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Um Novo Começo
Yule Tide
Catherine George
"Nick,
Estou partindo. Não consigo mais suportar essa situação. Minha vida
transformou-se em uma longa e dolorosa espera... Não é isso que eu
desejava do homem que escolhi para ser meu marido e companheiro,
futuro pai de meus filhos. Tente me entender."
CAPITULO II
CAPITULO III
Um século antes de George Campion comprar Friar's Haven para a esposa,
aquela casa imensa fora um monastério. Atualmente, graças ao empenho e
ao bom gosto de Lidia, cada cômodo fora decorado com requinte e
elegância, sem perder a atmosfera de paz e tradição que os
caracterizavam. A cozinha, por exemplo, era equipada com o que havia de
mais moderno, embora o piso e os azulejos originais tivessem sido
preservados.
Maíra lembrou-se da história da casa, enquanto tomava a sopa. Desde que
provocara Nick, ele não dissera mais nenhuma palavra, agindo como se não
houvesse mais ninguém ali.
— A sopa está ótima — Maíra falou, tentando iniciar um diálogo. Estava se
sentindo miserável pelo modo como ele a estava tratando. Aliás, até
mesmo uma discussão era melhor do que aquele silêncio constrangedor.
Nick agradeceu com um mero gesto de cabeça.
— Quer que eu o ajude em algo? — insistiu, ao vê-lo levantar-se para lavar
a louça.
— Poderia fazer café. Isso se conseguir se entender com a cafeteira
elétrica. Esse eletrodoméstico parece que só atende às ordens de mamãe
— disse, áspero. Contudo, para quem se mantivera calado nos últimos
quinze minutos, aquilo já era um grande avanço.
— Posso fazer café instantâneo — ela falou depois de examinar
rapidamente a cafeteira.
— Não, obrigado. Não arranjo substitutos para as coisas de que gosto.
Maíra empalideceu, sentia-se como se houvesse levado uma bofetada. No
fundo, merecia aquele golpe pela provocação que fizera. Contudo, para
salvar o orgulho, recompôs-se depressa.
— Bem, então, vou fazer chá — comunicou, já levando a chaleira ao fogo
para ferver água.
Ficaram em silêncio por mais algum tempo até que Nick tomou a iniciativa
de quebrá-lo.
— Está com uma aparência bem melhor...
— E incrível o que um prato de comida pode fazer por uma pessoa! — ela
exclamou, em tom jocoso. Com medo de sofrer outro ataque verbal,
preferira atacar. Mas, ao perceber que ele fora sincero, tentou consertar
o mal-entendido: — Na verdade, essa é minha primeira refeição do dia.
— Ora, disse que havia tomado café da manhã! Maíra sacudiu os ombros,
sem jeito.
— Menti... Como sempre, tomei apenas um copo de leite gelado e sem
açúcar!
Nick riu, afastando definitivamente o mau humor.
— Não admira que estivesse à beira de um desmaio! Não comeu mais nada
durante o dia?
— Bem, tomei uma taça de champanhe e comi um ou dois canapés na festa
do escritório.
— Desse jeito, vai desaparecer em pouco tempo! Maíra deu um sorriso
amarelo, voltando a atenção para o chá. Desde que se separara de Nick,
perdera todo o apetite, precisando fazer força para comer algo.
— Como prefere o chá?
— Já esqueceu?
— Duas colheres de açúcar e um pouco de leite, não é?
_ Perfeito. — Ele riu, com satisfação, tornando a sentar-se à mesa.
Ela serviu o chá, acompanhado por alguns biscoitos de nata, que achara em
um pote.
— Por que resolveu ir para a fazenda esta noite, debaixo de toda essa
chuva? — Nick indagou, assim que Maíra também se acomodou à mesa.
— Não imaginava que a situação estivesse tão grave por aqui. Margaret
havia me alertado, mas não dei muita importância...
— Não ouviu a notícia sobre as inundações no rádio do carro?
— Não, o meu está quebrado. Estou justamente à espera das liquidações
após o Natal para comprar um.
— Continua a não usar o dinheiro que eu deposito todos os meses em sua
conta? — ele perguntou, impaciente.
— Sabe muito bem que não toco naquele dinheiro! — explodiu, veemente.
Como não queria dar início a outra discussão, tentou controlar o
nervosismo ao acrescentar:
— Aliás, não estou passando por nenhuma crise financeira, Nick. Não há
nada de mau em fazer um pouco de economia, não é?
— Outras mulheres, em seu lugar, brigariam para obter uma pensão do ex-
marido. Você, ao contrário, parece se ofender com essa idéia. Não consigo
entendê-la...
Orgulho era a resposta. Maíra queria provar a ele que era capaz de
sobreviver sozinha.
Nick a observava em silêncio, enquanto tomava o chá.
— Ainda está com fome? — inquiriu, meio preocupado.
— Um prato de sopa não é suficiente para quem passou o dia inteiro em
jejum. Posso lhe fazer uma omelete...
— Não, obrigada. Já estou satisfeita. — Olhou para ele, intrigada. —Você
não costumava mostrar esses dotes culinários quando éramos casados.
— E a necessidade. Além disso, só tive de descongelar a sopa, e qualquer
um pode fazer uma omelete.
— Parece que Lídia deixou comida para um exército na despensa e no
freezer — ela falou, sorrindo.
— Cuidados de mãe.
Maíra concordou, com um movimento de cabeça. Com a aproximação da
hora de dormir, estava ficando tensa e ansiosa. Em hipótese alguma,
queria dividir a mesma cama com ele. Embora, no íntimo, esse fosse seu
grande desejo.
— Tem notícias de Jon? — ela perguntou de repente, lembrando-se do
cunhado que não via desde seu casamento.
Dez anos mais jovem do que Nick, Jonathan Campion era uma versão mais
irreverente e debochada do irmão. Estudava em Harvard, nos Estados
Unidos, e raramente ia à Inglaterra.
— Jon continua o mesmo... Prometeu encontrar-se com meus pais no
Caribe, para apresentar-lhes sua nova namorada. — Contraiu os músculos
da face, adquirindo um ar severo. — Garanti a eles que ficaria bem.
— O que fez no Natal passado? — Maíra mal acabara de fazer a pergunta
e já estava arrependida.
— Ora... Sei muito bem que minha mãe lhe contou que fui para a
Austrália. Queria manter-me bem longe de qualquer lembrança familiar.
Para isso, nada melhor do que um Natal em pleno verão, não acha?
Ela não respondeu, apenas olhava fixamente para sua xícara de chá.
Nick levantou-se, retornando com uma garrafa de uís-que e dois copos.
— Aceita um drinque? — indagou, servindo-se de uma dose dupla.
Em geral, Maíra nunca tomava uísque. Mas, nessa noite, depois de tudo que
haviam passado, achou a idéia excelente.
— Sim, por favor — respondeu, surpreendendo-o. — Ponha um pouco em
meu chá.
— No chá?
— E por que não?
Ele pensou por alguns instantes, acabando por achar graça naquele pedido
incomum.
— De fato, por que não? Diga quanto quer. Logo ambos relaxaram, sob o
efeito da bebida.
— Teve muitas amantes depois que nos separamos?
— ela perguntou, sem o menor constrangimento.
— Não. Aliás, Maíra, não nos separamos. Você saiu de casa, exigindo o
divórcio.
— Estava cansada de ficar sozinha! Só queria que me desse um pouco mais
de atenção!
— Vai fazer o papel de vítima? — Com um olhar malevolente, ordenou: —
Agora conte-me sobre todos esses homens com quem anda aperfeiçoando
seu desempenho sexual.
— Menti sobre isso também — confessou, sorvendo o resto do chá. —
Você me fez perder a calma.
— É um hábito meu deixá-la irritada... — Após alguns instantes, ao se dar
conta do teor da revelação, indagou:
— Está dizendo que não houve mais ninguém em sua vida?
— E você teve?
Seus olhos se encontraram.
— Tentei... — Nick respondeu, com amargura. — Se deseja a verdade,
posso lhe garantir que me esforcei ao máximo para isso.
— Por quê?
— Queria esquecê-la, Maíra! Gostaria de apagar de minha memória como
éramos felizes juntos! Mas isso foi impossível...
Ela se serviu de mais uma xícara de chá, e em seguida ele acrescentou
outra dose de uísque.
— Está tentando me embebedar? — Maíra questionou, embora não fizesse
o menor esforço para recusar a bebida.
— Não. Depois de enfrentarmos todos aqueles perigos, acho que
merecemos alguns tragos, não acha? Além do mais, algumas gotas de
uísque, misturadas ao chá, não podem fazer mal a ninguém.
Ela balançou os ombros, indiferente, observando-o se servir de uma dose
ainda mais generosa do que a primeira.
— Recebi muitos convites para sair — Maíra disse, com honestidade. —
Mas não aceitei nenhum.
— Por quê?
Ela deu um longo suspiro. Aquele era um assunto delicado que não gostava
nem de pensar, quanto mais discuti-lo com Nick! Entretanto, por causa da
bebida e do choque do reencontro, sentia uma necessidade enorme de
esclarecer tudo.
— Não queria que outro homem ocupasse seu lugar, Nick. Para ser sincera,
senti muita saudade de você.
— Nunca lhe ocorreu contar-me isso?
— De modo algum! — Meneou a cabeça, enfatizando a resposta. — Achava
que jamais iria me querer de volta, depois que parti...
Ele se levantou, tomado por uma cólera incontrolável. Os olhos pareciam
soltar faíscas, e o rosto estava vermelho e tenso.
— Como pode ser tão ingênua? — bradou, exasperado.
— Se me queria de volta, por que não foi me buscar?
— Maíra, foi você quem me deixou. Portanto, a única pessoa que podia
consertar a situação era você mesma!
— Ora, Nick! Você não estava disposto a fazer mudança alguma em nossa
vida — explodiu, deixando vir à tona todas as mágoas que guardava no
coração.
— Preferiu seu trabalho a mim, Maíra!
— Não é verdade! Eu estava disposta a abandonar tudo para ter uma
família. Só não aceitava ser um mero complemento seu. Não queria passar
meses viajando, tendo como casa vários hotéis diferentes.
— Que mal havia nisso? Somos jovens, poderíamos deixar a vida
sedentária e tranquila para mais tarde.
— Não vejo as coisas desse modo. Além disso, o que eu faria nos hotéis,
enquanto você estivesse tratando dos negócios? Iria passar a vida
esperando? — Fez uma pausa, antes de tocar em um ponto bastante
polêmico: — Se ao menos tivéssemos um filho...
— Crianças não estavam em meus planos, no momento.
— Ora, você decidiu isso sem me consultar! Para mim, um filho seria a
maior prova de amor que poderíamos dar um ao outro.
— Confesse, Maíra... — começou a dizer, cínico. — Ao partir, esperava que
eu me arrastasse a seus pés, implorando-lhe que voltasse, não é? Queria
apenas me pressionar para que eu fizesse todas as suas vontades.
Sentindo o sangue ferver nas veias, ela deu uma risada nervosa.
— Claro que sim! Era exatamente isso que eu queria. E patético, infantil...
Mas o que mais podia fazer? Estava desesperada!
Nick ficou um bom tempo a contemplá-la, com uma expressão enigmática
no rosto.
— Pensei que Hugh a faria ouvir a voz da razão... Porém, ele se recusou a
me ajudar, preferindo o papel de irmão ao de melhor amigo. Quanto a
Margaret, a simples tentativa para conquistar seu apoio bastou para
deixá-la ofendida!
— Só posso agradecer a Deus por minha família — Maíra afirmou, ríspida.
— Eles jamais aprovaram ou entenderam minha decisão, Nick. Contudo,
souberam respeitar meu direito de escolher meus próprios caminhos.
A tensão estava ultrapassando os limites do suportável. Ambos estavam
exaustos, com o orgulho ferido e bastante alterados pela bebida.
Após uma breve pausa, ela disse:
— Recebi os papéis do divórcio, Nick. Basta assiná-los para que o juiz
oficialize nossa separação.
— Entendo... Apesar de todo esse discurso sobre saudade, não vê a hora
de se livrar de mim, não é, Maíra?
Ela não respondeu. Na verdade, nunca conseguira compreender
exatamente por que seu casamento havia desmoronado daquele jeito. Os
dois se amavam tanto...
— Quem é ele? — A voz de Nick era cortante. — Diga, de uma vez por
todas, quem é seu amante, Maíra!
Aquela pergunta a fez estremecer.
— Não tenho amante algum!
— E espera que eu acredite nessa farsa?
— Claro, pois é a verdade! — Estava desfigurada pelo ódio. — Mas se não
consegue acreditar em mim, isso prova que não há nenhuma chance de
salvarmos nosso casamento, Nicholas Campion. É o fim!
— Um brinde ao fim, Maíra! — bradou, irônico e cruel. Ela tremia tanto
que mal conseguia ficar em pé.
— Depois de tudo isso, só espero conseguir chegar a Longhope amanhã —
murmurou, esvaziando a xícara pela segunda vez.
— Não se preocupe — Nick disse, entre os dentes. — Eu a levarei até lá,
mesmo que morra no caminho!
Maíra nada comentou, mergulhando em seus próprios pensamentos. No dia
seguinte, com ou sem a ajuda de Nick, estava decidida a ir para casa,
mesmo que fosse preciso nadar.
CAPITULO IV
CAPITULO V
CAPITULO VI
Maíra levou tanto tempo para adormecer -que, quando os sobrinhos foram
acordá-la, na manhã seguinte, ainda estava morrendo de sono. — Podemos
entrar, tia? — Charlie indagou, impaciente, batendo na porta.
— Sim. A porta está aberta — respondeu, sentando-se na cama.
Não precisou dizer mais nada para os meninos entrarem no quarto como
dois furacões, jogando-se nos braços da tia. Os três ficaram algum tempo
na cama, fazendo uma guerra de travesseiros.
— Papai disse que era melhor deixá-la dormir, mas você sempre gostou
que a acordássemos... — Jack tentou se explicar, quando se cansaram da
brincadeira.
— Estavam certos! Ficaria triste se não viessem me chamar. Feliz Natal,
queridos — cumprimentou, abraçando os dois.
— Feliz Natal — disseram em coro.
— Agora, tragam Tabitha aqui para que eu possa trocá-la, assim darei uma
folga para sua mãe.
Em poucos minutos, os dois voltaram trazendo a irmã, que se jogou
carinhosamente no colo de Maíra. De repente, Nick veio juntar-se a eles.
— Feliz Natal, Maíra — falou, beijando-a no rosto.
O beijo singelo bastou para ela se enrubescer, despertando-lhe o desejo
adormecido em seu interior.
— Feliz Natal — retribuiu o cumprimento, aportando Tabitha nos braços.
— Hei! Segure esta, tio Nick! — Jack gritou, atirando-lhe uma almofada
de surpresa.
— Ah! É assim? Pois quero ver agora! — Nick exclamou, atirando de volta
duas almofadas e um travesseiro.
Em pouco tempo, até Tabitha estava participando ativamente da bagunça.
— Minha nossa! O que fizeram aqui? — Margaret indagou, apavorada ao
ver aquela confusão. — Maíra, deveria repreendê-los, não incentivá-los!
A cunhada sacudiu os ombros, rindo.
— Oh, Nick! Deve estar arrependido por ter trocado a paz de Friar's
Haven por essa algazarra, não?
— Que tolice, Margaret! Estou me divertindo muito aqui.
— Bem, crianças, desçam para tomar o café. —- Pegando a filha no colo,
voltou-se para os adultos. — Vocês também!
— Podem ir... Vou trocar' de roupa e já desço Maira disse, olhando
para Nick. Não queria ficar sozinha com ele no quarto.
Entendendo a mensagem, Nick acompanhou Margaret.
Com rapidez, Maíra arrumou o quarto e vestiu-se, indo ao encontro dos
outros. Sabia que as crianças esperavam, ansiosas, pelo final do café para
poderem abrir os presentes.
Hugh alimentava Tabitha, enquanto Margaret servia o café para Nick e os
meninos.
— Feliz Natal, Maíra — Hugh cumprimentou ao vê-la.
— Feliz Natal — respondeu, dando-lhe um beijo afetuoso na testa.
Quando notou que Margaret aprontava uma bandeja com o café da manhã
para os pais, Maíra ofereceu-se:
— Quer que eu dê uma olhada no forno?
Fim