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A primeira experiência de teletransporte

MARCELO GLEISER
especial para a Folha

Imagine um futuro longínquo, quando aviões, trens ou qualquer outro meio de


transporte tenham se tornado coisa do passado. Para ir de um ponto a outro no espaço,
bastará entrar em uma cabine de teletransporte e sair, instantaneamente, em outra, no
destino desejado. Poderemos começar uma viagem em São Paulo e terminá-la no Rio,
ou em outra galáxia...
Mas essa história é velha! Basta assistir a um episódio da série "Jornada nas Estrelas"
que veremos o Capitão Kirk ser teletransportado sem maiores mistérios. Ficção
científica? Sem dúvida. Mas, recentemente, físicos na Áustria e na Itália, conseguiram
pela primeira vez teletransportar uma propriedade de um fóton -uma partícula de luz
cuja existência foi proposta por Einstein em 1905- de um ponto a outro no espaço.
Instantaneamente.
Sabemos que a luz pode ser descrita como ondas eletromagnéticas que se propagam à
velocidade de 300.000 km/s no espaço vazio. Como toda onda, a luz pode ser
polarizada, ou seja, ela pode estar vibrando em apenas um determinado plano.
Imagine uma corda com uma das extremidades amarrada a uma árvore. Vibrando a
outra extremidade, podemos fazer com que a corda ondule com "polarizações"
diferentes, por exemplo, perpendicular ou paralela à árvore. O fóton, como digno
representante corpuscular da luz, ou melhor, da radiação eletromagnética, também exibe
diferentes polarizações.
Nas experiências feitas na Áustria e na Itália, a propriedade do fóton teletransportada foi
sua polarização. Imagine que Maria esteja interessada em teletransportar para João a
polarização de um fóton. Maria tem dois fótons, que ela chama de A e M (de
mensageiro). João tem um fóton B. O teletransporte seria, então, fazer com que o fóton
de João (B) adquira a polarização original do fóton de Maria (A). No teletransporte,
nenhum fóton viaja fisicamente através do espaço separando Maria e João. Apenas as
propriedades do fóton A, de Maria, se materializam instantaneamente no fóton B, de
João. (Para o leitor curioso, esse fenômeno não viola a causalidade.)
Como que esse fenômeno bizarro de interação instantânea a distância é possível? O
comportamento de objetos no mundo submicroscópico muitas vezes vai contra nossas
noções do que é ou não possível. No caso dos fótons, é possível construir um par de
fótons que exibem, juntos, uma propriedade conhecida como "entrelaçamento".
Se um par de fótons está entrelaçado, ao medirmos a polarização de um deles, o outro
imediatamente assumirá a polarização perpendicular à que foi medida. Se os fótons A e
M estão entrelaçados e se medirmos A com polarização vertical, M assumirá
polarização horizontal.
O que é fantástico é que esse efeito não depende da distância entre os dois fótons. A e
M podem estar separados por um metro, dez quilômetros (como no experimento
recente) ou estar em outra parte da galáxia. Mas, ao medirmos a polarização de A, M
assumirá imediatamente a polarização perpendicular. Einstein jamais aceitou essa
possibilidade. Mas vários experimentos comprovaram o entrelaçamento de dois fótons.
Voltando a João e Maria, eles entrelaçam os fótons M e B. Maria, por sua vez, entrelaça
seus dois fótons, A e M. O que acontece? Quando Maria entrelaça A e M, sabemos que
M assumirá a polarização perpendicular a A. Mas, como M e B também estão
entrelaçados, sabemos que B assumirá a polarização perpendicular a M. Ou seja, B
assumirá a polarização original de A.
As aplicações são potencialmente imensas, mesmo que ainda não possamos sequer
imaginar como teletransportar seres humanos. Mas nos campos emergentes de
criptografia e computação quântica (computadores baseados em moléculas), o
teletransporte será um ingrediente fundamental. O que era ficção vai se tornando, de
fóton em fóton, realidade.

Marcelo Gleiser é professor de física teórica do Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro
"A Dança do Universo".

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