econômicos, o Estado Providência baseia-se
principalmente na escola keynesiana, cuja característica central é o intervencionismo
direto do Estado na economia.

A Terceira Via

Nos estudos de Bobbio (1995), o que o autor denomina como “Terceiro Inclusivo”
aproxima-se daquilo que é proposto como Terceira Via.

O Terceiro Inclusivo tende a ir além dos dois opostos [Esquerda e Direita] e a englobá-
los numa síntese superior, e, portanto anulando-os enquanto tais: dito de outro modo,
ao invés de duas totalidades que se excluem reciprocamente e não são, como a frente e
o verso da medalha, visíveis simultaneamente, faz deles duas partes de um todo, de uma
totalidade dialética (BOBBIO, 1995, p.38).

A Terceira Via caracteriza-se então como aquilo que está para além da Direita e da
Esquerda e sua proposta é ser uma “revisão das políticas públicas associadas à
socialdemocracia clássica, com a finalidade de criar-se uma solução para os males do
neoliberalismo.” (LIMA; LAGEMANN, 1998, p.146). Para isso, se propõe a atenção
haja pelo menos três valores. São eles: oportunidade real, responsabilidade cívica e
comunidade. Sobre o primeiro podemos dizer da noção de que a sociedade garanta aos
seus cidadãos um nível mínimo de oportunidade real de acesso aos bens públicos,
independentemente do acesso por meritocracia. O segundo valor relaciona-se a atuação
social do indivíduo. Esta não pode prejudicar os interesses públicos compartilhados
pelos demais cidadãos. Eles devem assumir suas responsabilidades sociais primárias e
assim contribuir para a harmonia e a manutenção do bem comum. Por fim, sobre
comunidade podemos dizer que esse conceito deriva dos dois primeiros e refere-se ao
incentivo à formação de associações e organizações coletivas, relações de ajuda
recíproca ou comunitária. Dessa maneira os indivíduos não ficam isolados nem passam
a agir individualmente (LIMA; LAGEMANN, 1998).

Em confirmação ao que foi dito, Anthony Giddens (1996), enquanto pensador da


Terceira Via[i], afirma que nos dias do Estado Providência, um novo acordo social se
faz necessário e a aquisição de poder deve ser possibilitada (garantida) e não distribuída
(provida) (GIDDENS, 1996). O autor segue afirmando que a solidariedade social deve
ser reconstruída no nível da família e no nível de uma cultura cívica mais ampla.
Segundo Giddens (1996), é preciso “uma ênfase muito maior na mobilização de
medidas de políticas de vida, direcionadas mais uma vez à ligação da autonomia com as
responsabilidades pessoais e coletivas.” (GIDDENS, 1996, p.27). Ou seja, aqui ocorre a
mescla entre deveres e direitos individuais e coletivos.
As eleições na Itália e na França

As eleições nacionais na Itália e na França no início deste ano revelaram o acirramento


do antagonismo político nesses países. O elevado número de desempregados que na
França, por exemplo, já chega a mais de 4 milhões, e outros tantos problemas internos
enfrentados, levam essas populações a olhar com cada vez mais desconfiança para os
seus líderes tradicionais da centro-Direita ou da Esquerda socialista.

A agremiação de Silvio Berlusconi, que obteve a maioria do Senado italiano, perdeu na


Câmara dos Deputados para o partido de centro-Esquerda. A diferença percentual entre
os partidos não chegou a 1% em ambas as Casas. Na França não foi diferente. A vitória
conquistada pela União por um Movimento Popular (UMP) também aconteceu com
uma margem percentual apertada contra a Frente Nacional (FN), de Marine Le Pen:
51,41% a 48,59%.

Esta última é herdeira política do pai Jean-Marie Le Pen, que lhe passou a liderança do
partido. Jean-Marie sempre negou a existência do Holocausto e tinha como plataforma
clara a disposição de expulsar todos os imigrantes do país. A filha segue dizendo que a
culpa da decadência francesa são os imigrantes. E com um discurso antieuropeu e de
fracasso da União Europeia, Marine Le Pen dá força para a extrema-Direita na França.

O que pode aumentar a atenção ao futuro político da Europa são estudos como o
realizado pelo think tank britânico Demos, em 2011, que apontam o crescimento de
grupos de extrema-Direita pela Europa, através das redes online. Os adeptos são em sua
maioria jovens que se revelam cada vez mais críticos aos seus governantes e à União
Europeia, estando profundamente preocupados com o futuro e identidade cultural, bem
como com o crescimento da imigração e o alastrar da influência islâmica na Europa. A
pesquisa revela ainda que os partidos que difundem ideias xenófobas, anti-imigração e
anti-islâmicas, estão a espalhar-se para além de terrenos tradicionais como França,
Itália.

Em suma, fica evidente o descontentamento da população e, em especial da nova


geração, com o sistema de organização sociopolítico implantado no continente europeu,
a socialdemocracia. Talvez seja o momento de rever o modelo e procurar novas opções
de estruturação burocrática. Uma sugestão, que não é nova nem recente, mas sempre
aparece nesse tipo de discussão, é a Terceira Via.

Considerações Finais

Tendo em vista o largo antagonismo político da população francesa e italiana, os


conflitos que daí podem surgir e a preocupação em se evitar que seja revivido o trauma
das políticas de extrema-Direita já implantadas no continente europeu, levam-nos a
pensar a Terceira Via como uma possível solução para esses problemas. Uma vez que o
que se busca por esse modelo de organização é sintetizar a centro-Esquerda expressa na
socialdemocracia e a Direita e reforçar a ideia de coletividade, que tem se enfraquecido
por meio de discursos centralizadores de cunho nacionalista.

O que se vê na Europa da crise é que muito se procura culpados para o problema atual,
levando a responsabilidade a causas estruturais como o sistema, a burocracia, o
mercado. Porém, ao lançar mão da Terceira Via, o que se quer dizer na verdade é que a
questão pode ser um “equívoco” ideológico.

A antiga discussão sobre: “as ideias constituem a matéria ou a matéria constitui as


ideias?” volta à tona e ganha uma roupagem nova. Pensa-se uma forma de organização
social ideológica capaz de garantir o “melhor” da Direita e da Esquerda, o “melhor” da
igualdade e da liberdade. Reforça-se a ideia da ordem e das responsabilidades para com
o coletivo.

Nota-se que a discussão acima descrita não é atual, mas perpassa anos da história
europeia – e da humanidade. E não só da história europeia no campo político, mas
sociológico – e que sejam considerados outros! Busca-se retomar o sentimento de
pertencimento, de unidade, e que fazer com que sejam eliminados os pensamentos de
que “o outro é um peso para o governo e para mim” quando se trata de políticas de
seguridade e imigração, por exemplo.

Com a Terceira Via pretende-se restabelecer a ideia de que o Estado não pode ser o
provedor dos bens sociais, mas o garantidor. É preciso que as pessoas assumam seu
papel social enquanto cidadãos e entendam que é preciso agir de acordo com um
entendimento do coletivo – e não individual – para que se estabeleça o bem comum e
todos tenham acesso aos recursos necessários para viver naquela sociedade. Repensa-se
o papel do Estado e repensa-se o papel do indivíduo. A grande questão é como fazê-lo.
Será que a atual Europa suportaria uma reforma nas estruturas de organização social?

No pleito eleitoral realizado este ano em dois dos mais importantes países europeus
colocou-se em evidência a polaridade assumida pelo eleitorado em relação às propostas
políticas dos partidos. O que nos diz que uma maioria esmagadora não se constituiu na
França ou na Itália, mas que duas ideologias rivalizaram entre si em paridade. Tal fato
nos propõe um problema: esta situação não significaria a consciência coletiva
reforçando a ideia política de Direita e Esquerda, ao invés de desejar uma síntese entre
elas?

Referências

A extrema-direita está a crescer em toda Europa. Diário de Notícias, 07 nov. 2011.


Disponível em: <http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=2105764>.
Acesso em 13 jun. 2013.

BOBBIO, Norberto. Direita e Esquerda: razões e significados de uma distinção


política. Tradução: Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Ed. da UNESP, 1995. 129 p.
Título original: Destra e Sinistra. Ragioni e significati di uma distinzione politica.

‘EMPATE’ em eleições na Itália causa apreensão na Europa. BBC Brasil, Brasília, 26


fev. 2013. Disponível em:
<http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/02/130226_italia_impasse_nova.shtml
>. Acesso em 13 jun. 2013.

ESPING-ANDERSEN, Gosta. As três economias políticas do Welfare State. Lua


Nova: Revista de Cultura e Política, São Paulo, n. 24, set. 1991. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-
64451991000200006&script=sci_arttext>. Acesso em 07 jun. 2013.

GIDDENS, Anthony. Para além da Esquerda e da Direita. O futuro da política


radical. Tradução: Álvaro Hattnher. São Paulo: Ed. da UNESP, 1996. p. 1-26. Título
original: Beyond Left and Right. The future of Radical Politicals.

GROCHA. Desilusão com sonho europeu alimenta extrema-direita na França. Folha de


São Paulo, São Paulo, 26 mar. 2013. Disponível em:
<http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/2013/03/26/desilusao-com-sonho-europeu-
alimenta-extrema-direita-na-franca/>. Acesso em 13 jun. 2013.

LIMA, Antonio Ernani; LAGEMANN, Eugenio. A velha social-democracia e a nova


direita: é possível uma terceira via? Indicadores econômicos FEE, Rio Grande do Sul,
v. 26, n. 3, p. 144-149, 1998. Disponível em:
<http://revistas.fee.tche.br/index.php/indicadores/article/view/1628/1996 1998>. Acesso
em 07 jun. 2013.

ROSAS, João Cardoso. Direita/Esquerda. Disponível em:


<http://www.ifl.pt/private/admin/ficheiros/uploads/d71b12f8bb2f1fc524d1eee1cb81770
e.pdf>. Acesso em 07 jun. 2013.

[i] De acordo com LIMA; LAGEMANN (1998) os estudos sobre uma alternativa que
fosse a construção de uma nova social-democracia, uma terceira via entre o velho
trabalhismo na Inglaterra e a nova direita, se deu a pedido do então Primeiro Ministro
inglês Tony Blair. Este desafio iniciou sua condução pela London School of Economics
and Political Science e, nesta, pelo diretor, à época, Anthony Giddens.

Das könnte Ihnen auch gefallen