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O ACORDO BRASIL-SANTA SÉ

Autora: Sueli Almeida de Oliveira1

INTRODUÇÃO

“A Igreja católica é a única das confissões religiosas que dispõe de um Estado


soberano.” 2 E se apresenta na terra como um organismo visível e social, dotado
desde o inicio de uma organização e de normas próprias e de um sistema de direito
conhecido como direito canônico, que é a expressão e a realização na história da
dimensão de justiça contida na natureza da Igreja. Perante a comunidade
Internacional organizada a Santa Sé representa todo o mundo católico, embora isso
não aconteça da mesma maneira que um Estado representa um povo particular,
porque ela é a autoridade universal do mundo católico sendo que a intervenção da
Santa Sé em reuniões internacionais tem certamente uma autoridade muito forte.
Sendo a Santa Sé representante do mundo católico age como sujeito do
ordenamento internacional, sendo capaz de cumprir atos internacionais relevantes,
relacionar-se e aderir a pactos consuetudinários, bem como ser destinatária “dos
princípios gerais das normas fundacionais de tal ordenamento. A metodologia que
será adotada para o presente estudo consiste em pesquisa bibliográfica, procurando
utilizar-se da doutrina canônica e civil, do Código de Direito Canônico, do
Ordenamento jurídico Brasileiro, bem como do Direito Internacional.

Palavras-chaves: Acordo Brasil-Santa Sé. Direito Internacional. Diplomacia.

1 Mestre em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Gregoriana; Especialista em Filosofia do


Direito pela Universidade Estadual de Londrina - Uel; Especialista em Direito Civil e Processo Civil
pela Universidade Norte do Paraná - Unopar. Atua no Tribunal Eclesiástico Interdiocesano e de
Apelação de Londrina; colabora no Tribunal Eclesiástico Interdiocesano de Maringá e no Tribunal
Eclesiástico Interdiocesano e de Apelação de Belo Horizonte.
2 LEBEC, Éric. História secreta da diplomacia vaticana. Trad. Luiz J. Baraúna. Petropólis: Vozes,

1999, p. 7.
2

1. O ACORDO BRASIL-SANTA SÉ

O Acordo Brasil–Santa Sé reitera

a vigência das normas e princípios já reconhecidos e expressamente


contemplados tanto pela Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas
como pela Constituição Federal e pelo ordenamento jurídico
infraconstitucional brasileiro.3

O Acordo é composto por 20 artigos, tendo como diretriz central o respeito e


preservação das disposições da Constituição e da legislação ordinária, no que se
refere:

a) a laicidade do Estado Brasileiro;


b) ao respeito do principio da liberdade de crença e religião;
c) ao tratamento equitativo e o reconhecimento dos direitos e deveres
das outras instituições religiosas que estão legalmente
estabelecidas no Brasil.

O Acordo veio responder uma antiga postulação da CNBB, que desde o ano
de 1953, apoiava o primeiro projeto de Acordo, cuja autoria era do Ministério das
Relações Exteriores do Brasil, mas que não obteve êxito.

1.1 FUNDAMENTOS DO ACORDO

Pode-se notar já no preâmbulo do Acordo, o reconhecimento do Estado


Brasileiro de que a Santa Sé é a autoridade suprema da Igreja Católica, sendo
regida pelo Direito Canônico, dizendo que ambas as Altas Partes Contratantes são
autônomas, independentes e soberanas.

Portanto, como diz o Deputado Bonifácio de Andrada, os fundamentos do


Acordo já estão no seu preâmbulo, cujos pressupostos são:

3 ANDRADA, Bonifácio de. Relatório apresentado na comissão de relações exteriores e de defesa


nacional – Congresso Nacional. Mensagem nº 134, de 2009. In Lumen- Revista de Estudos e
Comunicações. Ensaios Sobre o Acordo Brasil Vaticano. Vl. 15, nº 36. São Paulo: IESP/UNIFAI,
2009. p. 1.
3

- o reconhecimento, pelas Altas Partes Contratantes, das relações históricas


entre a Igreja Católica e o Brasil e suas respectivas responsabilidades a
serviço da sociedade e do bem integral da pessoa humana;
- o reconhecimento, pelas Altas Partes Contratantes, de que a Santa Sé é a
suprema autoridade da Igreja Católica, regida pelo Direito Canônico;
- o reconhecimento, pelas Altas Partes Contratantes, de que ambas são,
cada uma na sua própria ordem, autônomas, independentes e soberanas e
cooperam para a construção de uma sociedade mais justa, pacífica e
fraterna;
- na validade, vigência e aplicabilidade, servindo como base jurídica para
sua respectiva atuação, de um lado, os documentos do Concílio Vaticano II
e o Código de Direito Canônico, que estrutura a Santa Sé e, de outro lado, o
ordenamento jurídico interno, com relação à República Federativa do Brasil,
no seu ordenamento jurídico;
- na reafirmação à adesão das Altas Partes Contratantes ao princípio da
liberdade religiosa, internacionalmente reconhecido;
- no reconhecimento de que a Constituição brasileira garante o livre
exercício dos cultos religiosos; e
- na intenção das Altas Partes Contratantes de fortalecer e incentivar as
mútuas relações já existentes.4

Portanto, o Acordo, vem ordenar e consagrar as normas vigentes no


relacionamento do Brasil com a Igreja Católica, estando plenamente vinculado à
atualidade das relações internacionais, pois são inúmeras as concordatas, acordos e
convênios existentes entre diversos países e instituições religiosas.

O Art. 21 da Constituição Brasileira dá competência à União para manter


relações com Estados Estrangeiros, sendo que o artigo 84 da Constituição diz que é
atribuição privativa do Presidente da República, conforme itens VII e VIII do
dispositivo legal, celebrar tratados, convenções e atos internacionais, que estão
sujeitos posteriormente ao referendo do Congresso Nacional, o que ocorreu com o
presente Acordo.

O Acordo foi assinado no dia 13 de novembro de 2008, na Sala dos Tratados


do Palácio Apostólico do Vaticano, na presença do Presidente da República
Federativa do Brasil e do Secretário de Estado do Vaticano. A Câmara dos
Deputados o aprovou no dia 27 de agosto de 2009 e, o Congresso Nacional o
ratificou no dia 7 de outubro de 2009, sendo que no dia 10 de dezembro de 2009, foi
celebrada a “Troca de Instrumentos de Ratificação no Vaticano, ato que tornou o

4ANDRADA, Bonifácio de. Relatório apresentado na comissão de relações exteriores e de defesa


nacional – Congresso Nacional. Mensagem nº 134, de 2009. In Lumen- Revista de Estudos e
Comunicações. Ensaios Sobre o Acordo Brasil Vaticano. Vl. 15, nº 36. São Paulo: IESP/UNIFAI,
2009, p. 16-17.
4

documento vigente em campo internacional. A Promulgação do Acordo no Brasil foi


efetuada pelo Presidente da República Federativa do Brasil no dia 11 de fevereiro de
2010.” 5
Abaixo, veremos o Acordo, com breves comentários em cada artigo.

2. ACORDO ENTRE A REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL E A SANTA SÉ


RELATIVO AO ESTATUTO JURÍDICO DA IGREJA CATÓLICA NO BRASIL

A República Federativa do Brasil

A Santa Sé
(doravante denominadas Altas Partes Contratantes),

Considerando que a Santa Sé é a suprema autoridade da Igreja


Católica, regida pelo Direito Canônico;

Considerando as relações históricas entre a Igreja Católica e o Brasil e


suas respectivas responsabilidades a serviço da sociedade e do bem integral da
pessoa humana;

Afirmando que as Altas Partes Contratantes são, cada uma na própria


ordem, autônomas, independentes e soberanas e cooperam para a construção de
uma sociedade mais justa, pacífica e fraterna;

Baseando-se, a Santa Sé, nos documentos do Concílio Vaticano II e no


Código de Direito Canônico, e a República Federativa do Brasil, no seu
ordenamento jurídico;

Reafirmando a adesão ao princípio, internacionalmente reconhecido,


de liberdade religiosa;

Reconhecendo que a Constituição brasileira garante o livre exercício


dos cultos religiosos;

Animados da intenção de fortalecer e incentivar as mútuas relações já


existentes;

Convieram no seguinte:

5BALDISSERI, Lorenzo. Diplomacia Pontifícia: Acordo Brasil – Santa Sé: intervenções. São
Paulo: LTR, 2011, p. 61-62.
5

Artigo 1º

As Altas Partes Contratantes continuarão a ser representadas, em


suas relações diplomáticas, por um Núncio Apostólico acreditado junto à
República Federativa do Brasil e por um Embaixador(a) do Brasil acreditado(a)
junto à Santa Sé, com as imunidades e garantias asseguradas pela Convenção
de Viena sobre Relações Diplomáticas, de 18 de abril de 1961, e demais regras
internacionais.

A comunidade internacional desde o começo aceita de forma pacifica, como


algo inerente, nascido da história e dado pela sociologia, a capacidade da Igreja
católica de como personalidade internacional, relacionar-se com outros entes
estatais e supranacionais. Pois desde a ocupação dos Estados pontifícios e o
nascimento do Estado do Vaticano, mesmo prisioneiro dentro do próprio Vaticano, o
Papa continuava recebendo as visitas dos chefes de Estado, reis, príncipes
herdeiros e regentes, etc. Além das visitas, continuou mantendo relações
diplomáticas, com embaixadores e núncios, firmando acordos internacionais, que
eram observados e respeitados pelos Estados que firmavam, bem como o Papa
continuou fazendo mediações internacionais atuando como arbitro para solucionar
conflitos entre países. 6

A Santa Sé, de acordo com a doutrina atual é autêntico sujeito de direito


internacional, sendo o órgão que personaliza a Igreja universal, pois de acordo com
a teoria geral do direito a personalidade jurídica se predica do corpo e não do órgão,
ou seja, da Igreja inteira como comunidade universal soberana, que é autônoma e
independente.7

A Santa Sé tem enorme influência no cenário internacional, embora não tenha


recursos político, econômico ou militar, tem obtido vitórias com sua diplomacia, além
de grande prestígio internacional do Papa, cuja

autoridade e influência advêm de sua função e do peso moral da Igreja


Católica como tal. Ele tem a autoridade da persuasão, em virtude da
influência que a Igreja Católica tem no mundo, por suas instituições e suas
obras sociais e religiosas em todos os rincões do mundo. Sendo chefe de

6 DIÉGUEZ, Myriam M. Cortés. Relaciones Iglesia-Estado In: Derecho Canònico II. El Derecho em
la misión dela Iglesia. Coord. José San José Prisco y Myriam M. Cortés Diéguez. Madrid: BAC, 2006,
p. 365-366, passim.
7 DIÉGUEZ, op. cit., p. 367.
6

uma ‘organização mundial’ como é a Igreja Católica, com uma autoridade


fortemente centralizada, o Papa recebe informações provenientes de todos
os cantos do mundo, não somente relativas a assuntos religiosos, mas
também referentes ao mundo cultural, social e político. Podemos, portanto,
presumir que o Papa seja uma pessoa extremamente bem informada e que
a atividade diplomática da Santa Sé seja possivelmente uma das mais
eficientes do mundo.8

A Santa Sé garante sua atuação no direito internacional, participando como


dissemos acima inclusive da Convenção de Viena, o que lhe dá a confirmação de
seus atos mediante fatos concretos tais como:
a) a participação da Santa Sé das conferências das convenções;
b) a expressão “Estados”, utilizada pelas convenções de Viena, também
aplicável a Santa Sé;
c) a terminologia Santa Sé e não a denominação de Estado do Vaticano,
sempre foi utilizada nas assinaturas e ratificação da convenção;
d) a Santa Sé sempre foi reconhecida como tendo capacidade para
realizar acordos internacionais, afirmação da comissão de direito
internacional das Nações Unidas que trabalham para a preparação das
comissões sobre direitos dos tratados, sendo que a Santa Sé é
reconhecida como sujeito de direito internacional, não estatal, que
estipulam tratados;
e) é reconhecido nas normas da convenção de Viena o direito de contrair
(ius contrahendi) da Santa Sé;
f) se a Santa Sé não tivesse participado da elaboração dos documentos
da convenção não poderia aplicar as normas da convenção em seus
pactos;
g) nas relações diplomáticas da Santa Sé com os Estados, são aplicados
as normas da convenção e, os núncios equiparam-se aos
embaixadores, como categoria de pessoas denominadas de um modo
particular, porém com idêntica dignidade, e são agentes diplomáticos
pleno iure.9

8 BALDISSERI, Lorenzo. Diplomacia Pontifícia: Acordo Brasil – Santa Sé: intervenções. São
Paulo: LTR, 2011, p. 44.
9 BUSSO, Ariel David. La Iglesia y la comunidad política. Colección Facultad de Derecho Canónico

– XII. Ediciones de la Universidad Católica Argentina. Buenos Aires, 2000, p. 398.


7

A Santa Sé conquistou um status confirmado no plano do direito internacional,


não tendo necessidade de outras qualificações, desenvolvendo relações de efetiva
atividade de caráter político-diplomático, sendo destinatária tanto de regras comuns
consuetudinárias como também de convenções que o ordenamento internacional
codifica para reordenar as relações entre os Estados.10

Desde o inicio da Nação Brasileira, as Relações Diplomáticas existem com a


Santa Sé, iniciando com a chegada dos Portugueses, através da figura jurídica do
“padroado”, que continuou no Brasil Império, sendo que o Núncio Apostólico
acreditado nesse período era para Portugal e Brasil. Somente em 11 de maio de
1829, foi criada a Nunciatura Apostólica no Brasil, por Leão XII.11

Artigo 2º

A República Federativa do Brasil, com fundamento no direito de


liberdade religiosa, reconhece à Igreja Católica o direito de desempenhar a sua
missão apostólica, garantindo o exercício público de suas atividades,
observado o ordenamento jurídico brasileiro.

Sobre a libertas Ecclesiae encontra-se na Dignitatis humanae, o


pensamento do Vaticano II, ao falar sobre a liberdade religiosa diz que para cuidar
da salvação dos homens, a Igreja deve gozar de toda a liberdade necessária,
afirmando que ‘a liberdade da Igreja é um principio fundamental nas relações entre
a Igreja e os poderes públicos e toda a ordem civil’ (n.13).12

Ao falar em Estado laico hoje, se fala como sinônimo de Estado neutro no que
se refere a matéria religiosa, com separação do Estado das instituições religiosas.
Não pertencer a nenhuma confissão religiosa, dá ao Estado o propósito de
desenvolver seu papel de promover e garantir a liberdade religiosa, sem diferenças,
sendo seu interesse pela religião enquanto dimensão humana que precisa de
liberdade em suas manifestações tanto coletivas quanto individuais. Portanto a
neutralidade do Estado não é para neutralizar a vida religiosa da sociedade e, nem

10 BUSSO, op.cit., p. 399.


11 BALDISSERI, Lorenzo. Art. 1º Relações Diplomáticas entre o Brasil e a Santa Sé. In: Acordo
Brasil-Santa Sé comentado. São Paulo: LTr, 2012, p. 88.
12 TORRE, Giuseppe Dalla. Orientações e problemas sobre as relações entre Igreja e Estado. In:

Problemas e Perspectivas de Direito Canônico. Org. Ernesto Cappellini. São Paulo: Loyola, 1995, p.
293.
8

secularizá-la, muito menos tornar uma sociedade agnóstica. O Estado aconfessional


não desconhece que seus cidadãos praticam alguma religião, nem que seus
próprios membros que fazem parte do Estado possam professar sua religião,
rendendo o devido culto, respeitando a sua consciência.13
Portanto, mediante este artigo, o Estado Brasileiro reconhece à Igreja
Católica, com fundamento no direito de liberdade religiosa, o direito de desempenhar
sua missão apostólica; além de garantir o exercício público de suas atividades,
desde que seja observado o ordenamento jurídico brasileiro.
Com a aplicação dão principio da liberdade religiosa no Brasil, desde que seja
observado o ordenamento jurídico do Brasil, a Igreja Católica tem liberdade
incondicional de desempenhar sua missão apostólica.
O Acordo “viabiliza que todas as instituições eclesiásticas por meio de seus
inúmeros carismas e competências contribuam para os objetivos elencados pelo
próprio tratado”.14
Portanto o

Estado reconhece como legitima a ação da Igreja dirigida a divulgar as


verdades da doutrina católica e a conscientizar o povo da importância de
uma vida privada e pública em consonância com os valores apregoados
pela religião. Os cultos católicos, as liturgias da Igreja, inclusive as
procissões e atos de expressão da fé realizados em público, vêem reiterado
o abono jurídico nesta cláusula. Decerto que as restrições que o
ordenamento jurídico está autorizado a estipular são apenas aquelas
absolutamente indispensáveis para a manutenção da ordem pública, desde
que não inviabilizem o cumprimento dos deveres de consciência do
católico.15

Artigo 3º

A República Federativa do Brasil reafirma a personalidade jurídica


da Igreja Católica e de todas as Instituições Eclesiásticas que possuem tal
personalidade em conformidade com o direito canônico, desde que não
contrarie o sistema constitucional e as leis brasileiras, tais como Conferência
Episcopal, Províncias Eclesiásticas, Arquidioceses, Dioceses, Prelazias
Territoriais ou Pessoais, Vicariatos e Prefeituras Apostólicas, Administrações
Apostólicas, Administrações Apostólicas Pessoais, Missões Sui Iuris,

13 BUSSO, Ariel David. La Iglesia y la comunidad política. Colección Facultad de Derecho Canónico
– XII. Ediciones de la Universidad Católica Argentina. Buenos Aires, 2000, p. 211.
14 OLIVEIRA, Hugo José Sarubbi Cysneiros. Art. 2º Direito de desempenhar a missão apostólica. In:

Acordo Brasil-Santa Sé comentado. São Paulo: LTr, 2012.


15 BALDISSERI, Lorenzo. Art. 1º Relações Diplomáticas entre o Brasil e a Santa Sé. In: Acordo

Brasil-Santa Sé comentado. São Paulo: LTr, 2012, p. 99


9

Ordinariado Militar e Ordinariados para os Fiéis de Outros Ritos, Paróquias,


Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica.

§ 1º. A Igreja Católica pode livremente criar, modificar ou extinguir


todas as Instituições Eclesiásticas mencionadas no caput deste artigo.

§ 2º. A personalidade jurídica das Instituições Eclesiásticas será


reconhecida pela República Federativa do Brasil mediante a inscrição no
respectivo registro do ato de criação, nos termos da legislação brasileira,
vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro do ato de
criação, devendo também ser averbadas todas as alterações por que passar o
ato.

Através deste artigo e seus parágrafos, o Brasil, reafirma que a Igreja Católica
e todas as Instituições Eclesiásticas possuem personalidade jurídica em
conformidade com o direito canônico, desde que não contrarie a Constituição do
Brasil, nem as leis brasileiras, podendo livremente a Igreja Católica criar, modificar
ou até extinguir todas as Instituições Eclesiásticas, que estão mencionadas no caput
deste artigo, que se refere a: Conferência Episcopal, Províncias Eclesiásticas,
Arquidioceses, Dioceses, Prelazias Territoriais ou Pessoais, Vicariatos e Prefeituras
Apostólicas, Administrações Apostólicas, Administrações Apostólicas Pessoais,
Missões Sui Iuris, Ordinariado Militar e Ordinariados para os Fiéis de Outros Ritos,
Paróquias, Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica.
Como se dará o reconhecimento da personalidade jurídica das
Instituições Eclesiásticas?
Será reconhecida mediante a inscrição no respectivo registro do ato de
criação, nos termos da legislação brasileira, sendo que é vedado ao poder público
negar-lhes o reconhecimento ou registro do ato de criação, deverão também as
Instituições Eclesiásticas averbarem no seu devido registro todas as alterações
por que passar o seu ato de criação.
Portanto o Bispo pode praticar todos os atos jurídicos perante quaisquer
instituições, tanto publica como privada, pois é o representante oficial da sua
diocese. A criação de uma paróquia, nomeação do Pároco, terão reconhecimento
público em todos os níveis, bem como é incontestável que o Pároco nomeado é o
representante legitimo da paróquia.16

16SPRIZZI, Marco. Art. 3º Personalidade jurídica. In: Acordo Brasil-Santa Sé comentado. São
Paulo: LTr, 2012, p. 162
10

Artigo 4º

A Santa Sé declara que nenhuma circunscrição eclesiástica do


Brasil dependerá de Bispo cuja sede esteja fixada em território estrangeiro.

Portanto, a circunscrição eclesiástica do Brasil só dependerá do Bispo cuja


sede obrigatoriamente deverá estar fixada dentro do território nacional.
O objetivo deste artigo é assegurar que a soberania nacional não seria
atingida por ingerência interna de uma jurisdição eclesiástica exercida de fora do
território nacional, que poderia gerar algum conflito entre Nações, sentimentos
antinacionalistas ou problemas diplomáticos”.17
Este artigo se refere apenas as dioceses, não abrangendo as prelazias
pessoais, no qual “o Prelado sediado fora do País, conta com seu Vigário no País”.18

Artigo 5º
As pessoas jurídicas eclesiásticas, reconhecidas nos termos do
Artigo 3º, que, além de fins religiosos, persigam fins de assistência e
solidariedade social, desenvolverão a própria atividade e gozarão de todos os
direitos, imunidades, isenções e benefícios atribuídos às entidades com fins
de natureza semelhante previstos no ordenamento jurídico brasileiro, desde
que observados os requisitos e obrigações exigidos pela legislação brasileira.

O artigo 3º reconhece as seguintes pessoas jurídicas eclesiásticas:


Conferência Episcopal, Províncias Eclesiásticas, Arquidioceses, Dioceses, Prelazias
Territoriais ou Pessoais, Vicariatos e Prefeituras Apostólicas, Administrações
Apostólicas, Administrações Apostólicas Pessoais, Missões Sui Iuris, Ordinariado
Militar e Ordinariados para os Fiéis de Outros Ritos, Paróquias, Institutos de Vida
Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, cuja inscrição de criação deverá ser
devidamente registrada.
Estas pessoas jurídicas eclesiásticas além da finalidade religiosa, poderão
também ter fins de assistência e de solidariedade social, sendo que para
desenvolverem sua própria atividade terão os mesmos direitos, imunidades,
isenções e benefícios que são atribuídos às entidades que têm fins de natureza

17 CALIOLLI, Eugênio Carlos. Art. 4º e 13º. As questões da sede episcopal e do segredo confessional.
In: Acordo Brasil-Santa Sé comentado. São Paulo: LTr, 2012, p. 182.
18 CALIOLLI, op. cit., p. 184
11

semelhante previstos no ordenamento jurídico brasileiro, desde que observados os


requisitos e obrigações exigidos pela legislação brasileira.
Este artigo estende também as imunidades, isenções e benefícios que são
usufruídos pelas entidades civis em geral, às pessoas jurídicas eclesiásticas, que
se dedicam a atividades assistenciais.19
Não se pode recusar o status de entidades filantrópicas, às pessoas jurídicas
eclesiásticas cuja dedicação são as atividades assistenciais, com seu devido
certificado e igual tratamento jurídico, atendendo os requisitos prescritos em lei,
sempre nas mesmas condições que as entidades civis.20

Artigo 6º

As Altas Partes reconhecem que o patrimônio histórico, artístico e


cultural da Igreja Católica, assim como os documentos custodiados nos seus
arquivos e bibliotecas, constituem parte relevante do patrimônio cultural
brasileiro, e continuarão a cooperar para salvaguardar, valorizar e promover a
fruição dos bens, móveis e imóveis, de propriedade da Igreja Católica ou de
outras pessoas jurídicas eclesiásticas, que sejam considerados pelo Brasil
como parte de seu patrimônio cultural e artístico.

§ 1º. A República Federativa do Brasil, em atenção ao princípio da


cooperação, reconhece que a finalidade própria dos bens eclesiásticos
mencionados no caput deste artigo deve ser salvaguardada pelo ordenamento
jurídico brasileiro, sem prejuízo de outras finalidades que possam surgir da
sua natureza cultural.

§ 2º. A Igreja Católica, ciente do valor do seu patrimônio cultural, compromete-


se a facilitar o acesso a ele para todos os que o queiram conhecer e estudar,
salvaguardadas as suas finalidades religiosas e as exigências de sua proteção
e da tutela dos arquivos.

O que tanto a Igreja Católica quanto o Brasil reconhecem como


constituição de parte relevante do patrimônio cultural brasileiro? reconhecem
que o patrimônio histórico, artístico e cultural da Igreja Católica, assim como
os documentos custodiados nos seus arquivos e bibliotecas, constituem parte
relevante do patrimônio cultural brasileiro.

Reconhece-se que o Patrimônio histórico e artístico não são de propriedade


do Estado, devendo permanecer sob o domínio da Igreja, cujo compromisso é

19 BALDISSERI, Lorenzo. Diplomacia Pontifícia: Acordo Brasil – Santa Sé: intervenções. São
Paulo: LTR, 2011, p. 104.
20 BALDISSERI, op., cit, p. 104.
12

facilitar o acesso a quem desejar conhecer e estudar este patrimônio, desde que
respeite a primazia das suas finalidades religiosas e as exigências de sua
proteção.21
O Acordo prevê uma colaboração estreita da Igreja, juntamente com os
poderes públicos, para prevenir e até repreender caso necessário, cristalizando a
colaboração que a Igreja sempre prestou aos poderes públicos no esforço comum
entre ambos por preservar os bens culturais abrigados pela Igreja.
O Estado brasileiro deve cooperar “na conservação, valoração e fruição
adequada de bens da Igreja”, cuidando de “...resguardar os bens da Igreja que
possuam, simultaneamente ao seu valor religioso, um significado cultural, histórico
ou artístico para o povo brasileiro”.22

Artigo 7º

A República Federativa do Brasil assegura, nos termos do seu


ordenamento jurídico, as medidas necessárias para garantir a proteção dos
lugares de culto da Igreja Católica e de suas liturgias, símbolos, imagens e
objetos cultuais, contra toda forma de violação, desrespeito e uso ilegítimo.

§ 1º. Nenhum edifício, dependência ou objeto afeto ao culto


católico, observada a função social da propriedade e a legislação, pode ser
demolido, ocupado, transportado, sujeito a obras ou destinado pelo Estado e
entidades públicas a outro fim, salvo por necessidade ou utilidade pública, ou
por interesse social, nos termos da Constituição brasileira.

Os bens religiosos tanto materiais e imateriais de manifestação da fé católica


devem ser preservados, sendo que o Estado “assume a tarefa de atuar para
proteger os atos litúrgicos, os símbolos e os objetos de culto, em exclusiva atenção
à circunstância de serem atos e objetos encarecidos pela Religião Católica.”23
Nota-se que a preocupação deste artigo “é com a Religião em si mesma,
independentemente de apreciações sobre as qualidades extrarreligiosas dos objetos
e símbolos da fé” 24

21 BALDISSERI, Lorenzo. Diplomacia Pontifícia: Acordo Brasil – Santa Sé: intervenções. São
Paulo: LTR, 2011, p. 105.
22 BALDISSERI, Lorenzo. Art. 7º Lugares de culto, liturgias, objetos e símbolos religiosos no acordo.

In: Acordo Brasil-Santa Sé comentado. São Paulo: LTr, 2012, p. 257.


23 BALDISSERI, op. cit., p. 257.
24 BALDISSERI, op. cit., p. 258
13

O Estado deve proteger o direito à liberdade religiosa “podendo e devendo


recorrer até ao direito penal para satisfazer esse imperativo”.25
Quanto ao uso pelo Estado, nos edifícios da Igreja, o § 1º desse artigo limita a
ação do mesmo às hipóteses de necessidade ou utilidade pública e de interesse
social, nos termos da Constituição Brasileira.

Artigo 8º

A Igreja Católica, em vista do bem comum da sociedade brasileira,


especialmente dos cidadãos mais necessitados, compromete-se, observadas
as exigências da lei, a dar assistência espiritual aos fiéis internados em
estabelecimentos de saúde, de assistência social, de educação ou similar, ou
detidos em estabelecimento prisional ou similar, observadas as normas de
cada estabelecimento, e que, por essa razão, estejam impedidos de exercer em
condições normais a prática religiosa e a requeiram. A República Federativa do
Brasil garante à Igreja Católica o direito de exercer este serviço, inerente à sua
própria missão.

Quanto aos cidadãos mais necessitados, visando o bem comum, a Igreja


Católica tem o compromisso, em conformidade com a lei: dar assistência espiritual
aos fiéis internados em estabelecimentos de saúde, de assistência social, de
educação ou similar, ou detidos em estabelecimento prisional ou similar.
Os requisitos são: que estes cidadão estejam impedidos de exercerem
normalmente sua prática religiosa e principalmente que requeiram a assistência.
O direito de exercer este serviço, que é inerente à missão da Igreja Católica,
deve ser garantido pelo Estado.
Portanto, garante aos cidadãos que sofrem restrições à prática de sua fé,
poderem vivenciá-la, seja através de cultos e ritos essenciais para que possa obter o
conforto espiritual.
Este artigo prevê também que a assistência deve ser “requerida” pelo fiel, não
podendo lhe causar constrangimento nenhum.
Portanto:
- o Estado pode demandar da autoridade religiosa que preste a assistência
religiosa;

25BALDISSERI, Lorenzo. Diplomacia Pontifícia: Acordo Brasil – Santa Sé: intervenções. São
Paulo: LTR, 2011, p. 106 e 107.
14

- é obrigação da Igreja assumir e cumprir, até civilmente, sua missão de


caridade através da assistência religiosa;
- a assistência religiosa é um direito dos católicos e um dever da Igreja.

Artigo 9º

O reconhecimento recíproco de títulos e qualificações em nível de


Graduação e Pós-Graduação estará sujeito, respectivamente, às exigências
dos ordenamentos jurídicos brasileiro e da Santa Sé.

Este artigo trata do reconhecimento recíproco dos títulos universitários, que


deverá ser submetido tanto às normas internas da Santa Sé, quanto às normas
internas do Brasil, abrindo margem para que as instituições acadêmicas do Brasil e
no âmbito de sua autonomia, competência e atribuições, estipulem convênios e
acordos de cooperação com as universidades pontifícias e católicas de todo o
mundo, para viabilizar o reconhecimento recíproco dos títulos acadêmicos, sob o
incentivo e alto amparo deste Acordo.26
No Brasil, a Lei 9394/1996 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional –
LDB, em seu artigo 48 e parágrafos trata do assunto.
Artigo 10

A Igreja Católica, em atenção ao princípio de cooperação com o


Estado, continuará a colocar suas instituições de ensino, em todos os níveis, a
serviço da sociedade, em conformidade com seus fins e com as exigências do
ordenamento jurídico brasileiro.

§ 1º. A República Federativa do Brasil reconhece à Igreja Católica


o direito de constituir e administrar Seminários e outros Institutos
eclesiásticos de formação e cultura.

§ 2º. O reconhecimento dos efeitos civis dos estudos, graus e


títulos obtidos nos Seminários e Institutos antes mencionados é regulado pelo
ordenamento jurídico brasileiro, em condição de paridade com estudos de
idêntica natureza.

26BALDISSERI, Lorenzo. Diplomacia Pontifícia: Acordo Brasil – Santa Sé: intervenções. São
Paulo: LTR, 2011, p. 108.
15

Neste artigo é reafirmada a cooperação da Igreja para com o Estado na área


da educação, que continuará através das instituições de ensino, que sempre foi uma
tradicional função da Igreja no Brasil.
A Igreja tem a faculdade de administrar seminários e outros institutos
dedicados a formação e cultura, sendo que o ensino prestado, seguindo o que
estabelece a legislação brasileira terá “valor escolar e/ou acadêmico em condição de
paridade com os estudos de igual natureza realizados em instituições civis.” 27

Com ampla experiência de educação, as instituições Católicas de Ensino


observam, com fidelidade, os ditames e princípios da legislação vigente, ao
se dedicarem ao desenvolvimento de um trabalho educativo voltado à
formação integral do ser humano, em parceria com o Estado e com a
sociedade civil. ”28

No que se refere ao § 2º, as questões da autorização e reconhecimento dos


cursos de teologia que são ministrados em Seminários e nos Institutos Religiosos
são regidos pelo Parecer CNE/CES n. 63/2004, do Conselho Nacional de Educação
– Câmara de Educação Superior e no que se refere aos cursos de pós-graduação,
na área de Teologia obedece-se ao disposto pela CAPES e o que dispõe a
Resolução CNE/CES n. 1/2003. 29
Artigo 11

A República Federativa do Brasil, em observância ao direito de


liberdade religiosa, da diversidade cultural e da pluralidade confessional do
País, respeita a importância do ensino religioso em vista da formação integral
da pessoa.

§1º. O ensino religioso, católico e de outras confissões religiosas,


de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas
públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural
religiosa do Brasil, em conformidade com a Constituição e as outras leis
vigentes, sem qualquer forma de discriminação.

Este artigo trata do ensino religioso, proclamando a respeito da diversidade


da cultura, bem como sobre a pluralidade de confissões religiosas que existem no

27 BALDISSERI, Lorenzo. Diplomacia Pontifícia: Acordo Brasil – Santa Sé: intervenções. São
Paulo: LTR, 2011, pp. 109 e 110.
28 GONTIJO, Cícero Ivan Ferreira. Arts. 9º e 10º Alguns temas relacionadoos à educação. In: Acordo

Brasil-Santa Sé comentado. São Paulo: LTr, 2012, p. 297.


29 GONTIJO, op. cit., pp. 298 e 299.
16

País, consta também que o Brasil reconhece que o ensino religioso é importante
para a formação integral da pessoa.
Importante destacar que este artigo em seu § 1º fala do ensino religioso
católico e de outras confissões religiosas, sendo que a matricula do aluno, não é
obrigatória, mas sim facultativa. Portanto não há distinção de credo, sendo o ensino
religioso pluriconfessional.
No entanto, a matrícula não é imposta sendo:
a) facultativa e aberta à decisão daqueles que se interessarem, no caso se o
aluno for menor de 16 anos, seus pais e responsáveis:
b) ajustado ao Estado laico, que não impõe a educação religiosa, acolhe
como um valor “elevado para a formação integral da pessoa”;30
c) por ser laico, se dispõe a “ministrar o magistério de cada religião, aqueles
que pedirem;
d) a educação religiosa é direito constitucional e ao receber não deve ser
“diluído num ensino de mera sociologia das religiões ou de estudo comparado de
enfoques religiosos” 31, pois deturpações que não configurem “propriamente o
ensino da religião, frustrariam o objetivo da norma constitucional”.32
e) não existe ensino religioso de uma “religião genérica”, aconfessional,
indefinida já que tal religião não existe;
f) não se pode criar uma religião e impô-la ao Estado, que respeita as
múltiplas confissões religiosas por ser democrático e leigo;
g) cabe a cada fiel receber a educação religiosa de acordo com sua fé, de
acordo com a lei que respeita a liberdade religiosa e de consciência, sendo esta a
laicidade autêntica e verdadeira;
h) o ensino religioso deverá corresponder ao credo e a identidade religiosa
que o estudante confessa, bem como de sua família;
i) o Acordo não viola a neutralidade do Estado em face de todas as religiões,
pois estende a todas elas o mesmo direito ao ensino confessional e a decidir quanto
ao conteúdo de suas lições;
j) o Acordo

30 BALDISSERI, Lorenzo. Diplomacia Pontifícia: Acordo Brasil – Santa Sé: intervenções. São
Paulo: LTR, 2011, pp. 112.
31 BALDISSERI, op. cit., p. 112.
32 BALDISSERI, op. cit., p. 112.
17

não retira às unidades políticas federadas a competência concorrente e


complementar de legislar sobre os seus sistemas de ensino fundamental;
mas é certo que elas devem respeitar a substância das estipulações do
Tratado, as quais no presente caso, não inovam as disposições
constitucionais homologas, obrigatórias em razão do postulado da
supremacia da constituição.33

Artigo 12

O casamento celebrado em conformidade com as leis canônicas,


que atender também às exigências estabelecidas pelo direito brasileiro para
contrair o casamento, produz os efeitos civis, desde que registrado no registro
próprio, produzindo efeitos a partir da data de sua celebração.

§ 1º. A homologação das sentenças eclesiásticas em matéria


matrimonial, confirmadas pelo órgão de controle superior da Santa Sé, será
efetuada nos termos da legislação brasileira sobre homologação de sentenças
estrangeiras.

O artigo 12 do Acordo confirma o que está estabelecido no Código Civil


Brasileiro nos arts. 1515-1516, bem como o que está estabelecido na Constituição
Federal no artigo 226, § 2º, a respeito do reconhecimento dos efeitos civis do
casamento religioso.

A novidade no Acordo está no § 2º, quando trata da homologação das


sentenças eclesiásticas no que se refere à matéria matrimonial. Dom Lorenzo
Baldisseri, diz que

[...] é perfeitamente coerente com esta normativa que o Estado, a pedido


dos legítimos interessados, reconheça também efeitos civis às decisões dos
tribunais eclesiásticos em matéria matrimonial, desde que confirmados pelo
Órgão de controle superior da Santa Sé e que cumpram os requisitos
exigidos pela lei brasileira para a homologação das sentenças
estrangeiras.34

Afirma ainda, que a homologação de sentenças estrangeiras é um instituto


típico do direito internacional, sendo reconhecido no Brasil e na maioria dos Estados
democráticos. Este tipo de regulamentação também está previsto na maioria dos
Acordos entre a Santa Sé e Países do mundo inteiro

33 BORJA, Célio. Art. 11 Constitucionalidade do art. 11 do acordo Brasil-Santa Sé. In: Acordo Brasil-
Santa Sé comentado. São Paulo: LTr, 2012, p. 306.
34 BALDISSERI, Lorenzo. Algumas explicações sobre o acordo entre o Estado (Brasil) e a Igreja

(Santa Sé) sobre o Estatuto jurídico da Igreja Católica no Brasil. In: Lumen - Revista de Estudos e
Comunicações. Vl. 15, nº 36. São Paulo: IESP/UNIFAI, 2009, p. 44.
18

[...] cujo direito privado descende do direito romano, como é o caso do


direito privado vigente no Brasil, consagrado em seu Código Civil. Não há,
portanto, obstáculo algum, do ponto de vista jurídico e constitucional, que
também no Brasil seja dada atuação, até por razões de simetria com o
reconhecimento dos efeitos civis do casamento canônico, à homologação
das sentenças eclesiásticas que se pronunciam sobre a validade do mesmo
casamento canônico, nos casos concretos submetidos à sua decisão,
livremente, pelos esposos, e sob a condição – repita-se – de que tais
sentenças apresentem os mesmos requisitos fixados no ordenamento
jurídico brasileiro para a homologação das sentenças estrangeiras em
matéria matrimonial.35 (Grifo nosso).

Dom Lorenzo Baldisseri, diz que

A leitura da cláusula em apreço permite notar que também as decisões da


Santa Sé a respeito de decisões de tribunais eclesiásticos situados no Brasil
serão passíveis de homologação perante o Superior Tribunal de Justiça. A
solução é compreensível e plenamente justificável. Se o ordenamento
constitucional brasileiro admite que a celebração religiosa do casamento
surta todos os efeitos civis, por simetria necessária, haverá de reconhecer
os efeitos civis da anulação (sic) do casamento religioso.36

Dom Lorenzo Baldisseri, diz que o Acordo disciplina somente

os casamentos celebrados na Igreja Católica com efeitos civis e, enseja que


os tribunais da Igreja Católica, de larga e respeitada tradição jurídica no
mundo ocidental, examinem e definam eventual nulidade do matrimônio, em
juízo apto para produzir efeitos também no âmbito civil. De fato, o
casamento religioso produz efeitos civis por força de dispositivo da
Constituição Federal (art. 226, § 2º); por isso, é natural que também a
validade desse ato jurídico celebrado pela Igreja seja por ela examinado e
julgado e que essa decisão também produza efeito civil. 37

No entanto, a decisão do tribunal eclesiástico,


não produz efeitos civis imediatos, mas depende de homologação pelo
Superior Tribunal de Justiça, como qualquer outra decisão judicial proferida
por órgão não pertencente à estrutura do Judiciário brasileiro. 38

Sobre a competência dos tribunais eclesiásticos no que se refere a assuntos


civis diz que

35 BALDISSERI, Lorenzo. Algumas explicações sobre o acordo entre o Estado (Brasil) e a Igreja
(Santa Sé) sobre o Estatuto jurídico da Igreja Católica no Brasil. In: Lumen- Revista de Estudos e
Comunicações. Vl. 15, nº 36. São Paulo: IESP/UNIFAI, 2009, p. 44.
36 BALDISSERI, Lorenzo. Diplomacia Pontifícia: Acordo Brasil – Santa Sé: intervenções. São

Paulo: LTR, 2011, p. 114.


37 BALDISSERI, op. cit., p. 128-129.
38 BALDISSERI, op. cit., p. 129.
19

Vale anotar que os tribunais eclesiásticos não têm competência para dispor
sobre aspectos patrimoniais do casamento (regime de bens, pensão
alimentícia, partilha de bens etc.), nem sobre a guarda e pensão de filhos
dos cônjuges. Sobre esses assuntos civis, os tribunais eclesiásticos,
portanto, não se manifestarão.39

Portanto, de acordo com o § 1º do Art. 12 do Acordo, para que a sentença

eclesiástica em matéria matrimonial seja homologada é necessário:

a) Que seja confirmada pelo órgão de controle superior da Santa Sé;


b) que a homologação seja efetuada nos termos da legislação brasileira que
trata da homologação de sentenças estrangeiras.

Artigo 13

É garantido o segredo do ofício sacerdotal, especialmente o da


confissão sacramental.

O sigilo que é juridicamente protegido é não só no que se refere à confissão


sacramental, abrangendo também as outras práticas, tanto pastorais quanto de
formação espiritual ministradas pelo sacerdote, direção espiritual, aconselhamento
vocacional, etc.40
Portanto o sacerdote não poderá ser obrigado a depor perante a autoridade
pública sobre o que veio a saber em função do seu ministério, cabendo ao poder
público “o dever de atuar para proteger a confidencialidade do ofício, prevenindo e
punindo comportamentos que agridam a garantia”.41

Artigo 14

A República Federativa do Brasil declara o seu empenho na


destinação de espaços a fins religiosos, que deverão ser previstos nos
instrumentos de planejamento urbano a serem estabelecidos no respectivo
Plano Diretor.

39 BALDISSERI, Lorenzo. Diplomacia Pontifícia: Acordo Brasil – Santa Sé: intervenções. São
Paulo: LTR, 2011, p. 129.
40 CALIOLLI, Eugênio Carlos. Art. 4º e 13º. As questões da sede episcopal e do segredo confessional.

In: Acordo Brasil-Santa Sé comentado. São Paulo: LTr, 2012, p. 191.


41 CALIOLLI, op. cit., p. 191.
20

O presente artigo deve ser compreendido “como a compor um dever de se


contemplarem as necessidades religiosas na planificação urbana,” 42 portanto o
Brasil deve empenhar-se para

reservar os devidos espaços para fins religiosos nos instrumentos de


planejamento urbano [...] naturalmente, o desenvolvimento urbano,
atualmente, põe-se em outras bases, a começar pela necessidade de
obediência a plano diretor nos municípios, que conta com previsão
constitucional e é, por aí, que têm de estar previstos e garantidos os novos
espaços para fins religiosos.43

Artigo 15

Às pessoas jurídicas eclesiásticas, assim como ao patrimônio,


renda e serviços relacionados com as suas finalidades essenciais, é
reconhecida a garantia de imunidade tributária referente aos impostos, em
conformidade com a Constituição brasileira.

§ 1º. Para fins tributários, as pessoas jurídicas da Igreja Católica


que exerçam atividade social e educacional sem finalidade lucrativa receberão
o mesmo tratamento e benefícios outorgados às entidades filantrópicas
reconhecidas pelo ordenamento jurídico brasileiro, inclusive, em termos de
requisitos e obrigações exigidos para fins de imunidade e isenção.

Não é nenhum privilégio à Igreja católica ter sido assegurado neste


artigo a imunidade, que representa a “igualdade de tratamento garantida a templos
e instituições de ensino e assistência social existentes no País, pela Lei Suprema,”44
uma vez que “Imunidades de impostos estão asseguradas aos templos católicos e
todas as entidades religiosas, e a de contribuições sociais, as suas instituições de
ensino e assistência social.”45
Portanto o que se garante é: imunidade tributária referente aos
impostos.
A quem é garantida a imunidade tributária? às pessoas jurídicas
eclesiásticas, bem como ao patrimônio, renda e serviços que estejam relacionados
com suas atividades essenciais. Garante-se também imunidade e isenção as
pessoas jurídicas da Igreja Católica que exerçam atividade social e educacional sem

42 BALDISSERI, Lorenzo. Diplomacia Pontifícia: Acordo Brasil – Santa Sé: intervenções. São
Paulo: LTR, 2011, p. 116.
43 MARTINS, Ives Gandra da Silva. Art. 14. Garantia de espaços para fins religiosos. In: Acordo

Brasil-Santa Sé comentado. São Paulo: LTr, 2012, p. 215.


44 MARTINS, Ives Gandra da Silva. Art. 5º e 15. Imunidade e Filantropia no Tratado Brasil-Santa Sé.

In: Acordo Brasil-Santa Sé comentado. São Paulo: LTr, 2012, p. 215.


45 MARTINS, op. cit., p. 215.
21

finalidade lucrativa, equiparando-se as entidades filantrópicas reconhecidas pela lei


brasileira, portanto recebendo o mesmo tratamento e beneficio que estas entidades
recebem, inclusive, em termos de requisitos e obrigações exigidos para fins de
imunidade e isenção.

Artigo 16

Dado o caráter peculiar religioso e beneficente da Igreja Católica e


de suas instituições:

I- O vínculo entre os ministros ordenados ou fiéis


consagrados mediante votos e as Dioceses ou Institutos Religiosos e
equiparados é de caráter religioso e portanto, observado o disposto na
legislação trabalhista brasileira, não gera, por si mesmo, vínculo empregatício,
a não ser que seja provado o desvirtuamento da instituição eclesiástica.

II - As tarefas de índole apostólica, pastoral, litúrgica,


catequética, assistencial, de promoção humana e semelhantes poderão ser
realizadas a título voluntário, observado o disposto na legislação trabalhista
brasileira.

Este artigo objetiva deixar claro o que a jurisprudência já nos diz a respeito
da “inexistência de vínculo empregatício entre os ministros do culto ou fiéis
consagrados e suas respectivas instituições religiosas, em face do serviço que
possam prestar, sempre de caráter voluntário e vocacional.”46

Os ministros de culto de qualquer confissão religiosa e os fiéis consagrados


que prestem serviços de natureza espiritual à comunidade não mantêm vínculo
empregatício com suas respectivas instituições e Igrejas uma vez que se dedicam a
elas por vocação espiritual e não retribuição terrena.47

Este artigo objetiva deixar claro o que a jurisprudência já nos diz a respeito
da “inexistência de vínculo empregatício entre os ministros do culto ou fiéis
consagrados e suas respectivas instituições religiosas, em face do serviço que
possam prestar, sempre de caráter voluntário e vocacional.”48

46 MARTINS, Ives Gandra da Silva. Art. 16. O acordo Brasil-Santa Sé e a laicidade do Estado. In:
Acordo Brasil-Santa Sé comentado. São Paulo: LTr, 2012, p. 365.
47 MARTINS, op. cit., p. 370
48 MARTINS, Ives Gandra da Silva. Art. 16. O acordo Brasil-Santa Sé e a laicidade do Estado. In:

Acordo Brasil-Santa Sé comentado. São Paulo: LTr, 2012, p. 365.


22

Os ministros de culto de qualquer confissão religiosa e os fiéis consagrados


que prestem serviços de natureza espiritual à comunidade não mantêm
vínculo empregatício com suas respectivas instituições e Igrejas uma vez
que se dedicam a elas por vocação espiritual e não retribuição terrena. 49

O desvirtuamento do serviço religioso, e consequentemente da vocação


religiosa, reduz-se ao mero serviço à comunidade, havendo uma “desvinculação de
sua perspectiva sobrenatural.” 50
Existem duas situações que devem ser diferenciadas51:
a) desvirtuamento do religioso, que perde o sentido mais elevado de sua
vocação, e que pretende receber uma ‘indenização’ pelos anos de dedicação
à instituição na qual serviu, ao se desligar dela e;
b) desvirtuamento da instituição, que perde o seu sentido de difusão de uma
determinada fé, para transformar-se em ‘mercadora de Deus’, estabelecendo
um verdadeiro ‘comércio’ de bens espirituais, mediante pagamento.
c) trabalho voluntário de religiosos e fiéis leigos;

No primeiro caso do desvirtuamento religioso não há relação empregatícia,


pois “os integrantes da hierarquia da Igreja, os membros de uma ordem religiosa, os
pastores, rabinos e representante das diversas religiões se confundem com a
própria instituição.”52
No segundo caso, há o desvirtuamento da própria instituição, que passou a
ter caráter ‘comercial’, permitindo o reconhecimento do vinculo empregatício.
No terceiro caso, quando há o trabalho voluntário, para que não se tenha
relação empregatícia entre a instituição e aquele que presta o trabalho voluntário, é
necessário obter a assinatura do colaborador no termo de adesão que consta na Lei
9.608/1998, em seu artigo 2º.
É necessário este cuidado para que no futuro o colaborador não venha pedir
o reconhecimento do vínculo empregatício, que certamente será reconhecido caso
não haja o termo de adesão assinado. Mesmo que haja gastos pelo

49 MARTINS, op. cit., p. 370


50 MARTINS, op. cit., p. 372.
51 MARTINS, op. cit., p. 373.
52 MARTINS, Ives Gandra da Silva. Art. 16. O acordo Brasil-Santa Sé e a laicidade do Estado. In:

Acordo Brasil-Santa Sé comentado. São Paulo: LTr, 2012, p. 373.


23

desenvolvimento do trabalho voluntário, o ressarcimento será de natureza não


salarial e sim indenizatória.

Artigo 17

Os Bispos, no exercício de seu ministério pastoral, poderão


convidar sacerdotes, membros de institutos religiosos e leigos, que não
tenham nacionalidade brasileira, para servir no território de suas dioceses, e
pedir às autoridades brasileiras, em nome deles, a concessão do visto para
exercer atividade pastoral no Brasil.

§ 1º. Em conseqüência do pedido formal do Bispo, de acordo com


o ordenamento jurídico brasileiro, poderá ser concedido o visto permanente ou
temporário, conforme o caso, pelos motivos acima expostos.

De acordo com este artigo os Bispos são competentes para pedir às


autoridades brasileiras a concessão de vistos quer sejam permanentes ou sejam
temporários, a sacerdotes, membros de institutos religiosos e leigos, que sejam
estrangeiros e venham servir em suas dioceses.
O Bispo solicitará em nome daqueles que foram convidados a concessão de
visto para exercerem atividades pastorais no Brasil.
Portanto, quem pede: é o bispo em nome daquele que foi convidado por ele.
O Bispo é, portanto o interlocutor oficial.
A quem se pede? Às autoridades brasileiras competentes” de regra os
órgãos internos no Ministério das Relações Exteriores e do Ministério da Justiça,
dentre eles, o Departamento de Polícia Federal, e as demais entidades – autarquias
e fundações – vinculados a estes ministérios para tratar da concessão de vistos
permanentes ou temporários para o exercício da atividade pastoral no País.
Como deverá ser o pedido? Deverá ser um pedido formal do Bispo, de
acordo com a legislação brasileira. Não há necessidade de procuração, pois o Bispo
tem poderes

para por direito próprio, fazer o pedido de visto em nome do sacerdote,


religioso ou leigo convidado, portanto dispensada está a exigência de
procuração ou mandado civil ou de qualquer outra autorização do
convidado, sendo dado ao Bispo todos os poderes necessários para efetuar
o pedido de visto para exercício de atividade pastoral no Brasil. também o
visto permanente se faz mediante o pedido formal do Bispo, atendidos os
24

demais requisitos da lei brasileira. No poder de pedir o visto inclui-se,


obviamente, o de pedir sua renovação ou prorrogação. 53

Vale ressaltar que o Acordo não exclui as outras formas de ingresso no País
permitidos pela legislação brasileira.
A autorização para o religioso, leigo consagrado ou sacerdote, exercer o seu
múnus, cargo ou a função pastoral na Igreja no Brasil, é do Bispo ou seus
equiparados pelo Direito Canônico.

Artigo 18

O presente acordo poderá ser complementado por ajustes concluídos


entre as Altas Partes Contratantes.

§ 1º. Órgãos do Governo brasileiro, no âmbito de suas respectivas


competências e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, devidamente
autorizada pela Santa Sé, poderão celebrar convênio sobre matérias
específicas, para implementação do presente Acordo.

Este artigo prevê a complementação do Acordo por ajustes entre as partes.


Cabe celebrar convênios:
a) os órgãos do governo brasileiro, dentro de suas competências respectivas;
b) a CNBB, com a devida autorização da Santa Sé.

Os convênios celebrados serão sobre matérias específicas necessárias para


que o Acordo seja implementado. Os ajustes, serão em forma de acordo
complementar, no qual serão delineados as regras que serão basilares, bem como a
outorga de competência para os atos complementares ou que integram o próprio
acordo principal.
Não se pode inovar sobre o que foi acordado, apenas complementá-lo ou
integrá-lo. Qualquer inovação precisa ser submetida à apreciação do Congresso
Nacional.
Artigo 19

Quaisquer divergências na aplicação ou interpretação do presente


acordo serão resolvidas por negociações diplomáticas diretas.

53MARTINS, Ives Gandra da Silva. Art. 17. Visto para missionários. In: Acordo Brasil-Santa Sé
comentado. São Paulo: LTr, 2012, p. 390
25

Como em todo contrato em geral, é previsto como se possa solucionar as


possíveis divergências que porventura ocorram na aplicação ou interpretação do
acordo, divergências estas que poderão ser solucionadas através da negociação
direta entre as partes que diretamente celebraram o acordo podendo ser via oral,
“troca de notas entre a Chancelaria e a representação ou missão diplomática,
mesmo por outro instrumento escrito.”54

Artigo 20

O presente acordo entrará em vigor na data da troca dos instrumentos


de ratificação, ressalvadas as situações jurídicas existentes e constituídas ao
abrigo do Decreto nº 119-A, de 7 de janeiro de 1890 e do Acordo entre a
República Federativa do Brasil e a Santa Sé sobre Assistência Religiosa às
Forças Armadas, de 23 de outubro de 1989.

A Constituição Federal de 1988, nos arts. 5º, VI, e 19, I, quanto às relações
entre o Estado e as denominações religiosas, estabelece os princípios de
distinção de esfera, cooperação mútua e liberdade religiosa. Devedora (e
tutora!) do Decreto 119-A, a nossa atual Carta Magna é o alicerce do
Acordo entre a República Federativa do Brasil e a Santa Sé sobre a
Assistência Religiosa às Forças Armadas, manifestação solene da coerente
posição da Santa Sé e do ‘laico’ Estado brasileiro perante um dado de
grande relevância da história da República: a marcante e maciça presença
dos católicos nas Forças Armadas, detentores – como quaisquer outros
crentes – do direito de receberem na caserna, a devida assistência
religiosa, moral e espiritual dos ministros sagrados da sua Igreja. 55

Feito na Cidade do Vaticano, aos 13 dias do mês de novembro do ano


de 2008, em dois originais, nos idiomas português e italiano, sendo ambos os textos
igualmente autênticos.

PELA REPÚBLICA FEDERATIVA PELA SANTA SÉ


DO BRASIL

Celso Amorim Dominique Mamberti


Ministro das Relações Exteriores Secretário para Relações com os Estados

54 ANDRADA, José Bonifácio Borges de. Arts. 18 e 19. Implementação e interpretação do acordo. In:
Acordo Brasil-Santa Sé comentado. São Paulo: LTr, 2012, p. 390.
55 BARROS, José Francisco Falcão de. Art. 20. Assistência religiosa nas formas armadas. In:
Acordo Brasil-Santa Sé comentado. São Paulo: LTr, 2012, p. 448
26

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Santa Sé age como sujeito do ordenamento internacional, sendo capaz de


cumprir atos internacionais relevantes, relacionar-se e aderir a pactos
consuetudinários, bem como ser destinatária “dos princípios gerais das normas
fundacionais de tal ordenamento.” 56
Pelo nome de Santa Sé ou Sé Apostólica se entende não somente o Romano
Pontífice, mas também a Secretaria de Estado, o Conselho para os Assuntos
Públicos da Igreja e outros Institutos da Cúria Romana.57
Desde sua criação a Cidade do Vaticano participa do âmbito internacional,
cuja representação exterior pertence ao Sumo Pontífice, que se serve da Secretaria
de Estado. O Estado da Cidade do Vaticano não possui representações
diplomáticas, nem consulares, que ficam a cargo da Santa Sé. “O Papa faz política e
justamente aquela que dirige o mundo.” 58
Para ajudá-lo nas relações diplomáticas em todo o mundo, o Papa se serve
dos legados pontifícios, cuja função primária destes legados é a Igreja local, sua
competência é direta, não sendo dependente do Episcopado, mas trabalhando em
conjunto com os Bispos, sem interferir no exercício da potestade legitima dos
Bispos. Ele deve conhecer a realidade concreta da Igreja local, procurando colaborar
e aconselhar, colocando-se a disposição e a serviço dos Bispos.
A Santa Sé tem procurado firmar acordos os mais completos possíveis,
tentando contemplar de forma abrangente nos acordos as relações entre a Igreja e o
Estado, procurando defender diante de um Estado laicista a liberdade religiosa.
O principio da liberdade religiosa, não é só proclamado com palavras, nem
somente sancionando com leis, mas também levado a prática com sinceridade,
sendo que a Igreja logra a condição estável de direito e de fato para a necessária

56 BALDISSERI, Lorenzo. Diplomacia Pontifícia: Acordo Brasil – Santa Sé: intervenções. São
Paulo: LTR, 2011., p. 28.
57 CARRION, Jose Maria Piñero. La Ley de La Iglesia I. Resumen sencillo y completo del

Derecho de la Iglesia. Madrid: Atenas, 1985, p. 419.


58 LEBEC, Éric. História secreta da diplomacia vaticana. Trad. Luiz J. Baraúna. Petropólis: Vozes,

1999, p. 7
27

independência no cumprimento da missão divina que as autoridades eclesiásticas


reivindicam cada vez mais insistentemente dentro da sociedade.59
O Estado como instituição terrena visa o interesse temporal da humanidade,
enquanto que a Igreja está direcionada ao fim eterno da humanidade, devendo
ambos se reconhecerem e se respeitarem na hierarquia de valores, cada um na sua
ordem, ambas as instituições são necessárias ao homem, sendo que o cristão sabe
que é cidadão de dois reinos.
Por isso é importante o acordo ou colaboração nas relações Igreja-Estado,
diante da distinção de competência dos poderes da Igreja e do Estado, da dimensão
espiritual e temporal, cujo objetivo é harmonizar, evitando dramas de consciência
cuja origem vem da contraposição dos deveres de cidadão e os deveres do crente.
Colaboração esta que se concretiza mediante os Acordos ou Concordatas.
Acordo que para os Brasileiros se tornou realidade, consolidando em um
instrumento jurídico único, a relação entre o Brasil e a Santa Sé, em seus diversos
aspectos, bem como a presença da Igreja Católica no Estado brasileiro,
consolidando também as disposições legais e consuetudinárias vigentes no
ordenamento interno brasileiro que constituem a expressão do relacionamento entre
o Estado Brasileiro e a Igreja Católica.
O Papa em sua função de governo da Igreja universal como chefe do Estado
da Cidade do Vaticano, além do poder espiritual, exerce também o poder temporal
como meio material necessário, de tipo político, para atender as funções espirituais
que lhe correspondem. O Estado da Cidade do Vaticano é a base político-territorial
para a Santa Sé cumprir sua função, sendo sua personalidade jurídica internacional
reconhecida, podendo firmar Acordos com qualquer Estado, mediante relações
diplomáticas. Relações diplomáticas essas que no Brasil, tivemos como experiência
recente o Acordo Brasil-Santa Sé.
Portanto, a vigência do Acordo, que já foi promulgado e publicado, já integra e
produz efeitos no ordenamento jurídico interno do Brasil, revogando todas as
disposições contrárias e incompatíveis com o referido Acordo, autorizando que as
pessoas que assim o desejarem, invoquem a satisfação de seu direito que nele está
estabelecido.

59 BUSSO, op. cit., p. 415.


28

Os cristãos também vivem a realidade temporal, devendo respeitar o direito


civil, para isso precisam que esse mesmo direito não os impeça de viver a sua
liberdade religiosa segundo a sua consciência, que é um direito para todos os
homens e comunidades e deve ser sancionado pelo ordenamento jurídico em que
vive.
29

BIBLIOGRAFIA

ANDRADA, Bonifácio de. Relatório apresentado na comissão de relações exteriores


e de defesa nacional – Congresso Nacional. Mensagem nº 134, de 2009. In Lumen-
Revista de Estudos e Comunicações. Ensaios Sobre o Acordo Brasil Vaticano. Vl.
15, nº 36. São Paulo: IESP/UNIFAI, 2009.

ANDRADA, José Bonifácio Borges de. Arts. 18 e 19. Implementação e interpretação


do acordo. In: Acordo Brasil-Santa Sé comentado. São Paulo: LTr, 2012.

BALDISSERI, Lorenzo. Art. 1º Relações Diplomáticas entre o Brasil e a Santa Sé.


In: Acordo Brasil-Santa Sé comentado. São Paulo: LTr, 2012.

BALDISSERI, Lorenzo. Algumas explicações sobre o acordo entre o Estado (Brasil)


e a Igreja (Santa Sé) sobre o Estatuto jurídico da Igreja Católica no Brasil. In: Lumen
- Revista de Estudos e Comunicações. Vl. 15, nº 36. São Paulo: IESP/UNIFAI, 2009.

BALDISSERI, Lorenzo. Art. 7º Lugares de culto, liturgias, objetos e símbolos


religiosos no acordo. In: Acordo Brasil-Santa Sé comentado. São Paulo: LTr,
2012.

BALDISSERI, Lorenzo. Diplomacia Pontifícia: Acordo Brasil – Santa Sé:


intervenções. São Paulo: LTR, 2011.

BARROS, José Francisco Falcão de. Art. 20. Assistência religiosa nas formas
armadas. In: Acordo Brasil-Santa Sé comentado. São Paulo: LTr, 2012.

BORJA, Célio. Art. 11 Constitucionalidade do art. 11 do acordo Brasil-Santa Sé. In:


Acordo Brasil-Santa Sé comentado. São Paulo: LTr, 2012.

BUSSO, Ariel David. La Iglesia y la comunidad política. Colección Facultad de


Derecho Canónico – XII. Ediciones de la Universidad Católica Argentina. Buenos
Aires, 2000.

CALIOLLI, Eugênio Carlos. Art. 4º e 13º. As questões da sede episcopal e do


segredo confessional. In: Acordo Brasil-Santa Sé comentado. São Paulo: LTr,
2012.

CARRION, Jose Maria Piñero. La Ley de La Iglesia I. Resumen sencillo y


completo del Derecho de la Iglesia. Madrid: Atenas, 1985.

DIÉGUEZ, Myriam M. Cortés. Relaciones Iglesia-Estado In: Derecho Canònico II.


El Derecho em la misión dela Iglesia. Coord. José San José Prisco y Myriam M.
Cortés Diéguez. Madrid: BAC, 2006.
30

GONTIJO, Cícero Ivan Ferreira. Arts. 9º e 10º Alguns temas relacionadoos à


educação. In: Acordo Brasil-Santa Sé comentado. São Paulo: LTr, 2012.

LEBEC, Éric. História secreta da diplomacia vaticana. Trad. Luiz J. Baraúna.


Petropólis: Vozes, 1999.

MARTINS, Ives Gandra da Silva. Art. 14. Garantia de espaços para fins religiosos.
In: Acordo Brasil-Santa Sé comentado. São Paulo: LTr, 2012.

MARTINS, Ives Gandra da Silva. Art. 16. O acordo Brasil-Santa Sé e a laicidade do


Estado. In: Acordo Brasil-Santa Sé comentado. São Paulo: LTr, 2012.

MARTINS, Ives Gandra da Silva. Art. 17. Visto para missionários. In: Acordo
Brasil-Santa Sé comentado. São Paulo: LTr, 2012.

MARTINS, Ives Gandra da Silva. Art. 5º e 15. Imunidade e Filantropia no Tratado


Brasil-Santa Sé. In: Acordo Brasil-Santa Sé comentado. São Paulo: LTr, 2012.

OLIVEIRA, Hugo José Sarubbi Cysneiros. Art. 2º Direito de desempenhar a missão


apostólica. In: Acordo Brasil-Santa Sé comentado. São Paulo: LTr, 2012.

SPRIZZI, Marco. Art. 3º Personalidade jurídica. In: Acordo Brasil-Santa Sé


comentado. São Paulo: LTr, 2012.

TORRE, Giuseppe Dalla. Orientações e problemas sobre as relações entre Igreja


e Estado. In: Problemas e Perspectivas de Direito Canônico. Org. Ernesto
Cappellini. São Paulo: Loyola, 1995.
31

ANEXO

Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos

DECRETO Nº 7.107, DE 11 DE FEVEREIRO DE 2010.

Promulga o Acordo entre o Governo da República


Federativa do Brasil e a Santa Sé relativo ao Estatuto
Jurídico da Igreja Católica no Brasil, firmado na
Cidade do Vaticano, em 13 de novembro de 2008.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da
Constituição, e

Considerando que o Governo da República Federativa do Brasil e a Santa Sé celebraram, na


Cidade do Vaticano, em 13 de novembro de 2008, um Acordo relativo ao Estatuto Jurídico da Igreja
Católica no Brasil;

Considerando que o Congresso Nacional aprovou esse Acordo por meio do Decreto
Legislativo no 698, de 7 de outubro de 2009;

Considerando que o Acordo entrou em vigor internacional em 10 de dezembro de 2009, nos


termos de seu Artigo 20;

DECRETA:

Art. 1o O Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e a Santa Sé relativo ao


Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil, firmado na Cidade do Vaticano, em 13 de novembro de
2008, apenso por cópia ao presente Decreto, será executado e cumprido tão inteiramente como nele
se contém.

Art. 2o São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos que possam resultar
em revisão do referido Acordo, assim como quaisquer ajustes complementares que, nos termos
do art. 49, inciso I, da Constituição, acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio
nacional.

Art. 3o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 11 de fevereiro de 2010; 189º da Independência e 122º da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA


Celso Luiz Nunes Amorim

ACORDO ENTRE A REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL E A SANTA SÉ


RELATIVO AO ESTATUTO JURÍDICO DA IGREJA CATÓLICA NO BRASIL
32

A República Federativa do Brasil

A Santa Sé

(doravante denominadas Altas Partes Contratantes),

Considerando que a Santa Sé é a suprema autoridade da Igreja Católica, regida pelo Direito
Canônico;

Considerando as relações históricas entre a Igreja Católica e o Brasil e suas respectivas


responsabilidades a serviço da sociedade e do bem integral da pessoa humana;

Afirmando que as Altas Partes Contratantes são, cada uma na própria ordem, autônomas,
independentes e soberanas e cooperam para a construção de uma sociedade mais justa, pacífica e
fraterna;

Baseando-se, a Santa Sé, nos documentos do Concílio Vaticano II e no Código de Direito


Canônico, e a República Federativa do Brasil, no seu ordenamento jurídico;

Reafirmando a adesão ao princípio, internacionalmente reconhecido, de liberdade religiosa;

Reconhecendo que a Constituição brasileira garante o livre exercício dos cultos religiosos;

Animados da intenção de fortalecer e incentivar as mútuas relações já existentes;

Convieram no seguinte:

Artigo 1º

As Altas Partes Contratantes continuarão a ser representadas, em suas relações


diplomáticas, por um Núncio Apostólico acreditado junto à República Federativa do Brasil e por um
Embaixador(a) do Brasil acreditado(a) junto à Santa Sé, com as imunidades e garantias asseguradas
pela Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, de 18 de abril de 1961, e demais regras
internacionais.

Artigo 2º

A República Federativa do Brasil, com fundamento no direito de liberdade religiosa, reconhece


à Igreja Católica o direito de desempenhar a sua missão apostólica, garantindo o exercício público de
suas atividades, observado o ordenamento jurídico brasileiro.

Artigo 3º

A República Federativa do Brasil reafirma a personalidade jurídica da Igreja Católica e de


todas as Instituições Eclesiásticas que possuem tal personalidade em conformidade com o direito
canônico, desde que não contrarie o sistema constitucional e as leis brasileiras, tais como
Conferência Episcopal, Províncias Eclesiásticas, Arquidioceses, Dioceses, Prelazias Territoriais ou
Pessoais, Vicariatos e Prefeituras Apostólicas, Administrações Apostólicas, Administrações
Apostólicas Pessoais, Missões Sui Iuris, Ordinariado Militar e Ordinariados para os Fiéis de Outros
Ritos, Paróquias, Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica.
33

§ 1º. A Igreja Católica pode livremente criar, modificar ou extinguir todas as Instituições
Eclesiásticas mencionadas no caput deste artigo.

§ 2º. A personalidade jurídica das Instituições Eclesiásticas será reconhecida pela República
Federativa do Brasil mediante a inscrição no respectivo registro do ato de criação, nos termos da
legislação brasileira, vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro do ato de
criação, devendo também ser averbadas todas as alterações por que passar o ato.

Artigo 4º

A Santa Sé declara que nenhuma circunscrição eclesiástica do Brasil dependerá de Bispo


cuja sede esteja fixada em território estrangeiro.

Artigo 5º

As pessoas jurídicas eclesiásticas, reconhecidas nos termos do Artigo 3º, que, além de fins
religiosos, persigam fins de assistência e solidariedade social, desenvolverão a própria atividade e
gozarão de todos os direitos, imunidades, isenções e benefícios atribuídos às entidades com fins de
natureza semelhante previstos no ordenamento jurídico brasileiro, desde que observados os
requisitos e obrigações exigidos pela legislação brasileira.

Artigo 6º

As Altas Partes reconhecem que o patrimônio histórico, artístico e cultural da Igreja Católica,
assim como os documentos custodiados nos seus arquivos e bibliotecas, constituem parte relevante
do patrimônio cultural brasileiro, e continuarão a cooperar para salvaguardar, valorizar e promover a
fruição dos bens, móveis e imóveis, de propriedade da Igreja Católica ou de outras pessoas jurídicas
eclesiásticas, que sejam considerados pelo Brasil como parte de seu patrimônio cultural e artístico.

§ 1º. A República Federativa do Brasil, em atenção ao princípio da cooperação, reconhece


que a finalidade própria dos bens eclesiásticos mencionados no caput deste artigo deve ser
salvaguardada pelo ordenamento jurídico brasileiro, sem prejuízo de outras finalidades que possam
surgir da sua natureza cultural.

§ 2º. A Igreja Católica, ciente do valor do seu patrimônio cultural, compromete-se a facilitar o
acesso a ele para todos os que o queiram conhecer e estudar, salvaguardadas as suas finalidades
religiosas e as exigências de sua proteção e da tutela dos arquivos.

Artigo 7º

A República Federativa do Brasil assegura, nos termos do seu ordenamento jurídico, as


medidas necessárias para garantir a proteção dos lugares de culto da Igreja Católica e de suas
liturgias, símbolos, imagens e objetos cultuais, contra toda forma de violação, desrespeito e uso
ilegítimo.

§ 1º. Nenhum edifício, dependência ou objeto afeto ao culto católico, observada a função
social da propriedade e a legislação, pode ser demolido, ocupado, transportado, sujeito a obras ou
destinado pelo Estado e entidades públicas a outro fim, salvo por necessidade ou utilidade pública, ou
por interesse social, nos termos da Constituição brasileira.

Artigo 8º

A Igreja Católica, em vista do bem comum da sociedade brasileira, especialmente dos


cidadãos mais necessitados, compromete-se, observadas as exigências da lei, a dar assistência
34

espiritual aos fiéis internados em estabelecimentos de saúde, de assistência social, de educação ou


similar, ou detidos em estabelecimento prisional ou similar, observadas as normas de cada
estabelecimento, e que, por essa razão, estejam impedidos de exercer em condições normais a
prática religiosa e a requeiram. A República Federativa do Brasil garante à Igreja Católica o direito de
exercer este serviço, inerente à sua própria missão.

Artigo 9º

O reconhecimento recíproco de títulos e qualificações em nível de Graduação e Pós-


Graduação estará sujeito, respectivamente, às exigências dos ordenamentos jurídicos brasileiro e da
Santa Sé.

Artigo 10

A Igreja Católica, em atenção ao princípio de cooperação com o Estado, continuará a colocar


suas instituições de ensino, em todos os níveis, a serviço da sociedade, em conformidade com seus
fins e com as exigências do ordenamento jurídico brasileiro.

§ 1º. A República Federativa do Brasil reconhece à Igreja Católica o direito de constituir e


administrar Seminários e outros Institutos eclesiásticos de formação e cultura.

§ 2º. O reconhecimento dos efeitos civis dos estudos, graus e títulos obtidos nos Seminários e
Institutos antes mencionados é regulado pelo ordenamento jurídico brasileiro, em condição de
paridade com estudos de idêntica natureza.

Artigo 11

A República Federativa do Brasil, em observância ao direito de liberdade religiosa, da


diversidade cultural e da pluralidade confessional do País, respeita a importância do ensino religioso
em vista da formação integral da pessoa.

§1º. O ensino religioso, católico e de outras confissões religiosas, de matrícula facultativa,


constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o
respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, em conformidade com a Constituição e as outras
leis vigentes, sem qualquer forma de discriminação.

Artigo 12

O casamento celebrado em conformidade com as leis canônicas, que atender também às


exigências estabelecidas pelo direito brasileiro para contrair o casamento, produz os efeitos civis,
desde que registrado no registro próprio, produzindo efeitos a partir da data de sua celebração.

§ 1º. A homologação das sentenças eclesiásticas em matéria matrimonial, confirmadas pelo


órgão de controle superior da Santa Sé, será efetuada nos termos da legislação brasileira sobre
homologação de sentenças estrangeiras.

Artigo 13

É garantido o segredo do ofício sacerdotal, especialmente o da confissão sacramental.

Artigo 14
35

A República Federativa do Brasil declara o seu empenho na destinação de espaços a fins


religiosos, que deverão ser previstos nos instrumentos de planejamento urbano a serem
estabelecidos no respectivo Plano Diretor.

Artigo 15

Às pessoas jurídicas eclesiásticas, assim como ao patrimônio, renda e serviços relacionados


com as suas finalidades essenciais, é reconhecida a garantia de imunidade tributária referente aos
impostos, em conformidade com a Constituição brasileira.

§ 1º. Para fins tributários, as pessoas jurídicas da Igreja Católica que exerçam atividade social
e educacional sem finalidade lucrativa receberão o mesmo tratamento e benefícios outorgados às
entidades filantrópicas reconhecidas pelo ordenamento jurídico brasileiro, inclusive, em termos de
requisitos e obrigações exigidos para fins de imunidade e isenção.

Artigo 16

Dado o caráter peculiar religioso e beneficente da Igreja Católica e de suas instituições:

I -O vínculo entre os ministros ordenados ou fiéis consagrados mediante votos e as Dioceses


ou Institutos Religiosos e equiparados é de caráter religioso e portanto, observado o disposto na
legislação trabalhista brasileira, não gera, por si mesmo, vínculo empregatício, a não ser que seja
provado o desvirtuamento da instituição eclesiástica.

II -As tarefas de índole apostólica, pastoral, litúrgica, catequética, assistencial, de promoção


humana e semelhantes poderão ser realizadas a título voluntário, observado o disposto na legislação
trabalhista brasileira.

Artigo 17

Os Bispos, no exercício de seu ministério pastoral, poderão convidar sacerdotes, membros de


institutos religiosos e leigos, que não tenham nacionalidade brasileira, para servir no território de suas
dioceses, e pedir às autoridades brasileiras, em nome deles, a concessão do visto para exercer
atividade pastoral no Brasil.

§ 1º. Em conseqüência do pedido formal do Bispo, de acordo com o ordenamento jurídico


brasileiro, poderá ser concedido o visto permanente ou temporário, conforme o caso, pelos motivos
acima expostos.

Artigo 18

O presente acordo poderá ser complementado por ajustes concluídos entre as Altas Partes
Contratantes.

§ 1º. Órgãos do Governo brasileiro, no âmbito de suas respectivas competências e a


Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, devidamente autorizada pela Santa Sé, poderão celebrar
convênio sobre matérias específicas, para implementação do presente Acordo.

Artigo 19

Quaisquer divergências na aplicação ou interpretação do presente acordo serão resolvidas


por negociações diplomáticas diretas.
36

Artigo 20

O presente acordo entrará em vigor na data da troca dos instrumentos de ratificação,


ressalvadas as situações jurídicas existentes e constituídas ao abrigo do Decreto nº 119-A, de 7 de
janeiro de 1890 e do Acordo entre a República Federativa do Brasil e a Santa Sé sobre Assistência
Religiosa às Forças Armadas, de 23 de outubro de 1989.

Feito na Cidade do Vaticano, aos 13 dias do mês de novembro do ano de 2008, em dois
originais, nos idiomas português e italiano, sendo ambos os textos igualmente autênticos.

PELA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

Celso Amorim
Ministro das Relações Exteriores

PELA SANTA SÉ

Dominique Mamberti
Secretário para Relações com os Estados

Este texto não substitui o publicado no DOU de 12.2.2010

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