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E uma terceira incerteza vem de aceitar que, ao fundo, a ciência que está mais
próxima ao conceito de prazer na atualidade é a psicanálise. Porém a psicanálise
introduz um conceito muito sutil das diferenças entre os tipos de prazer. No sentido
de Barthes, há uma oposição; considera bastante diferente, que não quer dizer dizer
que seja absolutamente verdadeira, mas tem um valor de guia, de condução, de
condutor teórico, que é a posição entre o prazer e o desfrute (fruição).
Não podemos fazer uma espécie de definitiva distinção, que é muito sutil, e
sobretudo, o autor não quer que ela permita derrubar uma classificação rígida entre
as obras do texto do prazer e as obras do texto de fruição.
Porém, em geral, o que está de parte do prazer são os textos que tem ou apostam
no leitor uma espécie de euforia, de comodidade; a comodidade no refazimento do
seu ego, de alguma maneira, e por isso mesmo, o prazer é totalmente compatível
com a cultura. Há um prazer do cultura, sem dúvida.
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Enquanto que a fruição, evidentemente, é algo mais radical, algo muito mais
absoluto, que sacode o sujeito que está lendo, que o divide, que o plurariza, que o
despersonaliza. É, pois, uma experiência muito diferente, que com frequência vai
precisamente contra a leitura. É nesse sentido que o texto de fruição é raro e muito
variável segundo o sujeito. São textos que tem um pouco de valor, de experiência-
limite, de experiências marginais.
Não se tem que pronunciar o nome, a palavra escritor. Esta é uma questão
justamente que a crítica, a teoria literária tem debatido muito nos últimos dez anos.
Há um certo concepção do escritor que já não é mais possível. O escritor já não
pode ser considerado agora, como dizia Mallarmé, com um senhor. Não se pode
considerar como um pequeno senhor que gosta da sua obra, que é o pai da sua
obra, e a quem se atribui de algum modo todo o benefício passional do seu livro, de
sua obra. Houve um momento em que era necessário apegar-se à noção de escritor.
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Porém, agora como o nivelamento que se tem feito, é impossível reintegrar de
alguma maneira o autor a uma certa visão de literatura. Mas é evidente também que
há outro lugar, há a troca das coisas não em linha reta, senão em espiral, se o
prefere. E é claro também que se pode, perfeitamente, interessar-se pro uma obra,
pelo tipo de figura advinda do autor por detrás do texto.
Barthes também utiliza a palavra novo, fala de novidade, de obras novas feitas por
ele e por outros escritores, e utiliza essas palavras sentido muito concreto. Faz parte
de uma intolerância pessoal que tem por toda a forma de literatura, o pensamento,
a linguagem, sobretudo estão estereotipados. Os estereótipos não o agrada. Além
de que, o momento em que vivemos, a nossa história mesmo, em todo o caso, nos
chama a ir sem cessar de inovação a inovação.
Por tanto, o novo tem para ele uma espécie de valor catártico, um valor de
purificação em si mesmo, sem importar o conteúdo novo. O novo é uma espécie de
marchar dialética absolutamente necessária em nossa historia atual.
Somos uma sociedade móvel, em consequência, devemos ir cada vez mais longe,
mais adiante e além.
Para Barthes o novo não é uma moda. Em geral, esta é a objeção que se pode fazer
à novidade ao dizer que não tem mais importância que há de ser moda. Em
realidade, a moda pode ser algo importante, é algo que tem importância para a
história mesma da sociedade. Barthes pensa que investigar a inovação é sempre
muito difícil, porque se produz uma espécie de estereotipo novo. É por isso sempre
muito difícil fazer algo novo. Porém, acredita que a inovação é algo absolutamente
necessário para a dialética da sociedade. Som, os uma sociedade móvel, não somos
uma sociedade imóvel, temos que aceitar.
E sempre se teve que a leitura nunca é outra coisa que não um atitude inocente, e
como se falar de leitura em termos eróticos, na perversão da leitura? Segundo
Barthes, precisamente, é falado da leitura trágica e da leitura dramática. Onde se
produz a perversão? Segundo ele, refere-se a um sentido preciso da palavra
perversão em sentido da psicanálise freudiana. Na psicanalise a perversão é essa
disposição que de alguma maneira separa em dois o sujeito. O sujeito leitor, por
exemplo, se divide em dois, e uma parte do sujeito entra em contradição com a outra
parte do sujeito.
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Se é aplicada essa tensão na tragédia, é precisamente porque, por exemplo, o
expectador antigo de uma tragédia conhecia muito bem o tema, o fim da historia que
era representada. Por exemplo, a história de Edipo. Sabia muito bem como acabaria
a tragédia, e, portanto, agia como se não conhecesse o final. Experimentava a
mesma emoção e o mesmo prazer como se não tivera conhecido o final. E esse tipo
que define a perversão.
Ao final do livro Barthes diz que atualmente presenciamos os esforços que faz o
artista, em especial o escritor, por destruir a arte. Em principio tem empregado isso
pensando muito mais na pintura, pondo entre macas a palavra porque se trata mais
da pintura que pensando em literatura.
No que se refere a literatura. Crê que é mais complexo. Não se pode nunca
equiparar um texto a uma obra pictórica, a uma obra visual. Porque, simplesmente,
qualquer que seja a maneira como seja tomado, veicula um sentido.
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Há um pacto no espaço do "entre” autor/leitor que possibilita que este último corte
a corda e contente-se no prazer que a escrita permite.
Para este Barthes, a leitura é um jogo erótico. Contudo, escrever no prazer não
assegura que o prazer chegue ao leitor, é preciso criar um espaço de fruição. E a
escritura é a ciência das fruições da linguagem, é a porta de acesso ao imaginário
e ao ideológico. Entendemos que a escrita barthesiana se move no intervalo sutil
entre o texto de vanguarda (que adia a fluência da leitura e impõe sobre ela seu
próprio e necessário ritmo de leitura) e o texto "clássico" (que mantém um
compromisso com uma prática de leitura confortável).
Barthes defende em O Prazer do Texto dois tipos de textos: texto de prazer e texto
de fruição; e dois regimes de leitura que circundam os textos. O exemplo de texto
de prazer (clássico) de que se serve Barthes é aquele que nos faz escolher as
páginas a serem lidas, sem que haja perda do entendimento do texto em si. Que o
leitor pode seguir a ordem do texto ao escolher as passagens a serem lidas e,
depois, retomar a leitura, sem pular as mesmas páginas. Já o texto de fruição
(vanguarda) é o que nos causa estranhamento, seja na linguagem, seja na
temporalidade da leitura, ou seja, este texto não flui, apenas frui. É o texto que o
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leitor obrigatoriamente tem que se debruçar sobre ele para que o mesmo se torne
legível, porém não será possível falar sobre ele a não ser à maneira dele.
Para o autor, o primeiro é "aquele que contenta, enche, dá euforia (p.21)", aquele
que é oriundo da cultura do leitor e que não questiona e nem rompe com o conforto
da leitura. Já o segundo texto é o que "faz entrar em crise (p. 22)" a própria relação
com a linguagem, é o que desconforta, o que faz vacilar os valores e lembranças.
Há, n'O Prazer do Texto, uma valoração do autor para o primeiro texto. Para Barthes
"o prazer do texto seria irredutível a seu funcionamento gramatical (fenotextual),
como o prazer do corpo é irredutível à necessidade fisiológica (p. 25)".
[...] se eu digo que entre o prazer e a fruição não há senão uma diferença de grau,
digo também que a história está pacificada: o texto de fruição é apenas o
desenvolvimento lógico, orgânico, histórico, do texto de prazer, a vanguarda não é
mais do que a forma progressiva, emancipada, da cultura do passado: o hoje sai de
ontem[...] Mas se eu creio, ao contrário, que o prazer do texto e a fruição são
paralelas [...] que o texto de fruição surge aí à maneira de um escândalo [...] longe
de poder acalmar-se levando em conjunto o gosto pelas obras passadas e a defesa
das obras modernas num belo movimento dialético de síntese, nunca é mais do que
uma "contradição viva": um sujeito clivado, que frui ao mesmo tempo, através do
texto, da consistência de seu ego e de sua queda (p. 30). (destaques do autor).
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vanguarda (estas estão presas ao paradigma da violência). A nossa assertiva
respalda-se na escrita de Barthes para afirmar o escritor de prazer, e na escolha da
estrutura da forma para afirmar o escritor de fruição.
Mas se o leitor não é familiarizado com o "tema" da obra, toda e qualquer repetição
que há na mesma, tem o intuito apenas de fazer com que esse leitor, ao se debruçar
sobre ela, possa fruir. Mas o mesmo jamais dará conta de contentar-se com ela
devido ao fato de a mesma causar estranhamento, enfado ("O enfado não está longe
da fruição: é a fruição vista das margens do prazer (p.36)") seja por sua formatação,
seja por sua ambivalência. Neste sentido esta obra também é uma escrita de
vanguarda devido ao fato de ofertar resistência, o que interfere no ritmo da leitura e
exige que seja mais lenta. Embora, estruturalmente, por subtração, cortes, elipses,
concisão o autor busque a velocidade, da perspectiva do leitor essa estrutura textual
resulta precisamente em seu contrário: a lentidão.