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DOURADOS/MS, DEZEMBRO
2014
MARIA ROSA PEREIRA DE ANDRADE
DOURADOS/MS, DEZEMBRO
2014
DEDICATÓRIA
Dedico as minhas filhas Vitória e Ana Luiza e ao meu esposo Adão, pelo apoio
e a compreensão, pois em muitos momentos deixei de acompanhá-los, para que pudesse
concluir, este trabalho, com êxito.
RESUMO
Introdução.......................................................................................................................6
2. O Professor da EJA....................................................................................................13
Considerações Finais.......................................................................................................36
Referências.....................................................................................................................39
INTRODUÇÃO
Considerando que uma Educação de qualidade deve ser uma busca constante das
instituições de ensino e para que isso se torne realidade são necessárias ações que sustentem
o trabalho em equipe. As instituições de ensino precisam cada vez mais de profissionais
responsáveis, inteligentes, dinâmicos e com habilidades para resolver problemas e tomar
decisões. Assim, pretendemos desvendar as atribuições necessárias para a efetividade do
trabalho de toda equipe escolar, principalmente daqueles que estão na linha de frente deste
trabalho, ou seja, os professores e o coordenador pedagógico, pois como afirma Freire (1983,
p16) “A primeira condição para que um ser possa assumir um ato comprometido está em ser
capaz de agir e refletir”.
Alguns dos problemas que enfrentamos nas escolas e classes decorrem exatamente
dessa organização curricular que separa a pessoa que vive e aprende no mundo
daquela que deve aprender e apreender os conteúdos escolares. No caso da EJA,
um outro agravante se interpõe e se relaciona com o fato de que a idade e vivências
social e cultural dos educandos são ignoradas, mantendo-se nestas propostas a
lógica infantil dos currículos destinados às crianças que freqüentam a escola
regular. (Oliveira, 2007)
Quanto mais for levado a refletir sobre sua situacionalidade, sobre seu
enraizamento espaço-temporal, mais “emergerá” dela conscientemente
“carregado” de compromisso com sua realidade, da qual, porque é sujeito, não
deve ser simples espectador, mas deve intervir cada vez mais. (Freire 1983. 61)
CAPÍTULO 2
O PROFESSOR DA EJA
Paulo Freire, na década de 60, já apresentava uma nova perspectiva para ensino
de jovens e adultos. Seu trabalho, na época, teve grande repercussão, não só no sentido do
ler e escrever, mas dando maior ênfase à conscientização política de organização das
camadas populares; foi reprimido diante de seu ato formador conseguindo em 40 dias
alfabetizar grupos de trabalhadores dentro dos princípios humanos e democráticos. De
acordo com a visão de Paulo Freire:
A escola atual precisa estar preparada para receber e formar estes jovens e
adultos que são frutos de uma sociedade injusta, mas para isso é necessário, professores
dinâmicos, responsáveis, criativos, que tenha a capacidade de inovar e transformar sua sala
de aula em um lugar atrativo e estimulador e que acima de tudo respeitem as condições
culturais desses alunos.
A história da EJA no Brasil está muito ligada a Paulo Freire. O Sistema Paulo
Freire, desenvolvido na década de 60, teve sua primeira aplicação na cidade de Angicos, no
Rio Grande do Norte. E, com o sucesso da experiência, passou a ser conhecido em todo País,
sendo praticado por diversos grupos de cultura popular. A Constituição de 1934 estabeleceu
a criação de um Plano Nacional de Educação, que indicava pela primeira vez a educação de
adultos como dever do Estado, incluindo em suas normas a oferta do ensino primário.
Na década de 60, com o Estado associado à Igreja Católica, novo impulso foi
dado às campanhas de alfabetização de adultos. No entanto, em 1964, com o golpe
militar, todos os movimentos de alfabetização que se vinculavam à ideia de fortalecimento
de uma cultura popular foram reprimidos. O Movimento de Educação de Bases (MEB)
sobreviveu por estar ligado ao MEC e à igreja Católica. Todavia, devido às pressões e à
escassez de recursos financeiros, grande parte do sistema encerrou suas atividades em 1966.
Na década de 70, ainda sob a ditadura militar, marca o início das ações
do Movimento Brasileiro de Alfabetização o MOBRAL, que era um projeto para se acabar
com o analfabetismo em apenas dez anos.
Contudo, a partir dos anos 90, a EJA começou a perder espaço nas
ações governamentais. Em março de 1990, com o início do governo Collor, a Fundação
EDUCAR foi extinta e todos os seus funcionários colocados em disponibilidade. Em nome
do enxugamento da máquina administrativa, a União foi se afastando das atividades da EJA
e transferindo a responsabilidade para os Estados e Municípios. Neste mesmo ano, acontece
na Tailândia/Jomtiem, a Conferência Mundial de Educação para Todos, onde foram
estabelecidas diretrizes planetárias para a educação de crianças, jovens e adultos.
Para cumprir essa meta foi lançado o Programa Brasil Alfabetizado, por meio do
qual o MEC contribuirá com os órgãos públicos estaduais e municipais, instituições de
ensino superior e organizações sem fins lucrativos que desenvolvam ações de alfabetização.
No Programa Brasil Alfabetizado, a assistência será direcionada ao desenvolvimento de
projetos com as seguintes ações: Alfabetização de jovens e adultos e formação de
alfabetizadores.
O Censo escolar da educação básica 2012, resumo técnico, informa que a educação
de jovens e adultos apresentou queda de 3,4% (139.292), totalizando 3.906.877 matrículas
em 2012, desse total, 2.561.013 (65,6%) estão no ensino fundamental (inclui EJA integrada
à educação profissional e Projovem – Urbano) e 1.309.871 (34,4%) no ensino médio (inclui
EJA integrada à educação profissional). Segundo dados da Pnad/IBGE 2011, o Brasil tem
uma população de 56,2 milhões de pessoas com mais de 18 anos que não frequentam a escola
e não têm o ensino fundamental completo.
Os números são incontestáveis, ou seja, o atendimento à EJA está muito abaixo
do que deveria ser. O Censo Escolar 2012 mostra que os alunos que frequentam os anos
iniciais do ensino fundamental da EJA têm perfil etário superior aos que frequentam os anos
finais e o ensino médio. Esse fato mostra que os anos iniciais não estão produzindo demanda
para os anos finais do ensino fundamental de EJA.
Considerando as idades dos alunos nos anos finais do ensino fundamental e no
ensino médio de EJA, há evidências de que essa modalidade está recebendo alunos
provenientes do ensino regular, por iniciativa do aluno ou da escola.
Em Mato Grosso do Sul a Secretaria de Estado de Educação oferece também
Cursos de Educação de Jovens e Adultos para as etapas do ensino fundamental e do ensino
médio. A Tabela abaixo, mostra o Número de matrículas da Educação de Jovens e Adultos,
na Rede Estadual de Ensino.
2006
34.380 2006 24.748 2006 59.128
Estes alunos possuem uma gama de conhecimento que deve ser levada em conta
no processo de aprendizagem para que, realmente, este novo conhecimento possa fazer
sentido a esse aluno. Isso significa que alguns conteúdos formais devem ser abandonados
em prol de outros que sejam funcionais, ou seja, que possam contribuir para capacitação dos
alunos.
Uma das hipóteses que se levanta para motivação da evasão escolar é a postura
do professor em transmitir “seu conhecimento”, em que o faz verticalmente, não levando em
conta a singularidade deste aluno, que possui um conhecimento prévio de acordo com suas
vivências, tornando-se um entrave à apreensão do que é visto em ambiente escolar e
realmente aplicado no seu dia-a-dia. Percebe-se a dificuldade na construção de um novo
conhecimento, pois não há espaço no contexto escolar para que consigam fazer a
transposição de suas experiências (ABRANTES 1992).
CAPÍTULO 4
A Escola possui uma área pequena, com aproximadamente seis salas de aula,
diretoria, secretaria, saguão, cozinha, vinte e quatro cabines, para o atendimento
personalizado e área de estacionamento.
Para Arroyo:
Essas diferenças podem ser uma riqueza para o fazer educativo. Quando os
interlocutores falam de coisas diferentes, o diálogo é possível. Quando só os
mestres têm o que falar não passa de um monólogo. Os jovens e adultos carregam
as condições de pensar sua educação como diálogo. Se toda educação exige uma
diferença pelos interlocutores, mestres e alunos (as), quando esses interlocutores
são jovens e adultos carregados de tensas vivências, essa diferença deverá ter um
significado educativo especial. (ARROYO, 2006, p. 35).
25%
MATRIC. E.M
EVADIDOS
75%
29%
Matric. E. F.
Evadidos E.F.
71%
Os gráficos acima mostram que houve 25%, de evasão no ensino médio e 29%
no ensino fundamental. Mas é importante esclarecer que esse parte deste número de
evadidos, se faz por conta dos exames nacionais de certificação. Com a exigência de maior
escolarização para ocupar os novos postos de trabalho, na busca por melhores condições de
trabalho, por novos cargos a população procura por uma formação rápida.
Conforme aponta Silva (2012), com esse novo paradigma em torno das
exigências do mundo do trabalho é que surgiu a lógica dos exames de certificação e estes
estão assegurados pela Lei Federal nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 – Lei de diretrizes
e Bases da Educação Nacional (LDBEN), a qual os define como uma modalidade a distância
da Educação de Jovens e Adultos. Esses exames são reconhecidos como um direito dos
jovens e adultos, e se configuram como uma política de expansão dos níveis de
escolarização, sendo possível certificar e institucionalizar os conhecimentos dos muitos
sujeitos que se afastaram do contexto escolar.
IDADE
21% 20%
HOMESNS
MULHERES
acima de 45
31% entre 30 a 45
28%
O gráfico mostra que, o número de mulheres que responderam o questionário foi
maior que o número de homens, tendo em vista que, nesta faixa etária de idade, há mais
mulheres que homens frequentando a escola.
ESTADO CIVIL
5%
10% HOMENS CASADOS
30%
HOMENS SOLTEIROS
MULHERES VIUVAS
20%
MULHERES SEPARADAS
10%
MULHERES CASADAS
25% MULHERS SOLTEIRAS
20%
25% nunca estudou
Só alfabetização
4ª série
fund. Completo
55%
Quanto ao grau de estudo dos pais, percebe-se que de todos os pesquisados o
grau máximo de estudo dos pais foi a conclusão da 4ª série, estes também não tiveram a
oportunidade para estudar o que se pode afirmar que a negação a esse direito é histórica e
coletiva como afirma Arroyo (2007):
Nesse sentido, deve-se oferecer a esses alunos jovens e adultos, uma educação
de qualidade, visando atender às necessidades de aprendizagem e que os conhecimentos
adquiridos na escola possam propiciar uma visão libertadora, objetivando vencer tudo aquilo
que os impede de crescer, pois a falta do estudo não permite novas oportunidades no
trabalho, novas expectativas de mudanças de vida.
Está trabalhando
atualmente
25%
Sim
não
75%
menos de um
65% salário
44% sim
56%
não
O que o levou a parar de estudar?
10%
20% trabalho
família
outros
70%
Os alunos de EJA, interrompem seus estudos muito cedo por vários motivos,
mas o principal deles é a necessidade de trabalhar para sobreviver, para ajudar os pais, a
família, etc. Os vinte por cento que responderam a família são a maioria mulheres que
precisavam ajudar em casa e não puderam mais estudar e quando se tornaram maiores tinham
o compromisso com a casa os filhos e em alguns casos o esposo não permitia estudar.
Nota-se também que muitos deles já retornaram à escola e desistiram por mais
de uma vez. Acredita-se que não há necessidade de questionar os motivos que os levam a
iniciar e desistir, uma vez que se trata de trabalhadores, adultos, cansados de uma longa
jornada de anos de trabalho duro. Estes veem no estudo uma chance de melhorar de emprego,
crescer na empresa onde trabalha, ganhar um salário melhor e retornam à escola mas nem
sempre conseguem permanecer ou concluir seus estudos o que acaba gerando este grande
número de evasão na EJA.
É importante ressaltar ainda que além destes motivos há outros que somados a
estes, são infalíveis para o desestímulo destes alunos, que é a forma como são recebidos e
como são trabalhados os conteúdos em sala. Muitos profissionais não querem ter a
preocupação, o desgaste de conhecer a vida de cada um, para poder perceber suas
necessidades, suas dificuldades, seus sonhos e estes carentes de atenção, do saber formal,
acabam desistindo de estudar, desistindo dos seus sonhos.
Daí a importância do trabalho pedagógico, em trabalhar junto com o professor,
estimulando-o a valorizar estes alunos para que estes não desistam e possam concluir seus
estudos, pois o sucesso destes é o sucesso profissional e pessoal do professor, do
coordenador, da direção, em fim de toda instituição de ensino.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No que confere ao perfil do aluno da EJA, constatou-se que este público, na sua
grande maioria, foram excluídos ou não tiveram acesso à escola, sendo eles trabalhadores
assalariados, desempregados, dona de casa, jovens, idosos, portadores de deficiências
especiais. São alunos com diferenças culturais, étnicas, religiosas e crenças, mas que
mudaram sua realidade ao retomarem seus estudos.
Sendo assim, cabe aos educadores criar uma dinâmica metodológica que
desperte o interesse do educando e o instigue a concluir seus estudos diminuindo a
evasão escolar, pois observou-se que este fator é significativo haja visto que, o maior índice
de evasão escolar está relacionado às necessidades dos jovens trabalharem para ajudar na
renda familiar.
De acordo com o Censo escolar da educação básica 2012, houve uma queda
3,4% no número de alunos matriculados na EJA; Em Mato Grosso do Sul conforme
estatística apresentada pelo MEC/SECADI (MEC/Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade e Inclusão), nota-se que houve queda de 35,4% no ano de 2011
em relação a 2006 no número de matrículas e em 2011 houve um alto índice de abandono
escolar no MS.
Para a pesquisa de campo foi aplicado questionário há vinte alunos das etapas
do ensino fundamental e do ensino médio da Escola CEEJA e 60% tinha acima de 45 anos
e os outros 40% entre 30 a 45 anos e destacamos que destes vinte alunos haviam mais
mulheres que homens devido ao fato de que o número de mulheres matriculadas no Centro
é bem maior que o número de homens. Houve também uma disparidade quanto ao estado
civil, a maioria dos homens são casados enquanto que a maioria das mulheres são separadas
ou viúvas; como mostra os gráficos a maioria estão trabalhando e a renda destes é de até um
salário mínimo. Assim, como a maioria dos alunos da EJA, os alunos do CEEJA também já
interromperam seus estudos mais de uma vez por várias razões, sendo a principal, a
necessidade de trabalhar para sobreviver e ajudar a família, etc.
BRASIL. Presidência da República: Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº
9.394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Visitado em: 20/10/2014.
CHARLOT, Bernard. Da Relação com o Saber: elementos para uma teoria. RS Porto Alegre:
Artes Médicas Sul, 2000.
_______. Educação e mudança; tradução de Moacir Gadotti e Lilian Lopes Martin. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1983.
OLIVEIRA, Inês Barbosa de. Reflexões acerca da organização curricular e das práticas
pedagógicas na EJA. Educ. rev. 2007, no. 29, p. 83-100. ISSN 0104-4060. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/er/n29/07.pdf. Visitado em 21/09/2014.
SOARES, Leôncio (Org.). Educação de Jovens e Adultos: o que revelam as pesquisas. Belo
Horizonte: Autêntica Editora, 2011. (Coleção estudos em EJA, 11)