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Ano XXVII- abril/2016 nº295 - R$ 13,00 - www.musitec.com.

br

FOCUSRITE
CLARETT 8PREX
Interface briga de igual para igual com
equipamentos bem mais caros
MIXAGEM S
E M S E G REDO
S 1)
(PARTE 1 A
I A J A N D O PEL
V
HISTÓRIA

SOM AO VIVO
Cinco coisas que você precisa saber
quando trabalha com uma banda

LOGIC PRO X WAVES NX


Usando o Compressor para converter Nos fones, a experiência de uma
arquivos numa tacada só mix executada em caixas de som
A

Os mexicanos do Maná caem na estrada com rider Clay Paky


CEN
Z&
LU

Iluminando: Análise de cena e técnicas de iluminação na sétima arte áudio música e tecnologia | 1
2 | áudio música e tecnologia
áudio música e tecnologia | 1
issn 1414-2821
editoRial
Áudio Música & tecnologia
ano xxviii – nº 295/abril de 2016
Fundador: sólon do valle

Por dentro da
Direção geral: lucinda diniz -
lucinda@musitec.com.br
Edição jornalística: Marcio teixeira

magia do produto
Consultoria de PA: Carlos Pedruzzi

ColaBoRaRaM nesta ediÇÃo


andré Paixão, Cristiano Moura, enrico
de Paoli, Fábio Henriques, lucas Ramos,
Renato Muñoz e Rodrigo Horse.
Contar com um produto na capa da Áudio Música & Tecnologia é sem-
pre legal. Quando isso acontece, significa que nós vamos verdadei- Foto de capa: ligia diniz
ramente “mergulhar” num produto para entender cada detalhe dele.
Entender sua magia. O que há de interessante e de novo? De inespe- RedaÇÃo
rado? De negativo? O que ele faz e deixa de fazer? Como funciona? Marcio teixeira - marcio@musitec.com.br
Tem a durabilidade como aliada? Depois da análise completa e com Rodrigo sabatinelli - rodrigo@musitec.com.br
todas essas informações – de credibilidade, fornecidas por um es- redacao@musitec.com.br
pecialista – em mãos, passamos de primeira para você. E se você se cartas@musitec.com.br
encontrar diante da possibilidade de adquirir ou locar o produto, por
exemplo, será bem mais fácil tomar uma decisão. Se o caixa estiver diReÇÃo de aRte e diagRaMaÇÃo
temporariamente baixo e o produto ficar apenas no seu mundo dos Client By - clientby.com.br
sonhos, pelo menos a imagem que você terá dele, depois de ler nossa Frederico adão e Caio César
análise, será bem realista.
Assinaturas
A capa desta AM&T 295 é a interface Focusrite 8PreX, topo da linha Karla silva
Clarett. Criada para ser utilizada em instalaçções permanentes, ela assinatura@musitec.com.br
conta com uma série de opções essenciais para um estúdio profissio-
nal, como filtros passa-altas para cada entrada e botões de inversão Distribuição: eric Brito
de fase. Nosso colaborador Lucas Ramos se debruçou sobre a interface
e chegou a um veredicto sobre ela, mas para saber qual foi, claro, vá Publicidade
lá na matéria. Não vou estragar a surpresa aqui. Mônica Moraes
monica@musitec.com.br
O Bloco das Poderosas, comandada pelo fenômeno Anitta no carnaval
carioca, de tanto que agitou e chamou gente, também tem destaque impressão: gráfica stamppa ltda.
nessa edição, bem como a décima-primeira parte da série Mixagem
Sem Segredos, de Fábio Henriques, na qual ele conta a história da mix Áudio Música & tecnologia
em discos ao longo dos tempos. É ler, viajar e aprender. No Notícias é uma publicação mensal da editora
do Front, Renato Muñoz, já há tanto tempo no comando do PA do Jota Música & tecnologia ltda,
Quest, abre o jogo e conta, com exclusividade, cinco coisas que você CgC 86936028/0001-50
precisa saber quando trabalha com uma banda. Imperdível. insc. mun. 01644696
insc. est. 84907529
No caderno L&C, a capa vai para a tour Cama Incendiada, dos mexi- Periodicidade Mensal
canos do Maná, na qual o conceito “industrial” foi a inspiração para
um grande espetáculo luminotécnico cujo rider é composto em sua assinatuRas
totalidade por aparelhos Clay Paky. Na seção Iluminando, o autor tel/Fax: (21) 2436-1825
e cinéfilo Rodrigo Horse propõe uma análise de cenas e técnicas de (21) 3435-0521
iluminação empregadas na sétima arte. O texto, leve e enriquece- Banco Bradesco
dor, merece sua atenção. ag. 1804-0 - c/c: 23011-1

Boa leitura! Website: www.musitec.com.br

Marcio Teixeira não é permitida a reprodução total ou


parcial das matérias publicadas nesta revista.

aM&t não se responsabiliza pelas opiniões


de seus colaboradores e nem pelo conteúdo
2 | áudio música e tecnologia dos anúncios veiculados.
áudio música e tecnologia | 3
34
Focusrite Clarett 8PreX 26 Mixagem
Mixagem sem segredos (Parte 11)
Principal modelo da linha de
Como chegamos até aqui
interfaces Clarett briga de igual Rodrigo sabatinelli
para igual com equipamentos
bem mais caros 40 Folia Poderosa
anitta estreia seu bloco na “ressaca”
lucas Ramos
do carnaval carioca
Rodrigo sabatinelli

44 Desafiando a Lógica
Joias escondidas no logic (Parte 2)
14 Em Tempo Real
Kadu Melo
Compressor – Convertendo múltiplos
arquivos numa tacada só
Marcio teixeira andré Paixão

18 Notícias do Front
Cinco coisas que você precisa saber quando 64 Lugar da Verdade
afinal, de quantos efeitos uma mix
trabalha com uma banda realmente precisa?
Renato Muñoz enrico de Paoli

22 Plug-ins
nx – virtual Mix Room over Headphones
Proposta da Waves para mixagem com fones seções
Cristiano Moura
editorial 2 notícias de mercado 6
novos produtos 10 índice de anunciantes 63

52
capa
luz, Hermanos! – Maná cai na 58
estrada com rider Clay Paky
por Rodrigo sabatinelli
iluminando
análise da cena e das técnicas
de iluminação na sétima arte
por Rodrigo Horse

PRodutos .................................. 48

eM FoCo .................................... 50

4 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 5
nacionais de pró-áudio e showbusiness ainda
têm muito a evoluir

NOTÍCIAS de MeRCado

sHuRe inCoRPoRated ganHa

divulgação
PRÊMio de teCnologia e inovaÇÃo
A Polycom reconheceu seus principais parceiros com seu Prêmio Círculo de
Excelência 2015 durante o TEAM Polycom 2016, conferência da empresa rea-
lizada em janeiro em Nashville, Tennessee. Os homenageados se destacaram
na incorporação de soluções e serviços de valor agregado que criam valor
duradouro aos clientes. E a Shure Incorporated, fabricante de microfones e
aparelhos de áudio, foi nomeada ganhadora do Prêmio Anual Polycom Parceiro
de Tecnologia de Inovação.

“Nós valorizamos muito nossa parceria com a Polycom, e estamos muito or-
gulhosos por termos conquistado este prêmio”, disse Chad Wiggins, diretor de
categoria da Shure, empresa que é parte da Rede de Parceria da Polycom, que
conta com 7 mil membros. “O prêmio reforça ainda mais esta parceria e sina-
liza aos nossos clientes que a experiência de áudio de alto nível fornecida pela
Microflex Wireless pode se integrar totalmente com a infraestrutura Polycom
UC&C.” Já Chris Jones, parceiro mundial da Polycom Américas, Vendas e Orga- Tim O’Neil (à esquerda), diretor da
nização, destacou que é fundamental para a Polycom ter um parceiro como a Polycom, entrega o prêmio a Michael
Shure, “capaz de atender todas as necessidades de nossos clientes empresa- Moore, especialista de desenvolvimento de
riais com soluções inovadoras”, afirmou. mercado da Shure Incorporated

MiCRoFones e sisteMas seM Fio


sHuRe eM destaQue no gRaMMY
Da abertura ao encerramento do evento, os microfones e sistemas sem fio Shure desempenharam um papel importante na
produção do Grammy Awards 2016. O microfone do anfitrião LL Cool J foi o novo Shure KSM8 Dualdyne, que, lançado no Brasil
em janeiro, foi escolhido após a sugestão de Michael Abbott, coordenador de áudio do espetáculo. O KSM8 foi também a cáp-
sula de microfone preferida três apresentações ao vivo: Tori Kelly (dueto com James Bay), Hollywood Vampires (para Johnny
Depp e Duff McKagan) e três integrantes do grupo Little Big Town.

Há 50 anos no mercado, o SM58 foi utilizado com diversos trans-


divulgação

missores UHF-R portáteis. Microfones SM58 com cabo foram utili-


zados por todos os backing vocals do Eagles em sua homenagem
a Glenn Frey; por Gary Clark Jr. e pelo vencedor do prêmio Melhor
Artista Revelação Chris Stapleton durante o tributo a B.B. King;
e por Robin Thicke no encerramento. Os sistemas UHF-R, como
Axient, tiveram uma presença quase constante no palco. Quanto
aos monitores in-ear, ainda que os músicos usem sempre seus pró-
prios fones de ouvido, todos os sistemas in-ear sem fio utilizados
no evento foram Shure PSM 1000s, fornecidos pela ATK Audiotek.

“É sempre muito bom ver tantos artistas escolhendo os micro-


fones e sistemas sem fio Shure para suas apresentações no
Grammy Awards”, comentou Cory Lorentz, gerente de relaciona-
mento com artistas da Shure. “Da mesma forma, para nós é uma
Duff McKagan e Alice Cooper, do honra ver tantos de nossos produtos escolhidos uma vez mais
Hollywood Vampires: alguns dos nomes pela equipe de produção para atuarem em funções tão essenciais
que contaram com microfones Shure de uma transmissão ao vivo dessa magnitude.”

6 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 7
NOTÍCIAS de MeRCado

avid venue s6l na estRada CoM o duRan duRan


A Avid anunciou durante a NAMM 2016, realizada em

divulgação
Anaheim, CA, EUA, que Charles Bradley, um importan-
te engenheiro de som ao vivo que mixou monitores
para artistas como Annie Lennox, Shakira, Snow Pa-
trol, Robbie Williams, entre outros, utilizou recente-
mente um sistema Avid Venue S6L na recente turnê
Paper Gods, do Duran Duran. Com alta capacidade de
processamento, operação touchscreen moderna e flu-
xos de trabalho Venue já conhecidos pelos usuários, o
S6L, de acordo com Bradley, ofereceu a ele o poder e a
flexibilidade que buscava para as mixagens da banda.

“O Venue S6L proporciona um excelente som ao vivo.


Ele é muito rico e profundo. A banda notou a diferen-
ça imediatamente. Assim que fomos para os ensaios no
primeiro dia, John Taylor, baixista, virou-se e disse: ‘que Charles Bradley e o S6L: “a banda
som incrível!’”, disse Bradley. notou a diferença”, destacou o técnico

Segundo o técnico, o S6L possibilitou que ele realizasse mixagens de monitores intra-auriculares, mixagens de backline e
muito mais com maior facilidade, além de ter acesso imediato a qualquer mixagem nos faders. “É realmente revigorante não
precisar pensar sobre ter saídas suficientes”, afirmou Bradley. “Sempre que alguém precisou de algo, a resposta foi sempre
sim. Poder entrar e sair diretamente do Pro Tools para o S6L e poder desmarcar alguns canais no modo ao vivo enquanto você
ainda está no modo de reprodução é algo incrível”, concluiu o técnico.

Mais uM “Beatle” se vai: MoRReu geoRge MaRtin


Morreu no dia 8 de março, aos 90 anos, George Martin, produtor que descobriu e trabalhou com os Beatles durante
quase toda a carreira do grupo. Martin morreu em sua residência e a causa não foi divulgada. A família do produtor,
em comunicado, agradeceu aos fãs pelos “pensamentos, orações e
Wiki images

mensagens de apoio”. Em sua conta no Twitter, o baterista Ringo Starr


lamentou a morte do amigo, que produziu mais de 700 álbuns em sua
carreira. “Deus abençoe George Martin. Paz e amor para Judy e sua
família”, escreveu o músico.

Considerado “o quinto beatle” por sua importância na história do grupo,


George Martin tinha a tarefa, muitas vezes nada fácil, de transformar as
ideias musicais e sônicas dos garotos de Liverpool em realidade. Nos livros
Paz Amor e Sgt. Pepper e All You Need Is Ear fica clara a sensibilidade
pura e o gigantesco conhecimento técnico de Martin, essenciais para a
obra do quarteto. E quando métodos tradicionais não resultavam no que
George e a banda buscavam, o produtor não pensava duas vezes antes
de lançar mão de gambiarras revolucionárias. For The Bennefit Of Mr.
Kite e Tomorrow Never Knows são apenas dois exemplos de músicas que
nunca seriam o que são se não fosse pela genialidade de Sir George Henry
Martin, que, também músico, deixou sua marca em arranjos como os dos
Martin no estúdio, entre seus pupilos:
o “quinto beatle” partiu clássicos A Day In The Life e Yesterday.

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áudio música e tecnologia | 9
NOVOS PRodutos

PotÊnCia e leveZa na nova R3 Multi-Flex


Apresentada pela primeira vez com a Série Nano em 2014, kg e AC universal com PFC tolerante a até 420 Vac, a R3
a tecnologia MultiFlex, da fabricante paulista Next Pro, que Multi-Flex resume em 2U/rack justamente o que a Next Pro
permite entregar a potência nominal em praticamente qual- destaca ser uma verdadeira quebra de paradigmas dentro
quer impedância, logo se estendeu à Série Pro-R, tornando-se da tecnologia sônica.
o maior expoente da “revolução tecnológica” prometida pela
empresa desde a sua fundação.
www.amplificadoresnextpro.com.br

Estendendo as capacidades multifuncionais da Série Pro-R


a novos níveis, a nova R3 Multi-Flex não apenas aumentou

divulgação
a sua potência em 2Ω, mas disponibilizou a sua potência
nominal também em 4Ω, tornando o acerto de impedâncias
coisa do passado. Tudo isso sem afetar a sua qualidade de
áudio. Com potência Flex máxima de 3600 W em apenas 6

teCnologia BluetootH na nova linHa JBl Js-Bt


A Harman do Brasil apresentou a nova linha JS-BT, da JBL, uma das marcas líderes mundiais em
áudio. As caixas contam entradas USB com a função Folder Search, que torna possível acessar mú-
sicas em diferentes pastas, além de entrada SD. A grande inovação presente nos lançamentos fica
por conta da tecnologia bluetooth, que oferece novas possibilidades de uso às caixas, destinadas a
atender a músicos, bares, restaurantes, pequenas festas e templos religiosos.

O design da linha JBL JS-BT é, de acordo com a fabricante, exclusivo no segmento caixas plásticas
e oferece versatilidade em quatro modelos: JS 8 BT, JS 10 BT, JS 12 BT e JS 15 BT, sendo indica-
divulgação

dos também para usuários que necessitem de um equipamento que una bom desempenho com
potência e recursos técnicos.

www.jbl.com
www.jblaudio.com.br

novos ContRoladoRes na linHa KoRg nanoseRies


Em 2008, ao lançar os primeiros controladores da sua nanoSeries a Korg iniciou uma nova categoria de produtos, e, de lá para
cá, muitas empresas entraram no páreo com teclados MIDI ultraportáteis. Agora, a Korg apresenta os novos nanoKey Studio e
nanoKontrol Studio, que prometem aumentar ainda mais o nível no segmento.

O nanaKey Studio conta com 25 teclas iluminadas sensíveis à velocidade. A iluminação nas teclas é útil principalmente para o modo Scale
Guide, no qual as notas recomendadas acendem para facilitar
a performance. Outra função em destaque é a Easy Scale, que
permite ao músico criar frases utilizando qualquer tecla.

Enquanto o nanoKey se destaca na criação de músicas, o


nanoKontrol Studio tem foco maior na mixagem, oferecendo
oito canais de faders, knobs e botões. Ambos os controlado-
res são compatíveis com PC, Mac e iOS, podem ser plugados
via cabo USB ou Bluetooth 4.0 e contam com uma variedade
de softwares de produção.
divulgação

www.korg.com.br
www.pridemusic.com.br

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áudio música e tecnologia | 11
NOVOS PRodutos

Caixa aCÚstiCa saMson auRo x15d

divulgação
Os elementos de potência, precisão e valor, de acordo com a Samson, foram inspira-
dores para a caixa ativa de duas vias Auro X15D. Leve e resistente, esta caixa acústica
possui 1.000 watts de potência e tecnologia R.A.M.P. própria da Samson através de um
DSP processando o áudio “full-range” em alta definição para todos os níveis de volume.

O Auro X15D é uma solução de caixa acústica versátil para músicos da estrada, DJs e
profissionais de som ao vivo. Conta com alto-falante de 15” (faixa estendida nos graves),
driver de titanium 1.34” (34mm), tecnologia DSP Samson R.A.M.P.(Reactive Alignment/
Maximum Protection), duas entradas para conectores combo XLR-1/4” com controle inde-
pendente de volume, chave seletora Mic/Line (Canal 1), volume master com indicador de pico,
EQ de três posições e presets de HFP (filtro passa-alta) e saída XLR para link com outras caixas. Compacta, é feita em material de alta re-
sistência, com grade de metal para proteção do falante e driver, duas alças grandes e ergonômicas e encaixe para suporte integrado 1 3/8”.

www.samsontech.com
www.equipo.com.br

oveRsound aPResenta Modelos


A Oversound recentemente apresentou três novos modelos de baixa distorção harmônica e excelente linearidade de até
sua linha profissional: SUB 800 (foto), MG 12-400 e DTI 3KHz, sendo desenvolvido especialmente para aplica-
3850. O SUB 800 é um subwoofer de alta potência que ções em sistemas de alta performance em que se
possui bobina móvel especial de 4” com enrolamento (in/ requer o máximo em potência, qualidade e fideli-
out) desenvolvido para atuar em respostas de baixa fre- dade na resposta de médio-grave. Por fim, o DTI
quência. Possui sistema de ventilação central e lateral 3850 é um driver de compressão para respos-
que permite uma eficiente dissipação térmica. Utiliza ta de alta frequência, desenvolvido com dia-
cone especial de celulose com fibra e sistema móvel fragma tipo domo em titânio, bobina CCAR
de alta compliância e resistência para suportar in- com 3″ de diâmetro e circuito magnético de
tensa pressão sonora, sendo especialmente indicado grande força. Apresenta alta sensibilidade e
para uso em caixas de subgrave e grave. grande eficiência na resposta de médias e
divulgação

altas frequências com resposta linear, ofe-


Já o MG-12400 é um médio-grave de 12” profissio- recendo duas opções de garganta: 2″ com a
nal com alta potência, conjunto magnético de alto tampa inferior e 1 1/2″ sem a tampa.
fluxo, bobina móvel com fio chato e diâmetro de
4″. Tem alta eficiência na resposta de frequência com www.oversound.com.br

staRstReaM tYPe-1: sons de outRos


instRuMentos na nova guitaRRa vox
Entre as novidades apresentadas pela Vox no começo deste ano está uma em que a marca busca redefinir a guitarra elétrica e
o que é possível fazer com ela: a Starstream Type-1, instrumento que oferece ampla gama de sons, incluindo guitarra elétrica,
acústica, synth e outros instrumentos de corda.

A ideia é levar novas possibilidades para o músico que toca em bandas ou estúdio,
divulgação

colocando todo o controle do som em seus dedos. Para isso, o modelo conta com
o sistema Areos-D, que integra vários elementos essenciais, incluindo captadores
magnéticos para sons clássicos e os captadores piezo para acústicos. O modelo con-
ta ainda com formato confortável, com braço que garante acesso às casas e corpo
que oferece um tom quente e ressonante. Para quem gosta de variedade em cores,
a Vox oferece cinco opções: preto, vermelho, frame black, frame white e frame red.

www.voxamps.com
www.voxamps.com.br
12 | áudio música e tecnologia
áudio música e tecnologia | 13
divulgação
eM teMPo Real | Marcio teixeira

K
adu Melo já nem atende mais
quando o chamam de Carlos
Eduardo. O nome pelo qual o
pessoal do áudio conhece o técnico

Kadu
já merece parênteses em sua
identidade. “Kadu é tão forte”, diz
ele, “que a diretora da escola não
sabia o meu nome. Até na chamada
meu nome era Kadu”, recorda ele,
que, apesar dos 38 anos e muito
tempo de trabalho, afirma ter o

Melo
vigor de um iniciante. “Atualmente
tenho 38, mas há controvérsias... O
‘hardware’ parece bem mais antigo,
a estrada acaba com a gente, mas
o ‘software’ faz eu me sentir muito
mais novo, graças a Deus”, observa
ele, bem humorado.

Marcus Vinicius, tio do técnico, além de audiófilo, tinha Mafalda Minnozzi e Grupo Sensação, tendo trabalhado no
seu lado “Professor Pardal”. Construía amplificadores e PA deste último por quase um ano, além de também ter
caixas acústicas, e o jovem Kadu amava ouvir Pink Floyd feito monitor. “Com o reencontro do grupo em sua for-
na casa do parente. “Eu queria muito viver mais momen- mação original, o desafio era constante nos quatro shows
tos ouvindo aquele áudio cheio e envolvente, além de de- por noite, sem passagem de som”, recorda. Kadu também
sejar entender o porquê disso tudo soar tão mágico na trabalhou com a dupla Pedro & Thiago, para depois cuidar
casa dele, mas não em outros lugares”, recorda. Seu pai, do monitor de Fiuk (“todos com fone, backline próprio e
que sempre o incentivou quando o assunto era música,
bateria afinada – cheguei ao paraíso!”, diz ele, sorriden-
era comerciante, não sendo difícil haver rodas de samba
te) e de John Kip. De repente, surgiu a oportunidade de
ou a presença de um sistema caseiro para tocar samba
mixar o monitor de Jorge Ben Jor. “Esse, sim, era o de-
rock em seu estabelecimento.
safio dos palcos que eu esperei a vida toda. Cresci muito
com esse artista consagrado da música mundial”, pontua
“Eu prestava atenção em como o humor das pessoas mudava
quando ouviam música, especialmente em um bom sistema”, Kadu, que há três anos realiza outro sonho: fazer o PA de

destaca Kadu, que ali já se conectava ao que seria sua carrei- Fabio Jr. “Tive que estudar muito. Imagem sonora, plano
ra. “Na colação de grau da minha irmã Debora Cristina vi um de mixagens, alinhamento de sistemas... Tudo para estar
sistema simples, com duas colunas de caixas acústicas e um a altura desse cantor incrível!”
rack com crossover e amplificadores. Disse ao meu cunhado
Pithy, que é músico: ‘Está vendo isso? Eu quero fazer isso Perguntado sobre o que é necessário para ser um bom
e entender o porquê das coisas funcionarem assim. Quero profissional e fazer seu trabalho com excelência, Kadu
saber tudo o que puder sobre sistemas de som.’ Essa frase é destaca o valor do estudo e revela uma de suas fontes de
sempre lembrada por ele.” conhecimento. “Sempre soube que deveria estudar mui-
to, que a leitura deveria se tornar uma paixão. Quando,
Na área, Kadu começou mixando ensaios de bandas de ainda garoto, descobri a revista AM&T em uma livraria.
garagem, e quando foi fazer um pequeno festival para uma
Abri um sorriso como se estivesse ganhando um auto-
delas, se deparou com a empresa Tukasom. “No sistema
rama. Eu deixava de gastar dinheiro com passagens de
deles tinha um console DDA de monitor, e eu nem sabia
ônibus para juntar o valor da revista, e comprar mais uma
que existia uma mesa de monitor e outra para PA. Graças
edição era como ir ao shopping.”
à minha vontade de aprender, o Claudinho Rodrigues, res-
ponsável pelo sistema na época, me convidou para traba-
Sobre o futuro, Kadu, que hoje também atua como enge-
lhar com ele. Então, tive a oportunidade de entrar nessa
empresa enorme, na qual atuei por dez anos. Sem dúvida, nheiro de negócios na América Latina para a Allen & Heath,
foi a minha melhor faculdade de áudio, com direito a pós- afirma que deseja compreender a tecnologia de forma mais
-graduação”, afirma o técnico, que também trabalhou na profunda, bem como o mundo dos negócios, além de ampliar
Waves Control, Piu Som e Muzik Produções. conhecimentos em idiomas como inglês e espanhol. “São
motivos de sobra para entender que os meus horários livres
Entre os artistas com os quais atuou estão a Bamdamel, estão cada vez mais escassos”, concluiu.

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áudio música e tecnologia | 15
eM teMPo Real

Bate-Bola
Console: Mesmo se hoje eu não trabalhasse mais na Al- SPL alto ou baixo? Por que? Mixo em lugares fechados
len & Heath, continuaria a escolher o DLive como meu em torno de 103 dB SPL-C e em locais aberto em torno de
console número um. 112 dB SPL-C. Se formos estudar a tabela de exposição,
esse nível de SPL é alto, mas para o padrão e modo de
Microfones: Há pouco trabalhei com o dFactor, da DPA, vida dos brasileiros isso é baixo. Quando realizo a minha
e foi amor a primeira vista. Sonho em adicionar ao set da mixagem “baixa”, deixo um bom headroom para a dinâ-
tour o MD 421, o MD 441 e um casal de AKG C 414. O mica da banda e consigo ter mais espaço para os timbres.
KSM 9 da Shure pra voz também é um guerreiro. Ainda É inevitável que em algum momento da mix você tenha
terei a experiência de trabalhar com um SM7 somado a que escolher entre SPL e qualidade, pois tudo tem limite.
um C 414 em um amplificador de guitarra. Com o artista que trabalho hoje a minha escolha sempre
será pela qualidade.
Periféricos: Tenho duas máquinas de reverb da Lexicon
montadas em um rack aguardando a hora de ir para es- Melhor posicionamento da house mix: Assunto tris-
trada. Hoje, com o dLive ou um iLive, eu não sinto falta te esse (risos). Com sistemas cada vez mais compactos,
delas, mas ter esse backup, para mim, é um luxo! custa deixar dois metros quadrados para a house mix?
Arrastar uma mesa um metro para a esquerda e outra
Melhor equipamento que já usou: Posso escrever um metro para a direita, mas garantir a qualidade do
um livro sobre isso... (risos) Mixar em um V-Dosc (L-
espetáculo, é tão difícil assim? Nossa cultura não enxerga
-Acoustics) é algo para você nunca mais esquecer, assim
qualidade como parte do lucro dos negócios.
como foi com o Milo (Meyer Sound), no Credicard Hall.
Recentemente fui apresentado ao sistema VUE Audiote-
Unidades móveis: mix2Go e ENG Audio
chnik e usei o al4, estupidamente compacto. Fiquei de
boca aberta.
Técnicos inspiração: Ernani Napolitano, padrinho e
eterno professor, e Clement Zular, “Deus” de todas as
Última grande novidade do mercado: O dLive. O pro-
informações. O Bruno Campregher e Luizinho Clement,
tocolo Dante me fascina também.
do Jota Quest; Marcelo Salvador, Antonio Minami, Mauri-
cio Pinto, Jaksandro, Beto Neves, Rabaço, Flavio Senna,
Melhores casas de shows do Brasil: Gosto do Tom
Rodrigo Pimentel, Marcio Torres e o incrível Ronaldo Lima
Brasil e do Credicard Hall, mas tenho um carinho enorme
Valentim são, sem dúvida nenhuma, fonte de inspiração.
pelo Crevrolet Hall, em Minas Gerais, fora o respeito pelo
Além do respeito que tenho por eles, vejo uma busca por
sistema da Loudness, administrado pelo o Jair e alinhado
uma mix melhor a cada dia, com seriedade e respeito.
pelo Berruga.
Isso é lindo e prazeroso de se ver – e ouvir (risos).

Melhores companheiros de estrada: Fernando Pari-


Sonhos na profissão (1. a realizar 2. já realizado):
zotto, o Pardal, engenheiro de monitor do Fabio Jr. há
1. Viajar com um sistema de nove elementos de VUE al8
mais de dez anos. Sempre que preciso de ajuda, é só
seguir o que ele fala que diminuo meus problemas em (por lado do PA). 2. Poder ensinar alguma coisa ao pró-
90%. Outro grande companheiro é o Smaart7, que é, no ximo. Trabalhar para a Allen & Heath e conhecer outros
mínimo, obrigatório pra mim. países também é algo que faz com que eu dobre meus
joelhos, reze e agradeça muito.
Melhor sistema de som: Tecnologias como as da d&b,
Meyer Sound, JBL, VUE e L-Acoustics, que através de Dicas para iniciantes: Abra a sua mente. Procure
software e uma plataforma de gerenciamento faz com que conhecer a maior gama de equipamentos possível.
o sistema como um todo seja inteligente, rápido e seguro. Respeite a opinião dos que têm mais tempo de estrada
e crie a sua própria opinião sobre os equipamentos e
Equipamento: Acordar e entrar no site da Meyer Sound conceitos de mixagens. Estudar uma segunda língua,
para namorar um Galileo é coisa normal na minha vida... sistemas de rede e TI fará com que você tenha mais
(risos) Sou fã incondicional desse processador. conhecimento e tome decisões a partir de uma base
mais sólida. Estude música, mas caso não tenha dom
Plug-in: Apesar de novato no mundo dos plug-ins, o para tocar nenhum instrumentos, ouça muita, mas
H-EQ Hybrid Equalizer, com o qual posso mexer com muita música! De todos os gêneros. Aprenda a gos-
a imagem sonora em uma faixa de frequência, é um tar de ler e prestigie os veículos que temos em nosso
que me atrai. país. A leitura amplia os horizontes.

16 | áudio música e tecnologia


notÍCias do FRont | Renato Muñoz

CiNCo Coisas Que VoCÊ


preCisa saBer QuaNdo
traBalHa CoM uMa BaNda
1. o Que É uMa Boa MiXaGeM?

Wiki images
E
sta será uma pergunta eterna na cabeça de quem
mixa ao vivo – quando está bom e quando não
está? Se para o técnico está bom, estará bom para
todo mundo? O que o empresário ou produtor da banda
acham é importante? O que a plateia acha da mixagem
deve ser levado em consideração pelo técnico? E o que os
amigos dos músicos acham da mixagem deve ser levado
em consideração?

O técnico que está mixando deve sair da house mix para


ouvir outros lugares dentro do ambiente ou ele deve ficar
totalmente focado na mixagem? Ele deve aceitar críticas
de quem está na plateia ou só o que ele pensa está corre-
to? O técnico do sistema tem alguma influência nas deci-
sões do técnico da banda? O técnico de monitor deve ser
ouvido? Em quem ele deve confiar?

Você conhece bem o som dos instrumentos que está


mixando? Você sabe como conseguir os timbres que
os músicos estão tirando no palco? Você conhece bem
este estilo musical? Você conhece bem os equipamen- Existem várias precauções que devemos considerar antes
tos que escolheu para trabalhar? Você se acha pronto mesmo de pensarmos na parte técnica do nosso trabalho
para fazer esta mixagem? Quem são os técnicos que te
inspiraram no seu trabalho? 2. o Que serÁ Captado?
Em relação às músicas que estão sendo tocadas, você Antes mesmos de pensarmos em qual console iremos uti-
conhece os andamentos? Conhece os tons de cada uma lizar, quais caixas usaremos para o sistema de sonoriza-
delas? Consegue identificar se algum instrumento está ção e, principalmente, quais microfones lançaremos mão
desafinado? Sabe o que fazer se isto acontecer? Um ins- no trabalho, o mais importante de tudo é conhecermos os
trumento desafinado deve continuar na mixagem ou deve instrumentos que fazem parte do backline da banda. De-
ser escondido? Você tem uma comunicação direta com o vemos entender como eles emitem o som e como é a sua
técnico de monitor ou com os roadies no palco? sonoridade individual e dentro da própria banda.

Estas são apenas algumas das perguntas que eu me faço A melhor maneira de fazermos isto é conversando com
toda vez que estou indo para a house mix começar a cada um dos músicos e pedindo informações sobre os
trabalhar. Acho que ter uma boa resposta para cada uma respectivos instrumentos, assim como pedir para que
destas perguntas pode ajudar no trabalho de mixagem. eles toquem um poucos de cada um de seus instru-
A má notícia é que este trabalho nunca será uma ciência mentos. Só desta forma nós poderemos entender como
exata, ou seja, nunca conseguiremos saber o que é uma funcionam e como soam os instrumentos musicais que
boa mixagem ou uma mixagem que todos gostem. serão utilizados.

18 | áudio música e tecnologia


Este também é um bom momento para conversar com os depois mixados. Se você não trabalha regularmente com
músicos sobre timbres, equalizações, posicionamento dos a banda que você irá mixar, é muito importante que se
microfones e outros detalhes que possam facilitar o seu mantenha atualizado sobre a sonoridade dos instrumen-
trabalho. Muitas vezes os músicos não possuem um for- tos no palco. Se é uma banda com a qual você nunca
mação técnica para passar informações mais detalhadas, trabalhou, isto é mais importante ainda.
e o profissional do som deve estar preparado para fazer a
tradução do “musical” para o “técnico”. Partindo do pressuposto de que você já conhece toda a
sonoridade da banda, agora devemos passar para a se-
Neste momento o técnico deve começar a pensar nas gunda etapa, que é conhecer perfeitamente como são as
marcas e modelos de microfones que se adequam mais músicas que serão tocadas. Devemos saber, por exemplo,
a alguns instrumentos, além de questões básicas como qual o andamento da música (para facilitar a aplicação
resposta de frequência ou figura de captação. Alguns téc- de efeitos) e quais são os instrumentos que tocam e não
nicos muitas vezes gostam de optar por microfones me- tocam (para saber o que ficará ligado ou desligado).
nores, que são mais fáceis de se manipular e posicionar,
sem, é claro, perder a qualidade sonora. Além disso, os solos, é claro, são muito importantes. Não
podemos deixar que um momento tão importante passe
Agora já podemos fazer um input list que irá nos ajudar despercebido. Trabalhando com a banda sabemos exata-
a definir os microfones e marcar a posição dos instru- mente quando os músicos irão fazer algum tipo de dinâ-
mentos no palco, e finalmente poderemos pensar no mica ou quando nós, que estamos mixando, devemos fa-
console de mixagem e na quantidade de canais que ire- zer isso. Quando haverá momentos de maior intensidade,
mos utilizar. Neste ponto do trabalho deve existir uma que deverão ser ressaltados ou atenuados?
boa interação entre os técnicos de PA e monitor para
que as escolhas sejam bem aceitas pelos profissionais Isto só se aprende conhecendo profundamente as músicas
envolvidos. que serão tocadas pela banda. Este conhecimento só vem
através de ensaios ou shows. Depois de um certo tempo tra-
3. o Que serÁ MiXado? balhando com uma banda, muito técnicos já sabem exata-
mente o que deve ser feito durante a mixagem e o trabalho
No parágrafo anterior eu falei sobre a importância de se fica automático (e, muitas vezes, tedioso!). Músicas novas
conhecer o som dos instrumentos que serão captados e sempre são bem-vindas para mudar um pouco a rotina.

Muitos técnicos fazem anotações do que irá acon-


tecer durante cada música (solos, canais abertos e
fechados, trocas de efeitos...). Hoje, com a popula-
rização dos consoles digitais e, principalmente, da
automação (que, infelizmente, ainda é ignorada por
alguns), os movimentos de mixagem foram muito
simplificados, o que queixa o técnico mais focado
apenas na mixagem em si.

4. esColHeNdo o CoNsole
de MiXaGeM (diGital)
Supondo que isto seja uma realidade e você possa
escolher exatamente qual o console digital usará
para este trabalho, quais são os pontos que devem
ser levados em consideração?

- Quantos canais de entrada serão necessários?


A escolha dos microfones deve ser feita em - Quantos canais de saída serão necessários?
conjunto entre o técnico de PA e técnico de monitor - Com qual resolução que você gostaria de traba-

áudio música e tecnologia | 19


notÍCias do FRont

e a escolha destes equipamentos deve ser feita


Renato Muñoz

de acordo com as reais necessidades da situação


em questão.

Muitos técnicos possuem equipamentos preferen-


ciais. Muitos, como eu mesmo, preferem utilizar
sempre o mesmo console, por exemplo. Isto aju-
da a ter um maior domínio sobre o equipamento, o
que facilita o trabalho, mas devemos ficar atentos
para não ignorar totalmente a existência de outros,
senão corremos o risco de não conseguir trabalhar
com outras marcas e modelos.

5. esColHeNdo o pa e
suas suBdiVisÕes
São poucos os artistas brasileiros que têm o privilé-
gio de poder fazer os seus shows levando todo o seu
equipamento de áudio, luz e vídeo, como acontece
A automação livra o técnico de funções com bandas de médio e grande portes nos Estados
secundárias dentro da mixagem, deixando-o Unidos e em alguns países da Europa. Na verdade, aqui
focado no aspecto mais importante no nosso país estas bandas não passam de cinco ou seis.
Isto acontece principalmente por conta dos custos e das
lhar? (44.1, 48 ou 96 kHz?) nossas dimensões.
- Quanto de processamento interno será necessário?
O fato não impede, porém, que os técnicos das bandas
Estas serão as perguntas básicas e técnicas que levarão escolham com quais sistemas eles gostariam de trabalhar.
à escolha do console, mas ainda existem outros pontos Dependendo do tamanho e importância (mercadológica)
importantes, como confiabilidade no equipamento, ta- desta banda ou artista, este técnico terá uma maior ou
manho e mobilidade, suporte técnico adequado, facilida- menor capacidade de escolha, e também, é claro, de ser
de de encontrar o equipamentos nas locadoras de áudio, atendido. Desta forma, os shows dos artistas de médio e
qualidade dos periféricos de efeitos e pro-
cessadores de sinal de áudio (equalizadores,

divulgação
compressores, gates, expanders etc.).

Nem sempre o equipamento mais caro e


mais na moda irá se encaixar nas necessi-
dades do trabalho. Equipamentos superdi-
mensionados podem se transformar em uma
grande dor de cabeça para técnicos menos
experientes. Devemos ficar atentos para
que nossas escolhas não atrapalhem mais
do que ajudem no processo de mixagem.

É um dever básico do técnico conhecer


todos os equipamentos de áudio com os
quais ele irá interagir diretamente. O téc-
nico deve conhecer não só os consoles,
como também todos os outros equipamen-
tos envolvidos no sistema de sonorização,

Alguns consoles de grande porte fornecidos


pelas empresas de sonorização no Brasil

20 | áudio música e tecnologia


Um sistema muito subdividido pode se tornar uma grande dor de cabeça

grande portes podem ser muito bem sonorizados.

Existem, pelo Brasil afora, diversas empresas de sonorização que têm


total capacidade de atender artistas de diversos portes, então o técnico
deve estar preparado para fazer escolhas dentro da realidade do seu
artista e também dentro da realidade do mercado. Ninguém melhor do
que o técnico da banda e o técnico do sistema para, em conjunto, faze-
rem a escolha do tal sistema.

Quando o técnico da banda pensa em um sistema, ele deve ter na


cabeça duas coisas: um sistema mais dividido (PA, outer, front, sub
separado, center e delay) deverá certamente produzir uma cobertura
sonora mais adequada ao ambiente, porém, por outro lado, esta subdi-
visão irá necessitar de uma atenção redobrada durante a sua instalação
e o seu alinhamento.

Bons técnicos de sistema ajudam nesta etapa do trabalho. Este pro-


fissional (na teoria) conhece bem o equipamento da empresa (sabe
como fazer a sua instalação e alinhamento) e, principalmente, já
deve ter feito uma visita técnica prévia para conhecer o local do
evento. Então, o conhecimento do técnico da banda (necessidades
da banda) e o técnico da empresa (necessidades do local) são funda-
mentais para um bom trabalho. •

Renato Muñoz é formado em Comunicação social e atua como instrutor do


iateC e técnico de gravação e Pa. iniciou sua carreira em 1990 e desde 2003
trabalha com o skank. e-mail: renatomunoz@musitec.com.br

áudio música e tecnologia | 21


Plug-ins | Cristiano Moura

NX - Virtual
Mix Room over
Headphones
Proposta da Waves para mixagem com fones

F
one de ouvido é um recurso que divide opi- muitos casos, a mix foi feita em um estúdio apropria-
niões quando o assunto é mixagem. Muitos do, mas em cima da hora o cliente pediu mais uma
consideram inadequado por diversos mo- modificação... É o tipo de situação que pede que você
tivos, e entre os principais estão o fato de não envie os ajustes de onde estiver.
levarem em consideração a acústica da sala e a
separação “perfeita demais” do L e R no ouvi- Pensando nisso, a Waves lançou o plug-in Nx, que
do esquerdo e direito, respectivamente. Mais que promete trazer para os fones os mesmos “efeitos co-
isso, também é comum ouvir frases como “os fo- laterais” de uma mix sendo executada em um par de
nes mentem muito”, mencionando as tecnologias caixas de som. Vamos entender mais um pouco sobre
e recursos utilizados para que pequenos fones de que efeitos colaterais são estes e como o plug-in pre-
ouvido sejam capazes de reproduzir graves pro- tende virtualizar estes efeitos.
fundos, por exemplo.

CONCEITO: O QUE FAZ


Mas a realidade é que diversos profissionais estão
cada vez mais se vendo obrigados a realizar partes
E O QUE NÃO FAZ O NX
da mixagem no avião, hotel ou na sala de casa. Em
Este não é um processador comum, então, antes de
começar, vamos entender do que
estamos falando.

O Nx não é um plug-in de si-


mulação de salas e nem uma
simulação de caixas. A Focus-
rite lançou no passado o VRM
Box, que fazia tudo isso, mas
esta não é a proposta do Wa-
ves Nx. Pense nele apenas
como um “compensador”, que
vai levar em conta as diferen-
ças acústicas existentes entre
ouvir uma música nos fones ou
em um ambiente com monito-
res de áudio.

Então, é importante entender


que não há milagres, não há

Fig. 1 – Diferença e distância entre ouvidos

22 | áudio música e tecnologia


mamos de som direto. Porém,
o som também atinge as pare-
des, seu teto, o chão e objetos
da sala, e boa parte, em algum
momento, vai ser refletida para
seu ouvido (fig. 2). E não tenha
dúvidas: o som refletido também
será assimilado com atraso (se
comparado ao som direto), com
resposta de frequência diferente
(por conta da absorção das pa-
redes) e também com diferença
de fase.

Por último, pense no que acontece


com o som quando você está de
fones e vira o pescoço... Nada, pois
Fig. 2 – Diferenças e reflexões os fones estão colados aos seus
ouvidos. Já com monitores sua posição vai influenciar.
correção, nem expectativas de solucionar ne- Mudar sua cadeira para a frente ou para trás ou virar o
nhum problema. pescoço vai influenciar na sua percepção (fig. 3).

DIFERENÇA ENTRE Então, tenha em mente que em um ambiente, o seu


FONES E MONITORES ouvido esquerdo, por exemplo, recebe som vindo da
caixa esquerda, da caixa direita e também das refle-
Imagine um sinal que foi direcionado 100% para o lado xões das paredes e objetos. Além do mais, sua posição
esquerdo da mixagem. No fone, o sinal será ouvido uni- influencia sua percepção sonora. E a função essencial
camente pelo seu ouvido esquerdo, certo? Porém, em do Nx é, então, virtualizar estas diferenças, fazer com
um ambiente não é bem assim. Em uma sala não há que uma pessoa com fones também possa trabalhar
o mesmo nível de isolamento, ou seja, o seu ouvido como se estivesse em uma sala com monitores de áu-
esquerdo também vai receber este som, ainda que em dio, se confrontando com diferenças citadas acima.
menor intensidade (fig. 1).
COMO USAR O NX PARA
Repare também que a distância que o som da caixa REPRODUZIR ESTAS DIFERENÇAS
esquerda tem que percorrer para atingir o ouvido di-
reito (seta azul) é maior do que a distância entre a O Nx é um plug-in para se inserir no master fader, no
caixa esquerda e o ouvido esquerdo (seta vermelha). último insert antes de seguir para as saídas. Com a
Por conta desta diferença, também haverá atraso na interface do plug-in aberta, automaticamente a Wa-
recepção e percepção do som por cada ouvido. ves apresenta seu sistema de detecção de movimen-
to da sua cabeça, que, através da webcam, conse-
Neste momento, as observações foram feitas ape- gue detectar seu rosto e capturar qualquer mudança
nas levando-se em consideração a distribuição das na posição dos seus ouvidos. Isto é para resolver a
caixas no ambiente e a distância entre nossos ou- questão dos seus movimentos com o pescoço ou po-
vidos, mas ainda temos mais um elemento que vai sição em relação às caixas.
interagir com o som, que é a própria sala.
Basta acionar na parte superior do plug-in a fun-
As setas vermelhas e azuis representam o que cha- ção “head tracking” que uma janela de tracking é

áudio música e tecnologia | 23


Plug-ins

Fig. 4 – Detector de movimento de cabeça

aberta e você poderá ver a detecção acontecendo tre seus ouvidos é usada para calcular o atraso. Isso
em tempo real (fig. 4). é feito na área inferior esquerda do plug-in, chamada
de “Head Modeling”.
Repare que no plug-in seus movimentos também
serão percebidos. E se você quiser a qualquer mo- Com uma fita métrica você vai tirar duas medi-
mento “zerar” sua posição, simulando estar senta- das: a primeira é a circunferência da sua cabeça
do exatamente entre as duas caixas, basta pressio- na altura da sua testa (fig. 5A). Feito isso, bas-
nar o botão “sweet spot”. ta digitar no campo “circumference”. A segunda
medida é entre um ouvido e outro, passando por
Também é essencial informá-lo sobre as dimensões da trás da sua cabeça (fig. 5B). Faça a medida e
sua cabeça. É fator determinante, pois a distância en- digite o valor no campo “inter-aural arc”.

CONFIGURANDO
REFLEXÕES
E POSIÇÃO DAS
CAIXAS
No campo Room Ambien-
ce podemos emular quão
reflexiva é a sala virtual
e qual é a nossa distân-
cia em relação às caixas
de som. Quanto maior o
valor, mais ambiência da
sala será percebida na in-
teração da sua mixes.

Já no campo Speaker Po-


sition os controles Front e
Rear estão relacionados à
distância entre os moni-

Fig. 3 – Mudando a cabeça de lugar

24 | áudio música e tecnologia


tores. A medida recomendada é de 60 graus, mas
nada lhe impede de emular uma distância um pouco
maior para simular um ambiente onde as caixas es-
tão mais distantes entre si.

FiNaliZaNdo
para eNtreGa
Importantíssimo! Lembre-se de que este plug-in está
alterando a sua mix, e não é isso o que você quer,
a princípio. Sua utilidade é emular através de fones,
como sua mix soaria em uma ambiente com caixas.
Então, não se esqueça de, antes de fazer a exportação/
bounce da sessão, colocar o plug-in em bypass.
Fig. 5 – Como fazer as
E, com isso, vamos ficando por aqui! Abraços e medidas da sua cabeça
até a próxima! •

Cristiano Moura é produtor musical e instrutor certificado da avid. atualmente leciona cursos oficiais em Pro tools, Waves,
sibelius e os treinamentos em mixagem na ProClass. também é professor da uFRJ, onde ministra as disciplinas edição de trilha
sonora, gravação e Mixagem de Áudio e elementos da linguagem Musical. email: cmoura@proclass.com.br

áudio música e tecnologia | 25


MixageM | Fábio Henriques

MiXaGeM
seM seGredos (parte 11)
Como chegamos até aqui

astrolabiomusic

D
ez anos atrás eu decidi, depois de muita in- Bom, estendendo um pouco o raciocínio, podemos
sistência de meus editores, falar sobre mi- dizer que mixar é o ato de combinar diversos ge-
xagem. Reconheço que havia um certo tabu radores sonoros simultâneos de forma que apre-
a respeito do assunto, inclusive de minha parte. sentem um resultado técnica e artisticamente agra-
Afinal, mixar sempre foi um processo bem miste- dável e enriquecedor. Se pensarmos dessa forma,
rioso, pois é, ao mesmo tempo, fundamentalmente o maestro de uma orquestra é o mixador, pois ele
técnico e altamente artístico. Houve uma época, in- equilibra diretamente o volume da execução de cada
clusive, em que o mixador precisava ser realmente instrumentista ou naipe para que a soma resulte.
hábil com a operação de equipamentos, exercitan- Afinal, um dos fatores mais interessantes da audição
do fisicamente sua criatividade. Mas pensemos um humana é o jeito como ela funciona.
pouco no que é, efetivamente, mixar.
Imaginemos que estamos ouvindo uma orquestra
Quem nasceu de uns vinte e poucos anos pra cá e um coral executando a nona de Beethoven ao ar
sempre conviveu com a etapa de mixagem sendo livre próximo a uma rua movimentada e bem embai-
algo natural do processo. Mas a gente poderia per- xo da rota de pouso de um aeroporto. Em dado mo-
guntar: por que existe a mixagem? Não é só todo mento a orquestra está executando a Ode à Alegria,
mundo tocar e pronto? Por que se valoriza tanto a com o coro cantando, enquanto na rua em frente os
etapa de mixagem, já que normalmente os músicos carros vão passando e, ao mesmo tempo, um avião
nem participam? está pousando. Quantas ondas sonoras estão sendo

26 | áudio música e tecnologia


sentidas pelos nossos ouvidos? Apenas uma, que é a lhão de cópias de uma mesma performance (Vesti La
soma vetorial de todas as ondas de todas essas fon- Giubba – http://tinyurl.com/caruso-giubba).
tes. A cada instante existe um valor de pressão tal
que o tímpano é empurrado para dentro ou puxado Depois, com a eletrônica entrando em campo, os
para fora, e a onda de pressão resultante é o resul- gravadores só gravavam a execução simultânea,
tado consecutivo de cada instante desses. Ou seja, e mesmo usando alguns microfones, se um músi-
o ouvido recebe uma mixagem dos sons ao nosso co errasse, a performance do conjunto precisava
redor o tempo inteiro. ser repetida. Até por volta de 1948 não havia gra-
vadores comerciais de fita, e a matriz era cortada
Portanto, “mixagem” é algo com que convivemos, “in loco”. Foi neste estilo de gravação que, por
mesmo que passivamente, o tempo todo. Porém, exemplo, Robert Johnson gravou em um quarto
nosso conceito de mixagem envolve a atuação de hotel em 1936 e entrou para a história (Ro-
direta sobre cada fonte geradora, analógica em bert Johnson, The Complete Recordings – http://
sua versão digital, de forma a chegarmos a um tinyurl.com/johnson-complete).
resultado desejado.
A FITA
O COMEÇO
Depois da chegada dos gravadores de fita, ainda
Isso, porém, é algo que nem sempre foi fácil. Nos pri- era necessário que todos os músicos tocassem
meiros tempos da gravação, quando não havia micro- juntos e o que se entende hoje como mixagem
fones (até 1925), a gravação era feita com todos os era feito durante a gravação, embora com recur-
músicos tocando em frente a uma corneta de capta- sos muito limitados. Reverbs, por exemplo, eram
ção acústica, e os músicos que tinham que ficar mais praticamente só da sala. E até o final de 1957 os
altos na “mix” ficavam perto da corneta, enquanto LPs eram mono, como o original de Nature Boy,
os que eram barulhentos demais ficavam lá pra trás, do Miles Davis (http://tinyurl.com/miles-nature).
na “cozinha”. Desse jeito foi que Enrico Caruso, em
1907, se tornou o primeiro artista a vender um mi- A partir daí o panorama começou a entrar na vida
dos profissionais de áudio, pois o
Wiki Images

estéreo apresentava dois canais


para a reprodução no lado do ouvin-
te. É dessa época a que considero a
melhor gravação de todos os tem-
pos, por sua naturalidade: Stardust,
de John Coltrane, gravada por Rudy
Van Gelder em 1958 (http://tinyurl.
com/coltrane-stardust).

MULTIPISTAS E OS
CONSOLES
EM EXPANSÃO
O início dos anos 1960 marca a che-
gada dos gravadores multipistas e
das técnicas “som sobre som”, ou
overdubs. Agora começa a ser pos-
sível que os músicos não gravem
todos juntos, e também se permite
Em 1907, Enrico Caruso se tornou o primeiro artista a vender a redução de pistas (grava-se em
um milhão de cópias de uma mesma performance. Quanto três, reduzindo-se – pré mixando –
Vesti La Giubba, foi gravada, ainda não existiam microfones. para uma e liberando as três para

áudio música e tecnologia | 27


MixageM

morizar e automatizar faders, e even-


Reprodução

tualmente se memorizar a posição de


alguns ou até mesmo todos os contro-
les dos consoles. O processo de mi-
xagem, agora dotado de ferramentas
mais poderosas, começa a ganhar des-
taque, e o Mixador, com M maiúsculo,
começa a aparecer.

Ao mesmo tempo, aparece aquilo que mu-


daria completamente o mundo do áudio: o
digital. A princípio, o sistema de gravação
ainda é em fita e caro, mas permitia que
se trabalhasse sem o chiado da fita analó-
gica, o que foi aclamado por muitos.

Provavelmente o primeiro álbum de


sucesso significativo gravado em uma
máquina digital foi Security, de Peter
Gabriel (1982), que, inclusive, usa-
va extensivamente o recém-aparecido
e caríssimo sampler Fairlight (I Have
The Complete Recordings, do lendário e misterioso The Touch, faixa do álbum Security –
Robert Johnson: toda a obra do músico foi gravada http://tinyurl.com/petergabriel-touch).
em uma única sessão, num quarto de hotel em
1936, com a matriz cortada “in loco”

Reprodução
novas gravações). Mesmo com isso o foco do que
se poderia chamar de mixagem ainda está do lado
da gravação, pela limitação de canais e recursos.
Um belo e clássico exemplo dessa época é certa-
mente A Day in the Life, dos Beatles, de janeiro de
1967 (http://tinyurl.com/beatles-a-day).

A década de 1970 viu o desenvolvimento de, por um


lado, gravadores multipistas de 16 e 24 pistas, e, do
outro, de consoles cada vez maiores, graças ao ad-
vento dos transistores e posteriormente dos circuitos
integrados. Nesta época, então, podemos considerar
que começou a mixagem tal como a conhecemos
hoje. A diferença básica é que de início não havia
como memorizar a posição dos faders e nem como
movimentá-los automaticamente, o que obrigava que
uma mixagem se iniciasse e terminasse no mesmo
dia, e que tipicamente houvesse várias pessoas en-
volvidas para executar os movimentos dos faders.

o surGiMeNto do diGital Blue Moods, álbum de Miles Davis


lançado em 1955: todos os registros
Na década de 1980 aparece a capacidade de me- até o fim de 1957 eram mono

28 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 29
Mixagem

te mixado in-the-box foi


Wiki Images

Catavento e Girassol, de
Leila Pinheiro, lançado em
1996 (http://tinyurl.com/
leila-catavento).

ARTE E
TECNOLOGIA
A década de 2000 assistiu a
um progressivo aumento na
importância artística tan-
to do técnico de gravação
quanto do mixador, até que
temos hoje em dia o papel
dos profissionais de áudio
extremamente importan-
tes não apenas em operar
o equipamento (o que cada
Os Beatles durante as gravações de Sgt. Pepper’s: A Day in the dia fica mais fácil), mas sig-
Life é um marco do início da utilização dos overdubs nificativamente no lado ar-
tístico da produção.
Ao mesmo tempo, do lado da mixagem aparecem
os primeiros reverbs digitais, como a EMT 250, Os softwares de gravação e seus plug-ins proces-
que começaram a permitir que salas com sons sadores começaram a inundar o mercado com um
naturais mais secos fossem usadas para grava- sem-número de possibilidades. E se analisarmos a
ção. Agora os mixadores podiam recriar ambien- questão do perfil do trabalho do mixador, veremos
tes novos para cada música, independentemente que no início os recursos disponíveis eram extrema-
de seu realismo. mente escassos e a habilidade consistia em saber
usá-los com maestria e de forma criativa. Hoje, o
TUDO IN-THE-BOX que se encontra é uma abundância de recursos, e a
verdadeira habilidade está em saber o que usar, já
Na década de 1990 a posição de mixador já estava que cada vez mais as ferramentas estão assumindo
consolidada, e o aparecimento das DAW começaram o papel de “deixa que eu resolvo pra você”.
a permitir performances antes inimagináveis, em-
bora os grandes consoles analógicos ainda fossem a Daí o profissional e o aprendiz, que conviviam inicial-
ferramenta básica de trabalho. mente com uma escassez quase absoluta de infor-
mação, hoje precisam aprender a discernir a partir
Com a evolução dos sistemas digitais aparecem de quase infinitas possibilidades aquilo que preten-
os consoles digitais, e ao final da década já era dem usar. Fico imaginando a dificuldade de alguém
possível se pensar em discos inteiros gravados que hoje decide aprender a mixar e conta apenas
e mixados totalmente no conceito que hoje se com o YouTube. Em 15 minutos ele será capaz de
conhece como “in-the-box”. No Brasil, provavel- assistir a pelo menos três pessoas falando coisas to-
mente o primeiro CD comercial totalmente gra- talmente opostas a respeito do mesmo assunto.
vado em computador foi The Stonewall Celebra-
tion Concert, do Renato Russo, lançado em 1994 É claro que esse fenômeno não se restringe ao áudio,
(http://tinyurl.com/russo-stonewall). Isso foi mas neste o “achismo” tem papel fundamental.
possível pelo fato do disco contar com arranjos Como digo sempre, a veracidade de uma afirmação
com pequeno número de pistas. Em termos de é diretamente proporcional à sua estranheza. Existe
MPB, provavelmente o primeiro álbum totalmen- essa crença generalizada de que se obter um som

30 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 31
Mixagem
Reprodução

decisivo no áudio moderno, mas


é preciso sempre lembrar que
ele não é um semideus capaz de
corrigir e transformar algo mal
executado e mal gravado em
um megahit. Olha, nós já temos
muito trabalho para contornar
as dificuldades do processo
de mixagem em si, pois, sim,
há problemas enormes em
simplesmente se juntar vários
áudios, e muitos deles por causa
do jeito como o ouvido humano
funciona. Precisamos cuidar
dos mascaramentos, preencher
uniformemente o espectro, nos
adequar ao equal loudness,
Fairlight, o sampler usado em abundância em Security, de Peter Gabriel,
provavelmente o primeiro álbum gravado em uma máquina digital fornecer material interessante
ao cérebro, com espacialização,
novidade e interesse. Ao mesmo
bom envolve romantismo e magia. É claro que uma tempo, precisamos cuidar das coisas técnicas “per
pitada de magia e uma boa dose de romantismo são se”, como o volume geral, as distorções indesejadas,
importantes – na música. A mixagem
ainda é um processo essencialmente

Reprodução
artístico e essencialmente técnico, mas
não é por isso que não possa ter método.
E, infelizmente, a gente acaba desenvol-
vendo o próprio som.

Eu mesmo escrevi aqui que mixar não


é conseguir o som que você quer, mas
o som que o cliente quer. Mas isso é
verdade até um certo ponto, porque
não existe essa coisa do mixador isen-
to e transparente. Toda mixagem tem
o “sotaque”, o jeitão do mixador, mes-
mo que sutilmente colocado. Será que
é razoável que alguém chegue e diga
que quer a mix soando igual à do Andy
Wallace? A gente poderia responder:
“então me dá um som igual ao do Sys-
tem of a Down”, mas isso seria muito
mal educado, e certamente a gente ve-
ria nosso cachê indo pra outra pessoa.

PAPEL DECISIVO The Stonewall Celebration Concert, de Renato


Russo: talvez o primeiro álbum nacional
É verdade que o mixador tem um papel gravado inteiramente em computador

32 | áudio música e tecnologia


a coerência de fase, o equilíbrio do pan. E, por último, de qualidade, mas a exigência quanto à mixagem
temos até mesmo que nos situar esteticamente den- continua alta.
tro de um nicho do mercado artístico.
Resumindo, mixar bem envolve a capacidade de
Isso tudo já é muita coisa, e pelo menos hoje selecionar as ferramentas, elaborar um método
podemos contar com ferramentas que facilitam e, principalmente, ter uma opinião artística e um
muito nosso trabalho e nos permitem chegar em objetivo artístico a alcançar. Saber usar os equa-
casa a tempo de ver a novela. Mas embora mais lizadores de que se dispõe, por exemplo, é como
ágil e prático, o trabalho continua sendo extre- um músico treinar escalas. Sozinho, não serve pra
mamente exigente. Hoje é fato que todo artista nada, mas no “estalar dos ovos fritos” vai permitir
consegue gravar seu trabalho com níveis diversos que se concentre em objetivos mais nobres. •

Fábio Henriques é engenheiro eletrônico e de gravação e autor dos Guias de Mixagem 1, 2 e 3, lançados pela editora Música &

tecnologia. É responsável pelos produtos da gravadora Canção nova, onde atua como engenheiro de gravação e mixagem e produtor

musical. visite www.facebook.com/guiadeMixagem, um espaço para comentários e discussões a respeito de mixagens, áudio e

música. Comente este artigo em www.facebook.com/guiadeMixagem.

áudio música e tecnologia | 33


Capa | Lucas Ramos

Focusrite
Clarett 8PreX
Principal modelo da linha de interfaces Clarett briga de
igual para igual com equipamentos bem mais caros

A
linha Clarett, da Focusrite, é composta por sua construção parece bastante sólida. Com aca-
quatro interfaces de áudio com conectivida- bamento metálico vermelho, o único plástico en-
de Thunderbolt: 2Pre, 4Pre, 8Pre e 8PreX. E contrado fica nos botões e no visor. Os controles
a 8PreX é o topo de linha, com maior número de e conectores são firmes e passam uma impressão
entradas digitais e mais opções que a 8Pre. A Focus- de durabilidade.
rite diz que essa interface foi desenvolvida para ser
utilizada em uma instalação de estúdio permanen- A segunda coisa é que ela é grande! A 8PreX ocupa
te, até pelo seu tamanho físico, e para isso incluiu duas unidades de rack, o que torna o seu transpor-
uma série de opções extras que são essenciais para te mais difícil. Porém, cria espaço para múltiplos
um estúdio profissional, como botões de inversão de conectores na parte de trás, e controles indepen-
fase e filtro passa-alta independentes para cada en- dentes para os canais na parte da frente da in-
trada. Então vamos conhecer melhor essa interface! terface, assim como medidores de nível para as
entradas e a saída de monitor.
PRIMEIRAS IMPRESSÕES
ENTRADAS
A primeira coisa que me veio à cabeça quando
tirei a 8PreX da caixa foi que ela é bem bonita, e A 8PreX dispõe de oito canais de entradas analógi-

34 | áudio música e tecnologia


canais através de dois conectores ADAT Lightpipe
e mais dois canais em um conector S/PDIF. Isso
permite a você expandir o número de entradas no
seu sistema de gravação, podendo conectar até 16
canais a mais através de pré-amplificadores que te-
nham saídas ADAT Lightpipe (ou S/PDIF). No total,
é possível ter 26 entradas, o que é mais do que o
suficiente para a grande maioria das situações de
gravação de um estúdio comum.

Há também uma entrada e uma saída de Word Clock


na traseira da interface, que podem ser utilizadas
cas, podendo para sincronismo com outros equipamentos exter-
cada uma ser uti- nos, assim como uma entrada e uma saída MIDI,
lizada com um sinal de micro- para uso com controladores e instrumentos MIDI
fone (entrada XLR) ou linha (entrada TRS). Há tam- (assim como MIDI sync).
bém duas entradas de instrumento (alta impedância)
nos primeiros dois canais, localizadas na frente da SAÍDAS
interface. Cada uma das oito entradas vem equipada
com o novo pré-amplificador da Focusrite (chamado Há dez saídas analógicas, todas com conectores
“Air”), que além de ter uma sonoridade limpa e neu- TRS (P10): duas que são controladas pelo controle
tra, quando utilizado no modo “Air” simula a tonali- de “Monitor” na frente da interface (assim como
dade dos famosos pré-amplificadores ISA (também controles de Dim e Mute) e oito que podem ser
da Focusrite), abaixando a impedância na entrada utilizadas para mandadas. Além disso, há duas sa-
e realçando os agudos no sinal de microfone. Essa ídas para fones de ouvido (TRS estéreo) na frente
variação de timbre pode ser bastante interessante, também, para monitorar o sinal através de fones.
aumentando e diversificando
as possibilidades sonoras em

AM&T
uma gravação.

As especificações técnicas
dos pré-amplificadores são
bastante impressionantes
para uma interface nessa
faixa de preço, e rivalizam
com interfaces bem mais
caras. Vamos dar uma con-
ferida:

Resposta de frequência: 20
Hz - 20 kHz +/-0.1 dB
Faixa dinâmica:
118/116/111 dB (mic/line/
inst)
THD+N: 0.001%
Ganho: até 57 dB

Além das oito entradas A 8PreX é bem bonita, com construção sólida e acabamento
analógicas, a 8PreX dispõe metálico vermelho. Ocupa duas unidades de racks, seus
de 18 entradas digitais – 16 controles e conectores são firmes e duráveis.

áudio música e tecnologia | 35


CaPa

suficiente para a grande maioria das situa-


AM&T

ções de um estúdio comum.

tHuNderBolt e
latÊNCia
O fato de ser uma interface Thun-
derbolt tem suas vantagens e des-
vantagens. A desvantagem princi-
pal é o fato de que nem todos os
computadores são equipados com
conexões Thunderbolt. A grande
vantagem é a baixíssima latência
na gravação devido à alta taxa de
A 8PreX dispõe de oito canais de entradas analógicas, transferência de dados que o Thunderbolt
18 entradas digitais, dez saídas analógicas e 18 saídas permite (até 20 Gb/s). A 8PreX não é diferente,
digitais, totalizando 26 entradas e 28 saídas. Além gerando tempos bastante baixos de latência na
disso, há entradas e saídas MIDI e Word Clock.

seM JaNelas
pluG-iNs Uma possível limitação da 8PreX, assim como
de toda a linha Clarett, é o fato de não ser
A Focusrite incluiu no pacote a suíte de plug-ins compatível com Windows, sendo somente pos-
Red 2 e Red 3, que simulam a famosa linha de sível a sua utilização com um Mac. A Focusrite
equalizadores de compressores da marca. Es- anunciou que está trabalhando para que seja
ses plug-ins são bem interessantes e têm uma possível utilizar as interfaces Clarett com Win-
sonoridade de altíssima qualidade. Todos que dows, mas não divulgou um prazo específico.
comprarem uma interface da linha Clarett ga- Então, se você não tem um Mac, essa interface
nham uma licença para utilizar esses plug-ins, o ainda não é pra você... Mas poderá ser num
que, por si só, já vale uma grana! futuro próximo!

E assim como as en-


tradas, as saídas têm
especificações de alta
qualidade:
Reprodução

Faixa dinâmica:
119/118/112 dB (line/
monitor/phones)
THD+N: 0.0007%
Nível máximo na saída:
+118 dBu

Há também mais 18 saídas digitais – 16 canais atra-


vés de dois conectores ADAT Lightpipe e mais dois
canais em um conector S/PDIF. Isso permite a você
expandir o número de saídas no seu sistema. No
total, é possível ter 28 saídas, o que é mais do que

A Focusrite incluiu no pacote a suíte de plug-ins


Red 2 e Red 3, que simulam a famosa linha de
equalizadores de compressores da marca
36 | áudio música e tecnologia
gravação. Eu testei com um Macbook Pro com processador i7 Quad-core
de 2.8 GHz rodando Logic Pro X e consegui gravar tranquilamente oito
canais com o “Buffer Size” em 128, gerando uma latência total de 7,2
ms. Nada mal!

FoCusrite CoNtrol

Como a maioria das interfaces, a 8PreX utiliza um software para contro-


lar algumas das suas funções, como selecionar o tipo de entrada e os
níveis das saídas, assim como configurar loteamentos mais complexos
dos sinais. Porém, o Focusrite Control, nome dado a tal software, foge
um pouco do comum em sua simplicidade. A maioria dos programas de
Reprodução

O Focusrite Control foge um pouco do comum em sua simplicidade, com


uma interface gráfica moderna e simples e diferentes modos de operação,
que expõem os controles mais importantes de forma objetiva e clara

controle das interfaces hoje em dia são repletos de opções e botões,


que apesar de permitirem um alto grau de controle sobre as interfaces,
geralmente são um pouco confusos e difíceis de compreender... Muitas
vezes é necessário pesquisar um pouco para conseguir dominá-los. Já
o Focusrite Control dispõe de uma interface gráfica moderna
e simples, com diferentes modos de operação que expõem os
controles mais importantes de forma objetiva e clara. A sua
configuração é bastante simples e óbvia, simplificando o acesso
aos controles e configurações.

test driVe
Eu testei a interface gravando voz, violão e percussão, tudo ao
mesmo tempo. Não tive nenhuma dificuldade em configurar o

áudio música e tecnologia | 37


Capa
Divulgação

Vista geral da interface

equipamento para uso com o software (Logic Pro X), indicam com precisão o nível (em dB) de ganho apli-
e rapidamente já estava rodando tudo. A sonoridade cado ao sinal. Isso não é o fim do mundo, mas difi-
dos pré-amplificadores me pareceu bastante neutra culta um pouco quando você quiser maior precisão
no modo “normal”, o que pode ser útil quando quiser ou garantir que os ganhos em mais de um canal
uma gravação limpa e fiel. estão exatamente no mesmo nível, especialmente
em gravações em estéreo.
Já no modo “Air” os pré-amplificadores apresen-
tam uma coloração mais brilhante, puxando os A segunda coisa é um problema até recorrente
agudos de forma bastante agradável. Os botões com os fabricantes de interfaces de áudio Thun-
de inversão de fase e filtro passa-alta se mostram derbolt... Por alguma razão, eles decidem não in-
muito úteis na hora de verificar a fase na grava- cluir um cabo Thunderbolt na caixa. Mais uma vez,
ção e eliminar graves indesejáveis. Os medido- não é um problema enorme, mas é um pouco cha-
res de níveis para as entradas também se provou to ter que comprar um cabo quando já se gastou
bastante útil, facilitando o ajuste dos controles de uma grana na interface.
ganho nos canais.
A terceira questão é a ausência de um controle de
No geral, foi bem fácil e prático trabalhar com a Pad nas entradas para reduzir o nível do sinal na
8PreX, e a qualidade sonora impressiona pelo preço. entrada dos pré-amplificadores em casos em que o
Não é qualquer interface que consegue proporcionar sinal está chegando com um nível muito alto. Isso
uma sonoridade desse ní-
vel. Tá aprovada!

OUTRAS
OBSERVAÇÕES
A verdade é que não há
muito do que se recla-
mar da 8PreX (além do
fato de eu não ter uma!),
mas se for pra ser chato
e não deixar barato, pos-
so citar quatro pequenas
questões. A primeira é o
controle de ganho nos pré-
-amplificadores, que não A 8PreX, assim como toda a linha Clarett, ainda
são “dentados” e não dis- não é compatível com Windows, sendo somente
põem de marcações que possível a sua utilização em Macs

38 | áudio música e tecnologia


também não é um enorme problema, pois não se- mas seria muito bom que essas funções também
ria necessário na maioria das situações. Mas é útil fossem incorporadas.
de vez em quando, e por ser uma função simples,
não seria pedir demais. A verdade é que eu fui bastante minucioso na análi-
se, e não há nenhuma interface na mesma faixa de
A quarta e talvez maior questão reside na par- preço que dispõe de todas essas funções, muito me-
te de monitoração da interface. Não há função nos com a mesma qualidade de sinal. Para conseguir
“mono” que some os canais das saídas de monitor
isso será necessário gastar quase o dobro.
para serem ouvidos em mono em vez de esté-
reo, uma ferramenta muito útil para a mixagem.
Também não há nada para auxiliar na criação de
CoNClusÃo
uma mandada de “talkback” (para a comunicação
com a sala de gravação), assim como não há um A 8PreX é simplesmente uma ótima interface.

botão para alternar entre dois pares de monito- Com bons pré-amplificadores, sinal limpo e de
res. Nada disso é muito grave, pois pode ser so- alta qualidade, além de uma construção sólida
lucionado dentro do próprio software de gravação e robusta, ela bate com facilidade os seus rivais
(DAW, como Pro Tools ou Logic) ou através do nessa faixa de preço e briga de igual pra igual
uso de um controlador de monitoração externo. com interfaces bem mais caras de fabricantes
Mais uma vez, não é um problema muito grande, como Apogee e Universal Audio. •

áudio música e tecnologia | 39


Acervo Marcio Misk
Evento | Rodrigo Sabatinelli

Folia
Poderosa
Anitta estreia
seu bloco na
“ressaca” do
carnaval carioca

S
ucesso nos palcos Brasil afora, Anitta não
Acervo Marcio Misk

deixou passar em branco o carnaval 2016,


e, pela primeira vez, botou – literalmente
– seu bloco na rua. Levada pelo Trio Demolidor,
conhecido como o maior trio elétrico do Brasil, a
cantora e o seu Bloco das Poderosas “arrastaram”,
pelas ruas do Centro do Rio de Janeiro, no dia 13
de fevereiro, primeiro sábado após a folia, uma
multidão de mais de 180 mil pessoas.

Operador de PA dos shows da cantora, o técni-


co Marcio Misk foi o responsável pela sonoriza-
ção do desfile. Em um papo com AM&T ele contou
que, nas semanas que antecederam o evento, foi
feito um planejamento detalhado do que seria a
experiência, para que ela se desse sem maiores
surpresas, principalmente diante de tantas parti-
cularidades quanto as que teria pela frente.

CAPTAÇÃO “SEM DOR DE CABEÇA”


Para captar os instrumentos usados na apresen-
tação, Misk lançou mão de microfones tidos como
Marcio Misk operou o som usuais, comuns a eventos ao vivo. Nas percussões,
de Anitta em seu desfile por exemplo, o técnico optou pelos clássicos SM56,

40 | áudio música e tecnologia


AM&T

SM57 e SM58, da Shure, além dos MD 604, da Sen-


nheiser, dentre outros, e, na voz da cantora, como
de costume, ficou com o Beta 58, também da Shure.

“Em um evento como esse, não há muito o que


inventar. O melhor é captar tudo da forma mais
simples possível, escolhendo modelos adequados
para a situação. É um ‘ambiente’ totalmente di-
ferente do stage, né? [Realizado] A céu aberto e
contemplando um percurso de longa distância, en-
tão, entram em questão outras coisas”, disse ele.

ALTO PODER DE “DEMOLIÇÃO”


Conhecido por ser o maior trio elétrico do país, o De-
molidor, que é usado por inúmeros artistas, como,
por exemplo, Ivete Sangalo, e agora a própria Anit-
ta, conta com robustos sistemas de amplificação,
processamento e sonorização, além de modernas
superfícies de controle.

Os amplificadores que empurram as caixas são os


da série SD, da Machine, nos modelos 3.8, 6.0 e

No detalhe, o microfone de voz usado por Anitta

Acervo Marcio Misk

Mix Rack, da Avid: opção para mixagem no trio Demolidor

áudio música e tecnologia | 41


Evento

“Trabalhar em um trio, ainda

Acervo Marcio Misk


mais em um como esse [o De-
molidor], que tem grande tradi-
ção, é desafiador. Se você pen-
sar que estamos a todo tempo
mixando o som numa área acima
de todas as fontes de emissão
sonora, dá para imaginar a difi-
culdade”, lembrou Marcio.

“As situações [de dificuldades]


eram muitas. Quando nos depa-
rávamos com paredes próximas
às laterais [do trio], por exem-
plo, era preciso tomar grande
cuidado com as ‘voltas’ de som,
evitando, com isso, a microfonia.
Para minimizar esse risco, traba-
lhávamos com os quatro lados do
carro em matrix, e quando che-
gávamos perto de um ‘obstáculo’,
diminuíamos o matrix correspon-
Diante de superfícies reflexivas, como alguns dos edífícios da Primeiro
dente”, explicou o técnico.
de Março, era preciso “pilotar” o matrix correspondente

10.0, e da série PSL, nos mo-


delos 2400 e 3400, enquanto Trio elétrico: de Dodô e Osmar ao trash e ao funk
que os processadores são da
Foi num domingo de carnaval de 1950 que a dupla Dodô e Osmar criaram o
série DP, da XTA, nos mode-
Trio Elétrico, o maior ícone da cultura baiana. Em cima de um velho Ford 1929
los 226 e 448. Nas laterais
batizado “Fobica”, preparado com um sistema de som que consistia de um
esquerda e direita do trio, os
amplificador alimentado pela bateria do carro e dois projetores de som (alto-
falantes são os 10MB3P, de
-falantes), os dois músicos saíram tocando com seus instrumentos elétricos,
médio-grave, e 155W 800, de
os paus elétricos, também inventados por eles. Dodô e Osmar, nesse momen-
grave, ambos fabricados pela
to, não imaginavam que estavam transformando o carnaval da Bahia.
Selenium, além de drivers
DE-75, da B&C Speakers.
Antes, esta festa era dividida entre o espaço da elite e o das classes mais
desfavorecidas. Desde a primeira vez que saíram tocando pelas ruas de
Na frente e nos fundos do
Salvador, a dupla uniu e misturou raças, credos e classes sociais. Estava
carro são dispostos os falan-
assim definitivamente transformado e democratizado o carnaval da Bahia.
tes ESX-410, de médio, e ESX
Fenômeno este que posteriormente se estendeu para o resto do Brasil.
410W, de grave, ambos da
Snake, além de subs de 15”,
A partir de então, ano a ano eles foram crescendo, desenvolvendo a sua
SW 800, da Selenium, e dri-
invenção, saindo do velho Ford para uma caminhonete, depois para um
vers CD1014FE, da Beyma, e
caminhão e, com isso, ampliando a sonoridade e a iluminação do conceito
ND2060, da Eighteen Sound,
do trio. O pau elétrico também evoluiu, dando origem à guitarra baiana,
ambos para médio-agudo.
instrumento genuinamente baiano e brasileiro. Hoje, da pick-up do DJ às
Para controle do sistema,
guitarras trash do Sepultura, passando pelo agito do funk carioca, todos
constam dois consoles Avid,
têm vez em cima dos cada vez mais modernos trios.
um Mix Rack e um SC-48.

42 | áudio música e tecnologia


COMBOIO DANÇANTE
Para acompanhar o Demolidor, no qual Anitta e sua banda se
apresentaram, a organização do evento disponibilizou ainda
um outro trio, o Samucada. Contando com um console LS9,
da Yamaha, o carro teve a função de reforçar a pressão sonora
necessária para cobrir toda a extensão da Primeira de Março,
avenida por onde a cantora desfilou muitos de seus sucessos,
além de hits da axé music, entre outros.

Seguindo o trio principal a cerca de cinco metros de distância,


o Samucada foi lincado a ele por meio de um sistema sem fio,
e, ainda segundo Marcio, o som que emitiu ao público não
sofreu nenhum tipo de correção. “A única coisa que fizemos
em prol da melhor sonorização”, disse ele, “foi desligar suas
caixas dianteiras e recorrer somente às suas laterais e ao
fundo. Com isso, o trio principal sonorizou os quatro lados,
enquanto que o secundário cuidou somente da extensão das
laterais e do fundo”, encerrou. •
Divulgação

A LS9 foi a mesa usada no trio Samucada, complementar ao Demolidor


desaFiando a lÓgiCa | andré Paixão

Joias
esCoNdidas
No loGiC (parte 2)
Compressor – Convertendo
múltiplos arquivos numa tacada só

O
lá! Na coluna deste mês vamos seguir ex-
plorando e descobrindo mais sobre os utili-
tários incluídos no pacote atual do Logic Pro
X, oferecido pela Apple.

Ao comprar o Logic, você adquire automaticamen-


te o Compressor, um utilitário muito familiar entre
a turma que trabalha com vídeo, pois era parte in-
tegrante do Final Cut, umas das plataformas mais
conhecidas. Mas o fato é que trata-se de uma ex-
celente ferramenta também para quem trabalha
com áudio, e pode ser adquirido separadamente
na App Store por 50 dólares. Mas para você que
já possui o Logic, ele está disponível na sua pasta
Criando um preset de conversão
de aplicativos e basta arrastá-lo para sua área de
trabalho (Dock) e nunca mais perdê-lo de vista. muitas faixas – é utilizar o Compressor para con-
verter todos os arquivos de uma só vez.
Uma das situações mais comuns, experimentadas
por produtores musicais ou engenheiros de som, Ao supor que você vai trabalhar com ele pela pri-
acontece quando um artista solicita uma cópia, meira vez, o primeiro passo é um pouquinho mais
em MP3, do seu disco recém-mixado. Nesse caso, demorado, porém vai servir para agilizar bastante
é claro que existem diferentes soluções, porém a nas ocasiões seguintes. Nesse exemplo queremos
mais rápida – ainda mais se estamos falando de converter cinco arquivos em formato .Wav
para MP3 de alta qualidade, portanto vamos
criar um preset clicando em + na janela es-
querda inferior (Settings).

A partir daí podemos visualizar e editar as in-


formações referentes ao preset dessa conver-
são diretamente na janela Inspector. É nela
que – através da seleção de cada um dos cin-
co ícones disponíveis – adicionamos descrição
(MP3 de alta qualidade, por exemplo), taxa de
amostragem (Sample Rate) etc.

Para este caso específico, vamos focar no Enco-


der, dedicado às configurações relacionadas a
áudio. O principal aspecto nesse caso é definir
A interface inicial do Compressor a taxa de amostragem para 320 kbps, a mais

44 | áudio música e tecnologia


elevada, que proporcio-
nará maior qualidade de
compressão em MP3. No-
meie da forma que achar
melhor (eu optei por HQ
MP3) e um novo arquivo
será criado na janela Set-
tings, juntamente com as
pastas que abrigam ou-
tros presets. Você pode O Inspector permite edição e Crie um droplet a partir de um preset
organizá-las e nomeá-las configuração das especifica-
como bem entender, ob- ções de sua conversão
viamente, facilitando e
organizando seu fluxo de trabalho, especialmente se basta arrastá-los para cima dele, clicar em Submit
for trabalhar com vídeo, como veremos mais adiante. e a ação terá início. A partir daí qualquer conversão
de múltiplos arquivos fica bem mais simples e ágil. A
Agora, o recurso mais bacana do Compressor está ideia é salvar uma cópia na raiz do seu HD de áudio
por vir: o Droplet. Ao clicar com o botão direito de e projetos para futuras conversões.
seu mouse sobre o seu preset (HQ MP3), você se de-
para com as opções Duplicate, Delete e Save as Dro- Outra situação não tão comum – mas nada im-
plet. Ao escolher essa última, um ícone é gerado e possível – presente especialmente na vida de
você pode escolher qualquer localidade para ele. Ao produtores musicais que trabalham com mercado
salvar o seu Droplet na mesma pasta em que loca- audiovisual, seja de cinema, publicidade, institu-
lizam-se os arquivos desejados para a compressão, cional, não importa, acontece quando um cliente

áudio música e tecnologia | 45


desaFiando a lÓgiCa

para a apresentação para um único formato, bem po-


pular, de preferência como o Quicktime h264. O Com-
pressor dispõe de vários presets envolvendo esse co-
dec, conhecido por equilibrar qualidade e peso.

Seguindo essa sugestão, fiz uma busca na minha pas-


ta de jobs e selecionei alguns filmes para conversão.
Criei uma pasta denominada Portfolio 2016 e arras-
tei os arquivos que mais interessavam, levando em
conta qualidade de imagem também. Afinal, de que
adiantaria colocar um trabalho em 320 x 240 (pa-
drão considerado ideal para reprodução em telas de
smartphones menos potentes) no meio de outros em
Ao arrastar arquivos para cima do ícone do seu
HD? Teria que reduzir a qualidade dos outros também
droplet, é aberta a janela de conversão
para que ficassem todos iguais. Mas o que importa
é a ideia. Além disso, é possível atribuir diferentes
formatos a um mesmo arquivo – basta arrastar os
presets de sua preferência. Neste exemplo, escolhi
os presets Quicktime H.264 e Apple ProRes 422, com
outro codec popular da Apple. Codec é a abreviação
de codificador/decodificador e existem centenas de-
les com diferentes características e compatibilidades.

Ao clicar em Submit, a conversão múltipla se inicia


assim que nomeamos como quisermos. Dependendo
da duração dos vídeos e da capacidade de processa-
mento/memória, pode demorar um pouco ou bastan-
te. Tempo suficiente para um café ou uma outra ativi-
dade, como uma boa noite de sono. Trata-se de uma
Arquivos em fila para conversão: o primeiro mão na roda praticamente indispensável a todos que
será convertido em dois formatos; já os trabalham com produção musical para audiovisual.
seguintes ganharão apenas um
Até a próxima! •
pede para que vídeos de referência, com diferen-
tes opções de trilha sonora, sejam enviados em
determinado formato, para que ele possa assistir
e escutar em seu notebook durante uma viagem
de negócios. Já recebi material offline (não fina-
lizado) diretamente do animador responsável por
um filme publicitário com o objetivo de agilizar o
processo de produção de trilha e sonorização em
formato não compatível com aquele solicitado.

Outra situação pode acontecer durante uma reunião


com um cliente em potencial em que não se pode de-
pender de uma boa conexão de banda larga para exi-
bição de portfolio. Correr o risco de desperdiçar tempo
de ambas as partes está fora de questão, e a dica, Work in progress: a fila de vídeos a
nesse caso, é converter todo o material selecionado serem convertidos numa só tacada

andré Paixão é compositor e produtor de trilhas sonoras para teatro, tv, publicidade e cinema. o super studio é sua casa e
também de artistas que já passaram por lá. toca nas bandas lafayette e os tremendões, astromash, nervoso e os Calmantes.
Contato: andre@suprasonica.com.br
sites: www.superstudio.com.br/www.facebook.com/desafiandologic

46 | áudio música e tecnologia


CAMA
INCENDIADA
Rider Clay Paky na nova tour do Maná

LUZ NO CINEMA
Analisando cenas e técnicas
de iluminação na sétima arte
áudio música e tecnologia | 47
à produtos
iled Fox sPot 50 Plus
O iLed Fox Spot 50 Plus é um equipamento leve, O equipamento também oferece 13 canais DMX; aber-

Divulgação
bonito, forte e de alto desempenho, que brilha como tura de 12°; disco de cores (sete + branco) e efeitos
um moving com lâmpada de descarga de 575W gra- rainbow; disco de gobos (seis + aberto intercambiáveis)
ças à nova lâmpada de LED Plus 50W CW. Aceita go- e efeito shake; rotação do gobo bidirecional vari-
bos personalizados fabricados em metal ou cristal. O ável; shutter/pulse/random; dimmer linear;
reduzido peso da cabeça (o equipamento completo prisma de três faces/rotação bidirecional;
pesa 6,5 kg), aliado ao mecanismo de reposiciona- reset; sete programas em memória e som
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projetado para satisfazer as mais diver- trônico, com quatro opções de curva de dimeri-
sas necessidades do usuário, evitando os zação; pan de 540° e tilt de 268°, ambos ajustá-
indesejáveis envelhecimento da lâmpada, veis via painel de controle “onboard” e DMX.
alternâncias nas temperaturas de cor, pon-
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declínio nos resultados. Essa estabilidade se dá www.martinprofessional.com.br

PRoJetoRes PanasoniC PaRa as oliMPÍadas


A Panasonic recentemente apresentou os seus pro- instalação podendo ser feita a 1,5 metro de distân-
jetores que serão utilizados no Jogos Olímpicos cia de uma superfície.
Rio 2016. O destaque entre eles foi o modelo PT-
Divulgação

-DZ21K2UO (foto), que será empregado nas ceri- Outra série que merece atenção especial é a PT-
mônias oficiais dos jogos. -RZ970BU, cujos projetores são recomendados para
Ele utiliza 3 Chips DLP, ambientes de grandes dimensões, possuem resolu-
oferece 20.000 lumens de ção WUXGA, WXGA ou XGA, tecnologia Digital Link,
brilho e resolução WUXGA. 10.000 lumens no centro e 1 Chip DLP.
Pode funcionar em conjunto
com a lente de distância ul- www.panasonic.com
tracurta ET-D75LE90, com sua www.panasonic.com.br

nova Canon dslR eos 80d


Divulgação

A câmera 70D, da Canon, já tem uma sucessora: a DSLR da lente objetiva EF-S 18-135mm f/3.3-5.6 IS USM,
EOS 80D (foto), anunciada recentemente pela fabricante. dotada da tecnologia Nano USM, para maior dinâ-
A novidade conta com um sensor APS-CMOS de 24,3 me- mica e velocidade nos registros, e do Po-
gapixels e oferece a possibilidade de registrar vídeos em wer Zoom Adapter PZ-E1, adaptador que
Full HD (1080p) a 60 quadros por segundo. O equipamen- garante um melhor controle do zoom.
to, que possui uma tela touch de 3”, permite conexões Os novos produtos chegam às pratelei-
GPS, NFC e Wi-Fi e pode ser controlado remotamente. ras – físicas e virtuais – em abril.

Na ocasião do anúncio do lançamento da EOS 80D, a www.canon.com


Canon também tornou públicas as chegadas ao mercado www.canon.com.br
em fo c o
IATEC PROMOVE CURSO DE LEIS
DE INCENTIVO À CULTURA
O IATEC levará seu curso de Leis de Incentivo à

Divulgação
Cultura a diversas cidades brasileiras ainda esse
ano. No dia 11 de abril a turma de Vila Velha/
ES começa suas atividades em formato intensi-
vo, com aulas com apenas três dias de duração.
Em maio, o curso chega a Fortaleza, para depois
seguir por Rio de Janeiro (junho e agosto), São
Paulo (agosto), voltando a Fortaleza e Rio (outu-
bro). O curso, ministrado por Fernanda Borriello,
apresenta o funcionamento da Lei Rouanet (fe-
deral) e Lei do ICMS (estadual) desde o processo
de inscrição do formulário, planilha orçamentária,
execução e preparação da prestação de contas.

A Lei Federal de Incentivo à Cultura, conhecida


também como Lei Rouanet, de 1991, instituiu políticas públicas para a cultura nacional, cuja base é a promoção, proteção e
valorização das expressões culturais nacionais. O grande destaque dela é a política de incentivos fiscais que possibilita que
pessoas jurídicas e físicas apliquem uma parte do imposto de renda devido em ações culturais.

Fernanda é pós-graduada em Gestão da Cultura e graduada como Estilista e Figurinista na Universidade Estácio de Sá. Criou
e é responsável pela coordenação do Núcleo de Elaboração, Acompanhamento e Gestão de Projetos da Cufa, ONG que de-
senvolve projetos culturais, sociais e esportivo. Trabalha como diretora, atriz, diretora de produção, figurinista, aderecista e
iluminadora de grandes espetáculos desde 1998. Matrículas para o curso podem ser feitas no site http://iatec.com.br/cursos/
evento/leis-de-incentivo-cultura e pelo telefone (27) 3229-9309. As vagas são limitadas.

ARRI ABRE NOVA FILIAL


Fica na Avenida Ibirapuera, 2907, em Moema, São Paulo a nova filial ARRI na
creativecow.com

cidade, agora já em funcionamento. De acordo com a empresa, no espaço o


usuário terá acesso a workshops e treinamentos sobre as câmeras e acessórios
profissionais da marca, além de também ser atendido no que diz respeito a
suporte técnico, atualização de softwares e manutenção.

“A América Latina é um mercado em crescimento para a ARRI. Estamos com-


prometidos com esta região e que continue o sucesso de nossas câmeras ALE-
XA XT, ALEXA Mini e a AMIRA. Com a abertura da assistência técnica em São
Paulo estaremos mais perto de nossos clientes e será muito mais fácil oferecer
treinamentos, reparos em garantia, manutenção, além de suporte para o Bra-
sil e para os demais países na região”, destacou Wilson Zeferino, diretor de
vendas da ARRI Inc. para a América Latina. “A ARRI Brasil será o marco de
uma nova era”, acrescentou Mário Jannini, diretor técnico de serviços da ARRI
Brasil.

De acordo com a companhia, reparos poderão ser feitos em São Paulo por téc-
nicos treinados pela ARRI, sem a necessidade de enviar o equipamento para
Nova filial da ARRI em fora do país. Esta maior comodidade mantém os custos baixos e agiliza na
São Paulo fica na Avenida
resolução de qualquer eventualidade não apenas para os clientes brasileiros,
Ibirapuera, 2907, em Moema
mas também a clientes de países vizinhos.

50 | áudio música e tecnologia


Capa Rodrigo Sabatinelli

LUZ, HERMANOS!
Maná cai na estrada com rider Clay paky

H
á um ano, Menga Cruz, sócio da Image4U, Nela, que começou em 2012, fiz alguns subs para o
tem vivido uma rotina intensa de viagens. iluminador da banda e, no ano passado, acabei sendo
Iluminador do grupo Maná, um dos grandes convidado a seguir [com a equipe]. Topei na hora!”,
expoentes do pop rock latino, ele conta que os ae- diz ele, via WhatsApp, meio de comunicação mais
roportos mundo afora têm sido sua segunda casa. A prático para quem não tem mais residência fixa.
primeira, na capital paulista, onde vive, agora é, de
acordo com o próprio, “abrigo de férias”. Mas engana-se quem pensa que a correria do dia a
dia o tem incomodado. Realizado com o trabalho,
“A tour Drama Y Luz, desenhada pelo diretor de arte o iluminador conta com orgulho que participou in-
Luiz Pastor e programada pelo também designer Pau- tensamente da construção do novo show da banda,
linho Lebrão, foi o ponto de partida dessa história. Cama Incendiada, desenhado pelo belga Alain Cor-

52 | áudio música e tecnologia


Divulgação

thout, no qual o conceito “industrial” foi a inspiração ga, que, utilizando um restinho de bateria de seu
para um verdadeiro espetáculo luminotécnico. smartphone, avisa: “Quando desembarcar do pró-
ximo voo, continuamos a falar!”.
“Esse é, para mim, um dos mais completos [shows
do Maná]! Nele, contamos com muitas informa-
ClaY paKY No
ções visuais, que vão desde cenas – que, juntas,
totalizam mais de 1700 cues – a imagens pré-pro- NoVo rider
duzidas e exibidas durante as canções, passando
por pirotecnias e movimentos de estruturas, tudo Promessa é dívida! Horas depois, o alerta do apli-
dentro do clima de fábrica, de maquinário indus- cativo volta a sinalizar. O iluminador dá sinal de
trial, das bombas de petróleo etc.”, justifica Men- vida e diz: “Vamos nessa!”. De cara, ele conta

áudio música e tecnologia | 53


Capa

por de discos de gobos, discos


Arquivo Pessoal

de cor e animação, além de ter


uma excelente qualidade ótica e
um zoom muito veloz, que leva
o aparelho do spot ao beam em
uma fração de segundos”.

O B-Eye, LED wash tido pelo


próprio como hors concours, “se
difere dos demais por contar,
em sua carcaça, com um LED
frontal que promove efeitos de
caleidoscópio; por ter, interna-
mente, uma máquina que ofere-
ce grande variedade de patterns
e, além de tudo, por oferecer
ao iluminador a possibilidade de
trabalhá-lo como pixel mapping,
ou seja, exibindo conteúdos em
O iluminador brasileiro Menga Cruz
vídeo”, detalha.
está à frente das luzes da banda
que “a decisão de montar um rider composto em E o Stormy, um estrobo de LED, ainda de acordo
sua totalidade por aparelhos Clay Paky foi tomada com Menga, “fornece flashes mais rápidos que o do
com o intuito de ter nas mãos equipamentos ver- próprio estrobo de lâmpada, podendo, em função
sáteis, capazes de oferecer ao show uma riqueza disso, ser usado como blinder, pois sua lâmpada
grande de funções e, por conta disso, torná-lo não desarma. Na verdade, o fato de os LEDs desse
mais atraente ao público”. estrobo serem posicionados horizontalmente den-
tro da placa do equipamento faz com que ele tenha
No mapa, desenhado por Alain com sua copartici- um efeito bem parecido com o do [estrobo] tradi-
pação, a variedade e a grande quantidade de itens cional”, completa ele.
“denunciam” o “tamanho”
do Maná. No novo show

Divulgação
da banda, a exemplo de
seu espetáculo anterior,
o projeto se destaca por
motivos óbvios: ao todo,
à disposição para uso em
cenas para lá de comple-
xas, estão 107 aparelhos
Mythos, 54 A.Leda B-Eye
K10, 36 A.Leda B-Eye K20
e 38 Stormy, totalizando
mais de 230 unidades.

De acordo com Menga,


cada um dos modelos
escolhidos tem sua fun-
ção específica no mapa.
O Mythos, por exemplo,
é, para ele, “diferencia-
do por, basicamente, dis-

O mapa do novo show do Maná conta, em


sua totalidade, com aparelhos Clay Paky

54 | áudio música e tecnologia


EQUIPAMENTOS COBREM
EXTENSÃO DO PALCO
O iluminador explica que a grande
quantidade de equipamentos usada
no rider tem como objetivo cobrir toda
a área da caixa cênica, e, para isso,
foram criadas 11 estruturas em forma
de cruz que sustentam os aparelhos
Mythos, sendo três dessas estruturas
localizadas em cada uma das laterais
do palco e cinco em seu fundo.

Cada estrutura sustenta nove desses


aparelhos e conta com motores de ve-
locidade variável. E os Mythos restan-
tes – oito, no total – são usados em Em primeiro plano, equipe opera os
uma função, digamos, não muito co-
sistemas MA, que pertencem à banda
mum: como canhões seguidores, algo
que o próprio Menga explica. “Desligo o pan e o na parte superior de um enorme painel de LED, na
tilt deles e, com isso, consigo uma nova utilidade. qual são instalados os K10 e 36 dos 38 estrobos.
O resultado é surpreendente, afinal de contas,
não é todo dia que vemos um seguidor em tom EMPRESA “ALIMENTA”
de vermelho, por exemplo!”, defende.
BANDA NA ESTRADA
Além das cruzes, o mapa conta com um truss supe-
Sediada em Guadalajara, no México, a Pro Color é,
rior, que suporta 16 unidades dos K20, ficando os 20
desde sempre, a empresa responsável pelo forne-
demais no chão, distribuídos entre as laterais e os
cimento dos equipamentos de luz usados na estra-
fundos do palco, e com outra estrutura, posicionada
da pelo grupo. Para essa tur-
nê, no entanto, a companhia
precisou investir pesado na
Divulgação

aquisição dos aparelhos Clay


Paky – estima-se que foram
gastos, na operação, cerca
de US$ 2,5 milhões, aproxi-
madamente R$ 10 milhões.
“Eles não tinham, até então,
nenhum aparelho da marca
e tiveram que comprar tudo
para que levássemos o show
para a rua”, conta Menga.

Mas a banda não depende


exclusivamente da empresa,
pois, nos últimos anos, tam-
bém “se mexeu” e adquiriu di-
versos equipamentos, como,
por exemplo, estruturas, ba-
ckline e som. Em sua listagem
constam, entre outros, os sis-

Ao fundo, cinco das 11 cruzes desenvolvidas para o


espetáculo: estruturas sustentam aparelhos Mythos

áudio música e tecnologia | 55


Capa

Divulgação
“Para qualquer emergência, mantenho
tudo em full track backup!”, justifica.

CONTEÚDO USADO
COM PARCIMÔNIA

O painel de LED disposto ao centro do


palco – que tem distanciamento entre
pixels de 8 mm e mede 16 metros de
largura por 6 metros de altura – e os
painéis que ficam fora da caixa cêni-
ca recebem conteúdos pré-produzidos
pela Arf & Yes, empresa que pertence
a Alain, em parceria com a Matraca
Filmes, de Daniel Robles Madrigal. Es-
ses conteúdos, criados especialmente
para o show, são previamente trata-
dos, ou seja, recebem looks que os
Menga tem, em suas mãos, mais de 1.700 cues: “loucura boa!”, diz inserem no conceito do espetáculo, e
são disparados via sistema MA.
temas grandMA2 Full Size e grandMA 2 Light, dois
NPUs e oito 8Port Node, além de diversos motores “São vídeos que partem de gráficos em 3D, vídeos
de velocidade variável, um par de consoles SD7, da que são compostos por imagens registradas por
DiGiCo, para mixagem de PA e monitor, e todos os câmeras, e, um deles, por imagens que os fãs da
microfones e in-ears usados pelos músicos. banda disponibilizaram para a criação de um con-
teúdo especial, usado em uma única música do
LUZ “NA MÃO DO CARA” show. Antigamente trabalhávamos mais com live
cam, mas nesse show optamos por menos. Na ver-
Sem pensar muito, Menga, quando é questionado so- dade, entendemos que o live, em alguns casos,
bre a forma como trabalha no espetáculo, diz que ‘rouba’ a atenção da plateia, por isso ele só entra
metade do show é operado manualmente, ao vivo, e na parte final do espetáculo”, encerra Menga. •
metade via timecode. Ainda assim, para
ele, o fato de a operação ser “meio a

Divulgação
meio” não minimiza a complexidade do
projeto, que – o próprio faz questão de
lembrar – tem cerca de 1.700 cues, dis-
tribuídos em pouco mais de 15 músicas,
fora o bis e o set acústico.

“São muitos [cues]! E engana-se quem


pensa que as músicas operadas ma-
nualmente são as mais simples. Pelo
contrário! Essas contam com mais cues
do que as disparadas via timecode.
Eu costumo dizer que me meti numa
loucura [ao cocriar esse projeto]! Uma
loucura boa! E eu adoro trabalhar des-
sa forma!”, conta ele, acrescentando
que, por segurança, deixa um assis-
tente diante de um console de standby.

O conteúdo da tour Cama Incendiada foi desenvolvido


pelas empresas Arf & Yes e Matraca Filmes

56 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 57
I l u m inando Rodrigo Horse

Iluminando
o cinema
Análise da cena e das técnicas de iluminação na sétima arte

S
em luz não enxergamos, e isso é um fato. Ela, a dores que vão até a Lua e retornam com prisioneiros sel-
luz, está presente em todas as nossas atividades vagens que moram na luz. Aqui vemos a vontade humana
corriqueiras, seja no lazer ou no trabalho. Por falar de conhecer o que há no espaço e, claro, a luz sempre no
em lazer, hoje venho conversar com vocês sobre aprovei- imaginário científico e romântico de todos.
tar este tempo para também estudar. Não sei se já falei
aqui, mas coleciono filmes. Tenho de vários gêneros, mas Todos os seus filmes foram rodados durante o dia para
desde que trabalho com iluminação eu procuro analisar aproveitar a luz do sol, pois era a fonte de luz mais abun-
os filmes pelo ponto de vista da iluminação, e assim tirar dante na época. Vemos planos gerais, mais um motivo
proveito deles para meus estudos. Podemos estudar os para se fazer filmes em formato quase teatral, com gran-
conceitos da iluminação presentes no filme: como o dire- des cenários, muitas pessoas e mais de uma ação aconte-
tor de fotografia usou a contraluz para enfatizar um ator, cendo ao mesmo tempo.
como trabalhou com o escuro para fomentar o medo em
nós, como usa cores para enfatizar uma realidade, como CENOGRAFIA, ATOR E LUZ
constrói espaços com a iluminação... E alguns documen- EM CENA E FORA DELA
tários “clareiam” nosso entendimento sobre a origem e a
utilização das fontes de luz atuais. Assistam e vejam como ele trabalha unindo cenografia e
truques no cinema. Já que falamos em cenografia no te-
Não podemos deixar de falar do primeiro cineasta que atro, aproveito para deixar outro filme interessante para
utilizou o cinema como forma de entretenimento e sou- vocês assistirem. Ele se chama Impróprio Para Menores
be usar muito bem a luz para fazer seus filmes: Geor- – Noises Off, filme de 1992 dirigido por Peter Bogdano-
ges Méliès (1861-1938). Este grande ilusionista francês vich. Aqui vemos a história de uma companhia de teatro
descobriu que podia utilizar a sétima arte para encantar que está ensaiando um novo espetáculo que vai percor-
a plateia com truques e mágicas que utilizava em seus rer todo o país em uma nova temporada, mas os atores
números. Ele foi chamado pelo grande Charlie Chaplin têm diversos problemas de ego. Devido a isso, o diretor
(1889-1977) de “O Alquimista da Luz”. Méliès mesmo dis- resolve não acompanhar a temporada do espetáculo. O
se que gostava de explorar o “cinema espetáculo”, o “ci-
nema em sua visão teatral e espetacular”.
Wikipedia
Assim, para conseguir realizar seus feitos, ele construiu
o Montreuil-sous-Bois em Paris, no ano de 1897 – um
grande espaço que é a união de um ateliê fotográfico em
proporções gigantescas com um palco de teatro, com fos-
so, maquinário, cenários e bastidores. Este prédio tinha
17 metros de largura por 66 metros de comprimento, um
telhado de vidro a seis metros do solo, para a luz do sol
poder adentrá-lo. Com este espaço ele fez mais de 500
filmes e acredito que todos já tenham visto ao menos uma
imagem do filme mais famoso dele: Viagem à Lua (fig. 1),
de 1902. Nesta película ele relata um grupo de explora-

Fig. 1 – Viagem à Lua, de Georges Méliès

58 | áudio música e tecnologia


sacada dele foi muito boa para utilizar planos
Divulgação

diferentes de importância para a trama, pois a


luz ajuda no entendimento e constrói alguns
signos e elementos que ajudam o público
no entendimento do mesmo. Ele teve uma
sequência – Manderlay (2005), filmado do
mesmo modo, em um grande estúdio. Pode-se
até assistir aos dois filmes como um só, pois o
segundo é a continuação imediata do primeiro.
Aqui a luz se faz presente demarcando espaços
e ações dos atores e da cenografia. Estes dois
filmes servem de exemplo de como podemos
construir espaços somente com a luz.

A UTILIZAÇÃO
Fig. 2 – Dogville DA COR NO CINEMA
que chama atenção neste filme é a forma como podemos Na nossa conversa anterior vimos que a cores podem nos
ver o ensaio dos atores e a ajuda dos contrarregras, pois ajudar e também podem destruir um projeto, mas gosta-
até a metade do filme vemos a companhia ensaiando em ria de falar também que ela nos ajuda a mostrar realida-
um teatro com cenário e tudo mais. Na segunda metade de, reforçar uma ideia que o diretor quer nos passar. Os
do filme assistimos ao mesmo espetáculo, só que agora filmes que podemos usar como exemplos são da trilogia
vendo por trás, pela coxia, assistindo à entrada e saída Matrix (1999, 2002, 2003). Aqui os diretores e irmãos
de cena, o contrarregra ajudando com troca de cenário, Wachowski utilizam a cor verde e azul para criar duas re-
os atores discutindo entre uma cena e outra... Com um alidades. Enquanto que no azul temos o plano real, no
detalhe: não podendo falar nada, pois o espetáculo está verde vemos o plano em que os personagens estão dentro
acontecendo com o teatro lotado. da Matrix, uma realidade virtual criada pelas máquinas.

Em um primeiro, momento este aspecto da iluminação


Aqui chamo a atenção para o uso da iluminação totalmen-
pode passar despercebido, mas ela ajuda a compreender
te branca na cena, os painéis colocados atrás do cenário
estes dois mundos que percorrem a trilogia. Este tipo de
para vermos cenários de campo. A função de cenotécnico
iluminação pode ser usada e tem muita gente que usa
e contrarregra é importante em qualquer trabalho cênico
sem perceber a importância que isso tem em um espetá-
que você for executar, pois não fazemos luz sozinhos –
culo cênico. Em um evento efêmero ou qualquer outro es-
precisamos de uma gama de profissionais trabalhando em
paço em que utilizamos a cor como forma de mudar o am-
harmonia para que tudo saia corretamente.
biente, podemos carregar e trazer símbolos e significados
diversos para a pessoa que está vendo aquele ambiente.
Já discutimos aqui que a forma como utilizamos a luz pode
até destruir uma cenografia bem-feita, mas ela também
Outro filme que carrega muitas cores em sua cenografia
pode construir cenários. Um filme que gosto muito de usar
e ambiente é o ótimo Tango (1998) (fig. 3), do diretor
para analisar as possibilidades da luz quanto ao espaço,
Carlos Saura. Neste filme acompanhamos o diretor e
arquitetura e design é Dogville (2003) (fig. 2), dirigido autor do espetáculo trabalhando no ensaio de seu novo
por Lars von Trier. Aqui vemos uma moça que busca re- trabalho sobre o tango, podemos ver a união da dança,
fúgio em uma cidade para se defender dos malfeitores luz e cenografia, principalmente quando vemos em pla-
que estão atrás dela. O que chama a atenção no filme no aberto, e as possibilidades criadas pelas luzes, que
é que ele foi todo rodado em um grande galpão, onde o muitas vezes são coloridas e nos fazem até mesmo con-
diretor trabalhou com a luz para construir paredes, climas fundir se é mesmo um espetáculo ou ensaio, pois tudo
diurnos e noturnos. É a luz que determina espaços, que é muito bem montado e enquadrado. Chamo a atenção
mostra e esconde o que devemos ver. para as grandes placas brancas que são “pintadas” com
a luz, muitas vezes de cores fortes em contraste com os
Quando vemos os planos abertos podemos perceber que a

áudio música e tecnologia | 59


I l u m inando

um ambiente e de um espaço. Tem


Divulgação

muita gente que vê um espetáculo


hoje em dia com cenários que mo-
dificam a realidade e chamam de
“contemporâneo”, mas podemos
ver que algo deste tipo foi feito há
quase 100 anos.

Sobre o uso de cores e cenografia,


poderíamos ficar aqui por várias
páginas analisando muitas obras
que usam técnicas interessantes
que nos auxiliam em nossos pro-
jetos, sendo uma grande fonte de
pesquisa e estudo para nós. O ci-
Fig. 3 – Tango
nema também veio para nos aju-
bailarinos à frente. A bela música argentina per- dar a elucidar sobre várias temáticas sobre como
correndo toda a trama, acompanhando a paixão surgiram alguns elementos que utilizamos hoje: a
do diretor por uma das bailarinas... Vemos a luz, iluminação e o tipo de fonte de luz são duas delas.
o palco, os técnicos de luz – tudo isso junto e mis-
turado fazendo um belo filme, que nos leva a um ANALISANDO A LUZ NO
ótimo passeio pela dança portenha.
CINEMA ATRAVÉS DO CINEMA
Fazendo uma análise geral dos filmes, podemos ver
Quando falamos sobre a origem da lâmpada in-
que as características que usam neles são bem pró-
candescente, vem na cabeça da maioria das pes-
ximas das que usamos em espaços efêmeros ou cê-
nicos. Vamos ver, por exemplo, quando queremos soas o nome Thomas Edison (1847-1931), tam-
iluminar uma comédia. Se jogasse bastante luz bém conhecido como o Mago de Melon Park. Mas
branca para que possam ver toda a ação, quando só podemos dizer que ele, um grande cientista,
queremos dar uma sensação de medo ou suspense foi o criador da lâmpada quando afirmamos que
tiramos a luz, escondendo aquele ator na surdina. ele criou a primeira “lâmpada incandescente so-
Isso no cinema é muito utilizado e podemos ver cialmente comerciável”, pois a primeira lâmpada
em muitos filmes esta técnica, mas chamo atenção elétrica aparece no ano de 1808, com o químico
para o expressionismo alemão (fig. 4), que nasceu britânico Humphry Davy (1778-1829). Ele utilizou
em meados dos anos 1920. O seu
filme mais representativo é O Ga-
Wikipedia

binete do Dr. Caligari.

Nesta fase do cinema, o cenário e


a iluminação tinham um ar mais
fantástico e tudo era meio retor-
cido. Cenários tinham proporções
diferentes e linhas fora de esqua-
dro, luzes com diversos ângulos,
contraste acentuado de claro e
escuro. Neste estilo de filme po-
demos ver a possibilidade de sair
do comum e trazer para o ima-
ginário do espectador o que está
na nossa mente, qual a visão de

Fig. 4 – Expressionismo alemão

60 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 61
I l u m inando

e casas, no segundo filme


Dickenson Alley/Wikipedia

vemos um outro lado seu e


o que fez para concretizar
seus planos, pois a histó-
ria se concentra em Nikola
Tesla (1856-1943) (fig. 5),
um fabuloso cientista que
trabalhou em um determi-
nado tempo com Edison,
mas que, por divergências
em seus ideais, se afasta-
ram, o que levou à famosa
guerra das correntes, que
percorreu as duas últimas
décadas do século 19.

E, por último, quero deixar


aqui uma aula de ilumina-
ção de show, do grupo Pink
Floyd, com o filme musical
Fig. 5 – Nikola Tesla, em foto publicada na Century Magazine Pulse (1995), do show The
Dark Side Of The Moon,
dois bastões de carbono e fez uma corrente elétri- realizado no dia 20 de outubro de 1994. Quan-
ca percorrê-los. Quando aproximou as duas pon- do vi este show pela primeira vez, não conseguia
tas, houve um salto desta eletricidade, criando, desgrudar os olhos dos efeitos cinematográficos
assim, a lâmpada de arco voltaico. e da iluminação. Há uma sincronia perfeita, que
encaixa a música com a luz. É um passeio visual
Mas, voltando ao nosso Thomas Edison, ele ficou que todos os iluminadores e operadores de luz de
famoso por ter conseguido tirar do laboratório a show deveriam assistir. Isso sem falar na lenda
lâmpada. Para muitas pessoas ele é considera- que afirma que, se você tirar o áudio do clássico
do quase que uma entidade santa por nos trazes filme O Mágico de Oz (1939) e colocar o áudio do
luz em uma época em que a escuridão se fazia disco que deu origem ao show, rola uma sincronia
presente na maioria da casa das pessoas. Ele foi perfeita, coisa que o Pink Floyd nega ter sido pen-
uma pessoa que acabou usando de muita influên- sado. Assistam e tirem suas conclusões.
cia com políticos e empresários para colocar sua
invenção em prática. Dois filmes que recomendo O cinema evoluiu de diversas formas quanto às
para conhecer um pouco sobre ele: Thomas Edi- técnicas de narração, mas a luz sempre esteve e
son – O Mago da Luz (1940) e O Segredo de Nikola sempre estará presente nestas obras. O que mudará
Tesla (1980). São duas visões do mesmo cientista. será a forma como ela será utilizada, como ocorre
Enquanto que no primeiro vemos a grande pessoa quando iluminamos nossos projetos. Então, compre
que ele foi, que tornou possível levar luz às ruas sua pipoca e um bom cinema para todos! •

Rodrigo Horse é graduado em design de interiores pela Faculdade Cambury-go, especialista em


docência do ensino superior pela Faculdade Brasileira de educação e Cultura (FaBeC-go). Profes-
sor da pós-graduação do iPog do curso Master em iluminação e arquitetura e pela Faculdade uni-
curitiba na pós-graduação arquitetura de iluminação. É iluminador efetivo da universidade Federal
de goiás (uFg) e atua como iluminador cênico há 15 anos. Contato: contato@rodrigohorse.com.br

62 | áudio música e tecnologia Até o mês que vem, com mais um caderno Luz & Cena!
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áudio música e tecnologia | 63


lugar da verdade | Enrico De Paoli

Afinal, de quantos efeitos


uma mix realmente precisa?
N
o ano passado escrevi um artigo aqui na nossa ao nosso dispor, de quantos efeitos realmente pre-
última página da AM&T que se chamou Efei- cisamos em uma mix? Lembremos que reverbs são
tos: Arte e impacto. Neste artigo eu debato processadores (virtuais ou não) feitos para simu-
bastante variados tipos de efeitos, aplicações, quando lar espaços acústicos. Se estamos mixando música,
usá-los e suas funções nos arranjos, mixes etc. Mas, tecnicamente o reverb seria o som da sala. Natural-
afinal, de quantos efeitos uma mix realmente precisa? mente, não queremos cada instrumento numa sala
diferente, pois normalmente os músicos tocam jun-
Como sempre, faço alguma analogia com épocas clás- tos! Certo? Uhmm... não necessariamente. Produzir
sicas da engenharia de música. Nos anos 60 não exis- uma mix é uma arte. E como em qualquer arte, a
tiam muito efeitos. Usava-se o próprio espaço acústico regra muda com o estilo, a personalidade, a ousa-
para criar numa mix a sensação de distância e espaço. dia. Sim, se o objetivo é criar um ambiente acústi-
Nos anos 80 tivemos a invasão dos Digital Effects Pro- co absolutamente natural, não haveria motivo para
cessors. Os estúdios mudaram, a música pop mudou, usarmos mais de uma máquina de reverb. Mas acho
e o jeito de se trabalhar também. As grandes produ- que desde Elvis e Beatles não se ouve uma mix feita
ções começaram a usar um ou mais processadores de
assim. A não ser que o objetivo seja simular esta
efeito para cada instrumento em uma mix e a sono-
sonoridade, obviamente.
ridade pop mudou demais. Aquela naturalidade dos
discos dos anos 60 e 70 abriu espaço para um som
Eu costumo dizer que me reservo o direito de mudar
bem menos natural, muito mais processado, mas en-
de ideias sobre coisas que escrevo por aqui. Desde
volvente, controladíssimo e com muito punch.
que comecei a mixar em estúdios grandes, nos anos
90, e depois, com os bons computadores nos últi-
Para quem se aventurava a gravar em seus estúdios
mos anos, desenvolvi o hábito de criar uma máquina
caseiros nos anos 90, essa era uma das grandes di-
de efeito dedicada para cada instrumento que “pe-
ferenças dos estúdios “grandes”: o tamanho do rack
dia” algum reverb, e então eu trabalhava e talhava
de periféricos. Os grandes estúdios exibiam seu acer-
aquele efeito para aquele track. Mas recentemente
vo de efeitos como se fosse o poder de um cardápio
resolvi experimentar, no estúdio, a minha técnica de
de um bom restaurante. Enquanto isso, nos pequenos
mix de shows: criar uns quatro reverbs com sono-
estúdios tínhamos que escolher qual máquina de re-
ridades variadas – um curto, um denso, um longo e
verb usar para a voz e alguma outra para o resto. Tal-
vez sobrasse mais uma pra usarmos exclusivamente um delay – e dosar estes efeitos ao longo da mix.

para a caixa da bateria, se tivéssemos sorte! Não existe a fórmula exatamente certa, mas é certo
que cada caminho te leva a um destino final. Achei
Hoje, não temos do que reclamar. Temos tudo às este método dinâmico, mais rápido, e me prendia
mãos. Quantos compressores quisermos. Os mais por menos tempo ouvindo somente aquele track,
variados possíveis. Equalizadores que simulam mo- me liberando pra ouvir a música como um todo, que
delos vintage reais e outros plug-ins que fazem o é o que realmente importa.
que nenhum processador físico jamais fez. Reverbs
digitais virtuais e reverbs de impulse-response, que Às vezes, mudar o seu workflow, ou o jeito que você
são samples de espaços acústicos reais, gravados trabalha, pode te inspirar a chegar a novos tipos
em suas memórias. Qualquer bom computador atu- de sons. Estes constantes experimentos têm fun-
al consegue abrir mais plug-ins simultâneos do que cionado pra mim, além de me motivarem a alcançar
temos de criatividade. novos resultados.

Então, afinal... com todo esse leque de ferramentas Boas mixes e até mês que vem. •

Enrico De Paoli é engenheiro de música e mix producer. Seus créditos premiados com grammys vão de Djavan a Ray Char-
les. Atualmente em tour com o cantor Jorge Vercillo. Conheça também seus treinamentos particulares Mix Secrets no site
www.EnricoDePaoli.com.

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